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Editorial
A República
Nós,doRN...
Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Norte Ano II - Nº 17 - Abril de 2006
I N A
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ME E
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arinho
Giselda Clóvis S
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Trigueir
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Cicco
Januário
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Iaperi A
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Vulpian i
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Cavalcan
tônio
Luis An Lopes
Onofre
2 - nós do RN
Suplemento Natal, abril 2006
APRESENTAÇÃO
chefe de redação
MOURA NETO
mês de abril deveria ser ilustrado socialistas e lutando pela nacionalização do Secretário Gráfico
VALMIR ARAÚJO
nas folhinhas sob o signo da cruz petróleo e pela Petrobrás, Vulpiano sofreu prisões
vermelha: o dia sete é o Dia do equipe redacional
e inomináveis torturas, tendo inclusive seus dedos PAULO DUMARESQ - REPORTAGEM
Médico; dia oito, o Dia Mundial de cirurgião emérito quebrados pela repressão ANCHIETA FERNANDES - PESQUISA
de Combate ao Câncer e, no dia JOÃO MARIA ALVES/CLÓVIS SANTOS - FOTOGRAFIA
em 1952.
12, o Dia do Obstetra. Por diagramação e arte final
reconhecimento aos médicos e Com este protótipo de coerência e dignidade, EDENILDO SIMÕES
outras personalidades médicas desfilam nas PAULINHO CAVALCANTI
identificação com as suas
nossas pági- Capa
manifestações sociais, políticas e EMANOEL AMARAL
culturais, dedicamos-lhes este nas, como
Colaboradores
“nós, do RN ”. merecedoras CARLOS MORAIS
Modelamos um exemplo de do registro CARLA XAVIER
CARLOS DE SOUZA
homem e profissional, doutor histórico e CARLOS FREDERICO DA CÂMARA
Vulpiano Cavalcanti de Araújo, marcando a EDSON GUTEMBERG DE SOUSA
Coordenação Gráfica
um verdadeiro herói do povo nova incursão Giselda o
Clóvis
Sa rinho
WILLAMS LAURENTINO
Trigueir
Januá
Intelectual
do futuro Visionário e benfeitor
“Culto, excelente conversador, amante
das boas letras e de reuniões sociais”,
como disse Veríssimo de Melo, Januário
Cicco foi um intelectual atuante que
produziu livros, teses, artigos e proferiu
palestras e conferências sobre temas que Januário Cicco
despertavam seu interesse. Ocupou como
sócio-fundador a cadeira nº 11 da MOURA NETO
Academia Norte-Rio-Grandense de fermagem em 1950. Já foi dito que o medicamentos, o governador José
Letras, cujo patrono é Padre João Maria. Não havia em Natal, no início do sé- Centro de Estudos da Sociedade de Augusto aceitou a idéia de repassar a
Sua tese de doutorado, intitulada “O culo passado, mais do que 20 mil habi- Assistência Hospitalar, que ele criou em administração daquela unidade de saú-
destino dos cadáveres”, gerou polêmica 1951, foi o embrião da Faculdade de de para uma entidade civil. A Socieda-
tantes. A cidade compreendia basica-
nos meios acadêmicos pela defesa do Medicina do Rio Grande do Norte que de de Assistência Hospitalar (SAH),
mente os bairros da Ribeira e da Cida-
direito de cremação numa época em que
de Alta. Estavam em formação os do um de seus diletos discípulos, Onofre criada em 1927, tornou-se então o ór-
isso contrariava os preceitos católicos.
Alecrim, Tirol e Petrópolis, os dois últi- Lopes, consolidou em 1955. De sua ini- gão mantenedor do Hospital de Carida-
Não menos polêmica foi a obra que
dedicou à eutanásia, assunto que ainda mos sob a denominação de Cidade ciativa originou-se também um sistema de e, depois, da maternidade. O hospi-
hoje provoca celeuma – imaginem Nova. Com a construção da ponte me- de proteção à maternidade e à infância. tal foi crescendo, incorporando novos
naquele tempo! No livro “Notas de um tálica sobre o rio Potengi, em 1916, foi Destacou-se não apenas como um serviços e profissionais.
médico de província”, comenta casos instalado o assentamento de Igapó, ha- visionário que soube fazer por onde Maternidade - Em 1927, ao receber
que vivenciou no exercício da profissão. bitado por pescadores, roceiros e ferro- materializar seus sonhos e projetos, to- um terreno de doação do prefeito Omar
Como sanitarista, numa época em que viários. Desde meados do século 19, o dos voltados ao bem-comum, adminis- O’Grady, Januário Cicco encampou a
desempenhava a função de inspetor de único hospital era uma espécie de trando com competência as instituições luta pela criação de uma maternidade,
Saúde Pública do Porto de Natal, pardieiro que servia de abrigos para os que ajudou a fundar, mas também como projeto que seria concretizado apenas
escreveu uma das obras mais ricas de sua pestilentos. Foi nesse palco rudimentar profissional médico, atendendo em vá- em 1950, depois que o prédio, já quase
carreira. “Como se higienizaria Natal”, que entrou em cena um ator que muda- rias especialidades: parteiro, clínico, ci- pronto, foi requisitado pelo Ministério da
publicada em 1920, apresenta um ria os rumos da assistência médica e rurgião, oftalmologista, sanitarista, além Guerra, que o utilizou durante a Segun-
diagnóstico sobre as condições de hospitalar do Rio Grande do Norte: de dentista. Foi ele o responsável pela da Guerra Mundial como Hospital de
salubridade e um plano de saneamento primeira operação de cisto de ovário em Campanha. Se antes disso foi preciso
Januário Cicco.
