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SALVADOR
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SALVADOR
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Uma vez Luís XIV afirmou que a moda é o espelho da história. Não
podemos negar. Conforme se alteram os cenários do nosso mundo, a
moda muda. Não há nada que esteja acontecendo hoje que não possa
influenciar a maneira de vestir das pessoas.” (Embacher 1999:27).
pelo poder de compra, sendo a seda o tecido dos nobres e poderosos, e o algodão,
a roupa da pessoa comum, sendo símbolo de ostentação como a mais cara jóia.
Me legitimo em tratar desses assuntos, como fonte do conhecimento
memorial, e como parte subserviente no processo de construção da moda enquanto
imagem de poder, pelo contexto sociocultural em que fui criada dos bastidores da
moda, serviçal da costura; desde a mais tenra idade aprendi a receber as “madame
e sinhôs” e suas sedas, crepes e tafetás, na sala de costura da minha mãe, mulher
pobre, sem estudos e periférica, que ajudava no sustento da casa com sua arte-
artesã. Aquelas pessoas sempre me passaram um uma aura de grandeza
determinante de distanciamento entre nossos universos, uma superioridade que eu
não via nos modelos humanos do meu cotidiano. Havia nessas pessoas um aspecto
que eu não conseguia apreender de imediato, mas que me fazia sentir a
inferioridade da minha posição. Suas peles, cabelos, maneiras e roupas. Roupas tais
que cresci fazendo, primeiro para ajudar no sustento da minha família, depois como
sustento próprio, em minha já desfeita máquina de costura Singer Facilita, comprada
em muitas parcelas.
Ao experienciar o estudo acadêmico de moda, pago com os proventos
advindos dessa atividade artesanal, tive contato com os parâmetros científicos do
que eu já conhecia por empiria, que tais estéticas e comportamento determinavam
uma distinção de classe social, uma cisão entre “eles” e “nós” que eu antes não
compreendia. Empiria, associado ao contexto cientifico, sociológico, historiográfico e
acadêmico de moda trouxe à luz seus vieses de base cultural, econômico, social, e
até politico do seu uso, produção do luxo pelas mulheres pobres da periferia e dos
bairros populares, muitas vezes analfabetas e inconscientes do valor do seu
trabalho, como minha mãe, minha tia, muitas amigas e eu; autoras e executoras
desses trabalhos, nós, da camada mais inferior da cadeia produtiva, não tínhamos
acesso ao uso de tais signos, não nos havia poder (econômico) de ostentar aquele
padrão de vestimenta típica dos ricos e bem-nascidos da sociedade, além de nosso
meio social não nos permitir tais demonstrações de posse. A historia da moda vista
por quem serve, descrita por quem trabalha nas sombras, vista por baixo, conforme
Jim Sharpe, contem uma riqueza conteudista do relato de experiência e percepção
daquele que normalmente é ignorado nos processos de coleta de dados históricos,
não levando em consideração apenas o relato da elite sobre determinado
acontecimento. Percebeu-se a necessidade de obter outras fontes para investigar a
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