Você está na página 1de 4

O contexto histórico-cultural

Os fundamentos da Europa apresentam uma matriz predominantemente greco-romana e


judaico-cristã, a partir dos quais temsido procurada a unidade cultural europeia: durante a
Cristandade Medieval, a Igreja Católica assimilou as categorias da filosofiagrega e acolheu o
imaginário institucional e jurídico do Império Romano. Este Império perdurou na Europa
Ocidental e na ÁsiaMenor. Mas a Europa revê-se igualmente no Sacro Império Romano-
Germânico, nos Descobrimentos, no Renascimento, naReforma Protestante, na emergência
dos Estados modernos, subsequente à Paz de Vestefália, e na secularização da
soberaniapolítica e do direito, incluindo o direito internacional.Igualmente relevante, no
percurso histórico e cultural da Europa, foi o desenvolvimento dos ideais de tolerância
religiosa,liberdade consciência, democracia e Estado de direito que estiveram na base da
emergência revolucionária doconstitucionalismo liberal moderno. Igualmente marcante foi a
emergência da questão social e o desenvolvimento dos ideaissocialistas e comunistas.O
desenvolvimento histórico comum da Europa foi marcado por muitos e sangrentos conflitos,
que culminaram nos maisviolentos confrontos que a humanidade já conheceu: as guerras
mundiais de 1914-18 e 1939-45.

2.

A criação das comunidades europeias

No fim da II Guerra Mundial, o problema da reconstrução, estabilização e defesa da Europa


colocou-se com especial acuidade.Aliás, a tentativa de criar um quadro político, económico,
social e cultural para a Europa preponderou a partir da ocorrênciadeste conflito.Os EUA deram
um grande contributo na vitória das forças nazis e envolveram-se, depois, na reconstrução da
Europa(estabilização política da República Federal da Alemanha, garantia da defesa militar
face ao bloco comunista, Plano Marshall dereconstrução económica, etc.). Para o efeito, ficou
claro que era necessária a paz entre a Alemanha e a França, o que viria a serconfirmado num
discurso de Churchill em 1946, o qual acabou por reconduzir ao surgimento do Conselho da
Europa, em 1949,uma organização internacional de vocação paneuropeia, embora tenha sido
também uma influência decisiva na construção dascomunidades europeias.De resto, no pós-
guerra assiste-se a uma proliferação de organizações de base regional europeia:

Organização para a cooperação económica europeia (OCEE) em 1948;

Organização do tratado do atlântico norte (NATO) em 1949;

União da Europa ocidental (UEO) em 1960;


Organização para a cooperação e desenvolvimento económico (OCDE) em 1960;

Organização para a segurança e cooperação europeia (OSCE) em 1995.2.1.

Os tratados fundadoresOs tratados fundadores das comunidades constituem instrumentos


convencionais multilaterais de direito internacional, doponto de vista, tanto da respectiva
validade, como do procedimento de negociação, ajuste, aprovação e ratificação. A suavalidade
jurídico-internacional é incontroversa, na medida em que exprimem de forma regular o
consentimento das partes enão atenta contra nenhuma norma imperativa de direito
internacional (

ius cogens

). Revestem ainda a especificidade de teremcriado um ordenamento jurídico autónomo.


Existindo lacunas, são preenchidas pelos princípios gerais de direito e não pelosprincípios
gerais de direito internacional ou pelo direito consuetudinário. No entanto, nas matérias não
reguladas pelostratados, as relações entre os Estados continuam a reger-se pelo direito
internacional. Nas matérias reguladas pelo direitocomunitário a jurisprudência favorece e
apoia a teoria segundo a qual a aplicação do direito internacional é inadmissível

teoriade exclusão total

.2.1.1.

O Tratado de ParisO Projecto europeu assentou em dois tratados fundadores: o primeiro é o


Tratado de Roma, de 18 de Abril de 1951, em vigordesde 1952, através do qual se instituiu a
Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA). Contratantes: França, a R.F.A., aItália, a
Bélgica, a Holanda e o Luxemburgo. Pressupunha uma Alta Autoridade. Teve como objectivo a
estabilização da Europano pós-guerra, pois a colocação destas duas matérias-primas,
indispensáveis num conflito militar, sob o controlo de umaautoridade independente tornaria a
guerra mais difícil e contribuiria para um desenvolvimento económico mais
harmonioso.Caducou em 20 de Julho de 2002. A partir dessa data, a regulamentação do carvão
e do aço reconduz-se ao sistema mais amplodo Tratado de Roma.2.1.2.