da cidade. “A partir dos anos vinte do
Formado em 1906 pela Faculdade de Natal. “Era uma força da natureza des- mobilizar a sociedade natalense para a
século passado, o Governo do Estado do
Medicina da Bahia, Januário Cicco pertada para o bem da coletividade”, na realização de festas, rifas e quermes-
Rio Grande do Norte encampou e
retornou a Natal para instalar consultó- definição de Aluízio Alves. “Dele, pode- ses destinadas a angariar fundos para a
implementou quase totalmente o plano
de Cicco”, afirma Pedro de Lima, mestre rio na casa dos pais, na rua Duque de se dizer que morreu de sonhar. Deve obra, depois da devolução do prédio, ao
em antropologia social pela UFRN, Caxias, Ribeira. Até então, apenas dois dizer-se que tombou lutando”. fim do conflito bélico, foi preciso exigir
autor de um estudo sobre este trabalho médicos atendiam toda a população Hospital – Coube a Januário Cicco indenização do governo federal para sua
de Januário Cicco. natalense - Segundo Wanderley e Afon- convencer o governador Alberto reforma. Mais uma vez estava ele,
Pelo conjunto de ações que realizou e so Barata - no velho hospital da cidade. Maranhão a adquirir uma casa de vera- Januário Cicco, à frente dessa luta.
de idéias que contribuíram para Num período de quatro décadas e meia, neio no Monte Petrópolis, em 1909, para A inauguração da Maternidade de
transformar a sociedade em que viveu, porém, o filho ilustre de São José do adaptá-la ao funcionamento do Hospi- Natal foi um acontecimento social. O
Januário Cicco “parece mesmo ter Mipibu, nascido em 30 de abril de 1881, tal de Caridade Juvino Barreto, que pas- bispo de Natal, dom Marcolino Dantas,
nascido predestinado para os grandes iria construir uma obra social inestimá- sou a se chamar, em 1936, Miguel Couto. e Luis da Câmara Cascudo lideraram
planos e realizações, nos quais vel, no plano material e intelectual, como Além de acompanhar as obras de re- uma campanha para batizar a “Casa da
empregou, não só muito tempo e fortuna, apóstolo devotado à profissão que tanto forma do imóvel, Januário Cicco assu- Mãe Pobre”, como gostava de chamar
mas sobretudo entusiasmo de miu a direção do estabelecimento. A seu fundador, com o nome de Januário
honrou e precursor dos avanços da Me-
pensamento, vocação e energia”, como princípio, havia apenas 18 leitos dividi- Cicco. Ali nasceu, no dia 12 de feverei-
dicina na cidade que ainda não passava
assinalou, sobre ele, outro imortal da
de um arraial. dos para os pacientes dos sexos mas- ro de 1950, o primeiro bebê, que rece-
ANL, Manoel Rodrigues de Melo. Ou,
Sua marca está em quase tudo que culinos e femininos, que eram atendi- beu o nome de Yvette. Uma homena-
como disse Iaperi Araújo, ex-diretor da
maternidade e autor do livro “Januário foi feito naquele tempo. Na fundação dos, exclusivamente, por Januário Cicco. gem à filha que Januário Cicco teve com
Cicco – um homem além do seu tempo”, de um hospital em 1909 e de uma ma- Somente em 1917 foi nomeado o médi- a pernambucana Isabel Simões, ambas
foi ele algo mais do que “a alma de ternidade em 1950. Criou o primeiro co Otávio Varela como seu ajudante. falecidas em 1937. Quinze anos depois,
nossa História da Medicina”. “Acima de Banco de Sangue e o Serviço de Pron- Para viabilizar o funcionamento do em 1º de novembro de 1952, falecia do
todos os títulos, foi um homem do to Socorro do Rio Grande do Norte, em hospital, desburocratizando o processo coração o próprio Januário Cicco aos
futuro”. 1945, e uma Escola de Auxiliar de En- de aquisição de gêneros alimentícios e 71 anos.
4- nós do RN Natal, abril 2006
Suplemento
FOTO:ARQUIVO
chegaram aos ouvidos do dr. Januário Registra o médico e pesquisador Iaperi Araújo que a mai-
Onofre Lopes Cicco, que o convidou para fazer oria do corpo docente do curso de medicina veio do Recife
transformou em parte de junta médica e depois inte- para ministrar aulas nos fins de semana. A aula inaugural foi
realidade o projeto
Semeador de sonhos
grar o quadro de médicos do Hospital dada pelo médico sanitarista Reginaldo Fernandes e a aula
da Faculdade de Miguel Couto. A amizade entre os prima ministrada pelo doutor Luigi Olivieri. Outra figura lem-
Medicina e da brada é Jurandir Lodi, irmão de Euvaldo Lodi, e Diretor do
dois durou 28 anos. Neste período, o
universidade Ensino Superior. Jurandir Lodi agilizou o processo de reco-
filho de Comum realizou estágios em nhecimento do curso e foi o primeiro Doutor Honoris Causa
São Paulo e nos Estados Unidos, da Universidade do Rio Grande do Norte. Veio a Natal, em
PAULO JORGE DUMARESQ precisamente em Nova Iorque, Boston março de 1958, com seu auxiliar dr. José Dias, viu as escolas
e Filadélfia. superiores já instaladas e propôs a Universidade.
