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Mozart e sua dupla busca: por reconhecimento em vida na cidade de Viena e pelo amor de sua

esposa Constanze

Sentimento de solidão e desespero que o dominou nos últimos dias de vida pela falta de ambos

“A princípio tudo correu bem”: disciplina imposta pelo pai converteu-se em autodisciplina,
capacitando o jovem a trabalhar, depurando e transformando em música as fantasias que nele
fervilhavam, sem que perdessem a espontaneidade ou a inventividade. - Leopold Mozart

Seja como for, Mozart teve de pagar caro pelas vantagens alcançadas graças a seu talento
em consumar suas fantasias pessoais.

“Quase todos têm desejos claros, passíveis de ser satisfeitos; quase todos têm alguns desejos
mais profundos impossíveis de serem satisfeitos.” - reflexão sobre os desejos e frustrações

Elias ao mesmo tempo em que investiga a vida de um indivíduo, analisa as estruturas sociais
de hierarquia e poder da época e reflete sobre os anseios humanos

Discute sobre a divisão da História em épocas: “Cada figura conhecida pela magnitude de sua
realização é definida, então, como o ponto alto de uma época ou outra. No entanto, após um
exame mais acurado, não é raro que as realizações notáveis ocorram mais frequentemente em
épocas que poderiam, no máximo, ser chamadas de fases de transição, caso usemos o conceito
estático de "épocas". Em outras palavras, tais realizações surgem da dinâmica do conflito
entre os padrões de classes mais antigas, em decadência, e os de outras, mais novas, em
ascensão”

- Conflito externo entre aristocracia da corte e os burgueses outsiders, mas também no interior
de indivíduos sobre sua existência social - identificação e humilhação

Burgueses que seguissem a carreira musical teriam que educar comportamentos, sentimentos
e características para sociedade da corte – vida marcada por essa cisão, entre dois mundos

Como se via diante da classe dominante: Noção de superioridade de seu talento em relação a
nobreza, “gênio” - sem que esse conceito existisse, sabia da dimensão extraordinária de sua
arte

Sai de Salzburgo para Paris pedindo por emprego: “Depois de Paris, parece ter tido cada vez
mais a impressão de que não era apenas esta ou aquela corte aristocrática que o irritava e
humilhava, mas que todo o mundo social em que vivia estava, de alguma maneira, errado. Isto
não deve ser mal interpretado”
Seminário - 18/11

ARTE DE ARTESÃO E ARTE DE ARTISTA

- Mozart abandona a corte de Salzburgo e vai para Viena, o que teria influência na sua forma
de produzir música. Elias reflete nesta parte sobre produção musical.

Pontua as diferenças entre Arte de artesão x arte de artista – tal passagem é um


macroprocesso gradual de transformação, em que a vida social de Mozart é um microprocesso

O músico, neste sentido, buscava ser um artista “autônomo” em um momento que as


instituições não eram propícias e maduras a isso

Acontecia uma mudança estrutural no campo artístico: a relação entre os que produzem arte e
os que precisam dela e a compram (consumidores) - artista empregado e artista livre

ARTE DO ARTESÃO: o gosto do patrono ditava o padrão de criação do músico, visto que
possuía poder e influência muito superiores comparado ao artista

ARTE DO ARTISTA: similaridade entre o que faz a arte e o seu público, anônimo. Podendo
o artista ser mais poderoso, pelo seu elevado capital artístico, se torna ícone, influência.

