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Nome: Marcelo Afonso Pontes da Silva

Projeto de Aprendizagem de Xadrez


Através da Tecnologia

Introdução

Meu nome é Marcelo Afonso Pontes da Silva, tenho 21 anos, nasci e cresci em
Campinas, São Paulo. Já tive formação técnica em informática, mas desisti desta área e
atualmente estou no segundo ano do curso de Midialogia, uma habilitação dentro da área de
comunicação social. Sempre tive atração por tecnologia e ao mesmo tempo, por coisas mais
artísticas, pois gosto muito de fotografia e desenho, que pratico sempre que tenho tempo. O
curso de Midialogia parece unir estes dois aspectos, então resolvi tentar.
Outra coisa que sempre me atraiu foram jogos. Quando criança, sempre gostei
muito de jogos de tabuleiro, como Banco Imobiliário, Detetive, War, Jogo da Vida. Eu até
mesmo desenhava meus próprios tabuleiros, fazia dados de papel e criava todo tipo de jogo.
Também gostava de brincadeiras competitivas, como pega-pega, esconde-esconde e pique-
bandeira, sempre tentando inventar novas regras e jogos novos neste estilo, embora as
outras crianças nunca conseguiam seguir as regras confusas e desconexas que eu criava. Por
último, comecei a gostar bastante de videogames, jogando bastante durante minha vida. Até
me arrisquei em alguns programas de criação de games, escrevi pequenos projetos caseiros,
desenhei os gráficos, mas nunca cheguei a completar algum, embora tenha compreendido
como são feitos estes jogos.
Percebe-se que sempre gostei de jogos, mas não apenas de jogar eles, e sim, de
compreender como eles se estruturam, são criados e construídos, quais são suas estratégias
internas e o que eles demandam do jogador. Não consigo contentar-me em jogar algo
superficialmente, sempre fico querendo conhecer todos os detalhes e como pensar dentro de
determinados jogos.
Um jogo em específico, porém, sempre me chamou atenção. Talvez por ser
amplamente conhecido, ou por um certo charme que possui, sempre sendo citado em filmes
e utilizado como metáfora para situações complicadas da vida. Este jogo é o xadrez. Ganhei
um tabuleiro de madeira com peças de plástico quando criança, li as regras e comecei a
jogar com minhas irmãs, mas sempre me senti inseguro no jogo. Tudo me parecia fora de
controle, cada peça tinha movimentos muito variados e era necessário proteger uma peça
relativamente fraca a todo tempo, o rei. Não conseguia defender e atacar ao mesmo tempo e
por fim, sempre joguei muito mal. Por mais que eu tentasse, não conseguia compreender as
estratégias e como não conhecia ninguém que sabia jogar a fundo, nunca tive a
oportunidade de aprender como jogar corretamente.
A partir desta vontade que sempre tive, resolvi tentar aprender a jogar xadrez
através da tecnologia, utilizando o software Chessmaster 10th Edition, uma série de jogos
de xadrez muito famosa, atualizada quase todo ano desde sua criação. Esta versão em
particular me chamou atenção por um conteúdo muito vasto sobre como jogar xadrez, tendo
o slogan “Professor, mentor, principal oponente”. Resolvi testar sua eficiência em ensinar-
me este conhecido jogo de tabuleiro.

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Outra parte importante de descrever sobre mim são minhas preferências de
aprendizado. Durante o curso de “Tecnologia e Educação”, diversos testes foram usados
para descobrirmos nossas preferências e a origem delas. Devido à memória fraca que tenho,
sempre tive problemas em guardar detalhes, então prefiro conceitos mais gerais e amplos a
excesso de detalhes. Outro aspecto é que desde muito pequeno tenho o hobbie de desenhar,
atividade de que fiz durante toda minha vida praticamente todo dia e acabou definindo um
forte caráter imagético na minha personalidade. Este lado, porém, não é completamente
desequilibrado, pois sou capaz de ler textos e compreendê-los bem, sem ter necessidade de
gastar um tempo imenso para isso, mas confesso que não sou muito chegado à leitura,
lendo mais com objetivos práticos do que por prazer. Estas características definem uma
tendência holística visual em minha personalidade. Quanto a preferências de aprendizagem,
gosto muito de aprender fazendo, através da tentativa e erro, que se mostra muito eficiente
para mim, mas sempre procuro ler alguma coisa também, para compensar minha tendência
holística com algo mais linear e detalhado. Relatarei ao longo do artigo como minhas
preferências estão sendo atendidas pelo software.

