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UNIVERSIDADE FUMEC

GABRIEL WELLERSON OLIVEIRA ROCHA

Direito de Família
Uma abordagem psicanalítica

Belo Horizonte
2017
 CAPÍTULO 1

A família tradicional e algumas questões em torno de seu


conceito

A partir do princípio irrefutável, ou seja, da lei natural de que a família é a célula


básica de toda e qualquer sociedade, desde as mais primitivas, torna-se necessário
revisar alguns conceitos que, especialmente em Direito, devem ser retrabalhados,
para que possamos entender melhor a regulação jurídica, e para onde ela aponta
neste século XXI.

Embora pareça simples e elementar o conceito de família, uma vez que todos os
grandes juristas já o explicaram, será necessário voltar aquilo que é o mais simples,
pois talvez esteja exatamente aí a chave para entender equívocos e encontrar
explicações que nos remetam a um maior aprofundamento no Direito de Família.

Um dos Brilhantes juristas brasileiros, Clóvis Beviláqua, definia a família como:

"Um conjunto de pessoas ligadas pelo vínculo da consaguinidade, cuja eficácia se


estende ora mais larga, ora mais restritamente, segundo as várias legislações. Outras
vezes, porém, designam-se, por família, somente os cônjuges e a respectiva
progênie".

É interessante observar que o estudo da família, em Direito, esteve sempre


estritamente ligado ao casamento, que a tornava legítima ou ilegítima, segundo os
vínculos da oficialidade dados pelo Estado, ou mesmo pela religião. Grande parte dos
juristas confundiu o conceito de família com o de casamento. E por incrível que isso
possa parecer, em nossa sociedade, mesmo no terceiro milênio, quando se fala em
formar uma família, pensa-se primeiro em sua constituição por meio do casamento.
Mas como a realidade aponta para outra direção, somos obrigados a vê-la, sob o
ponto de vista da ciência, como algo mais abrangente.

A idéia de família, para o Direito brasileiro, sempre foi a de que ela é constituída de
pais e filhos unidos à partir de um casamento regulado e regulamentado pelo Estado.
Com a constituição de 1988 esse conceito ampliou-se, uma vez que o Estado passou
a reconhecer “como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e
seus descendentes”, bem como a união estável entre homem e mulher (art. 226). Isso
significa uma evolução no conceito de família. Até então, a expressão da lei jurídica só
reconhecia como família aquela entidade constituída pelo casamento. Em outras
palavras, o conceito de família se abriu, indo em direção a um conceito mais real,
impulsionado pela própria realidade.
A FAMÍLIA NAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS

O momento em que o texto constitucional passou a mencionar a família e dizer que


ela se constitui pelo casamento civil é sinal de que o contexto talvez apontasse outras
direções. É certo que há imposições da própria cultura, mas se os elementos culturais
fossem tão determinantes, não haveria necessidade de se legislar sobre eles, pois
seriam leis naturais. Há também razões políticas a partir da separação Igreja/Estado,
razões econômicas etc. Mas a história nos revela mais e nos possibilita ver os fatos à
distância, com uma isenção maior e um envolvimento menor no processo histórico-
evolutivo. Podemos verificar, portanto, que a lei, ao dizer que a forma de constituir
família é o casamento civil e que este é indissolúvel, estava cercando algo que se lhe
contrapunha. Ou seja, se havia necessidade de se impor o casamento civil é porque
deveria haver outras formas de constituir família que iriam, ou queriam, surgir a partir
do Brasil República. É como os Dez Mandamentos. Eles só existem porque existem
aqueles dez desejos que se lhes contrapõem.

A Constituição de 1988, como já disse, abriu e ampliou as formas de constituição


de família, dizendo em seu texto:

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.

§ 1º O casamento é civil e gratuita a celebração.

§ 2º O casamento religioso tem efeito civil nos termos da lei.

§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem


e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em
casamento.

§ 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer


dos pais e seus descendentes.

Apesar de certa timidez no texto quando se diz entidade familiar em vez de família,
podemos marcar aí uma evolução.

É compreensível que a elaboração de um texto legislativo seja eivado de forças


políticas diversas. Mas talvez seja mesmo na diversidade que esteja.

A PROMISCUIDADE
Até o início do século XIX acreditava-se que existiu uma época primitiva em que
imperava o comércio sexual promíscuo, de maneira que cada mulher pertencia a todos
os homens e cada homem a todas as mulheres.

Com base nessas premissas é que foram constituídas teorias das famílias
primitivas e do parentesco, mas que não passavam de hipóteses; a promiscuidade,
como se observa nos animais, como se nenhuma lei tivessem, como se não houvesse
a noção de parentalidade, não é um dado da realidade.

