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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

ESCOLA DE ENGENHARIA
ENGENHARIA DE MATERIAIS

ENG02298 – TRABALHO DE DIPLOMAÇÃO

DESENVOLVIMENTO DE MINIESFERAS DE HIDROGEL


PARA SISTEMAS DE LIBERAÇÃO DE FÁRMACOS

Vicente Fróes Moritz


00217674

Orientador: Prof. Dr. Carlos A. Ferreira (UFRGS/Brasil)

Co-Orientador: Prof. Dr. Michael J. D. Nugent (AIT/Irlanda)

Porto Alegre/RS, Janeiro de 2018


VICENTE FRÓES MORITZ

DESENVOLVIMENTO DE MINIESFERAS DE HIDROGEL


PARA SISTEMAS DE LIBERAÇÃO DE FÁRMACOS

Trabalho de Conclusão de Curso apre-


sentado ao Departamento de Engenharia
de Materiais da Escola de Engenharia da
Universidade Federal do Rio Grande do
Sul como requisito parcial para obtenção
do grau de Engenheiro de Materiais.

Orientador: Prof. Dr. Carlos A. Ferreira (UFRGS/Brasil)

Co-Orientador: Prof. Dr. Michael J. D. Nugent (AIT/Irlanda)

Porto Alegre/RS
2018
Ao meu avô, Henrique de Souza Fróes (in
memoriam), meu maior exemplo de ho-
mem honesto e íntegro.
AGRADECIMENTOS

À minha família: minha mãe, Maria Elisa; meu pai, Gustavo; minha irmã, Luí-
sa; minha avó, Ninha; meus padrinhos, Maria Lúcia e Eduardo; pelo amor, pelo
apoio absoluto e por acreditarem em mim incondicionalmente em todas minhas es-
colhas até hoje.
À minha namorada, Letícia, minha melhor amiga, minha companheira, minha
parceira, por estar do meu lado em todos momentos nos últimos quinze meses, por
todo o carinho e todo o amor, pelo apoio e pela compreensão, por estar comparti-
lhando comigo este momento das nossas vidas.
Aos amigos, Alef, Aline, Ana, Beraldo, Giácomo, Giordano, Gustavo, Rêydila
e Tamyres, por terem me deixado compartilhar os melhores e piores momentos dos
últimos anos, pelas bebedeiras para comemorar e para esquecer, simplesmente pe-
la amizade.
Aos meus orientadores, Dr. Carlos Ferreira, no Brasil, e Dr. Michael Nugent,
na Irlanda, pelo suporte, pelos conselhos e pela confiança que depositaram em mim;
e também ao meu supervisor de laboratório no AIT, Gabriel Goetten de Lima, por
todo o apoio nos experimentos, na caracterização das amostras e na interpretação
dos resultados.
Aos colegas do LAPOL, em especial Mauro, Eliane, José Manoel, Andréa,
Micheli, Franciélli, Paula, Maurício e Jalma, pelas conversas e pela companhia nas
horas de trabalho.
Aos professores do Departamento de Engenharia de Materiais da UFRGS e
do Departamento de Engenharia Mecânica e de Polímeros do AIT, pelo conhecimen-
to transmitido.
À professora Regina Gomes, que me apresentou uma das minhas grandes
paixões, a Química.
Ao International Office do AIT, em especial Ms. Mary Simpson e Mr. Karl
Turley, por todo o auxílio dispensado durante o meu período em Athlone.
Às agências CAPES e CNPq, bem como ao Governo Brasileiro, pelas bolsas
de iniciação científica, pela oportunidade inestimável do Programa Ciência sem
Fronteiras, e por todo o apoio financeiro provido, sem os quais seria impossível che-
gar até aqui.
Todo conhecimento definido – eu o afir-
maria – pertence à ciência (...).

Bertrand Russel
RESUMO

Hidrogéis são materiais poliméricos capazes de reter grandes quantidades de líqui-


dos e de armazenar compostos químicos devido a sua estrutura hidrofílica, com
aplicações em diversas áreas, especialmente sistemas de liberação de fármacos e
suporte para crescimento de células. PVA é um polímero hidrofílico utilizado para
sistemas de liberação de fármacos à base de hidrogel devido a sua biocompatibili-
dade e afinidade com um grande número de fármacos. Diversos fármacos com dife-
rentes funções biológicas podem ser utilizados, como a ciprofloxacina – um antibióti-
co multifuncional. Este estudo teve por objetivo a síntese e a caracterização de hi-
drogéis em geometria esférica para sistemas de liberação de fármacos a partir de
diferentes formulações de soluções aquosas contendo poli(álcool vinílico) (PVA),
poli(ácido acrílico) (PAA), ciprofloxacina (CFX) e hidroxiapatita (HAp), conformados
em meio criogênico. Os hidrogéis foram reforçados em ciclos de congelamento-
descongelamento. As propriedades térmicas das amostras foram avaliadas por calo-
rimetria diferencial de varredura (DSC), e a superfície e a morfologia interna das mi-
niesferas foram observadas em microscopia eletrônica de varredura (MEV). Foram
realizados ensaios para determinação da cinética de liberação do fármaco e do perfil
de inchamento dos hidrogéis. A Tg do PVA foi reduzida significativamente nos hidro-
géis, assim como a cristalinidade, mas a Tm sofreu pequeno aumento. A morfologia
interna observada revelou a formação de uma microestrutura macroporosa, neces-
sária para a aplicação do material como hidrogel. O PAA atuou como um retardante
à liberação da CFX e promoveu maior absorção de água no material.

Palavras-chave: Hidrogel. Poli(álcool vinílico). Sistemas de liberação de fármacos.


Liberação controlada. Método de congelamento-descongelamento.
ABSTRACT

Hydrogels are polymer materials able to retain large amounts of liquids and to store
chemical compounds due to its hydrophilic structure, finding a number of applications
in several fields, in particular as drug delivery systems and cell scaffolds. PVA is a
hydrophilic polymer used for hydrogel-based drug delivery systems due to its bio-
compatibility and drug loading capability, often reinforced with PAA. A number of
drugs for different biological applications can be used, e.g. ciprofloxacin – a multi-
functional antibiotic. This study aimed to synthesize and characterize spherical-shape
hydrogels for drug delivery systems obtained from different formulations of poly(vinyl
alcohol) (PVA), poly(acrylic acid) (PAA), ciprofloxacin (CFX) and hydroxyapatite
(Hap) aqueous solutions and shaped into cryogenic medium. Hydrogels were then
strengthened by freeze-thaw cycles. Thermal properties were evaluated by differen-
tial scanning calorimetry (DSC), and the surface and the internal morphology were
observed by scanning electron microscopy (SEM). Tests to determine the drug re-
lease kinetics and the hydrogels swelling profile were performed. Tg of PVA was sig-
nificantly reduced in hydrogels as well as crystallinity was, but Tm slightly increased.
Internal morphology observation revealed the formation of a macroporous micro-
structure, required for the application of the material as hydrogel. PAA acted retard-
ing CFX release and caused higher water absorption.

Keywords: Hydrogel. Poly(vinyl alcohol). Drug delivery systems. Controlled release.


Freeze-thaw method.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Representação esquemática de (a) um hidrogel quimicamente reticulado e


(b) um hidrogel fisicamente reticulado. Os pontos de crosslinking são circulados em
vermelho. (Adaptado de Choudhury et al., 2009) ...................................................... 20
Figura 2. Ilustração de métodos de formação de hidrogéis fisicamente reticulados:
(a) cristalização por formação de estereocomplexos em PLA, (b) interações iônicas
em alginato, (c) interações do tipo coiled-coil em proteínas, (d) interações
hidrofóbicas em macromoléculas anfifílicas e (e) reconhecimento molecular
específico em antígenos. (Adaptado de Ebara et al., 2014, p. 12) ............................ 21
Figura 3. Curvas ideais para quantidade de água absorvida por um hidrogel em
função do tempo: Caso I (curva azul, n=0,5), Caso II (curva laranja, n=1,0) e Caso
Anômalo (curva cinza, n=0,75). ................................................................................. 26
Figura 4. Concentração de fármaco na corrente sanguínea em função do tempo de
liberação: (―) dose segura, (― ―) dose insegura, (― · —) liberação controlada.
(Heller, 1996, p. 347) ................................................................................................. 27
Figura 5. Representação esquemática do funcionamento de um sistema de
liberação de fármaco à base de hidrogel. (Adaptado de Ferreira et al., 2011) .......... 27
Figura 6. Estrutura química da ciprofloxacina........................................................... 30
Figura 7. Estrutura química do poli(álcool vinílico). .................................................. 34
Figura 8. Reação de alcoólise para obtenção do PVA a partir do poli(acetato de
vinila). ........................................................................................................................ 35
Figura 9. Resistência à tração de PVA seco em H2SO4 (curva azul) e condicionado a
50% R.H. (curva laranja) em função do grau de hidrólise. (Adaptado de Brydson,
1999, p. 391) ............................................................................................................. 37
Figura 10. Representação esquemática da produção de criogéis pelo processo de
congelamento-descongelamento e formação da macroporosidade. (Adaptado de
Lima et al., 2016) ....................................................................................................... 40
Figura 11. Estrutura química do poli(ácido acrílico). ................................................. 42
Figura 12. (a) Estrutura química da hidroxiapatita vista do topo (ao longo do eixo c);
(b) célula unitária da hidroxiapatita (ao longo dos eixos a e b). (Adaptado de Yin &
Ellis, 2009)................................................................................................................. 43
Figura 13. Produção das miniesferas de hidrogel a partir da solução de PVA para
avaliação do efeito do método de congelamento. ..................................................... 46
Figura 14. Produção das miniesferas de hidrogel em nitrogênio líquido com
diferentes formulações. ............................................................................................. 47
Figura 15. (a) Visão geral do equipamento utilizado para os ensaios de cinética de
liberação de fármaco e taxa de inchamento. (b) Detalhe das cestas metálicas em
que foram depositadas as miniesferas para a realização do ensaio. ........................ 50
Figura 16. (a) Miniesferas imediatamente após o primeiro congelamento em
nitrogênio líquido; (b) miniesferas durante o estágio de descongelamento; (c)
miniesferas após secagem. ....................................................................................... 52
Figura 17. Curvas de calorimetria diferencial de varredura para PVA, PAA, CFX e
HAp. .......................................................................................................................... 53
Figura 18. Curvas de calorimetria diferencial de varredura das formulações
produzidas. ................................................................................................................ 54
Figura 19. Imagens de MEV de miniesferas produzidas em AcOEt após (a) três e (b)
sete etapas de descongelamento, e de miniesferas produzidas em nitrogênio líquido
após (c) três e (d) sete etapas de descongelamento. ............................................... 56
Figura 20. Imagens de MEV comparando as superfícies de (a) uma miniesfera de
PVA (controle), e (b) de uma miniesfera da formulação PVA-H. ............................... 57
Figura 21. Imagens de MEV da seção transversal – em destaque – de miniesferas
das formulações (a) PVA-H, (b) PVA-A-H, (c) PVA-C-H e (d) PVA-A-C-H................ 58
Figura 22. Imagens de MEV da seção transversal de miniesferas das formulações
(a) PVA-H, (b) PVA-A-H, (c) PVA-C-H e (d) PVA-A-C-H. .......................................... 59
Figura 23. Ensaio de cinética de liberação da CFX. ................................................. 61
Figura 24. Ensaio de inchamento dos hidrogéis contendo CFX. .............................. 61
LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Exemplos de hidrogéis, grupos funcionais hidrofílicos e aplicações. .. 19


Tabela 2. Propriedades selecionadas do PVA. (Sundararajan, 1999, pp. 890-
909) ..................................................................................................................... 36
Tabela 3. Soluções de hidrogel preparadas. ...................................................... 45
Tabela 4. Propriedades térmicas e cristalinidade das miniesferas obtidas e do
PVA. .................................................................................................................... 54
Tabela 5. Composição química estimada obtida por EDS. ................................. 60
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

