Etiologia O vírus da Diarréia Viral Bovina é um dos principais patógenos de bovinos e causa perdas econômicas significativas para a pecuária bovina em todo o mundo. O BVDV pertence à família: Flaviviridae, gênero: Pestivirus, que abriga outros dois vírus antigenicamente relacionados: o vírus da Peste Suína Clássica e o vírus da Doença da Fronteira, de ovinos. Os pestivírus são vírus pequenos (40-60nm), envelopados e contêm uma molécula de RNA linear, fita simples, polaridade positiva, de aproximadamente 12,5kb como genoma. De acordo com a capacidade de produzir citopatologia em cultivo celular, os isolados de BVDV podem ser classificados em biótipos citopático [CP] e não-citopático [NCP]. A grande maioria dos vírus de campo são NCP; amostras CP são isoladas quase que exclusivamente de animais acometidos da Doença das Mucosas [DM], uma forma clínica severa da infecção. O agente etiológico, Vírus da Diarréia Viral Bovina. O BVDV é reconhecido como causador de diversas manifestações clínicas que vão desde infecções subclínicas a infecção aguda altamente fatal, afetando principalmente o sistema reprodutivo (abortos, má formação, mumificação, crescimento retardado), sistema respiratório, sistema digestivo, sistema circulatório (leucopenia, trombocitopenia e síndrome hemorrágica) e sistema tegumentar quando a DM se instala num animal PI. Os isolados do BVDV apresentam uma grande variabilidade antigênica, sendo que dois grupos antigênicos principais já foram identificados: BVDV tipo 1 e BVDV tipo 2. Os vírus do genótipo BVDV-1 representam a maioria dos vírus vacinais e das cepas de referência, enquanto os BVDV-2 foram identificados há pouco mais de uma década em surtos de Diarréia Viral Bovina aguda severa e doença hemorrágica na América do Norte. A infecção pelo BVDV tem sido associada a uma ampla variedade de manifestações clínicas: desde infecções inaparentes ou com sinais leves até doença aguda fatal. No entanto, a maioria das infecções em animais imunocompetentes parece cursar de forma subclínica. Enfermidade gastroentérica aguda ou crônica, doença respiratória em bezerros, síndrome hemorrágica com trombocitopenia, patologias cutâneas e imunossupressão estão entre as conseqüências mais freqüentes da infecção pelo BVDV. Embora identificado originalmente de casos de doença gastroentérica, e freqüentemente associado com esse tipo de patologia, o BVDV é um vírus freqüentemente associado com fenômenos reprodutivos. As consequências clínico-patológicas e epidemiológicas da infecção de fêmeas bovinas prenhes são marcantes. Em muitos rebanhos onde a infecção é endêmica, falhas reprodutivas representam os sinais mais evidentes - e por vezes, os únicos - da presença da infecção. A infecção antes ou após a cobertura ou inseminação artificial pode resultar em perdas reprodutivas como infertilidade temporária, retorno ao cio, mortalidade embrionária ou fetal, abortos ou mumificação, malformações fetais ou o nascimento de bezerros fracos e inviáveis. A infecção fetal entre os dias 40 e 120 de gestação com isolados NCP frequentemente resulta na produção de bezerros imunotolerantes, persistentemente infectados [PI] com o vírus. Os bezerros PI geralmente são soronegativos, podem ser clinicamente normais, e excretam o vírus continuamente em grandes quantidades em secreções e excreções. Nesses países, que são livres de Febre Aftosa, o BVDV é considerado o agente viral mais importante de bovinos e tem sido alvo de numerosos estudos e de programas de controle e/ou erradicação durante décadas. Transitoriamente infectados: São animais que entram em contato com o vírus e eliminam o vírus no ambiente por até 15 dias. Em animais não gestantes e com boa imunidade em 70% a 90% dos casos a infecção tem um aspecto subclínico. Nos animais gestantes podem ocorrer os sintomas reprodutivos descritos acima. Persistentemente infectados: São animais procedentes de mães que tiveram contato com o vírus entre 40 a 120 dias de gestação. Nesta fase da gestação o sistema imune não se encontra completamente desenvolvido