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ESCOLA DE ENGENHARIA
ENGENHARIA DE MATERIAIS
Porto Alegre/RS
2018
Ao meu avô, Henrique de Souza Fróes (in
memoriam), meu maior exemplo de ho-
mem honesto e íntegro.
AGRADECIMENTOS
À minha família: minha mãe, Maria Elisa; meu pai, Gustavo; minha irmã, Luí-
sa; minha avó, Ninha; meus padrinhos, Maria Lúcia e Eduardo; pelo amor, pelo
apoio absoluto e por acreditarem em mim incondicionalmente em todas minhas es-
colhas até hoje.
À minha namorada, Letícia, minha melhor amiga, minha companheira, minha
parceira, por estar do meu lado em todos momentos nos últimos quinze meses, por
todo o carinho e todo o amor, pelo apoio e pela compreensão, por estar comparti-
lhando comigo este momento das nossas vidas.
Aos amigos, Alef, Aline, Ana, Beraldo, Giácomo, Giordano, Gustavo, Rêydila
e Tamyres, por terem me deixado compartilhar os melhores e piores momentos dos
últimos anos, pelas bebedeiras para comemorar e para esquecer, simplesmente pe-
la amizade.
Aos meus orientadores, Dr. Carlos Ferreira, no Brasil, e Dr. Michael Nugent,
na Irlanda, pelo suporte, pelos conselhos e pela confiança que depositaram em mim;
e também ao meu supervisor de laboratório no AIT, Gabriel Goetten de Lima, por
todo o apoio nos experimentos, na caracterização das amostras e na interpretação
dos resultados.
Aos colegas do LAPOL, em especial Mauro, Eliane, José Manoel, Andréa,
Micheli, Franciélli, Paula, Maurício e Jalma, pelas conversas e pela companhia nas
horas de trabalho.
Aos professores do Departamento de Engenharia de Materiais da UFRGS e
do Departamento de Engenharia Mecânica e de Polímeros do AIT, pelo conhecimen-
to transmitido.
À professora Regina Gomes, que me apresentou uma das minhas grandes
paixões, a Química.
Ao International Office do AIT, em especial Ms. Mary Simpson e Mr. Karl
Turley, por todo o auxílio dispensado durante o meu período em Athlone.
Às agências CAPES e CNPq, bem como ao Governo Brasileiro, pelas bolsas
de iniciação científica, pela oportunidade inestimável do Programa Ciência sem
Fronteiras, e por todo o apoio financeiro provido, sem os quais seria impossível che-
gar até aqui.
Todo conhecimento definido – eu o afir-
maria – pertence à ciência (...).
Bertrand Russel
RESUMO
Hydrogels are polymer materials able to retain large amounts of liquids and to store
chemical compounds due to its hydrophilic structure, finding a number of applications
in several fields, in particular as drug delivery systems and cell scaffolds. PVA is a
hydrophilic polymer used for hydrogel-based drug delivery systems due to its bio-
compatibility and drug loading capability, often reinforced with PAA. A number of
drugs for different biological applications can be used, e.g. ciprofloxacin – a multi-
functional antibiotic. This study aimed to synthesize and characterize spherical-shape
hydrogels for drug delivery systems obtained from different formulations of poly(vinyl
alcohol) (PVA), poly(acrylic acid) (PAA), ciprofloxacin (CFX) and hydroxyapatite
(Hap) aqueous solutions and shaped into cryogenic medium. Hydrogels were then
strengthened by freeze-thaw cycles. Thermal properties were evaluated by differen-
tial scanning calorimetry (DSC), and the surface and the internal morphology were
observed by scanning electron microscopy (SEM). Tests to determine the drug re-
lease kinetics and the hydrogels swelling profile were performed. Tg of PVA was sig-
nificantly reduced in hydrogels as well as crystallinity was, but Tm slightly increased.
Internal morphology observation revealed the formation of a macroporous micro-
structure, required for the application of the material as hydrogel. PAA acted retard-
ing CFX release and caused higher water absorption.
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 16
2. OBJETIVOS ....................................................................................................... 17
2.1. Objetivo geral ............................................................................................ 17
2.2. Objetivos específicos ............................................................................... 17
3. REVISÃO DE LITERATURA .............................................................................. 18
3.1. Hidrogéis ................................................................................................... 18
3.1.1. Classificação de hidrogéis ............................................................... 19
3.1.2. Materiais para hidrogéis e suas aplicações ..................................... 22
3.1.3. Inchamento de Hidrogéis ................................................................. 23
3.2. Sistemas de liberação de fármacos ........................................................ 26
3.2.1. Mecanismos de liberação de fármacos ............................................ 27
3.2.2. Materiais para sistemas de liberação de fármacos .......................... 29
3.2.3. Fármacos utilizados para liberação controlada ................................ 29
3.2.4. Hidrogéis em geometria esférica...................................................... 30
3.2.5. Novas tecnologias: o estado da arte ................................................ 31
3.3. Poli(álcool vinílico) ................................................................................... 34
3.3.1. Natureza química e física do PVA .................................................... 34
3.3.2. Aplicações........................................................................................ 37
3.3.3. Hidrogéis de PVA ............................................................................. 38
3.3.3.1. Dissolução das cadeias de PVA ............................................ 38
3.3.3.2. Reticulação de hidrogéis de PVA .......................................... 39
3.3.3.3. Blendas e compósitos de hidrogéis de PVA .......................... 41
4. MATERIAIS E MÉTODOS.................................................................................. 45
4.1. Materiais utilizados................................................................................... 45
4.2. Preparação e formulações dos hidrogéis .............................................. 45
4.3. Produção das miniesferas ....................................................................... 46
4.4. Ciclos de congelamento-descongelamento ........................................... 47
4.5. Caracterização das amostras .................................................................. 47
4.5.1. Calorimetria diferencial de varredura ............................................... 48
4.5.2. Microscopia eletrônica e espectroscopia de dispersão em energia . 49
4.5.3. Liberação controlada de fármaco e ensaio de inchamento .............. 49
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................... 51
5.1. Inspeção visual ......................................................................................... 51
5.2. Propriedades térmicas ............................................................................. 53
5.3. Observações em microscopia eletrônica ............................................... 55
5.4. Cinética de liberação do fármaco e inchamento ................................... 61
6. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 63
7. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ................................................. 65
8. REFERÊNCIAS .................................................................................................. 66
1. INTRODUÇÃO
16
2. OBJETIVOS
17
3. REVISÃO DE LITERATURA
3.1. Hidrogéis
18
Tabela 1. Exemplos de hidrogéis, grupos funcionais hidrofílicos e aplicações.