Afirma o sábio popular que ninguém Pressentindo a morte próxima, Na época existiam os cursos de direito, dirigido pelo pro-
foge ao destino. Com Onofre Lopes Januário Cicco chamou o governador fessor Otto de Brito Guerra; farmácia e odontologia, pelo
professor José Cavalcanti Melo; filosofia, pelo professor
da Silva não foi diferente. O menino Silvio Pedrosa e reivindicou o terreno
Edgar Barbosa; serviço social, pela professora Maria Mar-
de Comum, distrito de São José de do Miguel Couto para a Sociedade de garida Filgueira, além do curso de medicina.
Mipibu, nasceu a 13 de julho de 1907, Assistência Hospitalar. Voltou-se Com um estetoscópio na mão e uma idéia na cabeça,
predestinado a exercer a medicina. também para Onofre Lopes e rogou Onofre Lopes procurou Dinarte Mariz em 1958 e sugeriu ao
Para escapar das formigas do roçado que não deixasse a obra dele desapa- governador a criação da Universidade do Rio Grande do
do pai, que lhe picavam os pés, o recer, pedindo a continuidade e a Norte. Autorizada por Dinarte, a universidade foi fundada
adolescente Onofre Lopes, premedi- manutenção dos serviços do Miguel em 25 de junho de 1958 e instalada em sessão solene realiza-
tando o destino, bateu asas e mudou- Couto (que hoje se chama Onofre da no Teatro Alberto Maranhão, a 21 de março de 1959. O
prédio da Reitoria começou a funcionar na avenida Hermes
se para Natal, passando a morar em Lopes), da Maternidade e da Socieda- da Fonseca, em casa que pertencera ao senador João Câma-
casa de tios e a trabalhar numa de de Assistência Hospitalar. Solicitou ra.
bodega. Começou assim a trajetória ainda o empenho do amigo na realiza- A federalização da Universidade foi feita a fórceps. Du-
do homem que iria dar continuidade ao ção de seus sonhos, notadamente a rante visita do presidente Juscelino Kubistchek a Natal,
trabalho pioneiro de Januário Cicco. implantação da Faculdade de Enfer- durante encontro da CNBB, em 1960, Onofre Lopes, reitor, e
Com fome de conhecimentos, magem, Faculdade de Medicina e da Otto Guerra, vice-reitor, realizaram abordagem informal, onde
ingressou no Atheneu Norte-Rio- Universidade do Rio Grande do Norte. fizeram apelo convincente ao chefe da nação. Sensível ao
pedido, JK deu sinal verde e pediu que a dupla cuidasse da
Grandense, onde cursou Humanida- A responsabilidade de dirigir o papelada. Cumpridas as etapas e os trâmites legais, a
des. Concluído o segundo grau, Hospital, a Maternidade e a Socieda- federalização foi aprovada pelo Congresso a 18 de dezem-
transferiu-se para a veneza brasilei- de, serviu de incentivo para Onofre bro de 1960. Dedicado à universidade que criou, Onofre
ra em busca de seu sonho. Ingressou Lopes. Em 1952, iniciou a instalação Lopes passou 12 anos à frente da instituição, dirigindo-a
na Faculdade de Medicina do Recife, do curso de Medicina, deflagrando o com austeridade espartana.
em 1927, com bolsa doada pelo então processo de criação da Universidade O incomum menino de São José de Mipibu foi um vitorio-
governador José Augusto. Em situa- do Estado. A Faculdade foi fundada a so. A conquista de espaços pela universidade deveu-se em
grande parte ao seu mérito pessoal. Iaperi Araújo afiança
ção de penúria, pois a bolsa mal dava 29 de janeiro de 1955. Logo após esse
que Onofre Lopes abdicou da carreira médica e do conforto
para pagar as despesas, Onofre Lopes feito, partiu para o Rio de Janeiro para pessoal para operar o grande sonho de sua vida: a criação
passou a dar aulas de alfabetização no pedir autorização de funcionamento do da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. “Ele era
Sindicato dos Carvoeiros. curso. Já o reconhecimento saiu antes homem austero, obstinado pelo trabalho e pela cultura”, res-
Em 1930, o sindicato foi fechado e do primeiro vestibular, ocorrido em salta o pesquisador.
ele recebeu o bilhete azul. Prevendo o 1956.
Natal,abril 2006 nós do RN-5
Suplemento
Fotos:Clóvis Santos
N
ão se pode falar nos pioneiros
da Medicina no Rio Grande do
Norte - profissionais que fun-
Os imigrantes
daram hospitais, trouxeram equipamen-
tos tecnológicos e inovaram os procedi- Embora não nascidos no Rio
mentos em determinadas especialidades Grande do Norte, alguns médicos
- sem destacar, com justiça, as figuras vieram exercer sua profissão no
de Luis Carlos Lins Wanderley, o pri- Estado e se destacaram em suas
meiro norte-rio-grandense a se diplomar atividades. O pernambucano
em Medicina, em 1857, na Bahia, e Adolfo Ramires (Recife/
Januário Cicco, que atuou em várias es- 02.02.1887, Natal/17.03.1971), ao
pecialidades e fundou hospital e mater- chegar em Natal, em 1922,
nidade. Mas não coube somente a eles iniciou a primeira clínica
FOTOS:ARQUIVO
CARLOS MORAIS açuense Luís Carlos Lins Wanderley, em 1857 (o primeiro médico do Estado), e Vicente
Inácio Pereira, dois anos depois (o primeiro médico de Natal), debutaram na dupla vere-
da.