podendo desencadear o surgimento de animais imunotolerantes ou persistentemente infectados (PI). Estes animais são uma fonte importante de transmissão viral para os animais susceptíveis, pois são eles os responsáveis pela manutenção do vírus no rebanho. Calcula-se que mais de 95% das infecções pelo vírus da diarréia bovina vírus tenha origem a partir de animais persistentemente infectados. A presença de animais PI altera significativamente a dinâmica da infecção na população. A presença destes animais no rebanho desencadeia uma epidemia de abortos em um determinado momento e, de acordo com o ciclo do vírus, estes episódios passam a ser mais esporádicos com o passar do tempo. Muitos animais PI, no entanto, não desenvolvem esta enfermidade e persistem por toda a vida infectada num estado de viremia constante eliminando continuamente o vírus para o meio ambiente mesmo sem nenhuma sintomatologia clínica. As principais vias de eliminação do vírus são: secreções nasais, saliva, sangue, fezes e urina. O vírus também já foi isolado a partir do sêmen, secreções uterinas e placenta. O vírus é transmitido de forma horizontal através da ingestão ou inalação de partículas virais, através de fômites e contato direto com seres humanos. A transmissão vertical pode ocorrer transplacentariamente. Em rebanhos onde os animais não tiveram nenhum contato prévio com o vírus, desprovidos de qualquer tipo de imunização, podem ocorrer surtos esporádicos com altas taxas de aborto após a infecção inicial. Sinais Clínicos Os sinais clínicos tiveram evolução de 3-10 dias e foram semelhantes em todos os surtos. Depressão e corrimento nasal foram os achados mais frequentes. A temperatura retal variou de 40,0-42,5ºC, mas não foi aferida em todos os casos. A infecção por este vírus pode manifestar-se de diversas maneiras: Sub-clínica: a maior parte das infecções com o BVDV (cerca 70 a 90%), não apresentam sinais clínicos (febre discreta, leucopenia, produção de anticorpos neutralizantes). Aguda: os animais que apresentam esta forma são os imunocompetentes não PI com idade entre 6 a 24 meses, com um período de incubação de 5 a 7 dias, apresentando febre, anorexia, descarga óculo-nasal, erosões e ulcerações na mucosa oral e diarréia. Aguda severa: neste caso há a ocorrência de um alto número de mortes súbitas em todas as categorias, penumonia, febre e abortos (10 a 20%). Síndrome hemorrágica: trombocitopenia, diarréia sanguinolenta, hemorragia na superfície das mucosas, febre, leucopenia e morte. Doença das mucosas (DM): tem manifestação esporádica, afetando menos de 5% do rebanho; tem um período de incubação de 10 a 14 dias após a exposição à cepa CP. Os sinais apresentados são febre bifásica, anorexia, taquicardia, polipnéia (respiração ofegante), queda na produção e diarréia profusa, podendo ser sanguinolenta e fétida; as papilas orais podem apresentar aspecto rombo, e podem surgir erosões na língua, palato, superfícies bucais e faringe. Podem também apresentar lesões no espaço interdigital, tetos e vulva e também dermatite generalizada. Diagnostico O diagnóstico pode ser firmado com base no exame clínico e nos achados de necropsia, pois o diagnóstico definitivo requer de duas a três semanas. As técnicas laboratoriais disponíveis são: sorologia, isolamento viral e detecção dos antígenos. O vírus pode ser isolado através de secreções nasais, sangue, fezes, linfonodos e intestinos. O método indireto tem um baixo custo sendo muito prático. Baseia-se na detecção de anticorpos contra o BVD no soro ou no leite dos animais. O mesmo informa a titulação. Já o método direto baseia-se na detecção do BVD ou de seus componentes (proteínas e ácidos nucléicos) e constituem a forma mais objetiva de diagnóstico da infecção. O material genético pode ser detectado por PCR, uma técnica sensível e específica. As proteínas virais podem ser detectadas nos tecidos por anticorpos específicos para a BVD marcados com uma tinta fluorescente (FATeste) ou uma enzima (imunohistoquímica). Provavelmente o teste mais conveniente e meticuloso