Polímero Grupo Funcional Aplicação
Alginato Hidroxila, ácido carboxílico Encapsulamento de células (Vrana et al., 2012)
PVA Hidroxila Liberação de fármacos (McGann et al., 2009)
PHEMA Éster Lentes de contato (Ebara et al., 2014)
PEG Éter Liberação de proteínas (Bezemer et al., 2000)
Quitosana Amina, hidroxila, éter Liberação de nanoinsulina (Zu et al., 2012)
19
Figura 1. Representação esquemática de (a) um hidrogel quimicamente reticulado e (b) um hidrogel
fisicamente reticulado. Os pontos de crosslinking são circulados em vermelho. (Adaptado de
Choudhury et al., 2009)
20
nos (Figura 2.c) (Akhtar et al., 2015). Reticulação física também foi observada em
hidrogéis produzidos a partir de copolímeros multibloco consistindo de cadeias hidro-
fóbicas contendo ramificações hidrofílicas ou copolímeros cuja cadeia principal é
hidrossolúvel e possui ramificações hidrofóbicas (Figura 2.d), e.g. PLGA-PEG, PBT-
PEG e sistemas de polissacarídeos hidrofobizados (Akhtar et al., 2015).
De acordo com Ullah et al. (2015), existem ainda outros critérios de
classificação de hidrogéis com base em outras características. Podem ser citadas
como possibilidades de classificação as redes interpenetrantes (interpenetrating
networks) e os hidrogéis sensitivos a estímulos, pH, temperatura, glicose e
antígenos (Figura 2.e) e hidrogéis à base de proteínas. Os mais importantes destes
são os hidrogéis de redes interpenetrantes, que são sintetizados pela preparação,
primeiramente, de uma rede polimérica, que é então inchada em um monômero
líquido que será então polimerizado, interconectando a estrutura inicial (Ullah et al.,
2015).
Figura 2. Ilustração de métodos de formação de hidrogéis fisicamente reticulados: (a) cristalização por
formação de estereocomplexos em PLA, (b) interações iônicas em alginato, (c) interações do tipo
coiled-coil em proteínas, (d) interações hidrofóbicas em macromoléculas anfifílicas e (e) reconheci-
mento molecular específico em antígenos. (Adaptado de Ebara et al., 2014, p. 12)
21
3.1.2. Materiais para hidrogéis e suas aplicações
22
cristalinidade. Lentes de contato de hidrogel possuem índice de refração adequado e
boas propriedades mecânicas, são permeáveis ao oxigênio e apresentam maiores
durabilidade e limpidez que as de vidro (Caló & Khutoryanskiy, 2015; Ebara et al.,
2014, p. 10). Hidrogéis inteligentes para biotecnologia têm sido usados para concen-
trar soluções aquosas diluídas de macromoléculas bem como em sistemas de purifi-
cação de água. É possível também o controle de reações de substratos com enzi-
mas imobilizadas por meio de mudanças no perfil de inchamento de hidrogéis (Ullah
et al., 2015). Redes interpenetrantes combinando polímeros eletroativos integral-
mente condutores (integrally conductive electroactive polymers – CEP, na sigla em
inglês) com hidrogéis altamente hidratados têm aplicações em sensores para biorre-
conhecimento e diagnóstico biomédico, utilizando materiais como blendas de PHE-
MA com PANi ou PPy (Wilson et al., 2010, pp. 319-337).
Por serem altamente absorventes, os hidrogéis podem ser carregados com
fertilizantes e água para melhorar as propriedades do solo na agricultura e ainda
aplicados como membranas para tratamento e reuso de águas residuais (Ullah et al.,
2015). Em reservatórios de petróleo, frequentemente há excesso de água, o que
pode causar corrosão e consequentemente uma perda significativa de óleo, de mo-
do que hidrogéis são injetados no reservatório para selar as zonas de maior perme-
abilidade ou fraturas e reter o excesso de água (Ullah et al., 2015).