%AW Percentual de água absorvida


%RD Percentual de fármaco liberado
%Xc Percentual de cristalinidade de um polímero
%w/w Percentual de massa por massa
∆H°m Entalpia teórica de fusão no ponto de fusão teórico
∆Hm Entalpia de fusão no ponto de fusão
A Absorbância de uma amostra no UV-VIS
A0 Absorbância de uma amostra no UV-VIS no tempo zero
AcOEt Acetato de Etila
ALE Alemanha
ATP Trifosfato de adenosina
CFX Ciprofloxacina
CHN China
DNA Ácido desoxirribonucleico
DSC Calorimetria Diferencial de Varredura
EDS Espectroscopia de raios-X por dispersão em energia
EHDA Atomização eletrohidrodinâmica
EUA Estados Unidos
EWC Quantidade de água de equilíbrio
HAp Hidroxiapatita
k Constante de proporcionalidade
m Massa de água no hidrogel
m(t) Massa de água absorvida em um dado tempo t
m0 Massa inicial do hidrogel
m∞ Massa de água absorvida no equilíbrio
mT Massa total do polímero hidratado
Mv Massa molar viscosimétrica
Mw Massa molar média
MEV Microscopia Eletrônica de Varredura
n Expoente
PAA Poli(ácido acrílico)
PAMAM Poli(amidoamina)
PANi Polianilina
PBT Poli(tereftalato de butileno)
PCL Poli(ε-caprolactona)
PCPAEEP Poli(ε-caprolactona-poliamino-etiletilenofosfato)
PDMAEMA Poli[2-(dimetilamino)etilmetacrilato]
PE Polietileno
PEG Poli(etilenoglicol)
PEO Poli(óxido de etileno)
PGA Poli(ácido glicólico)
PHB Poli(3-hidroxibutirato)
PHB-HV Poli(3-hidroxibutirato-co-hidroxivaletato)
PHEMA Poli(metacrilato de 2-hidroxietila)
PLA Poli(ácido lático)
PLGA Poli(ácido glicólico-co-lático)
PMAA Poli(ácido metacrílico)
PMAEG Poli(ácido metacrílico-g-etilenoglicol)
PMAMMA Poli(ácido metacrílico-co-metilmetacrilato)
PPO Poli(óxido de propileno)
PPy Polipirrol
PVA Poli(álcool vinílico)
PVAc Poli(acetato de vinila)
PVI Poli(vinilimidazol)
PVP Poli(vinilpirrolidona)
Q Razão volumétrica de inchamento
Qm Razao de inchamento da massa de hidrogel
R.H. Umidade relativa
t Tempo
Tg Temperatura de transição vítrea
Tm Temperatura de fusão
UV Faixa espectral ultravioleta
V2s Fração volumétrica de polímero no estado inchado
Vg Volume de gel hidratado
VIS Faixa espectral visível
Vp Volume de polímero
w Fração mássica de polímero no hidrogel
ρ1 Densidade do solvente de inchamento
ρ2 Densidade do polímero
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 16
2. OBJETIVOS ....................................................................................................... 17
2.1. Objetivo geral ............................................................................................ 17
2.2. Objetivos específicos ............................................................................... 17
3. REVISÃO DE LITERATURA .............................................................................. 18
3.1. Hidrogéis ................................................................................................... 18
3.1.1. Classificação de hidrogéis ............................................................... 19
3.1.2. Materiais para hidrogéis e suas aplicações ..................................... 22
3.1.3. Inchamento de Hidrogéis ................................................................. 23
3.2. Sistemas de liberação de fármacos ........................................................ 26
3.2.1. Mecanismos de liberação de fármacos ............................................ 27
3.2.2. Materiais para sistemas de liberação de fármacos .......................... 29
3.2.3. Fármacos utilizados para liberação controlada ................................ 29
3.2.4. Hidrogéis em geometria esférica...................................................... 30
3.2.5. Novas tecnologias: o estado da arte ................................................ 31
3.3. Poli(álcool vinílico) ................................................................................... 34
3.3.1. Natureza química e física do PVA .................................................... 34
3.3.2. Aplicações........................................................................................ 37
3.3.3. Hidrogéis de PVA ............................................................................. 38
3.3.3.1. Dissolução das cadeias de PVA ............................................ 38
3.3.3.2. Reticulação de hidrogéis de PVA .......................................... 39
3.3.3.3. Blendas e compósitos de hidrogéis de PVA .......................... 41
4. MATERIAIS E MÉTODOS.................................................................................. 45
4.1. Materiais utilizados................................................................................... 45
4.2. Preparação e formulações dos hidrogéis .............................................. 45
4.3. Produção das miniesferas ....................................................................... 46
4.4. Ciclos de congelamento-descongelamento ........................................... 47
4.5. Caracterização das amostras .................................................................. 47
4.5.1. Calorimetria diferencial de varredura ............................................... 48
4.5.2. Microscopia eletrônica e espectroscopia de dispersão em energia . 49
4.5.3. Liberação controlada de fármaco e ensaio de inchamento .............. 49
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................... 51
5.1. Inspeção visual ......................................................................................... 51
5.2. Propriedades térmicas ............................................................................. 53
5.3. Observações em microscopia eletrônica ............................................... 55
5.4. Cinética de liberação do fármaco e inchamento ................................... 61
6. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 63
7. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ................................................. 65
8. REFERÊNCIAS .................................................................................................. 66
1. INTRODUÇÃO

Hidrogéis são um grupo de materiais poliméricos tridimensionais, capazes


de reter grandes quantidades de água ou outros líquidos e de armazenar compostos
químicos devido a sua estrutura hidrofílica, com aplicações em diversas áreas, em
particular sistemas de liberação de fármacos (drug delivery systems) e suporte para
crescimento de células (cell-growth scaffolds). Isso se deve à consistência macia e
borrachosa dos hidrogéis, muito similar à dos tecidos humanos, o que os torna um
material ideal para uma série de aplicações biomédicas, bem como a outras proprie-
dades como funcionalidade, reversibilidade de inchamento, esterilizabilidade e bio-
compatibilidade. Hidrogéis são denominados hidrogéis criogênicos ou criogéis quan-
do são fisicamente reticulados a baixas temperaturas.
Um dos materiais mais utilizados para hidrogéis é o poli(álcool vinílico)
(PVA), um polímero hidrofílico usado para sistemas de liberação de fármacos devido
a sua biocompatibilidade e capacidade de ser carregado com fármacos. Vários fár-
macos de diferentes funções biológicas vêm sendo utilizadas como compostos bioa-
tivos para esses sistemas, tais como a ciprofloxacina (CFX) – um antibiótico multi-
funcional. No entanto, há uma série de dificuldades relacionadas à dissolução de
fármacos em água, visto que vários não são completamente solubilizados, afetando
a efetividade dos dispositivos. Poli(ácido acrílico) (PAA) é frequentemente adiciona-
do a hidrogéis de PVA para melhorar as propriedades mecânicas e para proporcio-
nar diferentes modos de resposta de acordo com o pH, e hidroxiapatita (HAp) é adi-
cionada para aumentar a biocompatibilidade, devido à sua composição química simi-
lar à dos tecidos ósseos.
Apesar de sistemas à base de hidrogéis de PVA estarem sendo extensiva-
mente estudados, até então há poucas pesquisas investigando estes hidrogéis em
geometria esférica. No presente trabalho, hidrogéis para sistemas de liberação de
fármacos foram desenvolvidos a partir de diferentes formulações de soluções aquo-
sas de PVA, PAA, CFX e HAp, formando esferas por meio de gotejamento em nitro-
gênio líquido. Os hidrogéis foram reforçados em ciclos de congelamento-
descongelamento. A caracterização das amostras avaliou as propriedades térmicas,
físicas e químicas das amostras e investigou a influência de cada material no PVA.

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2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo geral

Síntese e caracterização de hidrogéis esféricos de PVA por rota criogênica


para atuação como sistema de liberação de fármacos.

2.2. Objetivos específicos

 Estudar a influência da formulação e do processamento nas propriedades fí-


sicas, químicas e térmicas do material;
 Avaliar a característica de liberação do fármaco;
 Investigar o perfil de inchamento do hidrogel.

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3. REVISÃO DE LITERATURA

3.1. Hidrogéis

Hidrogéis, também chamados de smart networks, são materiais poliméricos


que possuem uma estrutura tridimensional reticulada a qual os permite inchar e reter
grandes quantidades de água ou outros líquidos (Ahmed, 2015; Ullah et al., 2015).
Hidrogéis vêm sendo extensivamente estudados devido a suas úteis aplicações nos
campos biomédico, farmacêutico, de biotecnologia, biosseparação, biossensores,
recuperação de óleos, agricultura e cosméticos, e em especial pela capacidade de
liberação controlada de moléculas bioativas (Akhtar et al., 2015; Ullah et al., 2015).
Além disso, esses materiais também são estudados como uma alternativa para o
encapsulamento de células vivas (living cell encapsulation). Ademais, a natureza
biodegradável de alguns hidrogéis tem feito crescer o interesse em pesquisas objeti-
vando aplicações biomédicas (Ullah et al., 2015).
De acordo com Ullah et al. (2015), os hidrogéis possuem propriedades ine-
rentes que podem ser aproveitadas em uma série de aplicações, tais como uma
consistência macia e borrachosa, similar à de tecidos vivos. Hidrogéis podem ser
produzidos em diversas formas físicas, e.g. bastões, revestimentos, filmes e micro- e
nanopartículas (Hoare & Kohane, 2008). Os requisitos biológicos do material para
permitir sua aplicação são satisfeitos devido às propriedades de funcionalidade, es-
terilizabilidade e biocompatibilidade, portanto permitindo que esses polímeros sejam
aplicados para o tratamento ou a reposição de tecidos ou órgãos ou suas funções
bem como para interagir com sistemas biológicos (Ullah et al., 2015).
A presença de grupos funcionais hidrofílicos ligados à cadeia principal
permite que os hidrogéis sejam capazes de absorver água por meio de ligações de
hidrogênio. No entanto, devido à presença de reticulações (crosslinking), hidrogéis
não são solúveis (Ahmed, 2015). Estes materiais podem ser de diferentes origens:
natural (e.g. gelatina e ágar) ou sintética (e.g. PHEMA e PVA) (Ullah et al., 2015). Na
Tabela 1, são listados alguns hidrogéis usuais e seus respectivos grupos funcionais
hidrofíicos e aplicações. Atualmente, existe uma preferência por hidrogéis sintéticos
devido a algumas características inerentes: estrutura química bem definida (a qual
pode ser funcionalizada), alta estabilidade e melhores propriedades térmicas e
mecânicas (Ahmed, 2015; Ullah et al., 2015).

18
Tabela 1. Exemplos de hidrogéis, grupos funcionais hidrofílicos e aplicações.
Polímero Grupo Funcional Aplicação
Alginato Hidroxila, ácido carboxílico Encapsulamento de células (Vrana et al., 2012)
PVA Hidroxila Liberação de fármacos (McGann et al., 2009)
PHEMA Éster Lentes de contato (Ebara et al., 2014)
PEG Éter Liberação de proteínas (Bezemer et al., 2000)
Quitosana Amina, hidroxila, éter Liberação de nanoinsulina (Zu et al., 2012)

3.1.1. Classificação de hidrogéis

Hidrogéis são geralmente classificados de acordo com o método de reticula-


ção. Visto que o crosslinking é fundamental para a formação da rede tridimensional,
prevenindo a dissolução do hidrogel antes e durante o seu uso, diferentes rotas de
reticulação foram desenvolvidas. Hidrogéis podem ser reticulados quimicamente ou
fisicamente, dependendo das propriedades físico-químicas do(s) grupo(s) funcio-
nal(ais) ligado(s) à cadeia (Akhtar et al., 2015).
Os hidrogéis quimicamente reticulados são caracterizados por ligações
covalentes entre as cadeias poliméricas, enquanto que, em materiais fisicamente
reticulados, há apenas interações físicas entre as cadeias, como mostrado na Figura
1 (Akhtar et al., 2015; Choudhury et al., 2009). Reticulação química frequentemente
emprega um agente de reticulação, o qual deve ser uma molécula bi- ou
polifuncional capaz de reagir com os grupos funcionais disponíveis para ligá-los. No
entando, um problema comum em relação a este tipo de crosslinking é o fato de
essas moléculas serem geralmente tóxicas, havendo a possibilidade de o produto
final conter algumas moléculas residuais não-reagidas. Por outro lado, a reticulação
química em geral leva a materiais de melhores propriedades mecânicas (Akhtar et
al., 2015).
Métodos comuns para a reticulação química de hidrogéis incluem reações
entre aminas e ácidos carboxílicos e entre isocianatos e hidroxilas ou aminas. Em
alguns casos, o monômero que constitui o polímero já possui algum desses pares de
grupos funcionais, eliminando a necessidade de um agente de reticulação (Akhtar et
al., 2015). Outros métodos para a obtenção de hidrogéis qumicamente reticulados
são polimerização por adição, por condensação ou via radicais livres. Conforme
Akhtar et al. (2015), a reticulação utilizando-se enzimas e por meio de radiação de
alta energia já foi relatada na literatura.

19
Figura 1. Representação esquemática de (a) um hidrogel quimicamente reticulado e (b) um hidrogel
fisicamente reticulado. Os pontos de crosslinking são circulados em vermelho. (Adaptado de
Choudhury et al., 2009)

A característica mais significativa dos hidrogéis reticulados fisicamente é o


fato de agentes de reticulação ou outras reações químicas posteriores serem total-
mente desnecessários. Segundo Akhtar et al. (2015), crosslinking físico pode se dar
por ligações de hidrogênio, cristalização, interações iônicas, interações proteicas e
interações de copolímeros em bloco ou graftizados (Figura 2). Reticulação física por
ligações de hidrogênio ocorre quando há uma diferença de carga elétrica entre ca-
deias poliméricas contendo oxigênio e átomos de hidrogênio polares, e.g. PAA e
PMAA/PEG (Ebara et al., 2014, p. 14). Crosslinking físico por cristalização ocorre em
sistemas homopoliméricos como géis de PVA e PLA (Figura 2.a) (Akhtar et al., 2015;
Ebara et al., 2014, p. 14). Como o grupo funcional do PVA é a hidroxila, poder-se-ia
pensar que a reticulação física ocorreria por ligações de hidrogênio unicamente; no
entanto não é isso que acontece. A reticulação por ligações de hidrogênio não é o
mesmo que cristalização das cadeias e se dá somente em polímeros cujo grupo la-
teral é volumoso demais para permitir a cristalização. A hidroxila do PVA é um grupo
menos volumoso, portanto tem mais facilidade em cristalizar (Brydson, 1999).
Reticulação por interações iônicas (Figura 2.b) foi observada em hidrogéis
de alginato contendo íons cálcio, enquanto a reticulação por interações proteicas do
tipo bobina (coiled-coil) está presente em biomacromoléculas como DNA e antíge-

20
nos (Figura 2.c) (Akhtar et al., 2015). Reticulação física também foi observada em
hidrogéis produzidos a partir de copolímeros multibloco consistindo de cadeias hidro-
fóbicas contendo ramificações hidrofílicas ou copolímeros cuja cadeia principal é
hidrossolúvel e possui ramificações hidrofóbicas (Figura 2.d), e.g. PLGA-PEG, PBT-
PEG e sistemas de polissacarídeos hidrofobizados (Akhtar et al., 2015).
De acordo com Ullah et al. (2015), existem ainda outros critérios de
classificação de hidrogéis com base em outras características. Podem ser citadas
como possibilidades de classificação as redes interpenetrantes (interpenetrating
networks) e os hidrogéis sensitivos a estímulos, pH, temperatura, glicose e
antígenos (Figura 2.e) e hidrogéis à base de proteínas. Os mais importantes destes
são os hidrogéis de redes interpenetrantes, que são sintetizados pela preparação,
primeiramente, de uma rede polimérica, que é então inchada em um monômero
líquido que será então polimerizado, interconectando a estrutura inicial (Ullah et al.,
2015).