Lacan, em 1938, já escreveu:

A promiscuidade presumida não pode ser afirmada em parte alguma, nem mesmo
nos casos ditos de casamento grupal: desde a origem existem interdições e leis. As
formas primitivas da família tem os seus traços essências de suas formas acabadas:
autoridade, se não concentrada no tipo patriarcal, ao menos por um conselho, por um
matriarcado ou seus delegados do sexo masculino; modo de parentesco, herança,
sucessão, transmitidos, às vezes distintamente (Rivers) segundo uma linguagem
paterna ou materna. Trata-se aí de famílias humanas devidamente constituídas. Mas,
longe de nos mostrarem a pretensa célula social, vêem nessas, quanto mais amplo de
casais biológicos, mas, sobretudo, um parentesco menos conforme os laços naturais
da consangüinidade.

O INCESTO – A PRIMEIRA LEI: LEI DE DIREITO DE FAMÍLIA


Freud, fundador da Psicanálise, em 1913-1914, apresenta o texto totem e tabu, no
qual, com o apoio da antropologia, descreve costumes de povos primitivos,
constatando a presença de totens e tabus nessas sociedades, que simbolizam leis
básicas e estruturadoras para aqueles selvagens, objeto da pesquisa.

Totem é um animal ou, raramente, um vegetal, ou um fenômeno natural (chuva,


água, por exemplo), ou mesmo um objeto, que mantém uma relação peculiar com o
clã, sendo, pois, o objeto de tabus, proteção e deveres particulares. O totem é o
antepassado comum do clã, ao mesmo tempo em que é o espírito guardião e auxiliar.
Cada clã possui o seu totem, e os seus integrantes têm a obrigação sagrada de não
destruí-lo. Na relação de subordinação ao totem está a base de todas as obrigações
sociais e restrições morais das tribos.

FAMÍLIA E CASAMENTO

É somente após a passagem do homem da natureza para a cultura que se torna


possível estruturar a família. Uma das instituições que mais têm sido objeto de
regulamentação jurídica é o casamento. Aliás, instituição que se deve distinguir da
família, onde a excelência do termo “família conjugal”, empregada tão acertadamente
por Kurkheim. É verdade que, há numerosas definições para casamento, mas não há
uniformidade para conceituar nos diversos sistema jurídicos que o disciplinam. Para o
direito brasileiro por exemplo, a definição de casamento, inicialmente, muito misturado
com o conceito religioso, tem mudado tanto quanto tem variado os costumes em
relação ao tempo.
A noção conceitual de matrimônio, obviamente, não é imutável. Com a mudança
dos costumes, ela evoluiu e modificou-se. O que antes era determinante para a
constituição da família no Brasil, já foi alterado pela Constituição de 1988, ou seja, no
atual ordenamento jurídico a família não se constitui somente pelo casamento. Há
também outras formas de família, como já se disse anteriormente. Embora não seja
única forma de constituição de família, o casamento é a que mais interesse desperta e
maior incentivo recebe pelo Estado. Pesquisas realizadas trazem dados importantes,
revelando situações familiares, aumento e diminuição de casamentos e separações,
mudanças nas formas de constituição das famílias. Revelam também, que, com todas
as evoluções e mudanças, a mulher vem sendo elemento definidor na quebra da
estrutura patriarcal.

 CAPÍTULO 2

DIREITO E SEXUALIDADE
Para o Direito, a sexualidade não se apresenta como objeto de interesse de
investigação primeiramente. Porém, para o direito penal, nas tipificações dos
crimes contra a honra por exemplo, ou os outros de natureza e conteúdo
sexual, refere-se muito mais à genitalidade do que propriamente à sexualidade.
Porém, há de se analisar em função da complexidade das questões, pois o
Direito pode mesmo legislar sobre a sexualidade, uma vez que essa pressupõe
desejo. Afinal, é o Direito que legisla sobre o desejo, ou é o desejo que
determina o Direito? Essa é a pergunta que “não quer calar” para refletirmos
sobre o tema, ainda existe um certo receio para falarmos sobre sexualidade.
Sendo assim, muitas vezes, afastamos o assunto, como se não nos
interessassem. Porém, em Direito de Família, o assunto toca praticamente
todas as questões e problemas apresentados. Pois, afinal, são as relações
humanas que pressupõem vontade, que pressupõem desejo e que são,
portanto, da ordem da sexualidade.Códigos anteriores ao nosso, como por
exemplo o de 1916, estabelecia normas para o comportamento sexual, dizendo
por exemplo, que o homem poderia anular o casamento se soubesse que a
mulher não era virgem no ato do casamento.