23
al. (2010), a fração volumétrica de polímero no estado inchado V2s indica a
quantidade de líquido que pode ser armazenada em um hidrogel e é definida como a
razão entre o volume de polímero (Vp) e o volume do gel hidratado (Vg), conforme a
Equação 1:
𝑉𝑝
𝑉2𝑠 =
𝑉𝑔
(Equação 1)
𝑄𝑚 1
+𝜌
−1 𝜌1 2
𝑄 = 𝑉2𝑠 = 1
𝜌2
(Equação 2)
𝑚
𝐸𝑊𝐶 = × 100%
𝑚𝑇
(Equação 3)
24
cinética de liberação de fármaco foram desenvolvidos. O método mais aplicado é
uma equação de lei de potências, conforme segue:
𝑚(𝑡)
= 𝑘𝑡 𝑛
𝑚∞
(Equação 4)
25
ÁGUA ABSORVIDA NO HIDROGEL
TEMPO
Figura 3. Curvas ideais para quantidade de água absorvida por um hidrogel em função do tempo:
Caso I (curva azul, n=0,5), Caso II (curva laranja, n=1,0) e Caso Anômalo (curva cinza, n=0,75).
26
Figura 4. Concentração de fármaco na corrente sanguínea em função do tempo de liberação:
(―) dose segura, (― ―) dose insegura, (― · —) liberação controlada. (Heller, 1996, p. 347)
27
a. Sistemas de difusão controlada: o fármaco carregado é liberado por difu-
são através do material. Há fundamentalmente dois tipos de dispositivos
de liberação por difusão: reservatório e matriz (Caló & Khutoryanskiy,
2015; Heller, 1996, pp. 347-349). O primeiro, também chamado de “sis-
tema controlado por membrana”, consiste em um núcleo, carregado com
uma alta concentração de fármaco, revestido por uma membrana de hi-
drogel, resultando em uma taxa de liberação constante. O segundo, tam-
bém chamado de monolítico, é produzido dispersando-se uniformemente
o fármaco no hidrogel, promovendo uma taxa de liberação proporcional à
raiz quadrada do tempo (Caló & Khutoryanskiy, 2015; Heller, 1996, pp.
347-349).
b. Sistemas controlados por inchamento: são produzidos dispersando-se ou
dissolvendo-se o fármaco no hidrogel e representam um típico exemplo
do Caso II de inchamento, portanto a cinética de liberação é constante e
independente do tempo (Caló & Khutoryanskiy, 2015). À medida que a
água penetra na matriz, a temperatura de transição vítrea é reduzida sig-
nificativamente, permitindo que o fármaco seja difundido a partir do hi-
drogel (Heller, 1996, pp. 349-351).
c. Sistemas controlados quimicamente: a liberação de fármaco é governada
pela bioerosão do hidrogel, i.e., o hidrogel contendo o fármaco é erodido
por enzimas ou outras espécies bioativas no meio biológico. Moléculas
de fármaco podem ser dispersadas na matriz polimérica ou ligadas qui-
micamente à cadeia principal, sendo liberadas quando as devidas espé-
cies bioativas atacam o hidrogel (Heller, 1996, pp. 351-354).
d. Sistemas de entrega regulada: a liberação do fármaco pode ter início ou
ter sua taxa modificada em resposta a um estímulo ou uma necessidade
fisiológica. De acordo com Heller (1996, pp. 354-355), sistemas externa-
mente regulados, e.g. bombas mecânicas contendo um reservatório de
fármaco e um cateter para efetuar a liberação, são capazes de mudar a
taxa de liberação por intervenção externa, como magnetismo ou ultras-
som. Existem ainda dispositivos específicos para um determinado meio
biológico que podem alterar a taxa de liberação em resposta a variações
do pH ou da temperatura do meio, por exemplo (Heller, 1996)
28
3.2.2. Materiais para sistemas de liberação de fármacos
29
amplo espectro de ação contra vários agentes patogênicos (Kevadiya et al., 2014;
Kloskowski et al., 2010). Este fármaco é utilizado para de uma série de aplicações,
como tratamento de infecções (intra-abdominais, cutâneas, do sistema respiratório,
do trato urinário, de ossos e juntas), alguns tipos de diarreia infecciosa e febre tifoi-
de, entre outras (American Society of Health-System Pharmacists, [2014?]). Pesqui-
sas relatam ainda a ação inibidora da CFX sobre células humanas cancerosas de
diferentes tecidos (Kloskowski et al., 2010).
O O
F
OH
N N
HN
30
rota de emulsificação e posterior remoção de solvente, para aplicação como sistema
de liberação de fármaco. Ciofani et al. (2007) fizeram um estudo de transporte de
massa e validação in vitro de microesferas de alginato produzidas por emulsão e
carregadas com Netrin-1, um anticoncepcional. Uma pesquisa de 2008 acerca de
géis de alginato para sistemas de liberação de fármaco de aplicações neurológicas é
a primeira a incluir microesferas nessa categoria (Ciofani et al., 2008). Em 2015,
Aguirre et al. (2015) desenvolveram um novo sistema oral que consiste em
miniesferas (com diâmetro entre 1 e 2 mm) formuladas em emulsão e carregadas
em cápsulas de gelatina. Cada miniesfera carrega, dissolvidas na emulsão,
moléculas bioativas, neste caso calcitonina de salmão. O perfil de liberação da
substância pode ser controlado e projetado visando à região intestinal ótima para
melhor absorção (Aguirre et al., 2015).
O emprego da geometria esférica, com diferentes intervalos dimensionais,
em sistemas de liberação de fármacos ou outras moléculas bioativas já vem sendo
estudado na literatura científica, assim como hidrogéis à base de PVA para essa
função, inclusive por rotas criogênicas, embora sem utilizar essa geometria. Logo,
não há, até o presente momento, literatura que aborde o desenvolvimento de
sistemas de liberação de fámaco à base de PVA em geometria esféria com diâmetro
entre 1 e 2 mm empregando rotas criogênicas para promover a reticulação física do
material.