Processo social de individualização e diferenciação - mudam-se os consumidores, antes


aristocracia da corte, agora profissionais burgueses

“O destino de Mozart é uma comovente ilustração dos problemas enfrentados por alguém que,
músico de altíssimo talento, foi envolvido por este processo social não-planejado” p. 48

Desejo inédito de abandonar a corte e sua segurança

“É pouco provável que Mozart não tenha percebido, em Paris ou nas cidades alemãs, os ventos
dos protestos burgueses contra os direitos de dominação da privilegiada nobreza da corte” -
contraste entre a geração de Leopold e Wolfgang

Termina o capítulo com um questionamento: o que faz a obra de um artista perdurar ao longo
do tempo, sendo absorvida pelas gerações posteriores e pelo padrão socialmente aceito

O ARTISTA NO SER HUMANO

“O surpreendente, talvez, é que Mozart sobrevivesse a sua perigosa fase como menino
prodígio, sem que seu talento tenha sido destruído.”
Discute sobre a separação que fazem entre as grandes obras e a existência social de seu
produtor, como se o destino, os atributos humanos e sociais do sujeito estivessem apartados de
sua face de “gênio”

Mozart homem e Mozart artista – Elias contra tal separação, desconcertante no caso de
Wolfgang, visto que era um homem simples, infantilizado e gerador de uma arte sublime.

Dicotomia civilização e animalidade/ o homem e o artista/ espiritual e corporal/ natureza e


cultura

Avançar para civilização é domar os impulsos animais, sublimá-los, tornar em cultura – o que
permite a sobrevivência social

“tendência de traçar uma clara linha divisória entre o artista e o ser humano, o gênio e a "pessoa
comum". Como também à tendência de tratar a arte como algo que flutua no ar, exterior e
independente das vidas sociais das pessoas.”

1. Música concilia ímpeto, força com tal sublimação, livra-se da animalidade e mantém espécie
de emoção profunda - o que forneceria material para ver a arte como algo que flutua, descolado
do contexto humano - obras de Mozart possuem esse poder transformador

2. "obras de arte" são relativamente autônomas em relação a seu produtor ou à sociedade de


seu produtor.” Podendo ser apreciadas por gerações posteriores

Elias evidencia a importância: “O problema não se limita à música, ou mesmo à arte. O


esclarecimento das conexões entre a experiência de um artista e sua obra também é importante
para uma compreensão de nós mesmos como seres humanos” - capacidade humana de
SUBLIMAÇÃO

Questiona o fato de considerarem o talento de Wolfgang uma capacidade natural, uma


expressão das forças da natureza por si, ao contrário, é a sublimação destas – para qual mostrou

Sublimação e as gerações da criança - qual a direção e a extensão da sublimação de seus pais


e avós

Pai de Mozart era músico e seu avô artesão - desejo de realização pessoal todo voltado para
seu filho
“Uma forte ligação amorosa se forjou entre ele e o filho, que a cada realização musical era
recompensado com um grande prêmio em termos de afeto. Isto, sem dúvida, favoreceu o
desenvolvimento da criança na direção desejada pelo pai.” p. 60

Reflete sobre o título de “gênio” de Mozart – capacidade de combinar formas dentro da


estrutura do padrão vigente, porém tais formas eram totalmente inovadoras e despertavam
emoções também distintas

Fala sobre a criação artística = capacidade de desprivatizar fantasias, ideias e devaneios


pessoais, (são inicialmente caóticas, incertas e de nenhum interesse para o resto das pessoas)
submete-las ao material, seja ele som, palavra, pedra ou cor. - o que chama de passar a ponte
da sublimação, sem perder a espontaneidade da fantasia

“Em seu caso [Mozart], a espontaneidade do fluxo-fantasia em grande parte permanecia íntegra
quando convertida em música. Muitas vezes as invenções musicais fluíam dele como os sonhos
emanam de uma pessoa que dorme.” - união de conhecimento e fantasia

“O que sentimos ser a perfeição de muitas de suas obras deve-se igualmente à sua rica
imaginação, ao seu conhecimento muito amplo dos componentes da música e à espontaneidade
de sua consciência musical.”

Diferente das ideias dos sonhos e fantasias, as composições e ideias do artista estão sempre
ligados a sociedade

Logo o Mozart artista e o Mozart homem não podem ser separados ou eclipsados

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