È de se constatar que os valores morais e sexuais hoje em dia, apresentam


outro registro, mas sempre dentro do campo de Direito de Familia. Ela é
importante e sempre determinante nas relações humanas, que afinal fazem
atos, fatos e estabelecem negócios jurídicos. Até 1988, a legislação brasileira,
considerava que a família só se constituía pelo casamento. Apesar disso, outras
várias formas de família sempre existiram, embora não recebessem a proteção do
Estado. Sendo assim, o Estado pensava que poderia controlar as relações sexuais,
estabelecendo que estas só poderiam existir dentro do casamento. Porém
essas leis sempre foram violadas.
Portanto, neste capítulo de “Direito e sexualidade” é possível concluir que o
Estado não pode mais controlar as formas de constituição das famílias. Ela é
mesmo plural, comportando várias espécies, como a do casamento, que
maior proteção recebe, das uniões estáveis e a comunidade dos pais e seus
descendentes.

UNIÕES HOMOSSEXUAIS

Algo que podemos dizer com convicção é que a homossexualidade existe


desde que o “mundo é mundo”. Em algumas culturas é mais rechaçada, em
outras menos. Vale lembrar que desde a Grécia antiga os registros são vários e
apontam, naquela civilização, um comportamento em padrões de normalidade.

Para falarmos do tema, primeiramente, é preciso diferenciar as relações


homossexuais, isto é, dois homens ou duas mulheres que estabelecem uma
relação amorosa-sexual, daquelas que se denomina transexualismo.Para o
Direito, interessa saber se uma pessoa tendo mudado de sexo, estaria
simplesmente transfigurando sua sexualidade, ou se realmente adquirirá a
identidade do sexo oposto. Anteriormente, a cultura americana, por exemplo,
insistia em provar que o homossexualismo era uma doença, e a Psicanálise já
dizia se tratar apenas de uma preferência sexual. Em outros continentes, por
exemplo, desde 1995 decreto islâmico egípcio autorizava a troca de sexo. Em
1989, os EUA, no Estado de NY, já discutia a possibilidade do registro oficial
das uniões de pessoas do mesmo sexo. No mesmo ano, o Parlamento
Dinamarquês, seguindo uma tendência dos países nórdicos, aprovou um
projeto de lei que permitia aos homossexuais a possibilidade de uma união
registrada, com os mesmos efeitos legais do casamento, exceto pela
possibilidade de adoção de criança. É possível dizer que a questão da
homossexualidade é profunda e complexa, e a sua discriminação não pode ser
resolvida com a valorização das identidades sexuais, pois tal fato seria um
reforço de que essa identidade teria muita importância na vida moral dos
cidadãos, ou seja, seria um reforço dos valores culturais sexistas. No livro, o
autor Rodrigo da Cunha Pereira, não trata do assunto no capítulo fazendo uma
apologia da homossexualidade ou da heterossexualidade, interessando
somente, pensar e repensar melhor a liberdade dos sujeitos acima dos
conceitos estigmatizantes e moralizantes que servem de instrumento de
exclusão da cidadania. Inclusive, é citado, Mario de Andrade: “as pessoas que
abrem seus corações de uma maneira abrangente, dentro deles cabem
qualquer sexo”.
CONCUBINATO – UNIÃO ESTÁVEL

Conceito de concubinato
Uma das demonstrações de que o Direito de Família é perpassado, ou
determinado pela sexualidade, é o concubinato. Embora esta expressão já
esteja ficando antiga antiga e até antiquadra em razão da carga de preconceito
que traz consigo, ela retrata a conduta moral/ sexual de uma determinada
sociedade em uma determinada época. Em outras palavras, é a legitimação ou
ilegitimação de determinadas relações sexuais e suas conseqüências
econômicas.

A palavra concubinato que é etimologicamente, uma comunhão de leito, ou


seja a companhia na cama sem aprovação legal. Concubina é a mulher que tem
vida em comum com um homem, ou que mantém, em caráter de permanência,
relações sexuais com ele. Autor admite também, que o conceito tem evoluído
bastante e, na verdade, há até uma certa dificuldade entre os autores em
delinear precisamente essa idéia. Segundo Moura Bittencourt, citado no livro, a
expressão concubinato tem duplo sentido. Um sentido genérico análogo à união
livre, que é toda ligação de homem e mulher fora do casamento, também
chamado de mancebia, amigação, barregã, amásia, etc.. A idéia central de
concubinato é uma convivência duradoura entre duas pessoas, sem

casamento registrado. O nosso texto constitucional denominou o concubinato


de união estável.

UNIÃO ESTÁVEL OU CONCUBINATO?