31
ying, é uma técnica para a geração de gotas de pequenas dimensões com estreita
distribuição de tamanhos a partir de um líquido sob a influência de força elétrica, i.e.,
um jato de líquido é fragmentado em pequenas gotas pela ação de um campo elétri-
co quando a tensão elétrica aplicada superar a tensão superficial do líquido. Nor-
malmente o soluto na gota solidifica-se e forma micro- ou nanopartículas após a
evaporação do solvente, e frequentemente são utilizados solventes orgânicos devido
à menor tensão superficial em comparação à água (Xie et al., 2015). Partículas fo-
ram produzidas de polímeros naturais e sintéticos para diversas aplicações e ainda
de blendas de polímeros sintéticos com polímeros naturais, as quais fornecem uma
combinação de propriedades diferentes, e.g., melhores propriedades mecânicas e
biocompatibilidade elevada. Com respeito a sistemas de liberação de fármacos,
EHDA pode ser útil para encapsular moléculas hidrofílicas e hidrofóbicas em partícu-
las poliméricas. Exemplos de materiais empregados nesta aplicação são PLGA, etil-
celulose, alginato, PMAMMA, PLA, PVP e PCPAEEP – um polímero anfifílico biode-
gradável (Xie et al., 2015).
Electrospinning é um método desenvolvido para produzir fibras de diâmetros
micro- e nanométrico pela aplicação de um campo elétrico de alta tensão em uma
solução polimérica ou um polímero fundido. As fibras resultantes exibem morfologia
lisa e controlada e podem ser aplicadas em diversos campos, e.g. roupas de prote-
ção militares, suportes para engenharia de tecidos, nanossensores e sistemas de
liberação de fármacos (Hu et al., 2014). De acordo com Sill & von Recum (2008),
electrospinning e EHDA são processos muito similares, mas alguns parâmetros de-
vem ser modificados para a obtenção de fibras em vez de gotas. As fibras produzi-
das por este processo para aplicação em sistemas de liberação de fármacos são
caracterizadas por capacidade de carregamento e eficiência de encapsulamento
elevadas, possibilidade de carregamento de diferentes fármacos e potencial uso pa-
ra quimioterapia local pós-operatória (Hu et al., 2014). Vários fármacos podem ser
utilizados, e.g. antibióticos, drogas para câncer, proteínas e DNA (Sill & von Recum,
2008). Conforme Hu et al. (2014) diversos polímeros tanto naturais quanto sintéticos
bem como suas blendas são utilizados em electrospinning, como polissacarídeos
(celulose, quitosana, amido), proteínas (colágeno, gelatina etc.), PLA, PCL, PEO,
PLGA e outros copolímeros.
Wu et al. (2015) produziram um material para aplicação como sistema de li-
beração de fármacos constituído por camadas alternadas de redes de nanofibra de
32
PCL obtidas por electrospinning e hidrogel de alginato carregado com ATP. Como
resultado, os pesquisadores concluíram que a liberação inicial de fármaco das ca-
madas externas de hidrogel se dá de maneira consideravelmente mais rápida do
que a das camadas internas. Dessa forma, quanto maior o número de camadas,
maior é a duração da liberação da droga, atingindo um tempo máximo de 21 dias
para uma amostra de sete camadas de hidrogel (Wu et al., 2015). Em outro trabalho,
pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT, EUA) desenvolveram
um novo hidrogel carregado com fármaco, similar a um elastômero, para aplicação
como recobrimento de ferimentos, contendo condutores extensíveis e componentes
eletrônicos rígidos (Lin et al., 2015). Este dispositivo é biocompatível e altamente
extensível e possui propriedades mecânicas adequadas que permitem sua aplica-
ção. Cada reservatório de fármaco é conectado a um sensor de temperatura, e a
liberação da substância ocorre localmente quando a temperatura naquele local atin-
ge um dado valor previamente definido (Lin et al., 2015). Lâmpadas LED conectadas
a cada sensor são ativadas quando o fármaco está se esgotando.
Devido ao fato de nanogéis combinarem características de nanopartículas e
de hidrogéis, estes produtos têm alto potencial para aplicações biomédicas, em es-
pecial como sistemas sítio-específicos e/ou tempo-controlados de liberação para
fármacos, biomacromoléculas ou outros agentes bioativos (Zhang et al., 2016). Na-
nogéis podem ser produzidos de duas maneiras diferentes: quimicamente ou fisica-
mente. Da mesma forma como hidrogéis comuns, nanogéis quimicamente sintetiza-
dos possuem maior estabilidade mecânica, são mais flexíveis e já apresentam uma
série de utilizações, enquanto que nanogéis produzidos fisicamente exibem proprie-
dades mecânicas reduzidas mas são importantes devido à capacidade de serem
carregados tanto de substâncias hidrofílicas quanto hidrofóbicas (Zhang et al.,
2016). Pesquisas demonstraram o comportamento responsivo de nanogéis a diver-
sos estímulos externos, e.g. pH e temperatura, e novos estudos focam na utilização
de proteínas e substâncias que combatem o câncer. De acordo com Zhang et al.
(2016), materiais para nanogéis incluem polissacarídeos modificados com colesterol,
PEG modificado com polissacarídeos, polianfóteros de PVI e ácido acrílico, e outros
polímeros anfifílicos.