O vírus da política contaminou, irremediavelmente, Outro médico e futuro político, o primeiro e único a destacar-se, inusitadamente,
a safra pioneira dos médicos na história médico-políti- durante o período imperial e velho republicanista, o lendário Pedro Velho de Albuquerque
ca do Estado. Um contágio latente até os dias atuais. Os Maranhão, também freqüentador inicial daquela escola médica baiana, terminou douto-
médicos e a política, assim, vivenciaram, no período do rado, em 1880, na Faculdade do Rio de Janeiro, aos 24 anos.E sequenciou a trajetória da
Império brasileira e da República Velha, nos séculos XIX e bagagem genética modelo, depois de seduzido pela mosca azul da política, que o divor-
XX, um casamento de conveniências e de afinidades que ciou do matrimônio médico.
não pode ser ignorado ou dissociado na nossa história. Os Esses três jovens médicos conquistaram, cada uma a seu modo e estilo, uma notável
dois médicos pioneiros da nossa medicina, nascidos em territó- escalada de sucesso diante da sociedade norte-rio-grandense, com todos a alcançar o
Vicente Inácio Pereira rio potiguar, e doutorados em Salvador, na Faculdade da Bahia, o supremo poder executivo ao assumirem os destinos do Governo do Estado.
Luís Carlos Lins Wanderley uma cadeira, mas foi defenestrado. Vicente Inácio Pereira gem pelo Governo da Província, de 14
Só mudou de facção, em 1886, de fevereiro a 13 de março de 1879.
quatro anos antes de morrer, para Pegou um osso duro ao assumir a
atender a um pedido do sogro, o administração estadual, ao receber os
Primeiro médico jornalista João Carlos Wanderley, que O primeiro débitos trágicos e duros da
o filiou ao Partido Conservador, famosa Seca dos Dois Sete (1877),
e romancista pioneiro responsável por entronizá-lo na médico de Natal que espalhou mortandade e atingiu
cadeira do Governo do Estado, duran- uma mortalidade em torno de 3.000
Luís Carlos Lins Wanderley despon- te 12 dias, entre o final de outubro e Vicente Inácio Pereira, ao conquis- vítimas mensais.
tou na nossa história, com uma dupla 11 de novembro de 1886. tar o direito de usar a esmeralda Enfrentou a adversidade com uma
façanha patriarcal e única:primeiro “Bom médico, amigo dos pobres”, simbólica, na condição de primeiro metodologia renovadora em seus
médico e romancista pioneiro das resumiu Luís da Câmara Cascudo. médico de Natal, retornou à Provín- métodos funcionais, ao combater
nossas letras. O açuense exibe ainda Mas recebeu a justa homenagem pela cia, passou a encarar a medicina vícios e irregularidades, ainda hoje em
um cartel invejável e multifacetado: bagagem literária, deixada por um dos como um sacerdócio e, em seguida, cena. Racionalizou as operações
poeta, teatrólogo, jornalista, professor mais legítimos representantes da ao casar-se, a 14 de novembro de emergenciais e fiscalizou, direta e
do Ateneu, médico do Hospital de cultura provinciana no período imperi- 1863, com Isabel Duarte Varela, filha pessoalmente, todos os serviços.
Caridade, Diretor da Instrução Pública al. dos barões da açucarocracia de Quando entregou a administração,
e Inspetor da Saúde Pública. E o Governo do Império concedeu- Ceará-Mirim, ligados ao chefe liberal ainda ofertou os seus vencimentos,
Personalidade distinta do Partido lhe a comenda da Imperial Ordem da Moreira Brandão, entrou na politica. ganhos no Hospital de Caridade. E
Liberal até 1885, com aguerrida Rosa, uma homenagem correta ao seu Ao penetrar na política, rapidamente, retornou, sereno, para o seu engenho
militância nas acirradas pelejas trabalho dedicado e infatigável no se elegeu deputado provincial em Guaporé, no verdejante vale do
eleitorais, nas quais se elegeu deputa- socorro aos atacados pela violenta duas legislaturas consecutivas (1864- Ceará-Mirim, que o viu morrer, com
do provincial, e enfileirour mandatos, epidemia de cólera-morbo que grassou 1865 e 1866-1867), e conseguiu uma apenas 55 anos, manhã de 22 de
desde 1858 até 1883, quando ganhou na Província. meteórica, embora brilhante passa- novembro de 1888.