Para responder esta pergunta, é importante lembrar da parte histórica, onde


a chamada Lei do Divórcio, quando aprovada em 1977, trouxe, dentre várias
inovações ao sistema jurídico brasileiro, a implementação de uma nova
expressão em substituição à palavra “desquite”. Até hoje, fala-se, entre leigos,
desquite em lugar do que seria tecnicamente correto, ou seja, SEPARAÇÃO
JUDICIAL. Porém, não há um motivo de ordem técnica para a mudança dessas
expressões. Mas se buscarmos na história o que a palavra desquite passou a
significar no Brasil, veremos que ela trazia em si uma carga de preconceito, um
peso, para aqueles que “desquitaram”.

É importante lembrar que a palavra concubinato, antes de ter sentido


técnico-jurídico, é a indicação de um modo de vida ou um estado, a marca de
um (pré) conceito que se formou ao longo do tempo. Nomear uma mulher de
concubina é socialmente uma ofensa: é como se referisse à sua conduta moral
e sexual de forma negativa. No entanto, no sentido jurídico, e mais
especificamente na linguagem dos tribunais, é uma expressão de largo uso e
que melhor traduziu, até agora, uma forma de vida ente homem e mulher com
conseqüências inclusive patrimoniais. Sendo assim, a expressão união estável,
adotada pela atual Constituição Brasileira, está a substituir, em sentido
equivalente, a expressão concubinato, para atender a uma realidade social.
Entretanto, a linguagem da maioria dos tribunais, para designar as
conseqüências e efeitos jurídicos de uma união estável, foi até a de concubinato
ou, quando muito, alternando uma e outra.

A grande evolução histórica do concubinato no Brasil se deu quando ele saiu


do campo do direito obrigacional, e passou a ser tratado na seara do Direito de
Família. O marco histórico que sem dúvida alguma registrou tal evolução, foi a
constituição de 1988, ao prever expressamente o concubinato (união estável)
como uma das formas de família.

O FIM DO CONCUBINATO

Com a evolução histórica mencionada acima o autor Rodrigo da Cunha


Pereira, neste tópico, lembra que a constituição de 1988 já reconhece como
formas de famílias não somente aquelas constituídas pelo casamento, mas
também pela união estável e a comunidade formada pelos pais e seus
descendentes. O autor acredita que a resistência em rever conceitos tão
estabilizados no Direito, e tidos como verdade absoluta, tem impedido o avanço
da ciência jurídica. Além disso, cita também o fato de se ter um incômodo
causado pela interferência em dois setores importantes da vida do cidadão: o
econômico e o sexual. No cenário econômico, a propriedade deixa de ser
exclusiva e pode ser dividida com aqueles que não tem o status de esposa(o).
No cenário sexual, a sexualidade será do ordenamento do desejo do próprio
indivíduo e ele terá de se haver com isso no contexto da polis, já que o Estado
reconhece que esta é também uma das formas de constituição de família.

Também é possível ressaltar a crença do autor que no momento em que a


tendência mais moderna do Direito de Família, em todo o mundo, é a
intervenção cada vez menor na vida do cidadão e conclui dizendo que ao se
demarcar o concubinato em um Estatuto, estaria o Estado acabando com a
liberdade do cidadão em escolher a forma de constituição de sua família que
não seja a instituída pelo casamento. Terá que inventar uma nova forma não-
instituída.

A COMUNIDADE FORMADA PELOS PAIS E SEUS


DESCENDENTES – OS PAIS SOLTEIROS E SEPARADOS
Essa opção de vida está relacionada, em grande parte, à liberdade dos
sujeitos de escolherem sua relação amorosa. Aponte-se aí, segundo Elza
Berquó, não ser possível deixar de ver que a maioria das pessoas vivendo
sozinhas com seus filhos é do sexo feminino. Neste contingente populacional
encontramos principalmente mulheres que tiveram seu casamento ou
concubinato desfeito (pela morte ou dissolução em vida) ou que não quiseram
ou puderam se casar, mas tiveram filho(s) biológico(s) ou adotivo(s).

Portanto, não é razão que o Estado veio a dar proteção e considerar como
família, também, a comunidade formada pelos pais e seus descendentes. João
Baptista Vilela, com sua clarividência, referindo-se a este art. 226 §4º, da
Constituição Federal, vem dizer o que foi a consagração do óbvio e do
inevitável: Fámilia não é apenas o conjunto de pessoas onde uma dualidade de
cônjuges ou de pais esteja configurada, senão também qualquer expressão
grupal articulada por uma relação de descendência.

 CAPÍTULO 3

A SUPERIORIDADE MASCULINA

Ao decorrer deste capítulo, Rodrigo da Cunha lembra que o Direito de


Família nos últimos tempos, tem apresentado mudanças e evoluções nunca
vistas antes. A busca de uma isonomia de direitos entre homem e mulher.
Lembra que essa busca da igualdade repercute principalmente no Direito de
Família e em especial na sociedade conjugal. Além disso, o autor dá ênfase,
quando diz que a história nos revela que historicamente a mulher ocupou um
lugar de inferioridade, em relação ao homem. Na sociedade conjugal a direção
sempre foi exercida pelo homem, onde todas as decisões mais importantes
couberam a ele. É importante lembrar também, que a nova ordem mundial, nos
traz um redirecionamento de papéis, na estruturação da família, em que se
questiona e redimensiona-se o lugar do homem e da mulher.

