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CARTOGRAFIA vantamentos, seja ele político, socioeconômico ou ambi-

ental. Por isso, eles são imprescindíveis ao estudo da ge-


IM AGENS DE SATÉLITE CONTRA A POBREZA ografia física e humana e à compreensão dos principais
Fotos noturnas feitas do espaço são uma nova ferra- temas que movem o mundo.
menta para medir níveis de desenvolvimento no pla- Qualquer representação geométrica da superfície ter-
neta e identificar as regiões mais carentes. restre, ou mesmo de parte dela, pode ser considerada um
A imagem da península coreana iluminada durante a mapa – desde o desenho pouco apurado do homem pré-
noite foi capturada por astronautas da Estação Espacial histórico até o mais completo planisfério produzido pela
Internacional (ISS) há três anos e revela um cenário intri- NASA recentemente. Sejam eles rudimentares, sejam e-
gante: enquanto os territórios da Coreia do Sul e da China les complexos, é importante ressaltar que os mapas pos-
cintilam com o clarão gerado pela iluminação das cidades suem uma linguagem própria, com símbolos, indicadores
desses países, a Coreia do Norte encontra-se quase to- e representações que facilitam sua interpretação. Conhe-
talmente na escuridão. A exceção é a capital, Pyongyang, ça mais os recursos utilizados pelos cartógrafos para re-
facilmente identificada como um ponto iluminado no meio produzir diferentes informações gráficas.
do breu. TÍTULO: o título é a nossa primeira aproximação com
Para além da simples curiosidade, a análise da inten- o mapa. Observá-lo com atenção pode “encurtar” o ca-
sidade da iluminação em imagens noturnas do nosso pla- minho da sua leitura e compreensão, pois nos permite
neta revele indiretamente o grau de desenvolvimento e- conhecer, de imediato, qual é o conteúdo representado.
conômico daquela região. Por essa lógica, quanto mais Em geral, vem acompanhado do ano em que os dados
claro é um lugar, mais rico ele é, já que a luz é uma ne- foram coletados.
cessidade humana básica, e as pessoas tendem a usá-la FONTE: a fonte informa a origem (instituição, pesquisa
mais na medida em que são mais ricas. Consequente- etc.) dos dados utilizados para compor o mapa.
mente, a escuridão indica os lugares menos desenvolvi- LEGENDA: a legenda é um dos elementos mais im-
dos. portantes do mapa, pois dá significado aos indicadores
Por isso, fotografias noturnas do planeta feitas do es- nele representados. Ela informa se os dados são per-
paço têm sido cada vez mais utilizadas por economistas centuais ou absolutos, além do significado de cores,
como uma ferramenta importante para estimar o grau de símbolos, linhas e demais recursos utilizados. A leitura
riqueza e de pobreza de regiões do globo – principalmen- da legenda deve ser feita em conjunto com a visualiza-
te aquelas carentes de dados econômicos mais acurados, ção da distribuição dos dados no mapa. Uma dica inte-
como muitos países da África Subsaariana. Dessa forma, ressante: os mapas sempre se complementam. Portan-
é possível identificar os bolsões de pobreza com maior to, ao estudar Geografia, lembre-se de olhar para os
precisão e encaminhar as ações públicas necessárias. mapas com a mesma atenção que você olha para os
Mas não se pode tomar esse dado isoladamente. A textos, fotografias, gráficos e tabelas.
simples observação da imagem noturna pode levar a im- ESCALA: a escala indica a relação entre o espaço
precisões, já que um bairro pobre, mas com alta densida- verdadeiro e seu correspondente no mapa.
de populacional, pode ter o mesmo nível de luminosidade ROSA DOS VENTOS: a rosa dos ventos indica a ori-
de uma vizinhança rica, mas esparsamente povoada. Por entação geográfica, ou seja, para que lado se encon-
isso, um estudo divulgado por pesquisadores da Universi- tram, no mapa, os pontos cardeais (norte, sul, leste e
dade de Stanford, nos Estados Unidos, sugere a combi- oeste). Pode parecer bem óbvio que o norte esteja na
nação da análise das imagens noturnas com fotos diurnas parte superior do mapa, pois essa é uma convenção in-
de alta resolução – ao verificar também o local durante o ternacional. Entretanto, em alguns tipos de mapas, co-
dia, mostrando o quão urbanizado é o lugar, a metodolo- mo as plantas cartográficas e em projeções azimutais
gia tende a ser mais precisa. ou planas, o norte nem sempre se encontra na parte su-
Esses estudos são um bom exemplo de como a carto- perior do mapa.
grafia nos fornece informações imprescindíveis para mos- LOCALIZAÇÃO PRECISA
trar a realidade de diferentes localidades e fomentar o es- Um sistema de eixos horizontais e verticais constitu-
tabelecimento de políticas públicas. Neste capítulo, você em as coordenadas geográficas, que nos ajudam a
ficará ainda mais por dentro da linguagem e do poder dos identificar qualquer posição na superfície terrestre.
mapas no estudo da Geografia. Para encontrar determinado lugar, como a casa de al-
O FASCINANTE UNIVERSO DOS M APAS guém ou um órgão público, precisamos de um endereço,
A cartografia é dotada de uma linguagem própria, não é mesmo? Sabendo o nome da cidade, do bairro, da
com símbolos, indicadores e representações. Veja a rua e o número da casa, chegaremos ao destino. No en-
seguir algumas dicas para interpretar corretamente os tanto, nem todas as regiões do planeta têm um endereço
mapas. com essas informações. Por isso, para obtermos a locali-
Tudo começou quando o homem pré-histórico passou zação de qualquer ponto ou área da superfície terrestre,
a desenhar no interior das cavernas a localização de seu utilizamos as coordenadas geográficas. Trata-se de um
entorno. Foi assim que surgiram os primeiros mapas. À sistema obtido a partir do cruzamento de uma rede de li-
medida que o homem foi conquistando novos espaços, nhas imaginárias – os meridianos e paralelos:
cruzando mares e aprimorando as técnicas cartográficas, Os meridianos cruzam a Terra no sentido norte-sul, de
os mapas se tornaram mais sofisticados. Hoje, com a aju- um polo ao outro do globo. Os meridianos nos indicam a
da de poderosos satélites, até mesmo as mais inóspitas longitude, que é a distância expressa em graus entre um
regiões do planeta são reproduzidas com alta precisão. local no mapa e o meridiano de Greenwich.
Com o passar dos séculos, os mapas tiveram impor- Os paralelos são linhas perpendiculares aos meridianos,
tantes funções estratégias: ajudaram a impulsionar a ex- que cruzam a Terra no sentido leste-oeste. Eles deter-
pansão marítimo-comercial europeia no século XV e atu- minam a latitude, também expressa em graus, e nos in-
almente são fundamentais para que as administrações dicam a distância entre um local no planisfério e a linha
públicas desenvolvam projetos de organização territorial. do Equador.
Com os mapas, é possível realizar variados tipos de le-
Para localizar qualquer ponto na superfície terrestre é Veja como as diversas formas de representar o espa-
só fazer o cruzamento do meridiano com o paralelo e ob- ço geográfico podem alterar de modo como enxerga-
ter os dados referentes à latitude e a longitude. mos o planeta.
LINHA DO EQUADOR: a linha do Equador é equidis- Representação: é essa a ideia que norteia a constru-
tante aos polos Norte e Sul da Terra e serve como refe- ção de um mapa. Ocorre que, obviamente, o tamanho e a
rência para traçar os paralelos, como os trópicos de complexidade do planeta não cabem no papel, Desse
Câncer e Capricórnio e os círculos polares Ártico e An- modo, é preciso fazer escolhas para conseguir mostrar,
tártico. Ela divide o planeta em porção norte, ou seten- num espaço tão restrito, o máximo daquilo que comporta
trional, e sul, ou meridional. As linhas que partem do o mundo real.
Equador são divididas de zero a 90 graus para as duas Dessas escolhas é que resultam as diversas maneiras
direções. A latitude de um lugar é determinada por sua de representar um território, que pode se dar com base
distância em relação à linha do Equador – quanto mais em focos variados, como seus aspectos físicos, políticos
longe, mais alta é a latitude de um ponto. ou sociais. Cada um desses recortes, por sua vez, abarca
MERIDIANO DE GREENWICH: o meridiano de outras subdivisões. A representação física do planeta, por
Greenwich, que ganhou esse nome por passar pela ci- exemplo, engloba mapas de hidrografia e relevo, entre
dade de Greenwich, na Inglaterra, divide o planeta em outros. Todas essas divisões são importantes tanto por
Ocidente e Oriente. A partir dele, as distâncias são con- seu caráter teórico, ao facilitar o estudo de uma área,
tabilizadas de zero a 180 graus, tanto para leste quanto quanto pela aplicação prática desse conhecimento, ao
para oeste. A longitude de um lugar é a sua distância nortear a implantação de políticas de saúde ou ambien-
até o meridiano de Greenwich – quanto mais distante, tais.
maior será sua latitude. Também é comum informar no Entretanto, com tantas possibilidades, é preciso aten-
lugar das iniciais dos pontos cardeais (N, S, L e O) um ção na hora de ler os mapas e avaliar as conclusões tira-
sinal de + (positivo) para as latitudes norte e longitudes das com base em sua análise. Afinal, como vimos, eles
leste e, em contrapartida, um sinal de – (negativo) para mostram apenas uma parte da realidade. Assim, depen-
as latitude sul e longitudes oeste. dendo do ponto de vista adotado para sua construção, e-
ACERT ANDO OS PONTEIROS les podem acabar servido para influenciar – positiva ou
negativamente – o modo como enxergamos determinada
Com base nos meridianos e no sistema de rotação da área ou algum fenômeno. Confira a seguir alguns dos
Terra, o sistema de fusos horários ajuda a organizar principais tipos de mapas e o que eles representam.
as horas em diversas localidades do globo. M APAS POLÍTICOS: é este recorte que dá aos ma-
Os fusos horários foram estabelecidos porque, em ra- pas a cara que mais conhecemos: os continentes dividi-
zão do movimento de rotação da Terra, as várias porções dos em países, os países divididos em regiões, e estas,
da superfície terrestre são iluminadas de forma diferenci- em cidade. Seu objetivo é simplesmente demarcar os
ada no decorrer do dia. Para dar uma volta completa em limites entre territórios, que podem mudar no decorrer
torno de si, o planeta gira 360º e faz isso em um dia, ou dos anos.
seja, em 24 horas. Dessa forma, foram determinadas 24 As fronteiras entre as nações, por exemplo, sofreram
faixas longitudinais (no sentido norte-sul do globo) de 15º. muitas mudanças no decorrer da história. As atualiza-
Cada faixa, denominada de fuso horário teórico ou astro- ções do mapa-múndi atingiram número recorde no sécu-
nômico, corresponde, portanto, a 1 hora. los XX, por causa do turbilhão de eventos ocorridos no
O fuso de referência do horário mundial é o de período, como o desmembramento da ex-União Soviéti-
Greenwich, localidade situada em Londres, na Inglaterra. ca. A mais recente alteração no mapa político ocorreu
Esse fuso se estende 7º30‟ a oeste e 7º30‟ a leste do Me- em 2011, com o desmembramento do Sudão, que deu
ridiano de Greenwich, também chamado de Meridiano 0º. origem ao Sudão do Sul. Em suma, aparecer ou não no
A partir dele, foram definidos os demais fusos teóricos - mapa significa ter a própria existência reconhecida pelo
indo para leste, acrescenta-se uma hora a cada fuso; para resto do mundo.
oeste, subtrai-se uma hora. M APAS FÍSICOS: este tipo de mapa destaca as ca-
Entretanto, esses limites teóricos dos fusos horários, racterísticas físicas da superfície terrestre, em especial
delimitados a cada 15º, não coincidem com os limites dos de relevo e hidrografia. Geralmente, as diferentes faixas
países. Por isso, foram criados os fusos práticos, também de altitudes são representadas por uma sequência de
conhecidos como fusos civis ou políticos. Esses fusos cores: nas terras emersas, os tons em verde são usados
respeitam os limites políticos dos países, pois consideram para altitudes mais baixas, seguidos do amarelo, laranja
os interesses de cada nação em fazer parte de um ou ou- e marrom, sucessivamente, para as altitudes mais ele-
tro fuso, de acordo, por exemplo, com a integração eco- vadas.
nômica, política e sociocultural com as regiões vizinhas. Também constam nos mapas físicos denominações
Como os limites das linhas são uma convenção, os fu- das unidades de relevo que se destacam no território,
sos acabam sendo maleáveis. Em novembro de 2013, por como cadeias montanhosas, serras, planaltos e planí-
exemplo, o Brasil passou a ter quatro fusos horários, em cies, bem como os picos mais elevados. Quanto à hi-
vez de três. Com a medida, os fusos do estado do Acre e drografia, são representados com traços azuis os gran-
de parte do Amazonas foram modificados, a partir de uma des rios e seus principais afluentes e subafluentes. Os
leve adaptação do meridiano. E essas mudanças ocorrem principais lagos também são identificados.
no mundo todo. Em 2016, a Rússia, que, com sua vasti- M APAS TEM ÁTICOS: são mapas que representam
dão territorial tinha nove fusos horários, decidiu aumentar dados sobre determinados temas, permitindo observar
para 11. Além disso, alguns países adotam as chamadas as características de uma região e estabelecer compa-
“horas fracionadas”, como o Irã (3 horas e meia a mais rações entre os países apresentados. Os temas abor-
em relação ao fuso de Greenwich) e a Índia (5 horas e dados podem ser os mais diversos, da economia à cul-
meia a mais em relação ao fuso de Greenwich). tura, passando por demografia e meio ambiente.
VÁRIOS M APAS, DIFERE NTES LEITURAS FORM A E CONTEÚDO
O desafio de reproduzir a superfície esférica da Terra
em um mapa plano levou ao surgimento de uma infi-
nidade de projeções cartográficas. Conheça a seguir útil para explorar a coesão e desintegração da crosta con-
os tipos mais comuns. tinental”, aponta Mortimer.
Ao longo dos séculos, os cartógrafos vêm se empe- Como não existe um organismo internacional que re-
nhando em desenvolver mapas-múndi da forma mais fiel conheça formalmente os continentes, a Zelândia só irá fa-
possível. O problema é que a Terra tem um formato esfé- zer parte da lista se a comunidade científica aceitar os ar-
rico, com um leve achatamento nos polos. O maior desa- gumentos dos pesquisadores neozelandeses e passar a
fio na criação do mapas, portanto, é representar este pla- citá-la em seus trabalhos. Dessa forma, o novo continente
neta esférico em um superfície plana. Para ter uma ideia quase inteiramente submerso do Pacífico passaria a ser
da dificuldade de fazer essa transposição, no decorrer ensinado nas aulas de Geografia. Enquanto isso não a-
dos anos surgiram mais de 200 tipos de projeção carto- contece, você aprende no capítulo a seguir todos os tradi-
gráfica. E todas apresentam algum tipo de distorção. cionais fenômenos do relevo e de sua formação.
AS DIFERENTES REPRES ENT AÇÕES DA E S- POR DENTRO DO GLOBO
FERA TERRESTRE:
Dependendo da figura geométrica utilizada para de- Conheça as características das camadas internas do
senvolver o mapa, as projeções podem ser classificadas planeta e como o relevo foi formado ao longo dos a-
da seguinte forma: nos.
 PROJEÇÃO CILÍNDRICA: esse tipo de projeção O termo litos, em grego, significa “pedra” ou “rocha”.
é produzido como se um cilindro envolvesse a esfera Portanto, conhecer a litosfera é saber literalmente onde
terrestre e fosse então planificado. A projeção cilín- estamos pisando, já que ela dá nome à camada sólida
drica ainda consegue representar com menos distor- que reveste a esfera terrestre. Essa rigidez em sua super-
ções as baixas latitudes. fície, aliás, é uma característica que nem todos os plane-
 PROJEÇÃO CÔNICA: nesse tipo de projeção, a tas possuem. No Sistema Solar, além da Terra, somente
representação é feita como se um cone envolvesse o outros três (Mercúrio, Vênus e Marte) são classificados
planeta e depois fosse planificado. Esta projeção é como planetas rochosos. Os demais (Júpiter, Saturno,
utilizada para mapas, pois nessa região a distorção é Urano e Netuno) são gigantes gasosos e não possuem
menor. uma crosta rochosa.
A litosfera é composta pela crosta e por uma parte do
 PROJEÇÃO PLANA OU AZ IMUTAL: o mapa é
manto superior. É sobre ela que o relevo ganha seus con-
construído sobre um plano que tangencia algum pon-
tornos, formando desde depressões até cadeias monta-
to da superfície terrestre. Seu uso mais comum é pa-
nhosas. Além dessas camadas, a Terra possui outras par-
ra melhorar a visibilidade das regiões polares e de
tes em sua estrutura interna igualmente sólidas, como o
suas proximidades.
núcleo interno, ou fluidas, como o manto e o núcleo ex-
LITOSFERA terno. Conhecer essa estrutura e sua dinâmica é funda-
ZELÂNDIA, O CONTINENTE SUBERSO mental para entender fenômenos como os terremotos, as
atividades vulcânicas e os tsunamis, por exemplo, e as-
Território localizado no sudoeste do Oceano Pacífico sim poder buscar os meios de se proteger contra seus e-
tem apenas 6% de sua área acima do nível do mar. feitos devastadores.
Um artigo publicado em fevereiro de 2017 na revista Veja abaixo as características das diferentes camadas
científica de Geological Society of America (GSA) propõe da Terra:
uma mudança significativa nos livros de Geografia. Se- AS CAM AD AS DA TERRA:
gundo o estudo liderado pelo geólogo neozelandês Nick  CROSTA: é a parte superior ou externa da litosfera,
Mortimer, o mundo teria um novo continente: a Zelândia. encontrada tanto nas áreas continentais (crosta con-
O território possui 4,9 milhões de quilômetros quadrados tinental) como submersas pelos oceanos (crosta o-
(cerca de 60% da área do Brasil) e localiza-se no sudoes- ceânica). A crosta continental apresenta espessura
te do Oceano Pacífico, ao lado da Austrália. Detalhe: 94% que variam de 30 a 70 quilômetros, aproximadamen-
de suas terras são submersas, e as únicas porções acima te, com rochas mais densas na parte inferior e me-
do nível do mar são as ilhas de Nova Zelândia e Nova Ca- nos densas na porção superior, próxima da superfí-
ledônia, distantes cerca de 2.400 quilômetros uma da ou- cie. A crosta oceânica, por sua vez, tem espessura
tra. entre 6 e 7 quilômetros de profundidade e é constitu-
A formação da Zelândia estaria relacionada ao mesmo ída predominantemente por rochas mais densas.
fenômeno que deu origem aos demais continentes: a de-  M ANTO SUPERIOR: é a parte da estrutura interna
riva continental. A Pangeia, a grande e única extensão da da Terra que se encontra logo abaixo da crosta e vai
terra que existia há 225 milhões de anos, foi se fragmen- até cerca de 400 quilômetros de profundidade. Jun-
tando gradativamente até dar forma aos continentes que tamente com a crosta, a parte superior do manto,
conhecemos atualmente. formada por rochas sólidas, constitui a litosfera.
A Zelândia se deslocou da Austrália e da Antártica e  M ANTO INFERIOR: constituído por rochas fundi-
submergiu, mas ainda assim poderia ser considerada um das diante das elevadas temperaturas, o manto infe-
continente. É o que define o estudo de Mortimer, com ba- rior estende-se de 400 a 2.900 quilômetros de pro-
se em critérios geológicos. Dados coletados por satélite fundidade. É nessa parte que se formam as corren-
mostram que a Zelândia tem uma área bem definida, é tes de convecção do magma: o contato com o núcleo
dotada de uma geologia distinta, possui uma elevação externo aumenta as temperaturas desses materiais,
maior em relação ao entorno e detém uma crosta mais que são impulsionados em direção ao manto superi-
espessa que a do leito oceânico – quatro características or, onde se “resfriam” e, mais densos, tornam a des-
comuns aos continentes validados. cer para perto do núcleo, onde novamente são aque-
Embora seja natural pensarmos que um continente cidos e reiniciam o ciclo.
deva estar inteiramente na superfície, os pesquisadores  NÚCLEO EXTERNO: localizado na faixa entre
argumentam que o fato de Zelândia ter apenas 6% de su- 2.900 e 5.100 quilômetros, é constituído por dois mi-
as terras emersas não lhe tira o direito de ser vista como nerais predominantes: o níquel e ferro, totalmente
tal. “É o menor e mais fino continente já encontrado, e o fundidos pelas elevadas temperaturas.
fato de estar tão submerso, mas não fragmentado, o torna
 NÚCLEO CENTRAL: o núcleo central constitui a dez vezes superior à dos demais oceanos –, o que im-
camada que fica entre 5.100 quilômetros e o centro pede a existência de qualquer forma de vida.
da Terra, a 6.378 quilômetros. É constituído de uma MONTANHAS: também chamadas de dobramentos
liga metálica formada por ferro e níquel, porém em modernos, são grande áreas elevadas resultantes do
estado sólido em função da elevada pressão a que é choque de placas tectônicas. Os maiores picos do mun-
submetido. Seu movimento de rotação é maior do do ficam na Cordilheira do Himalaia, um complexo mon-
que o do restante da Terra. tanhoso que se estende por cinco países asiáticos: Pa-
A ESTRUTURA GEOLÓGIC A: quistão, Índia, Nepal, Butão e China. Sua formação, ini-
A estrutura geológica e mineralógica da crosta está ciada há cerca de 70 milhões de anos, resulta do cho-
na base do modo de vida das populações humanas, que entre a placa tectônica Indiana e a placa Eurasiáti-
uma vez que fornece dezenas de recursos necessários ca. O curioso é que a placa Indiana continua a se mo-
à vida, como a produção de alimentos (obtidos por meio ver, fazendo com que o Himalaia se eleve a uma taxa
do cultivo do solo), os materiais utilizados na construção de 5 milímetros por ano.
de moradias (tijolos, cimento, ferro), a geração de ener- PLANALTOS: são elevações de altitudes variadas,
gia (petróleo, urânio), entre inúmeros outros. Confira a em que predomina o processo de erosão e cuja compo-
seguir as principais estruturas geológicas da litosfera: sição rochosa pode ser de rochas sedimentares, crista-
 ESCUDOS CRIST ALINOS: são os terrenos mais linas ou metamórficas. Os planaltos apresentam super-
antigos da crosta terrestre, formados pelo choque de fície irregular, como serras e chapadas, e são delimita-
massas continentais ocorrido há centenas de milhões dos por áreas rebaixadas em um de seus lados. O con-
de anos durante a era Pré-Cambriana (Arqueozoica tinente africano se destaca pela presença de planaltos,
e Proterozoica). Os escudos cristalinos são constituí- com altitudes predominantes entre 400 e 2 mil metros.
dos de rochas magmáticas, ou seja, trata-se do Na porção leste/nordeste, destacam-se os planaltos da
magma – material líquido-pastoso proveniente do Etiópio e o dos Grandes Lagos.
manto – em estado sólido. As rochas magmáticas di- PLANÍCIES: são áreas de superfície relativamente
videm-se em duas categorias: as extrusivas, como o plana, formadas por rochas sedimentares e nas quais
basalto, que são formadas com o esfriamento rápido predominam os processos de deposição e acúmulo de
do magma na superfície terrestre; e as intrusivas, sedimentos. Na maior parte das vezes, as planícies são
como o granito, que são resfriadas lentamente dentro encontradas em baixas altitudes. Em geral, localizam-se
da crosta terrestre. próximas do litoral, como a planície do norte europeu,
Os escudos cristalinos também exibem as rochas ou de grandes rios ou lagos, como ocorre com a planície
metamórficas, que são o resultado da transformação do Rio Amazonas. Mas é bom ficar atento: não é a alti-
das rochas magmáticas, sedimentares ou mesmo de tude de um relevo que determina se ele é uma planície;
outras metamórficas, por meio de processos quími- o principal fator definidor é o acúmulo de sedimentos.
cos e físicos nas grandes profundidades da Terra. O Nas regiões elevadas, por exemplo, existem as planí-
mármore, por exemplo, é formado do calcário quan- cies de montanha, que são formadas de rocha sedimen-
do esse é submetido a altas temperaturas e pressão. tar e delimitadas por aclives.
 BACIAS SEDIMENT ARES: foram formadas nas AS CONSTRUTORAS DA T ERRA
eras Paleozoica e Mesozoica, com a erosão das ro-
As placas tectônicas modelam e modificam o relevo
chas dos escudos cristalinos – após o desgaste dos
do planeta há milhões de anos.
maciços, seus sedimentos foram depositados em re-
As placas tectônicas são gigantescos blocos que com-
giões mais baixas. O acúmulo desses detritos, so-
põe a camada sólida externa do nosso planeta (a litosfe-
mado aos restos orgânicos, leva à formação de ro-
ra), sustentando os continentes e o oceanos. Impulsiona-
chas sedimentares pelo processo de litificação. Essa
das pelo movimento do magma incandescente (material
deposição é feita em camadas. O calcário, presente
em estado líquido-pastoso no interior da Terra), as princi-
em cavernas, o arenito e o carvão são exemplos de
pais placas se empurram, afastam-se umas das outras e
rochas sedimentares.
afundam ou elevam-se alguns milímetros por ano, alte-
 DOBRAM ENTOS MODERNOS: trata-se das
rando suas dimensões e modificando o contorno do rele-
formações mais recentes da crosta terrestre, surgi-
vo terrestre. Esses imensos fragmentos atuam como artis-
das do choque de placas ocorrido entre o fim da era
tas que, continuamente, recriam a paisagem da Terra. A-
Mesozoica e o Início da Cenozoica. As rochas são
liás, a palavra “tectônica” vem de tektoniké, expressão
mais flexíveis e situam-se na zona de contato entre
grega que significa “a arte de construir”. A configuração
as placas tectônicas. Nessa região de grande instabi-
atual dos continentes, por exemplo, é fruto de milhões de
lidade e frequentes movimentos sísmicos encontram-
anos de “trabalho artístico” das placas. Veja abaixo as ca-
se montanhas e vulcões ativos e extintos.
racterísticas de 16 das mais importantes placas tectôni-
AS QUATRO FACES DA T ERRA cas.
