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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

DISCENTE: ​Guilherme de Moraes Araujo​ RA:​ 181220814

DOCENTE:​ Profª. Drª. Regina Laisner

DISCIPLINA: ​Teoria Política

CURSO:​ Relações Internacionais - 2º ano (noturno)

Resenha crítica - A Dialética do Esclarecimento

Em sua obra, Adorno e Horkheimer buscam, de forma densa, elucidar os laços


sociológicos entre a dominação e o conhecimento. Em 1944, tendo a sociedade europeia sob a
sombra do domínio nazista como ponto de partida, os autores retrocedem à Homero para que
se compreenda os arranjos fascistas; retornam a Ulisses para compreender o sujeito burguês;
retornam ao Mito para compreender o Esclarecimento.

Atendo-se ao materialismo, liberdade, igualdade e justiça estão intimamente


entrelaçados; atendo-se à dialética, são explicitados pela negação, pelo que não são, pela
forma de aparência que esses conceitos apresentam em sistemas de exploração; atendo-se à
história, o germe da dominação, da desigualdade e da injustiça estão presentes na
materialidade da organização da produção, e, tão importante quanto, da sociedade e suas
hierarquias.

Eles discorrem a liberdade pela sua ausência. O Esclarecimento é totalitário:1 ele tem
sua base na divisão do trabalho capitalista, principalmente a da sociedade industrial e na
propriedade privada, que coisifica os indivíduos e os reduz à objetos da engrenagem maior
pela sua totalidade, a mesma que oprime o exército de reserva e os submete às vontades dos
senhores, seja Ulisses seja o capitalista monopolizador. Nele, a coerção social impera na
forma de aparência extremamente ideológica e alienada da liberdade baseada na lei natural,
vinda de sua visão também alienada da natureza repetitiva, a mesma do mito. A sociedade de
classes tem como consequência a impotência das massas frente a apropriação de sua força de

1
​ADORNO, T.; HORKHEIMER, M.. Dialética do Esclarecimento. 1947. p. 6
2

trabalho e da riqueza que produz e a superestrutura e tudo (e todos, quando alienados) que
nela existe se direciona a manutenção desse ​status quo.​

Da instrumentalização humana, da visão alienada e opressora que a sociedade


capitalista e seu protótipo, o senhor Ulisses, trazem decorre a desigualdade. A burguesia, que
prega e fetichiza a igualdade, diferencia-se do proletariado como Ulisses se diferenciava dos
marinheiros: abstendo-se do trabalho; ambos possuem o poder da liberdade e a liberdade de
poder se diferenciar do trabalhador, possuem um hobby, que é a confirmação de sua
desigualdade, pois nele o trabalho é supérfluo2, enquanto para o trabalhador é necessidade
comandada. Na sociedade nazi-fascista, a horda é a execução da igualdade de mercado que se
baseia na coerção: é “o triunfo da igualdade repressiva, a realização pelos iguais da igualdade
do direito à injustiça”3 é a individualização máxima.

A justiça esclarecida não escapa de sua descendência do mito. Muito menos escapa da
materialidade injusta capitalista. As relações entre homens são coisificadas e a injustiça social
é aparentemente intangível.4 A competição da natureza se interioriza no Esclarecimento e dela
decorre sua justiça: a competição meritocrática. A troca, que assumiu o lugar do sacrifício, se
materializa no regente mítico e imaterial do capitalismo: o mercado. Essa divindade para o
esclarecido, baseada na mercadoria fetichizada, controla o comportamento do homem, que o
Esclarecimento chama de racionalidade. A justiça tem uma aparência de meritocracia, mas
Ulisses já demonstra que a burguesia se abstém das regras que impõem: é pela exceção que
cumpre a justiça que é submetido, “o empresário jamais enfrentou a competição unicamente
com o labor de suas mãos.”5

Adorno e Horkheimer elucidam como o Esclarecimento, pela falácia da


universalização da razão, impõe de forma extremamente ideológica as noções burguesas da
liberdade (de ser dominado), a igualdade (de ser menos que seu senhor) e a justiça (de ser
expropriado pelas regras impostas) que asseguram a manutenção desse ​status quo​. A
libertação da sociedade de classes é a superação da mera aparência dos conceitos, é o meio de
os alcançar verdadeiramente.

2
Idem. p. 37
3
Idem. p. 9
4
Idem. p. 16
5
Idem. p. 31.
3

Eles não se atêm tão somente à infra-estrutura, analisam a superestrutura do mito e do


esclarecimento e é nisso que andam em conformidade e para a ampliação do marxismo, não
rompem com o materialismo histórico-dialético mas com sim o apego à herança da filosofia
burguesa.6 O marxismo não se reduz à análise das forças econômicas, mas, pelo contrário, é a
demonstração da relação dialética dessas forças com as forças sociais que são criadas para e
por sua manutenção.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ADORNO, Theodor; HORKHEIMER, Max. O Conceito de Esclarecimento e Excurso I. In:


______ ​Dialética do Esclarecimento​. 1947. p. 5 - 39

6
Idem. p. 22.

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