Objetivos

● Conhecer mais profundamente as características de cada peça


● Aprender as estratégias básicas de ataque e defesa
● Desenvolver visão de jogo, sendo capaz de compreender o que se passa durante a
partida, independente de ser uma derrota ou uma vitória
● Atingir nível médio de habilidade em xadrez

Metodologia

Para aprender, utilizarei apenas o software “Chessmaster 10th Edition” e o que ele
oferece, com o objetivo de medir sua eficiência. O primeiro passo é o tutorial virtual
“conhecendo as peças”, onde são ensinadas as fraquezas e vantagens de cada peça em
determinadas situações. Em seguida, vem o tutorial “Arsenal”, que demonstra as
estratégicas básicas que fundamentam o jogo. Por último, vem o tutorial “Estratégias”, que
mostra como formular estratégias avançadas utilizando todos os conhecimentos adquiridos
nos dois tutoriais anteriores.
Após completar esta primeira fase, o próximo passo será enfrentar os oponentes
controlados pelo computador. O Chessmaster oferece uma gama grande de personalidades
de jogo, com diversos níveis de dificuldade, sendo possível escolher aquele que é mais
adequado ao seu nível. Quando começar a equilibrar o jogo com os oponentes de nível
médio, passarei a enfrentar oponentes humanos e testar minhas habilidades.
Nota-se que o que desejo alcançar não são necessariamente vitórias. O xadrez é um
jogo complexo e que demanda estudo por anos para se atingir um nível além do
intermediário. Seria muita pretensão acreditar que em um mês é possível aprender o jogo e
conquistar muitas vitórias. Meu objetivo é conseguir desenvolver uma percepção mínima
de jogo, como prever ataques básicos, saber analisar situações no tabuleiro e ordenar
minhas peças com lógica. Conquistando estes conhecimentos, eu serei capaz de começar a
jogar xadrez verdadeiramente e dar o primeiro passo para um aprendizado que só virá daqui

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anos. Quando sentir que alcancei meu objetivo, anotarei uma partida e comentarei o que
pensei, independente de ganhar ou perder. Através destes comentários, provarei que
desenvolvi o básico para manter um jogo racional, não-aleatório.