Conheça os principais tipos de relevo que constituem A DERIVA CONTINENTAL :
o cenário global. Desenvolvida pelo alemão Alfred Lothar Wegener, a
DEPRESSÕES: são áreas da superfície localizadas teoria da deriva continental não receber muito crédito
em altitude inferior à das regiões próximas (depressão quando foi divulgada em 1912. À época, poucos acredi-
relativa) ou abaixo do nível do mar (depressão absolu- taram na hipótese levantada por esse cientista de que,
ta). As depressões podem ser formadas de várias ma- no passado geológico, toda crosta terrestre estava unida
neiras: por deslocamento do terreno, remoção dos se- em um único continente – a Pangeia – e que, posterior-
dimentos, dissolução de rochas ou até por queda de mente, ela se rompeu em dois supercontinentes: Laurá-
meteoritos. O Mar Morto, situado 416 metros abaixo do sia e Gondwana. Estas, por sua vez, se desmembraram
nível do mar, é a maior depressão do globo. Ele banha em várias outras partes, que passaram a se mover em
Israel, Jordânia e Cisjordânia e leva esse nome em ra- diferentes direções. Para sustentar sua argumentação,
zão da elevada concentração de sal de suas águas – Wegener recorreu à semelhança da África Ocidental e
do leste da América do Sul e também à análise de fós-
seis e amostras de rochas. Posteriormente, a confirma-
ção de que as placas rochosas flutuam sobre magma sam terremotos e erupções destruidoras, como a do
incandescente ajudou a fortalecer a tese de Wegener. Monte Pinatubo, em 1991, uma das mais violentas
Atualmente, geólogos do mundo inteiro retomam e dos últimos 50 anos.
aprofundam as descobertas de Wegener a partir da teo-  PLACA IRANIANA: localizada entre as placas A-
ria da Tectônica das Placas. Os estudos em vigor desde rábica e Euroasiática, o bloco sustenta a maior parte
a década de 1960 descrevem e analisam com detalhes do território do Irã. Por causa disso, o país registra
os movimentos das placas que compõe a crosta terres- grande atividade sísmica, como o terremoto de 2006,
tre, bem como suas consequências, como os abalos que matou mais de 31 mil pessoas.
sísmicos e as alterações no relevo terrestre e do fundo  PLACA EURO ASIÁTICA: sustenta a Europa,
dos oceanos. parte da Ásia, do Atlântico Norte e do Mar Mediterrâ-
QUEBRA-CABEÇA PLANET ÁRIO: neo. Ela se choca contra a placa das Filipinas e com
Conheça as características de 16 das mais importan- a do Pacífico, onde fica o Japão. O encontro triplo é
tes placas tectônicas: tumultuado e dá origem a uma das áreas do globo
 PLACA DA AM ÉRICA DO NORTE: o desloca- com o maior índice de terremotos e vulcões do pla-
mento em relação à placa do Pacífico cria uma zona neta.
turbulenta: em um dos limites, na Califórnia, está a  PLACA ARÁBICA: a placa sustenta a Península
falha de San Andreas, famosa pelos terremotos arra- Arábica e foi responsável pela criação do Mar Ver-
sadores. melho. O choque com a placa Euroasiática e com a
 PLACA JUAN DE FUCA: é a menor das placas placa Indiana provoca fortes terremotos.
tectônicas, que se fundiu com a placa Norte-  PLACA DA ANATÓLIA: sobre essa placa fica
Americana e criou a Cordilheira das Cascatas, nos boa parte do território da Turquia. O choque desse
Estados Unidos. bloco com a placa Arábica e com a placa Euroasiáti-
 PLACA DO PACÍFICO: com cerca de 70 milhões ca toma o país uma área sujeita à violentas ativida-
de quilômetros quadrados, está em constante reno- des sísmicas.
vação na região do Havaí, onde o magma sobe e cria EU TENHO A FORÇA!
ilhas vulcânicas. No encontro com a placa das Filipi-
nas, ela afunda em uma área conhecida como Fossa Os vigorosos agentes internos e externos que, a cada
das Marianas, na qual o oceano atinge sua profundi- segundo, modelam o relevo.
dade máxima: 10.920 metros. O relevo é resultado da dinâmica de fenômenos inter-
 PLACA DE NAZCA: a cada ano, essa placa de 10 nos e externos sobre a camada mais superficial da Terra,
milhões de quilômetros quadrados no leste do Ocea- a litosfera. Depressões, planícies, planaltos e montanhas
no Pacífico fica 10 centímetros menor pelas tromba- foram esculpidos no decorrer de milhões de anos – e con-
das com a placa Sul-Americana. Esta, por ser mais tinuam em constante transformação. A qualquer momen-
leve, desliza por cima da placa de Nazca, criando to, por exemplo, terrenos podem ser elevados por pres-
vulcões e elevando as montanhas dos Andes. sões de dentro do planeta ou mesmo ser gastos por a-
 PLACA DE COCOS: foi formada a partir do des- gentes do intemperismo, mudando de cara e ganhando
prendimento da placa do Pacífico. Fundiu-se com a novas curvas.
placa do Caribe, criando uma zona turbulenta. Duas ações combinam-se para modelar o relevo: as
 PLACA SUL- AM ERICANA: como o Brasil está forças internas ou endógenas, que dão as linhas mestras
no meio desse bloco, ele sente pouco os efeitos de do relevo, e as externas ou exógenas, que modificam as
terremotos. No centro do continente, a placa tem 200 formas já existentes. Veja a seguir as forças que esculpi-
quilômetros de espessura; na borda com a placa da ram – e continuam esculpindo – os contornos do planeta.
FORÇAS INTERNAS:
África, não passam de 15 quilômetros.
Também chamadas de endógenas, sãos as forças
 PLACA DO CARIBE: a placa do Caribe desliza ao
responsáveis por dar forma ao relevo. São três os agen-
lado da placa Norte-Americana, criando falhas trans-
tes internos do globo: o tectonismo, o vulcanismo e os
formantes. Foi o atrito entre elas que gerou, em
abalos sísmicos.
2010, o avassalador terremoto do Haiti, país que fica
no limite entre as duas placas.  TECTONISMO:
São os lentos deslocamentos das placas tectôni-
 PLACA DA ÁFRICA: no meio do Atlântico, uma
cas, que podem ser verticais ou horizontais. Quando
falha submersa abre caminho para o magma do
é vertical (epirogênese), levanta ou abaixa a crosta
manto inferior, fazendo com que esse bloco se afaste
durante um prolongado espaço de tempo.
da placa Sul-Americana e cresça de tamanho. A ten-
É o que ocorre, por exemplo, na Península Es-
dência é passar os 65 milhões de quilômetros atuais.
candinava, que se eleva alguns centímetros todo a-
 PLACA DA ANT ÁRTICA: é o bloco que dá su-
no.
porte à Antártida e a uma parte do Atlântico Sul, em
Quando o movimento de uma placa em relação a
um total de 25 milhões de quilômetros quadrados.
outra é horizontal (orogênese), uma acaba entrando
 PLACA AUSTRALIANA: o bloco que sustenta a embaixo da outra (a subducção).
Austrália e a maior parte do Oceano Índico ruma ve- É o processo que resulta na formação das imen-
lozmente para o norte. Além de se chocar com a pla- sas cadeias de montanhas e de fossas. Veja exem-
ca Indiana, a borda nordeste bate na placa do Pacífi- plos de como as placas tectônicas se movimentam.
co, criando ilhas na região turbulenta.
 FALHAS TRANSFORMANTE S: são criadas
 PLACA INDIANA: a placa comporta todo o sub- por duas placas que deslizam uma ao lado da ou-
continente indiano. No choque com a placa Euroasiá- tra. O atrito entre elas guarda muita tensão, que
tica, nasceu o conjunto de montanhas do Himalaia, pode causar terremotos destruidores. Exemplo
no sul da Ásia, onde há mais de 100 montanhas com disso é a falha de San Andreas, que corta a costa
altitudes superiores a 7 mil metros. da Califórnia, nos Estados Unidos, e o litoral oes-
 PLACA DAS FILIPINAS: essa placa concentra te do México.
em seus limites quase a metade dos vulcões ativos
do planeta. Colisões com a placa Euroasiática cau-
 PLACAS CONVERGENTES 1: são placas  EROSÃO:
que vão uma de encontra à outra. A placa mais A exposição prolongada a agentes naturais pro-
densa mergulha para baixo da menos densa. É o voca o desgaste das rochas e dos solos.
caso do choque entre uma placa oceânica (mais O processo de desintegração e consequente
densa) e outra continental. Elas se comprimem, transporte do material decomposto recebe o nome de
dando origem a cadeias montanhosas, como a erosão. Veja os principais elementos causadores
Cordilheira dos Nades. As regiões em que esse desse fenômeno.
tipo de choque ocorre são suscetíveis a terremo-  VENTOS: as dunas dos desertos e as paisagens
tos. das praias são exemplos clássicos de formação
 PLACAS CONVERGENTES 2: quando as por erosão eólica.
placas têm a mesma densidade (duas placas con-  RIOS: vales, cânions e planícies nos mais diver-
tinentais, por exemplo), chocam-se e se compri- sos continentes são moldados pelo movimento si-
mem. O Himalaia é resultado desse fenômeno. nuoso das águas dos rios.
 PLACAS DIVERGENTES: são aquelas que se  M ARES: o choque das ondas do mar em pare-
afastam. Pela falha aberta na crosta pode esca- dões litorâneos provoca o desgaste da superfície,
par magma, dando origem a ilhas vulcânicas, co- dando origem às falésias.
mo as do Havaí. O Oceano Atlântico é cortado de  GELEIRAS: os fiordes na Península Escandina-
norte a sul por uma falha desse tipo, que está se va, no norte da Europa, também são formados
afastando a América do Sul da África. Esse tipo pelo deslocamento das geleiras e pelo desgaste
de estrutura provoca menos terremotos. que elas provocam nas montanhas.
 VULCANISMO:  INTEMPERISMO:
Os vulcões são fendas na crosta terrestre por É o processo de degradação das rochas provoca-
meio das quais o magma, o material em estado líqui- do por fenômenos químicos e físicos.
do-pastoso vindo do manto, atinge a superfície. Exis-  INTEMPERISMO QUÍMICO : ocorre quando a
tem dois tipos básicos de vulcão: o explosivo e o não rocha tem sua composição química alterada pelo
explosivo. O primeiro aparece nos pontos de encon- efeito da água e da umidade no decorrer dos a-
tro das placas tectônicas, os grandes blocos que fo- nos, provocando sua decomposição.
ram a litosfera – seu melhor exemplo está nos vul-  INTEMPERISMO FÍSICO: consiste na frag-
cões que desenham o Cinturão de Fogo, em torno do mentação das rochas por meio de alguns dos se-
Oceano Pacífico. Esse tipo se caracteriza também guintes processos:
pela lava quase sólida, além de expelir poeira e uma SOLIDIFICAÇ ÃO DA ÁGU A: a água em
mistura de gases e vapor-d‟água. A lava desses vul- estado líquido se infiltra na fenda das rochas,
cões vem das profundezas da Terra, onde a tempe- onde fica acumulada. Com a queda da tempe-
ratura elevada derrete a rocha da crosta oceânica e ratura, a água se solidifica, passando a ocupar
faz com que ela se misture à água do mar. É justa- um volume 10% maior que o do estado líquido,
mente a presença de água que confere o caráter ex- o suficiente para fragmentar a rocha.
plosivo ao vulcão. Isso ocorre porque, conforme a la- RAÍZES DE PLANT AS: o crescimento das
va sobe, o vapor-d‟água é liberado da rocha e esbar- raízes das árvores por entre as rochas alarga
ra numa tampa formada pelo material endurecido da as fendas e ajuda a desintegrar sua estrutura.
explosão anterior, aumentando a pressão até explo- VARIAÇÃO DE TEMPERAT URA: em lo-
dir de vez. Já os vulcões não explosivos, como os do cais onde a alteração da temperatura diária é
Havaí, ficam bem no meio da placa tectônica, longe mais constante – como nos desertos ou em
do choque entre elas. Esse tipo surge quando ocorre regiões próximas aos polos –, as rochas estão
alguma fissura n crosta terrestre por onde a lava po- sujeitas a contrações e dilatações frequentes.
de escorrer. Essa lava é mais liquida e incandescen- Com o tempo, esse processo provoca fraturas
te. em sua composição.
 ABALOS SÍSMICOS: TERRA (VELHA) À VIST A!
São tremores na superfície terrestre causados pe-
lo movimento das placas tectônicas ou em virtude da Os principais tipos de relevo do Brasil foram esculpi-
grande energia liberada pelo vulcanismo. Eles se dos sobre rochas de milhões e milhões de anos.
propagam a partir do hipocentro (foco de contato en- Apesar de o Brasil ser uma nação relativamente jo-
tre as placas) em ondas pelas rochas, atingindo regi- vem, com pouco mais de 500 anos, contando a partir da
ões distantes do epicentro (ponto da superfície da chegada dos portugueses, seus terrenos são de outras
Terra diretamente acima do local onde se registra a eras. Tudo teve início há cerca de 4,5 bilhões de anos,
maior intensidade do tremor). A cada vez que as e- quando a litosfera começou a se formar, com o resfria-
normes placas se encontram, grande quantidade de mento do magma e, mais tarde, com os movimentos das
energia fica acumulada em suas rochas. De tempos placas tectônicas. Nesses primórdios da história terrestre,
em tempos, o arsenal é liberado de forma explosiva – durante a era Arqueozoica, as primeiras rochas deram o-
essa liberação pode ser sentida por meio de terremo- rigem aos escudos cristalinos, ou maciços antigos, um
tos que chacoalham as áreas continentais do globo, dos dois tipos de formação geológica que ocorrem no
geralmente nas bordas das placas. Quando os aba- Brasil. Do longo processo de erosão dos escudos cristali-
los sísmicos ocorrem no fundo oceânico, são batiza- nos surgiu o outro tipo de estrutura geológica do país: as
dos de maremoto. Esse últimos podem causar terrí- bacias sedimentares. Presentes na maior parte do territó-
veis tsunamis, ou ondas gigantes. rio, são constituídas de rochas formadas pela desagrega-
FORÇAS EXTERNAS: ção de outras rochas e de diferentes materiais.
Também chamadas de exógenas ou agentes escul- Em razão dessa formação antiga, e sofrendo há milê-
pidores, são as forças que modelam o relevo terrestre. nios com a erosão de agentes do intemperismo como
Os principais agentes desse grupo são a erosão e o in- ventos e chuva, as altitudes por aqui são modestas: apro-
temperismo: ximadamente 40% do território se encontra abaixo de 200
metros de altitude e cerca de 90% não passa de 900 me- lhões de anos. Entre as mais de 3,5 mil variedades de ro-
tros. Outro fator para termos um relevo considerado tão chas, estão os minérios, dos quais podemos extrair subs-
baixo é a ausência dos dobramentos modernos que de- tâncias de interesse econômico. No conjunto dos miné-
ram origem a imensas cadeias de montanhas, como os rios, distinguem-se aqueles utilizados para a obtenção de
Alpes e os Andes. Isso ocorre porque o Brasil se localiza metais, como o alumínio, o ferro, o magnésio e o titânio.
bem no meio da placa Sul-Americana, longa das zonas de Embora os minérios metálicos tendam a se concentrar em
choque entre as placas tectônicas, onde e dão os movi- maciços rochosos por toda a crosta terrestre, os depósi-
mentos de soerguimento ou afundamento das placas. tos mais explorados encontram-se em rochas metamórfi-
Sem as cadeias de montanhas, sobram-nos três prin- cas, nos escudos cristalinos da crosta continental.
cipais tipos de relevo: planaltos, planícies e depressões. O ouro e a platina são os únicos minérios metálicos
Com base nisso, no decorrer dos anos, os estudiosos que ocorrem principalmente na forma de metais na natu-
propuseram várias classificações do perfil geográfico bra- reza. Zinco, prata, ferro, cobre e outros metais também
sileiro. A mais aceita foi estabelecida, nos anos 1990, pe- podem ser achados no estado primário, mas normalmente
lo geógrafo Jurandyr Ross, da Universidade de São Paulo estão associados a outros minerais. Nesses casos, os
(USP). Considerando o processo de formação dos diver- minérios são reduzidos pela metalúrgica para se trans-
sos relevos do mundo, e também a altitude das forma- formar em metais.
ções do Brasil, Ross chegou à definição de 28 estruturas As substâncias minerais são utilizadas como matéria-
no país: 11 planaltos, 11 depressões e 6 planícies. prima em diversos processos de manufatura. Alguns e-
DEST AQUES DO RELEVO BRASILEIRO: xemplos são: o alumínio e o ferro na construção civil; o
 DEPRESSÃO DO AR AGUAI A: acompanhando o manganês na fabricação de fertilizantes e pilhas; as argi-
leito do Rio Araguaia, essa depressão tem superfície las na fabricação de cerâmicas; o zircônio na fabricação
entre 300 e 400 metros de altitude; configura-se uma de pisos e revestimentos; e o caulim na fabricação de pa-
depressão por estar abaixo dos terrenos que a cir- pel e celulose, vidros e tintas.
cundam. Na definição de Ross, depressões são su- ONDE ESTÃO OS MINÉRIOS NO BRASIL:
perfícies formadas por processos erosivos, com sua- Com aproximadamente 36% de seu território forma-
ve inclinação e menos irregulares que planaltos. En- do por escudos cristalinos, o Brasil possui algumas das
tre as 11 depressões brasileiras, também merecem reservas minerais mais ricas do planeta, incluindo miné-
destaque a depressão da Amazônia Ocidental (com rio de ferro, bauxita (alumínio), cobre, zinco, cromo, ní-
cerca de 200 metros de altitude) e a depressão da quel, calcário e argila. A maioria dos minérios metálicos
borda leste da bacia do Paraná (que chega a atingir do Brasil encontra-se em Minas Gerais, na região cha-
altitudes entre 600 de 750 metros). mada Quadrilátero Ferrífero, e no Pará, na província mi-
 PLANALTOS E SERRAS DO ATLÂNTICO neral de Carajás. Os dois estados respondem por quase
LESTE-SUDESTE: estendendo-se do sul da Bahia dois terços de toda a produção mineral brasileira.
ao sul do país, esse imenso planalto é composto de Outras unidades da federação também abrigam im-
diferentes subunidade morfológicas, como a Serra do portantes reservas minerais. Rio Grande do Sul e Santa
Mar e a Serra da Mantiqueira. Seus terrenos são Catarina, por exemplo, destacam-se pelo carvão. Já
formados de antigos escudos cristalinos, que, em al- Bahia e Espírito Santo estão entre os principais produto-
guns pontos, e há milhões de anos, foram erguidos res de pedras preciosas do Brasil, enquanto Goiás tem
por movimentos resultantes do choque entre as pla- significativas jazidas de cobre.
cas tectônicas a grande distância. O resultado disso FORM AÇÃO DO PETRÓLEO :
é o relevo acidentado e heterogêneo da região, com Principal fonte de energia mundial, o petróleo é um
vales profundos, escarpas (terrenos muito íngremes combustível fóssil formado da decomposição de maté-
que lembram degraus), chapadas (superfícies exten- rias orgânicas em ambientes marinhos. O acúmulo de
sas e horizontais, de elevada altitude) e elevações, restos de animais e vegetais microscópicos que se pre-
como o Pico das Agulhas Negras, na Serra do Itatiaia cipitam no fundo marinho origina bacias sedimentares,
(MG/RJ), de 2.791,55 metros. Na definição de Ross, nas quais, em milhões de anos, a ação de microrganis-
o planalto caracteriza-se por ser uma região em que mos, o calor e a pressão intensos reduzem a matéria
o processo erosivo supera o de acumulação – são orgânica a uma massa viscosa de carbono e hidrogênio
conhecidos como formas residuais, ou seja, resultan- – o petróleo. Infiltrando-se por rochas porosas, ele migra
tes do processo de erosão. Além de cristalinos, po- para regiões de menor pressão até sair para a superfície
dem ser sedimentares, como é o caso dos Planaltos ou topar com uma camada impermeável. Bloqueado, o
Residuais Norte-Amazônicos. petróleo se acumula nos poros e fraturas das rochas
 PLANÍCIES E TABULEIROS LITORÂNEOS: sedimentares, de onde é extraído.
característico do litoral das regiões Norte e Nordeste As regiões mais propícias para a formação do petró-
e do norte do Espírito Santo, constitui-se da combi- leo são mares interiores, baías e golfos. As reservas e-
nação de planícies, formadas pela disposição de se- xistentes no interior do continente resultam de áreas ori-
dimentos de rios e do mar, e dos tabuleiros, terrenos ginalmente marinhas que foram erguidas por meio de
de baixa altitude (entre 30 e 60 metros) que termi- movimentos na crosta terrestre ou do óleo que migrou
nam de forma abrupta na costa, em escarpas – neste das rochas geradoras até as rochas armazenadoras a-
caso chamadas de falésias. Na definição de Ross, as través das fissuras.
planícies são superfícies planas e áreas em que o O PRÉ-SAL BRASILEIRO:
processo de acumulação de sedimentos é maior que Desde que foram descobertas as reservas de petró-
o erosivo. leo no campo de Tupi, na Bacia de Santos, em 2007,
RIQUEZA QUE VEM DO SOLO um novo termo passou a frequentar os noticiários: o pré-
sal. Trata-se do nome que os geólogos dão à camada
Conheça o processo de formação geológica dos mi- de rochas porosas que se localiza abaixo de uma es-
nérios e suas principais aplicações econômicas. pessa camada de sal no subsolo marinho. É lá que fi-
As rochas são agrupamentos de minerais que formam cam os grandes reservatórios de petróleo, em uma faixa
a crosta terrestre e se desenvolveram no decorrer de bi- que se estende por 800 quilômetros na área marítima
entre o Espírito Santo e Santa Catarina, a mais de 7 mil como transportes e abastecimento de água, são interrom-
metros de profundidade. A exploração do petróleo no pidos, entre outras consequências.
pré-sal pode fazer o Brasil dobrar suas reservas, que Para entender melhor esse fenômeno, é preciso aten-
estão em torno de 15 bilhões de barris. tar para as diferenças entre enchente, inundação e ala-
As jazidas do pré-sal começaram a se formar há gamento.
mais de 100 milhões de anos, quando o supercontinente A CHUVA E AS CIDADES:
Gondwana se partiu, dando origem aos continentes sul- Entenda a diferença entre enchente, inundação e a-
americano e africano. Na Bacia de Campos, o principal lagamento:
campo petrolífero brasileiro localizado na camada pós-  ENCHENTE: é um fenômeno natural, que causa o
sal, o óleo está armazenado em rochas com predomínio aumento temporário do nível da água, porém sem
de silício. No pré-sal, a substância encontra-se armaze- transbordamento.
nada em rochas constituídas essencialmente de carbo-  INUNDAÇÃO: é o transbordamento de um curso
nato de cálcio e magnésio, o que dificulta o trabalho dos d‟água, atingindo a planície em torno do rio ou a área
geólogos. Mesmo com esses desafios, a extração nos de várzea.
poços de camada do pré-sal já responde por quase me-  ALAG AM ENTO: ocorre quando a água fica acu-
tade do total de petróleo produzido no país, ultrapas- mulada nas ruas e nos perímetros urbanos, por pro-
sando a marca de 1 milhão de barris por dia. blemas de drenagem.
CAM ADA SOBRE CAM ADA Além das características de relevo e hidrografia, há
outros fatores que aumentam o volume da água dos rios
Saiba mais sobre as características dos solos e os fa-
de planície e que contribuem para a ocorrência de inun-
tores que contribuem para sua fertilidade.
dações em áreas urbanas:
O solo é uma camada com espessuras variadas (de
A IMPERMEABILIZAÇÃO DO SOLO: ruas e ave-
alguns centímetros a vários metros) de material não con-
nidas pavimentadas, prédios, casas, indústrias e estaci-
solidado que cobre a superfície da crosta terrestre. Cons-
onamentos impedem ou reduzem a infiltração da água
tituído por matéria mineral e matéria orgânica, é o subs-
no solo e, consequentemente, aumentam o volume e a
trato para a vida dos ecossistemas. Os solos são resulta-
velocidade do escoamento das águas superficiais.
do da decomposição das rochas, que através dos anos
A RETIFICAÇÃO E A CANALIZAÇ ÃO DO LEI-
passam por um processo de intemperismo físico, químico
TO DE RIOS E CÓRREGOS: em geral, os rios de
e biológico. Esse processo cria diferentes camadas, às
planície apresentam meandros ou “curvas”. A retificação
quais se dá o nome de horizontes. O conjunto dos hori-
e canalização desse rios, feita para ampliar os espaços
zontes constitui o perfil do solo, que permite identificar o
a serem ocupados pela cidade, diminuem a extensão do
estágio de formação em que se encontram.
rio.
FERTILIDADE DOS SOLO S:
DEPOSIÇÃO INADEQUADA DE LIXO SÓLIDO:
Os solos podem ser classificados em “agricultáveis”
o lixo jogado nas ruas e calçadas ou mesmo diretamen-
e “não agricultáveis”. Geralmente, as terras que não
te nos rios e córregos dificulta a vasão das águas.
permitem a exploração agrícola são encontradas em al-
DESM AT AM ENTO: a retirada da mata nas encostas
titudes muito elevadas, como nos picos do Himalaia, dos
e nas margens dos rios provoca o aumento da erosão e,
Andes e demais cadeias montanhosas, ou em regiões
consequentemente, o assoreamento dos rios em seus
desérticas frias (regiões polares) e quentes (Deserto do
trechos de planície, ou seja, o acumulo de sedimentos
Saara), onde as restrições decorrer das temperaturas
nos leitos dos rios e lagos, facilitando seu transborda-
extremas ou da escassez de água.
mento.
As áreas mais exploradas para a produção agrope-
DESLIZAM ENTOS DE TERRAS:
cuária são aquelas com climas favoráveis, com pluviosi-
Os deslizamentos de terra estão diretamente relacio-
dade e temperaturas adequadas, e solos férteis. A ferti-
nados às características de relevo, solo, clima e cober-
lidade natural dos solos depende, primeiramente, da sua
tura vegetal. Apesar de serem fenômenos naturais, os
composição química – os solos muito férteis dispõem de
deslizamentos são potencializados pela ocupação hu-
nutrientes suficientes para a exploração agrícola, sem a
mana desordenada. A construção de casas e estradas e
necessidade de adubação artificial. Além disso, a fertili-
a implantação da agricultura e da pecuária tendem a
dade dos solos está ligada à capacidade de reter água e
desestabilizar ainda mais o frágil equilíbrio natura des-
matéria orgânica (o que depende da presença de argi-
ses ambientes, aumentando as chances de acidentes
las) e de reter oxigênio (o que depende da estrutura físi-
que trazem prejuízos incalculáveis, incluindo a perda de
ca, já que o solo precisa ser poroso e “aerado”).
dezenas de vidas humanas anualmente.
OCUPAÇÃO CAÓTICA No Brasil, as áreas mais sujeitas à ocorrência de
Saiba como a falta de planejamento urbano potencia- deslizamento são as que se encontram na unidade de
liza os efeitos dos temporais, provocando desliza- relevo conhecida como Planaltos e Serras do Atlântico
mento de terras e inundações. Leste-Sudeste. Isso porque a região caracteriza-se pela
Os temporais são fenômenos naturais que atingem as existência de áreas com grande declividade (escarpas e
cidades de tempos em tempos. A dimensão dos danos encostas das serras), solos rasos e elevada pluviosida-
que causam, porém, poderia ser menor, se as zonas ur- de concentrada no verão, sobretudo nas encostas pró-
banas fossem construídas respeitando a natureza. As ximas ao litoral e voltadas para o leste, que recebem os
cheias dos rios, por exemplo, são naturais e cíclicas. Um fluxos de ar úmidos provenientes das águas oceânicas.
bom planejamento, portanto, deveria preservar seus leitos Como a região foi densamente povoada em áreas de
livres. Mas não é o que ocorre na maioria das grandes ci- risco, como encostas de morro, os acidentes se tornam
dades. A ocupação dessas áreas, principalmente em tre- mais frequentes. Entre os casos mais emblemáticos o-
chos de planície também conhecidas como várzeas, pro- corridos no país, estão os deslizamentos na região ser-
voca inundações que trazem enormes transtornos e preju- rana do Rio de Janeiro, em janeiro de 2011.
