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Universidade Federal da Bahia

Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas


Departamento de Ciências Sociais
Disciplina Introdução ao Estudo da Historia

LÍVIA CHAVES DOS SANTOS

A MODA NO CONTEXTO SOCIOCULTURAL DA HISTORIA:


UMA ANALISE DA IMAGEM COMO SIMBOLO DO PODER

SALVADOR
2019
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Universidade Federal da Bahia


Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
Departamento de Ciências Sociais
Disciplina Introdução ao Estudo da Historia

LIVIA CHAVES DOS SANTOS

A MODA NO CONTEXTO SOCIOCULTURAL DA HISTORIA:


UMA ANALISE DA IMAGEM COMO SIMBOLO DO PODER

Trabalho relativo à avaliação final da


disciplina Introdução ao Estudo da
Historia, ministrada pela docente
Profa. Dra. Luciana de Castro Nunes
Novaes, que refere-se ao
desenvolvimento de artigo acadêmico
de tema livre com o uso de 50% da
bibliografia proposta.

SALVADOR
2019
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A MODA NO CONTEXTO SOCIOCULTURAL DA HISTORIA:


UMA ANALISE PESSOAL DA INDUMENTÁRIA COMO SIMBOLO DO PODER

Fashion in the Sociocultural Context of History: An Personal Analysis of Clothing as a


Symbol of Power

Lívia Chaves dos Santos

A história sempre esteve às voltas com os contextos sociais e culturais de


cada época, e seus símbolos de representação. A moda é um signo extremamente
marcante desse cenário de distinção social das classes, símbolo de status e poder
ao longo das sociedades. Os sistemas de distinção eram e são um fenômeno
palpável no universo da imagem e da indumentária. A moda aparece na relação
indissociável do elemento de estética do poder, a construção de identidade e
pertença, e isso pode ser um ponto de partida para análise da historia e das
sociedades e culturas e seu desenvolvimento, pois é abrangente e inerente a todas
as condições simbológicas das ações sociais. A roupa é fator determinante na
imagem estética dos indivíduos, a exemplo dos uniformes militares e seu impacto. A
roupa atua como paradigma social, e está carregada dos valores de cada época,
tendo como vertentes a história, a sociologia, a arte e a política. Longe de ser algo
fútil, o estudo da moda no contexto histórico traz reflexões a níveis social, cultural,
econômico, antropológico e religioso de cada acontecimento crivado nos anais. A
moda diz muito sobre a sociedade e seu tempo. A indumentária e o tempo estão
sempre ligadas e mostra o gosto contemporâneo, diferencia gênero, idade,
profissões e camadas sociais
O estudo da moda como ciência percorre o mesmo caminho trilhado pela
história, pois estão dentro do mesmo universo simbológico de representatividade,
além de ser um fenômeno cultural que se estende por todos os segmentos da
sociedade, de forma mais perceptível a partir do século XVIII, com diversos
elementos que ligam a questão indumentária aos signos de detenção de poder
social e consequentemente, seu papel na identidade do período historiográfico.
Assim como afirma Guilherme Neves, no texto “Historia: A polissemia de
uma palavra”, a moda também requer práticas historiográficas diversificadas a fim de
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apreender todo seu contexto e avaliar épocas e acontecimentos, como o surgimento


de um determinado elemento de distinção, e a oficialização do uso deste por
membros específicos de uma esfera social. O limite epistemológico da moda é
flexível na contemporaneidade por causa do relativismo cultural que regem os
conceitos de identidade e alteridade. A moda, enquanto campo de estudo, pode
trazer do mesmo texto a sentença de que “a historia passa a constituir um campo de
estudo, mais amplo e variado, para as construções mentais de setores do social,
desenvolvidas pelas ciências sociais”.
A moda é um fenômeno que está diretamente ligado às mudanças de
hábitos, costumes e realidades sociais; é um retrato sócio-econômico-político-
cultural-religioso-geográfico da história, e como retrato da história, permite enxergar
através de si a evolução da humanidade, a substituição do antigo pelo novo. Assim,
historicamente, temos seu surgimento, enquanto função protetora, anterior à Era
Paleolítica e seguindo como função social mesmo quando as sociedades ainda não
estavam organizadas.

Uma vez Luís XIV afirmou que a moda é o espelho da história. Não
podemos negar. Conforme se alteram os cenários do nosso mundo, a
moda muda. Não há nada que esteja acontecendo hoje que não possa
influenciar a maneira de vestir das pessoas.” (Embacher 1999:27).

