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Universidade Lusíada Norte- Porto

Mestrado em Psicologia Clínica

Métodos e Técnicas de Intervenção Clínica em Adultos

Técnicas de intervenção em Perturbação Obsessiva Compulsiva (POC)

Docentes: Dr.ª Sara Cruz e Dr.ª Olga Cunha

Discentes: Catarina Gomes


Diana Silva
Júlia Lopes
Mariana Silva

2018/2019

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Índice

Resumo.......................................................................................................................................... 3
Introdução ..................................................................................................................................... 4
Perturbação Obsessivo-compulsiva .......................................................................................... 4
Psicoeducação e Envolvimento Familiar ....................................................................................... 4
Exposição com Prevenção de Resposta ........................................................................................ 5
Terapia Cognitiva........................................................................................................................... 7
Prevenção de recaída .................................................................................................................... 9
Conclusão .................................................................................................................................... 10
Referências Bibliográficas ........................................................................................................... 11

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Resumo

3
Introdução

Este trabalho visa mostrar e explicar as técnicas mais utlizadas na intervenção na


perturbação obsessivo-compulsiva (POC). Primeiro, será realizada uma exposição sobre
a perturbação em si, os critérios de diagnóstico e as suas características, para efeitos de
contextualização. Serão exploradas as técnicas da psicoeducação, exposição com
prevenção de resposta, terapias cognitivas e a prevenção de recaída. Em cada técnica
será abordado no que esta consiste, a sua aplicação prática, os seus níveis de eficácia e
as suas limitações.

O objetivo principal da realização desta pesquisa é o enriquecimento do


conhecimentos das discentes em relação às técnicas utlizadas na intervenção na POC
para que assim, na sua prática futura, sejam melhor capazes de compreender as formas
de atuação clínica.

Perturbação Obsessivo-compulsiva

Psicoeducação e Envolvimento Familiar

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Exposição com Prevenção de Resposta

As primeiras tentativas do uso da EPR no tratamento da POC foram


influenciadas pelas experiências de dessensibilização sistemática de Joseph Wolpe, que
eram, na época muito usadas na intervenção com as fobias específicas e a ansiedade. Foi
através da compreensão da dessensibilização sistemática que se pôde verificar que a
exposição seria, de facto, a melhor abordagem à POC. Segundo a literatura e vários
autores, como Edna Foa, psicóloga clínica, consideraram a componente do relaxamento
como contraproducente pois, pode interferir no processo de habituação de ansiedade,
tendo em conta que um certo nível de tensão emocional precisa ser experienciado para
que se possam relembrar as memórias emocionais relevantes ligadas á situação
específica. Memórias estas que vão ser as ferramentas de trabalho utilizadas na
exposição.

Destas conclusões, Victor Meyer et al. (1966), iniciaram a utilização de


metodologias comportamentais para o tratamento da POC. Destas experiências conclui-
se que um comportamento de evitamento pode prolongar-se mesmo depois de ter sido
removido o estímulo incondicionado aversivo. Contudo, a prevenção desse mesmo
comportamento propicia a sua extinção. Destas constatações iniciaram-se os estudos
que incentivaram a utilização da exposição e da prevenção de resposta como uma
técnica combinada.

A exposição consiste no contacto direto ou imaginado com objetos, lugares ou


situações que, não são perigosos, mas causam ansiedade, desconforto e/ou nojo,
gerando comportamentos de evitamento. Pode ser in vivo, quando existe contacto direto
com a situação específica, ou imaginada, onde há a provocação intencional do
surgimento de memórias sobre a obsessão. O tempo recomendado para a duração dos
exercícios de exposição é de uma a duas horas, nunca menos de quarenta e cinco
minutos ou até a ansiedade desaparecer completamente. Os exercícios nunca devem ser
interrompidos enquanto os níveis de ansiedade se encontrarem demasiado elevados.

Já a prevenção de resposta é definida como a paragem das compulsões mentais e


comportamentos de evitamento do sujeito. São trabalhadas formas que ajudem o cliente
a cessar estes comportamentos, com o auxilio de outras técnicas como a modelagem e o
reforço social.