SOCIEDADE CONJULGAL E DIREÇÃO DA FAMÍLIA


O autor, Rodrigo da Cunha Pereira entende que uma sociedade conjugal é
aquela constituída entre marido e mulher, ou seja, pelo casamento civil, que
importa no estabelecimento de uma comunhão de bens e de interesses. Ela se
inicia com o casamento e termina com a morte de um dos cônjuges, pela sua ,
nulidade ou anulação, ou pela separação judicial, ou pelo divórcio do Código
Civil Brasileiro de 2002. Depois da leitura deste capítulo, poderíamos dizer que
é uma união formal entre homem e mulher que preenchem requisitos legais
preestabelecidos. Essa união é formal e oficializada pelo Estado, detentor dos
controles dos atos civis, por meio de registros civis. Ressalta o autor, que
mesmo parecendo óbvio, a direção da sociedade conjugal tem um sentido mais
amplo do que meramente a direção de um casamento. Isso porque o conceito
de família hoje, ampliado como está, considera como tal não só aquela
constituída pelo casamento, mas também outras formas, como, união estável a
comunidade formada pelos pais e seus descendentes e outras que surgiram e que o
costume consagrou e a lei absorveu. É importante lembrar que, como citado pelo
autor. Para os limites deste Capítulo, considerasse a família apenas como
aquela formada pelo casamento civil, não obstante entendermos que o conceito
de família seja muito mais amplo

A DIREÇÃO DA FAMÍLIA NO BRASIL

Antes da constituição de 1988


Separasse um momento também, para se falar sobre a direção da família no
Brasil. Como citado pelo autor, o nosso Código Civil de 1916, sob grande
influência napoleônica, veio substituir leis esparsas de origem portuguesa. No
ano de 1916, significou um grande avanço, se comparado com a legislação
anterior, que designava à mulher do direito de assumir, com o casamento, os
apelidos do marido e a condição de consorte e companheira. Além de conferir a
ela, o direito de dispor livremente do produtor de seu trabalho, o que até então
era desconhecida pela lei. A legislação francesa de 1938, depois em 1947,
modificou seu entendimento sobre a autoridade marital, consagrando que esta
deve ser exercida apenas em benefício do grupo familiar. E o legislador
brasileiro, sempre sob influência francesa, absorveu esse princípio com a lei n.
4121 de 27 de agosto de 1962 – Estatuto da Mulher Casada – incorporado ao
Código Civil de 1916, se tornando assim um grande avanço legislativo.
Corrigindo grandes “aberrações”.

Pós constituição
Já neste capítulo, o autor diz que seguindo a tendência contemporânea, a
Constituição brasileira de 5 de outubro de 1988, além de dizer genericamente
que “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações”, estabeleceu
especificamente em seu art.226, que “os direitos e deveres referentes à
sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher”. Isso,
obviamente, como toda evolução, está inserido em uma história que se vem
fazendo principalmente pelas mulheres, quando passam a reivindicar direitos
iguais, apesar da diferença biológica.

Portanto, Rodrigo da Cunha Pereira, nós mostra que o entendimento


dominante sobre a nova ordem constitucional instalada desde 1988, como já se
disse, era mesmo o da auto aplicabilidade. Lembra-se que a aplicação da regra
geral da igualdade não é tão simples como se pressupõe. Esbarra-se em
contradições, como, por exemplo, a da idade mínima para casamentos, onde
homens e mulheres são diferenciados e a idade de 50 anos para as mulheres e
60 anos para os homens, que só podem casar pelo regime da separação.
A INSTALAÇÃO DE UMA NOVA ORDEM JURÍDICA PARA AS
SOCIEDADES CONJULGAIS

As notícias e registros sobre a origem e a evolução da família são de sua


estrutuação em sistema patriarcal. Daí uma explicação, sem maiores
aprodunfamentos, da supremacia do homem sobre a mulher. Foi o homem que
construiu o mundo e impôs sua linguagem, seu discurso. Mundo é masculino. E
os ordenamentos jurídicos confirmavam isso. A mulher era incapaz, como os
loucos e menores.

Com a evolução e os movimentos sociais das próprias incapazes, foi-lhes


concedido um pouco mais: a capacidade. Apesar disso, a supremacia do
homem continuava registrada nas legislações, especialmente em Direito de
Família. Os códigos civis orientais sempre garantiram, calçados nessa
superioridade, o lugar de autoridade e da representação da lei. Em
consequência das mudanças sociais e econômicas, a tendência de todo o
mundo ocidental aponta para a igualização de direitos entre o sexo feminino e o
masculino.

