• OUCs:
– transformação estrutural de grandes áreas urbanas;
– implicam em articulações público-privadas como mecanismo de financiamento;
– criam novas dinâmicas territoriais; e
– incidem sobre o cotidiano de moradores e usuários.
Fonte: http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/estruturacao-territorial/operacoes-urbanas/
OU Centro: 84/582 ha.
Fonte: PL 723/2015
O projeto de desenvolvimento urbano e econômico da OUCBT,
com base nos estudos urbanísticos realizados anteriormente,
propõe:
i) Amplo programa de intervenções com melhoramentos
viários, qualificação dos sistemas de drenagem e de
transportes, promoção de habitação popular e
equipamentos públicos, a criação de áreas verdes e
resgate do patrimônio histórico existente na região;
ii) Estratégias de financiamento da transformação e
incentivos aos espaços produtivos da indústria, da
logística, da economia criativa e do comércio e serviços; e
iii) Instrumentos de gestão territorial e participativa,
atestando sua viabilidade e assegurando seu controle
social.
Estratégias da OUCBT
• Um dos pontos centrais na articulação da OUCBT com o
PDE de 2014 e que, no nosso entendimento, será
significativo para a produção de resultados diferentes das
demais OUCs vigentes, é a transposição do conjunto de
estratégias desenvolvidas pelo último (anteriormente já
delineadas) para a operacionalização dos instrumentos
urbanísticos apresentados pela primeira.
• Tais estratégias buscam criar mecanismos para viabilizar as
intervenções de forma a respeitar os objetivos e as
diretrizes anteriores, ou seja, será através das estratégias
que objetivos e diretrizes serão operacionalizados pelos
instrumentos urbanísticos e parâmetros de uso e ocupação
do solo.
Estratégias da OUCBT
1. Socializar os ganhos de produção na região;
2. Assegurar o direito à moradia digna para quem precisa;
3. Melhorar a mobilidade urbana;
4. Qualificar a vida urbana nos bairros;
5. Orientar o crescimento da cidade nas proximidades do
transporte público;
6. Reorganizar as dinâmicas metropolitanas promovendo o
desenvolvimento econômico da cidade;
7. Incorporar a agenda ambiental ao desenvolvimento da
cidade;
8. Fortalecer a participação popular nas decisões e rumos da
cidade;
9. Preservar o patrimônio e valorizar as inciativas culturais.
As OUCs como instrumento de planejamento e
desenvolvimento urbano e territorial
• Questão fundamental: escolha da área definida pelos projetos para
receber um processo concertado de reestruturação urbana onde
estratégias de marketing e parâmetros urbanísticos são definidos e
diferenciados das demais áreas da cidade;
• Essa qualidade será bastante característica e evidente na grande maioria
dos projetos de renovação urbana em países de capitalismo central (na
América do Norte e Europa Ocidental) como recuperação de centros
históricos e renovação de áreas portuárias, ferroviárias e/ou industriais
que se tornariam obsoletas ou subutilizadas com a reestruturação
produtiva;
• As áreas portuárias de Boston e Londres, as áreas industriais de Barcelona
ou de estação e linhas férreas de Paris comprovam essa afirmação tendo
em conta que todas elas estão localizadas em áreas privilegiadas em
relação à tramas urbanas;
• OUCs em São Paulo: tanto as áreas das operações do Centro e da Água
Branca quanto a área dos “Bairros do Tamanduateí” podem ser definidas
como degradadas, obsoletas ou com perda de função ao longo das últimas
décadas, diferentemente das áreas das OUCs Faria Lima e Água Espraiada
que passaram por processos de urbanização diferentes sem características
históricas, ferroviárias ou industriais;
• Tais áreas tornaram-se as principais áreas de expansão de negócios
imobiliários focados no segmento de prédios de escritórios para serviços
terciários avançados, situados no quadrante Sudoeste e, portanto, de
grande interesse do setor privado;
• Foram também as duas operações que mais se basearam em obras viárias
para a sua estruturação.
