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A obra de Norberto Guarinello sobre a história antiga faz uma abordagem onde o autor
traz um panorama sobre a historiografia que rodeia a disciplina, e de maneira sintética e
mais genérica - para conseguir retratar um período tão vasto em alguns capítulos - também
mostra a história da mesma, porém de um modo original. Chama a atenção o recorte
historiográfico e a abordagem diferente das convencionais sobre o tema; O autor desde a
introdução deixa claro sua crítica a ocidentalização da História Antiga onde essa
disciplina seria como o “a história das origens do ocidente”, sendo desde o século XIX
assim formada para uma construção de memória e identificação social ocidental; Fugindo
desta perspectiva tradicional, Guarinello faz na obra uma abordagem mais ampla e mais
inclusa das civilizações, contando uma história não só europeia, ou com enfoque apenas
nesta.
Os dois primeiros capítulos da obra pós introdução são os que fazem a abordagem sobre
a historiografia da história antiga. Em “A história da História Antiga” o autor perpassa
pela criação do antigo, surgido no renascimento com a necessidade de criação de uma
memória do que teria sido o “mundo antigo” anterior ao cristianismo, através de uma
ideia deixada pelos escritos, monumentos e todos resquícios sobreviventes deste
“mundo”. Com o desenvolver desta ideia nos séculos seguintes a História Antiga se
consolida juntamente com da História Científica. O autor ainda menciona que ideias feitas
na construção da História Antiga como disciplina científica permeiam o ensino da mesma
até hoje como é a exclusão do oriente; comenta também como foi o desenvolvimento
dessa disciplina científica e os respaldos nela da historiografia de modo geral como no
século XIX a história antiga ser vista através da evolução, do progresso o que gerou a
formação dos pensamentos de uma superioridade da Europa sobre o mundo, com as
noções do que seria ser “civilizado” e de “nação grega”. Este cenário se altera com o
surgimento e integração de outras áreas como a antropologia, economia, e sociologia,
onde as abordagens acerca da História Antiga mudam seus foques, com isso houve uma
maior integralização no estudo da história antiga se distanciando das noções
evolucionistas.
O autor em vários momentos da obra utiliza de teses de outros autores para sustentar
algumas ideias, contrapor ou até mesmo realizar um debate historiográfico. Tratando do
mediterrâneo por exemplo ele utiliza dois autores, Horden e Purcell, que ressaltavam a
importância das chuvas na região e que nos locais que em cada ano a chuva se tornava
escassa ocorria crises periódicas de produção pois estes povos dependiam muito da
agricultura na região. Com isso havia a necessidade para sobrevivência, o contato com
outros povos para adquirir-se mantimentos. Com isso ambos os autores afirmam que as
comunidades do mediterrâneo viviam em uma rede de conexões. É deste posicionamento
que o autor vai concordar e estar discorrendo durante a obra.
Nos capítulos seguintes da obra o autor vai debatendo como se consolidava a integração
dos povos em uma linha cronológica de narração sobre a História Antiga por essa
perspectiva. No capítulo Navegações ele irá contextualizar através de um recorte sobre a
Idade do Ferro, comentando um período de contínuas trocas pelo mediterrâneo que teria
se iniciado no século X a.C. com a difusão da produção de um elemento de grande
importância que seria o ferro; Guarinello cita que sua produção exigia organizações
sociais mais complexas. Após isso, no século IX a.C. o contato entre os povos do
mediterrâneo é retomado através de um mar cheio de navegadores, comerciantes e piratas.
O resultado disso foi um grande intercâmbio de pessoas, produtos, crenças e culturas.
Devido esses contatos no período em questão desenvolveu-se diversas modas
mediterrânicas onde havia uma grande pluralidade de trocas sem ser estabelecido
qualquer tipo de hegemonia até então. O autor atenta, entretanto, que há periferias que
ocorrem em seu recorte, como o próprio disse, se é possível ainda formar uma história
totalmente unificada. Na sua menção a esses povos que estariam na periferia ele recorda
dos judeus e dos celtas, além de abrir caminho para o que seria o foco do próximo
capítulo, as cidades-estados. O autor comenta como estas se relacionavam com os povos
do mediterrâneo, afirmado que surgiram em um período de um mar já conectado, e a
formação destas pólis se deram do fechamento de suas fronteiras internas, muitas vezes
para defesa do território agrícola de uma região. O que definia estas cidades estados eram
o seu espaço público(fórum, ágora, etc..) e suas autonomias. O autor ao tratar do fim da
aristocracia de nascimento dá o exemplo de algumas destas cidades-estados e vai além de
citar as tradicionais e ocidentais Atenas e Esparta e inclui e comenta sobre cidades como
Cartago, Siracusa e a Sicília. Junto ao nascimento das pólis ocorre o surgimento de uma
identidade política e locas, de uma dimensão cultural dos povos.
Há dois capítulos na sequência que vão dar ênfase a Roma Antiga. Essa opção do autor
é dada pelo fato de a unificação da Itália ter sido a instauração de um Império
Mediterrânico. Mesmo permanecendo uma pólis Roma com seu império se tornou algo
muito além disto exercendo domínio e influência em povos de todo o mediterrâneo. A
expansão deste império esteve muito relacionada a um forte exército e se deu através de
guerras; No capítulo Guarinello narra como foi esta expansão e as conquistas em uma
ordem cronológica de crescimento ao mesmo tempo que vai tecendo comentários sobre
fatores envoltos a essas guerras de expansão como as resistências a ela, a função da mão-
de-obra escrava no processo, e uma crise devido a desigualdade no Império devido a má
distribuição das riquezas ganhas com a expansão. Ainda menciona as guerras internas
pelo poder na República Romana; Após esta apresentação inicial do Império Romano
com enfoque na pólis Roma e o que estava a seu redor, o capítulo “O Império” é o qual o
autor vai discorrer sobre as regiões submetidas ao poder de Roma e suas relações com
esta. Ele começa afirmando que este império durou vários séculos devido a uma
integração consolidada antecessor a este; logo após ele levanta o questionamento em
torno de uma identidade romana entre aqueles povos e os aspectos da romanização,
negando esta ideia e que isto envolveria aspectos mais complexos. Entretanto ele
menciona os aspectos que unificavam o império como é o caso do culto ao imperador, e
fatores da economia como as moedas e a taxação de alguns impostos. Perpassa também
pelas revoltas do império como as da plebe, o controle social, e o cristianismo. Em seu
fim menciona a crise do Império decorrendo de grandes choques, a peste, fortalecimento
de outros impérios no oriente (os partas) e uma sucessão de “imperadores frágeis”,
ressaltando que esta crise não englobava todo império pois havia regiões que eram de
domínio romana que cresciam como o norte da África e a Síria, mas se distanciando ao
mesmo tempo do poder romano.
A obra de Norberto Guarinello traz uma narrativa original ao abordar esta história da
perspectiva da integração dos povos na Idade Antiga; alcança o que se propõe ao trazer
uma visão deste período que não fosse totalmente ocidentalizada ao mesmo tempo que
não ignora pontos importantes também desta cultura ocidental. Além dos capítulos
narrativos consegue trazer um debate em cima da historiografia de modo atualizado e
coeso utilizando diversos autores da área, sem deixar de lado suas impressões.