Resultados

Primeira Parte – Os tutoriais

No menu inicial do Chessmaster, há três opções. Uma para jogar xadrez em diversos
modos, tanto contra o computador, quanto via internet, com outras pessoas, outra opção
chamada “diversão”, que possui alguns problemas de xadrez para resolver e por último,
uma seção dedicada ao aprendizado do jogo. Nesta sessão, resolvi começar com os tutoriais
básicos, focados não nas regras do jogo, que já conheço, mas sim, nas estratégias. O
primeiro tutorial que fiz passa por todas as peças do jogo, apresentando seus usos,
fraquezas e pontos fortes.
A apresentação destes conteúdos é bem completa. Na tela, sempre há um tabuleiro
de xadrez no canto esquerdo e um quadro de texto no lado direito. A apresentação é feita
em uma seqüência de slides, com um narrador falando o texto que está no quadro à direita.
Enquanto ele fala, os conceitos são mostrados no tabuleiro de xadrez, com as peças se
movendo sozinhas, ilustrando o texto. As explicações são claras e como o texto fica escrito
na tela, é possível ler novamente o que foi dito, caso tenha perdido algo. Também há a
possibilidade de rever o slide, clicando “replay”, e então as animações e a fala do narrador
são repetidas, ou então, avançar e retroceder pelos slides livremente. Experimentando cada
tipo de mídia oferecida, cheguei à conclusão que o método mais eficiente para mim é
apenas ouvir as falas do narrador enquanto assisto as animações acontecendo no tabuleiro.
Quando leio a seqüências de movimentos, não consigo imaginar com precisão os conceitos,
preferindo vê-los ilustrados, com indicações visuais animadas. Só recorro ao texto quando
por algum motivo perco o que o narrador disse ou quando preciso pensar mais sobre o que
foi dito, já que a narração é relativamente rápida.
Em determinados pontos, são propostos alguns problemas para serem resolvidos
utilizando os conceitos passados. Uma determinada situação é apresentada no tabuleiro e
então o usuário precisa fazer a próxima jogada. Caso ele erre completamente a resposta, é
mostrada apenas uma mensagem para tentar novamente. Se o usuário mostrar uma solução
aparentemente correta, o narrador explica que determinada jogada pode resolver um
problema, mas resultar em outro, por exemplo, e pedir para o usuário tentar de novo.
Quando acontece o acerto, o narrador explica porque tal jogada é a mais correta. Por um
lado, é interessante o programa dizer porque tal opção está correta, mas às vezes acontece
de o usuário acertar sem estar pensando corretamente e o exercício é dado como certo.
Claro, quando ele explica, você percebe que não pensou certo embora tenha acertado a
resposta, mas isso prejudica o aprendizado, já que você não vai poder pensar novamente em
como resolver, pois já sabe a resposta. O mais adequado seria que depois de acertar, você
pudesse justificar porque acha que está certo e então o programa analisaria se todo o
processo está correto.
Depois de terminar os tutoriais básicos, passei para o tutorial denominado “arsenal”,
que mostra as táticas básicas que você dispõem em um jogo de xadrez. A partir da

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combinação destas táticas básicas, que se resumem a umas 8, você tem as táticas avançadas
de jogo. Este tutorial tem as mesmas características do anterior, porém, os exercícios
começam a mudar. Enquanto no primeiro tutorial os exercícios eram mais diretos,
resumindo-se a um movimento ou dois por parte do estudante, neste segundo, o narrador
começa a dizer que no jogo real, as situações não estarão dispostas gratuitamente como no
tutorial e que o jogador precisa começar a “armar” as situações. Daí em diante, os
exercícios não vêem mais prontos, na última posição de uma estratégia. As peças vêm em
situações mais parecidas com um jogo real e o usuário precisa conseguir manipular o jogo e
fazer acontecer o conceito proposto. Desta forma gradativa, aos poucos o usuário é forçado
à “esticar o cérebro”, como diz o programa.
Após esta primeira fase, decidi jogar contra o xadrez online do site
www.miniclip.com, pois antigamente, antes deste projeto, eu joguei diversas vezes contra
ele e perdi. Utilizando esta constante (a inteligência artificial do Miniclip), pude medir se
tive avanços. Consegui vencer com relativa facilidade, utilizando os novos conceitos que
aprendi. O mais importante é que, diferente das poucas vezes que ganhei do Miniclip, desta
vez eu tive consciência do que fiz para ganhar e por fim, percebi que a inteligência do site
era bem rudimentar e a culpa de minhas derrotas anteriores era minha completa falta de
conhecimento de como jogar. Este exercício, embora não previsto em meus objetivos, foi
realizado por uma certa curiosidade minha em saber se os tutoriais estavam surtindo efeito
e a resposta foi positiva, incentivando-me a continuar.
Por fim, decidi enfrentar o Chessmaster pela primeira vez, que é bem mais
complexo. Infelizmente, das três partidas que joguei, foi derrotado em todas. Após cada
partida, há a opção de obter uma análise do jogo, feita pela inteligência do Chessmaster. No
fim, ele entrega um relatório padrão com algumas informações. O relatório da primeira
partida foi “trapalhada”, pois fiz uma jogada completamente errada e perdi minha rainha
nos primeiros lances, por isso, derrubei meu rei e declarei rendição. O computador disse
que foi uma boa escolha se entregar, pois dificilmente eu conseguiria levar o jogo após a
trapalhada, tendo indicação até de que jogada foi crucial para minha derrota. Nas outras
duas tentativas, porém, fiquei mais atento e recebi um relatório “equilibrado”, dizendo que
embora eu tenha sido derrotado, consegui manter o jogo até certo ponto. No relatório é
sempre informado qual foi a jogada que definiu sua derrota e é possível rever o jogo.
Apesar deste elogio por parte do programa, ainda há trabalho a fazer, pois estes oponentes
que enfrentei ainda são de um nível básico e pretendo chegar pelo menos ao intermediário.
Continuando, completei o tutorial “estratégias”. A apresentação dos conteúdos
continua a mesma: sempre há a disponibilidade de texto e voz, animações, exercícios, dicas
e possibilidade de avançar e retroceder livremente dentro do tutorial. No entanto, este novo
tutorial me chamou atenção não pela interface, mas pelo cuidado com o conteúdo. O
narrador demarca várias vezes que não ensinará estratégias prontas, mas sim, opta por
explicar princípios. Por exemplo, no tutorial sobre aberturas de jogo, ao invés de indicar
posições iniciais, é explicado os princípios da abertura, como mover cavalos antes de
bispos ou mover a rainha por último, sempre demonstrando porque tais princípios são
importantes e o que acontece quando ignorados. Desta forma, o aprendiz pode experimentar
aberturas diversas de sua escolha, seguindo alguns princípios básicos da boa abertura. Esta
abordagem me agradou muito, porque foge de uma abordagem “Aprenda Xadrez em 10