A região da OUCBT (“território”) acumula diversas características que a
colocam como privilegiada nesse sentido, quais sejam:
i) Resulta de um processo de urbanização histórico que, com a chegada
das estradas de ferro há 150 anos atrás, passaria a se caracterizar como
industrial e operário;
ii) Detém muitos imóveis de patrimônio cívico e histórico;
iii) configura-se como uma microbacia hidrográfica com problemas de
drenagem e com solos contaminados;
iv) Abrange uma grande quantidade de lotes de grande extensão
apresentando problemas de mobilidade;
v) É relativamente subpovoada em relação a outras áreas centrais da
cidade;
vi) É logisticamente muito bem posicionada em relação à Região
Metropolitana de São Paulo e à Região Metropolitana da Baixa Santista,
principalmente, além do fácil acesso às principais rodovias estaduais;
vii) Abrange partes de bairros paulistanos bastante tradicionais como a
Mooca, o Cambuci e o Ipiranga; etc.
Metodologia: matriz analítica
• Dimensão política: contexto sociopolítico, coalizações e interesses no projeto, bem
como dos movimentos e grupos pró e contra;
• Dimensão institucional: processos decisórios, dos atores, organizações, arranjos,
dispositivos legais, das características do processo decisório e dos modos de
operação e implementação do projeto;
• Dimensão simbólica: a economia simbólica e a ordem de justificação do projeto, a
análise das referências conceituais, as retóricas, discursos e referências
apresentadas como modelo;
• Dimensão arquitetônico-urbanística: concepção do programa, referências
urbanísticas, obras de infraestrutura e arquitetônicas, instrumentos
urbanísticos/fundiários relacionados ao uso e ocupação do solo;
• Dimensão fundiária: processos relativos às mais-valias fundiárias e imobiliárias
(geração, apropriação e uso), evolução dos preços imobiliários relativos, a própria
transformação da estrutura fundiária;
• Dimensão socioambiental: dinâmicas sociais ao longo do tempo e em relação ao
projeto no território em questão, como as populações e o ambiente são
impactados pelos novos processos econômicos e de desenvolvimento urban;
• Dimensão econômico-financeira: financiamento público e privado necessário à
implantação do projeto, distribuição de custos e benefícios, impacto que a
transformação urbana causa na estrutura econômica do território.
Dimensão político-ideológica
• Diferenças marcantes em cada país e em cada cidade, de acordo com as
conformações político-partidárias que se formaram em nível municipal no
mesmo período dado pelo fim do Estado de Bem-Estar e ascensão do
neoliberalismo;
• Em Boston e em Londres, sob o liberalismo crescente da década de 70, um
discurso de desestatização e desregulação tomaria a agenda em todos os
níveis de governo.
• Boston: governo local – facilitador e agenciador – caracterizou-se por
investimentos privados no que cabe à renovação da frente de água;
• Londres, apesar do discurso, veria um montante razoável de recursos
serem investidos pelo governo local, especialmente em sistemas de
infraestrutura;
Dimensão político-ideológica
• Paris e Barcelona: situações parecidas mas opostas. Enquanto Paris, ao longo da
implantação do projeto teria um governo socialista em nível central com o nível
local governado pela centro-direita, Barcelona teria sucessivos governos socialistas
no nível local e governos mais à direita no nível central;
• Em ambos os casos, Poder Público ativo no processo de desenvolvimento urbano
em geral e nos projetos mais especificamente. No caso de Barcelona, é importante
resgatar que o tão difundido “modelo Barcelona”, válido para a renovação do
Poblenou, foi perdendo em força relativamente à atuação do Poder Público
transferindo definitivamente as iniciativas ao setor privado.
• Outra característica própria de todas essas experiências é que os países europeus
em maior medida e os EUA um pouco menos teriam, no período anterior,
estabelecido devidamente seus Estados de Bem-Estar deixando, portanto,
estruturas urbanas bastante consolidadas quando de seus desmontes.
Dimensão político-ideológica
• São Paulo: OUs indistintamente difundidas por agremiações político-
partidárias das mais diferentes vertentes: socialdemocratas, trabalhistas,
liberais e socialistas.
• Imposição de restrições fiscais generalizadas ainda que cada gestão a seu
turno manifestasse preferências distintas;
• Assim como em todas as três gestões do Partido dos Trabalhadores houve
um esforço de planejamento urbano de nível geral e que resultariam em
três Planos Diretores (1991, 2002 e 2014), tais gestões desenvolveriam
diversos projetos e propostas de Operações Urbanas que, à exceção da OU
Anhangabaú, seriam implantadas inicialmente por outras gestões.