Falar em direção da sociedade conjugal é falar em igualdade e diferenças


de sexo. É isso que as legislações têm absorvido, sempre no sentido de
encontrar a mais justa adequação, pois a chefia concedida a apenas um dos
cônjuges significava muito mais que um simples dispositivo legal. Tinha como
conteúdo toda a marca da superioridade de um sexo sobre o outro. Rodrigo da
Cunha Pereira lembra que é preciso saber que a lei não é somente uma norma
imperativa, ela pode ser também, nas sociedades liberais, um ínicio à inovação.
Nesse sentido, a nossa Constituição traz consigo também a força de renovar e
inovar costumes, neste país tão vasto e de marcadas diferenças culturais.

 CAPÍTULO 4

A ESTRUTURA PATRIARCAL

Este capítulo se inicia lembrando que quando pensamos em um patriarcado


nos remetemos a mais que uma forma de família. No entanto, ele é, antes de
tudo, uma estrutura na qual homens e mulheres têm o seu desenvolvimento
com base no mito da superioridade masculina. Portanto, a partir daí e nesse
contexto que estão construídos os ordenamentos jurídicos. Tornou-se
inconcebível uma sociedade que não seja de base patriarcal.
PATRIARCADO E RELIGIÃO

Ao decorrer deste capítulo lembra-se que na Grécia antiga e em Roma, as


civilizações tinham um patriarcado com maior expressão e organização,
podendo o autor dizer que, encontra-se elementos que associados à religião,
vêm apresentar uma explicação mais profunda sobre a origem da família
patriarcal. Na cidade antiga, a religião, e principalmente o culto doméstico,
outorgava ao homem uma autoridade indiscutível de pontífice. O homem, era o
chefe supremo da religião francesa doméstica e determinava todas as
cerimônias do culto como entendesse, ou como visse praticar seu pai. Naquela
época, ninguém na família nega essa supremacia sacerdotal. Como sacerdote
do lar, o pai não reconhecesse hierarquicamente nenhum superior, sendo
assim, o pater exercia seu poder e função. Comparando-se com a
jurisprudência de hoje, ele era palavra viva da lei. O autor nos lembra que a
tradição do Direito Civil ocidental, com sua base no Direito romano, tem
centralmente sua explicação na estrutura do sistema patriarcal.

Tal estrutura, para justificar a origem da supremacia masculina, apoiava-se


nos ritos e cultos religiosos. Naquela época, a figura paterna que dava suporte e
sustentava todo um sistema, autorizado naquelas Cidades estado, por
elementos religiosos, traduziram para o Direito ocidental toda a concepção de
uma superioridade e inferioridade dos gêneros em nossos ordenamentos
jurídicos. A igualdade dos gêneros, vem tomando lugar dessa suporta
superioridade. Porém é preciso lembrar que, essa igualdade significa muito
mais que uma simples igualização. Como cita o autor, significa repensar toda
uma estrutura, milenar e religiosa, construída a partir de uma desigualdade dos
sexos. IGUALDADE: FALÁCIA

 CAPÍTULO 5

O DISCURSO DA IGUALDADE

O grande grito da contemporaneidade é o da igualdade. Ou seja, igualdade dos


direitos entre homens e mulheres, das raças, dos estrangeiros, das classes
sociais. Aproveitando, neste capítulo, o autor Rodrigo da Cunha Pereira,
contextualiza, dizendo que o discurso da igualdade está associado a uma outra
categoria de nosso tempo: a cidadania, que se estruturou com o crescimento
das cidades e com a definição dos sentidos do público e do privado. Lembra o
autor que, em 1995, após longa preparação em todo mundo, foi realizado na
cidade de Pequim a “Conferência Mundial de Mulheres.” No encontro, mulheres
de todos os lugares e culturas do planeta novamente discutiam as violações de
seus direitos, a discriminação e o peso das diferenças de direitos entre homens
e mulheres. Foram demonstrados, diversas diferenças e elas reivindicaram
mudanças legislativas, como forma de diminuir essas injustiças e violências.
Chega-se à conclusão que a questão da igualização de direitos entre os
gêneros não se resolve simplesmente por meio de textos legislativos. A questão
está em que o princípio da igualdade transcende o campo normativo. Acontece
que, como mostra o autor, apensar da proclamação da igualdade pelos
organismos internacionais e pelas Constituições democráticas do fim deste
século, não está dissolvida a desigualdade de direitos dos gêneros. Vai muito
além disto. O patriarcalismo terá que transitar para um outro lugar, já que
alguns de seus elementos básicos estão se rompendo.