ízos sociais e materiais. Casas são invadidas pelas á- TERRA M ACULADA
guas, formam-se enormes congestionamentos e serviços,
A degradação dos solos, provocada principalmente MERCÚRIO NOS G ARIMPO S: a exploração de mi-
pela exploração dos recursos naturais e pelo trata- nérios, como ouro e diamantes nos garimpos da Região
mento inadequado do lixo, é um dos principais pro- Norte do Brasil, utiliza mercúrio no processo de separa-
blemas ambientais da atualidade. ção das pedras preciosas dos demais sedimentos. Por
Durante vários anos, o homem pouco se importou com ser um mineral pesado altamente tóxico, o mercúrio de-
as consequências que suas atividades poderiam ter para positado no solo e nas águas provoca graves prejuízos
o solo. Do estilo de vida consumista, que gera uma colos- à fauna e à saúde humana.
sal quantidade de resíduos a ser descartado, passando COLHEIT A M ALDIT A
pelo uso indiscriminado de produtos tóxicos na indústria
até o manejo inadequado das culturas agrícolas, nossa Entenda como a erosão e a salinização prejudicam os
sociedade vai gradativamente contaminando os solos. solos e provocam enormes perdas para as culturas
Como consequência, muitas áreas estão se tornando im- agrícolas.
próprias para a produção de alimentos ou para a presen- A erosão das camadas superficiais do solo pelos es-
ça humana. coamento das águas das chuvas, também conhecida co-
As principais formas de poluição do solo estão associ- mo erosão laminar, é uma das maiores preocupações
adas a atividades econômicas como a agricultura, o extra- ambientais da agricultura atualmente. Esse processo pro-
tivismo mineral e a produção industrial, ou à falta de in- voca a perda gradativa de nutrientes do solo. Em algumas
vestimentos no tratamento adequado ao lixo. Veja cada culturas, como o feijão e a mandioca, essa perda pode
um desses casos: chegar a 40 toneladas por hectare em um ano. Para ter
LIXO: a disposição inadequada do lixo, principalmente uma dimensão melhor do problema, em uma área com
em aterros sem nenhum controle ambiental (os chama- floresta nativa, essa perda é de apenas 0,004 tonelada
dos lixões), está entre as principais causas da contami- por hectare no mesmo período.
nação dos solos nas cidades. Além de produzir o gás A melhor forma para evitar a ação da erosão é a ado-
natural metano (CH4), um dos agravadores do efeito es- ção de técnicas de conservação do solo. O plantio direto
tufa, a decomposição da matéria orgânica por microrga- é uma técnica que não resolve as camadas superficiais
nismos gera o caldo chorume, altamente poluente para do solo, mantendo sobre ela a matéria orgânica (plantas,
o solo e para os lençóis freáticos. folhas e palhas de colheitas anteriores), o que contribui
O destino mais adequado para o lixo urbano são os para conter a erosão. Já as curvas de nível é um técnica
aterros sanitários. Trata-se de áreas nas quais os resí- de plantio adequada às variações das altitudes e à incli-
duos são compactados e cobertos por terra. Terrenos nação do relevo, evitando o escoamento direito das águas
assim têm sistema de drenagem que captam líquidos e das chuvas que caem na lavoura. A ausência dessas téc-
gases resultantes da decomposição dos resíduos orgâ- nicas pode dar origem a ravinas (sulcos formados no solo
nicos, evitando maiores danos aos solo. Outra opção devido à ação erosiva da água) e voçorocas (aberturas
são os incineradores públicos, principalmente para o lixo ainda maiores que as ravinas e que, se atingirem o lençol
hospitalar, odontológico e ambulatorial. freático, podem ser irreversíveis e impedem o aproveita-
De acordo como o Instituto Brasileiro de Geografia e mento agrícola da área atingida).
Estatística (IBGE), mais de 50% dos municípios desti- Outro grave problema da degradação dos solos envol-
navam os resíduos sólidos em lixões. Apenas 28% das ve a grande concentração de sais nos seus horizontes
cidades faziam o descarte em aterros sanitários. Em superficiais, o que dificulta o desenvolvimento das plantas
2010, o governo federal instituiu a Política Nacional de e, consequentemente, a produção de alimentos. A salini-
Resíduos Sólidos (PNRS), que determinava uma série zação dos solos pode se dar por meio de processos natu-
de regras para o manejo sustentável do lixo. Entre ou- rais ou provocados e acelerados pelas atividades huma-
tras medidas, a PNRS estabeleceu que agosto de 2014 nas. A irrigação é a principal prática agrícola responsável
seria o prazo final para as prefeituras erradicarem os li- por induzir ou acelerar esse processo.
xões e passarem a depositar o lixo em aterros sanitá- No mundo, as principais áreas atingidas pela saliniza-
rios. No entanto, amis de 60% dos municípios não con- ção encontram-se na África e na Ásia. Um dos casos
seguiram cumprir a determinação. Um projeto de lei mais conhecidos é o da região do Mar de Aral, na frontei-
tramita no Congresso para estender até 2021 o prazo ra entre o Cazaquistão e o Uzbequistão, na Ásia Central.
para a erradicação dos lixões. Desde o período da União Soviética, extinta em 1990, vi-
RESÍDUOS INDUSTRIAIS : as fábricas nas áreas nham sendo implantados nessa região projetos de irriga-
urbanas também depositam grandes quantidades de re- ção, em especial para a produção de algodão.
síduos industriais, como produtos químicos e metal pe- HIDROSFERA
sado, em áreas próximas de onde estão instaladas.
Com o tempo, esses elementos infiltram-se no solo, que UM A ESPER ANÇA DE ARIDEZ NO SERT ÃO
fica contaminado e improdutivo, podendo provocar do- Em meio à maior estiagem dos últimos 100 anos no
enças nos habitantes que vivem próximos à indústria. Nordeste, a inauguração de um trecho de transposi-
AGROTÓXICOS: o uso de agrotóxicos para fertilizar o ção do Rio São Francisco pode amenizar os efeitos da
solo eliminar ervas daninhas e destruir pragas pode au- seca.
mentar a produtividade agrícola em grande escala, mas Os nordestinos estão enfrentando mais uma rigorosa
produz um nefasto efeito colateral: a contaminação do seca. Embora estiagens severas costumem castigar a re-
solo. Com o tempo, esses resíduos químicos vão se a- gião de tempos em tempos, desta vez a situação é mais
cumulando e ajudam a degradar ainda mais as áreas grave: o Nordeste não via uma seca tão imensa para um
agrícolas, tornando-as impróprias para o cultivo. Ou se- período consecutivo como este desde 1910.
ja, apesar dos ganhos produtivos no curto prazo, a apli- A área mais afetada é o semiárido, região que abriga 2
cação intensiva de agrotóxicos é uma prática insusten- milhões de pessoas. Com a ausência de chuvas, os gran-
tável para a agricultura. Segundo a Organização das des reservatórios da região estão secando. No início de
Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FA- 2017, eles operavam com somente 16% da capacidade.
O), um quarto dos solos do planeta está degradado, afe- Segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), dos 533
tando diretamente a produção mundial de alimentos. reservatórios monitorados pelo órgão na região, 142 esta-
vam vazios. A situação é mais crítica no Ceará, onde os reza impõe restrições. Enquanto regiões como a Amazô-
açudes estavam com 7% de sua capacidade em janeiro nia é riquíssima em recursos hídricos, trechos da África e
deste ano. do Oriente Médio sofrem com uma brutal escassez, res-
A estiagem pode levar o fornecimento de água nas á- ponsável, inclusive, por sérios conflitos armados. Para pi-
reas urbanas ao colapso, provocando sérios transtornos à orar, a ação do homem em nada vem ajudando a tornar a
população. Em vários municípios de pequeno porte, o a- distribuição e o acesso à água mais democráticos. Se ho-
bastecimento já está sendo feito com caminhões-pipa. je 2,4 bilhões de pessoas não têm acesso à água tratada,
Nas regiões rurais, o problema é outro. Agricultores per- isso se deve principalmente ao mau gerenciamento das
dem suas plantações e veem o gado morrer. Em Per- fontes naturais e à falta de equilíbrio entre a renovação e
nambuco, o rebanho bovino, composto em 2011 por 2,5 o consumo da água.
milhões de cabeças, teve uma baixa de 554 mil animais O CICLO HIDROLÓGICO:
no ano passado. Toda a água disponível no planeta está em constante
A boa notícia é que em março foi inaugurado o primei- renovação. Esse processo no qual a água se desloca da
ro trecho do projeto de transposição do Rio São Francis- superfície terrestre e da atmosfera, passando pelos es-
co, que prevê o deslocamento de parte das águas desse tados líquido, sólido, e gasoso, recebe o nome de ciclo
manancial por canais artificiais para reservatórios situa- hidrológico.
dos no semiárido nordestino. Apontada desde o tempo do Um dos responsáveis por esse processo é a energia
Império como uma solução para a seca no Nordeste, a solar, que incide na superfície do planeta e provoca a
transposição começou a sair do papel em 2007, consu- evapotranspiração das águas, ou seja, elas passam do
mindo investimentos da ordem de 9,6 bilhões de reais. estado líquido para o gasoso. A evaporação dos ocea-
O projeto se estende por 477 quilômetros e é dividido nos ocorre com maior intensidade, mas o fenômeno a-
em dois eixos. O leste é o trecho recém-inaugurado. Com contece ainda em rios, lagos demais águas continentais.
217 quilômetros, ele beneficiará 4,5 milhões de pessoas A transpiração das plantas também contribui para a e-
em 168 localidades da Paraíba e de Pernambuco. Já o vaporação da água.
eixo norte, com 260 quilômetros, tem inauguração previs- O vapor de água resultante desse processo dá ori-
ta ainda para 2017 e atenderá 222 municípios e 7,5 mi- gem às nuvens, que se deslocam com o movimento de
lhões de pessoas no Ceará e Rio Grande do Norte. rotação da Terra e dos ventos. Quando as nuvens se
Nas páginas seguintes, você vai saber mais sobre a condensam, ocorre a precipitação, e a água volta para a
hidrosfera e a importância estratégica da água, além de superfície terrestre, atingindo tanto o continente quanto
entender como a crise hídrica é um fenômeno que preo- os oceanos. Essa precipitação pode ser líquida, no caso
cupa não apenas a população do Nordeste, mas também das chuvas, ou sólida, se cair na forma de neve ou gra-
de outras regiões do Brasil e do mundo. nizo. Tudo depende das condições climáticas da região.
A TERRA É AZUL Ao atingir os continentes, a água da precipitação po-
de percorrer alguns caminhos:
Ocupando mais de 70% da superfície terrestre, a hi-  Volta para a atmosfera, em novo processo de evapo-
drosfera domina a paisagem do nosso planeta. transpiração;
Primeiro homem a ver o planeta do espaço, o astro-  Infiltra-se no solo, alimentando as águas subterrâ-
nauta russo Yuri Gagárin tornou célebre a frase em que neas;
descreveu o que observou lá de cima: “A Terra é azul”. A
 É escoada na direção dos rios, lagos e mares.
coloração do nosso planeta visto da órbita terrestre é
O destino dessas águas é influenciado por fatores
consequência do enorme volume de água de que a Terra
como a cobertura vegetal, as condições climáticas e a
dispõe. São cerca de 1,4 bilhão de quilômetros cúbicos
geologia e a altitude. Em áreas mais áridas, por exem-
que cobrem mais de 70% da superfície do globo.
plo, a evaporação é maior que a infiltração, ao passo
O conjunto de toda a água do planeta recebe o nome
que, em terrenos arenosos, a água se infiltra mais rapi-
de hidrosfera. Há cerca de 4 bilhões de anos, quando
damente.
nosso planeta era uma nuvem quente de poeira e gás, a
água encontrava-se misturada a outros gases, no estado IMENSIDÃO M AR INHA
de vapor. À medida que o planeta esfriava, esse vapor foi Quase a totalidade da hidrosfera é formada por ocea-
se condensando e, sob a forma de chuva, precipitando-se nos e mares, habitat da maioria das espécies do pla-
sobre a superfície. Dessa longa e caudalosa tempestade neta e responsáveis por grande parcela da atividade
formaram-se os oceanos, mares e o conjunto das “águas econômica mundial.
continentais”, composto de rios, lagos, lençóis subterrâ- As águas marinhas dividem-se em oceanos (grandes
neos, geleiras e neves eternas. áreas) e mares (áreas menores). Juntas, essa imensidão
Mas todo esse volume de água que cobre o planeta de água salgada representa 97,5% de toda a hidrosfera.
não está à disposição para o nosso consumo. Desse 1,4 Conforme veremos a seguir, os oceanos e mares têm
bilhão de quilômetros cúbicos de água que revestem o uma incalculável importância para o equilíbrio do planeta,
globo, apenas 2,5% são de água doce – algo em torno de tanto nos aspectos ambientais como socioeconômicos. A
35 milhões de quilômetros cúbicos. Além disso, a maior própria origem da vida, de acordo com a teoria do Big
parte da água ou está congelada nas geleiras e calotas Bang, teria ocorrido nos oceanos há cerca de 3,5 bilhões
polares ou encontra-se escondida em depósitos subterrâ- de anos.
neos. A real proporção da água a que o homem tem a- A ORIGEM DA ÁGUA SALG ADA:
cesso fácil – a superficial, de rios lagos e pântanos – é de, Durante centenas de milhões de anos, a chuva foi
no máximo, 0,4% da água doce existente no mundo. Ou formando os rios – que, por sua vez, dissolveram rochas
seja, temos 100 mil quilômetros cúbicos para matar a se- de diferentes períodos geológicos, nas quais o sal co-
de, cuidar da higiene, gerar energia, produzir alimentos e mum, cloreto de sódio (NaCl), é encontrado em abun-
bens industriais. Não é exatamente pouca água – imagine dância. Como todos os cursos de água correm para o
que cada pessoa tenha direito a mais de 570 bilhões de li- oceano, os mares ficam com quase todo o sal dissolvido
tros por dia, durante 75 anos. nesse processo. Além disso, as partículas de cloro e de
O problema é que a água não é distribuída assim, de sódio suspensas na atmosfera também são levada pela
forma equilibrada, entre toda a população. A própria natu-
chuva, completando o processo. Ainda assim, a salini- Oceano Pacífico é um elo cada vez mais forte entre
dade de uma massa de água depende principalmente as economias ocidentais e orientais. Já o Oceano Ín-
de sua taxa de evaporação, que acaba determinando a dico é percorrido por embarcações que exploram o
concentração do sal. É por isso que lagos e açudes po- petróleo no Oriente Médio, sobre tudo no Golfo Pér-
dem se tornar salgados em regiões de muito calor, co- sico.
mo ocorre no nordeste brasileiro. Por essa mesma ra-  TURSIMO: o turismo marítimo é outra atividade em
zão, os mares equatoriais são mais salgados do planeta expansão, explorando as orlas marítimas com a im-
são o Mar Morto, no interior da Ásia, e o Mediterrâneo. plantação de balneários, navegação, pesca esportiva
O menos salgado é o Mar Báltico, no norte da Europa, e atividades de mergulho. A indústria turística tam-
que, por causa de seu baixo teor de sal, chega a ficar bém projeta suas atividades para o alto-mar com a
congelado durante o inverno. navegação dos cruzeiros marítimos.
A BIODIVERSIDADE MAR INHA: CONTROLE DO M ARES E OCEANOS:
A grande biodiversidade marinha pode ser confirma- A importância geopolítica dos mares e dos oceanos
da estatisticamente: dos 33 filos (grandes grupos de se- reflete-se nas disputas que muitas nações travam entre
res vivos), 15 são exclusivamente marinhos e cinco são si para poder exercer sua soberania sobre o território
predominantemente marinhos. São mais de 230 mil es- marítimo. A dificuldade em estabelecer as faixas oceâ-
pécies conhecidas nos mares e oceanos, porém estima- nicas a que cada país tem direito deu origem à Conven-
se que o número ultrapasse 1 milhão de espécies. ção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. Ela de-
Os ambiente diversificados propiciam a formação de termina os limites do mar territorial, ou seja, as águas
ecossistemas diversos, desde as águas rasas e quentes que fazem parte do território nacional de cada país, on-
das costas continentais – com grande aporte de alimen- de possuem total soberania econômica e militar. Além
tos provenientes dos rios – até águas profundas, frias e do mar territorial, são definidas as zonas contíguas, nas
sem luz, com erupções de lava e gás metano, entre ou- quais o Estado deve fiscalizar e combater crises ambi-
tros materiais tóxicos para as espécies da superfície. entais; as zonas econômicas exclusivas, que estabelece
Algumas espécies da superfície. Algumas espécies ma- direitos absolutos para a realização de pesquisas e ex-
rinhas têm funções vitais para o planeta Terra em escala ploração econômica; e a plataforma continental, área na
global, como o plâncton, cuja absorção de CO2 é maior qual o país detém direitos sobre o assoalho marítimo e o
do que a de todas as florestas da terra emersas soma- subsolo.
das. Na zona econômica exclusiva brasileira, estão 91%
A ECONOMIA DOS M ARES E DOS OCEA- de todo o petróleo explorado pelo país, incluindo as ja-
NOS: zidas do pré-sal. Diante da necessidade de garantir sua
Os mares e oceanos são explorados economicamen- proteção, em 2004, o Brasil solicitou à ONU que esten-
te desde os primórdios da existência dos seres huma- da sua soberania sobre a área de mar acima da plata-
nos para a obtenção de alimentos e energia, o transpor- forma continental para até 350 milhas náuticas (648 qui-
te, o lazer, entre outras atividades. As rotas estabeleci- lômetros), conforme prevê a convenção, mas ainda ob-
das no período das Grandes Navegações (séculos XV e teve aval sobre essa decisão.
XVII) mudaram o mapa econômico mundial, ampliando M AR DO SUL DA CHINA:
numa escala jamais vista até então as trocas comerciais O Mar do Sul da China é uma das principais regiões
e a exploração de recursos naturais do planeta. em disputa no mundo atualmente. Além de ser um im-
Atualmente, merecem destaque as seguintes ativida- portante rota marítima, o local tem grande potencial para
des econômicas assentadas na exploração dos mares e exploração petrolífera. A China alega ter precedência
dos oceanos: histórica sobre a região e explora economicamente suas
 A PESC A: base da alimentação de milhões de pes- águas. No entanto, em julho de 2016, a ONU atacou um
soas, a pesca tradicional e industrial é feita em todos pedido das Filipinas e decidiu que a China não tem base
os oceanos e na maioria dos mares, sobretudo em legal para reivindicar “direitos históricos” no Mar do Sul
áreas costeira. A produtividade é maior em regiões da China. O governo de Pequim disse que não irá reco-
banhadas por correntes marítimas frias. Um bom e- nhecer a decisão e manterá o controle da região.
xemplo é a corrente de Humboldt, que passa pela RESERVAS VIT AIS
costa peruana.
 EXTRATIVISMO MINERAL : além da extração de Saiba onde ficam as principais fontes de água doce,
petróleo e gás natural, explorado em áreas como a que representam menos de 3% de toda a hidrosfera.
Bacia de Campos, o Golfo Pérsico e o Golfo do Mé- Apesar de a água dominar a paisagem do globo, a
xico, outros recursos minerais são prospectados em quantidade de H2O disponível para nosso consumo é
águas oceânicas. Merece destaque a mineração feita proporcionalmente irrisória: do 1,4 bilhão de quilômetros
no Mar Morto, de cujo leito se extraem grandes quan- cúbicos da água da hidrosfera, apenas 2,5% são de água
tidades de potássio, o que coloca Israel e Jordânia doce. Mas a garganta começa a secar mesmo quando
na lista dos dez maiores exportadores desse mineral. observamos que a maior parte de água doce, quase 70%,
O produto é utilizado, entre outras aplicações, na fa- está sob a forma de gelo, ou seja, indisponível, nos polos.
bricação de adubos químicos. Já África do Sul e Na- As principais fontes para matar a sede dos bilhões de
míbia exploram diamantes nos mares que banham o seres vivos no mundo são: as águas subterrâneas, capta-
seu litoral. das por meio da exploração de poços; as águas de super-
 ROTAS COMERCIAIS: cerca de 80% das merca- fície, que englobam desde lagos e rios até a umidade do
dorias comercializadas entre diferentes países no solo; e a água presente na atmosfera. Tudo isso junto,
mundo são transportados por navios cargueiros, que contudo, não atinge 1% do volume da água da hidrosfera.
diariamente atravessam os oceanos. O Oceano A- Seja como for, mesmo que o volume relativo seja mínimo,
tlântico é intensamente explorado economicamente, os números absolutos de H2O à nossa disposição ainda
em especial no Atlântico Norte, onde se encontram são bastante significativos, desde que administrados raci-
rotas que interligam as potentes economias da Amé- onalmente e preservados de qualquer contaminação.
rica do Norte e os países da Europa Ocidental. O Confira a seguir as características dos reservatórios que
guardam todo esse precioso líquido.
GELEIRAS: Aquífero Guarani é um dos maiores reservatórios de
Reservatório de 68,7% da água doce do planeta, as água doce do mundo, ocupando aproximadamente 1,1
geleiras são enormes massas formadas pelo acúmulo milhão de quilômetros quadrados. Desse total, 70% es-
de neve no decorrer de milhares de anos. Existem em tão em território brasileiro, estendendo-se do Centro-
áreas planas próximas aos polos ou na forma de imen- Oeste ao Sudeste e Sul, e o restante está em territórios
sos rios de gelo que avançam lentamente pelos vales do Uruguai, do Paraguai e da Argentina. As reservas po-
em altas latitudes ou em cordilheiras elevadas. tenciais calculadas do Guarani são de 37 trilhões de me-
As geleiras se movimentam: descem encostas pela tros cúbicos de água. Atualmente, o aquífero é larga-
ação da gravidade ou se espalham pelo solo com a for- mente explorado para a irrigação agrícola.
ça de seu peso. Em seu trajeto, elas desgastam as ro- Outro importante aquífero brasileiro é o Álter do
chas e, ao chegar a mares e lagos, dão origem a plata- Chão, na Amazônia. Estudos preliminares situam no en-
formas de gelo. Os icebergs são massas de gelo que se tre os maiores do mundo em volume de água. Com área
desprendem dessas plataformas e flutuam pelos ocea- de 437,5 mil quilômetros quadrados, há projeções que
nos. indicam que o Álter do Chão tenha 86 trilhões de metros
LAGOS: cúbicos de água, o que, caso confirmado, superaria em
Os lagos, definidos conceitualmente como corpos de muito o Guarani.
água parada, são a maioria da água doce de superfície ONDAS DE DESTRUIÇÃO
disponível para consumo. Podem ser formados de vá-
rias maneiras: por acúmulo de água da chuva, aflora- Tremores provocados por fenômenos geológicos no
mento de uma nascente, pela alimentação de rios ou fundo do mar dão origem aos terríveis tsunamis.
pela erosão glacial (desgaste das rochas provocado pe- A palavra tsunami em japonês significa “onda de porto”
lo movimento das geleiras). Essa última explica a ori- e dá nome a um fenômeno conhecido como maré de ter-
gem dos Grandes Lagos da América do Norte, que abri- remoto. Os tsunamis são ondas gigantescas, com mais
gam 27% da água doce proveniente de lago do planeta. de 30 metros de altura, provocadas por perturbações nas
Também são lagos os mares fechados, sem ligação profundezas do mar, como abalos sísmicos (maremotos),
com o oceano, como o Mar Cáspio – o maior lago do erupções vulcânicas ou deslizamentos no fundo oceânico.
mundo, com área de 370 mil quilômetros quadrados – e Os tremores provocados por esses fenômenos geológicos
o Mar Morto. Outro mar, o de Aral, enfrenta enorme de- propagam uma série de ondulações por grandes distân-
sastre ambiental e perdeu cerca de 90% do volume total cias na superfície do oceano. Essas ondas são inicial-
de água. mente bastante longas e baixas, não mais que 0,3 a 0,6
RIOS: metro. Entretanto, a coisa se complica quando elas se a-
São cursos naturais de água que se deslocam de um proximam da costa, onde a profundidade diminui e surge
ponto mais alto (nascente) até um nível mais baixo (foz atrito com o fundo do oceano.
ou desembocadura), onde lançam suas águas. A foz O resultado é que as ondas passam a ser comprimi-
pode ser um mar, lago, pântano ou rio. Os rios aumen- das num espaço cada vez menor, o que as obriga a subir.
tam progressivamente de volume ao longo de seu per- Os tsunamis, então, formam uma coluna descomunal, su-
curso, alimentados por novos cursos de água - outros gando o mar da costa a ponto de deixar parte do solo o-
rios, riachos e nascentes. ceânico descoberto. Esse é o último aviso. Minutos de-
As chuvas também reforçam o fluxo o rio, pois as pois, eles chegam, em geral catastroficamente.
águas se infiltram no terreno ou escorrem em filetes até TERRITÓRIO CAUDALOSO
atingir os riachos. A parte absorvida pelo solo penetra O Brasil concentra mais de 10% da água doce dispo-
até estratos inferiores, formados por rochas impermeá- nível na superfície do planeta. Descubra os meandros
veis, e continua se movimentando subterraneamente das águas que percorrem nosso país.
conforma a inclinação da camada rochosa, criando os Enquanto várias regiões do planeta são poucos privi-
lençóis freáticos. Mais adiante, essa água retorna à su- legiadas em relação à disponibilidade de água, o Brasil
perfície em nascentes, que alimentam os cursos de á- não tem do que reclamar nesse quesito: nosso território
gua. O derretimento da neve acumulada no cume das concentra mais de 10% da água superficial disponível pa-
montanhas é outro fator que participa da formação dos ra consumo no mundo. Toda essa caudalosa riqueza está
rios. espalhada pelos milhares de rios que percorrem o país. A
ÁGUAS SUBTERRÂNEAS: maioria desses rios nasce em regiões de altitude média –
As águas subterrâneas são o segundo grande depó- o Amazonas, que tem origem na cordilheira dos Andes, é
sito de água doce da Terra, com 30,1% do volume total. uma das exceções. Uma característica importante é o
Elas se acumulam em reservatórios naturais no interior predomínio de rios de planalto, o que permite bom apro-
da crosta terrestre graças à infiltração das águas super- veitamento hidrelétrico.
ficiais em áreas com rochas porosas. Essas fontes de O regime dos rios brasileiros é pluvial, ou seja, são a-
água doce são essenciais para o abastecimento de di- limentados pela água da chuva (o Amazonas é exceção,
versas regiões do globo onde há carência permanente pois também recebe neve derretida dos Andes). Em virtu-
ou sazonal de águas superficiais, com destaque para o de da predominância do clima tropical no país, com bas-
norte da África, Oriente Média, algumas regiões dos Es- tante chuva, nossos rios são majoritariamente perenes
tados Unidos, China e Índia. São utilizadas na irrigação (nunca secam). Desaguando no Oceano Atlântico ou em
agrícola e no consumo de pessoas e animais. Também outros afluentes que correm para o mar, eles têm, em sua
têm importante papel na manutenção da umidade do so- maioria, foz do tipo estuário: o canal se afunila, e as á-
lo e na alimentação de rios e lagos. guas são lançadas livremente no oceano. Outro tipo de
No Brasil, as reservas de águas subterrâneas nos foz é o delta, em que aparecem ilhas na região do desá-
aquíferos são estimadas em 112 mil quilômetros cúbi- gue. Há, ainda, a foz mista, como a do Amazonas.
cos. Neles, a água se distribui de maneira irregular e em Apesar de a água ser abundante aqui no Brasil, o país
grandes extensões, o que dificulta a obtenção de dados não está livre do problema da falta de água. Isso porque
preciosos sobre esses reservatórios subterrâneos. Cal- as fontes naturais são mal distribuídas pelo território e há
cula-se que existam 27 aquíferos principais no país. O uma crônica má administração dos recursos hídricos.