Figura 2. Ilustração de métodos de formação de hidrogéis fisicamente reticulados: (a) cristalização por
formação de estereocomplexos em PLA, (b) interações iônicas em alginato, (c) interações do tipo
coiled-coil em proteínas, (d) interações hidrofóbicas em macromoléculas anfifílicas e (e) reconheci-
mento molecular específico em antígenos. (Adaptado de Ebara et al., 2014, p. 12)

21
3.1.2. Materiais para hidrogéis e suas aplicações

A aplicação considerada mais significativa dos hidrogéis é o campo


biomédico, visto que hidrogéis são capazes de controlar a liberação de moléculas
bioativas e fármacos, i.e., são capazes de formar sistemas de liberação de fármacos
(Hoare & Kohane, 2008) bem como de constituir matrizes para o encapsulamento de
células vivas (Vrana et al., 2012). Hidrogéis são tipicamente utilizados como
carregadores de fármacos hidrofílicos, o que, devido à grande quantidade de água
da maioria dos hidrogéis, resulta em uma liberação relativamente rápida das
substâncias carregadas na matriz durante um período de horas ou dias (Hoare &
Kohane, 2008).
Conforme Murua et al. (2009), o microencapsulamento de células é uma
alternativa para a liberação continuada de agentes terapêuticos. Esta tecnologia é
considerada uma técnica promissora em engenharia de tecidos e baseia-se na
imobilização de células em uma matriz de hidrogel (Murua et al., 2009; Sarker et al.,
2015). Os hidrogéis agem como uma membrana semipermeável, encapsulando as
células e isolando-as do sistema imunológico do hospedeiro; no entando, a liberação
dos agentes terapêuticos e a troca de nutrientes e resíduos são permitidos pela
membrana (Murua et al., 2009). Sarker et al. (2015) relatam que os hidrogéis
previnem tensões mecânicas e fricção nas células encapsuladas e nos tecidos
adjacentes. Vários hidrogéis poliméricos são utilizados para esta aplicação, como
PVA (Vrana et al., 2012) e alginatos (Sarker et al., 2015).
Em engenharia de tecidos, o uso de hidrogéis como suportes (scaffolds)
para desenvolvimento ou regeneração de tecidos “macios” é atrativo pelo fato de as
propriedades mecânicas destes materiais serem muito similares à dos tecidos vivos
(Nguyen & West, 2002). Entre os materiais utilizados para esta aplicação estão o
PEG, frequentemente em blendas ou copolímeros de compostos acrílicos (Nguyen &
West, 2002), e materiais compósitos como um sistema hidrogel de
PDMAEMA/PHEMA reforçado com trifosfato de cálcio-α (Volkmer et al., 2014). De
acordo com Caló & Khutoryanskiy (2015), outros materiais como PVA, PAA,
agarose, alginato, quitosana, colágeno, fibrina e gelatina têm potencial para esta
aplicação.
Hidrogéis sintetizados a partir de monômeros acrílicos são aplicados como
lentes de contato por serem translúcidos devido a sua microestrutura amorfa e baixa

22
cristalinidade. Lentes de contato de hidrogel possuem índice de refração adequado e
boas propriedades mecânicas, são permeáveis ao oxigênio e apresentam maiores
durabilidade e limpidez que as de vidro (Caló & Khutoryanskiy, 2015; Ebara et al.,
2014, p. 10). Hidrogéis inteligentes para biotecnologia têm sido usados para concen-
trar soluções aquosas diluídas de macromoléculas bem como em sistemas de purifi-
cação de água. É possível também o controle de reações de substratos com enzi-
mas imobilizadas por meio de mudanças no perfil de inchamento de hidrogéis (Ullah
et al., 2015). Redes interpenetrantes combinando polímeros eletroativos integral-
mente condutores (integrally conductive electroactive polymers – CEP, na sigla em
inglês) com hidrogéis altamente hidratados têm aplicações em sensores para biorre-
conhecimento e diagnóstico biomédico, utilizando materiais como blendas de PHE-
MA com PANi ou PPy (Wilson et al., 2010, pp. 319-337).
Por serem altamente absorventes, os hidrogéis podem ser carregados com
fertilizantes e água para melhorar as propriedades do solo na agricultura e ainda
aplicados como membranas para tratamento e reuso de águas residuais (Ullah et al.,
2015). Em reservatórios de petróleo, frequentemente há excesso de água, o que
pode causar corrosão e consequentemente uma perda significativa de óleo, de mo-
do que hidrogéis são injetados no reservatório para selar as zonas de maior perme-
abilidade ou fraturas e reter o excesso de água (Ullah et al., 2015).

3.1.3. Inchamento de Hidrogéis

Em sistemas de liberação de fármacos, é importante ressaltar que a difusão


adequada das moléculas de fármaco ocorre devido à alta retenção de água no hi-
drogel (Ganji et al., 2010). Portanto, o grau e a taxa de inchamento do hidrogel são
os parâmetros mais importantes que governam a liberação de fármacos ou outras
substâncias.
O mecanismo de inchamento de um hidrogel se dá quando as moléculas de
solvente entram em contato com o hidrogel e penetram na estrutura polimérica. À
medida que as moléculas de solvente infiltram, a rede se expande, permitindo que
mais moléculas penetrem. As fases reticuladas, insolúveis, são então separadas das
regiões borrachosas (Ganji et al., 2010). No entanto, o inchamento não é um pro-
cesso contínuo, visto que a elasticidade da estrutura polimérica limita a expansão
volumétrica. Isso restringe a quantidade de água permitida. De acordo com Ganji et

23
al. (2010), a fração volumétrica de polímero no estado inchado V2s indica a
quantidade de líquido que pode ser armazenada em um hidrogel e é definida como a
razão entre o volume de polímero (Vp) e o volume do gel hidratado (Vg), conforme a
Equação 1:

𝑉𝑝
𝑉2𝑠 =
𝑉𝑔
(Equação 1)

A razão volumétrica de inchamento Q é definida como o recíproco da fração


volumétrica de polímero e é dada pela seguinte equação:

𝑄𝑚 1
+𝜌
−1 𝜌1 2
𝑄 = 𝑉2𝑠 = 1
𝜌2

(Equação 2)

onde Qm é a razão de inchamento da massa, e ρ1 e ρ2 são as densidades do solven-


te e do polímero, respectivamente (Ganji et al., 2010). Segundo Caló &
Khutoryanskiy (2015), a quantidade de água de equilíbrio EWC de um hidrogel é
uma propriedade dependente da temperatura, do pH e da osmolalidade1 e pode ser
definida como:

𝑚
𝐸𝑊𝐶 = × 100%
𝑚𝑇
(Equação 3)

onde m é a massa de água no hidrogel e mT é a massa total do polímero hidratado.


A massa de água m pode ser obtida subtraindo-se a massa inicial de polímero da
massa total mT. A EWC é especialmente importante para lentes de contato de hidro-
gel, pois a permeabilidade do oxigênio é dependente desse fator (Caló &
Khutoryanskiy, 2015).
Conforme Ganji et al. (2010), diversos modelos matemáticos e teorias
visando a descrever o comportamento de inchamento dos hidrogéis bem como a
1
Osmolalidade é uma variante da molalidade que leva em conta somente solutos que contribuem para a
pressão osmótica de uma solução. (N. do A.)

24
cinética de liberação de fármaco foram desenvolvidos. O método mais aplicado é
uma equação de lei de potências, conforme segue:

𝑚(𝑡)
= 𝑘𝑡 𝑛
𝑚∞
(Equação 4)

onde m(t) é a massa de água absorvida em um dado tempo t, m∞ é a massa de água


de equilíbrio ou máxima e k e n são constantes dependentes do sistema polímero-
solvente. Entretanto, este modelo frequentemente falha quando a razão m(t)/m∞ é
maior que 0,6; assim, vários outros modelos (que não serão aqui discutidos) foram
propostos (Ganji et al., 2010).
Em termos de cinética de inchamento, há uma dependência significativa com
relação à temperatura do meio e à Tg do polímero. De acordo com Ganji et al.
(2010), se a Tg é significativamente menor que a temperatura do meio, de modo que
as cadeias possuem grande flexibilidade, o tempo de relaxação é muito maior do
que a taxa de difusão do solvente, portanto a água penetra facilmente na rede. Este
caso é dito Fickiano, também chamado de Caso I, no qual a massa total aumenta
linearmente em função da raiz quadrada do tempo de sorção, i.e., n = 0,5, tendendo
assintoticamente a um ponto de equilíbrio fixo (Ganji et al., 2010), como mostrado na
Figura 3.
Por outro lado, há modos não-Fickianos de inchamento, os quais estão divi-
didos em duas categorias: Caso II e transporte anômalo (Ganji et al., 2010). O Caso
II é o oposto natural do Caso I, ocorrendo quando o tempo de relaxação das cadeias
poliméricas é muito maior que a taxa de difusão do solvente, de modo que a difusão
ocorre muito rapidamente em comparação ao Caso I, e a massa total aumenta line-
armente em função do tempo de sorção, i.e., n = 1,0, como pode ser observado na
Figura 3. Segundo Ganji et al. (2010), o caso de transporte anômalo se dá quando
as taxas de difusão e relaxação são próximas. Em tais casos, é possível empregar
na Lei de Fick condições de contorno modificadas e/ou também um coeficiente de
difusão diferente daquele do Caso II, i.e., 0,5 <n< 1,0, como mostrado na Figura 3.

25
ÁGUA ABSORVIDA NO HIDROGEL

TEMPO
Figura 3. Curvas ideais para quantidade de água absorvida por um hidrogel em função do tempo:
Caso I (curva azul, n=0,5), Caso II (curva laranja, n=1,0) e Caso Anômalo (curva cinza, n=0,75).

3.2. Sistemas de liberação de fármacos

Sistemas de liberação de fármacos (em inglês drug delivery systems ou drug


release systems) vêm sendo desenvolvidos para permitir a liberação de fármacos
em organismos como o corpo humano de forma controlada e constante em relação
ao tempo, em oposição a pílulas e injeções comuns. Estas inicialmente provocam
um rápido aumento da concentração de fármaco na corrente sanguínea, atingindo
um pico, e então ocorre um decrescimento exponencial, como pode ser observado
na Figura 4 (Heller, 1996, pp. 346-347). A dose correspondente a pílulas ou injeções
é projetada para se encontrar em níveis seguros de concentração na corrente san-
guínea, mas também para atingir um nível efetivo mínimo. A grande vantagem do
hidrogel é permitir a liberação controlada do fármaco em um patamar constante no
nível seguro e acima do nível efetivo mínimo. Como as propriedades dos hidrogéis,
em especial a estrutura altamente porosa que permite o carregamento de fármacos
e sua posterior liberação, satisfazem os requisitos de um material adequado para
estes sistemas, os hidrogéis têm sido empregados nesta aplicação, como pode ser
visto na Figura 5 (Caló & Khutoryanskiy, 2015; Ferreira et al., 2011).