disponível hoje é o de imunohistoquímica, através de uma biópsia de pele fixada com formalina. Este teste é o mais barato diagnóstico “ante mortem” para detectar gado persistentemente infectado (PI) quando comparado com isolamento de vírus. Diagnostico diferencial O BVDV deve ser diferenciado de etiologias que causam diarreia, erosões e/ou ulcerações no tracto gastrointestinal, falhas reprodutivas, efeitos teratogénicos, patologias cutâneas, subdesenvolvimento e patologias respiratórias. Estas etiologias incluem vários agentes infecciosos, parasitas e toxinas. O diagnóstico diferencial para doenças causadoras de diarreia nos animais adultos inclui salmonelose, disenteria de inverno, doença de Johne, parasitismo gastrointestinal, febre catarral maligna, intoxicação por arsénio, micotoxicoses e deficiência em cobre. Por sua vez, o diagnóstico diferencial para doenças que causam lesões orais nos animais inclui a febre catarral maligna, língua azul, estomatite vesicular, estomatite papular, febre aftosa e peste bovina. O diagnóstico diferencial da doença bovina com lesões orais e diarreia incluem a infecção aguda grave da BVD, peste bovina, febre catarral maligna bovina e doença das mucosas. As doenças caracterizadas por lesões orais e que não apresentam diarreia são a febre aftosa, estomatite vesicular e estomatite papular bovina. As doenças que provocam diarreia mas que não apresentam lesões orais são a disenteria de inverno, salmonelose, doença de Johne, parasitismos e deficiência em cobre. O diagnóstico diferencial da infecção aguda do BVDV durante o período neonatal inclui outras causas de diarreia em bovinos jovens, como infecções por rotavírus ou coronavírus, criptosporidiose, infecção por Escherichia coli, salmonelose e coccidiose. Outras causas de doenças respiratórias em vitelos também devem ser consideradas, tais como infecção com o BRSV, Pasteurella spp., Mannheimia spp., Hemophilus spp., Salmonella spp. e Mycoplasma spp.. Os casos de doença das mucosas necessitam de diagnóstico diferencial especialmente da febre aftosa, visto que fazem parte do complexo de doenças vesiculares e erosivas. Por seu turno, o diagnóstico diferencial da forma trombocitopénica da infecção aguda pósnatal efectua-se em relação a outras patologias hemorrágicas, como a intoxicação aguda por Pteridium aquilinum. Prognóstico e Tratamento No início do surto o prognóstico é reservado, pois não é possível avaliar a morbilidade, e quando existem lesões das mucosas e desidratação é desfavorável, pois a evolução é rápida e causa alta mortalidade. Assim, o prognóstico em casos graves com diarreia aquosa profusa e lesões orais é desfavorável, podendo ser ponderado o abate do animal. Os animais com BVD crónica devem ser refugados e destruídos. Nenhum tratamento específico está disponível para animais que apresentem sinais clínicos da infecção com o BVDV. Os proprietários devem ser informados que os animais gravemente doentes podem apresentar doença das mucosas, o que é normalmente fatal. Os objetivos do tratamento em bovinos suspeitos de infecção aguda são de apoio e prevenção de infecção bacteriana secundária. São indicados agentes antimicrobianos de largo espectro, fluidoterapia, electrólitos suplementares e vitaminas. Aos bovinos com evidências clínicas de hemorragia devido à trombocitopenia podem-se efeituar transfusões de sangue total fresco, não devendo submeter estes animais a procedimentos cirúrgicos; deve, também, controlar-se a população de insetos para evitar lesões múltiplas que possam originar hemorragia. Profilaxia e Controlo O sucesso do controlo e prevenção do complexo BVD/MD depende da implementação de programas de saúde adoptados para evitar a introdução de infecção na exploração, identificação e eliminação de animais PI e vacinação de animais reprodutores. Por ser ubiquitário, o controlo do BVDV pode efetuar-se tanto a nível do rebanho como a nível nacional. Remoção de animais PI: a detecção e eliminação de animais PI são componentes essenciais do programa de controlo em explorações