O vasto emaranhado de afluentes nacionais está Paulo. Essa bacia apresenta o maior aproveitamento hí-
agrupado em oito grandes bacias hidrográficas. As baci- drico do Brasil, abrigando hidrelétricas como a de Itaipu.
as, por sua vez, reúnem-se em regiões hidrográficas para Afluentes do Paraná, como o Tietê e o Paranapanema,
facilitar o planejamento ambiental e o uso racional dos re- também têm grande potencial para gerar energia. A hi-
cursos. Veja a seguir cada um das oito grandes regiões drovia Tietê-Paraná é a mais antiga do país.
hidrográficas do Brasil. REGIÃO HIDROGRÁFICA DO RIO PAR AGUAI:
REGIÃO HIDROGRÁFICA DA AM AZÔNIA: É constituída pela bacia brasileira do Rio Paraguai,
Engloba a maior bacia hidrográfica do mundo, a A- abrigando a grande planície do Pantanal Mato-
mazônica, com área de 3,8 milhões de quilômetros qua- Grossense. Com sua nascente em território brasileiro,
drados em terras brasileiras, o equivalente a cerca de na Serra do Araporé, próximo de Cuiabá (MT), o Rio Pa-
60% do total (os outros 40% distribuem-se nos territórios raguai ocupa uma região de 363 mil quilômetros qua-
de Peru, Colômbia, Equador, Venezuela, Guiana e Bolí- drados no Brasil, correspondente a cerca de um teço da
via). Seu curso principal nasce no Peru, com o nome de área total, e inclui também Argentina, Bolívia e Para-
rio Vilcanota, e recebe depois as denominações de U- guai. Seus rios são muito usados para a navegação e
caiali, Urubamba, Marañón e Amazonas. Quando entre para o consumo animal.
no Brasil, vira Solimões, até o encontro com o rio Negro; REGIÃO HIDROGRÁFICA DO RIO URUGUAI:
desse ponto até a foz, volta a se chamar Amazonas. Com cerca de 274 quilômetros quadrados, é constitu-
Seus principais afluentes no Brasil são os rios Madeira, ída pela parte brasileira da bacia do Uruguai, rio que
Tapajós e Xingu, na margem direita, e, na margem es- surge da união dos rios Pelotas e Canoas. Tem grande
querda, Negro, Trombetas e Paru. Um estudo divulgado importância tanto pelo potencial hidrelétrico como pela
em 2008 pelo INPE mostrou que o rio Amazonas é o concentração de atividades agroindustriais na região.
maior do mundo: o rio brasileiro tem 6.992 quilômetros REGIÃO HIDROGRÁFICA DO ATLÂNTICO:
de extensão, superando o rio Nilo, com 6.852 quilôme- Trata-se de um conjunto de várias pequenas e mé-
tros. A confirmação desses dados, contudo, ainda de- dias bacias costeiras formadas por rios que deságuam
pende da aceitação de instituições geográficas interna- no Atlântico, exceto os do Amapá, que fazem parte da
cionais. região hidrográfica Amazônica. São cinco regiões:
A bacia Amazônica tem mais de 20 mil quilômetros  A Atlântico Nordeste Ocidental, de 274 quilômetros
de rios navegáveis. Hidrovias como a do Rio Madeira, quadrados, abriga os rios situados entre a foz do Gu-
que opera de Porto Velho a Itacoatiara, servem de es- rupi (divisa Pará-Maranhão) e a do Rio Parnaíba (di-
coadouro para a produção agrícola do Centro-Oeste. visa Maranhão-Piauí).
REGIÃO HIDROGRÁFICA DOS RIOS TOCAN-  A Atlântico Nordeste Oriental, de 286 mil quilômetros
TINS- ARAGUAI A: quadrados, fica entre a foz do Paranaíba e a do São
Ocupando 921 mil quilômetros quadrados, essa área Francisco, na divisa entre Alagoas e Sergipe.
é definida pela bacia do Rio Tocantins. Ele nasce em  A Atlântico Leste, com 338 mil quilômetros quadra-
Goiás e desemboca na foz do Rio Amazonas. Parte de dos, vai da foz do São Francisco ao Rio Mucuri (ex-
seu potencial hidrelétrico é aproveitada pela usina de tremo sul da Bahia).
Tucuruí, no Pará. Já o Rio Araguaia nasce em Mato  A Atlântico Sudeste, com 215 mil quilômetros qua-
Grosso, na divisa com Goiás, unindo-se ao Rio Tocan- drados vai do Mucuri à área da divisa entre São Pau-
tins no extremo norte do estado do Tocantins. lo e Paraná.
REGIÃO HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO FRAN-  Por fim, a Atlântico Sul abrange as bacias dos rios I-
CISCO: tajaí, Capivari e aquelas ligadas ao Rio Guaíba e ao
Possui uma área de 638 mil quilômetros quadrados e sistema lagunar do Rio Grande do Sul, somando 187
seu principal rio é o São Francisco, com cerca de 2,7 mil mil quilômetros quadrados de área.
quilômetros de extensão. O Velho Chico nasce em Mi-
O MUNDO TEM SEDE
nas Gerais e percorre os estados da Bahia, de Pernam-
buco, Alagoas e Sergipe até a foz, na divisa entre esses Entenda como a ação do homem pressiona as fontes
dois últimos estados. É o maior rio totalmente localizado da água e provoca disputas pelo controle de bacias
em território brasileiro, sendo essencial para a economia hidrográficas no mundo.
das localidades que percorre – grande parte localizada Se hoje uma a cada nove pessoas no mundo não tem
em região semiárida –, pois permite a atividade agrícola acesso à água potável em quantidade necessária para
em suas margens e oferece condições para a irrigação garantir sua saúde, é porque a ação do homem está inter-
artificial de áreas mais distantes. Essa, inclusive, é uma ferindo diretamente nessa relação entre a oferta e a de-
das questões em debate em torno do projeto de trans- manda de água potável. O aumento populacional, o con-
posição das águas do São Francisco. sumo crescente, o desperdício, a contaminação dos ma-
REGIÃO HIDROGRÁFICA DO RIO PAR AÍBA: nanciais e as alterações climáticas exercem grande pres-
Segunda principal região hídrica do Nordeste, atrás são sobre as fontes de abastecimentos de água.
da região do São Francisco, ocupa uma área de 333 mil A população mundial saltou de 2,5 bilhões de pessoas
quilômetros quadrados, entre os estados do Ceará, Ma- em 1950 para mais de 7 bilhões atualmente. E esse ace-
ranhão e Piauí. Ao desaguar no oceano Atlântico, fa- lerado crescimento demográfico não significa apenas
zendo a divisa do Piauí com o Maranhão, o Rio Paraíba maior consumo de água em nossas casas. Com mais
forma um delta oceânico. A piscicultura é a principal ati- gente no mundo, nossa sociedade precisa aumentar a
vidade econômica praticada no rio. produção no campo para produzir alimentos e na indústria
REGIÃO HIDROGRÁFICA D O RIO PAR AN Á: para gerar os bens que consumimos. Como o desenvol-
Abrangendo uma das áreas com o maior desenvol- vimento industrial e agropecuário é hoje responsável pelo
vimento econômico do país, a região da bacia do Para- consumo de 90% de toda a água utilizada pela humani-
ná tem cerca de 880 mil quilômetros quadrados. O Rio dade, é possível ter uma dimensão da pressão que esse
Paraná, com quase 3 mil quilômetros metros de exten- aumento populacional exerce sobre as fontes hídricas.
são, nasce na junção dos rios Paranaíba e Grande, na DISPUT AS POR ÁGUA:
divisa entre Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e São
À medida que um bem tão essencial para a vida hu- Em março de 2017, o eixo este da obra foi inaugura-
mano começa a se esgotar, as disputas pelas fontes hí- do, levando as águas do “Velho Chico” para cidades de
dricas tornam-se mais frequentes. O maior foco de ten- Pernambuco e da Paraíba. O governo anunciou que a
são é a exploração de rios e bacias hidrográficas que se obra será concluída ainda em 2017.
espalham pelos territórios de diferentes países. Quais A CRISE HÍDRICA NAS GRANDES METRÓPO-
nações têm direito ao controle dessas águas? Qual é a LES:
forma mais justa de compartilhar os recursos hídricos? Nem mesmo o Sudeste, caracterizado pela grande
Como não há resposta simples a estas perguntas, as presença de umidade, está imune à escassez de água.
disputas envolvendo o controle de reservas hídricas já Uma grave crise hídrica atingiu todos os estados da re-
estão se tornando uma realidade em diversos lugares gião em 2014 e 2015 e foi especialmente aguda em São
do mundo. Na Bacia do Rio Nilo, por exemplo, a cons- Paulo e sua região metropolitana. Responsável pelo a-
trução de uma hidrelétrica pelo governo da Etiópia pode bastecimento de 8,8 milhões de pessoas, o Sistema
afetar o fluxo de água para outras nove nações africa- Cantareira quase entrou em colapso, e o governo esta-
nas. Da mesma forma, uma barragem construída pela dual foi obrigado a utilizar o chamado volume morto –
Turquia na Bacia do Tigre e do Eufrates é criticada pe- uma reserva técnica que fica abaixo das comportas das
las autoridades da Síria e do Iraque por diminuir a vazão represas.
desses rios. Por sua vez, o governo chinês também está Ainda que a estiagem tenha contribuído para agravar
erguendo hidrelétricas no Rio Mekong, afetando o abas- a situação, a crise reflete a falta de planejamento e in-
tecimento de água para países como Índia, Laos, Cam- vestimentos no sistema de abastecimento de água. Por
boja e Vietnã. isso, apesar de o pior da crise já ter sido superado, o se-
ACESSO DESIGUAL tor ainda apresenta sérios problemas estruturais. Veja
alguns dos principais entraves que o setor enfrenta na
Seja por aspectos climáticos ou má gestão dos recur- região:
sos hídricos, o Brasil também enfrenta o problema da  Há pelo menos duas décadas, especialistas em re-
seca. Veja a situação do Nordeste e no Sudeste, duas cursos hídricos alertam que as regiões metropolita-
das regiões mais afetadas atualmente. nas devem criar medidas para atender ao aumento
Mesmo concentrando cerca de 12% das reservas da demanda de água nessas regiões, fruto de cres-
mundiais de água doce e sendo privilegiado por uma pro- cimento populacional. Entretanto, as obras para au-
fusão de rios, o Brasil não está imune à escassez hídrica. mentar a captação, o tratamento e a distribuição de
Um dos problemas é que o precioso líquido não é distribu- água não foram realizadas ou foram feitas em ritmo
ído de maneira uniforme pelo território nacional. Os esta- muito abaixo do que seria necessário.
dos do Norte, com somente 8% da população, têm quase  A lentidão ou a conivência do poder público na ques-
70% das reservas hídricas. Em compensação, o Nordes- tão da ocupação das áreas de mananciais reduziu a
te, que concentra 28% da população, possui apenas 3% capacidade de reposição da água em grandes reser-
da água disponível e é a região mais afetada pela seca no vatórios, como o da Cantareira e do Alto Tietê. Essa
país. ocupação, fruto do crescimento desordenado das ci-
No Nordeste, a escassez hídrica está diretamente re- dades, ocorreu com a implantação de áreas residen-
lacionada com o clima semiárido do sertão. A presença ciais e comerciais (agrícolas e industriais), provocan-
de uma massa quente e seca que estaciona na região du- do desmatamento, impermeabilização do solo e polu-
rante longos períodos é responsável pela falta de chuvas. ição das águas.
Alguns fenômenos climáticos sazonais, como a ocorrên-
 Há fortes críticas de diversos setores da sociedade
cia do El Niño, podem agravar ainda mais a situação.
sobre o modelo de gestão público-privada dos recur-
A seca do Nordeste é um fenômeno constatado desde
sos hídricos. Em São Paulo, a Sabesp é uma empre-
o período colonial. Portanto, as autoridades ao longo das
sa de capital misto (51% do controle do Estado e o
últimas décadas já poderiam ter desenvolvido políticas
restante pertence a investidores privados), com a-
públicas eficazes para minimizar os efeitos da baixa plu-
ções negociadas na bolsa de valores. Esse modelo
viosidade. Contudo, a construção de açudes, que permi-
concretiza, portanto, a concepção da água como
tem tornar perenes os rios intermitentes, e projetos de ir-
mercadoria voltada para a obtenção de lucro, e não
rigação durante muitos anos beneficiou apenas grandes
como um bem universal e direito de todos.
latifundiários em detrimento da população mais duramen-
 A lentidão ou inexistência de programas de despolui-
te castigada – atitude que ajudou a cunhar o termo “indús-
ção das águas dos rios e lagos em áreas urbanas
tria da seca”, ao perpetuar os problemas decorrentes da
restringe as fontes de água para o abastecimento
estiagem.
público. A coleta de esgoto, serviço cobrado pelas
A TRANSPOSIÇÃO DO RIO S ÃO FRANCISCO:
empresas que fazem a distribuição da água, atende
Atualmente, a principal obra do governo federal para
apenas 65% da população.
combater os efeitos da seca é a transposição do Rio
São Francisco. Iniciadas em 2007, as obras têm como ÁGUAS TURVAS
objetivo desviar uma pequena parcela de seu volume A contaminação das fontes hídricas, que deteriora os
por meio de dutos e canais que devem abastecer rios ecossistemas e provoca milhares de mortes no mun-
menores e açudes que secam durante a estiagem no do, é um dos grandes desafios ambientais da atuali-
semiárido nordestino. O governo acredita que a obra dade.
beneficiará 12 milhões de pessoas e estimulará a agri- Apesar da evidente importância da água para a nossa
cultura nas áreas atingidas. Os críticos da transposição, sobrevivência e para as inúmeras atividades humanas,
porém, acreditam que poços profundos e cisternas (que como produção de alimentos, lazer e transporte, um dos
são reservatórios para a captação de água da chuva) maiores desafios ambientais da atualidade diz respeito à
são alternativas mais eficazes e baratas para combater contaminação das fontes hídricas. A poluição das águas é
a seca, além de argumentar que o projeto não alcançará causada, sobretudo, pelo lançamento de dejetos industri-
muitas comunidades e beneficiará principalmente os ais e agrícolas, esgoto doméstico e resíduos sólidos. Isso
grandes fazendeiros. Existe ainda o temor de que o pro- compromete a qualidade das águas superficiais e subter-
jeto cause impactos ambientais no Rio São Francisco.
râneas em inúmeros pontos do planeta. Segundo estima- no da eutrofização, verificado na poluição por esgoto
tivas da Organização Mundial da Saúde (OMS), 663 mi- doméstico. Estudos mostram que o Aquífero Guarani,
lhões de pessoas ainda consomem água imprópria e em um dos maiores reservatórios de água doce do mundo,
torno de 2,4 bilhões de pessoas não possuem esgota- apresenta elevado grau de contaminação por agrotóxi-
mento sanitário – um terço da população mundial. cos.
Além de indisponibilizar mananciais que poderiam ser ATMOSFERA
utilizados para o consumo de água potável pela popula-
ção, a contaminação das águas está relacionada à trans- UM CÉTICO DO CLIM A N O PODER
missão de diferentes tipos de doenças que, juntas, cau- Ao assumir a presidência dos Estados Unidos, Do-
sam 1,5 milhão de mortes por ano no mundo – as maiores nald Trump impulsiona o uso de combustíveis fósseis
vítimas são as crianças de países pobres e em desenvol- nas usinas termelétricas e ameaça abandonar o Acor-
vimento. Os ecossistemas também são gravemente afe- do de Paris.
tados pela poluição hídrica, que compromete a fauna e a “O conceito de aquecimento global foi criado pelos
flora aquática. Veja a seguir as principais atividades hu- chineses e para os chineses com o objetivo de tornar a
manas responsáveis pela poluição das águas. indústria dos Estados Unidos não competitiva”. A afirma-
A PRECARIEDADE DO SANEAM ENTO BÁSI- ção foi postada no Twitter em novembro de 2012 pelo
CO: magnata Donald Trump. Considerado um cético das mu-
A falta de coleta e tratamento de esgotos industriais danças climáticas, Trump faz parte de um grupo de indi-
e domésticos, sobretudo nas grandes áreas urbanas, víduos que não acredita que a elevação da temperatura
representa uma séria ameaça a rios, lagos e represas. do planeta seja fruto da ação humana.
Esses ambientes sofrem o fenômeno conhecido como De acordo com o novo presidente, as ações de con-
eutrofização: os esgotos domésticos, ricos em matéria tenção ao aquecimento global são um obstáculo para o
orgânica, quando são lançados na água, geram um ex- desenvolvimento da economia dos EUA. Por isso, não
cesso de nutrientes que provoca o crescimento acelera- causou surpresa a decisão de Trump de revisar o Plano
do de plantas e algas aquáticas. Estas, por sua vez, im- de Energia Limpa, em março de 2017. Lançado pelo seu
pedem a passagem de luz e a transferência de oxigênio antecessor, Barack Obama, o plano restringia o uso de
para o meio aquático, favorecendo o desenvolvimento combustíveis fósseis nas usinas termelétricas dos EUA e
de bactérias anaeróbias. era considerado o principal legado ambiental do ex-
No Brasil, de acordo com dados do IBGE de 2015, presidente.
eram atendidos com coleta de esgoto por rede canaliza- Com o decreto assinado por Trump, as usinas podem
da 44,5 milhões de domicílios, nos 5.570 municípios do voltar a utilizar carvão, petróleo e gás sem restrições. A-
país – o que representa 65,3% do total. Ou seja, um ter- lém disso, o presidente dos EUA revogou a moratória so-
ço das residências brasileiras não são atendidas por bre a mineração e a construção de novas usinas de car-
serviços de coleta de esgoto. Segundo o Instituto Trata vão. Essas decisões tendem a impulsionar ainda mais a
Brasil e o Conselho Empresarial Brasileiro para o De- emissão de gases do efeito estufa pelos EUA.
senvolvimento Sustentável (CEBDS), em 2014 apenas Outra preocupação dos ambientalistas diz respeito à
12 dos 100 maiores municípios brasileiros haviam cum- promessa de Trump de retirar os EUA do Acordo de Pa-
prido as exigências do Plano Municipal de Saneamento ris, o pacto contra o aquecimento global firmado por 195
Básico (PMSB), que prevê ações de abastecimento de países em 2015. O objetivo do acordo é limitar o aumento
água, tratamento de esgotos, coleta e tratamento de es- da temperatura no final deste século. Para isso, os países
gotos, coleta e tratamento de resíduos sólidos e manejo signatários se comprometeram a adotar medidas para re-
das águas pluviais urbanas. Nota-se, ainda, grandes duzir a emissão de gases de efeito estufa, a principal
disparidade entre as regiões quanto à coleta de esgoto. causas da elevação da temperatura. O compromisso, no
A DEPOSIÇÃO DE LIXO E VAZ AM ENTOS NOS entanto, é voluntários e cada país define sua meta.
OCEANOS: A participação norte-americana no Acordo de Paris é
Os oceanos são os principais “corredores” do trans- vital para que o pacto tenha êxito. Primeiro, porque os
porte mundial de mercadorias e matérias-primas. Os mi- EUA são um dos maiores poluidores globais. Além disso,
lhares de navios cargueiros e de pesca industrial provo- o acordo prevê que os países ricos garantam um financi-
cam, nas rotas mais utilizadas, a poluição das águas amento anual de 100 bilhões de dólares para as nações
com vazamentos de combustíveis e deposição de lixo. mais vulneráveis investirem em energias limpas – e a
Outras fontes de resíduos sólidos nos oceanos, princi- contribuição dos EUA é essencial.
palmente de plásticos e outros materiais não biodegra- Neste capítulo, aprofundamos a discussão a cerca dos
dáveis, são as cidades litorâneas e a descarga de rios efeitos da ação humana sobre o aquecimento global e
poluídos nas águas oceânicas. discutimos outros assuntos referentes ao clima e à meteo-
Os vazamentos de petróleo que ocorrem com certa rologia do Brasil e do mundo.
frequência nos poços explorados no assoalho oceânico
também estão entre as principais fontes poluidoras dos VAPOR ESSENCIAL
oceanos. Explore as diversas camadas da atmosfera, a invisível
O USO DE ADUBOS QUÍM ICOS E DE AGRO- esfera de gás que envolve a Terra e garante a existên-
TÓXICOS NA PRODUÇÃO AGRÍCOLA: cia de vida no planeta.
A agricultura comercial, voltada para a produção de Foi da junção de duas palavras gregas, atmós (vapor)
commodities comercializadas em escala global, utiliza e sphaîra (esfera), que nasceu o nome da estrutura de
toneladas de adubos químicos para aumentar a produti- gás que envolve um satélite ou planeta: a atmosfera. Na
vidade e de produtos tóxicos para controlar a prolifera- Terra, essa “esfera de vapores” é composta de diversas
ção de pragas (insetos, doenças e plantas indesejadas) camadas e, em sua porção mais densa, chega a até 600
nas lavouras. Além de contaminar os solos, o uso des- quilômetros de altitude a partir do nível do mar. É uma
ses produtos dá origem ao processo de fertilização arti- espessura considerável, mas quase irrisória se conside-
ficial das águas de rios, lagos e oceanos com nutrientes, rarmos o tamanho do globo terrestre, de aproximadamen-
principalmente nitrogênio e fósforo. É o mesmo fenôme- te 12,8 mil quilômetros de diâmetro. Mas, independente-
mente de sua espessura, a atmosfera é essencial para a A chuva de convecção é resultante da ascensão do
vida. Além de conter o oxigênio que respiramos, ela man- vapor-d‟água das partes mais baixas da atmosfera –
tém a Terra quente, protege os seres vivos dos raios ul- mais aquecido, ele esfria e se condensa à medida que
travioleta vindos do Sol e funciona como um escudo con- sobe. É o caso das pancadas de chuva que ocorrem du-
tra meteoritos. rante o verão na região Sudeste do país.
Há vários critérios pelos quais podemos classificar a A chuva frontal é o resultado do encontro de duas
atmosfera. A divisão mais conhecida, feita de acordo com massas de ar e diferentes temperaturas e umidades: a
as variações de temperatura conforme a altitude, reparte massa fria e seca empurra para cima a massa quente e
a atmosfera em cinco camadas distintas: troposfera, es- úmida, que esfria e provoca a precipitação. Esse tipo de
tratosfera, mesosfera, termosfera e exosfera. Veja as chuva é típico das regiões de clima temperado.
principais características de cada uma: A chuva orográfica ou de relevo ocorre quando a
EXOSFERA: é a última cada da atmosfera, na frontei- massa de ar soe por causa de algum obstáculo de relvo,
ra com o espaço sideral. Nela, as moléculas tornam-se como uma montanha – a queda de temperatura, na as-
cada vez mais rarefeitas, libertando-se da gravidade ter- censão, provoca a condensação do vapor. Essa chuva é
restre. O final da exosfera pode chegar a 10 mil quilô- comum nas áreas próximas ao litoral do Nordeste e do
metros. As medições indicam que a temperatura dessa Sudeste, que recebem massas úmidas do Atlântico.
região fique em torno de 1.600ºC. NEVE, GRANIZO E GE ADA:
TERMOSFERA: camada mais extensa da atmosfera, Um dos mais belos fenômenos atmosféricos, a neve
ela parte dos 90 e chega ao 600 quilômetros de altitude. é fruto da precipitação de cristais de gelo, geralmente
Também é a mais quente: na parte superior, chega a agrupados em flocos, que são formados pelo congela-
2.000ºC. É nessa faixa que orbitam os ônibus espaciais. mento do vapor-d‟água suspenso na atmosfera. O gra-
MESOSFERA: a camada mais fria da atmosfera fica nizo, por sua vez, é o cristal de gelo que, por causa de
entre 50 e 90 quilômetros de altitude. Sua temperatura fortes correntes ascendentes dentro da nuvem, acaba
diminui conforme subimos: parte de -15ºC na divisa com subindo e caindo várias vezes, até ganhar volume e se
a estratosfera e chega a -120ºC. É onde ocorrem as es- precipitar de vez. Por fim, a geada nada mais é que or-
trelas cadentes. valho congelado, que, sob a forma de uma fininha ca-
ESTRATOSFERA: vai até os 50 quilômetros acima do mada branca, cobre as superfícies onde cai.
nível do mar. Sua temperatura sobe com o aumento da VENTO:
altitude: começa em -60ºC e vai até -15ºC. É onde fica a Trata-se do deslocamento de ar, geralmente na hori-
camada de ozônio. zontal, de um ponto de pressão atmosférica mais alta
TROPOSFERA: a camada inferior da atmosfera vai do para outro onde ela é mais baixa. As diferenças de
nível do mar até cerca de 12 quilômetros de altitude. pressão, causadoras do ventos, estão relacionadas à
Sua temperatura atinge -60ºC na parte superior. Nessa temperatura. A brisa nas regiões litorâneas é um bom
faixa acontece a maioria dos fenômenos climáticos. exemplo disso: o continente e o mar concentram calor
FAIXAS DE TRANSIÇÃO: entre as camadas da at- de maneiras diferentes, e isso faz o vento mudar de di-
mosfera, há regiões fronteiriças que apresentam carac- reção conforme o período do dia.
terísticas de transição. São elas: a tropopausa, a estra- M ASSA DE AR:
topausa, a mesopausa e a termopausa. Trata-se de um corpo de ar com características pró-
TUDO O QUE VEM DO CÉ U prias de umidade, pressão e temperatura. Essas carac-
terísticas dependem das diferentes regiões da superfície
Conheça os fenômenos que movimentam a atmosfera terrestre em que as massas se formam: caso ocorra nos
terrestre e são objeto de estudo dos meteorologistas. polos, serão frias e secas; se se formarem nas áreas
A meteorologia é a ciência que estuda a atmosfera ter- oceânicas tropicais, serão quentes e úmidas.
restre e seus principais fenômenos. Trata-se de uma ci- A borda de uma massa de ar frio que avança em di-
ência muito complexa, já que a atmosfera é bastante ex- reção a outra mais quente, provocando quedas bruscas
tensa e instável. Mas o grau de precisão da previsão do de temperatura, é chamada de frente fria. Trata-se de
tempo evoluiu muito desde a construção dos primeiros um mecanismo natural da atmosfera para compensar di-
termômetros no século XVI. Os meteorologistas contam ferenças de temperatura do planeta. Avançando com
hoje com instrumentos como satélites, radares, boias ma- velocidades de até 30 km/h, o ar frio e seco, mais den-
rítimas e balões atmosféricos para estudar os mais varia- so, empurra a massa quente leve para cima. Se houver
dos fenômenos através da análise de dados em super- umidade suficiente, a passagem a frente causará chu-
computadores. vas intensas, com direito a granizo, raios e trovões. As
Os boletins meteorológicos são essenciais para o con- mais severas podem provocar quedas de até 10ºC em
trole do tráfego de aviões, para a agricultura, para o ge- apenas uma hora.
renciamento de recursos hídricos e para situações menos No Brasil, as regiões mais atingidas pelo fenômeno
rotineiras, como a chegada de furacões. A seguir, confira são a Sudeste e a Sul, onde também podem ocorrer ge-
um mapeamento dos principais fenômenos atmosféricos adas. Isso acontece porque, na América do Sul, a maio-
estudados pelos meteorologistas. ria das frentes frias se origina nas latitudes médias, ao
NUVEM: extremo sul do continente. Com seu avanço, contudo,
É um agregado de gotículas de água, de cristais de as frentes perdem energia e velocidade, e o contato
gelo, ou uma combinação dos dois. As nuvens são for- com o solo quente reduz o frio das massas de ar. Por
madas principalmente pelo movimento ascendente do ar isso, é tão raro uma frente fria chegar até o Nordeste.