• No caso da OUCBT, o projeto inicial, indicado na gestão Suplicy 2001-2004,
seria retomado pela gestão Kassab (2009-2012) e desenvolvido até o PL nº
723/2015 pela gestão Haddad (2013-2016).
Dimensão Arquitetônico-urbanística
• Projetos estrangeiros caracterizados por conjuntos de edifícios que se
tornariam icônicos como consequência de investimentos imobiliários com
a contratação de grandes escritórios de arquitetura;
• Variedade de prédios históricos restaurados e a criação em conjunto com
vários outros empreendimentos de ambientes turísticos e híbridos com
várias outras funções e atividades;
• São Paulo: Ponte Estaiada Octávio Frias de Oliveira (OUC Água Espraiada),
remodelação do Largo da Batata (Faria Lima), restauração da Casa das
Caldeiras (Água Branca). Não há edifícios ou qualquer construção icônica
que se faça lembrar no conjunto das OUCs paulistanas;
Instrumentos e parâmetros urbanísticos
• Diversos planos urbanos e instrumentos urbanísticos que caracterizaram o projeto
Paris Rive Gauche, com especial destaque para a própria constituição da Zone
D´Amenagement Concerté (ZAC) e seu respectivo Plan d´Amenagement du Zone
(PAZ);
• Projeto 22@Barcelona, com vários planos de diversos níveis e áreas específicas,
como o Plan General Metropolitano (PGM), o Plan Estrategico Urbano (PEU), o
Plan Especial de Infraestructuras (PEI), o Plan de Patrimonio Industrial para el
Poblenou e seus diversos Planos Especiais de Reforma Interior (PERIs) específicos
para o nível do lote.
• London Docklands: Enterprise Zone (EZ) com caráter econômico e não urbanístico.
• Experiências uniformes;
• Estratégias – planejamento e de projeto –
disseminação, padronização e sentimento de disputa
entre as cidades;
• Empresas de arquitetura e urbanismo e de agências
não-governamentais de apoio técnico e comunitário.
• Ex.: Boston, New York, New Orleans, Pittsburgh,
Philadelphia, Seattle e San Francisco.
Governos locais como facilitadores e
agenciadores
• Políticas públicas de fomento ao redesenvolvimento das orlas marítimas;
• Conjunto variado de subsídios públicos de nível federal e local (incentivos,
investimentos e política tributária);
“O mercado ajudou a confirmar o caráter do distrito como tradicional, caminhável, com edifícios
baixos, voltado para as pessoas e que mistura residências, negócios e instituições. [...] A
revitalização tem sido muito bem-sucedida em criar um distrito plenamente ativo, com muitas
partes fortemente articuladas entre si e abertas ao público. Os visitantes agora perambulam
livremente pelos cais, antigos edifícios e barcos”(GIOVANINNI, 1986: p. 2)
O papel fundamental da agência de
desenvolvimento
• Processo contínuo de planejamento e gestão de projetos de
desenvolvimento e reestruturação urbanos;
• Remanescentes de um modelo implantado na década de 50, quando
foram beneficiadas por programas de financiamento para recuperação de
áreas degradadas;
• Agências têm caráter quase-público ou misto, atuando duplamente em
busca de interesses públicos mas também visando à sua sustentabilidade
financeira e com isso beneficiando setores privados específicos;
• Agências não oneram o orçamento público e mantêm estruturas
administrativas mais ágeis e independentes;
• Funções: desapropriar, comprar, vender, urbanizar ou alienar
propriedades, atuar para mudanças na legislação urbanística, conceder
incentivos tributários para encorajar o desenvolvimento comercial ou
residencial bem como desenvolver planos e projetos urbanos.
• Boston Development Authority (atualmente, Boston Planning &
Development Agency) é a agência de desenvolvimento oficial da cidade.