OS SUJEITOS DA IGUALDADE E DA CIDADANIA


Neste capítulo, o autor Rodrigo Pereira da Cunha acredita que falar hoje em
“sujeito de Direito”, produz um certo cansaço, pois segundo ele, o
desenvolvimento desse tema limita-se a uma repetição das velhas teses,
segundo as quais falar de sujeito é falar de direito subjetivo, da autonomia da
vontade como criadora das relações jurídicas, de seus vícios, entre outros.
Sendo assim, acredita-se que se queremos recuperar o tema da subjetividade
para que ele nos sirva como alavanca para articular outra teoria do sujeito, da
sociedade civil, do poder do Estado, teremos que acabar com a clausura
dogmática, resgatando o tema das mãos dos juristas que o conduziram ao
silêncio, e abrirmo-nos a outras disciplinas capazes de dar uma visão da
experiência humana que restitua sua complexidade real e que não se reduza a
formas rígidas.

O acesso à cidadania pressupõe uma sociabilidade marcada pelo discurso


iluminista que clama pela liberdade, fraternidade e igualdade. Entretanto,
quanto mais se declara a universalidade da igualdade dos direitos, mais
abstrata se torna a categoria dos cidadãos, mais e mais se ocultam as
diferenças que essa ordem social gera, e cuja subsistência dependerá agora,
em boa medida, da negação e encobrimento daquelas.

 CAPÍTULO 6

A MULHER COMO FORÇA PRODUTIVA

É possível dizer que a mulher, historicamente, esteve relegada da cena


pública e política. Sua força produtiva nunca foi considerada. Os afazeres
domésticos, jamais receberam algum valor produtivo; seus trabalhos, na esfera
privada e sem valor de trocar, acabaram bastante reduzidos a uma justificativa
em razão “natureza feminina”. Lembra-se também, que naquela época, a
mulher era um complemento do homem, essencialmente relativa, onde existia
somente para o homem e para os filhos. Rodrigo da cunha, lembra também que
a revolução francesa, não conseguiu consolidar juridicamente a igualdade dos
gêneros, porém conseguiu provocar diversas modificações profundas entre
homens e mulheres, a partir da filosofia das Luzes, com a busca da felicidade e
a valorização do amor. Nesta época, portanto, as mulheres começaram a
reivindicar acesso à cena pública. Com a revolução, a mulher deixa de
participar apenas da ordem doméstica, para ajudar na produção em série,
sendo assim, uma mão de obra barata. No início do século XX, quase oito
milhões de mulheres trabalhavam fora de casa, mesmo recebendo 1/3 dos
salários dos homens e comandadas por eles. Importante lembrar que, as
reivindicações das mulheres, principalmente a do acesso ao mercado de
trabalho, e depois, consequêntemente, da revolução sexual, entram com todas
as desvantagens do milenar sistema patriarcal, não alteraram o quadro de
reclusão e opressão sobre elas.

No Brasil por exemplo, conforme lembrado no decorrer do livro, pode-se


dizer que a primeira reivindicação e conquista feminista foi a Constituição de
1934, quando foi estendido às mulheres o direito ao voto. Conclui-se portanto,
que uma das maiores conquistas das mulheres foi a invasão ao mercado de
trabalho, que era reserva do mundo masculino.

 CAPÍTULO 7

A PARTE DO PAI A IDENTIDADE MASCULINA

O QUE É UM PAI?
De acordo com a concepção do autor Rodrigo da Cunha Pereira, o conceito
de pai, é de aquele que empresta seu nome na certidão de nascimento do filho.
Se nasce dentro do casamento, presume-se que o marido seja o pai, e a
certidão do casamento é documento hábil para se proceder ao registro de um
nascimento do filho com o nome do pai-marido. Sendo assim, uma vez
estabelecida a paternidade por meio do registro civil, decorrem daí direitos e
obrigações, como o de sustento, guarda e educação. A Lei nº 8.069/90,
conhecida como Estatuto da Criança e Adolescente, nos traz uma nova ideía
compreendida pelo nosso ordenamento jurídico, de que o pai é muito mais
importante como função do que propriamente como o genitor. Isto nos obriga a
verificar qual o significado e a importância de um pai em outras culturas
também.