33
3.3. Poli(álcool vinílico)
OH
n
Figura 7. Estrutura química do poli(álcool vinílico).
34
O
n
O O+nR OH +n R
OH O
n
Figura 8. Reação de alcoólise para obtenção do PVA a partir do poli(acetato de vinila).
35
Outro efeito causado pelas ligações de hidrogênio é a degradação térmica
de PVA não-plastificado em temperatura menor que sua temperatura de fluxo, o que
dificulta seu processamento. As propriedades mecânicas também são influenciadas
pela presença dos grupos hidroxila. Segundo Brydson (1999, p. 390), o PVA possui
alta resistência mecânica e é considerado tenaz. Algumas propriedades do PVA são
apresentadas na Tabela 2.
36
ra com 50% de umidade relativa e outra em atmosfera de H 2SO4 (Brydson, 1999, pp.
390-391).
25
RESISTÊNCIA À TRAÇÃO [10³ lb∙in-²]
20
15
10
5
40 50 60 70 80 90 100
GRAU DE HIDRÓLISE [%]
Figura 9. Resistência à tração de PVA seco em H2SO4 (curva azul) e condicionado a 50% R.H. (curva
laranja) em função do grau de hidrólise. (Adaptado de Brydson, 1999, p. 391)
3.3.2. Aplicações
O PVA possui uma gama de aplicações na indústria, não sendo restrito so-
mente a aplicações biomédicas. Usos variam desde embalagens solúveis em água
para sais, inseticidas e desinfetantes a filmes tubulares soprados, similares aos de
PE (Brydson, 1999, p. 391). Peças extrudadas e injetadas de PVA são interessantes
para a indústria por sua resistência a óleos, sua tenacidade e sua flexibilidade. O
37
material também é usado como coloide protetor em sistemas de polimerização em
emulsão e como ligante e espessante para agentes emulsificantes. Conforme Bryd-
son (1999, p. 391), a produção de fibras de PVA já foi apresentada na literatura cien-
tífica. Aplicações gerais do PVA incluem adesivos, ligantes para processamento ce-
râmico, colagem e revestimento de papel, colagem de tecidos, base para cosméticos
e líquido de resfriamento para têmpera de aços.
38
interajam fortemente. “Em um bom solvente, (...) as interações líquido-polímero
fazem expandir a ‘bobina’ de polímero do seu estado não-perturbado
proporcionalmente à extensao dessas interações” (Cowie & Arrighi, 2008, p. 197,
tradução nossa). De acordo com. Lucas et al. (2001, pp. 35-56), em temperatura
ambiente, a energia de interação entre os segmentos das cadeias e as moléculas de
solvente é, às vezes, insuficiente para separar completamente as cadeias.
No caso do PVA, cuja Tg é aproximadamente 80 °C, as cadeias são rígidas,
não se movendo como segmentos isolados. A rigidez das cadeias se deve às
interações dos grupos polares ligados à cadeia carbônica entre eles mesmos; isso
faz com que esses polímeros inchem com facilidade na presença de solventes
polares, mas não com que se dissolvam completamente a temperatura ambiente, de
modo que a separação das mesmas requeira maiores quantidades de energia
(Lucas et al., 2001, pp. 35-56). Além disso, para a dissolução completa de um
polímero semi-cristalino, como o PVA, é necessário desmanchar os domínios
cristalinos, o que dificilmente ocorre em solventes de polaridade próxima ou mesmo
igual à do polímero. As interações polímero-solvente podem ser intensificadas pelo
aumento de temperatura, o que justifica o preparo de soluções aquosas de PVA a
temperaturas elevadas (Lucas et al., 2001, pp. 35-56).
39
2011; Gutiérrez et al., 2007; Hassan & Peppas, 2000; Jiang et al., 2011; Kamoun et
al., 2015; McGann et al., 2009; Nugent & Higginbotham, 2007). Processos
criogênicos têm sido aplicados devido à biocompatibilidade resultante, caracterizada
pela estrutura altamente porosa obtida sem a necessidade do emprego de
moléculas potencialmente tóxicas como agente reticulante (Akhtar et al., 2015; Gu-
tiérrez et al., 2007). Neste caso, a reticulação do PVA ocorre por meio de
cristalização, e uma rede porosa é criada durante o descongelamento, visto que o
método freeze-thaw consiste em congelar e descongelar uma solução aquosa de
PVA repetidas vezes (Akhtar et al., 2015; Hassan & Peppas, 2000, pp. 45-57; Lima
et al., 2016).
De acordo com Gutiérrez et al. (2007), a cristalização das moléculas de água
leva à formação de domínios de gelo, causando a segregação da maior parte dos
solutos dispersos na solução. Isso ocasiona a macroporosidade, a qual é resultante
dos vazios gerados pelo derretimento do gelo e pela subsequente remoção de água
(Gutiérrez et al., 2007) (Figura 10). A cristalização do PVA se dá pelo fato de os cris-
tais de gelo induzirem as cadeias a cristalizarem por ligações de hidrogênio, i.e., as
cadeias se utilizam dos cristais de gelo como agentes de nucleação a fim de cristali-
zarem.
40
PVA pode agir como um retardante de cristalização, dependendo do teor de políme-
ro na água, do peso molecular e do grau de hidrólise (Gutiérrez et al., 2007).