O papel dos arquitetos
• Protagonismo de arquitetos (teorica e praticamente):
• Kevin Lynch e John Myer - responsáveis pelo Downtown Waterfront
Faneuil Hall Renewal Plan (1961) – patrocinado pela BRA e que
proporia renovar a decadente região de frente de água
reconectando o porto à cidade, construindo uma nova estrutura
residencial e desenvolvendo uma área central de turismo e compras
que incorporaria prédios históricos ao redor do icônico Faneuil Hall;
• Benjamin Thompson: juntamente com James Rouse, empresário da
construção civil com experiência na construção de shopping-
centers, para reformar o antigo prédio de Quincy Market e do
próprio Faneuil Hall.
• Criação do primeiro modelo de Festival Marketplace, um complexo
de restaurantes, bares, lojas, barracas e outros comérciosAlém
desses edifícios principais outros projetos arquitetônicos
importantes e de cunho turístico seriam o New England Aquarium,
o Fan Pier e Rowes Wharf.
Gentrificação e recuperação ambiental
• Estudos não tratam da dinâmica demográfica e social;
• Região da orla central – anteriormente docas, armazéns,
indústrias e prédios antigos – recebeu, com a renovação
urbana e construção de prédios de apartamentos, nova
população em busca de moradia mais próxima aos novos
escritórios de empresas de consultoria, do setor
financeiro, de turismo, de comércio e serviços que se
instalaram na região;
• Aumento do preço dos imóveis ao longo das últimas
décadas;
• Processos de gentrificação quase naturais
• Grupos sociais se organizam para criar mecanismos para
permanência na região;
• Em relação às questões ambientais, com a revitalização
das frentes de água e novos usos esportivos e de lazer nas
águas da baía, diversos esforços de recuperação da
qualidade ambiental da baía têm sido efetuados com
ampla participação da população, como comprova o
movimento Save the Harbor/Save the Bay.
O setor privado como ativador da
reestruturação
• Modelo norte-americano de GPU é dependente do setor privado (assim como em
muitas outras áreas de infraestrutura);
• Papel exercido pela BRA fundamental comprando, desapropriando e vendendo
áreas e estruturas, para transpor impedimentos de caráter urbanístico ou
ambiental, viabilizando oportunidades para o desenvolvimento urbano e para
inversões privadas;
• Modelo de financiamento bem sucedido
– contexto de ambiente propício criado pela pujança da economia norte-americana e de
seu mercado imobiliário com capitais abundantes;
– característica de Boston como uma cidade comercial e com instituições financeiras
consolidadas;
Orientações programáticas:
i) organização do traçado viário sobre um eixo estrutural – a Avenue de France – paralelo ao Rio Sena;
ii) manutenção de uma altura limite para os edifícios;
iii) proteção e reabilitação de edifícios históricos;
iv) desenvolvimento de uma rede de transporte público visando a diminuir o uso do automóvel;
v) programa com divisão da área em setores por função;
vi) a construção e conservação de grandes equipamentos públicos como a Biblioteca Nacional e a Gare
d’Austerlitz (DUVAL-ZACK, 2006).
Alguns resultados
• Condições adversas nos primeiros anos: forte oposição
popular ao projeto e crise econômica da década de 90
impôs severas restrições ao mercado imobiliário;
• Paisagem da área da operação modificada.
– 7.500 unidades habitacionais (585.000 m2), sendo 3.000 sociais,
3.000 livres e 1.500 unidades de alojamento estudantil;
– 745.000 m2 de escritórios;
– 405.000 m2 de lojas entre atividades liberais, artesanais,
comerciais, de pesquisa ou relacionadas ao rio;
– 665.000 m2 de instalações públicas;
– 250.000 m2 da Biblioteca Nacional da França;
– 210.000 m2 da Universidade de Paris VII;
– 55.000 m2 de equipamentos de bairro.
– 98.000 m2 de espaços verdes.
Alguns Resultados
• Estabelecimento da Biblioteca Nacional da França, do campus
universitário, escritórios de grandes e médias empresas, atividades
comerciais e de serviços, equipamentos e espaços públicos;
• Preenchimento das moradias e a atratividade da região são cada
vez maiores;
• Na região, em 2008:
– mais de 10 mil habitantes;
– 20 mil trabalhadores;
– comunidade acadêmica de 30 mil entre alunos, professores,
pesquisadores e funcionários administrativos.