26
Figura 4. Concentração de fármaco na corrente sanguínea em função do tempo de liberação:
(―) dose segura, (― ―) dose insegura, (― · —) liberação controlada. (Heller, 1996, p. 347)

Figura 5. Representação esquemática do funcionamento de um sistema de liberação de fármaco à


base de hidrogel. (Adaptado de Ferreira et al., 2011)

3.2.1. Mecanismos de liberação de fármacos

A liberação do fármaco carregado no hidrogel pode ocorrer por meio de di-


versos mecanismos, de modo que a forma final do dispositivo de liberação de fár-
maco é definida pelo mecanismo de liberação (Caló & Khutoryanskiy, 2015; Heller,
1996). Os tipos de mecanismo de liberação de fármacos são apresentados a seguir:

27
a. Sistemas de difusão controlada: o fármaco carregado é liberado por difu-
são através do material. Há fundamentalmente dois tipos de dispositivos
de liberação por difusão: reservatório e matriz (Caló & Khutoryanskiy,
2015; Heller, 1996, pp. 347-349). O primeiro, também chamado de “sis-
tema controlado por membrana”, consiste em um núcleo, carregado com
uma alta concentração de fármaco, revestido por uma membrana de hi-
drogel, resultando em uma taxa de liberação constante. O segundo, tam-
bém chamado de monolítico, é produzido dispersando-se uniformemente
o fármaco no hidrogel, promovendo uma taxa de liberação proporcional à
raiz quadrada do tempo (Caló & Khutoryanskiy, 2015; Heller, 1996, pp.
347-349).
b. Sistemas controlados por inchamento: são produzidos dispersando-se ou
dissolvendo-se o fármaco no hidrogel e representam um típico exemplo
do Caso II de inchamento, portanto a cinética de liberação é constante e
independente do tempo (Caló & Khutoryanskiy, 2015). À medida que a
água penetra na matriz, a temperatura de transição vítrea é reduzida sig-
nificativamente, permitindo que o fármaco seja difundido a partir do hi-
drogel (Heller, 1996, pp. 349-351).
c. Sistemas controlados quimicamente: a liberação de fármaco é governada
pela bioerosão do hidrogel, i.e., o hidrogel contendo o fármaco é erodido
por enzimas ou outras espécies bioativas no meio biológico. Moléculas
de fármaco podem ser dispersadas na matriz polimérica ou ligadas qui-
micamente à cadeia principal, sendo liberadas quando as devidas espé-
cies bioativas atacam o hidrogel (Heller, 1996, pp. 351-354).
d. Sistemas de entrega regulada: a liberação do fármaco pode ter início ou
ter sua taxa modificada em resposta a um estímulo ou uma necessidade
fisiológica. De acordo com Heller (1996, pp. 354-355), sistemas externa-
mente regulados, e.g. bombas mecânicas contendo um reservatório de
fármaco e um cateter para efetuar a liberação, são capazes de mudar a
taxa de liberação por intervenção externa, como magnetismo ou ultras-
som. Existem ainda dispositivos específicos para um determinado meio
biológico que podem alterar a taxa de liberação em resposta a variações
do pH ou da temperatura do meio, por exemplo (Heller, 1996)

28
3.2.2. Materiais para sistemas de liberação de fármacos

De acordo com Caló & Khutoryanskiy (2015), um grande número de diferen-


tes hidrogéis poliméricos apresentam potencial para aplicação em sistemas de libe-
ração de fármacos. Entre os materiais conhecidos, estão o PVA, blendas de
PVP/PVA utilizando um extrato de planta medicinal como solvente durante a síntese,
poliuretanos, PEG, copolímeros de PEO ou PPO com PLA e PGA, PAMAM, copolí-
meros de ácido metacrílico/hidroxietil-metacrilato, PMAEG, e polímeros de diversos
monômeros acrílicos em diferentes formulações (Caló & Khutoryanskiy, 2015).

3.2.3. Fármacos utilizados para liberação controlada

Diversos fármacos para diferentes aplicações biológicas são utilizados como


compostos bioativos em sistemas de liberação de fármacos (Akhtar et al., 2015;
Ullah et al., 2015). No entanto, apenas um pequeno número tem aplicação comercial
está disponível no mercado (Caló & Khutoryanskiy, 2015). O sucesso da aplicação
de um hidrogel como sistema de liberação de fármacos, segundo Caló &
Khutoryanskiy (2015), depende da sincronia entre o sistema e as condições fisiológi-
cas do paciente, i.e., o fármaco deve ser liberado somente em resposta a um estí-
mulo do meio, uma mudança no estado do paciente. Além disso, a ocorrência de
efeitos colaterais também deve ser considerada quando do desenvolvimento e/ou da
aplicação de um sistema de liberação de fármacos, já que tais efeitos podem surgir
quando a o fármaco é liberado sem a devida necessidade (Caló & Khutoryanskiy,
2015).
Sistemas de liberação de fármacos comercialmente disponíveis estão carre-
gados com drogas como dexametasona, misoprostol, dinoprostona, pilocarpina, ace-
tato de histrelina, ibuprofeno e insulina, entre outros (Caló & Khutoryanskiy, 2015).
Outros compostos com potencial aplicação que têm sido estudados são ATP (Wu et
al., 2015), teofilina (Lima et al., 2015) ciprofloxacina (Gutiérrez et al, 2007; Kevadiya
et al., 2014), diclofenaco de sódio (Geever et al., 2008), própolis (Lima et al., 2016) e
aspirina (McGann et al., 2009), entre outros.
A ciprofloxacina (ácido 1-ciclopropil-6-fluoro-4-oxo-7-(1-piperazinil)-quinolina-
3-carboxílico) (Figura 6), também conhecida por CFX, é um dos antibióticos mais
eficientes, pertencendo à classe das fluoroquinolinas, caracterizada por exibir um

29
amplo espectro de ação contra vários agentes patogênicos (Kevadiya et al., 2014;
Kloskowski et al., 2010). Este fármaco é utilizado para de uma série de aplicações,
como tratamento de infecções (intra-abdominais, cutâneas, do sistema respiratório,
do trato urinário, de ossos e juntas), alguns tipos de diarreia infecciosa e febre tifoi-
de, entre outras (American Society of Health-System Pharmacists, [2014?]). Pesqui-
sas relatam ainda a ação inibidora da CFX sobre células humanas cancerosas de
diferentes tecidos (Kloskowski et al., 2010).

O O
F
OH

N N
HN

Figura 6. Estrutura química da ciprofloxacina.

3.2.4. Hidrogéis em geometria esférica

Os primeiros registros de utilização de sistemas poliméricos em geometria


esférica para o encapsulamento de moléculas bioativas datam da década de 1970.
Em dois estudos em 1979, um grupo de pesquisadores produziu microcápsulas
esféricas de PLA carregadas com progesterona (Beck et al., 1979a) e noretindrona
(Beck et al., 1979b), visando à obtenção de sistemas contraceptivos injetáveis de
longa duração. As microcápsulas foram produzidas pela dissolução do PLA em
solvente orgânico seguida de dispersão em solução diluída de PVA em água com
agitação, e os pesquisadores conseguiram obter microesferas com diâmetros entre
10 e 240 µm (diâmetro médio de 150 µm). Entretanto, nestas pesquisas o conceito
de hidrogel não foi empregado.
Na década de 1990, o estudo de microesferas poliméricas para
encapsulamento de fármacos, hormônios e proteínas continuou em evidência
(Cohen et al., 1991; Hausberger & DeLuca, 1995; Mehta et al., 1994), levando em
consideração as características de liberação controlada e investigando o mecanismo
de difusão. Maia et al. (2004) produziram microesferas de PHB e PHB-HV por uma

30
rota de emulsificação e posterior remoção de solvente, para aplicação como sistema
de liberação de fármaco. Ciofani et al. (2007) fizeram um estudo de transporte de
massa e validação in vitro de microesferas de alginato produzidas por emulsão e
carregadas com Netrin-1, um anticoncepcional. Uma pesquisa de 2008 acerca de
géis de alginato para sistemas de liberação de fármaco de aplicações neurológicas é
a primeira a incluir microesferas nessa categoria (Ciofani et al., 2008). Em 2015,
Aguirre et al. (2015) desenvolveram um novo sistema oral que consiste em
miniesferas (com diâmetro entre 1 e 2 mm) formuladas em emulsão e carregadas
em cápsulas de gelatina. Cada miniesfera carrega, dissolvidas na emulsão,
moléculas bioativas, neste caso calcitonina de salmão. O perfil de liberação da
substância pode ser controlado e projetado visando à região intestinal ótima para
melhor absorção (Aguirre et al., 2015).
O emprego da geometria esférica, com diferentes intervalos dimensionais,
em sistemas de liberação de fármacos ou outras moléculas bioativas já vem sendo
estudado na literatura científica, assim como hidrogéis à base de PVA para essa
função, inclusive por rotas criogênicas, embora sem utilizar essa geometria. Logo,
não há, até o presente momento, literatura que aborde o desenvolvimento de
sistemas de liberação de fámaco à base de PVA em geometria esféria com diâmetro
entre 1 e 2 mm empregando rotas criogênicas para promover a reticulação física do
material.

3.2.5. Novas tecnologias: o estado da arte

Processos de alta tecnologia como atomização eletrodinâmica (Xie et al.,


2015) e electrospinning (Hu et al., 2014; Sill & von Recum, 2008) têm sido emprega-
das para o desenvolvimento de materiais em micro- e nanoescala para aplicações
biomédicas, incluindo sistemas de liberação de fármacos. Além disso, novos materi-
ais como redes multicamada de hidrogel e nanofibras (Wu et al., 2015), um hidrogel
de consistência borrachosa para recobrimento de ferimentos com propriedade de
liberação de fármacos e contendo componentes eletrônicos (Lin et al., 2015) e
partículas de nanogel para entrega localizada de fármacos (Zhang et al., 2016)
foram desenvolvidos.
Conforme Xie et al. (2015), atomização eletrodinâmica, também chamada
EHDA (do termo em inglês electrohydrodynamic atomisation) ou ainda electrospra-

31
ying, é uma técnica para a geração de gotas de pequenas dimensões com estreita
distribuição de tamanhos a partir de um líquido sob a influência de força elétrica, i.e.,
um jato de líquido é fragmentado em pequenas gotas pela ação de um campo elétri-
co quando a tensão elétrica aplicada superar a tensão superficial do líquido. Nor-
malmente o soluto na gota solidifica-se e forma micro- ou nanopartículas após a
evaporação do solvente, e frequentemente são utilizados solventes orgânicos devido
à menor tensão superficial em comparação à água (Xie et al., 2015). Partículas fo-
ram produzidas de polímeros naturais e sintéticos para diversas aplicações e ainda
de blendas de polímeros sintéticos com polímeros naturais, as quais fornecem uma
combinação de propriedades diferentes, e.g., melhores propriedades mecânicas e
biocompatibilidade elevada. Com respeito a sistemas de liberação de fármacos,
EHDA pode ser útil para encapsular moléculas hidrofílicas e hidrofóbicas em partícu-
las poliméricas. Exemplos de materiais empregados nesta aplicação são PLGA, etil-
celulose, alginato, PMAMMA, PLA, PVP e PCPAEEP – um polímero anfifílico biode-
gradável (Xie et al., 2015).
Electrospinning é um método desenvolvido para produzir fibras de diâmetros
micro- e nanométrico pela aplicação de um campo elétrico de alta tensão em uma
solução polimérica ou um polímero fundido. As fibras resultantes exibem morfologia
lisa e controlada e podem ser aplicadas em diversos campos, e.g. roupas de prote-
ção militares, suportes para engenharia de tecidos, nanossensores e sistemas de
liberação de fármacos (Hu et al., 2014). De acordo com Sill & von Recum (2008),
electrospinning e EHDA são processos muito similares, mas alguns parâmetros de-
vem ser modificados para a obtenção de fibras em vez de gotas. As fibras produzi-
das por este processo para aplicação em sistemas de liberação de fármacos são
caracterizadas por capacidade de carregamento e eficiência de encapsulamento
elevadas, possibilidade de carregamento de diferentes fármacos e potencial uso pa-
ra quimioterapia local pós-operatória (Hu et al., 2014). Vários fármacos podem ser
utilizados, e.g. antibióticos, drogas para câncer, proteínas e DNA (Sill & von Recum,
2008). Conforme Hu et al. (2014) diversos polímeros tanto naturais quanto sintéticos
bem como suas blendas são utilizados em electrospinning, como polissacarídeos
(celulose, quitosana, amido), proteínas (colágeno, gelatina etc.), PLA, PCL, PEO,
PLGA e outros copolímeros.
Wu et al. (2015) produziram um material para aplicação como sistema de li-
beração de fármacos constituído por camadas alternadas de redes de nanofibra de

32
PCL obtidas por electrospinning e hidrogel de alginato carregado com ATP. Como
resultado, os pesquisadores concluíram que a liberação inicial de fármaco das ca-
madas externas de hidrogel se dá de maneira consideravelmente mais rápida do
que a das camadas internas. Dessa forma, quanto maior o número de camadas,
maior é a duração da liberação da droga, atingindo um tempo máximo de 21 dias
para uma amostra de sete camadas de hidrogel (Wu et al., 2015). Em outro trabalho,
pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT, EUA) desenvolveram
um novo hidrogel carregado com fármaco, similar a um elastômero, para aplicação
como recobrimento de ferimentos, contendo condutores extensíveis e componentes
eletrônicos rígidos (Lin et al., 2015). Este dispositivo é biocompatível e altamente
extensível e possui propriedades mecânicas adequadas que permitem sua aplica-
ção. Cada reservatório de fármaco é conectado a um sensor de temperatura, e a
liberação da substância ocorre localmente quando a temperatura naquele local atin-
ge um dado valor previamente definido (Lin et al., 2015). Lâmpadas LED conectadas
a cada sensor são ativadas quando o fármaco está se esgotando.
Devido ao fato de nanogéis combinarem características de nanopartículas e
de hidrogéis, estes produtos têm alto potencial para aplicações biomédicas, em es-
pecial como sistemas sítio-específicos e/ou tempo-controlados de liberação para
fármacos, biomacromoléculas ou outros agentes bioativos (Zhang et al., 2016). Na-
nogéis podem ser produzidos de duas maneiras diferentes: quimicamente ou fisica-
mente. Da mesma forma como hidrogéis comuns, nanogéis quimicamente sintetiza-
dos possuem maior estabilidade mecânica, são mais flexíveis e já apresentam uma
série de utilizações, enquanto que nanogéis produzidos fisicamente exibem proprie-
dades mecânicas reduzidas mas são importantes devido à capacidade de serem
carregados tanto de substâncias hidrofílicas quanto hidrofóbicas (Zhang et al.,
2016). Pesquisas demonstraram o comportamento responsivo de nanogéis a diver-
sos estímulos externos, e.g. pH e temperatura, e novos estudos focam na utilização
de proteínas e substâncias que combatem o câncer. De acordo com Zhang et al.
(2016), materiais para nanogéis incluem polissacarídeos modificados com colesterol,
PEG modificado com polissacarídeos, polianfóteros de PVI e ácido acrílico, e outros
polímeros anfifílicos.