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Dias”. O jogador é obrigado a pegar estes princípios e aplicá-los em jogo para aprender,
não há como seguir uma receita pronta.
Segundo o Chessmaster, estes tutoriais são o básico para se começar a jogar da
maneira correta. Embora há outros tutoriais além desses, eles são dirigidos para jogadores
mais experientes que desejam aumentar seu nível, então encerrei esta parte e parti para a
próxima, que é enfrentar os oponentes controlados pelo computador.

Segunda Parte – Desafiando os oponentes do Chessmaster

Após completar os tutoriais mínimos para se jogar xadrez, parti para o jogo contra
os oponentes oferecidos pelo programa. Há uma vasta gama de adversários para escolher e
cada um possui personalidade característica. Posso, por exemplo, escolher um adversário
que gosta de jogar com a rainha, ou um oponente defensivo, ou um que odeia cavalos e os
persegue. O jogo até oferece uma pequena biografia de cada um e um pequeno texto
descrevendo as fraquezas e pontos fortes do modo de jogar do oponente.
Caso você queira, é possível também criar novos oponentes em um editor. Há
diversas variáveis que definem a personalidade do jogador artificial, como capacidade de
ponderação, estilo defensivo ou agressivo, o quanto ele valoriza cada peça própria e do
oponente, quais aberturas ele conhece, etc. Desta forma, o jogador pode criar oponentes
com estilo parecido com seus adversários do mundo real e praticar, ou até mesmo criar um
adversário com as características do próprio jogador.
No jogo, há uma pontuação que marca a habilidade dos jogadores, baseado na
pontuação oficial que existe em torneios de xadrez. Quando se joga pela primeira vez, ele
pergunta qual seu nível de habilidade e há quatro respostas possíveis: “nunca joguei
xadrez”; “conheço o jogo”; “jogo freqüentemente”; e “já possuo uma pontuação oficial de
xadrez”. Eu escolhi “conheço o jogo” e recebi uma pontuação inicial de 900.
O jogo então mostra um adversário recomendável para eu enfrentar. O escolhido foi
“Duke”, um jogador que tenta imitar o estilo de jogo de um grande mestre do passado
chamado Alekhine e encontrei bastante dificuldade em vencê-lo. Joguei muitas partidas e
fui derrotado várias vezes, fazendo com que minha pontuação caísse drasticamente para
673 (a pontuação cai bem mais rápido do que sobe...).
Resolvi então tentar a opção “Treino”. Neste modo, várias opções são habilitadas,
todas com o objetivo de melhorar suas habilidades. Os jogos disputados aqui não contam
para seu ranking, então é possível sofrer muitas derrotas sem se preocupar, concentrando-se
apenas em melhorar seu desempenho. Há opções como retornar jogadas suas ou do
computador e tentar novamente com outras variações de jogo a partir de determinado ponto
da partida, por exemplo.
A opção mais interessante, porém, é a chamada “coaching”, que é uma espécie de
técnico de xadrez virtual.