infectadas. A eliminação destes animais irá diminuir a disseminação do agente e melhorar a saúde do rebanho. Uma das estratégias mais comuns para identificar animais PI é a colheita de amostras de soro de todos os animais do rebanho com idades superiores a 3 meses para isolamento do vírus através da técnica de imunoperoxidase. Biossegurança: boas práticas de biossegurança são essenciais para o controlo e prevenção da BVD. A introdução ou adição de animais, especialmente fêmeas prenhes, são a forma mais comum para que o vírus se introduza em explorações de leite ou carne. A compra de novilhas, vacas ou touros apresentam menor risco de introdução do BVDV na exploração quando estes animais são testados de forma a assegurar que não estão persistentemente infectados, e quando permanecem de quarentena por 30 dias antes da sua introdução na exploração. O período de quarentena deve ser a base de todos os procedimentos de biossegurança, prevenindo a entrada de infecções transitórias (agudas). Se forem compradas fêmeas prenhes, o feto deverá ser tratado como um novo elemento a adicionar. Assim, antes de serem introduzidos no rebanho, a fêmea gestante deve ser examinada para verificar o estado negativo de infecção persistente e o vitelo deve ser testado ao nascimento para assegurar que não é PI. Vacinação: a vacinação é utilizada para reduzir o risco de perdas quando o maneio preventivo está comprometido. Uma estratégia importante para o controlo da doença é a vacinação de fêmeas gestantes semanas antes do parto, estimulando a imunidade materna a fornecer proteção ao vitelo por imunidade passiva, especialmente nos dois primeiros trimestres, correspondendo ao período em que o feto está mais susceptível aos efeitos do vírus. A vacinação de animais imunocompetentes que não têm infecções virais persistentes deve fornecer proteção parcial ou total contra infecções fetais, abortos, nados-mortos, atraso no crescimento intrauterino, defeitos congénitos e infecções persistentes nos animais acabados de nascer. A proteção contra a infecção fetal varia, aproximadamente, entre 60% a 100%. Outro objetivo de um programa vacinal é assegurar que todas as fêmeas gestantes possuam anticorpos para o vírus antes de ficarem prenhes. A vacinação deverá ser efetuada pelo menos 3 semanas antes da concepção, de modo a ficarem seropositivas para o BVDV. Vacina bovela tm A vacina protege contra os dois tipos de Diarreia Viral Bovina: A BVD Tipo 1 e a BVD Tipo 2. A primeira é historicamente mais comum na Europa, com pelo menos 16 subtipos identificados. BovelaTM promete uma revolução na luta contra a BVD no Brasil. “BovelaTM é a única vacina viva contra a BVD disponível no mercado brasileiro atualmente e conta com a tecnologia exclusiva L2D (Live Double Deleted – Viva Duplamente Deletada), fator essencial para o controle eficaz desta doença silenciosa e traiçoeira que causa tantos prejuízos para a pecuária brasileira.” explica Fernando Dambrós, médico veterinário e gerente de produtos da Boehringer Ingelheim Saúde Animal. Para evitar os prejuízos e a formação de animais PI, a vacina deve ser aplicada três semanas antes da inseminação. “BovelaTM atua durante o período de gestação e pós-parto, melhorando os indicadores reprodutivos e auxiliando na produtividade do rebanho como um todo, pois reduz a incidência de pneumonias, descartes e mortalidade de vacas e bezerros”, ressalta Fernando Dambrós. Referencias http://ppgca.evz.ufg.br/up/67/o/Hidelbrando_Ricardo_1c.pdf?1349116879 https://www.apcbrh.com.br/parlpr/diagnostico/bvd-e-ibr http://www.scielo.br/pdf/pvb/v26n2/a10v26n2 https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/79093 https://www.infoescola.com/medicina-veterinaria/diarreia-viral-bovina/ http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/N8s2CiIXa1DWf0q_2013-6-26-10-51-50.pdf http://www.veterinaria.com.pt/media/DIR_27001/VPC-I-2-e6.pdf http://www.folharondoniense.com.br/brasil-produtivo/boehringer-ingelheim-saude-animal-lanca-bovela-tm-nova- aliada-no-combate-diarreia-viral-bovina-bvd/