33
3.3. Poli(álcool vinílico)

Poli(álcool vinílico), também conhecido por poli(vinil álcool) ou PVA (oriundos


do termo em inglês poly(vinyl alcohol)), é um polímero que vem sendo extensiva-
mente estudado devido à sua grande biocompatibilidade, e seus hidrogéis têm sido
utilizados para uma série de aplicações biomédicas, e.g. sistemas de liberação de
fármacos, lentes de contato e órgãos artificiais (Hassan & Peppas, 2000; Kamoun et
al., 2015). A estrutura química do PVA (Figura 7) propicia cristalização (Brydson,
1999, p. 390) e permite tanto a reticulação física quanto o carregamento de fárma-
cos ou outras substâncias (Hassan & Peppas, 2000, p. 37).

OH
n
Figura 7. Estrutura química do poli(álcool vinílico).

3.3.1. Natureza química e física do PVA

Este polímero é normalmente preparado a partir de um poli(vinil éster), já


que o álcool vinílico (etenol) não existe na natureza em estado livre. O PVA é obtido
por uma reação de alcoólise, frequentemente usando-se PVAc, na qual o grupo late-
ral da cadeia polimérica é removido (Figura 8) (Brydson, 1999, p. 389; Hassan &
Peppas, 2000, p. 38). Embora o nome correto dessa reação seja alcoólise, com
frequência refere-se a ela como “hidrólise”. Como resultado, diz-se que o produto
final apresenta um “grau de hidrólise”, que seria a porcentagem de conversão de
acetato em álcool (Brydson, 1999, pp. 389-390). Tanto metanol como etanol podem
ser utilizados nesta reação, mas a miscibilidade entre o metanol e o PVAc a
temperatura ambiente faz com que este seja o reagente preferido, de acordo com
Brydson (1999, p. 390). Além disso, o produto final apresenta uma melhor coloração
quando o metanol é utilizado. Concentrações comuns de PVAc na solução alcoólica
estão entre 10% e 20%.

34
O
n
O O+nR OH +n R
OH O
n
Figura 8. Reação de alcoólise para obtenção do PVA a partir do poli(acetato de vinila).

Catalisadores alcalinos como metóxido de sódio ou soda cáustica são fre-


quentemente usados para acelerar a reação bom como para reduzir o conteúdo re-
sidual de acetato; isso permite controlar o grau de alcoólise (Brydson, 1999, p. 390).
O tempo de reação depende da temperatura: a 60 °C, o processo pode levar menos
de uma hora, enquanto que a 20 °C pode durar até oito horas. Conforme Brydson
(1999, p. 390), a alcoólise causa a quebra de ramificações da cadeia principal que
surgiram por ligações do grupo acetato, assim fazendo com que o peso molecular do
PVA seja menor que o do polímero original.
O material resultante dessa reação é um polímero caracterizado por um gru-
po hidroxila ligado à cadeia carbônica, o PVA. Enquanto o PVAc é um polímero atá-
tico e amorfo, o PVA, apesar de ser também atático, exibe certa cristalinidade, apre-
sentando a mesma rede cristalina que o PE. A cristalização ocorre porque os grupos
hidroxila são pequenos o suficiente para se manterem dentro da rede sem provocar
a ruptura desta e promovem fortes ligações de hidrogênio entre si (Brydson, 1999, p.
390).
De acordo com Brydson (1999), além da cristalinidade, a presença de hidro-
xilas influencia uma série de propriedades e características do PVA. Duas conse-
quências de extrema importância resultantes disso são a hidrofilicidade e a solubili-
dade em água do polímero. A solubilidade em água depende do grau de “hidrólise” e
da temperatura: um grau de “hidrólise” entre 87% e 89% faz com que o polímero se-
ja prontamente solúvel em água fria, enquanto que graus de “hidrólise” maiores re-
sultam em uma redução da facilidade de solubilização, requerendo, portanto, maio-
res temperaturas para que seja possível dissolver o PVA. Além disso, devido à
grande quantidade de ligações de hidrogênio, grades de PVA completamente “hidro-
lisados” somente se dissolvem em temperaturas superiores a 85 °C (Brydson, 1999,
p. 390).

35
Outro efeito causado pelas ligações de hidrogênio é a degradação térmica
de PVA não-plastificado em temperatura menor que sua temperatura de fluxo, o que
dificulta seu processamento. As propriedades mecânicas também são influenciadas
pela presença dos grupos hidroxila. Segundo Brydson (1999, p. 390), o PVA possui
alta resistência mecânica e é considerado tenaz. Algumas propriedades do PVA são
apresentadas na Tabela 2.

Tabela 2. Propriedades selecionadas do PVA. (Sundararajan, 1999, pp. 890-909)


Propriedades do PVA
Temperatura de transição vítrea, Tg [K] ([°C]) 358 (85)
Densidade [g∙cm ³]-
1,232 – 1,329
Cristalinidade (isotático) [%] 18 – 24
Cristalinidade (sindiotático) [%] 25 – 35
Cristalinidade (atático) [%] 43 – 60
Densidade do cristal [g∙cm ³]
-
1,35
511 – 538
Temperatura de fusão [K] ([°C])
(238 – 265)
Parâmetro de solubilidade [MPa1/2] 25,78
Módulo de Young [GPa] 37 – 45
Resistência à tração (98-99% hidrolisado) [MPa] 67 – 110
Resistência à tração (88-89% hidrolisado) [MPa] 27 – 79
Resistência à tração (extrudado, 25 °C) [MPa] 36
Elongação de ruptura (extrudado, 25 °C) [%] 225
Elongação de ruptura (prensado, 25 °C) [%] 445

O PVA exibe transições de segunda ordem a 85 °C e a 143 °C e uma transi-


ção de primeira ordem em temperaturas superiores a 210 °C (Nugent &
Higginbotham, 2007). O fenômeno a 85 °C é uma relaxação do tipo α, i.e., é a tran-
sição vítrea do polímero. Já a transição a 143 °C é do tipo β e está relacionada à
relaxação dos domínios cristalinos do PVA. A transição de primeira ordem é a fusão
dos cristalitos, ocorrendo entre 220 e 265 °C (Nugent & Higginbotham, 2007;
Sundararajan, 1999, pp. 890-909). Entretanto, as propriedades do PVA de um modo
geral dependem fortemente tanto do grau de “hidrólise” quanto da quantidade de
água no material, visto que esta atua como um agente plastificante, causando uma
redução na resistência à tração mas aumentando a elongação de ruptura. Na Figura
9, é mostrado esse efeito por meio da comparação da resistência à tração do PVA
com diferentes graus de “hidrólise” em duas condições diferentes, uma em atmosfe-

36
ra com 50% de umidade relativa e outra em atmosfera de H 2SO4 (Brydson, 1999, pp.
390-391).

25
RESISTÊNCIA À TRAÇÃO [10³ lb∙in-²]

20

15

10

5
40 50 60 70 80 90 100
GRAU DE HIDRÓLISE [%]

Figura 9. Resistência à tração de PVA seco em H2SO4 (curva azul) e condicionado a 50% R.H. (curva
laranja) em função do grau de hidrólise. (Adaptado de Brydson, 1999, p. 391)

A resistência química do PVA é fortemente influenciada pela polaridade das


cadeias (Brydson, 1999, pp. 390-391). Isso faz com que o material seja resistente a
hidrocarbonetos e a álcoois puros, embora seja passível de dissolução em soluções
aquosas de baixo teor alcoólico. Alguns solventes orgânicos são capazes de dissol-
ver PVA em temperatura ambiente, como dietilenotriamina e trietilenotetramina. Por
outro lado, o grupo hidroxila é altamente reativo, permitindo diversas modificações
químicas no material (Brydson, 1999, p. 390).

3.3.2. Aplicações

O PVA possui uma gama de aplicações na indústria, não sendo restrito so-
mente a aplicações biomédicas. Usos variam desde embalagens solúveis em água
para sais, inseticidas e desinfetantes a filmes tubulares soprados, similares aos de
PE (Brydson, 1999, p. 391). Peças extrudadas e injetadas de PVA são interessantes
para a indústria por sua resistência a óleos, sua tenacidade e sua flexibilidade. O

37
material também é usado como coloide protetor em sistemas de polimerização em
emulsão e como ligante e espessante para agentes emulsificantes. Conforme Bryd-
son (1999, p. 391), a produção de fibras de PVA já foi apresentada na literatura cien-
tífica. Aplicações gerais do PVA incluem adesivos, ligantes para processamento ce-
râmico, colagem e revestimento de papel, colagem de tecidos, base para cosméticos
e líquido de resfriamento para têmpera de aços.

3.3.3. Hidrogéis de PVA

Conforme previamente comentado, o PVA vem sendo empregado na forma


de hidrogel para várias aplicações, especialmente como sistemas de liberação de
fármacos. A utilização de PVA apresenta diversas vantagens, como biocompatibili-
dade, propriedades mecânicas adequadas, possibilidade de carregamento de subs-
tâncias, alta hidrofilicidade e possibilidade de reticulação física (Hassan & Peppas,
2000, p. 39; Kamoun et al., 2015). Blendas e compósitos à base de PVA para
aplicação como hidrogel já foram estudados (Lyons et al., 2009; McGann et al.,
2009) assim como o uso de outros solventes ou soluções além de água destilada ou
deionizada para a síntese dos hidrogéis (Jiang et al., 2011; Nugent & Higginbotham,
2007). Além de sistemas de liberação de fármacos, hidrogéis de PVA também são
aplicáveis como suporte para crescimento de células (Gupta et al., 2011), substituto
paliativo de tecidos em situações pós-operatórias (Jiang et al., 2011), recobrimento
de ferimentos (Kamoun et al., 2015), sensores de pH (Quintero et al., 2010), e lentes
de contato (Hassan & Peppas, 2000), entre outras aplicações.

3.3.3.1. Dissolução das cadeias de PVA

Devido ao fato de o PVA ser um polímero solúvel em água, seus hidrogéis


são normalmente preparados a partir de soluções aquosas do polímero. O
mecanismo de dissolução de um polímero consiste no inchamento do material, na
separação das cadeias e na difusão das mesmas em meio ao solvente (Lucas et al.,
2001, pp. 35-56). Esses três processos dependem da rigidez das cadeias – aqual,
por sua vez, depende da temperatura de transição vítrea e, portanto, da estrutura
química do mero, entre outros fatores (Cowie & Arrighi, 2008) – e da cristalinidade
do polímero. Para dissolver o material, é necessário que o solvente e as cadeias

38
interajam fortemente. “Em um bom solvente, (...) as interações líquido-polímero
fazem expandir a ‘bobina’ de polímero do seu estado não-perturbado
proporcionalmente à extensao dessas interações” (Cowie & Arrighi, 2008, p. 197,
tradução nossa). De acordo com. Lucas et al. (2001, pp. 35-56), em temperatura
ambiente, a energia de interação entre os segmentos das cadeias e as moléculas de
solvente é, às vezes, insuficiente para separar completamente as cadeias.
No caso do PVA, cuja Tg é aproximadamente 80 °C, as cadeias são rígidas,
não se movendo como segmentos isolados. A rigidez das cadeias se deve às
interações dos grupos polares ligados à cadeia carbônica entre eles mesmos; isso
faz com que esses polímeros inchem com facilidade na presença de solventes
polares, mas não com que se dissolvam completamente a temperatura ambiente, de
modo que a separação das mesmas requeira maiores quantidades de energia
(Lucas et al., 2001, pp. 35-56). Além disso, para a dissolução completa de um
polímero semi-cristalino, como o PVA, é necessário desmanchar os domínios
cristalinos, o que dificilmente ocorre em solventes de polaridade próxima ou mesmo
igual à do polímero. As interações polímero-solvente podem ser intensificadas pelo
aumento de temperatura, o que justifica o preparo de soluções aquosas de PVA a
temperaturas elevadas (Lucas et al., 2001, pp. 35-56).

3.3.3.2. Reticulação de hidrogéis de PVA

A etapa de reticulação ou crosslinking é crítica a fim de formar a estrutura


tridimensional do hidrogel. Blendas de PVA/PAA são capazes de promover
crosslinking químico em condições específicas de síntese por meio da reação de
esterificação entre as hidroxilas do PVA e os grupos ácidos do PAA (Arndt et al.,
1999; Quintero et al., 2010). Entretanto, essa reação ocorre em baixa extensão. Por
meio da modificação das condições de reação, pode-se produzir blendas de
PVA/PAA com diferentes densidades de reticulação e graus máximos de inchamento
variados (Arndt et al., 1999). Além disso, a reticulação química do PVA pode ser
atingida usando-se uma série de diferentes moléculas reativas bi- ou polifuncionais
(Kamoun et al., 2015) e também por meio da aplicação de um feixe de elétrons ou
radiação-γ (Hassan & Peppas, 2000, p. 39).
O crosslinking físico do PVA é frequentemente atingido por meio de ciclos de
congelamento-descongelamento (processo freeze-thaw) do material (Gupta et al.,

39
2011; Gutiérrez et al., 2007; Hassan & Peppas, 2000; Jiang et al., 2011; Kamoun et
al., 2015; McGann et al., 2009; Nugent & Higginbotham, 2007). Processos
criogênicos têm sido aplicados devido à biocompatibilidade resultante, caracterizada
pela estrutura altamente porosa obtida sem a necessidade do emprego de
moléculas potencialmente tóxicas como agente reticulante (Akhtar et al., 2015; Gu-
tiérrez et al., 2007). Neste caso, a reticulação do PVA ocorre por meio de
cristalização, e uma rede porosa é criada durante o descongelamento, visto que o
método freeze-thaw consiste em congelar e descongelar uma solução aquosa de
PVA repetidas vezes (Akhtar et al., 2015; Hassan & Peppas, 2000, pp. 45-57; Lima
et al., 2016).
De acordo com Gutiérrez et al. (2007), a cristalização das moléculas de água
leva à formação de domínios de gelo, causando a segregação da maior parte dos
solutos dispersos na solução. Isso ocasiona a macroporosidade, a qual é resultante
dos vazios gerados pelo derretimento do gelo e pela subsequente remoção de água
(Gutiérrez et al., 2007) (Figura 10). A cristalização do PVA se dá pelo fato de os cris-
tais de gelo induzirem as cadeias a cristalizarem por ligações de hidrogênio, i.e., as
cadeias se utilizam dos cristais de gelo como agentes de nucleação a fim de cristali-
zarem.