Pedro Velho
Foto:divulgação
crianças
Liga Norte-Rio-Gran-
carentes dense Contra o Câncer
foi fundada em 17 de
O Hospital Varela Santiago se julho de 1949, tendo
destaca na área de saúde por ser uma como primeira unidade
instituição filantrópica que atende crian- o Hospital Luiz Antônio. Pouco mais
ças carentes e também pelo pioneirismo de meio século depois, este hospital os-
em tratamento do câncer infantil. A tenta uma tecnologia de ponta que o
unidade hospitalar vive do dinheiro do credencia a ser uma referência na re-
SUS, da ajuda substancial do Governo do
Estado e da assistência da população. São gião Nordeste, acolhendo pacientes de
esses os pilares que fazem com que a outros estados para tratamento. No iní-
instituição, desde 1917, seja uma referên- cio, porém, não existiam especialistas
cia na área médica do Rio Grande do nesta doença e nem havia tratamento Unidade da Liga Norte-Rio-Grandense contra o Câncer
Norte. disponível. Os enfermos chegavam ao
Contando atualmente com um quadro de hospital sem perspectivas nenhuma de
450 funcionários, a instituição é dotada de clusive já tem o terreno, que fica locali- radioterapia e medicina nuclear; um De-
vários tipos de serviços, possuindo uma cura. zado na avenida Miguel Castro. O pro- partamento de Ensino de Educação Co-
estrutura multidisciplinar para atender Só entre os anos de 1969 e 1970, jeto desta nova unidade de saúde será munitária, Hospital-Escola, programa de
crianças de zero a 15 anos de idade a Liga passou a contar no seu quadro apresentado à classe política para que residência médica, cursos de pós-gra-
incompletos em todas as patologias. É o com profissionais especialistas, como possa receber investimentos públicos. duação para enfermeiros, assistentes
único Hospital que faz neuro cirurgia os médicos Aluisio Bezerra e Ivo
pediátrica para o SUS do Rio Grande do Além do Hospital Luiz Antônio e da sociais, psicólogos, dentistas e farma-
Barreto. Na ocasião, alguns médicos Policlínica, a Liga possui um Centro cêuticos. Recebe estudantes de todas
Norte. Além do câncer, trata de doenças
infecto-contagiosas. foram para o Rio de Janeiro se especi- Avançado na rua Miguel Castro, nº 1355, as áreas da saúde para estágios
Não obstante a boa qualidade dos alizar no Instituto do Câncer. Daí em onde funciona os setores de imagem, curriculares ou extracurriculares.
serviços oferecidos pelo hospital, as diante, a instituição começou atuar com
dificuldades também são muitas. “Só o diagnósticos, prevenção, tratamentos e
aparelhamento da UTI tem 16 anos e não
acompanha a evolução da saúde. Precisa-
reabilitação, utilizando os melhores
meios possíveis para essa tarefa.
Assistência às gestantes carentes
mos de mais equipamentos de apoio nesta
unidade intensiva. Mas, mesmo assim, A missão da Liga é realizar ações A Maternidade Escola Januário Cicco mamografia, ultra-sonografia, mas-
ainda conseguimos dar uma boa assistên- de saúde com qualidade e compromis- é um hospital universitário de muita tra- tologia, retirada de cisto no ovário, pre-
cia à população carente”, revela o diretor so social. É uma instituição filantrópi- dição, atendendo exclusivamente a paci- venção de câncer e outros. Como se tra-
do Hospital Varela Santiago, Paulo Xavier ca, que atende preferencialmente os entes do Sistema Único de Saúde (SUS). ta de um hospital escola de referência é
Trindade. pacientes do Sistema Único de Saúde Fundado em 1950, é grande a movimen- comum chegar pacientes com problemas
Com uma média de 10 a 11 mil atendi- tação diária por ser uma unidade de aten- que não são resolvidos em outras uni-
(SUS). Segundo Ricardo Curioso, su-
mentos por mês, desde a consulta até a
perintendente da instituição, o trabalho dimento de urgência e emergência. “Difi- dades hospitalares.
cirurgia de alta complexidade e tratamento
é árduo porque ao atender preferenci- cilmente dispomos de vagas; estamos O professor Leyde Morais, uma refe-
na UTI, funcionando 24 horas por dia, o
hospital conta com 120 leitos, um número almente os pacientes do SUS, muitas sempre com os 120 leitos que temos pre- rência na área médica do Estado, dirigiu
reduzido para atender a população enchidos”, explica a vice-diretora, Sônia a Maternidade Januário Cicco durante
vezes a Liga tem que bancar os cus-
pediátrica. Mas já existe projeto de Barreto, 50 anos. “Temos a preocupação 28 anos. Formado na Bahia, quando
tos. Apesar das dificuldades, a institui- de trabalhar também com a mulher que chegou em Natal foi convidado pelo
reforma e ampliação, com a construção
ção é reconhecida pela excelência de não pode ter filhos e que deseja professor Onofre Lopes, reitor da UFRN
também de um novo centro cirúrgico.