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No menu da esquerda, é possível habilitar informações visuais no tabuleiro. Na
figura, nota-se que algumas casas do tabuleiro estão esverdeadas e outras, avermelhadas.
Estas cores indicam visualmente as casas que pertencem ao jogador e ao adversário. Há
também várias setas que indicam os movimentos de captura, sendo que as setas mais
espessas significam capturas mais vantajosas. É possível o jogador pegar uma peça e
colocá-la na casa em que está pensando em jogar, mas sem soltá-la, e então são
apresentadas as novas setas de capturas e qual será a situação de dominação do tabuleiro
após tal movimento. Se o jogador perceber que será um movimento prejudicial, pode
simplesmente colocar a peça de volta em seu lugar de origem, sem executar o movimento.
Este tipo de abordagem foi muito útil para mim, que tenho uma tendência imagética.
Após utilizar esta opção, passei a imaginar estas cores e setas em todos os meus jogos, até
mesmo nos reais. Claro, é bem mais difícil de visualizar tudo mentalmente e
freqüentemente, cometo algumas gafes, mas de toda forma, passei a visualizar melhor este
“campo de dominação” de minhas peças.
Outra opção interessante é o “alerta anti-trapalhada” (blunder alert), que avisa toda
vez que um movimento realizado pode causar uma tragédia em seu jogo. Quando o jogador
faz uma trapalhada, aparece uma mensagem dizendo “Você pode se arrepender desse
movimento”, junto com alguns botões. Um deles é “Por quê?”, que faz o programa
descrever em texto as conseqüências que seu movimento pode ter e se possível, oferece
uma melhor alternativa. Há também o botão “Eu não concordo”, que simplesmente ignora o
alerta e continua o jogo, ou o botão “Eu volto meu movimento”, que volta o jogo para a
posição anterior, permitindo ao jogador tentar outra opção de jogada. É interessante notar
que às vezes o alerta entra em pane, como quando você está prestes a tomar um cheque-
mate inevitável. Qualquer movimento que se faz, o alerta dispara e tudo que diz é
“infelizmente, não há melhor movimento para este caso”, mas tirando este problema, é uma
função muito útil, já que por causa dos “puxões de orelha” virtuais, passa-se a evitar
algumas trapalhadas básicas.
Por último, há duas funções que dão dicas de jogo. Um deles é a “dica rápida”, que
apenas indica o próximo movimento que você pode fazer, sendo útil nos momentos em que
se sente “travado” no jogo. Mais complexa é a opção “Conselho”. Após clicar nela, pede-se