úmido: o vapor-d‟água condensa quando a temperatura Já a frente quente é a extremidade de uma massa de
diminui até o ponto de orvalho. Elas são classificadas ar quente que se forma pela evaporação da água de
em vários tipos, de acordo com o aspecto, a estrutura e correntes marítimas quentes – essas massas de ar ele-
a forma. vam a temperatura e a umidade nas regiões que elas a-
CHUVA: tingem.
É a precipitação de água em forma líquida, com go-
PRESENTE DE NAT AL
tas de diâmetro maior que 0,5 milímetro. Existem três ti-
pos de chuva.
Entenda os fenômenos do El Niño e de La Niña e de DE OLHO NO CICLONE
que forma eles afetam o clima mundial.
Batizado em referência ao Menino Jesus, por ocorrer Entenda como se forma a ventania arrasadora que
em geral no fim do ano, à época do Natal, o El Niño (“o pode deixar milhares de mortos.
menino”, em espanhol) é um fenômeno de aquecimento Os ciclones são uma perturbação atmosférica no cen-
anormal das águas superficiais do Pacífico leste, na costa tro da qual a pressão é muito baixa, provocando ventos
da América do Sul. É denominado, pelos cientistas, de circulares com velocidade superior a 119 quilômetros por
ENOS, sigla para El Niño Oscilação Sul. hora. Ele ocorre nas regiões tropicais, sobre os mares
O El Niño é fruto do enfraquecimento dos ventos alí- quentes, podendo causar grande destruição quando atin-
sios, que normalmente sopram e leste para o oeste pelo ge o continente.
Pacífico – isso faz que a água aquecida na região equato- DENOMINAÇÕES:
rial não seja levada em direção a Indonésia, como de cos- Embora furacão, tufão e tornado sejam palavras co-
tume. Com isso, as massas de ar quentes e úmidas ficam mumente usadas como sinônimos de ciclone, há uma
estacionadas na costa sul-americana, provocando chuvas pequena diferença entre elas. A distinção entre os ter-
intensas nessa área e, ao mesmo tempo, seca na Indo- mos refere-se mais a uma questão de localização. De
nésia, Austrália e em outras regiões. Na verdade, o clima modo geral, o ciclone que se forma sobre o Oceano A-
de todo o planeta é alterado. O El Niño, que ocorre em tlântico é chamado de furacão, enquanto o que se forma
média uma ou duas vezes a cada dez anos, também alte- sobre o Oceano Pacífico é conhecido como tufão. Por
ra o ecossistema marinho. Como não há deslocamento fim, há o caso dos tornados, que surgem sobre o conti-
das águas profundas, que são mais fias e carregadas de nente, após o choque de uma massa de ar quente com
nutrientes, não conseguem vir à tona, na ressurgência – a outra de ar frio – a ventania toma a forma de um cone
população de peixes, por exemplo, diminui drasticamente. invertido e sai num turbilhão arrasador com velocidades
Há, ainda, o caso do La Niña, fenômeno oposto ao El de até 500 quilômetros por hora.
Niño: em vez de as águas do Pacífico leste se aquece- O DESASTRE DO CICLONE BHOLA:
rem, elas esfriam. Isso acontece porque os ventos alísios, Para quem já assistiu – e sobreviveu – à passagem
que carregam a água quente para o oeste, ficam mais in- de um ciclone, a experiência pode ser aterradora. Em
tensos. Consequentemente, as águas quentes da superfí- Bangladesh, na Ásia, por exemplo, um desses turbi-
cie são deslocadas em maior quantidade para o oeste e lhões arrasou o país em 13 de novembro de 1970. O re-
mais água fria vem à tona. A temperatura do oceano di- demoinho nasceu no golfo de Bengala e avançou para a
minui na região próxima à costa oeste da América do Sul, costa, criando ondas de até 6 metros. Elas invadiram a
e o clima fica mais úmido na Austrália e Indonésia, por densamente povoada região do delta do Rio Ganges,
causa das massas de ar quentes. matando cerca de 500 mil pessoas – 100 mil só na ilha
EFEITOS DOS FENÔMENOS EL NIÑO E LA NIÑA NA AGRI- de Bhola (nome que batizou o ciclone). Foi o pior desas-
CULTURA BRASILEIRA tre natural do século XX. Para nossa sorte, o Brasil não
Região El Niño La Niña sofre com esse tipo de fenômeno. Tudo graças às bai-
Norte Tendência ao au- xas temperaturas das águas do Atlântico Sul.
Secas acentuadas, prin-
mento de chuvas DIVERSIDADE CLIM ÁTIC A
cipalmente no leste da
no norte e leste da
Amazônia: aumento o Conheça as características dos dez principais grupos
Amazônia; chuvas
risco de incêndios flores- de clima do planeta.
normais no inverno,
tais e prejuízos para a
sem prejuízos à O clima da Terra é influenciado por vários fatores, en-
produção agropecuária.
agropecuária. tre eles latitude, pressão atmosférica, altitude, relevo, ve-
Nordeste Secas severas: perdas Chuvas acima da
getação, massas de ar, maritimidade (proximidade de um
na agricultura, na pecuá- média sobre a re- local em relação ao mar), continentalidade (distância de
ria, na geração de ener- gião semiárida, fa- um ponto em relação ao mar) e correntes marítimas.
gia elétrica e dificulda- vorecendo a agri- As áreas em torno da linha do Equador, que recebem
des para o abastecimen- cultura de subsis- forte insolação, têm predominantemente clima equatorial,
to de água. tência e a pecuária. marcado por altas temperaturas e umidade. Já as regiões
Centro-Oeste Sem efeitos evidentes,
de latitudes mais elevadas, próximas aos polos, registram
Não há alterações clima frio ou polar, com invernos rigorosos e temperaturas
exceto tendência de au-
significativas de baixas.
mento das chuvas no sul
temperatura e plu- No mapa, você confere as mais importantes correntes
do MS, que favorecem a
viosidade.
produção de grãos. marítimas, os principais tipos de clima, segundo a classifi-
Sudeste cação de Wilhelm Köpen, a mais aceita atualmente, e as
Não há alterações
significativas de
três principais zonas climáticas. Veja a seguir as caracte-
Leve aumento das tem- rísticas dos principais tipos de clima do planeta.
pluviosidade, com
peraturas (redução de EQUATORIAL:
leve queda nas
geadas, que prejudicam Quente e úmido durante o ano todo, está presente na
temperaturas no
culturas como o café) e
inverno, que não região da linha do Equador e nas áreas de baixa latitu-
sem alterações significa-
interferem na co- de, como a América Central, a Indonésia, a região cen-
tivas na pluviosidade.
lheita da cana e do tral da África e no norte do Brasil. A umidade relativa do
café. ar é elevada, com média anual de 90%, e a chuva é a-
Sul Excesso de chuvas na Chuvas abaixo do bundante durante o ano todo. A temperatura também é
primavera e começo do normal, com estia- alta e estável, com média anual de 25ºC.
verão, no ano inicial do gens severas na TROPICAL:
evento, e final de outono parte oeste dos es- Fica nas áreas entre os trópicos de Câncer e de Ca-
e começo de inverno. tados da região, pricórnio, cobrindo grande parte do território brasileiro e
Beneficia as culturas de prejudicando as do continente africano, Índia, Península da Indochina e
verão, como soja e mi- culturas de verão, norte da Austrália. O clima é quente, com média anual
lho. como soja e milho.
superior a 20ºC. As chuvas são intensas no verão e, no
resto do ano, ocorrem mais nas regiões próximas ao contrário (sotavento). A quantidade de precipitação tam-
mar. bém é variável, chegando a 2 mil milímetros por ano nas
No Sudeste Asiático, destacam-se as chuvas de regiões tropicais.
monções, tempestades torrenciais provocadas pelo ven- FRIO:
to úmido que sopra do oceano. Quando começa o ve- É o clima do norte do Canadá e da Sibéria, na Rús-
rão, o continente se esquenta rapidamente, formando sia. O inverno é bastante rigoroso e prolongado, com
uma zona de baixa pressão, e as massas de ar do oce- mínima de -15ºC, e o verão brando e curto, com tempe-
ano trazem as chuvas. Essa dinâmica, comum entre ou- ratura máxima de 10ºC. A precipitação é escassa, me-
tros pontos do planeta, tem maiores proporções nessa nos de 300 milímetros por ano.
região em virtude da vastidão de terra (o continente asi- POLAR:
ático) e de mar (os oceanos Índico e Pacífico) envolvi- É o clima com as menores temperaturas do planeta:
das no fenômeno. no inverno, ela permanece em torno de -30ºC e, no ve-
MEDITERRÂNEO: rão, a média é de 4ºC. Está presente no extremo norte
É o clima predominante no sul da Europa. Os verões do Canadá, da Rússia e do Alasca, em parte da Penín-
são quentes e secos – a temperatura chega a 30ºC – e sula Escandinava e na Antártica. A umidade relativa do
os invernos, moderados e com um pouco de chuva. As ar é alta, entre 70% e 80%, mas a precipitação, bastante
mínimas de temperatura podem atingir 0ºC. reduzida: cerca de 100 milímetros de neve acumulados
TEMPERADO: ao ano.
Também de latitudes médias, o temperado está pre- MUITO ALÉM DE TROPIC AL
sente nas áreas da América do Norte, da Europa e do
leste da Ásia. No temperado continental, o inverno é Apesar de o nosso país estar localizado quase intei-
muito rigoroso e o verão é quente – as médias de tem- ramente entre os trópicos, o clima do Brasil apresenta
peratura são -5ºC e 24ºC, respectivamente. As chuvas muitas variações.
são escassas, sobretudo no inverno. A continentalidade Mesmo sendo conhecido como “um país tropical”, com
justifica a umidade relativa do ar mais baixa e a grande mais de 90% do território entre os trópicos de Câncer e de
amplitude térmica anual nesses locais. Capricórnio, o Brasil também compreende variações cli-
Já o temperado oceânico está presente no oeste e máticas.
no noroeste da Europa. As chuvas são abundantes du- Os tipos de clima no país são definidos com base em
rante o ano, e as temperaturas não sofrem muita varia- critérios diversos, mas, sobretudo, a partir da quantidade
ção – os invernos são frios (média de -3ºC) e os verões, de chuva e da temperatura média no decorrer do ano. Es-
frescos (média de 15ºC). A proximidade com o mar (ma- sas informações aparecem juntas em um gráfico denomi-
ritimidade) é um fator que influencia a baixa amplitude nado climograma. A leitura dele pode parecer complicada,
térmica e as chuvas bem distribuídas durante o ano. mas é bastante simples: as barras representam a média
SUBTROPICAL: pluviométrica no mês, expressa em milímetros; já as li-
É outro clima de latitudes médias, que se caracteriza nhas indicam a temperatura média mensal, em graus Cel-
como uma faixa de transição entre os climas tropicais e sius.
os mais frios. Está presente nas regiões ao sul do trópi- O climograma permite a identificação de cada um dos
co de Capricórnio (sul de São Paulo, Paraná, Santa Ca- climas e até uma diferenciação entre eles. Uma compara-
tarina e Rio Grande do Sul) e na região leste dos Esta- ção interessante, por exemplo, é a do clima equatorial
dos Unidos. A quantidade de chuva não varia muito du- com o do semiárido. A princípio, eles podem parecer se-
rante o ano, mas as temperaturas mudam bastante: o melhantes por causa da temperatura média, que oscila
inverno é frio e o verão, quente. em torno de 26ºC. Porém, ficam claramente diferentes
DESÉRTICO: quando observamos as barras que indicam o índice pluvi-
Ocorre em regiões como o Saara, o centro da Aus- ométrico de cada um: enquanto no clima equatorial chove
trália, norte do México e sul dos EUA. O índice pluvio- abundantemente durante o ano todo, no semiárido, o ín-
métrico é baixíssimo: a média anual de precipitação é dice pluviométrico é muito baixo e distribuído de forma ir-
inferior a 250 milímetros, o equivalente a aproximada- regular. Confira a seguir as principais características dos
mente um mês de chuva no clima equatorial. A umidade seis principais tipos climáticos do Brasil, além de alguns
relativa do ar também é muito baixa, cerca de 40%. A climogramas a eles relacionados.
amplitude térmica diária é elevada: de dia, a temperatu- CLIM A EQUATORIAL:
ra ultrapassa os 40ºC e, à noite, chega a graus negati- Fica nas proximidades da linha do Equador, abar-
vos. cando a Amazônia, norte de Mato Grosso e oeste do
SEMIÁRIDO: Maranhão. Chove durante o ano todo, e em grande
Clima seco, presenta na Ásia Central (Cazaquistão, quantidade; é bastante úmido e a temperatura varia
no interior da China e Mongólia), na Patagônia e no pla- pouco no decorrer do ano, com média de 26ºC.
nalto oeste das Montanhas Rochosas (EUA). A precipi- CLIM A TROPICAL:
tação é escassa e irregular, com longos períodos de es- Predominante no território brasileiro, pega toda a fai-
tiagem, não ultrapassando os 600 milímetros por ano. xa do centro do país, leste do Maranhão, Piauí e oeste
As temperaturas são elevadas durante o ano, com mé- da Bahia e de Minas Gerais. Inverno e verão são esta-
dia entre 25ºC e 27ºC. No Brasil localiza-se no chamado ções bem marcadas pela diferença de pluviosidade: o
Polígono das Secas. verão é bastante chuvoso e há seca no inverno. A tem-
FRIO DE MONTANHA: peratura no clima tropical, de modo geral, é alta, caindo
Ocorre nas cadeias de montanhas ao redor do globo: um pouco nos meses de inverno; a média fica entre
áreas elevadas dos Andes, Montanhas Rochosas, Alpes 18ºC em locais de serra e 28ºC na maior parte do terri-
e Himalaia. É um clima frio, com temperatura que dimi- tório.
nui 6ºC a cada mil metros de altitude. Acima dos 2 mil CLIM A SEMIÁRIDO:
metros, há neve constante. A umidade relativa do ar va- É o clima das zonas mais secas do interior do Nor-
ria conforme o lado da cadeia: a média é de 90% do la- deste. Caracteriza-se pela baixa umidade, pouca chuva
do do vento (barlavento), caindo para até 30% do lado e temperaturas elevadas.
CLIM A TROPICAL DE ALTITUDE:
É o clima das áreas com altitude acima de 800 me- mosfera, formando o ácido nítrico (HNO 3) e o ácido sul-
tros em Minas Gerais, no Espírito Santo, no Rio de Ja- fúrico (H2SO4). Quando chove, essas substâncias atin-
neiro e em São Paulo. Os verões são quentes e chuvo- gem o solo e a água, alterando suas características e
sos, e os invernos, frios e secos. Em comparação com o prejudicando lavouras, florestas e a vida aquática. Tam-
clima tropical, o tropical de altitude tem o mesmo com- bém danificam edifícios e monumentos históricos.
portamento pluviométrico, mas as médias anuais de As principais áreas de ocorrência se encontram pró-
temperatura são menores, ficando em torno dos 20ºC – ximas às regiões de maior emissão de gases causado-
no inverno, as temperaturas são bem mais baixas. res do efeito estufa, ou seja, as mais urbanizadas e in-
CLIM A TROPICAL ATLÂNTICO: dustrializadas, como o Nordeste dos Estados Unidos, a
Esse clima cobre quase todo o litoral do país: come- Europa ocidental, o leste da China, o eixo Rio-São Pau-
ça no Rio Grande do Norte e vai até o Paraná. A quanti- lo. Entretanto, essas substâncias podem ser transporta-
dade de chuvas varia conforme a latitude da localidade. das pelos ventos para regiões mais afastadas desses
Por exemplo, enquanto no Nordeste chove muito no in- grandes centros urbano-industriais, causando a chuva
verno, no Sudeste chove mais no verão. A variação de ácida. Trata-se, portanto, de uma “poluição transfrontei-
temperatura é maior na porção mais ao sul do litoral. No riça”. O leste do Canadá, por exemplo, sofre com a chu-
Rio de Janeiro, oscila entre 21,5ºC e 26,5ºC e, em João va acida proveniente da poluição gerada na megalópole
Pessoa, entre 24ºC e 28ºC. Boston-Washington-Nova York e nas cidades industriais
CLIM A SUBTROPICAL: da região dos Grandes Lagos, dos Estados Unidos. Já
É o clima das regiões ao sul do Trópico de Capricór- os países escandinavos como Noruega, Finlândia e
nio: sul de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Suécia recebem as correntes de ar que trazem a polui-
Grande do Sul. A quantidade de chuva não varia muito ção da Alemanha, Holanda, Bélgica e Inglaterra.
durante o ano, mas as temperaturas mudam bastante: o ILHAS DE CALOR:
inverno é frio e o verão, quente. Os poluentes lançados na atmosfera, principalmente
ATMOSFERA CARREGADA o dióxido de carbono, ajudam a aumentar a temperatura
do ar mais próximo da atmosfera. Em regiões urbanas,
A emissão de poluentes no ar causa uma série de e- esse fato é agravado pela substituição da cobertura ve-
feitos nocivos ao homem e à natureza. getal por prédios de concreto e cimento e ruas asfalta-
A poluição do ar é provocada principalmente pela das. Esses materiais absorvem mais calor e o devolvem
queima de combustíveis fósseis nos transportes e na ge- na forma de radiação térmica. A combinação desses fe-
ração de energia elétrica e pela atividade industrial. Dióxi- nômenos tende a aumentar a temperatura nos grandes
do de carbono (CO2), monóxido de carbono (CO) e hidro- centros, criando as ilhas de calor. A diferença de tempe-
carbonetos (HC) são alguns dos poluentes mais emitidos. ratura entre uma área verde e uma típica zona central
Veja a seguir alguns dos efeitos mais comuns provocados de uma cidade pode ser de 8 graus centígrados a mais.
pela emissão desses gases. INVERSÃO TÉRMICA:
BURACO NA CAM AD A DE OZÔNIO: A inversão térmica é um fenômeno atmosférico natu-
O aparecimento de buracos na camada de ozônio é ral que ocorre principalmente nas manhãs de outono e
um processo natural, já que, em certas épocas do ano, inverno, com a penetração de massas de ar frio, em re-
reações químicas na atmosfera produzem aberturas, giões de clima tropical e subtropical. Caracteriza-se pela
que depois se fecham. O ozônio absorve parte da radia- alteração na sequência de camadas de ar. Em condi-
ção ultravioleta B (UVB) emitida pelo Sol. Sem ela, as ções normais, a temperatura fica cada vez mais baixa
plantas teriam redução na capacidade de fotossíntese e conforme aumenta a altitude. Em uma situação de in-
haveria maior incidência de câncer de pele e catarata. A versão térmica, porém, forma-se uma camada de ar
atividade humana, porém, acentuou o processo. As rea- mais frio próxima ao solo. Isso ocorre graças ao resfria-
ções que destroem o ozônio são intensificadas pela e- mento da superfície e do ar durante o final da madruga-
missão de compostos químicos halogenados artificiais, da e início da manhã, quando as temperaturas, tanto da
sobretudo os clorofluorcarbonos (CFCs), criados nos terra quanto do ar, são mais baixas.
anos 1930 e usados como fluidos refrigerantes em gela- Em regiões onde o ar não se encontra carregado de
deiras, aparelhos de ar condicionado e como propelente poluentes, a inversão térmica não provoca nenhum pro-
de aerossóis. blema ambiental. No entanto, em ambientes urbanos, a
A boa notícia é que, nos últimos anos, acordos inter- inversão térmica causa o bloqueio das correntes ascen-
nacionais levaram ao fim da produção das substâncias dentes de ar, retendo grande quantidade de poluentes
nocivas à camada de ozônio. Estudos recentes indicam próximos à superfície durante algumas horas. Isso ocor-
que o buraco na camada de ozônio atualmente está 9% re porque as trocas verticais de ar, chamadas correntes
menor do que no ano 2000. No entanto, desde 2010, o de convecção, não chegam a atingir a superfície, for-
tamanho do rombo não diminui – são 23 milhões de qui- mando-se somente a partir da camada de ar quente pa-
lômetros quadrados, área equivalente à da América do ra cima. Por esse motivo, os poluentes não conseguem
Norte. A perspectiva, segundo a Organização Mundial se dispersas. Quando o Sol esquenta a superfície no
da Meteorologia, é que a camada deverá voltar à es- decorrer da manhã, o ar da camada mais baixa se a-
pessura original por volta de 2050. quece e sobe, as correntes de convecção voltam a atin-
CHUVA ÁCIDA: gir o solo e os poluentes voltam a ser dispersados em
Toda chuva é naturalmente ácida (pH inferior a 7), camadas mais elevadas.
em função das reações do vapor-d‟água com o gás car-
PLANET A EM EBULIÇÃO
bônico presente na atmosfera. Entretanto, ao atingir um
pH inferior a 5,6 a chuva é considerada, de fato, ácida e Cientistas confirmam que a atividade humana está
passa a ser tratada como um problema ambiental. Esse provocando alterações climáticas em todo o globo.
aumento de acidez se deve à queima de combustíveis Se antes a ideia do aquecimento global era apenas
fósseis, feita principalmente pelas atividades industriais uma hipótese, hoje os cientistas já contam com evidên-
e pelos automóveis, que liberam óxido de nitrogênio cias mais seguras para afirmar que a ação do homem so-
(NOx) e dióxido de enxofre (SO2) na atmosfera. Esses bre o meio ambiente está alterando a temperatura do pla-
compostos reagem com o vapor-d‟água presente na at- neta. O estudo mais consistente a respeito foi divulgado
em 2007 pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Desde 1880, quando a temperatura do planeta come-
Climáticas (IPCC), entidade que reúne 2.500 cientistas de çou a ser medida, a população mundial não enfrentou um
mais de 130 países sob a chancela da Organização das ano tão quente como o de 2016. Segundo a NASA, a A-
Nações Unidas (ONU). A partir desse documento, que re- gência Espacial Norte-Americana, os recordes de tempe-
presentou um marco ambiental, especialistas do mundo ratura são um constante neste século: 16 os 17 anos mais
todo passaram a culpar nosso padrão de desenvolvimen- quentes da história foram registrados após o ano 2000.
to pelo aquecimento da Terra. Esses dados consolidam uma tendência de aquecimento
Em setembro de 2013, o IPCC divulgou um novo estu- global de longo prazo, o que abre a possibilidade da ocor-
do no qual aumenta de 90% para 95% o grau de certeza rência mais frequente de eventos climáticos extremos,
científica quanto à participação do homem na elevação da como secas prolongadas, chuvas torrenciais e violentos
temperatura do planeta: “É extremamente provável que a ciclones. É o que pode ocorrer se não houver uma redu-
influência humana sobre o clima tenha causado mais da ção na emissão e gases do efeito estufa, na análise dos
metade do aumento observado da temperatura média da cientistas do Painel Intergovernamental sobre a Mudança
superfície global entre 1951 e 2010”, dizem os cientistas. no Clima. (IPCC).
O relatório da ONU aponta que entre 1880 e 2012 a tem- As projeções do IPCC indicam que, se as emissões
peratura média na Terra subiu 0,85ºC. Em algumas regi- permaneceram nos níveis atuais, a temperatura média do
ões, que incluem o Brasil, o aumento foi de até 2,5 graus. planeta pode subir até 4,8°C, e o nível dos mares deve
Além disso, o nível médio da água dos oceanos subiu 19 aumentar em até 82 centímetros. As geleiras irão conti-
centímetros e as últimas três décadas foram as mais nuar a derreter e é fortemente provável que o gelo do Ár-
quentes desde 1850. O estudo também permitiu aos cien- tico diminua até o final do século. Segundo os cientistas,
tistas projetar as dramáticas consequências que as pró- nenhuma parte do globo ficará imune aos efeitos do a-
ximas gerações enfrentarão, caso esse processo não seja quecimento global.
revertido. Os terríveis cenários previstos pelos cientistas do
O EFEITO ESTUFA: IPCC certamente teriam consequências em termos estra-
Sempre ouvimos falar que o efeito estufa é o grande tégicos e geopolíticos. O Departamento de Defesa dos
vilão do aquecimento global, o que não deixa de ser Estados Unidos alerta para o fato de que, atingido pelas
verdade. Mas uma coisa precisa ficar clara: é graças a mudanças climáticas, o mundo seria mais instável e peri-
ele que existe vida em nosso planeta. O efeito estufa é goso. Haveria um aumento de migrações e até mesmo in-
um fenômeno natural que faz com que a temperatura vasões populacionais para obter recursos como água e a-
média do globo se conserve nos limites necessários pa- limentos. E os maiores problemas ocorreriam justamente
ra a manutenção da vida, em torno de 14,5ºC. Ele ocor- onde hoje já existem graves questões políticas, como em
re em razão da existência de gases que estão natural- regiões da Ásia e da África. Para o órgão de governo dos
mente na atmosfera e impedem a dissipação para o es- EUA, em alguns locais, a tensão social causada pela fo-
paço de parte da radiação vinda do Sol, que é absorvida me poderia se tornar mais explosiva, combinada com a
e refletida pela Terra. tensão étnico-religiosa.