Nas terças e quintas-feiras, um seus serviços. O Hospital Luiz Antônio engravidar”, afirma. na época, para ser diretor do hospital
grupo de artistas locais e voluntários, com foi agraciado há pouco tempo pelo Mi- Prestando atendimento na parte de gi- universitário. Quando assumiu, reno-
apoio da diretoria da instituição, promove nistério da Saúde com o prêmio David necologia, cirurgias ginecológicas e vou completamente a obstetrícia e a gi-
o que ficou conhecido como Terapia do Capistrano. laparoscópicas, são realizados aproxima- necologia. Os obstetras passaram a fa-
Sorriso, um trabalho de humanização do A Liga conta atualmente com 100 lei- damente 5 mil partos por ano. O índice de zer também a parte cirúrgica. “Ele foi o
hospital pelo qual são realizadas diversas cesárea na unidade é alto, mas dentro das pioneiro na implantação da residência
tos do Hospital Luiz Antônio e 50 da
brincadeiras. Vestidos de palhaços, estes condições de saúde do país pode ser médica no Rio Grande do Norte”, conta
jovens animam as crianças e promovem Policlínica. Diante da grande incidên-
considerado normal. Além do parto, a seu filho Kleber Morais, 52 anos, atual
alegria a quem se encontra enfermo nos cia de câncer, a diretoria da instituição
maternidade oferece serviços de diretor da maternidade.
leitos. pensa em fundar um novo hospital; in-
12- nós do RN Natal, abril 2006
Suplemento
ANCHIETA FERNANDES
Natal e Assu foram as duas primeiras das pelos médicos tinha como endere- agregada a ela a Facul-
cidades norte-rio-grandenses a terem ço à rua Vigário Bartolomeu. Um dos dade de Farmácia,
estabelecimentos de distribuição de re- proprietários fundadores da Farmácia desmem- brada da Fa-
médios. Eram as boticas. Só depois sur- Natal, João Dias de Araújo, que inau- culdade de Odon tologia.
giram as farmácias. Enviada pelo go- gurou o estabelecimento em 13 de ja- Pertencendo agora a
verno de Portugal, a botica chegou em neiro de 1933, juntamente com o primo uma Universidade Fede-
Natal no dia 14 de dezembro de 1768. Augusto Amâncio Pereira, tinha as pal- ral, a Faculdade de Farmá-
Entre os medicamentos, constavam 15 mas das mãos queimadas pela manipu- cia (que passou a ter o
arratéis de macela e 12 pílulas da famí- lação de produtos químicos. Uma pro- nome Faculdade de Far-
lia, que serviam indefinidamente como va da eficácia dos remédios de manipu- mácia e Bioquímica) obte-
purgativos, segunda conta Câmara lação ocorreu em 1982, quando um sur- ve condições de ensino prático, tendo
Cascudo no livro “História do Rio Gran- to de conjuntivite não foi debelado com sido vinculado a ela o Laboratório Far-
de do Norte”. os remédios industrializados comprados macêutico de Produção Industrial, onde Uma das
Ao fixar moradia na cidade cuja pa- nas drogarias. Os médicos, então, acon- os alunos aprendem a fabricar remédi- farmácias
droeira é Santa Luzia, ao fim do século selharam aos doentes procurar medica- os. Isso foi útil não somente à prática de manipu-
19, o paraibano Jerônimo Rosado, far- ção na Farmácia Natal. A cura veio com pedagógica, mas também a ajudar as lação de
macêutico diplomado, requereu à Câ- a chamada Água Bobinada, manipula- populações pobres, já que grande parte Natal
mara de Intendentes de Mossoró, em da pelo farmacêutico prático.
27 de abril de 1890, licença para insta- dos remédios produzidos passaram a ser
lar sua farmácia na cidade. Começou distribuídos gratuitamente entre os do-
entes carentes. Soros, pomadas, com-
então a era das farmácias, onde os re- Profissão: primidos e xaropes passaram a ser pro-
médios eram fabricados pelos próprios
farmacêuticos, donos dos estabeleci- farmacêutico duzidos aqui no Estado.
mentos. Eles os fabricavam manipulan- Enquanto isso, com o crescimento de
do as substâncias curativas receitadas A institucionalização das farmácias e Natal e do Rio Grande do Norte, com a
pelos médicos. Jerônimo Rosado entrou da profissão de farmacêutico no Rio demanda maior de remédios a partir de
para a História da Medicina como o in- Grande do Norte veio com a criação da meados do último século, começou a
ventor de um famoso preparado antidor, primeira faculdade de farmácia no Es- proliferar entre nós o outro tipo de co-
o “Antinevrálgico Rosado”, precursor tado, unida também à primeira faculda- mércio no ramo: as drogarias. Bem den-
do “Melhoral” e outros remédios simi- de de odontologia: a Faculdade de Far-
tro do contexto da globalização, as dro-
Farmácia e lares. mácia e Odontologia, criada pelo decre-
Em Natal, durante muito tempo, uma garias são como que filiais das grandes
Drugstore: to-lei nº 682, de 03 de fevereiro de 1947,
dentro da farmácia que aviava receitas formula- sancionado pelo então interventor fede- matrizes industriais de fabricação de
era das ral do Estado, general Orestes da Ro- remédios, existentes nos Estados Uni-
drogarias cha Lima. dos, Alemanha e outros países.
