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Introdução à Lógica – Primeiros Passos na Lógica

LIÇÃO 04 – BONS ARGUMENTOS

1. INTRODUÇÃO

Como vimos nas lições passadas, um argumento é válido quando é impossível que, sendo
as suas premissas verdadeiras, a conclusão seja falsa. Ou seja, em um argumento válido,
a hipótese de que as premissas são verdadeiras nos permite afirmar que a conclusão é
também verdadeira (note que ainda não estamos afirmando a veracidade de fato das
premissas). Quando isso ocorre, dizemos ainda que “a conclusão segue a partir das
premissas”. Vejamos um exemplo. Considere o seguinte argumento:

Todos os cães latem.


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Totó é um cão.

Logo, Totó late.

Esse argumento é válido, pois, se supormos que suas premissas são verdadeiras, ou seja,
se supormos que todo cão late e que Totó é um cão, então a conclusão – Totó late – será
necessariamente verdadeira. Estamos utilizando uma forma argumentativa válida que já
vimos na lição passada. Dito de outro modo, o argumento acima é válido porque é
impossível que suas premissas sejam verdadeiras enquanto que a conclusão seja falsa.

Um argumento é inválido quando a conclusão não segue a partir das premissas. Dito de
outro modo, um argumento é inválido quando a conclusão pode ser falsa mesmo sob a
hipótese de que as premissas sejam verdadeiras. Vejamos um exemplo. Considere o
seguinte argumento:

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Todos que estão na França estão na Europa.

Você não está na França.

Logo, você não está na Europa.

Esse argumento é inválido, pois, mesmo considerando a veracidade das premissas, é


possível imaginarmos um caso em que a conclusão seja falsa. Por exemplo, a pessoa pode
estar na Itália – nesse caso, a primeira premissa seria verdadeira (de fato, quem está na
França está na Europa), a segunda premissa também é verdadeira (se a pessoa está na
Itália então ela não está na França), mas a conclusão é falsa, pois não é verdade que quem
está na Itália não está na Europa.

O fato de um argumento ser válido não implica que ele seja um bom argumento, uma
vez que, conforme vimos nessa lição, para estabelecer a validade de um argumento
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precisamos considerar apenas a hipótese de veracidade de suas premissas, e não o fato de
as premissas serem verdadeiras propriamente. Ademais, estabelecer a veracidade das
premissas também pode não ser algo fácil de se fazer.

Vejamos agora um pouco mais o que faz um argumento ser um bom argumento.

2. ARGUMENTO SÓLIDO

Dizer que um argumento é válido não implica necessariamente que suas premissas sejam
de fato verdadeiras. Quando isso ocorre, isto é, quando um argumento, além de ser válido,
possui todas as suas premissas verdadeiras, dizemos que esse argumento é sólido (o
termo, em inglês, para esse conceito é sound, que pode ser traduzido para “sólido” ou
“razoável”). Definamos esse conceito:

Um argumento é sólido se é válido e todas as suas premissas são verdadeiras.

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Vejamos um exemplo:

Se estou lendo isto, eu não ou um analfabeto.

Eu estou lendo isto.

Logo, eu não sou um analfabeto.

O argumento acima é sólido, pois ele é válido (a veracidade das premissas permite
concluir a veracidade da conclusão) e, além disso, suas premissas são verdadeiras.
Podemos, portanto, afirmar que sua conclusão é verdadeira.

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3. BOM ARGUMENTO

Quando criticamos um argumento, tentamos mostrar que ele não é sólido. De acordo com
a definição dada, isto pode ser feito então de duas maneiras: mostrando que ele é inválido
(ou seja, que a conclusão não segue das premissas) ou que uma de suas premissas não é
verdadeira. No entanto, estabelecer a veracidade ou falsidade de uma afirmação pode não
ser uma tarefa fácil. Portanto, um outro modo de criticar um argumento é perguntar o
quão plausível ele é.

Essa ideia nos conduz ao conceito de bom argumento: provisoriamente, vamos dizer o
seguinte:

Um bom argumento é aquele em que:

 Há boas razões para que as premissas sejam verdadeiras e


 As premissas, por sua vez, sustentam e nos conduzem à veracidade da conclusão.

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A critério de exemplificação, analisemos o argumento abaixo:

Todos os professores de matemática são carecas.

Adalberto é professor de matemática.

Logo, Adalberto é careca.

Esse argumento é válido, pois, se suas premissas são verdadeiras, então a conclusão
necessariamente será verdadeira também. Será que ele é sólido? Para podermos dizer que
ele é sólido, falta apenas estabelecer a veracidade de suas premissas, uma vez que já
estabelecemos a sua validade. No entanto, a primeira premissa – “todos os professores de
matemática são carecas” – não parece ser verdadeira. Se conhecêssemos algum professor 4
de matemática que não fosse careca, poderíamos dizer com certeza que essa premissa é
falsa, e, nesse caso, o argumento não seria sólido. Ademais, mesmo que eu não conheça
algum professor que não seja careca, posso afirmar que essa premissa é pouco plausível,
ou seja, posso afirmar que não tenho boas razões para acreditar em sua veracidade. Sendo
assim, embora esse argumento seja válido, não podemos dizer que ele é um bom
argumento.

O exemplo anterior nos mostra um modo de proceder quanto à avaliação de argumentos


(durante toda esta lição vamos supor que todos os termos envolvidos sejam claros e não
ambíguos). Vejamos com mais detalhes o caminho percorrido até agora:

 Primeiramente tentamos determinar se o argumento é válido, isto é, se as


premissas nos conduzem logicamente à conclusão (condição formal do
raciocínio). Para isso, supomos que as premissas são verdadeiras e verificamos se
existe alguma possibilidade de que a conclusão seja falsa. Se existe essa
possibilidade, então estamos diante de um argumento inválido – nesse caso, a
conclusão não segue das premissas. Por outro lado, se não existe a possibilidade

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de que a conclusão seja falsa, isto é, se a conclusão é necessariamente verdadeira,


então estamos diante de um argumento válido.

 Uma vez que estamos diante de um argumento válido, podemos investigar se suas
premissas são verdadeiras ou plausíveis (condição material do raciocínio).

o Se as premissas forem verdadeiras, então temos um argumento sólido.


Nesse caso podemos afirmar que provamos ou demonstramos a conclusão.
o Se não pudermos estabelecer com máxima certeza a veracidade de alguma
premissa mas temos boas razões para crer em sua veracidade, estamos
diante de um bom argumento.
o Por fim, se alguma premissa for falsa ou pouco plausível, estamos diante
de um mau argumento, e podemos afirmar que não temos boas razões para
crer na veracidade da conclusão.
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MATERIAIS CONSULTADOS

Capítulo 1 do livro “Lógica” (Wesley Salmon) e o Capítulo 3 da primeira parte do livro


“Pensamento crítico: o poder da lógica e da argumentação” (Walter Carnielli e Richard
Epistein).

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