Figura 10. Representação esquemática da produção de criogéis pelo processo de congelamento-


descongelamento e formação da macroporosidade. (Adaptado de Lima et al., 2016)

Segundo Gutiérrez et al. (2007), embora o congelamento de uma solução de


PVA em nitrogênio líquido – a -196 °C – ocorra a uma temperatura significativamen-
te menor do que a Tg da água – aproximadamente -137 °C –, não ocorre a formação
de gelo amorfo em vez de gelo cristalino. Isso se deve ao fato de a Tg do gelo não
ser uma temperatura de transição de estado de equilíbrio, de modo que taxas próxi-
mas a -106 °C∙s-1 são necessárias para a obtenção da fase amorfa do gelo. Além
disso, a formação de gelo é influenciada pela presença de impurezas na água, e o

40
PVA pode agir como um retardante de cristalização, dependendo do teor de políme-
ro na água, do peso molecular e do grau de hidrólise (Gutiérrez et al., 2007).
Hassan & Peppas (2000, pp. 45-57) afirmaram que, como resultado desse
processo, o número e a estabilidade dos cristalitos aumentam com o número de ci-
clos de congelamento-descongelamento, e os hidrogéis assim produzidos apresen-
tam propriedades mecânicas superiores em relação aos quimicamente reticulados,
já que a carga aplicada pode ser melhor distribuída entre os cristalitos. Gupta et al.
(2011) estudaram o desenvolvimento de suportes para crescimento de células e
concluíram que, quanto maior o número de ciclos, superiores são as propriedades
mecânicas, a cristalinidade e a densidade de reticulação, e portando melhor a ade-
são das células à rede de PVA.

3.3.3.3. Blendas e compósitos de hidrogéis de PVA

Diversas publicações relatam a síntese de hidrogéis para sistemas de


liberação de fármacos e outras aplicações biomédicas feitos de blendas de PVA e
PAA (Arndt et al., 1999; Hassan & Peppas, 2000; Lima et al., 2015; Lima et al., 2016;
McGann et al., 2009; Nugent & Higginbotham, 2007; Quintero et al., 2010) bem
como a incorporação de HAp nesses sistemas (Lima et al., 2015; Wu et al., 2008).
Como o PVA puro não possui sensitividade a variações de pH, o PAA é
frequentemente adicionado à solução de PVA antes da etapa de reticulação a fim de
se produzir um hidrogel funcional (Nugent & Higginbotham, 2007). Entretanto,
frequentemente estas blendas exibem uma bioatividade prejudicada em comparação
aos hidrogéis de PVA puro, de modo que partículas cerâmicas bioativas como HAp
são adicionadas para superar essa adversidade (Lima et al., 2015; Volkmer et al.,
2014).
Hidrogéis com sensitividade a mudanças de pH, também chamados de
hidrogéis pH-sensitivos, têm sido utilizados na área de sistemas de liberação de
fármacos (Lima et al., 2015). Estes materiais têm um grupo ácido ou básico ligado à
cadeia principal que pode aceitar ou liberar prótons – dependendo da natureza do
grupo – em resposta a variações do pH do ambiente no qual o sistema está inserido.
O grupo funcional do PAA é o ácido carboxílico (Figura 11), permitindo a liberação
controlada de prótons conforme muda o pH do meio (Lima et al., 2015; Lima et al.,

41
2016). Dessa forma, a incorporação de materiais pH-sensitivos a hidrogéis de PVA
pode ser utilizada para controlar a liberação do fármaco.

n
O OH
Figura 11. Estrutura química do poli(ácido acrílico).

O PAA confere boas propriedades bioadesivas, as quais são fundamentais


para adesivos transdérmicos e recobrimento de ferimentos para o tratamento de pa-
tologias dérmicas, no entanto (Lima et al., 2016; Nugent & Higginbotham, 2007). A
adição de PAA a hidrogéis de PVA pode tanto favorecer quanto prejudicar as propri-
edades mecânicas finais. Isso depende de uma série de fatores, e.g. número de ci-
clos de congelamento-descongelamento, peso molecular dos polímeros envolvidos e
condições de síntese (Arndt et al., 1999; Lima et al., 2015; Lima et al., 2016;
McGann et al., 2009). Em relação às propriedades térmicas, o PAA, que apresenta
transição vítrea entre 103 e 126 °C (Orwoll & Chong, 1999, pp. 252-253), eleva a Tg
do PVA devido a ligações de hidrogênio entre o grupo hidroxila do PVA e o grupo
ácido carboxílico do PAA que agem como pontos de crosslinking físico causando um
aumento da rigidez das cadeias de PVA na fase amorfa (McGann et al., 2009).
Outros efeitos relatados na literatura promovidos pela incorporação de PAA
ao PVA são mudanças na razão de inchamento e na taxa de transporte de solução
(Hassan & Peppas, 2000, pp. 55-57). Com o aumento do teor de PAA, a ionização
dos grupos ácidos se eleva, levando a razões de inchamento mais altas e maiores
tamanhos de rede de equilíbrio. De acordo com Hassan & Peppas (2000), o
transporte de solutos através de membranas de PVA/PAA produzidas pelo método
freeze-thaw é mais baixo do que através de membranas quimicamente reticuladas
da mesma blenda. Portanto, seria possível otimizar a taxa de liberação de fármacos
por meio da modificação controlada do grau de inchamento como uma função do pH
e/ou da temperatura (Hassan & Peppas, 2000, pp. 55-57).

42
Criogéis vêm sendo aditivados com partículas biocerâmicas devido às
maiores biocompatibilidade, osteocondutividade e bioatividade conferidas, e também
por promover a criação de uma matriz calcificada que permite que tecidos se
regenerem mais facilmente (Lima et al., 2015; Volkmer et al., 2014). Segundo
Bareiro & Santos (2014), biomateriais cerâmicos, também chamados de bio-
cerâmicas, apresentam bom desempenho biologicamente, promovendo a formação
de novas regiões ósseas por meio de auto-degradação no organismo para produzir
uma estrutura porosa, melhorando portanto a adesão e o crescimento de tecidos.
A hidroxiapatita (HAp), cuja composição química é Ca 10(PO4)6(OH)2 (Figura
12), é o mineral mais utilizado para aplicações biomédicas devido à similaridade de
seus cristais com a estrutura cristalina do constituinte primário dos ossos (Bareiro &
Santos, 2014; Yin & Ellis, 2009). Assim, este material vem tendo um papel
importante na produção de ossos artificiais e tecidos ósseos. A HAp apresenta
biocompatibilidade excelente, é altamente porosa, pode ligar-se ao tecido ósseo
natural e possui propriedade de troca de íons relevante (Bareiro & Santos, 2014; Yin
& Ellis, 2009).

Figura 12. (a) Estrutura química da hidroxiapatita vista do topo (ao longo do eixo c); (b) célula unitária
da hidroxiapatita (ao longo dos eixos a e b). (Adaptado de Yin & Ellis, 2009)

Lima et al. (2015) relataram a síntese e a caracterização de um material


compósito produzido com um hidrogel de PVA/PAA blendados carregado com nano-

43
HAp para aplicações como osteocondutor e transportador de fármaco. A HAp
reduziu a carga-limite de compressão devido a uma redução dos pontos de
crosslinking, porém, para o PAA de alto peso molecular, os maiores valores de
módulo de armazenamento foram obtidos. A taxa de inchamento não foi
significativamente afetada pela incorporação de HAp, embora a massa final de água
tenha aumentado. Além disso, as amostras contendo HAp exibiram melhores
propriedades bioativas (Lima et al., 2015).

44
4. MATERIAIS E MÉTODOS

4.1. Materiais utilizados

- PVA, grade Mowiol 18-88, Mw de 130.000 g∙mol-1 e grau de hidrólise maior


que 99% (Sigma Aldrich Chemistry Co., EUA);
- PAA, Mv de 3.000.000 g∙mol -1 e aproximadamente 0,1% reticulado (Sigma
Aldrich Chemistry Co., EUA);
- CFX, pureza mínima de 98,0% (Sigma Aldrich Chemistry Co., CHN);
- HAp, pureza mínima de 90,0% e tamanho de partícula menor que 200 nm
(Sigma Aldrich Chemistry Co, ALE).

4.2. Preparação e formulações dos hidrogéis

Foram desenvolvidas cinco diferentes formulações de hidrogel dissolvendo-


se PVA em água deionizada em uma chapa de aquecimento com agitação magnéti-
ca a 85±5 °C e 500±10 rpm para preparar as soluções com concentração de 5±0,1%
de PVA em massa por volume. Após a completa dissolução do polímero, a solução
foi deixada resfriar até atingir a temperatura ambiente, sob agitação constante. Em
seguida, a CFX e o PAA foram adicionados. Após a completa dissolução do PAA, a
temperatura foi aumentada para 50±5 °C, sendo em seguida adicionada a HAp. A
solução foi então mantida por vinte e quatro horas nessa temperatura a 600±10 rpm.
As quantidades de CFX, PAA e HAp nos hidrogéis são mostradas na Tabela 3.

Tabela 3. Soluções de hidrogel preparadas.


Quantidades [%w/w]
Formulação
HAp CFX PAA
PVA (controle) - - -
PVA-H2 5,0 - -
3
PVA-A-H 5,0 - 20,0
PVA-C-H4 5,0 7,0 -
PVA-A-C-H 5,0 7,0 2,0

2
H representa a presença de HAp na formulação.
3
A representa a presença de PAA na formulação.
4
C representa a presença de CFX na formulação.

45
O hidrogel preparado somente com PVA foi utilizado para comparação da
efetividade dos dois métodos de congelamento considerados para o estudo, servin-
do como amostra de controle. Uma vez definido o método de congelamento a ser
empregado, as demais amostras foram então produzidas, contendo PAA, CFX e
HAp.

4.3. Produção das miniesferas

Inicialmente, a solução de PVA puro foi gotejada com uma micropipeta de


100 μl em nitrogênio líquido (-196 °C) e em acetato de etila (AcOEt) resfriado (-80±2
°C) para comparar o efeito de cada método de congelamento durante o desconge-
lamento do material (Figura 13). As demais formulações foram gotejadas em nitro-
gênio líquido da mesma forma, resultando no congelamento instantâneo das minies-
feras em geometria esférica, como mostrado na Figura 14. As miniesferas foram
mantidas em nitrogênio líquido por cinco minutos para garantir o total congelamento
e a uniformidade de temperatura. O nitrogênio líquido foi então removido por filtração
simples, e as miniesferas foram mantidas em congelador a -12±2 °C em um recipi-
ente fechado.

Figura 13. Produção das miniesferas de hidrogel a partir da solução de PVA para avaliação do efeito
do método de congelamento.

46
Figura 14. Produção das miniesferas de hidrogel em nitrogênio líquido com diferentes formulações.

4.4. Ciclos de congelamento-descongelamento

Primeiramente, as miniesferas produzidas com PVA puro e congeladas em


nitrogênio líquido e em AcOEt foram submetidas a diferentes processos de conge-
lamento-descongelamento. A amostra produzida em AcOEt resfriado foi submetida a
um total de sete ciclos de congelamento-descongelamento, considerando a etapa
anterior como sendo o primeiro congelamento. Os três primeiros descongelamentos
ocorreram em refrigerador a 3±2 °C por vinte minutos, e os últimos quatro foram rea-
lizados em temperatura ambiente pelo mesmo período, sendo as esferas recongela-
das a -80±2 °C após cada descongelamento. A amostra foi mantida em AcOEt du-
rante todo o processo. Algumas miniesferas foram coletadas do meio após o terceiro
descongelamento para inspeção visual e observação por MEV. A amostra produzida
em nitrogênio líquido foi submetida às mesmas condições de descongelamento, po-
rém sendo recongelada também em nitrogênio líquido, e algumas miniesferas tam-
bém foram coletadas para inspeção visual e observação por MEV após o terceiro
ciclo. As miniesferas contendo adições de PAA, CFX e HAp foram submetidas ao
segundo método de congelamento-descongelamento somente. Para prevenir que as
amostras descongelassem imediatamente após a remoção do nitrogênio líquido, os
recipientes de armazenamento também foram mantidos a -196 °C.

4.5. Caracterização das amostras

47
A caracterização das miniesferas produzidas objetivou a avaliação das pro-
priedades térmicas, químicas e físicas obtidas. As amostras foram secas por doze
horas em uma mufla a vácuo a 30,0±0,2 °C e 200 mbar.