Fotos:Clóvis Santos
As aulas só começam em março de É bom que diga que estas matrizes
1949. O reconhecimento dos cursos industriais não se preocupam primordi-
deu-se a 29 de julho de 1952. O primei- almente com a saúde das pessoas, mas
ro diretor da Faculdade de Farmácia e com o lucro que podem obter com a
Odontologia foi o médico Adolfo venda de determinado tipo de remédio,
Ramires. A primeira turma (quatro ho- mesmo que este cure uma parte do cor-
mens e cinco mulheres, tendo Ítalo po e seja nocivo a outra parte. Esta
Suassuna como orador) foi diplomada a
mentalidade de lucro farmacêutico pas-
22 de dezembro de 1951.
sou a ser ajudada a todo custo pela pu-
No começo dos anos 60 do século
passado, a Faculdade de Farmácia e blicidade, que incentiva a auto-medica-
Odontologia sofreu mudanças. A Uni- ção, a compra de remédios divulgados
versidade do Rio Grande do Norte fora na publicidade e que podem, em vez de
federalizada em 1960, já tendo sido ajudar a curar, prejudicar. (AF)
Natal, abril 2006 nós do RN-13
Suplemento
Foto:Clóvis Santos
Foto:Clóvis Santos
profissional. Sugiro seu nome para um
posto de saúde, rua ou outra forma de
justa reverência.
O sindicalismo médico surge no Brasil, Atualmente, o trabalho médico continua
mais precisamente no Rio de Janeiro, no aviltado e desvalorizado. As relações de
ano de 1922. Neste ano, em uma palestra trabalho são precárias; difundiram-se os
proferida pelo dr. Felício Torres, fala-se na contratos “temporários” e as cooperati-
necessidade urgente de se organizar vas. Nossos salários estão fortemente
sindicatos em todo território brasileiro. achatados, a rede pública em precárias
Porém, os objetivos e finalidades do condições de trabalho, não temos um
sindicato, de então, eram outros, comple- plano de carreira, não temos um piso
tamente diferentes dos nossos objetivos salarial. Nos consultórios privados,
atuais. Por esta época a categoria médica constatamos uma dependência quase total
se organizava visando “facilitar a denún- aos convênios ávidos de lucro com a
cia e o combate ao charlatanismo em todas doença da população, que não confiando
as suas modalidades”. Este papel hoje no sistema público tira dinheiro de outra
está assumido pelos Conselhos Regionais prioridade para pagar um plano privado de
de Medicina, que viriam a ser criados assistência médica.
posteriormente, no ano de 1945, quando O SUS é, na realidade, um grande
surge a Lei 7.955. Portanto, o estabeleci- projeto de inclusão social. Porém, os
Edson Gutemberg: “O SUS é um grande projeto de inclusão social”
mento de um Código de Deontologia números grandiosos exibidos estão na
Médica foi uma conquista surgida no seio tiveram que suplantar a desconfiança da Grande do Norte ocorreu no dia 08 de abril relação direta da população do Brasil.
do sindicalismo médico e, por isso mesmo, categoria médica. Não a desconfiança dos de 1983, portanto há exatos 23 anos e Argentina, Paraguai e Uruguai, para citar
o sindicalismo atual não pode abrir mão de colegas batalhadores. A questão é que tomou posse no dia 12 de maio de 1983. exemplos de países com o mesmo perfil
sua postura em defesa da ética profissio- sendo os médicos geralmente provenien- Estava assim constituída: Presidente – dr. demográfico que o nosso, investem em
nal e do reconhecimento do campo de tes de meios conservadores, não viam Paulo de Medeiros Rocha; primeiro Vice – saúde pelo menos duas vezes mais que
atuação de nossa profissão. com bons olhos essa “inovação”. Os presidente – dr. Djacir Dantas Pereira de nosso Brasil.
No Rio Grande do Norte, a criação do médicos sempre foram colocados dentro Macedo; segundo vice-presidente – dr. Isto não significa que esta entidade
Sindicato dos Médicos se deu em pleno da categoria de “profissional liberal”, e foi Sérvulo Antonio de H. Godeiro; primeiro esteja contra o SUS. Nossa posição é em
período de exceção, durante a ditadura duro aceitar que a realidade, ou seja, que Secretário – dr. Luiz Gonzaga da Silva; defesa intransigente do sistema público.
militar, página esta que merece estar as relações de trabalho estavam mudando. segundo Secretário – dr. Cipriano Maia de Precisamos agregar, ao lado do aspecto
jogada na lata do lixo da história. As Até hoje ainda tem médico cego e surdo Vasconcelos; primeiro Tesoureiro – dr. quantitativo, a qualidade e eficiência do
exigências para a organização da categoria para a realidade de que somos hoje Manoel Batista de Araújo; segundo sistema. Para que a população tenha mais
obedeciam a regras draconianas. trabalhadores assalariados e como tal Tesoureiro – dr. José Alírio Freire. Esta confiança na prestação do serviço e não
Em maio de 1977, um grupo de médicos necessitamos estar organizados para fazer diretoria dirigiu a entidade no período de destine parte de seus recursos, que
preocupados com o resultado do concur- valer a nossa força de trabalho e permitir 05 de maio de 1983 a 05 de maio de 1986, poderiam ser usados para uma melhor
so público do Ministério da Previdência a um equilíbrio mais justo com o capital. garantindo a legitimidade da instituição e alimentação, lazer etc., aos planos de
Assistência Social – MPAS, procurou A primeira diretoria da Associação o seu reconhecimento junto aos profissio- saúde que trabalham sob a ótica do lucro
discutir formas de organização da catego- Profissional dos Médicos estava assim nais. Ficando com sua sede provisória na fácil