Hassan & Peppas (2000, pp. 45-57) afirmaram que, como resultado desse
processo, o número e a estabilidade dos cristalitos aumentam com o número de ci-
clos de congelamento-descongelamento, e os hidrogéis assim produzidos apresen-
tam propriedades mecânicas superiores em relação aos quimicamente reticulados,
já que a carga aplicada pode ser melhor distribuída entre os cristalitos. Gupta et al.
(2011) estudaram o desenvolvimento de suportes para crescimento de células e
concluíram que, quanto maior o número de ciclos, superiores são as propriedades
mecânicas, a cristalinidade e a densidade de reticulação, e portando melhor a ade-
são das células à rede de PVA.
41
2016). Dessa forma, a incorporação de materiais pH-sensitivos a hidrogéis de PVA
pode ser utilizada para controlar a liberação do fármaco.
n
O OH
Figura 11. Estrutura química do poli(ácido acrílico).
42
Criogéis vêm sendo aditivados com partículas biocerâmicas devido às
maiores biocompatibilidade, osteocondutividade e bioatividade conferidas, e também
por promover a criação de uma matriz calcificada que permite que tecidos se
regenerem mais facilmente (Lima et al., 2015; Volkmer et al., 2014). Segundo
Bareiro & Santos (2014), biomateriais cerâmicos, também chamados de bio-
cerâmicas, apresentam bom desempenho biologicamente, promovendo a formação
de novas regiões ósseas por meio de auto-degradação no organismo para produzir
uma estrutura porosa, melhorando portanto a adesão e o crescimento de tecidos.
A hidroxiapatita (HAp), cuja composição química é Ca 10(PO4)6(OH)2 (Figura
12), é o mineral mais utilizado para aplicações biomédicas devido à similaridade de
seus cristais com a estrutura cristalina do constituinte primário dos ossos (Bareiro &
Santos, 2014; Yin & Ellis, 2009). Assim, este material vem tendo um papel
importante na produção de ossos artificiais e tecidos ósseos. A HAp apresenta
biocompatibilidade excelente, é altamente porosa, pode ligar-se ao tecido ósseo
natural e possui propriedade de troca de íons relevante (Bareiro & Santos, 2014; Yin
& Ellis, 2009).
Figura 12. (a) Estrutura química da hidroxiapatita vista do topo (ao longo do eixo c); (b) célula unitária
da hidroxiapatita (ao longo dos eixos a e b). (Adaptado de Yin & Ellis, 2009)
43
HAp para aplicações como osteocondutor e transportador de fármaco. A HAp
reduziu a carga-limite de compressão devido a uma redução dos pontos de
crosslinking, porém, para o PAA de alto peso molecular, os maiores valores de
módulo de armazenamento foram obtidos. A taxa de inchamento não foi
significativamente afetada pela incorporação de HAp, embora a massa final de água
tenha aumentado. Além disso, as amostras contendo HAp exibiram melhores
propriedades bioativas (Lima et al., 2015).
44
4. MATERIAIS E MÉTODOS
2
H representa a presença de HAp na formulação.
3
A representa a presença de PAA na formulação.
4
C representa a presença de CFX na formulação.
45
O hidrogel preparado somente com PVA foi utilizado para comparação da
efetividade dos dois métodos de congelamento considerados para o estudo, servin-
do como amostra de controle. Uma vez definido o método de congelamento a ser
empregado, as demais amostras foram então produzidas, contendo PAA, CFX e
HAp.
Figura 13. Produção das miniesferas de hidrogel a partir da solução de PVA para avaliação do efeito
do método de congelamento.
46
Figura 14. Produção das miniesferas de hidrogel em nitrogênio líquido com diferentes formulações.
47
A caracterização das miniesferas produzidas objetivou a avaliação das pro-
priedades térmicas, químicas e físicas obtidas. As amostras foram secas por doze
horas em uma mufla a vácuo a 30,0±0,2 °C e 200 mbar.
∆𝐻𝑚
%𝑋𝐶 = × 100
𝑤 × ∆𝐻𝑓°
(Equação 5)
onde ∆Hm é a entalpia de fusão no ponto de fusão Tm, e ∆H°m é a entalpia teórica de
fusão de uma amostra de PVA totalmente cristalina no ponto de fusão T°m, equiva-
lente a 138,60 J∙g-1 (Sundararajan, 1999), e w é a fração mássica de PVA na amos-
tra (Amash & Zugenmaier, 1998; Batista et al., 2016).
Todas amostras apresentaram massa entre 9 e 11 mg e foram encapsuladas
em panelas de alumínio. Os ensaios foram realizados em um equipamento TA Ins-
truments Q2000, em atmosfera de nitrogênio a 20 mmHg. Para o PVA puro, foi apli-
cado um aquecimento até 250 °C a 10°C∙min-1, isoterma a 250°C por dois minutos,
resfriamento até 20 °C a -10°C∙min-1 e aquecimento até 275 °C a 10°C∙min -1. Para o
PAA, foi aplicado um aquecimento até 185 °C a 10°C∙min-1, isoterma a 185 °C por
dois minutos, resfriamento até 20 °C a -10°C∙min-1 e aquecimento até 275 °C a 10
°C∙min-1. Para a CFX e a HAp, empregou-se um estágio de aquecimento até 300 °C
a 10 °C∙min-1, isoterma a 280 °C por dois minutos, resfriamento até 20 °C a -10
48
°C∙min-1, e novo aquecimento até 300 °C a 10°C∙min-1. Para os hidrogéis, foi aplica-
da uma única etapa de aquecimento até 275 °C a 10°C∙min-1, da qual foram obtidas
as propriedades térmicas dos mesmos.