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para definir por quantos segundos você quer que o programa pense para formular um
conselho, sendo que quanto mais tempo for definido, melhor serão os conselhos. Depois de
pensar, o programa fornece através de texto escrito e narrado, junto com animações, um
conselho bem avançado, indicando uma série de movimentos a serem feitos e as possíveis
reações do oponente. Ao fim, tem até um relatório do tipo “esta seqüência de movimentos
reforça sua posição central ao mesmo tempo em que enfraquece a estrutura de peões do
oponente”. Por um lado, é interessante checar os conselhos do programa, mas por outro, os
conselhos são tão avançados e envolvem uma capacidade de previsão de movimentos que
vão tão além da minha que dificilmente eles adicionam algo para mim. Eu preferiria
conselhos mais básicos que permitissem eu avançar mais lentamente, passo a passo.
Infelizmente, a única forma de diminuir o nível do conselho é restringir o número de
segundos que o programa terá para pensar, mas isso não é nada intuitivo. Como saberei
quantos segundos são necessários para gerar um conselho de nível intermediário?
Após treinar, tentei uma partida real contra Duke novamente e logo consegui
dominar as táticas para vencê-lo, conseguindo várias vitórias consecutivas. Neste ponto,
senti que era hora de passar para um adversário mais forte e o mesmo voltou acontecer:
várias derrotas. Voltei ao treino novamente e consegui dominar o novo oponente também.
Este ciclo de derrotas, treino e depois vitórias se repetiu várias vezes, cada vez subindo um
pouco mais. Agora, consigo manter jogo com oponentes de nível médio 1100, mas quando
tinha começado, conseguia apenas jogar com o nível 860, demonstrando que tive alguma
evolução. O mais interessante é que determinados oponentes me forçaram a jogar de
maneiras completamente diferentes, já que minhas táticas usuais não funcionavam, e isso
ajudou muito a expandir uma visão mais ampla do jogo, sem se basear em pequenos
“vícios” que eu já tinha criado.
A ferramenta treino foi mais eficiente do que os tutoriais em avançar meu nível.
Quando encontrei dificuldades, tentei voltar à teoria descrita nos tutoriais, mas apenas
jogando de fato consegui compreender os conceitos teóricos, por mais que o tutorial tivesse
vários exercícios práticos. Um exemplo são os princípios de abertura, que por mais que eu
tivesse lido eles, sempre esquecia algum passo. Só aprendi a seguir todos eles após jogar
muito e ficar em situações bem ruins por não segui-los. Acredito que isto ocorreu devido a
minha forte tendência de aprender fazendo, apontada pelos testes sobre aprendizagem
realizados durante o semestre, como já descrito na introdução.

Terceira Parte – Enfrentando oponentes reais

Após sentir-me seguro com os oponentes intermediários do Chessmaster, resolvi


enfrentar oponentes reais e anotar os jogos. Os oponentes que escolhi foram colegas de
classe que gostam de jogar e tem um nível levemente superior ao meu. Um deles é o Enric
Llagostera, que aprendeu a jogar através do Chessmaster também e foi quem me indicou o
programa. Ele domina as teorias básicas do jogo razoavelmente bem e sabe como atacar
eficientemente. Um oponente difícil, pois temos o mesmo “mestre”, então temos um
repertório parecido, com a diferença que sou mais defensivo e ele é mais agressivo. O outro
oponente é Pedro Hamaya, que teve aulas de xadrez quando criança. Apesar de não
dominar a teoria, principalmente sobre abertura de jogo, ele possui uma visão de jogo bem

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superior a minha, sempre colocando situações bem complicadas para minha defesa com
apenas duas ou três peças.
A verdade é que desde o início do projeto tenho enfrentado eles e foi uma
experiência interessante, pois fui percebendo o quanto eu evoluía contra eles após ir
passando pelos tutoriais, depois pelas seções de treino e etc. Após terminar meu treino no
Chessmaster, meu nível subiu consideravelmente, pois até meus oponentes chegaram a
comentar como tinha ficado mais difícil jogar comigo. Mesmo assim, tenho que confessar
que colecionei bem mais derrotas do que vitórias e ainda não sinto que ultrapassei o nível
deles, mas acredito que aprendi os conceitos básicos do jogo.
Após jogar e anotar diversas partidas, resolvi demonstrar esta partida contra Pedro
para exibir meu nível de jogo.

K = Rei, Q = Rainha, B = Bispo, N = Cavalo, R = Torre, nenhuma letra = peão


As casas são marcadas por coordenas. O eixo X é representado por letras de A até H e o
eixo Y, por números de 1 à 8. A primeira letra marca a peça movimentada e os dois
caracteres seguintes, a coordenada para onde ela foi. Nf3, por exemplo, significa “Cavalo
foi para a casa f3”.