Enquanto em seu aspecto de distinção de classes sociais, a moda cumpre


o papel de promover mudanças na cultura do vestir, a cada alteração da história do
mundo; a cada vez que a classe inferior consegue copiar o que os de classe
superior estão usando, surge um movimento que visa manter essa distinção por
meio de uma nova simbologia. Um exemplo clássico se passa no período de ouro na
França, anterior à Revolução, onde elementos como salto do sapato e sua cor, tipo e
cor de tecido, adereços e acessórios eram exclusivos da nobreza. O objetivo era de
fato manter um distanciamento sobre quem pertencia a determinada classe e as
outras. A moda atravessa todos os momentos da evolução social humana em sua
cronologia designa a importância na relação entre classes sociais. Até os dias de
hoje, é possível abstrair essa informação imagética: sua roupa diz quem você é. É
notória que a riqueza da seda e a simplicidade do algodão cru, que se distinguem
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pelo poder de compra, sendo a seda o tecido dos nobres e poderosos, e o algodão,
a roupa da pessoa comum, sendo símbolo de ostentação como a mais cara jóia.
Me legitimo em tratar desses assuntos, como fonte do conhecimento
memorial, e como parte subserviente no processo de construção da moda enquanto
imagem de poder, pelo contexto sociocultural em que fui criada dos bastidores da
moda, serviçal da costura; desde a mais tenra idade aprendi a receber as “madame
e sinhôs” e suas sedas, crepes e tafetás, na sala de costura da minha mãe, mulher
pobre, sem estudos e periférica, que ajudava no sustento da casa com sua arte-
artesã. Aquelas pessoas sempre me passaram um uma aura de grandeza
determinante de distanciamento entre nossos universos, uma superioridade que eu
não via nos modelos humanos do meu cotidiano. Havia nessas pessoas um aspecto
que eu não conseguia apreender de imediato, mas que me fazia sentir a
inferioridade da minha posição. Suas peles, cabelos, maneiras e roupas. Roupas tais
que cresci fazendo, primeiro para ajudar no sustento da minha família, depois como
sustento próprio, em minha já desfeita máquina de costura Singer Facilita, comprada
em muitas parcelas.
Ao experienciar o estudo acadêmico de moda, pago com os proventos
advindos dessa atividade artesanal, tive contato com os parâmetros científicos do
que eu já conhecia por empiria, que tais estéticas e comportamento determinavam
uma distinção de classe social, uma cisão entre “eles” e “nós” que eu antes não
compreendia. Empiria, associado ao contexto cientifico, sociológico, historiográfico e
acadêmico de moda trouxe à luz seus vieses de base cultural, econômico, social, e
até politico do seu uso, produção do luxo pelas mulheres pobres da periferia e dos
bairros populares, muitas vezes analfabetas e inconscientes do valor do seu
trabalho, como minha mãe, minha tia, muitas amigas e eu; autoras e executoras
desses trabalhos, nós, da camada mais inferior da cadeia produtiva, não tínhamos
acesso ao uso de tais signos, não nos havia poder (econômico) de ostentar aquele
padrão de vestimenta típica dos ricos e bem-nascidos da sociedade, além de nosso
meio social não nos permitir tais demonstrações de posse. A historia da moda vista
por quem serve, descrita por quem trabalha nas sombras, vista por baixo, conforme
Jim Sharpe, contem uma riqueza conteudista do relato de experiência e percepção
daquele que normalmente é ignorado nos processos de coleta de dados históricos,
não levando em consideração apenas o relato da elite sobre determinado
acontecimento. Percebeu-se a necessidade de obter outras fontes para investigar a
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história e narrar da forma como teria acontecido, uma corrente historiográfica


influenciados pela Escola dos Annales, como uma demonstração de meios de
composição do contexto dentro do qual pode a história ser descrita num outro
ângulo. Compreendo entretanto, a necessidade de averiguação rigorosa de minha
narrativa, para validar como dado o meu relato.

“Mas a importância da história vista de baixo é mais profunda do que


apenas propiciar aos historiadores uma oportunidade para mostrar que
eles podem ser imaginativos e inovadores. Ela proporciona também um
meio para reintegrar sua história aos grupos sociais que podem ter
pensado tê-la perdido, ou que nem tinham conhecimento da existência de
sua história.” (p. 59).

“Os propósitos da história são variados, mas um deles é prover aqueles


que a escrevem ou a leem de um sentido de identidade, de um sentido de
sua origem. Em um nível mais amplo, este pode tomar a forma do papel da
história, embora fazendo parte cultura nacional, na formação de uma
identidade nacional.” (p. 59-60).

Com base na premissa de Jacques Le Goff, é que escrevo


Segundo Kosseleck, o discurso narrativo da memoria

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