𝐴 − 𝐴0
%𝑅𝐷 = × 100
𝐴
(Equação 6)
49
onde A é a absorbância da alíquota retirada e A0 é a absorbância da água deioniza-
da no tempo zero. Esta equação foi desenvolvida em analogia à (Equação 3) –
Quantidade de Água de Equilíbrio. Na Figura 15, é mostrado o equipamento utilizado
neste ensaio. O ensaio teve duração de 48 h.
Figura 15. (a) Visão geral do equipamento utilizado para os ensaios de cinética de liberação de fár-
maco e taxa de inchamento. (b) Detalhe das cestas metálicas em que foram depositadas as
miniesferas para a realização do ensaio.
𝑚 − 𝑚0
%𝐴𝑊 = × 100
𝑚0
(Equação 7)
50
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
51
ma esférica durante os descongelamentos em temperatura ambiente bem como
após a secagem. Isso comprovou a efetividade do método em nitrogênio líquido.
Figura 16. (a) Miniesferas imediatamente após o primeiro congelamento em nitrogênio líquido; (b)
miniesferas durante o estágio de descongelamento; (c) miniesferas após secagem.
52
5.2. Propriedades térmicas
CFX HAp
PVA PAA
53
entalpia de fusão e o percentual de cristalinidade das amostras de hidrogel produzi-
das.
FLUXO DE CALOR [U.A.] (EXO →)
PVA-H PVA-A-H
PVA-C-H PVA-A-C-H
55
meiros estágios de descongelamento não mantiveram a geometria esférica preten-
dida, exibindo geometrias aleatórias e dimensões em um intervalo entre 1,5 e 2,0
mm (Fig. 19.a e 19.c). As outras amostras (Fig. 19.b e 19.d), submetidas ao total de
sete ciclos de congelamento-descongelamento, foram capazes de manter uma geo-
metria aproximadamente esférica, embora não sejam esferas perfeitas, resultando
em diâmetros de 1,0 a1,5 mm.
Figura 19. Imagens de MEV de miniesferas produzidas em AcOEt após (a) três e (b) sete etapas de
descongelamento, e de miniesferas produzidas em nitrogênio líquido após (c) três e (d) sete etapas
de descongelamento.
56
ter causado uma evaporação mais rápida na superfície, o que faz com que essa
condição seja potencialmente agressiva à amostra, de modo que as características
obtidas são as observadas nas imagens. Pela observação das imagens obtidas, fi-
cou evidente a importância do número de ciclos de congelamento-descongelamento
no sentido de preservar a geometria após o último estágio de descongelamento. No-
tou-se também que as dimensões das miniesferas diminuem com o aumento do nú-
mero de ciclos, resultando em menores miniesferas após a aplicação dos sete ci-
clos, independentemente do método de congelamento.
Comparando-se as miniesferas produzidas em AcOEt e em nitrogênio líqui-
do, submetidas ao total de ciclos, percebeu-se uma superfície bastante rugosa e ir-
regular nas amostras produzidas em AcOEt (Fig. 19.b), enquanto que as miniesferas
produzidas pelo outro método demonstraram ter uma superfície mais lisa (Fig. 19.d).
A miniesfera apresentada nessa imagem também possui uma superfície extrema-
mente lisa na sua região esquerda, a qual é resultado do corte feito para separá-la
de outra miniesfera. Como resultado da inspeção visual e da observação da morfo-
logia das amostras, decidiu-se que as formulações contendo PAA, CFX e HAp seri-
am congeladas em nitrogênio líquido e submetidas ao total de sete ciclos de conge-
lamento-descongelamento. A adição desses materiais modificou significativamente a
morfologia das miniesferas, como pode-se observar na Figura 20.
‘
Figura 20. Imagens de MEV comparando as superfícies de (a) uma miniesfera de PVA (controle), e
(b) de uma miniesfera da formulação PVA-H.
57
Nota-se facilmente uma morfologia de superfície distinta devido à presença
de HAp, a qual não é completamente dissolvida em água, apenas dispersa. O tama-
nho médio, no entanto, não foi afetado. Além da superfície, a morfologia interna
também foi estudada por MEV, como pode-se observar na Figura 21, nas regiões de
seção transversal destacadas em vermelho.
Figura 21. Imagens de MEV da seção transversal – em destaque – de miniesferas das formulações
(a) PVA-H, (b) PVA-A-H, (c) PVA-C-H e (d) PVA-A-C-H.
58
distinta daquela observada nas miniesferas PVA-H e PVA-C-H (Fig. 21.a e 21.c): a
incorporação deste composto levou a uma microestrutura interna menos lisa e ho-
mogênea, permitindo a observação de regiões altamente rugosas. No entanto, não
se pode observar segregação de fase, o que prova a formação de uma rede interpe-
netrante completamente miscível entre o PVA e o PAA. Todas miniesferas apresen-
taram uma microestrutura macroporosa com orientação preferencial, bastante similar
à morfologia observada por Quintero et al. (2010), a qual deve-se aos estágios de
congelamento.
As regiões de seção transversal observadas em MEV com magnificação de
5000× são apresentadas na Figura 22.
Figura 22. Imagens de MEV da seção transversal de miniesferas das formulações (a) PVA-H, (b)
PVA-A-H, (c) PVA-C-H e (d) PVA-A-C-H.