O problema é que, por causa da ação do homem, A CORRENTE CÉTICA:
esse benefício “cobertor” atmosférico está se transfor- As explicações sobre as causas do aumento da tem-
mando num forno. E quando nos referimos à ação do peratura global não são aceitas por todo mundo. Há ci-
homem, trata-se daquelas atividades que resultam da entistas que questionam seus fundamentos. Eles ale-
emissão e no acúmulo na atmosfera de gases respon- gam que a temperatura média da Terra subiu e desceu
sáveis pelo efeito estufa. Entre os principais, estão o várias vezes durante sua existência, e que isso pode es-
dióxido de carbono (CO2), produzido pela queima de tar ocorrendo neste momento. Ou seja, esse esquenta-
combustíveis fósseis (especialmente carvão mineral e esfria do planeta faria parte de um ciclo natural no qual
derivados de petróleo, como óleo cru, diesel e gasolina) o clima alterna períodos quentes e eras glaciais.
para gerar energia; o metano (gás natural, CH4), libera- Além disso, essa “corrente cética” acredita que,
do pela decomposição de lixo, digestão do gado, planta- mesmo que exista uma tendência para o aquecimento,
ções alagadas (principalmente de arroz); e óxido nitroso ela está mais ligada aos fatores naturais do que à ação
(N2O), que advém, entre outros meios, do tratamento de humana. O clima seria mais influenciado pelas glacia-
dejetos de animais, do uso de fertilizantes e de alguns ções, pelo vulcanismo e por fenômenos astronômicos.
processos industriais. Além disso, ao alterar a terra por Esses cientistas também contestam a capacidade cientí-
meio do desmatamento e de atividades agrícolas, o ser fica de prever com antecedência de décadas como será
humano está lançando no ar, por apodrecimento ou o clima da Terra.
queima, CO2 que estava acumulado nas plantas e no No entanto, os que defendem esta tese são acusa-
solo. dos de agir em favor daqueles que atuam no lobby de
Todas essas atividades são realizadas mais inten- interesses das indústrias que vivem do petróleo e de
samente nos países desenvolvidos. Estados Unidos, governos que seriam afetados pelas medidas necessá-
Japão e muitas nações europeias apresentam elevada rias para conter o aquecimento global.
produção de gases do efeito estufa per capita, princi- ALTERNATIVAS LIMPAS
palmente por causa do uso de automóveis e da elevada
industrialização. Contudo, países em desenvolvimento, Investimentos em fontes de energia renováveis são
como a China, vêm aumentado significativamente às essenciais para reduzir as emissões de gases do efei-
emissões desses gases nos últimos anos. Os chineses to estufa.
já ultrapassaram os norte-americanos como os maiores Os cientistas do Painel Intergovernamental sobre a
poluidores do planeta, tornando-se responsáveis por um Mudança do Clima (IPCC) são enfáticos em apontar o
quarto das emissões mundiais. que é preciso ser feito para evitar os efeitos dramáticos
das mudanças climáticas: suspender o uso sem restrições
O PIOR CENÁRIO
de combustíveis fósseis. Desde a Revolução Industrial, há
Extremos climáticos como secas prolongadas e fura- mais de 200 anos, nossas atividades econômicas são ba-
cões devem se tornar mais frequentes em função do seadas na queima de fontes não renováveis e altamente
processo de mudanças climáticas. poluentes como petróleo, gás e carvão. A energia que
consumimos para gerar eletricidade e aquecimento para zando a comunidade internacional nos últimos anos. Mas
nos locomovermos em viagens de carro, avião ou navios enfrentar um problema global dessas proporções requer
e para mover a atividade manufatureira contribui com cer- um difícil alinhamento entre os líderes mundiais. Em fó-
ca de metade das emissões dos gases de efeito estufa. runs internacionais como a Conferência Geral das Partes,
Na prática, para alterar essa matriz de energia e redu- os países se reúnem todos os anos para discutir ações
zir a dependência econômica de combustíveis fósseis, se- para conter a mudança climática – ela é conhecida por
ria preciso ampliar o uso de energia renováveis. Trata-se sua sigla em inglês: COP.
de um procedimento que já está em andamento ao redor Chegar a um consenso nas COPs é uma tarefa muito
do mundo, ainda que num ritmo abaixo do desejável. A complicada porque há vários interesses conflitantes entre
China, o maior emissor de gases do efeito estufa do pla- as nações. Por isso que o Acordo de Paris, firmado em
neta, é o país que mais vem investindo em energia reno- dezembro de 2015, foi considerado histórico: pela primei-
vável há alguns anos. Os Estados Unidos e a Europa ra vez houve um entendimento para a redução das emis-
também avançam em projetos para baratear o custo des- sões de carbono que envolve todas as nações do mundo.
sas fontes de energia. O Brasil, que é o sétimo maior in- O PROTOCOLO DE KYOTO:
vestidor em energia renováveis do mundo, tem cerca de Antes do Acordo de Paris, o grande marco ambiental
40% de sua matriz energética proveniente de recursos havia sido o Protocolo de Kyoto, assinado em 1997 du-
renováveis e caminha para ter 93% de sua energia elétri- rante a terceira COP. O documento é o primeiro acordo
ca com origem em fontes que não se esgotarão até 2050, oficial com metas e prazos para reduzir as emissões de
de acordo com estudo da ONG Greenpeace. gases do efeito estufa. Ele estabeleceu que os países
Vale ressaltar que algumas das fontes de energia al- desenvolvidos, responsáveis por lançar a maior parte
ternativas ainda têm um custo ambiental alto. As usinas dos gases, deveriam reduzir suas emissões em pelo
hidrelétricas, por exemplo, costumam afetar a biodiversi- menos 5% em relação aos níveis de 1990. Já as nações
dade, como no caso da Usina de Belo Monte, no Pará, em desenvolvimento, como o Brasil e a China, que tive-
que vem causando polêmica por reduzir a vazão do Rio ram uma industrialização tardia, não precisaram adotar
Xingu, o que comprometeria o ecossistema da região metas, mas comprometiam-se a diminuir a emissão de
Amazônica. Já a energia nuclear pode causar sérios da- carbono voluntariamente.
nos ambientais com o lixo radioativo. Confira alguns e- Mas o Protocolo de Kyoto já nasceu praticamente
xemplos de fontes de energia renováveis e limpas. condenado. Os EUA não assinaram o documento por se
ENERGIA EÓLICA: recusar a mudar sua matriz energética – fortemente de-
A energia é produzida quando a força do vento gira pendente de petróleo – e não concordar com a ausência
as hélices das turbinas eólicas, que convertem a energia de metas para os países em desenvolvimento. Posteri-
mecânica em elétrica. O Brasil tem grande potencial ormente, outros países também abandonaram os com-
nessa área por possuir condições naturais favoráveis. promissos firmados no protocolo. Os governos de Ca-
Os estados da Bahia, do Ceará, do Rio Grande do Norte nadá, Japão, Austrália e Rússia passaram a reclamar a
e do Rio Grande do Sul respondem por 60% de toda a falta de compromisso das economias emergentes. Eles
energia eólica gerada no país. Só no Nordeste, a fonte alegam que o crescimento econômico de países como
eólica atende atualmente a 30% das necessidades e- China e Índia aumento muito a emissão de carbono glo-
nergéticas da região. bal, e exigiam o cumprimento de metas dessas nações.
ENERGIA SOLAR: O ACORDO DE PARIS:
A principal forma de captar a energia proveniente do Por todas essas dificuldades, o Acordo de Paris fir-
Sol é por meio de painéis fotovoltaicos, que possuem mado durante a COP21, realizada na capital francesa,
células solares capazes de transformar a radiação solar em dezembro de 2015, foi recebido com bastante oti-
em eletricidade. Quanto maior a intensidade de luz, mismo. O documento, assinado por representantes de
maior o fluxo de energia elétrica. O Brasil também é pri- 195 países-membros da Convenção do Clima da ONU,
vilegiado em radiação solar, especialmente na região entrou em vigor em novembro de 2016. Ele obriga a par-
Nordeste. O elevado preço dessa tecnologia, porém, ticipação de todos os países – e não apenas os ricos –
ainda inviabiliza investimentos mais pesados nesse tipo no estabelecimento de metas para limitar o aumento da
de energia no país. temperatura média do planeta até 2100. O objetivo é
BIOM ASSA: restringir o aquecimento a “bem menos de 2ºC”.
A matéria orgânica também vem sendo utilizada para Cada nação fica obrigada a presentar um conjunto
gerar energia. Seu aproveitamento pode ser feito pela de metas para reduzir a emissão de carbono. O docu-
combustão direta, por processos termoquímicos ou bio- mento final também estabeleceu que os países ricos i-
lógicos. No Brasil, óleos vegetais e bagaço de cana, en- rão garantir um financiamento de, no mínimo, 100 bi-
tre outros materiais, dão origem à energia elétrica. A bi- lhões de dólares por ano para projetos de combate às
omassa também pode se transformar em biocombustí- mudanças do clima e adaptação em nações em desen-
veis – o álcool etílico já é amplamente usado nos veícu- volvimento a partir de 2020 e até, ao menos, 2025.
los brasileiros. Mas o acordo não é perfeito. Apesar de o estabele-
ENERGIA GEOTÉRMICA: cimento das metas ser compulsório para todas as na-
O calor interno do globo, principalmente em áreas ções, o cumprimento dos objetivos é voluntário. Além
geologicamente ativas, pode produzir energia em usinas disso, o conjunto das metas apresentado pelos países é
termelétricas a partir dos gêiseres (fontes do vapor no considerado insuficiente – mesmo que todos os países
interior da Terra), presentes em países como EUA, Mé- consigam cumprir o que propuseram, a temperatura
xico e Japão. média ainda deverá subir entre 2,7ºC e 3,5ºC.
DIFÍCIL CONSENSO Para piorar, a posse e Donald Trump como presiden-
te dos EUA causa temores de que o país possa se reti-
Na Conferência Geral das Partes, os países discutem rar do acordo. Trump, que se mostra cético em relação
ações para conter a mudanças climáticas e estabele- ao aquecimento global, disse não querer que a econo-
cem tratados, como o Acordo de Paris. mia norte-americana seja prejudicada em virtude das
A constatação de que a intensa emissão de gases do metas de redução de gases.
efeito estufa está alterando o clima o planeta vem mobili-
OS COMPROMISSOS DO B RASIL: A relação que os seres vivos mantêm entre si e com o
O Brasil oficializou a meta voluntária de reduzir as ambiente que habitam forma de um ciclo natural que
emissões de gases do efeito estufa em 37% até 2025 e sustenta a vida no planeta.
43% até 2030 em relação aos valores de 2005. Além O termo ecologia ganhou destaque nas últimas déca-
dessa meta, o compromisso do Brasil apresentado na das, juntamente com a relevância crescente dos assuntos
COP21 inclui garantir 45% de fontes renováveis no total relacionados ao meio ambiente. Muitas vezes esse termo
da matriz energética, ampliar para 23% a participação é usado de forma indevida ou superficial, como em afir-
de fontes renováveis (eólica, solar e biomassa) na gera- mações do tipo “Defenda a ecologia”. Na verdade, trata-
ção de energia elétrica e acabar com o desmatamento se da ciência que estuda as relações dos seres vivos en-
ilegal. tre si ou com o ambiente em que vivem. A ecologia é um
Segundo o governo, as emissões entre 2005 e 2012 conteúdo multidisciplinar que engloba estudos de Biologi-
reduziram 41,1%. Em boa medida, essa redução é cre- a, Geografia, Geologia, Química, entre outras áreas curri-
ditada a uma forte queda nos índices de desmatamento culares.
na Amazônia Legal. Na última década, as atividades li- Veja a seguir alguns conceitos essenciais para a com-
gadas à derrubada das florestas deixaram de ser a prin- preensão da ecologia, como ecossistema, bioma, biosfera
cipal emissora de CO2. Atualmente, a produção de e- e biodiversidade:
nergia a partir da queima de combustíveis fósseis é a ECOSSISTEM AS:
maior fonte poluidora do país. Os ecossistemas são sistemas dinâmicos resultantes
A AM AZÔNIA SOB RISCO DE “SAVANIZAÇÃO” da interdependência entre os fatores físicos do meio
ambiente e os seres vivos que o habitam. Os nutrientes,
A combinação de desmatamento e seca pode fazer a água, o ar, os gases, a energia disponível e as subs-
com que a maior floresta tropical do planeta se trans- tâncias orgânicas e inorgânicas num ambiente constitu-
forme em uma região com características do Cerrado. em a parte abiótica (não viva) de um ecossistema. O
Há muitos anos, cientistas do Brasil e do mundo vêm conjunto de seres vivos é chamado de biota e é com-
apontando como o desmatamento aliado à ocorrência de posto de três categorias de organismos: as plantas, os
períodos de seca podem provocar profundas alterações animais e os decompositores – microrganismos que de-
na Floresta Amazônica e fazer com que ela sofra um pro- compõem plantas e animais e os transformam em com-
cesso de “savanização”. Ou seja, a exuberante floresta ponentes simples, reciclados.
tropical perderia biomassa e daria lugar a uma vegetação Uma floresta, um rio, um lago ou um simples jardim
mais rala, com árvores espaçadas e menos folhas, bem são exemplos de ecossistemas. Eles se misturam e inte-
parecida com o Cerrado brasileiro. ragem. Os ecossistemas podem, também, ser subdividi-
Dois estudos recentes, um do Instituto de Pesquisa dos em pequenas unidades bióticas, conhecidas como
Climática de Potsdam (PIK), da Alemanha, e outro de um comunidades biológicas. Elas são formadas por duas ou
grupo de cientistas brasileiros de diversas instituições, jo- mais populações de espécies que interagem e são in-
garam mais luzes sobre essa questão. De modo geral, e- terdependentes – como um conjunto da flora e da fauna
les mostram a ocorrência de um ciclo vicioso de seca e de um lago.
diminuição florestal na Amazônia. A derrubada de árvores Já o termo habitat se refere a um ambiente ou ecos-
de grande porte, que têm maior capacidade de regular as sistema que oferece condições especialmente favorá-
chuvas, afeta diretamente o clima que tende a ficar mais veis à sobrevivência de certa espécie. Por exemplo, o
seco. Por sua vez, a redução das precipitações provoca a cerrado é o habitat do lobo-guará. Um ecossistema po-
morte de mais árvores. Resumindo: quanto menor a flo- de ser o habitat de diversas espécies para as quais ofe-
resta, maior a seca, e, quanto maior a seca, menor a flo- rece alimento, água, abrigo, entre outras condições es-
resta. senciais a reprodução da vida.
Essa alteração climática não fica restrita apenas à re- BIOM AS:
gião. Por meio do fenômeno conhecido como “rios voado- Os grandes conjuntos relativamente homogêneos de
res”, a umidade e o vapor-d‟água da Amazônia são trans- ecossistemas são chamados de biomas. O termo bioma
portados por outros lugares, regulando o ciclo hidrológico designa as comunidades de organismos estáveis, de-
de diversos pontos do país. Logo, as alterações do clima senvolvidas e bem adaptadas às condições ambientais
da Amazônia também afetariam outras regiões brasileiras. de uma grande região – pense na Floresta Amazônica
O fato é que é impossível dissociar esse problema da ou na tundra ártica. Na Geografia, o estudo dos biomas
ação humana, que intensifica o fenômeno por meio da tem como um dos focos principais a vegetação, elemen-
emissão de gases do efeito estufa e da derrubada das ár- to que se destaca na paisagem.
vores. O governo brasileiro comprometeu-se a acabar BIODIVERSIDADE:
com o desmatamento ilegal da Floresta Amazônica até A biosfera ou “esfera da vida” é o conjunto de todos
2030, mas está longe de atingir essa meta. No ano pas- os biomas do planeta. Ela faz referência a todas as for-
sado, a área desmatada cresceu 28%, atingindo 7.989 mas de vida da Terra em escala global – dos reinos mo-
quilômetros quadrados – um território equivalente a cinco nera, protista, animal, vegetal e dos fungos – em conjun-
vezes a cidade de São Paulo. Foi a maior taxa registrada to com os fatores não vivos que as sustentam. A biosfe-
desde 2008. Pará, Mato Grosso e Rondônia foram os es- ra abrande desde as profundezas dos oceanos, que a-
tados que apresentaram os maiores índices de perda flo- tingem cerca de 11 mil metros, até o limite da troposfe-
restal, somando 75% do desmatamento. ra, camada inferior da atmosfera, que atinge uma altitu-
Nas próximas páginas, você encontrará mais informa- de de cerca de 12 mil metros. Entre os seres vivos, os
ções sobre a Amazônia e outros biomas brasileiros. Abor- humanos são os que possuem a maior capacidade de
damos também os perigos mais latentes aos ecossiste- intervenção (positiva e negativa) no equilíbrio das diver-
mas mundiais e as ações governamentais para tentar fre- sas formas de vida que constituem a biosfera.
ar as ameaças ao meio ambiente. BIODIVERSIDADE:
DELICADO EQUILÍBRIO O termo biodiversidade abarca toda a variedade das
formas de vida (animais, vegetais e microrganismos),
espécie de ecossistemas, em uma região ou em todo o
planeta. É uma riqueza tão grande que se ignora o nú-  200 MILHÕES: há 200 milhões de anos surgem os
mero de espécies vegetais e animais existentes no mamíferos – então não muito mais que ratinhos in-
mundo. A estimativa é de que haja cerca de 14 milhões, significantes com características de répteis. A Terra
mas até agora somente 1,7 milhão foi classificado pela ainda é dos dinossauros. Outra inovação: as plantas
União Internacional para a Conservação da Natureza ganham flores.
(IUCN).  100 MILHÕES: com a extinção dos dinossauros,
A biodiversidade garante o equilíbrio dos ecossiste- há 65 milhões de anos, sobra espaço para os mamí-
mas e, por tabela, do planeta todo. Por isso, qualquer feros. Eles se tornam maiores e mais diversificados e
dano provocado a ela não afeta somente as espécies herdam o trono do planeta. As aves também se es-
que habitam determinado local, mas toda uma fina rede palham.
de relações entre os seres e o meio em que vivem. A ERA CENOZOICA:
principal ameaça à biodiversidade do planeta é justa-  HOJE: surge o homem – há apenas 100 mil anos,
mente a ação humana. De acordo a World Wildlife Fund, insignificantes para a longa história do planeta. A no-
uma das ONGs ambientalistas mais ativas no mundo, va espécie vem alterando a Terra como nenhuma an-
em menos de 40 anos o planeta perdeu 30% de sua bi- tes fizera.
odiversidade, sendo que os países tropicais tiveram AS DIFERENTES PAISAG ENS DO PLANET A
uma queda de 60% nesse período.
QUAL É A ORIGEM DA V IDA NA TERRA? Conheça as características e a localização dos princi-
pais tipos de formação vegetal do planeta.
Nosso planeta surgiu 5 bilhões de anos atrás, após Na Geografia, as diferentes formações vegetais da
uma complexa cadeia de ventos. As primeiras formas Terra são analisadas do ponto de vista da distribuição ge-
de vida apareceram 1,5 bilhão de anos depois, e o ográfica, das características fisionômicas e das suas rela-
nascimento do homem ocorreu há “apenas” 100 mil ções com o clima, o relevo, os solos e o substrato rocho-
anos. so. O estudo da vegetação também deve ser feito sob o
Há quase 5 bilhões e anos, uma estrela explodiu num ponto de vista da exploração econômica pelo homem e as
canto da Via Láctea, espalhando poeira pelo espaço. A consequências socioambientais da derrubada das flores.
gravidade começou a juntar os grãos de poeira em peda- Veja a seguir as principais formações vegetais do pla-
ços cada vez maiores. Assim surgiu a Terra. neta, onde elas se localizam e quais são suas caracterís-
Da massa de moléculas inanimadas de carbono surgiu ticas mais marcantes.
à vida há 3,5 bilhões de anos. Parece milagre, mas é pura DESERTO:
química. O planeta, então, era frequentemente bombar- Nos desertos, a vegetação é esparsa e de poucas
deado por meteoros e restos da explosão inicial. espécies. Como as regiões áridas têm índices pluviomé-
ERA ARQUEOZOICA: tricos abaixo de 250 milímetros ao ano, as plantas são
 3 BILHÕES: as células se espalham pela Terra. xeromórficas, ou seja, adaptadas à ausência de chuvas
Mas o processo é lento, diante da queda de meteo- – os cactos, por exemplo, armazenam água e desenvol-
ros. O planeta, ainda novo, guarda o calor da explo- vem espinhos no lugar das folhas, para reduzir a evapo-
são estelar, e seu interior quente vive vazando por transpiração (perda de água na fotossíntese). Nos de-
vulcões. Outro problema são os tórridos raios sola- sertos frios, que ficam em altas latitudes (Patagônia, por
res. exemplo, na América do Sul), as temperaturas variam
ERA PROTEROZOICA: pouco durante o dia. Já os desertos quentes, como do
 2 BILHÕES: a agitação cósmica e geológica aos Atacama, da Austrália e do Saara, ficam em regiões tro-
poucos vai diminuindo, enquanto o planeta esfria. picais e, no decorrer do dia, apresentam grande varia-
Forma-se a camada de ozônio, que torna os raios so- ção de temperatura, despencando de mais de 40ºC du-
lares menos nocivos e permite o surgimento de for- rante o dia para índices abaixo de zero à noite.
mas de vida mais complexas. VEGETAÇÃO DE MONTANH A:
 1 BILHÃO: aparecem células mais complicadas, os A vegetação de montanha é rasteira, formada ape-
eucariontes, que possuem todas as organelas. A vida nas de ervas e arbustos que, a duras penas, conse-
vai, aos poucos, tomando o planeta, protegida do Sol guem sobreviver no clima hostil. Algumas características
pela camada de ozônio. Os meteoros são cada vez como folhas duras (coriáceas) ajudam a resistir ao frio e
mais raros. aos fortes ventos das altitudes elevadas.
 600 MILHÕES: surgem os primeiros organismos Esse tipo de formação vegetal pode ser encontrado
multicelulares – todos invertebrados. A variedade de em diversas regiões montanhosas pelo mundo, como as
vida aumenta de maneira impressionante. Os ocea- encostas da Cordilheira dos Andes (na América do Sul),
nos se povoam com os seres mais estranhos. dos Alpes (na Europa), da Cordilheira do Himalaia (na
ERA PALEOZOICA: Ásia) e das Montanhas Rochosas (nos Estados Unidos).
 500 MILHÕES: aparecem os peixes primitivos – FLORESTA DE CONÍFERAS OU FLORESTA
não muito diferentes dos atuais tubarões. São os BOREAL:
primeiros vertebrados. A Terra fica mais inteligente. Floresta homogênea, de pinheiro e abetos, com fo-
 400 MILHÕES: há 350 milhões de anos, os verte- lhas em formato de agulha (aciculifoliadas) e copas em
brados saem do mar – surgem os anfíbios. Todos os forma de cone, que acumulam menos neve durante o
continentes estão unidos em um só grande bloco – a longo inverno das regiões de latitudes médias e eleva-
Pangeia, que começa a ser habitada por muitas plan- das. No solo, o frio rigoroso também impõe duras limita-
tas primitivas. ções para o desenvolvimento das espécies vegetais: há
 300 MILHÕES: os répteis aparecem há 300 mi- pouca vegetação rasteira, como alguns líquens, musgos
lhões de anos e, em seguida, tomam o planeta. Os e arbustos. A floresta de coníferas é intensamente ex-
primeiros dinossauros passam a ser vistos em todos plorada como matéria prima para importantes indústrias
os continentes. Os insetos também se diversificam madeireiras, de papel e celulose. Essa formação é en-
muito. contrada principalmente no norte da Europa, da América
ERA M ESOZOICA: e da Ásia (onde é chamada de taiga).
TUNDRA: vegetação arbórea mais desenvolvida. Nas regiões mais
Desenvolve-se em uma das regiões mais frias do secas, predomina a vegetação rasteira e espinhosa. A
mundo, a do clima subpolar, como no norte da Rússia. savana é uma vegetação estacional, marcada por duas
Ela é formada por musgos e algumas espécies herbá- estações bem definidas: período seco (no inverno) e o
ceas que aparecem no solo somente nos poucos meses período chuvoso (no verão). Essas formações são en-
de degelo, quando o verão eleva a temperatura para contradas na África, na Ásia (Índia, principalmente), na
4ºC, em média. No resto do ano, o solo fica coberto de Austrália e na América, onde recebe os nomes específi-
neve, motivo pelo qual é denominado permafrost (per- cos de lhanos (na Venezuela) e cerrado (no Brasil). A
manentemente congelado). Por ter uma relação direta ocorrência de uma prolongada estação seca faz com
com o degelo nas regiões subpolares, a tundra é utiliza- que as plantas desenvolvam adaptações para reservar e
da como bioindicador para o estudo de possíveis au- obter água, como as folhas coriáceas e as raízes pro-
mentos das temperaturas globais e suas consequências fundas para atingir o lençol freático.
nesse frágil bioma. PATRIMÔNIO EM PERIGO
ESTEPE (CAM POS, PAMPAS , PRADARIAS):
Típica de áreas de clima temperado continental, a O Brasil é a nação com a maior biodiversidade do
estepe é uma formação vegetal pobre, sem árvores, planeta, mas seus seis grandes biomas estão sob
constituída basicamente de gramíneas, que se estende, uma ameaça persistente.
sobretudo em regiões planas, podendo ser encontrada O Brasil é, de longe, o campeão mundial de biodiver-
também em relevo montanhoso, como nos planaltos ti- sidade: para ter uma ideia, de cada cinco espécies de a-
betanos. Dependendo da área onde se localiza, recebe nimais e vegetais conhecidas do planeta, uma encontra-
um nome diferente: campos, no Brasil; pampas, na Ar- se aqui. O país apresenta, ainda, a maior diversidade de
gentina; e pradaria, nos Estados Unidos e no Canadá. primatas, anfíbios e insetos. Em boa parte, toda essa ri-
Essa flora também é encontrada na África, na Ásia Cen- queza deve-se à extensão de seu território e aos diversos
tral e em trechos da Austrália. Por ser constituída de climas que caracterizam seus biomas. Está no território
gramíneas, que são pastagens naturais, é comum en- nacional a maior floresta tropical úmida (Floresta Amazô-
contrar, nessas regiões, a agropecuária como atividade nica), com mais de 30 mil espécies vegetais, bem como a
econômica principal. O relevo plano e o solo fértil em al- maior planície inundável (o Pantanal), além do Cerrado,
gumas dessas áreas favorece a produção agrícola. da Caatinga e da Mata Atlântica.