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Com a EPR temos a exposição, que se foca em trabalhar as problemáticas
especificamente envolvidas com a obsessão e a prevenção de resposta que procurar
resolver os constrangimentos provocados pelas compulsões, fazendo com que esta
técnica de intervenção atue sobre os dois pilares fundamentais desta perturbação. Para a
boa condução desta técnica é necessário, na primeira sessão, elaborar a lista de sintomas
para que, assim, seja possível realizar a hierarquia de situações de risco específicas a
cada indivíduo e, só depois, iniciar os trabalhos de exposição, articulados com a
prevenção de resposta.

Em suma, com a aplicação da EPR, procura-se que o individuo atinja um estado


de habituação, que se define como a espontânea diminuição das respostas a estímulos
aversivos, quando se permanece em contacto direto com estes de forma repetida. A cada
nova exposição o desconforto diminui até desaparecer. Na POC, a habituação ocorre
quando o cliente deixa de fazer os seus rituais ou perpetua as situações que evita.

Quanto às limitações, esta técnica demonstra fragilidades devido ao facto de a


exposição in vivo ser mais eficaz que a imaginada e, no setting de consulta, muitas
vezes é mais prática e viável a exposição imaginada, sendo esta mais complexa para o
cliente. Outra debilidade deste tipo de intervenção é o sofrimento provocado ao
individuo durante o processo de exposição, principalmente aqueles que possuem
elevado insight. Estas limitações podem levar a um que é dos problemas mais
verificados na intervenção, o abandono do processo terapêutico.

A nível da eficácia, a ERP apresenta, em média uma melhoria de 60% a 85%


(Goldstein, 1978). A pesquisa de resultados credíveis mais atuais revelou-se
inconclusiva. Esta técnica apresenta melhores e mais eficazes resultados quando
emparelhada com técnicas cognitivas.

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Terapia Cognitiva

As terapias cognitivas surgiram da necessidade de alargar a abordagem


comportamental clássica, passando a incluir formulações e intervenções de origem
cognitivista. (Macedo, 2000). Neste tipo de terapia, o objetivo é modificar diretamente as
crenças irracionais, as distorções cognitivas e os pensamentos automáticos, sendo
também necessário ter em conta os seis tipos de domínios cognitivos associados à POC:
responsabilidade, estimativa da ameaça, perfeccionismo, supervalorização do papel dos
pensamentos, controle sobre os pensamentos e tolerância por ambiguidade. (Neto,
Baltieri, 2001)

As técnicas cognitivas propostas para o POC são, em geral, adaptações daquelas


descritas inicialmente por Beck (1976) para o tratamento da depressão e por Clark (1986)
para o tratamento da ansiedade. Estas técnicas pressupõem que as obsessões de alguns
indivíduos têm origem nas interpretações distorcidas dos pensamentos. Esta interpretação
distorcida é a causa dos pensamentos “normais” se tornarem obsessões (Rachman, 1997).

A terapia pode ser orientada pelos seguintes exemplos:

1- Familiarização com o modelo cognitivo: É necessário dedicar algum tempo para


familiarizar o paciente com o modelo cognitivo, como é que os nossos pensamentos
influenciam o nosso comportamento (rituais, esquiva) e as nossas emoções (medo,
desconforto, ansiedade), para depois poder identificar pensamentos automáticos e crenças
disfuncionais, utilizando algumas técnicas de reestruturação cognitiva;

2- Identificação de pensamentos automáticos crenças disfuncionais: Uma vez


entendido o modelo cognitivo, o passo seguinte é o treino do paciente na identificação e
registro de pensamentos automáticos catastróficos ou negativos que acompanham as
obsessões, bem como as crenças subjacentes aos sintomas, para posteriormente poder
corrigi-los. Para isso podem ser utilizados instrumentos como o RPD ou o ABC, nos quais
identifica a situação ativadora, os pensamentos automáticos e as consequências
(emocionais, comportamentais ou físicas).

3- Reestruturação cognitiva: Assim que o cliente reconhece autonomamente as


suas respostas emocionais, a terapia deve prosseguir para um treino de Reestruturação

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Cognitiva, em que o objetivo é levar o cliente a compreender que as suas obsessões e
compulsões não são uma solução eficaz para os seus problemas, e que existem outras
formas alternativas e mais funcionais de pensar, sentir e agir.
3.1. Questionamento socrático: A estratégia central para a modificação de crenças
irracionais é o seu questionamento. O questionamento socrático deve ser feito com os
pensamentos automáticos e crenças irracionais identificadas nos exercícios anteriores. O
questionamento socrático possui como finalidade a modificação dos pensamentos
irracionais por um pensamento mais lógico, de modo a que as crenças do paciente não
sejam mais vistas como verdade absoluta, mas sim, colocadas em dúvida ou postas em
causa;