4.5.1. Calorimetria diferencial de varredura

A técnica de calorimetria diferencial de varredura (DSC) foi empregada para


investigar a influência de PAA, CFX e HAp bem como do processo de congelamen-
to-descongelamento nas temperaturas de transição vítrea e de fusão do PVA no seu
estado final após a secagem. Nesta análise, as amostras de hidrogel não foram
submetidas a uma etapa inicial de aquecimento até a fusão do polímero – o que re-
moveria o histórico térmico das amostras – para permitir o estudo das propriedades
térmicas obtidas utilizando-se os ciclos de congelamento-descongelamento no pro-
cesso de produção das microesferas. Amostras puras de PVA, PAA, CFX e HAp
também foram avaliadas, sendo que nestes casos foi aplicado o aquecimento inicial.
A cristalinidade %XC dos hidrogéis foi obtida por meio da seguinte equação:

∆𝐻𝑚
%𝑋𝐶 = × 100
𝑤 × ∆𝐻𝑓°
(Equação 5)

onde ∆Hm é a entalpia de fusão no ponto de fusão Tm, e ∆H°m é a entalpia teórica de
fusão de uma amostra de PVA totalmente cristalina no ponto de fusão T°m, equiva-
lente a 138,60 J∙g-1 (Sundararajan, 1999), e w é a fração mássica de PVA na amos-
tra (Amash & Zugenmaier, 1998; Batista et al., 2016).
Todas amostras apresentaram massa entre 9 e 11 mg e foram encapsuladas
em panelas de alumínio. Os ensaios foram realizados em um equipamento TA Ins-
truments Q2000, em atmosfera de nitrogênio a 20 mmHg. Para o PVA puro, foi apli-
cado um aquecimento até 250 °C a 10°C∙min-1, isoterma a 250°C por dois minutos,
resfriamento até 20 °C a -10°C∙min-1 e aquecimento até 275 °C a 10°C∙min -1. Para o
PAA, foi aplicado um aquecimento até 185 °C a 10°C∙min-1, isoterma a 185 °C por
dois minutos, resfriamento até 20 °C a -10°C∙min-1 e aquecimento até 275 °C a 10
°C∙min-1. Para a CFX e a HAp, empregou-se um estágio de aquecimento até 300 °C
a 10 °C∙min-1, isoterma a 280 °C por dois minutos, resfriamento até 20 °C a -10

48
°C∙min-1, e novo aquecimento até 300 °C a 10°C∙min-1. Para os hidrogéis, foi aplica-
da uma única etapa de aquecimento até 275 °C a 10°C∙min-1, da qual foram obtidas
as propriedades térmicas dos mesmos.

4.5.2. Microscopia eletrônica e espectroscopia de dispersão em energia

A morfologia externa e interna (sessão transversal) das microesferas foi ob-


servada em um microscópio eletrônico de varredura Mira (TESCAN Performance in
Nanospace). Para a investigação da sessão transversal, um pequeno corte foi feito
na microesfera e então cada hemisfério foi tracionado com o auxílio de uma pinça,
rompendo a microesfera por meio de tração e cisalhamento, o que facilita a obser-
vação da microestrutura. Previamente, as superfícies de análise foram recobertas
com ouro via sputtering em um equipamento Baltec SCD 005 por 110 s em vácuo de
0,1 mbar, recebendo um revestimento de 110 nm. A composição química das micro-
esferas foi estimada na sessão transversal por espectroscopia de raios-X por disper-
são em energia (EDS) em um detector Oxford Instruments associado ao microscó-
pio.

4.5.3. Liberação controlada de fármaco e ensaio de inchamento

A cinética de liberação de fármaco dos hidrogéis contendo CFX foi avaliada


por meio do modelo de liberação de fármaco em cesta (basket drug release model,
em inglês). As miniesferas secas (50 mg) foram colocadas em cestas metálicas em
recipientes contendo 450 ml de água deionizada em banho-maria a 37±1 °C com
rotação de 50 rpm. Alíquotas de 4 ml foram retiradas em diferentes intervalos e tive-
ram sua absorbância medida por espectrometria UV-VIS em um espectrômetro Per-
kin Elmer lamba 2, comprimento de onda de 322,8 nm. O percentual de fármaco li-
berado %RD foi determinado pela seguinte equação:

𝐴 − 𝐴0
%𝑅𝐷 = × 100
𝐴
(Equação 6)

49
onde A é a absorbância da alíquota retirada e A0 é a absorbância da água deioniza-
da no tempo zero. Esta equação foi desenvolvida em analogia à (Equação 3) –
Quantidade de Água de Equilíbrio. Na Figura 15, é mostrado o equipamento utilizado
neste ensaio. O ensaio teve duração de 48 h.

Figura 15. (a) Visão geral do equipamento utilizado para os ensaios de cinética de liberação de fár-
maco e taxa de inchamento. (b) Detalhe das cestas metálicas em que foram depositadas as
miniesferas para a realização do ensaio.

Em paralelo ao ensaio de liberação controlada de fármaco, foi realizado o


ensaio de inchamento, nas mesmas condições. A diferentes intervalos, as miniesfe-
ras eram removidas da cesta metálica, secas cuidadosamente em papel-filtro, e pe-
sadas em balança analítica. A quantidade de água absorvida %AW foi calculada pe-
la seguinte equação:

𝑚 − 𝑚0
%𝐴𝑊 = × 100
𝑚0
(Equação 7)

onde m é a massa de hidrogel hidratado medida e m0 é a massa inicial de hidrogel


(Lima et al., 2016). O ensaio teve duração de 48 h.

50
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. Inspeção visual

Primeiramente, as amostras produzidas em AcOEt exibiram tendência a


manterem a forma esférica pretendida. À medida que a temperatura do AcOEt au-
mentava (o recipiente contendo o líquido fora removido do freezer a -80 °C para
permitir o gotejamento da solução de PVA no meio), as miniesferas demoravam
mais para congelar. Em um segundo momento, apesar de as esferas se manterem
separadas até então, à medida que a temperatura do meio aumentava durante as
etapas de descongelamento, essas miniesferas apresentaram uma tendência a for-
marem aglomerados, possivelmente devido a interações intermoleculares entre as
superfícies, e em alguns casos perdendo a forma esférica. Após o terceiro descon-
gelamento, algumas miniesferas não mantiveram a forma pretendida, indicando que
o processo de congelamento-descongelamento não era indicado para produzir mini-
esferas de hidrogel de PVA. As amostras produzidas em nitrogênio líquido tiveram
congelamentos mais rápidos uma vez que a temperatura do meio era menor – -196
°C em vez de -80 °C –, e também mantiveram a forma esférica pretendida, em al-
guns casos formando pequenos aglomerados, significativamente menores que aque-
les formados em AcOEt. Durante as etapas de descongelamento, também notou-se
uma tendência das miniesferas em se aglomerarem. Após o terceiro descongela-
mento, as miniesferas eram completamente capazes de manter a forma esférica,
demonstrando que este é um método mais adequado para a produção dos hidrogéis
na geometria pretendida. Além disso, como o gelo exibe diferentes estruturas crista-
linas a -196 °C e a -80 °C, o que influencia a cristalinidade do PVA também.
Como o método de congelamento-descongelamento em nitrogênio líquido se
mostrou mais adequado para a produção de miniesferas de hidrogel de PVA, este
método foi escolhido para as formulações contendo PAA, CFX e HAp. Estas amos-
tras apresentaram essencialmente as mesmas características que as miniesferas de
PVA da amostra-controle. Na Figura 16, são mostradas as miniesferas imediatamen-
te após o primeiro congelamento em nitrogênio líquido, durante uma etapa de des-
congelamento em temperatura ambiente e após a secagem a vácuo em mufla. Per-
cebeu-se a aglomeração de algumas miniesferas em pequenos grupos aproxima-
damente lineares, em média com cinco unidades. As miniesferas mantiveram a for-

51
ma esférica durante os descongelamentos em temperatura ambiente bem como
após a secagem. Isso comprovou a efetividade do método em nitrogênio líquido.

Figura 16. (a) Miniesferas imediatamente após o primeiro congelamento em nitrogênio líquido; (b)
miniesferas durante o estágio de descongelamento; (c) miniesferas após secagem.

52
5.2. Propriedades térmicas

Na Figura 17, são apresentadas as curvas de comportamento térmico do


PVA, do PAA, da HAp e da CFX, obtidas por meio da calorimetria diferencial de var-
redura. As temperaturas de transição vítrea do PVA e do PAA são, respectivamente,
84,68 °C e 131,54 °C. O PVA e a CFX apresentam temperaturas de fusão respecti-
vamente em 227,88 °C e 276,77 °C. A transição β dos domínios cristalinos do PVA
não foi identificada A HAp não apresentou nenhuma transição térmica significante
que pudesse afetar o comportamento térmico dos hidrogéis. Por outro lado, tanto o
PVA como o PAA apresentaram eventos de degradação térmica, os quais tiveram
início nas temperaturas de 259,61 °C e 183,21 °C, respectivamente.
FLUXO DE CALOR [U.A.] (EXO →)

CFX HAp

PVA PAA

30 60 90 120 150 180 210 240 270 300


TEMPERATURA [°C]
Figura 17. Curvas de calorimetria diferencial de varredura para PVA, PAA, CFX e HAp.

As curvas de DSC para as formulações PVA-H, PVA-A-H, PVA-C-H e PVA-


A-C-H são apresentadas na Figura 18 (os picos de fusão relativos à CFX não são
exibidos porque o intervalo utilizado na análise térmica foi reduzido para evitar danos
ao equipamento por conta da degradação dos materiais presentes nas amostras).
Na Tabela 4, são apresentadas as temperaturas de transição vítrea e de fusão, a

53
entalpia de fusão e o percentual de cristalinidade das amostras de hidrogel produzi-
das.
FLUXO DE CALOR [U.A.] (EXO →)

PVA-H PVA-A-H
PVA-C-H PVA-A-C-H

25 50 75 100 125 150 175 200 225 250 275


TEMPERATURA [°C]
Figura 18. Curvas de calorimetria diferencial de varredura das formulações produzidas.

Tabela 4. Propriedades térmicas e cristalinidade das miniesferas obtidas e do PVA.


Amostra Tg [°C] Tm [°C] ∆H [J∙g-1] %XC
PVA (puro) 84,68 227,88 70,79 51,08
PVA-H 40,69 230,13 9,57 7,25
PVA-A-H 42,77 233,11 13,41 12,09
PVA-C-H 44,47 233,49 11,89 9,61
PVA-A-C-H 33,82 229,19 15,02 14,30

Para os hidrogéis PVA-H, PVA-A-H e PVA-C-H, foram observadas curvas


bastante similares, com Tg na faixa de 40,69 a 44,47 °C. Essa redução na tempera-
tura de transição vítrea provavelmente é decorrente do processo de congelamento
rápido em nitrogênio líquido, de modo que as cadeias da fase amorfa do polímero
foram “congeladas” em configurações energeticamente desfavoráveis, em associa-
ção à redução acentuada da cristalinidade, a qual poderia reduzir a mobilidade e a
flexibilidade da fase amorfa. É importante ressaltar que estas curvas de DSC são
referentes a uma única etapa de aquecimento – para que não houvesse a remoção
do histórico térmico das amostras –, visto que o objetivo desta análise é investigar
os efeitos do processo de congelamento no PVA. Na faixa de temperatura compre-
54
endida entre 80 e 150 °C, pode-se perceber a transição β do PVA, relativa à relaxa-
ção dos domínios cristalinos.
A presença do evento exotérmico associado à fusão da fase cristalina do
PVA entre 200 e 250 °C revela a efetividade da técnica freeze-thawing como método
para promover a reticulação física do PVA. A redução da cristalinidade provavelmen-
te se deve ao processo pelo qual formam-se os cristalitos, de modo que a nucleação
orientada pelos cristais de gelo não seria tão eficiente como o resfriamento do polí-
mero fundido para promover a formação de domínios cristalinos. Na amostra PVA-A-
H, mesmo a adição de PAA, que deveria dificultar a mobilidade e a flexibilidade das
cadeias pela introdução de novas pontes de hidrogênio, não foi suficiente para ele-
var a Tg das miniesferas. Por outro lado, a ação do PAA é evidenciada por favorecer
a formação de domínios cristalinos, propiciando a segunda maior entalpia de fusão
identificada e o segundo maior percentual de cristalinidade. Na amostra PVA-C-H,
nota-se, após a fusão, um evento endotérmico relativo à degradação do PVA e tam-
bém indicativo do início da fusão da CFX.
Para a amostra PVA-A-C-H, a Tg de 33,82 °C possivelmente deve-se à
grande quantidade de diferentes grupos funcionais presentes na formulação bem
como à cristalinidade reduzida – em relação ao PVA puro – ao processo de conge-
lamento, deixando as cadeias da fase amorfa do PVA em conformações metaestá-
veis, i.e., conformações energeticamente desfavoráveis – apesar da presença do
PAA, que deveria levar a maiores valores de Tg. Isso pode ser corroborado pelo
evento exotérmico que se segue, provavelmente um alívio de tensões residuais na
fase amorfa do PVA decorrentes do processo de congelamento e da presença de
outros materiais, o que justificaria o valor da entalpia de fusão bem como o percen-
tual de cristalinidade – os maiores valores encontrados. Percebe-se, ainda, em tem-
peraturas superiores a 250 °C, um evento endotérmico de degradação dos políme-
ros acompanhado do início da fusão da CFX, similar ao observado no hidrogel PVA-
C-H.

5.3. Observações em microscopia eletrônica

Imagens de microscopia eletrônica de varredura de miniesferas produzidas


somente com PVA e submetidas a diferentes métodos de congelamento são mos-
tradas na Figura 19. É possível observar que as amostras submetidas aos três pri-

55
meiros estágios de descongelamento não mantiveram a geometria esférica preten-
dida, exibindo geometrias aleatórias e dimensões em um intervalo entre 1,5 e 2,0
mm (Fig. 19.a e 19.c). As outras amostras (Fig. 19.b e 19.d), submetidas ao total de
sete ciclos de congelamento-descongelamento, foram capazes de manter uma geo-
metria aproximadamente esférica, embora não sejam esferas perfeitas, resultando
em diâmetros de 1,0 a1,5 mm.