FLORESTA TEMPERADA: Entretanto, como no resto do mundo, sobretudo nas
É uma cobertura vegetal típica das latitudes médias – últimas décadas, o Brasil assistiu, quase impassível, à de-
aparece no norte da China, na Coreia do Sul, no Japão, terioração de seus ambientes naturais, em virtude de ma-
no leste dos Estados Unidos, na Europa e no sudeste les contemporâneos como a urbanização descontrolada,
da Austrália e Nova Zelândia. Essa floresta é formada a exploração mineral, o desmatamento a serviço da agro-
por árvores decíduas, chamadas ainda de estacionais, pecuária e a poluição. A seguir, conheça toda a exube-
caducas ou caducifólias, ou seja, que perdem as folhas rância dos seis grandes biomas brasileiros, conforme de-
no inverno para suportar as baixas temperaturas. As finição do IBGE, e as ameaças a esse riquíssimo manan-
poucas espécies de árvore, como carvalhos, bordos e cial de vida.
faias, são espaçadas, e o solo é recoberto por gramí- CAATING A:
neas. Grande parte da floresta temperada, contudo, já  O BIOM A: a Caatinga limita-se apenas ao território
foi devastada – na Europa, por exemplo, de 70% a 80% brasileiro, o que significa que sua biodiversidade é
da cobertura original já foi perdida; na China, de 80% a única em todo o mundo. Seu 826,4 mil quilômetros
90%. quadrados representam cerca de 10% do território
FLORESTA TROPICAL: brasileiro. Apesar do clima semiárido, a Caatinga é
Vegetação das áreas de baixas latitudes, quentes e pontilhada por “ilhas de umidade”, de solo extrema-
úmidas; as plantas têm folhas largas (latifoliadas), que mente fértil. Vivem nesse bioma cerca de 1,2 mil es-
absorvem mais energia solar, e são perenes, isto é, não pécies de planta – 360 delas endêmicas (que não
caem no “inverno”, pois as temperaturas permanecem ocorrem em nenhum outro lugar do planeta) – e ou-
elevadas. O solo é coberto por húmus, formado pela de- tras tantas de mamíferos, aves, répteis, e anfíbios.
composição de galhos, troncos e folhas. As florestas Quanto à vegetação, as plantas da Caatinga são xe-
tropicais cobrem grande parte da América do Sul (Regi- rófilas, ou seja, adaptadas ao clima seco e a pouca
ão Amazônica), da América Central, da zona equatorial quantidade de água. Algumas armazenam água; ou-
da África, do Sudeste Asiático e do Subcontinente Indi- tras possuem raízes superficiais para captar o máxi-
ano. mo das chuvas. Há as que contam com recursos pa-
VEGETAÇÃO MEDITERRÂN EA: ra diminuir a transpiração, como espinhos e poucas
„A vegetação mediterrânea é formada por espécies folhas. A vegetação é formada por três estratos: o
adaptadas a períodos secos, como os garrigues, o ma- arbóreo, com árvores de 8 a 12 metros; o arbustivo,
qui – arbustos, moitas e árvores pequenas, como olivei- com vegetação de 2 a 5 metros; e o herbáceo, abai-
ras – e o chaparral, similar ao maqui, mas menos denso. xo de 2 metros.
Essa formação vegetal é encontrada no litoral do Mar  A AM EAÇA: os maiores problemas enfrentado pela
Mediterrâneo, na Califórnia (EUA), na Austrália e na Á- região são a salinização do solo e a desertificação de
frica do Sul. A oliveira, da qual se extrai o azeite de oli- grandes áreas, o que acarreta em um processo de
va, e o loureiro, cuja folha é utilizada como tempero, são redução da vegetação e da capacidade produtiva do
espécies nativas da vegetação temperada. O clima me- solo. Estima-se que, no decorrer dos últimos 15 anos
diterrâneo também favorece a produção de uvas e con- do século passado, 40 mil quilômetros quadrados da
centram as principais vinícolas do mundo. caatinga tenham se transformado em deserto. Alguns
SAV ANA (CERRADO): dos responsáveis por isso são as explorações da ve-
Na savana, presente em áreas de baixas latitudes, getação para a produção de lenha e carvão, a con-
as plantas são rasteiras e há pequenas árvores, distribu- taminação do solo, a contaminação do solo por agro-
ídas de maneira esparsa, alternadas com bosques com tóxicos e o emprego de técnicas de irrigação inade-
quada para o tipo de solo existente ali. Acredita-se de cultivo e para a produção de papel, celulose e
que cerca de 50% do bioma já tenha sofrido algum móveis está por trás desse trágico cenário.
tipo de deterioração e que 20% estejam completa- AM AZÔNIA:
mente degradados.  O BIOM A: com 4,2 milhões de quilômetros quadra-
CERRADO: dos (equivalentes a cerca de 49% do território nacio-
 O BIOM A: o segundo maior bioma brasileiro ocupa nal), o bioma Amazônia é o maior do país. A paisa-
uma área de 2 milhões de quilômetros quadrados gem é dominada pela Floresta Amazônia e pela mai-
(cerca de 24% do território brasileiro), coberta pela or bacia hidrográfica do mundo. Essa floreta tem ve-
mais rica flora de savana tropical do mundo. São getação de folhas largas (latifoliadas), comuns em
mais de 11 mil espécies vegetais – 44% delas endê- regiões de clima equatorial, quente e úmido. Ele a-
micas (que não ocorrem em nenhum outro lugar do presenta três tipos de mata: de igapó (parte do solo
planeta). A fauna também é riquíssima, com cente- inundado); de várzea (periodicamente inundadas); e
nas de espécies de mamíferos, aves, répteis e anfí- de terra firme (nas partes mais elevadas do relevo, li-
bios. Quanto à vegetação, caracteriza-se pela pre- vres de inundação). Mas, longe de ser uma área ho-
sença de pequenos arbustos e árvores retorcidas, mogênea da floresta tropical, o bioma também abar-
com casca grossa. Encontram-se, ainda, gramíneas ca áreas de campos abertos e manchas de cerrado.
e o cerradão, tipo mais denso de cerrado que abriga As espécies que habitam a região – desde plantas
formações típicas de florestas esparsas e dissemina- até aves e mamíferos – representam cerca de 20%
das entre arbustos. do total de espécies conhecidas do planeta.
 A AMEAÇ A: o Cerrado é uma das regiões mais  A AM EAÇA: todos os anos, a região perde milha-
ameaçadas do globo. Ele é considerado pelos ambi- res de quilômetros quadrados de vegetação, pelo
entalistas um dos 34 biomas do planeta que exigem corte de árvores e pelas queimadas. A floresta tem
atenção especial de preservação, os hotspots. De fa- sido derrubada para a exploração de madeira, a
to, com a Mata Atlântica, é o bioma brasileiro que agropecuária, a mineração, além de outras ativida-
mais sofreu alterações com a ocupação humana. des econômicas. O agronegócio responde por uma
Sessenta por cento de sua área total é destinada à parcela significativa do desmatamento generalizado:
pecuária, e 6%, à monocultura intensiva de grãos – nada menos do que cerca de 40% da produção de
entre eles, a onipresente soja. A agropecuária fez carne e soja do país se concentra na Amazônia Le-
aumentar a deterioração de uma terra já ferida com o gal. Nesse avanço, é visível uma mancha de mata
garimpo, a contaminação dos rios por mercúrio, a e- derrubada, conhecida como Arco do Desflorestamen-
rosão do solo e o assoreamento dos cursos de água. to, que representa cerca de 12% da cobertura origi-
O cerrado já perdeu quase a metade da vegetação e, nal da Amazônia. Apesar de a área desmatada na
se nada for feito para reverter à situação, o bioma Amazônia ter desacelerado nos últimos dez anos, o
pode desaparecer até 2030. Alguns especialistas a- indicador retomou a trajetória de alta de dois anos
pontam que o cerrado já está em um ciclo irreversível para cá. Entre agosto de 2015 e julho de 2016, o to-
2
de extinção e que sua cobertura original não pode tal desmatado foi de 7.989 km , um aumento de 29%
mais ser recuperada. em relação ao período anterior.
M AT A ATLÂNTICA: PAM PA (CAM POS SULINO S):
 O BIOM A: com clima tropical, quente e úmido, a  O BIOM A: esse bioma cobre 177,8 mil quilômetros
Mata Atlântica possui um relevo de planaltos e ser- quadrados, equivalentes a cerca de 2% do território
ras. Quanto à vegetação, entre as florestas tropicais, brasileiro. Os Pampas são vastas extensões de
a Mata Atlântica é a que apresenta a maior biodiver- campos limpos, de solo coberto por gramíneas e
sidade por hectare do planeta, com espécies vege- pontilhado de pequenos arbustos, onde proliferam
tais como ipê, quaresmeira, cedro, palmiteiro, imbaú- milhares de espécies de plantas, mamíferos e aves.
ba, jequitibá-rosa e figueiras. A vegetação remanes- São campos típicos do Rio Grande do Sul. A região
cente guarda ainda cerca de 20 mil espécies de plan- plana, de vegetação aberta e de pequeno porte, for-
ta – 8 mil, endêmicas (que não ocorrem em nenhum ma um tapete herbáceo que não atinge 1 metro de
outro lugar do planeta). De exuberante biodiversida- altura, com pouca variedade de espécies. Sete tipos
de, apresenta, em alguns locais, mais de 450 espé- de cactos e de bromélia são endêmicos dos Pampas.
cies de árvore num único hectare. A região reúne,  A AM EAÇ A: a ocupação humana acelerada e o
ainda, centenas de espécies de mamíferos, aves, emprego de técnicas não sustentáveis de cultivo e
répteis e anfíbios. criação resultaram na formação de areais em algu-
 A AM EAÇ A: como o Cerrado, a Mata Atlântica mas áreas. Os Pampas sofrem, ainda, com a caça
também é considerada um hotspot, uma das 34 á- predatória e o bombeamento de águas dos banhados
reas do plante que exigem ação preservacionista - ecossistemas alagados, com densa vegetação de
mais urgente. Sua cobertura vegetal ocupava, origi- juncos e aguapés.
nalmente, mais de 1 milhão de quilômetros quadra- PANT ANAL:
dos, cerca de 13% do território nacional. No entanto,  O BIOM A: situado na bacia do Rio Paraguai, o
restam apenas cerca de 22% do volume original. Ele Pantanal cobre cerca de 1,8% do território nacional,
foi o bioma que mais sofreu com a urbanização do com 151,3 quilômetros quadrados. O menor bioma
país – hoje, as cidades da região concentram cerca brasileiro é a maior área alagada de água doce do
de 60% da população brasileira. Ecossistema asso- mundo. Mais de 80% da região permanece intocada,
ciada à Mata Atlântica, a Mata de Araucárias, locali- onde proliferam milhares de espécies conhecidas de
zada, sobretudo, na Região Sul, é o ambiente que plantas, aves, mamíferos, répteis e anfíbios. É consi-
sofreu o maior grau de devastação em termos per- derada uma área de transição entre a Amazônia e o
centuais no país – restam apenas cerca de 2% dos Cerrado, ao norte, e o chaco, na bacia do Rio Para-
quase 100 mil quilômetros quadrados originais. A guai, ao sul. Esse mosaico de ecossistemas intercala
derrubada indiscriminada para a expansão das áreas regiões de cerrado e floresta úmida, além de áreas
aquáticas e semiaquáticas. Quanto à vegetação, po-
dem ser identificadas três áreas: as alagadas, as pe- tivo é tornar compatível a conservação da natureza com
riodicamente alagadas e as que não sofrem inunda- o uso sustentável dos recursos naturais.
ção. Nas áreas alagadas, a vegetação de gramíneas Em 2016, o Brasil tinha 2.175 unidades de conserva-
desenvolve-se no inverno e serve de alimento para o ção continentais, sendo 687 Unidades de Proteção Inte-
gado. Nas de eventuais alagamentos, encontram-se, gral e 1.488 de Uso Sustentável. No total, as áreas prote-
além de vegetação rasteira, arbustos e palmeiras, gidas no Brasil somam 1.583 quilômetros quadrados – o
como o buriti. Nas que não sofrem inundação, pre- que representa cerca de 18% do território nacional. Há
dominam os cerrados e espécies arbóreas da flores- uma forte concentração de áreas protegidas na Amazônia
ta tropical. (cerca de 27,7% do bioma é designado unidade de con-
 A AM EAÇA: as transformações no Pantanal são servação). Isso não significa que não ocorram transgres-
lentas, mas implacáveis. A degradação agravou-se sões, já que há desmatamentos ilegais, poluição das á-
nas últimas duas décadas, com o crescimento das guas e desrespeito aos direitos dos povos tradicionais
cidades e a ocupação da cabeceira de importantes (indígenas, ribeirinhos, seringueiros). A Mata Atlântica e o
rios que cortam a região. A navegação nos rios Pa- cerrado, os dois biomas brasileiros na lista de hotspots
raguai e Paraná põe em risco as frágeis matas cilia- mundiais, possuem bem menos áreas protegidas do que
res. Mas a maior ameaça vem da agropecuária: as a Amazônia.
queimadas para renovação das pastagens, a conta- A LEGISLAÇ ÃO AM BIENT AL NO BRASIL
minação das águas e do solo por pesticidas e a in-
trodução de espécies exóticas de capim. O turismo O Código Florestal brasileiro regulamenta o uso da
desorganizado, bem como a caça e a pesca predató- terra para tentar equilibrar desenvolvimento econômi-
rias, completam o pacote. Apesar disso, ainda é o bi- co e preservação ambiental.
oma mais preservado do Brasil. O Código Florestal brasileiro foi criado em 1934 para
regulamentar a exploração dos recursos naturais como a
OS LIMITES DA EXPLOR AÇÃO madeira, a borracha e a água. Em 2012, essas regras fo-
Mecanismos legais de proteção ambiental tentam re- ram modificadas a fim de equilibrar desenvolvimento eco-
gulamentar o uso da terra e proteger os ecossistemas nômico e preservação ambiental. Mas as negociações pa-
brasileiros. ra a aprovação do novo Código Florestal opuseram os in-
Com a evolução da consciência ambiental ao longo teresses dos grandes proprietários, que defendiam a fle-
das décadas, foram sendo criados mecanismos legais pa- xibilização da lei para a expansão agropecuária, e dos
ra proteger áreas de grande importância ecológica. Foi ambientalistas, favoráveis a regras mais rígidas para o
assim que surgiram os parques nacionais, estaduais e desmate.
municipais, as reservas ecológicas ou extrativistas e as Os principais pontos da lei aprovada dizem respeito às
áreas de proteção ambiental. regiões em que é permitido o desmate e às zonas que
Dentro desse âmbito, podem ser identificadas duas devem ser protegidas em uma propriedade particular. Ela
correntes de pensamento: o preservacionismo, que colo- regulamenta o uso da terra nas áreas de preservação
ca em primeiro plano a necessidade de proteção dos e- permanente (APPs), como topos de morro, encostas e
cossistemas e dos habitats naturais e em segundo plano nascentes, e nas reservas legais. A redução das áreas
as populações humanas dessas áreas. Já o conservacio- protegidas e a isenção de multas a quem desmatou até
nismo defende a necessidade de se protegerem os ecos- 2008 são os temas mais controversos. Veja, a seguir, os
sistemas naturais juntamente com as populações huma- principais aspectos da lei ambiental.
nas, em especial os povos tradicionais que vivem nesses ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERM ANENETE
locais. (APP): são áreas, cobertas ou não por vegetação nati-
A primeira área criada oficialmente para a proteção da va, que devem ser protegidas. Essas áreas têm a fun-
flora e da fauna no mundo foi o Parque Nacional de Yel- ção ambiental de preservar recursos hídricos, paisa-
lowstone, nos Estados Unidos, no ano de 1872. Esse gens, estabilidade geológica, biodiversidade, além de
parque tinha como objetivo proteger legalmente a vida proteger o solo e assegurar o bem estar das populações
selvagem e preservar áreas de grande beleza cênica, humanas que vivem no local. As APPs representam
sem a presença de populações humanas. Tratava-se, cerca de 20% do território nacional.
portanto, de uma visão preservacionista. Esse enfoque  PRINCIPAIS FATOS:
também foi adotado em outros países, incluindo o Brasil,  São admitidos alguns usos, desde que considera-
onde foi criado o Parque Nacional de Itatiaia, no estado dos de interesse social ou baixo impacto, somen-
do Rio de Janeiro, na década de 1930. te em áreas rurais consolidadas – trata-se dos
Diversas outras ações semelhantes surgiram no país imóveis estabelecidos antes da promulgação da
sob essa mesma perspectiva, mas, ao longo do século Lei de Crimes Ambientais, em julho de 2008.
XX, a visão conservacionista passou a influenciar a cria-  As muitas referentes aos desmatamentos realiza-
ção de Unidades de Conservação (UCs), ou seja, as po- dos pelas áreas rurais consolidadas serão conver-
pulações locais passaram a ser consideradas correspon- tidas em serviços de preservação e melhoria do
sáveis pela conservação das áreas protegidas. Atualmen- meio ambiente.
te o Sistema Nacional de Unidades de Conservação  APP M ANGUEZAIS: são consideradas APPs em
(SNUC) – criado pela lei federal nº 9.985, de 18 de julho toda a sua extensão. A nova lei prevê a criação de
de 2000, e gerenciado pelo Ministério do Meio Ambiente – camarão e salinas em áreas de apicuns e salgados.
classifica as áreas protegidas em dois grupos:  APP TOPOS DE MORRO: são consideradas
UNIDADES DE PROTEÇÃO INTEGRAL: permite APPs os morros com altura mínima de 100 metros e
apenas o uso indireto dos recursos naturais, por meio inclinação média de 25º.
de pesquisa científica, atividades educacionais e turismo  APP ENCOST AS: são consideradas APPs as en-
ecológico. O objetivo principal é a preservação da natu- costas com declive acima de 45º. Aquelas com decli-
reza. vidade inferior a 45º agora podem ser exploradas
UNIDADES DE USO SUST ENTÁVEL: prevê a ex- sem restrições.
ploração parcial dos recursos naturais, de acordo com a
legislação específica para cada áreas protegida. O obje-
 APP NASCENTES: um raio mínimo de 50 metros a Convenção sobre a Diversidade Biológica, sobre a
deve ser preservado nas áreas nãos desmatadas. preservação de ecossistemas. Além disso, elaborou a
Nas áreas rurais consolidadas, a proteção passou a Agenda 21, um plano que estabelece estratégias globais
ser de 15 metros no mínimo. para promover o desenvolvimento sustentável no mun-
 APP M AT A CILIAR: é a formação vegetal presen- do, que envolve mudanças de padrão de consumo e
ta nas margens de rios, córregos, lagos, represas e produção, principalmente pelos países mais ricos.
nascentes. Sua preservação é importante para evitar A partir da Eco 92, estabeleceu-se a realização de
o assoreamento dos rios, proteger as nascentes e encontros anuais, denominados Conferência Geral das
conservar a biodiversidade. Nas áreas ainda não Partes (cuja sigla é COP), para aprofundar as discus-
desmatadas, prevalece o estabelecimento na lei an- sões ambientais. Na terceira COP, realizada em Kyoto,
terior: a faixa da mata ciliar protegida varia de 30 a no Japão, foi assinado o Protocolo de Kyoto, o primeiro
500 metros, conforme a largura do curso d‟água. Mas acordo oficial com metas e prazos para a redução de
o novo Código é menos rigoroso com as áreas rurais gases do efeito estufa.
consolidadas. De modo geral, nessas áreas, a faixa Dez anos depois da realização da Eco 92, a cidade
de mata ciliar a ser preservada varia de 5 a 100 me- de Johannesburgo, na África do Sul, sediou a Rio+10
tros, conforme o tamanho do imóvel e independen- para discutir os avanços obtidos desde o encontro no
temente da largura do rio. Rio de Janeiro. Ao final do evento foi elaborado um pla-
RESERVA LEG AL: área localizada no interior de no para a implementação da Agenda 21, que, entretan-
propriedade rural necessária ao uso sustentável dos re- to, frustrou expectativas por ter sido apenas um docu-
cursos naturais. É proibido desmatar a área da reserva mento de diretrizes e soluções, que não tinha força de
legal, mas é permitida a exploração econômica com lei.
manejo sustentável. Em 2012, o Rio de Janeiro voltou a reunir lideranças
 PRINCIPAIS PONTOS: mundiais de todo o mundo para fazer um balanço da
 O percentual mínimo de cada propriedade a ser Eco 92. A Rio+20 desenvolveu o conceito de “economia
preservado como reserva legal varia conforme o verde”, que propõe a construção de uma sociedade sus-
bioma. Em alguns casos, é permitido incluir as tentável, que freie a degradação do meio ambiente e,
APPs nesse percentual. simultaneamente, combata a pobreza e as desigualda-
des. O documento “O futuro que queremos” mantém o
AM BIENT ALISMO EM PAUT A
princípio das “responsabilidades comuns, mas diferenci-
Eventos internacionais reúnem lideranças políticas e adas”, cuja diretriz determina que os países ricos devem
científicas para debater as questões ambientais. Mas arcar com os maiores custos ambientais por terem emi-
os compromissos dos países para promover os avan- tido mais poluentes para se desenvolverem.
ços necessários ainda são tímidos. Essa discussão domina o debate ambiental atual-
Devido à pressão crescente da comunidade científica, mente. O acordo obtido na COP-21, realizada em de-
além de ONGs, movimentos sociais e outros setores da zembro de 2015 em Paris, representa um importante
sociedade civil, as questões ambientais passaram a inte- passo nesse sentido, já que estabeleceu a criação de
grar a agenda política internacional. Desde o primeiro e- um fundo de 100 bilhões de dólares anuais, financiado
vento com a presença de chefes de Estado para tratar da pelos países ricos, para auxiliar as nações em desen-
temática ambiental, ocorrido em Estocolmo, em 1972, até volvimento. Mas o fato de as metas para redução das
a Rio+20, em 2012, houve alguns avanços no combate à emissões de gases serem voluntárias pode restringir os
degradação ambiental, como a aprovação de documen- avanços.
tos, adoção de princípios comuns e assinatura de con- ATLAS
venções em defesa do meio ambiente.
Avançou-se também na perspectiva adotada: a maio- O MUNDO EM RESUMO
ria dos governantes concorda atualmente que a questão
Confira a seguir um abrangente retrato físico, econô-
ambiental não está desvinculada as questões sociais, ou
mico e social das seis grandes extensões de terra do
seja, não basta cuidar do meio ambiente, é preciso aten-
planeta.
der às necessidades das populações humanas, sobretudo
A superfície do planeta é dividida em seis continentes,
dos mais pobres. Critica-se, porém, a lentidão na implan-
as grandes extensões de terra emersas limitadas pelas
tação de medidas que de fato contribuam para essas
águas de mares e oceanos. Eles ocupam 150.377.393
transformações, condicionadas às relações econômicas.
quilômetros quadrados, dimensão que corresponde
OS PRINCIPAIS EVENTOS AMBIENTAIS:
29,4% da superfície total do globo. Mas nem sempre foi
O primeiro evento com a presença de chefes de Es-
assim.
tado para tratar da temática ambiental foi a Conferência
Há cerca de 400 milhões de anos, as terras do planeta
Mundial de Estocolmo, ocorrido em 1972 na capital da
estavam reunias em um único continente, chamada de
Suécia. Promovida pela ONU, o encontro abordou pela
Pangeia – em grego, pan significa toda; e geia, terra. Es-
primeira vez a produção dos países ricos como causa
se imenso bloco começou a rachar no sentido leste-oeste
importante da degradação da natureza. Foram debati-
por volta de 200 milhões de anos atrás e, aos poucos,
das também questões referentes ao controle de natali-
seus territórios foram se afastando uns dos outros, dando
dade e a estagnação econômica. A Declaração de Esto-
origem aos continentes como conhecemos hoje.
colmo reuniu 26 princípios e ações voltadas para a re-
A atual configuração física do globo foi estabelecida há
dução dos impactos ambientais.
65 milhões de anos, em decorrência desse processo de
A Eco 92 também representou outro marco importan-
deslocamento da crosta. O movimento constituiu os seis
te. A conferência mundial sobre meio ambiente realiza-
continentes existentes: África, América, Antártica (ou An-
da no Rio de Janeiro, em 1992, foi organizada com o
tártida), Ásia, Europa e Oceania. A América, por sua vez,
objetivo de minimizar os impactos ambientais a partir de
é subdividida em três: América do Norte, América Central
um modelo de desenvolvimento mais justo e sustentá-
e América do Sul. Vale ressaltar que o Ártico, região de
vel. O encontro aprovou o documento Convenção sobre
mares e águas congeladas, não é um continente.
a Mudança do Clima, que trata do aquecimento global, e
Como você verá nas páginas seguintes, os continen- mantiveram a exploração dos recursos naturais da região
tes apresentam características físicas, sociais e econômi- mesmo após o fim da escravidão. As lutas anticoloniais se
cas bastante diferenciadas. desenvolveram principalmente na segunda metade do sé-
DISTRIBUIÇÃO FÍSICA: culo XX, resultando na independência das nações africa-
A litosfera não é contínua, mas dividida em vários nas. O processo, contudo, não significou calmaria na re-
blocos, denominados placas tectônicas. Elas são sepa- gião. A pobreza e a miséria estimulam rivalidades étnicas
radas por grandes fendas vulcânicas em permanente a- e religiosas entre populações de países cujas fronteiras
tividade no fundo do mar. Através dessas fendas, o foram criadas artificialmente pelas nações europeias no
magma sobe à superfície. Isso expande o fundo do mar fim do século XIX, ou seja, sem levar em conta os territó-
e movimenta, em várias direções, os blocos que formam rios das etnias nativas.
a superfície. Esse legado histórico explica por que a África respon-
A própria distribuição das superfícies continentais se dia em 2015 por apenas 3,1% do Produto Interno Bruto
dá de forma desigual, correspondendo a 40,4% da área (PIB) mundial. Nos países ao sul do Deserto do Saara (a
do Hemisfério Norte e a apenas 14,4% da do Hemisfério África Subsaariana), 41% vivem abaixo da linha da po-
Sul. As regiões polares também são distintas. No sul, há breza, com renda inferior a 1,90 dólar por dia.
um continente – a Antártica – coberto por espessa ca- DISTRIBUIÇÃO FÍSICA: a África tem cerca de 30,2
mada de gelo; já no norte, existe uma grande depres- milhões de quilômetros quadrados de extensão e a mai-
são, coberta pelo Oceano Ártico. or porcentagem de terras desérticas do globo. O Deser-
POPULAÇ ÃO: to do Saara ocupa um terço do território africano. Seu
A Ásia é o maior e mais populoso dos continentes, relevo se caracteriza pelo predomínio de imensos tabu-
reunindo quase 60% dos habitantes do globo. É também leiros – planaltos pouco elevados. A distribuição da ve-
o berço de algumas das mais antigas civilizações e reli- getação obedece aos fatores climáticos: na porção e-
giões do mundo. As duas nações com a maior popula- quatorial, há florestas latifoliadas, que vão se transfor-
ção estão no continente asiático: China (1,4 bilhão de mando em savanas à medida que avançam para as re-
pessoas) e Índia (1,3 bilhão). giões mais secas, ao norte e ao sul.