Marcelo(brancas) Pedro(pretas)
1 - e4 e5
2 - Nf3 Bc5
3 - Qe2 Qf6
Pedro ameaça meu peão em f2. Se ele atacar este peão,
serei forçado a defender com o rei e se eu movê-lo, não
poderei mais fazer roque, o que deixaria o rei muito
vulnerável. Eu decido mover a rainha para e2. O plano
de Pedro provavelmente é alinhar sua rainha com o
bispo, o que resultaria em um xeque-mate, caso eu não
defendesse o peão em f2 com alguma peça

4 - g3 Nh6
5 - d3 Ng4
6 - Be3 Qb6

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Eu melhoro minha estrutura de peões, mas ainda há uma
brecha. O peão em e5 impede com que eu mova meu peão
em d3 para d4, bloqueando o ataque do bispo. Eu ameaço
o bispo dele com o meu, mas ele defende com a rainha, o
que eu previa, mas libera meu cavalo para comer o
problemático peão inimigo em e5. Então, reparo que a
nova posição da rainha dele pode levar a perda de uma das
torres se ele comer o peão em b2. Meu próximo
movimento é então movimentar o peão para b3,
impedindo uma grande perda.

7 - b3 Ne3
8 - e3 Be3
9 - Nc3 Bf2+
10 - Kd1 O-O
Por fim, ele realiza a troca que propus logo no inicio. Ele
come o bispo em e3 com seu cavalo, eu como o cavalo
dele com o peão em f2. Logo em seguida, coloco meu
outro cavalo em jogo e ele ameaça meu rei com o bispo.
Nesta hora, fiz um deslize. Ao invés de comer o bispo com
minha rainha, que ficaria protegida pelo rei e impediria
que ele comesse minha rainha sem perder a dele, decidi
fugir com o rei para d1. Mais estranho ainda foi a reação
dele: fazer roque. Foi um desperdício de movimento, pois
não tinha como eu atacá-lo imediatamente. Talvez ele
tivesse esperando meu próximo movimento...

11 - Ne5 Bd4
12 - Nd5 Qa5
13 - Qh5 g6
Então, começo a tentar acabar com o esquema de
Pedro. Tomo o peão em e5 com o cavalo em f3, ele
volta seu peão para d4, ameaçando os dois cavalos
ao mesmo tempo, me aplicando um garfo. Eu jogo
meu outro cavalo para d5, que ameça a rainha dele e
ao mesmo tempo, a casa c7, que permitiria eu comer
sua torre depois. Foi uma jogada para ganhar tempo.
Ele percebe a fraqueza em c7 e vai para a5, fugindo
da ameaça e ainda protegendo c5. Então protejo meu
cavalo colocando a rainha em h5 e ele responde com
o peão g6 ameaçando a rainha.

14 - Ng6 f7xg6

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15 - Qh6 Ba1
16 - Bh3 Rf2
Após ameaçar minha rainha, eu como com meu
cavalo em e5 o peão dele, fazendo uma troca
perigosa: ele come com o peão e eu perco meu
cavalo, mas a defesa dele fica enfraquecida, além de
eu poder jogar o cavalo em d5 para e5, aplicando um
garfo que faria ele perder um bispo. O rei dele
ficaria preso em g8 e h8 com minha rainha
posicionada ali e ele pouco poderia fazer, pois não
desenvolveu seu jogo e sua defesa. A festa acaba
quando ele come minha torre em a1 com seu bispo.
Em um erro por falta de atenção, tirei o cavalo de c3
muitas jogadas atrás, o que deixou uma linha livre
para ele comer a torre. Acredito que ele também não
tinha notado antes, pois teve muitas jogadas para
fazer isso antes.
Após este erro, perco a concentração, mas continuo tentando. Coloca meu bispo restante em
jogo, na esperança de conseguir de alguma forma cercar definitivamente o rei inimigo, mas
eu ainda não sabia como. Então, ele coloca sua torre em f2. Isto deveria ter sido evitado,
posicionando minha torre em f1 antes, mas o bispo estava ali, impedindo tal movimento.
Esta jogada acabou com o jogo, pois logo depois ele poderia colocar a rainha em d5 e seria
xeque-mate. No máximo, eu poderia atrasar o inevitável, mas perderia muitas peças e
ficaria em uma desvantagem que dificilmente recuperaria. Resolvi derrubar meu rei e
declarar derrota.