Uma família tem diversas facetas em relação ao papel de pai. Em algumas


sociedades, o marido tem apenas um papel social e econômico. Já em outras
famílias, é o pai legal quem educa e ama os filhos de uma mulher com quem
vive, mesmo sabendo que não é o pai biológico. É importante lembrar também,
que durante a leitura, o autor nos mostra que embora os ordenamentos jurídicos
ocidentais em geral determinem a paternidade biológica como fonte de
responsabilidade civil, a verdadeira paternidade só se torna possível a partir de
um ato de vontade ou de um desejo. Sendo assim, ela pode coincidir ou não,
com o elemento biológico. Acredita-se que o Direito parece querer ampliar o
conceito de paternidade para além dos laços meramente biológicos. O artigo
343 do Código Civil brasileiro de 1916 estabelecia que não basta o adultério da
mulher para elidir a presunção legal de legitimidade da prole; o art. 346 do
mesmo Código complemente que “não basta a confissão maternal para excluir
a paternidade”. Sendo assim, mostra-se um sinal em nosso ordenamento
jurídico, de que o vínculo da paternidade pode ir além dos laços sanguíneos,
embora esse “fantasma” ainda habite o imaginário masculino. Segundo a
Psicanálise, se desprendermos do conceito de paternidade biológica, ou
desfazendo-se das ideologias que disfarçam os sistemas de parentalidade
constitui, uma função. Dando um passe adiante ao dispositivo constitucional
que legitimou todos os filhos havidos dentro ou fora do casamento, estabeleceu,
em seu art. 1593, que o vínculo de paternidade está para além da
conseguinidade, ou seja, é o reconhecimento jurídico da paternidade sócio
afetiva, de acordo com o Código Civil brasileiro de 2002.

A FUNÇÃO PATERNA
Neste capítulo, o autor Rodrigo da Cunha Pereira, mostra que a relação do
filho com o pai, por uma questão cultural advinda da ideologia patriarcal,
sempre foi marcada, por uma ausência no aspecto afetivo, sendo considerada
em relação à mãe. Com o pai tendo a função de autoridade, de ser a “lei”, e que
os cuidados com a criança é de responsabilidade da mãe, criaram-se mitos em
torno das funções de paternidade e maternidade. O autor cita também, uma
clara demonstração de evolução e revolução, dos papéis masculino e feminino,
o ordenamento jurídico francês, em pelo menos três textos normativos,
expressando o entendimento dessas mudanças em relação à autoridade
paterna.

Percebe-se na leitura também, que os juristas começaram a se preocupar


com a questão da paternidade a partir do momento em que aqueles papéis
estanques e definidos, dados pelo modelo patriarcal, já não correspondiam mais
à realidade marcada pela revolução feminista e pela engenharia genética.
Sendo assim, no pós-feminismo, a figura paterna começa a dividir com a mãe,
os cuidados com as crianças e os afazeres domésticos, sendo o pai que educa
e sustenta não é necessariamente o pai biológico. È importante ressaltar que, o
pai pode exercer diversas funções, mas elas constituem na verdade, uma
conseqüência ou um derivado da função básica de um pai, e que está na
essência de toda cultura e de todos os tempos. O pai que exerça a função de
representante da lei básica e primeira, essencial a que todo ser possa
humanizar-se por meio da linguagem e tornar-se sujeito.
CONCLUSÃO: A REVOLUÇÃO JURÍDICA PELA VIA DA
PSCINÁLISE / CONCLUSÃO PESSOAL

Uma coisa é certa: o Direito, a partir da influência da Psicanálise, não pode


mais deixar de se considerar a família como uma estruturação psíquica, para
apreender mais profundamente as relações que pretende legislar e ordenar.
Caso contrário, o Direito de Família continuará sem encontrar a melhor
adequação à realidade. É exatamente por compreender-se a família como
estruturação psíquica e, portanto, como núcleo formador do sujeito, lócus do
amor e da efetividade, irradiador de direitos e deveres, norteados pelo princípio
da responsabilidade e solidariedade, que as novas estruturas parentais e
conjugais passaram a ter um lugar em nosso ordenamento jurídico.

O importante é o que interessa para a felicidade das pessoas é


compreender que nessa estruturação cada membro tem o seu lugar
estruturante. Além desta mudança estrutural, durante a leitura do livro, pude
perceber um pouco mais sobre o papel masculino e feminino e toda as suas
mudanças e redirecionamentos. Um pouco sobre o movimento feminista, que foi
fundamental para denunciar a ideologia patriarcal de desvalorização do trabalho
doméstico e a opressão de um sexo sobre o outro, onde não se pode confundir
a mudança do sistema patriarcal com a desvalorização da figura paterna.

Apesar da complexidade envolvida no tema central do livro, é plausível dizer


que foi uma leitura muito prazerosa e positiva no meu ponto de vista, que
inclusive ajudou a elucidar o Direito a partir da introdução da Psicanálise, onde
não se pode mais deixar de considerar a família como uma Estruturação
Psíquica, conforme lembrado pelo saudoso Rodrigo da Cunha Pereira.
Certamente, as lições aprendidas durante a leitura do livro, serão de grande
relevância e importância para não só a matéria de Direito de Família e sim para
todas as outras.

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