59
As miniesferas PVA-H e PVA-C-H apresentaram uma microestrutura bastan-
te similar, considerada homogênea e uniforme. Entretanto, a morfologia interna das
miniesferas PVA-A-H e PVA-A-C-H mostrou-se irregular. Algumas partículas medin-
do entre 1 e 5 µm podem ser observadas. É perceptível a ocorrência da orientação
preferencial anteriormente mencionada. Poros podem ser vistos em meio a essas
regiões orientadas, o que provavelmente confirma a existência de uma microestrutu-
ra tridimensional macroporosa, compatível com aquela requerida para que um mate-
rial seja utilizado como sistema de liberação de fármacos.
Os resultados da análise de espectroscopia de raios-X por dispersão em
energia (EDS), aplicada às formulações PVA-H, PVA-A-H, PVA-C-H e PVA-A-C-H,
são apresentados na Tabela 5, em percentual mássico.
Elemento Amostra
[%wt.] PVA-H PVA-A-H PVA-C-H PVA-A-C-H
C 27,02 51,45 55,74 62,41
O 38,43 44,72 39,33 36,08
P 11,79 0,33 - -
Ca 22,76 3,50 4,93 1,51
100
90
80
FÁRMACO LIBERADO [%]
70
60
50
40
30
20
PVA-C-H
10
PVA-A-C-H
0
0 6 12 18 24 30 36 42 48
TEMPO [h]
Figura 23. Ensaio de cinética de liberação da CFX.
210
180
ÁGUA ABSORVIDA [%]
150
120
90
60
30 PVA-C-H
PVA-A-C-H
0
0 6 12 18 24 30 36 42 48
TEMPO [h]
Figura 24. Ensaio de inchamento dos hidrogéis contendo CFX.
61
A amostra PVA-C-H apresentou burst release, ou “liberação explosiva”, por
ter liberado mais de 90% da CFX em um período de três horas, então estabilizando-
se com um máximo de 98,6%. Por outro lado, na amostra PVA-A-C-H, o PAA agiu
como retardante de liberação, pois os primeiros três pontos avaliados tiveram pe-
quena variação, levando a um maior tempo de liberação até a estabilização. As ca-
deias de PAA ajudaram no encapsulamento da CFX e reforçaram a microestrutura
macroporosa do hidrogel, retardando a liberação do fármaco. Ao fim do ensaio, um
total de 94,0% da CFX foi liberado da amostra PVA-A-C-H. Este efeito retardante do
PAA sobre a cinética de liberação de hidrogéis de PVA já havia sido relatado por
Lima et al. (2015). Em ambos os casos, as primeiras quatro medidas provavelmente
estão relacionadas à fração de CFX liberada das porções externas das miniesferas,
enquanto que as medidas subsequentes estariam relacionadas ao fármaco liberado
do núcleo. De um modo geral, como os valores de percentual de fármaco liberado já
superavam ou se aproximavam dos 90% após seis horas de ensaio, pode-se consi-
derar que a cinética de liberação é rápida em ambos os casos.
A amostra PVA-A-C-H, que mostrou uma cinética de liberação do fármaco
mais lenta, absorveu água mais rapidamente e em maiores teores que a amostra
PVA-C-H. Isso pode ser explicado pela interação das moléculas de água com o mai-
or número de hidroxilas disponíveis neste hidrogel, justamente pela introdução do
PAA. Portanto, embora o PAA tenha agido de forma a retardar a liberação da CFX,
ao mesmo tempo fez com que o hidrogel ficasse mais inchado. Como o hidrogel ab-
sorveu mais água, i.e., teve maior difusão de água entre suas cadeias, e mesmo as-
sim a liberação da CFX foi retardada, pode-se concluir que o fármaco foi realmente
encapsulado pelo PAA. Estes resultados são semelhantes aos encontrados por Lima
et al. (2015). Ao fim do ensaio, a quantidade de água absorvida atingiu 187,4% e
197,9%, respectivamente para as amostras PVA-C-H e PVA-A-C-H. Os valores de
EWC foram, respectivamente, de 65,3% e 66,3%. A amostra PVA-C-H atingiu sua
EWC após 24 h de ensaio, enquanto que a amostra PVA-A-C-H levou 36 h para
atingir a EWC. A presença de PAA no hidrogel, devido à introdução de novos grupos
hidroxila, permitiu que o hidrogel absorvesse água por mais tempo até atingir sua
EWC. Embora todos componentes apresentem grupos hidroxila em suas estruturas
químicas, somente o PVA e o PAA contribuem significativamente para a absorção
de água por ligações de hidrogênio (Caló & Khutoryanskiy, 2015; Ganji et al., 2010;
Lima et al., 2015).
62
6. CONCLUSÃO
63
no PVA, formados pelo processo freeze-thaw, evidenciando a efetividade dessa téc-
nica como método para a introdução de pontos de crosslinking físico do PVA.
Os percentuais de CFX liberada foram próximos de 90% após transcorridas
seis horas do ensaio de cinética de liberação de fármaco, de modo que a cinética de
liberação pode ser considerada rápida nos dois casos.
O PAA agiu satisfatoriamente como retardante de liberação, reforçando a
microestrutura macroporosa do hidrogel e encapsulando a CFX. Ao mesmo tempo, o
PAA promoveu maior retenção de água no hidrogel devido à introdução de novos
grupos hidroxila capazes de formar ligações de hidrogênio com a água, e também
como elevou o tempo para a quantidade de água de equilíbrio ser atingida.
64
7. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS
65
8. REFERÊNCIAS
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