3.2. A técnica das duas teorias (A e B): A técnica das duas teorias tem como objetivo
que o paciente crie uma explicação alternativa para as suas obsessões, para em seguida,
testá-la. O paciente deve pensar em duas teorias criadas, refletindo sobre aquela que é
mais realista e provável de acontecer, como por exemplo: “Estou contaminado, por isso
preciso de realizar os rituais” e “Sinto que estou contaminado devido aos sintomas do
POC”. (Cordioli, 2013)

Eficácia: O uso de técnicas cognitivas por si só pode reduzir o nível de ansiedade,


melhorar o grau de adesão e a longo prazo e poderia reduzir a possibilidade de recaídas;
mas a tendência é que os dois modelos (comportamental e cognitivo) sejam vistos como
complementares e que as intervenções sejam utilizadas em conjunto. Na prática, cada vez
mais as técnicas cognitivas são acrescentadas à terapia EPR, e não isoladamente.
(Cordioli, 2008)

Limitações: A reestruturação cognitiva é uma técnica poderosa para combater a


perturbação obsessivo-compulsiva mas, para algumas pessoas, depender muito dela pode
rapidamente tornar-se a sua própria compulsão. Além disso, é uma técnica mais complexa
e exige algumas condições do paciente – como a capacidade de um pensar mais profundo
e de ter algum insight sobre os sintomas. Exige ainda uma formação mais demorada e
mais aprofundada dos fundamentos e técnicas por parte dos terapeutas. (Cordioli 2008)

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Prevenção de recaída

Segundo Cordioli (2013), quando a maioria dos sintomas tiver sido eliminada,
pode-se propor o espaçamento das sessões. Como a POC é uma perturbação crónica e
sujeita a recaídas, no final da terapia, é conveniente dedicar algum tempo ao
desenvolvimento de estratégias para prevenir as recaídas. Os episódios isolados de
realização de rituais ou evitações são comuns e de curta duração e ocorrem por distração,
descuido ou falha nas estratégias de autocontrolo.

Estratégias:

1. Identificar, juntamente com o cliente, as situações internas (psicológicas)


ou externas (ambiente, objetos) de risco (gatilhos) para a realização de
rituais ou para a ocorrência de obsessões ou comportamentos evitativos.
2. Preparar com antecedência, estratégias de forma a enfrentar e lidar
adequadamente as situações de risco (os gatilhos) e evitar recaídas:
a. Planear, antecipadamente, como o cliente se irá comportar de
modo a enfrentar as situações de risco, tendo em vista o que deve
fazer em situações de exposição;
b. Distração: o cliente deve procurar entreter-se com outros
pensamentos ou realizar atividades práticas, como forma de reduzir
a aflição e o impulso para realizar rituais;
c. Lembretes: podem auxiliar o cliente a ter um maior autocontrolo
sobre os rituais e pensamentos intrusivos. Os lembretes podem ser
colocados no bolso ou colados na parede de casa. Estes, auxiliam
a retomar o controlo dos pensamentos.
3. O apoio familiar é essencial para a identificação do retorno das
compulsões.

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Conclusão

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Referências Bibliográficas

Macedo, A. F., Pocinho, F. E. (2000). Obsessões e Compulsões (1ª edição). Coimbra:


Quarteto Editora.

Cordioli, A. V. (2013) Terapia Cognitivo-comportamental no transtorno obsessivo


compulsivo

Cordioli, A. V. (2008) Terapia Cognitivo-comportamental em grupo para o transtorno


obsessivo compulsivo: Manual de terapia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Porto Alegre

Cordioli, A.V. (2008) A terapia cognitivo-comportamental no transtorno obsessivo-


compulsivo. Revista brasileira psiquiátrica, p.65-72

Neto, F.L. (2001) Processos cognitivos e seu tratamento no transtorno obsessivo


compulsivo. Revista brasileira psiquiátrica, p-46-48

Schwartz, F.T., Lisboa, C.S.M (2014) Terapia Cognitivo-comportamental para o


transtorno obsessivo-compulsivo infantil: apresentação de um estudo de caso

APA (2014). DSM 5. Manual de Diagnóstico e Estatístico das Perturbações Mentais,


5ª Edição. Lisboa: Climepsi Editores.

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