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Embora ainda não haja demarcação teórica da ciência da assessoria ela sempre existiu e foi
exercida na história de diversas profissões, a primeira delas talvez tenha sido exercida pelo xamã
de uma das primeiras tribos de coletores, instaladas ao desenvolverem o cultivo de alguns grãos
e a criação de animais, entre outras práticas.
Acontece que desde tempos imemoriais, assessora-se alguém, e com o passar do tempo,
Intelectuais prestavam assessoria a outros da mesma forma que eram assessorados, esta função
foi passando de geração em geração na política, na filosofia, e no exército, dando características
significativas ao ato de assessorar.
Segundo Dale e Urwick (1971, p.57) O termo assessoria deriva “da terminologia militar”, e sendo
assim “A história da evolução do uso dos assessores nos exércitos é muito interessante e data
em seus primórdios de cerca de 1500 a.c.” quando o Egito era governado por Tutmés. Já se tinha
a ideia de que era necessário um grupo de pessoas assessorando tanto o governo do faraó
quanto seus exércitos.
Os primeiros assessores estabelecidos podem ter sido homens Intelectuais (segundo os padrões
da época) letrados, conhecedores de diferentes línguas e regiões e portanto, dotados de
habilidades em diversas áreas. Assim, ocupavam cargos de staff setor público como: línguas,
contabilidade, arquivista, historiador, responsável pela escrita de decretos e leis, bem como a
tradução de escritos em outras línguas, sendo assim provido de confiança e influência nos
negócios do governo. Já nos cargos militares os escribas prestavam assessoria analisando e
descrevendo estratégias de guerra, situações geográficas das regiões a conquistar e já
conquistadas, bem como sua cultura (NONATO JUNIOR, 2009, p.82).
No que diz respeito às leis, e até as escrituras ditas “sagradas”, é importante fazer esse exercício
lógico de imaginar o quanto de sua própria influência o escriba (assessor) emprestava a esses
textos, e ao longo dos séculos, quais modificações foram forjadas a partir dessas influências.
Já nos exércitos, os escribas se tornaram oficiais treinados para assessorar e auxiliar nos
processos de organização e procedimentos. Com a distribuição desses assessores em setores
distintos, e com importâncias hierárquicas distintas, reforçando a ideia de hierarquia militar
como modelo correto de administração daquele setor.
O uso da assessoria foi inserido no governo dos estados unidos pelo General Dwight D.
Eisenhower (década de 20) que com suas experiências de organização militar acreditava que
viriam a auxiliar o governo na organização de vários setores, basicamente as assessorias eram
ocupadas por militares de confiança e aos poucos com a devida aceitação destes, houve
consequentemente a ampliação no número de assessores dentro do governo norte americano
e a forte influência militar prepondera até hoje (Dale e Urwick, 1971).
Ainda segundo Dale e Urwick (1971, p.106), como o militarismo é sobreposto por regras e
disciplina profundas, seguindo tal qual um fetiche para a vitória (contra quem?), é de se imaginar
a forma com que os assessores com formação militar desempenhavam suas funções. Para o bem
ou para o mal, tal aspecto talvez tenha desencadeado o método de divisão das tarefas entre os
envolvidos de modo a maximizar a efetividade da tarefa.
No entanto, tal característica carrega uma chaga, que é de causar profundas experiências
dolorosas nas relações humanas, principalmente quando homens de negócios sem qualquer
experiência de guerra não compreendem a forma de organização do militarismo e sua
assessoria.
Assessoria pesada
Eurico Gaspar Dutra, cria então o Departamento Federal de Segurança Pública e que seria
responsável pela direção geral dos serviços de polícia de todo o país e também pela busca de
informações e contraespionagem em âmbito nacional e, quando necessário, agiria até no
exterior. (LEITÃO; SILVA, 1998, p. 78).
A inclusão de parte da polícia política entre os órgãos locais justificava-se, segundo o DASP
(Departamento Autárquico do Serviço Público), porque as funções consideradas – vigilância ao
operariado, fiscalização das associações de classe, repressão ao porte de armas, etc. –
dependeriam sempre das diferentes coletividades regionais, e só o órgão local, afeito às
condições peculiares às populações das respectivas áreas estaria capacitado a conhecer de perto
as tendências políticas dominantes e, por conseqüência, prevenir ou reprimir qualquer ameaça
de perturbação da ordem social dentro da sua jurisdição.