O Tratado de Roma

Direito Comunitário
O Tratado de Roma, de 25 de Março de 1957, instituiu a Comunidade Económica Europeia
(CEE): previa-se aí um processo deintegração por fases, começando na criação de uma união
aduaneira e progredindo para o estabelecimento de um mercadoúnico, assente na livre
circulação de mercadorias, pessoas, serviços e capitais e no direito de estabelecimento.
Seguiu-se umafase ulterior de união económica e monetária, onde se pretendia o
desenvolvimento harmonioso e equilibrado das actividadeseconómicas na comunidade.O
mesmo tratado procedeu à criação da Comunidade Europeia da Energia Atómica (CEEA), no
pressuposto da generalização daenergia nuclear como base do desenvolvimento
económico.Numa Convenção anexa ao Tratado de Roma estabeleceu-se o Tribunal de Justiça
(TJCE) e o Parlamento Europeu (PE), comoórgãos comuns às três comunidades, e o Comité
Económico e Social, como órgão comum da CEE e da CEEA. Em 1965 procedeu-se à fusão
(tratado de fusão) de executivos, através de um conselho e uma Comissão comuns, e criou-se
um estatuto único paraos funcionários e agentes da Comunidade.Os tratados CEE e CEEA
foram celebrados com uma duração ilimitada, sem previsão da retirada dos Estados.
Relativamente àrevisão dos Tratados, estabeleceu-se que a mesma podia ocorrer, sob parecer
favorável do Conselho e após consulta aoParlamento, através de uma Conferência Inter-
Governamental e subsequente ratificação pelos Estados, num processo típico dedireito
internacional dos tratados.2.1.3.

Reformas posterioresA evolução posterior assenta, basicamente, em dois aspectos


fundamentais: aperfeiçoamento institucional e alargamento.Mas o aprofundamento da
integração europeia passou pela adopção de outros instrumentos internacionais.2.1.4.

Acto Único EuropeuO primeiro foi o Acto Único Europeu (AUE)

1986-1987: estabeleceu um fundamento convencional autónomo para acooperação política


europeia. Com este instrumento previa-se um sistema de consultas mútuas e a formação de
linhas políticasde referencia para todos os Estados-membros, admitindo-se ainda a
possibilidade de extensão deste sistema a uma política desegurança comum; criou-se um
Tribunal de Primeira Instância para aliviar o sobrecarregado Tribunal de Justiça.2.1.5.

O Tratado de MasstrichtO Tratado de Masstricht sobre a União Europeia (TUE - 1992) veio
operar a revisão dos tratados. Para além do seu objectivo decriação de um mercado único, ele
representa uma viragem decisiva no processo de construção europeia; veio alargar
acooperação entre os Estados-membros para além do sistema das comunidades europeias,
reconduzindo tudo isso ao conceitomais amplo de EU.2.1.5.1.

Moeda ÚnicaO projecto da CEE apontava par a criação de uma União Económica e Monetária e
de uma moeda única. Este projecto viria arealizar-se em várias fases:- A primeira fase, em
1990, garantiu a livre circulação de capitais;- A segunda fase passou pela convergência das
políticas económicas dos Estados-membros;- A terceira fase, em 1999, envolveu a criação de
uma moeda única através de um sistema de gestão monetária centralizada,criando-se assim o
Sistema Europeu de Bancos Centrais (SEBC), composto pelo Banco Central Europeu e pelos
Bancos Centraisnacionais;- A quarta fase, em 2000, com a entrada em circulação do Euro.Entre
nós a adesão à moeda única teve como consequência a necessidade de alterar a CRP de modo
a adaptar o sistemafinanceiro ao Sistema Europeu de Bancos Centrais, os quais ficaram
encarregados pela emissão da moeda

Você também pode gostar