Conclusão

A partida descrita acima com certeza não é uma partida genial. Cometi duas gafes
que condenaram qualquer chance de vitória e fui obrigado a desistir. No entanto, vários
conceitos foram aplicados. Utilizei princípios de abertura que Pedro não utilizou, pois se
nota que ele teve muito mais trabalho para invadir minha defesa do que eu tive para invadir
a dele, mas não tive tempo de terminar meu ataque por causa de meus deslizes. Previ sua
tentativa de fazer xeque-mate em poucas jogadas e armei a defesa necessária, utilizei trocas
para melhorar minha posição, tentei armar garfos e escapei de garfos difíceis, utilizando
“tempo”, que é ameaçar uma peça valiosa do inimigo para que ele tenha que desperdiçar
um movimento fugindo, dando tempo para agir. Todos são conceitos que aprendi com o
Chessmaster, pois antes de começar o projeto, não sabia nada além de como as peças se
movimentam.
É verdade que tudo foi por água a baixo devido à falta de atenção, mas este é mais
um problema interno meu que deve ser trabalhado do que um problema teórico. Também
preciso trabalhar melhor meu psicológico, pois cometi um erro por nervosismo e pressa, no
momento em que Pedro ameaçou meu rei com o bispo e eu podia ter comido o atacante
com a rainha sem problemas. Um pouco mais de calma e eu teria acertado tal jogada
crucial, que teria desarmado o ataque dele e me deixaria em uma posição claramente

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superior. Agora, analisando o jogo, consigo ver diversos erros por estar mais calmo, tantos
erros meus quanto do adversário, o que prova que eu tenho a capacidade de perceber o
jogo, mas no calor do partida, fraquejei. Acredito que apenas a experiência me fará
melhorar neste aspecto.
O programa foi muito eficiente em iniciar uma pessoa inexperiente como eu no
xadrez e o que me agradou muito é o aspecto multimídia do material, que permite a pessoa
escolher a maneira que quer acessar o conteúdo: lendo, ouvindo ou vendo. Desta maneira,
ele conseguiu atender minhas preferências de aprendizagem, sendo um processo leve e não
tedioso ou impossível de compreender. Há pontos fracos, mas o programa oferece tantos
conteúdos que sempre há a possibilidade de escolher alguma outra ferramenta mais
eficiente. Infelizmente, não há como eu medir se de fato ele consegue elevar o nível de
qualquer pessoa, como um jogador já experiente, mas para mim, funcionou. Outro ponto
interessante, mas que não tive tempo de explorar, é que é possível conectar-se na Internet e
jogar com pessoas do mundo inteiro, assim como participar de fóruns e comunidades de
xadrez pelo site do Chessmaster, sendo possível até criar seus próprios tutoriais e
compartilhá-los online, expandindo assim o conteúdo do software.
Há de se notar que é um material muito completo, porém, o universo do xadrez é
limitado, o que facilita um programa desses ser eficiente. Dificilmente um software neste
estilo conseguiria ensinar com tanta eficiência assuntos mais amplos e abstratos, já que é
bem mais fácil fazer um computador jogar bem xadrez do que pensar sobre filosofia, por
exemplo.
Considero que alcancei meus objetivos e o software ofereceu uma boa base para que
eu inicie meu aprendizado mais avançado, oferecendo algo próximo do máximo que um
programa pode fazer atualmente para ensinar alguém sem auxílio de um professor.
Continuarei treinando com oponentes artificiais e oponentes reais, tanto presenciais quanto
online, além de continuar completando os tutoriais mais avançados, consultando o arquivo
de partidas famosas e o arquivo de aberturas para criar uma base mais sólida. Também seria
bom consultar outros livros de teoria e conhecer outros jogadores, diversificando minhas
fontes, já que os tutoriais acabam moldando o jogador em um certo estilo parecido com o
do profissional Josh Waitzkin, que foi quem elaborou os tutoriais.
Por fim, posso dizer que alguma coisa sei sobre o maior jogo de tabuleiro de todos
os tempos e honrar meus conhecimentos sobre jogos. Estou satisfeito.

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