O Correio obteve acesso exclusivo ao arquivo secreto do Ciex, um acervo com mais de 20 mil
páginas de informes produzidos ao longo de 19 anos. Depois de quatro meses analisando cada
documento, seu grau de confiabilidade e nível de distribuição, pode-se concluir que nunca
houve refúgio seguro aos brasileiros contrários ao golpe de 64. Banidos ou exilados, eles foram
monitorados a cada passo, conversa, transação ou viagem no exterior. A malha de agentes e
informantes operada pelo Itamaraty se estendeu para além da América Latina, alcançando o
Velho Continente, a antiga União Soviética e o norte da África.
Com verba reservada e subordinado à Secretaria Geral das Relações Exteriores, o Ciex foi
batizado oficialmente de Assessoria de Documentação de Política Exterior, ou simplesmente
Adoc. Até 1975 funcionou de forma insuspeita no gabinete 410, do 4º andar do Anexo I do
Palácio do Itamaraty. A placa com o número da sala foi retirada, e assim permanece até hoje,
confundindo quem busca a Divisão de Promoção do Audiovisual, ali instalada desde 2006. Toda
essa parafernália de camuflagem visava evitar comoção e críticas dentro do ministério, e
resguardava a imagem dos diplomatas perante a sociedade.
Verdade
Dos 380 brasileiros mortos ou desaparecidos durante o regime, 64 deles constavam no arquivo
secreto do Ciex. O serviço secreto, além de localizar e identificar essas pessoas fora do país,
facilitava detalhes de seu regresso ao Brasil. Muitos documentos lançam luz sobre os
informantes infiltrados nos grupos de resistência, fornecendo pistas ou até a identidade dessas
pessoas. O amplo registro das atividades políticas desses asilados, o conhecimento de
intimidades e de suas relações pessoais em território estrangeiro municiaram as demais
agências da repressão com dados sumamente importantes para as sessões de interrogatórios,
reconhecidamente marcadas por torturas que, certas vezes, derivaram em julgamentos
sumários.
Dentre os brasileiros que foram alvo do Ciex estão lideranças políticas, militares rebelados,
guerrilheiros, estudantes e pessoas comuns que se opunham à ditadura militar. Para citar alguns
exemplos, foram monitorados exaustivamente o ex-presidente João Goulart e o ex-governador
Leonel Brizola, os deputados Miguel Arraes, Neiva Moreira e Márcio Moreira Alves. O ex-
ministro e fundador da UnB, Darcy Ribeiro. Também o ex-almirante Candido Aragão e o ex-
coronel Jefferson Cardim. Os intelectuais Antônio Callado, Florestan Fernandes, Celso Furtado e
Fernando Henrique Cardoso. E até o ex-presidente liberal Jucelino Kubitschek.
Elite
A análise do arquivo do Ciex revela ainda que a perseguição política da diplomacia não se
restringia aos brasileiros. Seus agentes também perseguiram os estrangeiros contrários ao
regime em seus próprios países, em flagrante violação do direito internacional e do princípio de
soberania tão caro à tradição do Itamaraty. Também foram alvos políticos, empresários e até
diplomatas de países socialistas ou comunistas em missão oficial dentro do território brasileiro.
Para o Ciex, a espionagem não era uma atividade meramente operacional. Ela se inscrevia num
contexto político mais complexo e, geralmente, alheio à compreensão da maioria dos agentes
do SNI. Tal visão era potencializada pela vasta cultura geral e a rígida hierarquia que prescinde
de uniformes e patentes próprias aos diplomatas. Em seu profissionalismo de servidor público,
os membros que integraram o serviço secreto do Itamaraty acreditavam ocupar um patamar
superior ao dos demais espiões da ditadura, uma verdadeira elite dentro do sistema de
informação.
O conhecimento desse capítulo escondido da ditadura recoloca a diplomacia junto aos militares
no banco dos réus no julgamento da História. Força uma revisão da memória da guerra
ideológica, inclusive em relação aos próprios opositores da ditadura. Sobreviventes do período
são os responsáveis por construir a maior parte da memória clandestina, seja através da
reconstituição de fatos ou da montagem de lembranças pessoais. De alguma maneira, esses
sobreviventes são vencedores, e como tal, fazem prevalecer seu ponto de vista, elegem líderes
e delatores, relegando outros ao esquecimento. Parte do conteúdo dos informes do Ciex, para
preocupação dos vitoriosos, questiona muitas versões que hoje são tidas como verdade
absoluta.