Figura 19. Imagens de MEV de miniesferas produzidas em AcOEt após (a) três e (b) sete etapas de
descongelamento, e de miniesferas produzidas em nitrogênio líquido após (c) três e (d) sete etapas
de descongelamento.

A geometria e a rugosidade podem ser resultantes do método de secagem


empregado. Quando a estufa a vácuo foi utilizada, a temperatura de secagem pode

56
ter causado uma evaporação mais rápida na superfície, o que faz com que essa
condição seja potencialmente agressiva à amostra, de modo que as características
obtidas são as observadas nas imagens. Pela observação das imagens obtidas, fi-
cou evidente a importância do número de ciclos de congelamento-descongelamento
no sentido de preservar a geometria após o último estágio de descongelamento. No-
tou-se também que as dimensões das miniesferas diminuem com o aumento do nú-
mero de ciclos, resultando em menores miniesferas após a aplicação dos sete ci-
clos, independentemente do método de congelamento.
Comparando-se as miniesferas produzidas em AcOEt e em nitrogênio líqui-
do, submetidas ao total de ciclos, percebeu-se uma superfície bastante rugosa e ir-
regular nas amostras produzidas em AcOEt (Fig. 19.b), enquanto que as miniesferas
produzidas pelo outro método demonstraram ter uma superfície mais lisa (Fig. 19.d).
A miniesfera apresentada nessa imagem também possui uma superfície extrema-
mente lisa na sua região esquerda, a qual é resultado do corte feito para separá-la
de outra miniesfera. Como resultado da inspeção visual e da observação da morfo-
logia das amostras, decidiu-se que as formulações contendo PAA, CFX e HAp seri-
am congeladas em nitrogênio líquido e submetidas ao total de sete ciclos de conge-
lamento-descongelamento. A adição desses materiais modificou significativamente a
morfologia das miniesferas, como pode-se observar na Figura 20.


Figura 20. Imagens de MEV comparando as superfícies de (a) uma miniesfera de PVA (controle), e
(b) de uma miniesfera da formulação PVA-H.

57
Nota-se facilmente uma morfologia de superfície distinta devido à presença
de HAp, a qual não é completamente dissolvida em água, apenas dispersa. O tama-
nho médio, no entanto, não foi afetado. Além da superfície, a morfologia interna
também foi estudada por MEV, como pode-se observar na Figura 21, nas regiões de
seção transversal destacadas em vermelho.

Figura 21. Imagens de MEV da seção transversal – em destaque – de miniesferas das formulações
(a) PVA-H, (b) PVA-A-H, (c) PVA-C-H e (d) PVA-A-C-H.

Na (Fig. 21.a), poucas partículas de HAp são observadas, em oposição ao


percebido na superfície (Figura 20), i.e., aglomerados de HAp em meio ao hidrogel
não são comuns, mas sim bastante pontuais. As regiões de seção transversal anali-
sadas das miniesferas PVA-A-H e PVA-A-C-H (Fig. 21.b e 21.d) exibiram morfologia

58
distinta daquela observada nas miniesferas PVA-H e PVA-C-H (Fig. 21.a e 21.c): a
incorporação deste composto levou a uma microestrutura interna menos lisa e ho-
mogênea, permitindo a observação de regiões altamente rugosas. No entanto, não
se pode observar segregação de fase, o que prova a formação de uma rede interpe-
netrante completamente miscível entre o PVA e o PAA. Todas miniesferas apresen-
taram uma microestrutura macroporosa com orientação preferencial, bastante similar
à morfologia observada por Quintero et al. (2010), a qual deve-se aos estágios de
congelamento.
As regiões de seção transversal observadas em MEV com magnificação de
5000× são apresentadas na Figura 22.

Figura 22. Imagens de MEV da seção transversal de miniesferas das formulações (a) PVA-H, (b)
PVA-A-H, (c) PVA-C-H e (d) PVA-A-C-H.

59
As miniesferas PVA-H e PVA-C-H apresentaram uma microestrutura bastan-
te similar, considerada homogênea e uniforme. Entretanto, a morfologia interna das
miniesferas PVA-A-H e PVA-A-C-H mostrou-se irregular. Algumas partículas medin-
do entre 1 e 5 µm podem ser observadas. É perceptível a ocorrência da orientação
preferencial anteriormente mencionada. Poros podem ser vistos em meio a essas
regiões orientadas, o que provavelmente confirma a existência de uma microestrutu-
ra tridimensional macroporosa, compatível com aquela requerida para que um mate-
rial seja utilizado como sistema de liberação de fármacos.
Os resultados da análise de espectroscopia de raios-X por dispersão em
energia (EDS), aplicada às formulações PVA-H, PVA-A-H, PVA-C-H e PVA-A-C-H,
são apresentados na Tabela 5, em percentual mássico.

Tabela 5. Composição química estimada obtida por EDS.

Elemento Amostra
[%wt.] PVA-H PVA-A-H PVA-C-H PVA-A-C-H
C 27,02 51,45 55,74 62,41
O 38,43 44,72 39,33 36,08
P 11,79 0,33 - -
Ca 22,76 3,50 4,93 1,51

Conforme a composição química estimada dos hidrogéis, a incorporação de


HAp é confirmada pela presença dos elementos fósforo e cálcio. A radiação caracte-
rística do cálcio foi identificada em todas amostras, enquanto que a do fósforo foi
identificada apenas nas amostras PVA-H e PVA-A-H. A redução do percentual más-
sico de cálcio e fósforo deve-se à redução da fração mássica de HAp nos hidrogéis
pela adição de PAA e/ou CFX, que são constituídos majoritariamente de carbono e
contêm ainda oxigênio, hidrogênio e nitrogênio. É preciso levar em conta que a fra-
ção mássica de HAp nas amostras PVA-H, PVA-A-H, PVA-C-H e PVA-A-C-H é, res-
pectivamente, 4,76%, 4,00%, 4,46% e 3,79%, por isso o decréscimo observado nos
percentuais mássicos de cálcio e fósforo da amostra PVA-H para PVA-A-H e PVA-A-
C-H, e é um pouco maior na amostra PVA-C-H – embora não tenha sido identificada
a radiação característica do fósforo. De um modo geral, a região de análise – esco-
lhida ao acaso – e a incorporação de outros materiais ao hidrogel podem influenciar
as quantidades de cálcio e fósforo identificadas. Entretanto, como o cálcio pode ser
identificado em todas amostras, a presença de HAp pode ser confirmada.
60
5.4. Cinética de liberação do fármaco e inchamento

Nas Figuras 23 e 24, respectivamente, são apresentadas as curvas de per-


centual cumulativo de CFX liberada em função do tempo e a quantidade de água
absorvida pelos hidrogéis no ensaio de inchamento.

100

90

80
FÁRMACO LIBERADO [%]

70

60

50

40

30

20
PVA-C-H
10
PVA-A-C-H
0
0 6 12 18 24 30 36 42 48
TEMPO [h]
Figura 23. Ensaio de cinética de liberação da CFX.

210

180
ÁGUA ABSORVIDA [%]

150

120

90

60

30 PVA-C-H
PVA-A-C-H
0
0 6 12 18 24 30 36 42 48
TEMPO [h]
Figura 24. Ensaio de inchamento dos hidrogéis contendo CFX.

61
A amostra PVA-C-H apresentou burst release, ou “liberação explosiva”, por
ter liberado mais de 90% da CFX em um período de três horas, então estabilizando-
se com um máximo de 98,6%. Por outro lado, na amostra PVA-A-C-H, o PAA agiu
como retardante de liberação, pois os primeiros três pontos avaliados tiveram pe-
quena variação, levando a um maior tempo de liberação até a estabilização. As ca-
deias de PAA ajudaram no encapsulamento da CFX e reforçaram a microestrutura
macroporosa do hidrogel, retardando a liberação do fármaco. Ao fim do ensaio, um
total de 94,0% da CFX foi liberado da amostra PVA-A-C-H. Este efeito retardante do
PAA sobre a cinética de liberação de hidrogéis de PVA já havia sido relatado por
Lima et al. (2015). Em ambos os casos, as primeiras quatro medidas provavelmente
estão relacionadas à fração de CFX liberada das porções externas das miniesferas,
enquanto que as medidas subsequentes estariam relacionadas ao fármaco liberado
do núcleo. De um modo geral, como os valores de percentual de fármaco liberado já
superavam ou se aproximavam dos 90% após seis horas de ensaio, pode-se consi-
derar que a cinética de liberação é rápida em ambos os casos.
A amostra PVA-A-C-H, que mostrou uma cinética de liberação do fármaco
mais lenta, absorveu água mais rapidamente e em maiores teores que a amostra
PVA-C-H. Isso pode ser explicado pela interação das moléculas de água com o mai-
or número de hidroxilas disponíveis neste hidrogel, justamente pela introdução do
PAA. Portanto, embora o PAA tenha agido de forma a retardar a liberação da CFX,
ao mesmo tempo fez com que o hidrogel ficasse mais inchado. Como o hidrogel ab-
sorveu mais água, i.e., teve maior difusão de água entre suas cadeias, e mesmo as-
sim a liberação da CFX foi retardada, pode-se concluir que o fármaco foi realmente
encapsulado pelo PAA. Estes resultados são semelhantes aos encontrados por Lima
et al. (2015). Ao fim do ensaio, a quantidade de água absorvida atingiu 187,4% e
197,9%, respectivamente para as amostras PVA-C-H e PVA-A-C-H. Os valores de
EWC foram, respectivamente, de 65,3% e 66,3%. A amostra PVA-C-H atingiu sua
EWC após 24 h de ensaio, enquanto que a amostra PVA-A-C-H levou 36 h para
atingir a EWC. A presença de PAA no hidrogel, devido à introdução de novos grupos
hidroxila, permitiu que o hidrogel absorvesse água por mais tempo até atingir sua
EWC. Embora todos componentes apresentem grupos hidroxila em suas estruturas
químicas, somente o PVA e o PAA contribuem significativamente para a absorção
de água por ligações de hidrogênio (Caló & Khutoryanskiy, 2015; Ganji et al., 2010;
Lima et al., 2015).

62
6. CONCLUSÃO

Miniesferas de hidrogel criogênico de PVA foram estudadas, produzidas se-


gundo diferentes formulações e métodos de congelamento-descongela-mento. O
processo de gotejamento empregado para a produção dos hidrogéis em geometria
esférica provou ser adequado.
Entre os dois métodos comparados para congelar as soluções de PVA e efe-
tuar os ciclos de congelamento-descongela-mento, o método utilizando nitrogênio
líquido apresentou melhores resultados, devido à menor temperatura, o que faz com
que os cristais de PVA sejam mais resistentes. O método de congelamento-
descongelamento ideal consistiu em um total de três estágios de descongelamento
em refrigerador seguidos de quatro estágios de descongelamento em temperatura
ambiente, recongelando as miniesferas em nitrogênio líquido após cada estágio de
descongelamento – à exceção do último, quando as miniesferas foram secas.
Os hidrogéis obtidos não são esferas perfeitas, embora se aproximem bas-
tante da geometria esférica. O diâmetro médio diminui com o aumento do número de
ciclos de congelamento-descongelamento, resultando em menores miniesferas após
os sete ciclos.
Comparando-se as amostras com ciclos completos de congelamento-
descongelamento produzidas em nitrogênio líquido e em AcOEt, observou-se uma
superfície rugosa e irregular nas miniesferas congeladas em AcOEt, enquanto que
as miniesferas congeladas em nitrogênio líquido demonstraram ter uma superfície
menos rugosa.
A adição de HAp modificou significativamente a morfologia da superfície. Mi-
niesferas com PAA apresentaram uma morfologia interna diferente, mais irregular,
em comparação com as demais formulações.
Todas miniesferas aparentaram ter uma orientação preferencial na sua mi-
croestrutura interna. Em meio a essas regiões, poros podem ser observados, pro-
vando a existência de uma microestrutura macroporosa compatível com a necessá-
ria para o emprego do hidrogel como sistema de liberação de fármacos.
O processo de congelamento em nitrogênio líquido provocou a ocorrência de
configurações metaestáveis das cadeias da fase amorfa do PVA, fazendo com que a
temperatura de transição vítrea fosse reduzida em cerca de 40 °C. A presença dos
eventos endotérmicos associados à fusão prova a existência de domínios cristalinos

63
no PVA, formados pelo processo freeze-thaw, evidenciando a efetividade dessa téc-
nica como método para a introdução de pontos de crosslinking físico do PVA.
Os percentuais de CFX liberada foram próximos de 90% após transcorridas
seis horas do ensaio de cinética de liberação de fármaco, de modo que a cinética de
liberação pode ser considerada rápida nos dois casos.
O PAA agiu satisfatoriamente como retardante de liberação, reforçando a
microestrutura macroporosa do hidrogel e encapsulando a CFX. Ao mesmo tempo, o
PAA promoveu maior retenção de água no hidrogel devido à introdução de novos
grupos hidroxila capazes de formar ligações de hidrogênio com a água, e também
como elevou o tempo para a quantidade de água de equilíbrio ser atingida.

64
7. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

 Estudar a efetividade das miniesferas em sistemas bacterianos e como supor-


te para crescimento de células;
 Comparar a cinética de liberação de fármaco e o perfil de inchamento com hi-
drogéis na forma monolítica;
 Avaliar a influência do pH na cinética de liberação de fármaco e no perfil de
inchamento;
 Estudar a influência da massa molar do PVA e das proporções de PAA, CFX
e HAp;
 Determinar uma equação para o perfil de inchamento dos hidrogéis, conforme
a Lei de Fick.

65
8. REFERÊNCIAS

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