Em contrapartida, o crescimento demográfico na Eu- POPULAÇ ÃO: o continente africano tem 1,2 bilhão de
ropa está praticamente estagnado. No período entre habitantes em 2016. O fértil vale do Rio Nilo, que corta
2010 e 2015, a ONU estima que sua população tenha países como Egito e Sudão, apresenta uma densidade
crescido apenas 0,1%. Com isso, a Europa acaba ne- demográfica bastante elevada. Entre os principais cen-
cessitando de mão de obra especializada de outras par- tros urbanos da África destacam-se Cairo (Egito), Lagos
tes do planeta. A discussão em torno da imigração ilegal (Nigéria) e Johannesburgo (África do Sul).
de trabalhadores sem qualificação se torna cada vez ECONOMIA: a África é o continente mais pobre, com
mais intensa e tem sido motivo de criação de diversas – economia essencialmente agrícola. Os poucos polos de
e polêmicas – legislações restritivas. desenvolvimento se devem à exploração mineral. Nessa
Já na América, os Estados Unidos (EUA), por sua atividade, destacam-se a África do Sul e a Nigéria, que,
força econômica, são o principal polo receptor de imi- juntas, detêm mais de um terço de todo o PIB africano.
grantes. Em 2015 viviam no país 43,3 milhões de imi- AM ÉRICA
grantes, que representam 13,5% da população total. Os
mexicanos formam o maior grupo, constituindo 11,6 mi- Três em um.
lhões – só no ano passado, pelo menos 140 mil pessoas Segundo continente mais extenso, com área de 42 mi-
migraram do México para os EUA. lhões de quilômetros quadrados, a América é formada por
ECONOMIA: duas grandes massas de terra (América do Norte e Amé-
Do ponto de vista dos recursos naturais, a Ásia abri- rica do Sul), unidas por uma estreita faixa (América Cen-
ga as maiores jazidas conhecidas de petróleo, em parti- tral). Um sistema de cadeias montanhosas percorre o ter-
cular no Oriente Médio e nos países de sua região cen- ritório em sua porção oeste, sem interrupção desde o Es-
tral. treito de Magalhães, no extremo sul, até o Estreito de Be-
A África, por sua vez, apresenta os problemas soci- ring, no extremo norte.
ais mais agudos, especialmente na região ao sul do De- Nenhum continente apresenta tamanho desequilíbrio
serto do Saara (a África Subsaariana). Embora o conti- regional quanto a América. Ao norte, os Estados Unidos
nente reúna as maiores reservas de minérios e pedras (EUA) e o Canadá são duas das mais desenvolvidas na-
preciosas do planeta, sua população vive em extrema ções do planeta, enquanto os outros países – que com-
miséria. Bolsões de pobreza também são encontrados põem a América Latina – estão num nível de desenvolvi-
na maior parte da Ásia e nas porções central e sul da mento bem inferior.
América, que, com o México formam a América Latina. AM ÉRICA CENTRAL: a região, que responde por
A produção de riquezas concentra-se principalmente apenas 1,8% do Produto Interno Bruto (PIB) da Améri-
na América do Norte e na Europa: a soma do Produto ca, sobrevive basicamente da agricultura e do turismo.
Interno Bruto (PIB) dos países dessas regiões é superior Pelo Canal do Panamá, a principal passagem entre o
a 50% do total do planeta. Nessas nações estão os indi- Oceano Atlântico e o Pacífico, circulam 5% de todo o
cadores sociais mais positivos do mundo, que garantem comércio marítimo mundial. A região abriga, ainda, a ú-
boas condições de vida a ampla parcela da população. nica nação comunista do continente americano: Cuba.
Na Ásia, destacam-se China e Japão – segunda e ter-  DISTRIBUIÇÃO FÍSICA: a América Central, com
ceira maiores economias mundiais, respectivamente. 748,6 mil quilômetros quadrados, é formada pelo
istmo que une a América do Norte à América do Sul
ÁFRICA
e pelas ilhas do Mar do Caribe. O território centro-
O berço da humanidade. americano possui relevo montanhoso, com vários
Continente que abriga as mais antigas evidências da vulcões ativos. No verão, o Caribe é assolado por fu-
presença do homem no planeta, a África foi seguidamente racões, com ventos de até 300 quilômetros por hora.
pilhada, dividida e ocupada pelas potências da Europa a  POPULAÇ ÃO: reúne 89,9 milhões de habitantes
partir do século XV. No decorrer desse período, milhões em 2016. A região é povoada em grande parte por
de africanos foram escravizados por essas nações, que
mestiços, descendentes de índios, africanos e colo- servas de água doce da Terra, interfere no nível dos oce-
nizadores europeus. anos, por causa das variações em sua extensão e espes-
 ECONOMIA: a agricultura emprega a maioria da sura. No inverno, até 18 milhões de quilômetros quadra-
população. A industrialização é incipiente e limita-se dos do oceano em torno do continente ficam cobertos por
ao processamento de produtos agrícolas. O turismo uma fina camada de gelo. O buraco na cama de ozônio
na região do Caribe está em plena expansão. localiza-se em cima do continente e ameaça a estabilida-
AM ÉRICA DO NORTE: a América do Norte é ocupa- de de suas geladeiras (90% das existências no planeta),
da por três grandes países: Canadá, EUA – bastante em virtude da maior exposição à radiação solar.
desenvolvidos – e México, menos desenvolvido. DISTRIBUIÇÃO FÍSICA: a Antártica é cercada pelas
 DISTRIBUIÇÃO FÍSICA: compreende uma área águas dos oceanos Atlântico, Pacífico e Índico. É o lu-
de 23,4 milhões de quilômetros quadrados. Suas gar mais frio do globo com temperaturas inferiores a 0ºC
principais elevações se localizam a oeste, enquanto no verão e menores que -80ºC no inverno. Sob a grossa
a maior bacia hidrográfica, a do Mississippi-Missouri, camada de gelo, estende-se o Lago Vostok, um dos
se situa a leste. A maior ilha do mundo fica na Amé- maiores do mundo, com 10 mil quilômetros quadrados
rica do Norte: Groelândia, com quase 2,2 milhões de de extensão.
quilômetros quadrados. Na porção norte, de clima ECONOMIA: as atividades humanas no continente
continental frio, predominam as florestas de conífe- restringem-se à pesca e à investigação científica. Diver-
ras; o centro e o sudeste, de clima continental, são sas nações mantêm base de pesquisa na região, entre
ocupados por florestas temperadas e pradarias; no as quais o Brasil, que desenvolve atividades na Base
sudeste, há desertos. Comandante Ferraz. Em 1991 foi assinado o Protocolo
 POPULAÇ ÃO: abriga cerca de 489,2 milhões de de Madri, que entrou em vigor em 1998. Esse documen-
habitantes em 2016. A maioria descendente de colo- to proíbe por 50 anos a exploração econômica dos re-
nizadores europeus, de escravos africanos e de vá- cursos naturais. A medida é preventiva, já que, até hoje,
rios grupos de imigrantes. Os principais centros ur- não foram encontradas reservas d interesse comercial.
banos encontram-se na Cidade do México, em Nova Argentina, Austrália, Chile, França, Noruega, Nova Ze-
York e Los Angeles. lândia e Reino Unido reivindicaram áreas no continente.
 ECONOMIA: é plenamente industrializada nos Es- ÁSIA
tados Unidos e no Canadá e, em menor grau, no
Vastidão oriental.
México. A América do Norte apresenta agricultura al-
A Ásia é o maior e o mais populoso continente. Na
tamente mecanizada, com destaque para a produção
Cordilheira do Himalaia, estão os pontos mais altos do
de cereais, milho, soja e laranja. Além disso, possui
planeta, em especial o Monte Everest, com 8.850 metros,
vastas reservas de combustíveis fósseis e minérios.
na fronteira entre o Nepal e a China. Situam-se no conti-
AM ÉRICA DO SUL: a região possui vastos recursos
nente asiático algumas das maiores concentrações hu-
naturais, mas também graves problemas sociais. O Bra-
manas, em megacidades como Tóquio, no Japão.
sil é a economia mais desenvolvida, enquanto Chile, Ar-
Os recursos naturais são imensos. A Ásia produz qua-
gentina e Uruguai apresentam melhor índice de desen-
se metade do petróleo do mundo, possuindo as maiores
volvimento humano (IDH).
reservas conhecidas, nos países do Golfo Pérsico. Ao la-
 DISTRIBUIÇÃO FÍSICA: a América do Sul conta do do Japão, a principal nação industrial do continente, e
com 17,8 milhões de quilômetros quadrados. A por- de países em acelerado processo de desenvolvimento,
ção oeste é ocupada pela Cordilheira dos Andes, cu- como a China, há várias regiões atrasadas, com graves
jo ponto mais alto é o Pico Aconcágua (6.959 me- problemas sociais, sobretudo na Ásia Central.
tros). As planícies centrais abrigam a bacia hidrográ- A região também sofre com sérios conflitos, como a
fica do Orinoco, a Amazônica e a do Prata. Na região guerra civil na Síria. As disputas territoriais entre israelen-
norte, onde o clima é equatorial, encontram-se flores- ses e palestinos, no Oriente Médio, e o conflito entre Índia
tas latifoliada tropicais úmidas. O sul possui faixas de e Paquistão pela região da Caxemira, são outros exem-
clima desértico, como na região de Atacama, e uma plos. Mais recentemente, o fundamentalismo religioso deu
zona temperada, ocupada por florestas subtropicais origem a grupos como o Estado Islâmico, que controla re-
e pelos pampas argentinos. giões no Iraque a na Síria.
 POPULAÇ ÃO: a América do Sul tem 422,5 mi- DISTRIBUIÇÃO FÍSICA: maior continente do mun-
lhões de habitantes em 2016. A população é formada do, sua áreas é de carca de 45 milhões de quilômetros
por descendentes de europeus (em especial espa- quadrados. A fronteira convencional entre Ásia e Europa
nhóis e portugueses), africanos e indígenas, contan- é determinada pelos Montes Urais, pelo Rio Ural, pelo
do com alta porcentagem de mestiços. Mar Cáspio, pelas montanhas do Cáucaso e pelo Mar
 ECONOMIA: a indústria está centrada na produção Negro. Dessa forma, os territórios de Turquia e Rússia
agrícola e de bens de consumo. No Brasil e na Ar- estendem-se pelos dois continentes.
gentina, encontra-se mais diversificada, abrangendo O relevo asiático apresenta a maior altitude média da
setores como siderurgia e metalurgia. O Brasil é res- Terra (960 metros), em razão da presença de grandes
ponsável por cerca de três quintos da produção in- cadeias montanhosas, entre as quais a Cordilheira do
dustrial sul-africana. Himalaia e a do Kunlun, que contornam o planalto do
ANT ÁRTICA Tibete. Há também grandes depressões, como o Mar
O continente de gelo. Morto, situado 365 metros abaixo do nível do mar.
Também chamada de Antártida, a Antártica é coberta Em virtude da vastidão de seu território, da diversi-
por uma enorme camada de gelo. A superfície do conti- dade de relevos e do regime de monções (vento perió-
nente ocupa 14 milhões de quilômetros quadrados, e 99% dico que, no verão, sopra do mar para o continente e, no
de sua superfície é coberta por um manto de gelo que a- inverno, do continente para o mar), existem muitos tipos
tinge quase 5 quilômetros de espessura. Essa massa de de clima na Ásia. Como consequência, há também
gelo é de extrema importância para o equilíbrio do plane- grande variedade de vegetação: tundra, estepes, flores-
ta. Isso porque, além de concentrar cerca de 70% das re- tas de coníferas, florestas temperadas e florestas tropi-
cais.
POPULAÇ ÃO: o continente é o mais populoso do ECONOMIA: o parque industrial europeu é um dos
mundo, com 4,4 bilhões de habitantes em 2016. A dis- mais avançados do mundo, com destaque para os seto-
tribuição da população é bastante desigual, com mais res automobilístico, químico, siderúrgico e de telecomu-
de 60% dos habitantes concentrados na China e na Ín- nicações. Persistem, entretanto, contrastes de desen-
dia. Há grande diversidade étnica, linguística e religiosa. volvimento entre os países ocidentais, que detêm cerca
Os conflitos em curso do continente provocam grandes de 80% do PIB do continente, e as nações de leste, do
deslocamentos de pessoas – os maiores contingentes ex-bloco comunista. A criação da União Europeia, em
de refugiados são formados por 5 milhões de palestinos 1992, tenta superar esse quadro desigual, mas a crise
e 4,9 milhões de emigrados da Síria, que fogem da atual da região explicita o fosso que separa as nações
guerra civil iniciada em 2011. ricas das mais atrasadas.
ECONOMIA: a Ásia apresenta contrastes econômicos OCEANIA
extremos. A porção mais desenvolvida – que inclui paí-
ses como Japão, Coreia do Sul e Taiwan – registra ren- Mais que cangurus.
da per capita quase 100 vezes maior que a das regiões A Oceania é formada por uma massa continental (a
pobres. No sul do continente, região que abrange na- Austrália), parte leste da Ilha de Nova Guiné, as ilhas que
ções como Índia, Paquistão e Bangladesh, a pobreza a- constituem a Nova Zelândia e pequenas ilhas e atóis que
tinge elevadas proporções: 15% da população vive com se espalham pelo Oceano Pacífico. Essas ilhas menores
menos de 1,90 dólar por dia. se dividem em três grupos: a Polinésia, no extremo leste;
A extração mineral é a principal fonte de divisas dos a Melanésia, na região central; e a Micronésia, situada ao
prósperos países do Golfo Pérsico, que detêm mais de norte.
50% das jazidas mundiais de petróleo. A atividade extra- Há diferenças marcantes na região. Enquanto a Aus-
tivista é intensa também na Rússia – dona de cerca de trália e a Nova Zelândia são nações desenvolvidas, as
um terço do gás natural do planeta e de grandes reser- demais têm economia frágil. A Oceania enfrenta, ainda,
vas conhecidas de petróleo. graves problemas ambientais. Estudos indicam que, den-
Apesar da intensa modernização econômica, grande tro de um século, a elevação do nível do mar, causada
parte dos empregos no continente estão na agricultura – pelo aquecimento global, poderá submergir ilhas e atóis
no sul da Ásia, por exemplo, metade da força de traba- da região.
lho atua no setor. A Ásia responde por aproximadamen- DISTRIBUIÇÃO FÍSICA: é o menor continente do
te 45% da produção mundial de cereais, com destaque mundo, com 8,5 milhões de quilômetros quadrados de
para o arroz (90% do que se produz no planeta). Mas, extensão. A Austrália corresponde a cerca de 90% da
ainda assim, precisa importá-los para suprir a demanda área emersa da Oceania. A maioria das ilhas da Ocea-
interna, especialmente da China. nia é de origem vulcânica, sendo cobertas de florestas
tropicais.
EUROPA POPULAÇ ÃO: a Oceania é também o menos habita-
Berço da civilização ocidental. do dos continentes, com 39,6 milhões de pessoas em
O continente é considerado o berço da civilização oci- 2016. Cerca de 60% dessa população vive na Austrália.
dental. Ali se desenvolveram, por exemplo, o Renasci- ECONOMIA: a Austrália destaca-se pelo parque in-
mento, a Revolução Francesa e a Revolução Industrial, dustrial, pela agricultura e pela extração mineral, en-
eventos que moldaram o mundo moderno. A pequena ex- quanto a economia das ilhas do Pacífico é agrícola.
tensão da Europa contrasta com sua importância históri- O BRASIL EM RESUMO
ca. Impulsionado pela expansão marítima e comercial, o
continente exerceu, por séculos, papel hegemônico sobre Confira a seguir as principais características físicas,
o globo abrigando várias potências coloniais. econômicas e sociais das cinco regiões brasileiras.
Porém, após o fim da II Guerra Mundial, o continente Quinto maior país do mundo, o Brasil conta com um
viu-se dividido, por décadas, em dois blocos hostis, um território de 8.515.767 quilômetros quadrados de exten-
capitalista e outro socialista – eles correspondem, em li- são. Com todo esse tamanho, para efeitos administrati-
nhas gerais, à Europa Ocidental e à Europa Oriental. A vos, nosso território é dividido em cinco regiões: Centro-
primeira é integrada pelas nações mais ricas do continen- Oeste, Nordeste, Norte, Sudeste e Sul. Essa divisão regi-
te. A segunda é formada predominantemente por países onal, que fica a cargo do Instituto Brasileiro de Geografia
que saíram do bloco comunista e procuram melhorar sua e Estatística (IBGE), tem como objetivo reunir estados
economia. Após o encerramento da Guerra Fria, nos anos com traços físicos, humanos, econômicos e sociais co-
1990, foi criada a União Europeia (UE), o principal bloco muns, o que ajuda no planejamento de políticas voltadas
econômico do mundo. Atualmente, a UE tenta superar para áreas com necessidades semelhantes.
uma grave crise econômica, alavancada pelo alto endivi- Mas nem sempre o Brasil foi “repartido” da forma como
damento dos países-membros. é hoje, tenho sido estabelecidas muitas divisões regionais
DISTRIBUIÇÃO FÍSICA: a Europa pertence, com a no decorrer da história. A atual está em vigor desde 1970,
Ásia, à massa de terra conhecida como Eurásia. O con- mas sofreu algumas alterações depois da Constituição e
tinente europeu tem área de 10 milhões de quilômetros 1988. O estado do Tocantins foi criado com a divisão de
quadrados. A maior parte do território é formada por Goiás e incorporado à Região Norte. Além disso, Rorai-
planícies. Predomina o clima temperado, mas há varia- ma, Amapá e Rondônia deixaram de ser territórios para
ções. A vegetação original já foi bastante devastada, se tornar estados. Por fim, Fernando de Noronha foi in-
prevalecendo florestas temperadas e de coníferas. corporado ao estado de Pernambuco. Em 2017, o Brasil
POPULAÇ ÃO: o continente tem 738,8 milhões de ha- registra 5.570 municípios nos 26 estados mais o Distrito
bitantes em 2016 e é o único com tendência de redução Federal.
da população. Paralelamente às baixas taxas de natali- A despeito do tipo de recorte, o fato é que as dispari-
dade, o envelhecimento dos habitantes exerce forte dades entre as regiões são muito grandes. Para ter uma
pressão demográfica no continente e pode comprometer ideia, a Região Sudeste, a segunda menor área, possui o
o crescimento econômico. Por isso, apesar da atual re- maior número de habitantes, o maior percentual de pes-
sistência de muitos países à entrada de imigrantes, a soas que vivem em cidades e é responsável por mais da
Europa precisa de força de trabalho dos estrangeiros. metade do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. A Regi-
ão Nordeste, por sua vez, apresenta alguns dos mais bai- te, com a industrialização, e para o Centro-Oeste, com a
xos indicadores sociais. A Região Norte, com o segundo construção de Brasília. Além da atração econômica de
menor número de habitantes, apresenta o maior contin- outras regiões, os fluxos migratórios são motivados pe-
gente de população indígena e tem o mais alto índice de los períodos de seca.
crescimento demográfico. A Região Sul, seguida de perto ECONOMIA: nos últimos anos, a economia nordestina
pela Sudeste, é a que apresenta os melhores indicadores: vem apresentando crescimento. Com a guerra fiscal
tem o menor índice de mortalidade infantil e a menor taxa (concessão de benefícios ficais pelos governos estadu-
de analfabetismo. A Região Centro-Oeste, embora conte ais com o objetivo de atrair empresas), uma série de in-
com população menor, apresenta acelerado crescimento dústrias se instalou nos estados nordestinos para fugir
demográfico, atrás apenas da Região Norte. da carga tributária mais pesada no Sul e no Sudeste.
CENTRO-OESTE Além disso, a região é a segunda produtora de petróleo
do país – lá funciona um dos polos petroquímicos mais
O cerne brasileiro. importantes: o de Camaçari (BA).
Formada pelos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Apesar dos longos períodos de seca, a pecuária e a
Grosso do Sul e pelo Distrito Federal, a região localiza-se agricultura vêm ganhando destaque. A boa adaptação
no extenso Planalto Central. Seu relevo se caracteriza por das cabras ao clima local faz com que o Nordeste tenha
terrenos antigos e aplainados pela erosão, que originam o maior rebanho do país. A cana-de-açúcar é o produto
chapadões. O território também abriga a planície do Pan- agrícola de destaque, mas as lavouras irrigadas de fru-
tanal Mato-Grossense, cortada pelo Rio Paraguai e sujei- tas tropicais têm crescido em importância na produção
ta a cheias durante parte do ano. O clima do Centro- nacional. Outro setor relevante na economia nordestina
Oeste é tropical semiúmido e úmido, com chuvas de ve- é o turismo.
rão. A vegetação é de cerrado dos planaltos. No Panta-
NORTE
nal, é considerado patrimônio da humanidade pela Unes-
co, os campos cerrados dividem o espaço com a floresta, Gigante setentrional.
que se torna mais fechada e úmida no norte do Mato Formada por sete estados (Acre, Amapá, Amazonas,
Grosso. Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins), a região é banha-
POPULAÇ ÃO: ainda no Brasil colônia, o povoamento da pelos grandes rios das bacias Amazônicas e do To-
do Centro-Oeste resulta de dois movimentos migrató- cantins. Em todo o Norte predomina o clima equatorial. A
rios. Um vem do Sul e do Sudeste, em virtude do trans- Floresta Amazônica, a vegetação mais abundante, é uma
porte de gado às fazendas que ali começaram a se ins- das áreas de maior biodiversidade do planeta. Esse pa-
talar e da ação dos bandeirantes paulistas. Outro movi- trimônio, contudo, está ameaçado pelo desmatamento.
mento vem do Nordeste, também ligado ao comércio de POPULAÇ ÃO: a maior concentração de índios está
gado, que acaba criando, e fortalecendo, os primeiros no Norte e, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e
povoados da região. No século XX, as maiores ondas Estatística (IBGE), a região abriga 342,8 mil índios de
migratórias vêm do Nordeste e ocorrem a partir dos a- diversas etnias (38% do total). Amazonas, Pará e Ro-
nos 1950, com a construção da nova capital federal, raima são os estados com a maior concentração indíge-
Brasília. Segundo o IBGE, o Centro-Oeste é a região do na. No decorrer das décadas, os estados do Norte tam-
país que proporcionalmente mais recebe imigrantes, bém receberam grandes levas de imigrantes de outras
com 30,2% de residentes vindos de outros estados em regiões, sobretudo no Nordeste.
2015. ECONOMIA: além do intenso extrativismo vegetal, de
ECONOMIA: o crescimento econômico da região de- produtos como látex e madeira, a região é rica em miné-
ve-se, sobretudo, ao bom desempenho do setor agrope- rios. Lá estão a Serra dos Carajás (PA), a mais impor-
cuário. Com cerca de 72 milhões de cabeças de gado, o tante área de mineração do país, rica em manganês,
rebanho bovino o Centro-Oeste responde por um terço ferro e ouro, e a Serra do Navio (AP).
do total do país. Na agricultura, os produtos mais impor- A economia foi bastante beneficiada com a instala-
tantes são o algodão, o milho e, principalmente, a soja, ção, no fim da década de 1960, da Zona Franca de Ma-
cuja colheita responde por quase metade da produção naus, baseada em políticas de incentivo fiscal. Com
nacional. Entre os recursos minerais que mais se desta- mais de 600 indústrias, o Polo Industrial de Manaus res-
cam estão calcário, cobre, níquel e manganês. ponde por cerca de metade do PIB do Amazonas. Os
Por outro lado, a região enfrenta o desafio e aliar o principais setores do polo são o eletroeletrônico, de in-
crescimento econômico com a preservação ambiental. A formática, motos e bicicletas, químico e de refrigerante.
adaptação da soja ao solo do cerrado devastou grande Nos últimos anos, contudo, o crescimento econômico
parte da vegetação local, e a cultura do grão avança pa- tem ocorrido à custa de atividades de grande impacto
ra o norte de Mato Grosso, rumo à Floresta Amazônica. ambiental: o aumento da pecuária extensiva – um terço
NORDESTE do rebanho do país está na Amazônia –, o avanço da
agricultura, sobretudo das lavouras de soja e, por fim, a
Além do sertão. extração de madeira.
Formada por nove estados – Maranhão, Piauí, Ceará,
SUDESTE
Rio Grande do Norte, Pernambuco, Paraíba, Alagoas,
Sergipe e Bahia –, a maior parte da região é constituídos Multidão urbana.
por extensos planaltos, antigos e aplainados pela erosão. Formada por quatro estados – Espírito Santo, Minas
Os climas predominantes são o tropical e o semiárido, Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro –, a região situa-se na
com grande parte do território coberta pela caatinga. O parte mais elevada do Planalto Atlântico, onde estão as
Nordeste reúne os mais baixos Índices de Desenvolvi- serras da Mantiqueira, do Mar e do Espinhaço. Os climas
mento Humano (IDH) do país, com altas taxas de mortali- predominantes são tropical úmido, semiúmido e de altitu-
dade infantil e analfabetismo. de. A mata tropical nativa foi praticamente devastada du-
POPULAÇ ÃO: a história nordestina é marcada pelos rante o povoamento.
movimentos migratórios. No fim do século XIX, o clima O relevo planáltico do Sudeste confere grande poten-
da borracha na Amazônia deu início à migração dos cial hidrelétrico à região. Em Minas Gerais ocorre o en-
nordestinos, que aumentou no século XX para o Sudes- contro da nascente de duas importantes bacias hidrográ-
ficas: a do Rio Paraná, que se forma próximo à região co-
nhecida como Triângulo Mineiro, e a do Rio São Francis-
co, que nasce na Serra da Canastra.
POPULAÇ ÃO: a região é a que concentra a maior po-
pulação do país, com cerca de 86,3 milhões de habitan-
tes em 2016, mais de 40% do total de brasileiro. É tam-
bém a que tem a maior densidade demográfica e o mais
alto índice de urbanização: 93,1%. Abriga as duas mais
importantes metrópoles nacionais – São Paulo e Rio de
Janeiro. Com Belo Horizonte, as três formam as maiores
regiões metropolitanas do país, reunindo 19% da popu-
lação.
Se, por um lado, o Sudeste responde pela maior par-
cela da riqueza do Brasil, por outro é a região que mais
sofre com o desemprego e o crescimento da violência.
Ainda assim, seus indicadores sociais estão entre os me-
lhores do país.
ECONOMIA: o Sudeste responde por mais da metade
do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Com as maio-
res montadoras e siderúrgica do país, a região possui
uma produção industrial de ponta. Os serviços e o co-
mércio são os principais ramos de atividade. Além disso,
a faixa litorânea da região abriga a maior parte das jazi-
das de petróleo do país, como a Bacia de Santos (SP) e
a Bacia de Campos (RJ) – esta última responde por cer-
ca de 80% da produção nacional.
SUL
Temperatura em queda.
Formada por três estados – Santa Catarina, Paraná e
Rio Grande do Sul –, a região vive sob a influência do
clima subtropical, responsável pelas temperaturas mais
baixas registradas no Brasil durante o inverno. A vegeta-
ção acompanha a variação da temperatura: nos locais
mais frios predominam as matas de araucárias (pinhais) –
que estão reduzidas a apenas 2% da área original – e,
nos pampas, os campos de gramíneas.
POPULAÇ ÃO: a região é marca pela chegada dos i-
migrantes europeus, a partir da primeira metade do sé-
culo XIX, que contribuíram para o desenvolvimento da
economia, baseada na pequena propriedade rural de
policultura. A localidade apresenta os melhores indica-
dores de mortalidade infantil, educação e saúde do país.
ECONOMIA: o setor de serviços responde pela maior
parte das riquezas da região. Depois vem a indústria –
com destaque para os setores metalúrgico, automobilís-
tico e têxtil. A agropecuária também é importante para a
economia: o Sul detém 36% da produção nacional de
grãos e, nos pampas gaúchos, a principal atividade é a
criação de rebanhos bovinos. Existem, ainda, grande
potencial hidrelétrico, com destaque para a Usina de I-
taipu, localizada no Rio Paraná, na fronteira do Brasil,
no estado do Paraná, com o Paraguai.

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