ria para enfrentar futuros problemas. constituída: Presidente – dr. Hermano Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio Para isto, conta a sociedade norte-
Fundou-se primeiro, conforme a lei Paiva Oliveira; Vice-presidente – dr. José Grande do Norte, e, em seguida, mudando- riograndense com uma entidade sindical
vigente, a Associação Profissional dos Dácio Rodrigues de Carvalho; Secretário – se para uma sala alugada no edifício 21 de preocupada com uma melhor assistência
Médicos do Rio Grande do Norte, entida- dr. Washington Faelante Leite e na Março. médica para a população, lutando pela
de considerada pré-sindical, para funcio- Tesouraria, a também psiquiatra dra. Aleta A partir de então o sindicato foi se consolidação de um SUS eficiente, de
nar durante dois anos, findos os quais Fernandes Andrade da Silva. A estes consolidando e se estruturando de modo qualidade, que inverta a lógica tradicional,
poderíamos solicitar a nossa Carta profissionais o reconhecimento histórico melhor, criou-se representações sindicais de foco de atenção no hospital para ações
Sindical. O psiquiatra e comunista de uma luta na qual se necessitava em Mossoró e Caicó e, posteriormente, de promoção da saúde, de resolubilidade
Hermano Paiva foi figura importante neste coragem e despreendimento, em função para outras regiões do Estado. na atenção básica. Reconhecemos a
primeiro momento. Era presidente da do status quo vigente. Não se pode Não podemos, neste espaço, citar todas estratégia da saúde da família como
Associação e, cumprindo os trâmites escrever a historia do sindicalismo as pessoas que foram importantes na avançada, porém precisamos dar proteção
legais, solicitou a tal Carta Sindical, potiguar sem fazer referência a esses história do sindicato. Mas, por dever de trabalhista aos que se inserem no progra-
negada pela burocracia do regime militar. colegas e outros não menos importantes justiça, pelo que fez na Terra, pela nossa ma, evitando a rotatividade e buscando o
Tendo que se afastar da entidade para na luta sindical. entidade e considerando a sua passagem perfil adequado do profissional que
concorrer a mandato eleitoral, assumiu o Nosso sindicato foi reconhecido como para o Oriente Eterno, registro aqui o queremos no sistema.
então vice-presidente, dr. José Dácio tal pelo Ministério do Trabalho em 09 de nome do dr. Manoel Batista de Araújo, E, por fim, como uma idéia defendida
Rodrigues de Carvalho, que desenvolveu novembro de 1982, através do processo marca indelével na memória sindical do pelo presidente da entidade, queremos a
os trâmites legais para transformar a nossa de número 3000728/81. A partir daí, se dá Rio Grande do Norte. Este paraibano, medicina como uma carreira de Estado, de
Associação em entidade sindical. início a formulação de um estatuto próprio casado com uma médica potiguar, a dra. forma a criar um vínculo efetivo com o
Se não bastassem os entraves burocráti- e a formação e composição de uma Maria Lucia Fernandes Araújo, dedicou Sistema Único de Saúde e um verdadeiro
cos, criados pelo regime ditatorial com a diretoria provisória. grande parte de sua vida à luta pelo compromisso com o povo brasileiro.
finalidade de dificultar a organização dos A primeira eleição para diretoria do interesse da coletividade médica de nosso
trabalhadores, os fundadores do sindicato Sindicato dos Médicos do Estado do Rio Estado. A sociedade potiguar ainda não *Presidente do Sindicato dos Médicos
Memorial
de Medicina
F
otografias, livros, documentos, pinturas e equipamentos
antigos das mais diversas especialidades. Isso é um pouco do
que podemos encontrar no Memorial de Medicina do Rio
Grande do Norte, mantido pelo Conselho Regional de Medicina, na
avenida Rio Branco, centro. O acervo retrata a história da profissão
que só em 1961 teve a primeira turma de médicos formada pela
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Aberto ao público há
três anos, o Memorial guarda em suas paredes os nomes daqueles que
contribuíram para introduzir a Medicina no Estado.
“Muitos dos grandes nomes da Medicina local foram
formados em Recife, na Bahia e no Rio de Janeiro, antes da criação
da Faculdade em Natal. Foi o caso da dra. Yaponira Glück de Brito,
primeira médica do Rio Grande do Norte, formada pela Faculdade de
Recife, cujo diploma está exposto no Memorial. Aqui também
encontramos a placa de formatura da primeira turma da Faculdade de
Natal”, informa o guardião do espaço, Roberto Fonseca.
Com meio século de funcionamento, o curso de Medicina do
Rio Grande do Norte já encaminhou para o mercado quase quatro mil
médicos. Antes disso, contudo, alguns talentos potiguares eclodiram
em outras partes do país, como o médico Aderbal de Figueiredo, que
cursou a Faculdade de Medicina com o ex-presidente da República
JK, em Belo Horizonte, como mostra uma das fotos do Memorial.
O Memorial de Medicina do Rio Grande do Norte dedica
uma de suas salas àquele que pode ser considerado uma referência
para seus pares. É neste espaço que encontramos uma raridade: o
coração de Onofre Lopes. Mais do que um simples órgão,
devidamente conservado em produtos químicos, o coração do médico
está envolto num simbolismo: representa a conquista de um ideal. “É
motivo de grande orgulho para os que deram uma parcela do seu
esforço, assistir à glorificação do seu ideal que é também o de
toda uma população”, disse Onofre Lopes, cujas palavras,
por si só, justificam o objetivo do Memorial de Medicina
do Rio Grande do Norte. (Carla Xavier)