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26/07/2019 Berlim quer apagar passado colonial de suas ruas | Notícias sobre política, economia e sociedade da Alemanha | DW | 12.04.

2018

NOTÍCIAS / ALEMANHA

ALEM A N H A

Berlim quer apagar passado colonial de suas ruas


Duas vias e uma praça com nomes de governadores das antigas colônias na África devem agora homenagear figuras que
resistiram ao domínio alemão. Mudança seria vitória para ativistas locais.

A praça Nachtigal e a alameda Peters, que homenageiam antigas figuras do passado colonial alemão

Berlim pretende mudar nomes de ruas e de uma praça ligados ao passado colonial da Alemanha e que remetem a personagens acusados de
terem cometidos atrocidades. Em vez de antigos governadores coloniais e exploradores, os locais devem homenagear habitantes das ex-
colônias que resistiram ao jugo alemão.

A iniciativa vingou depois de mais de uma década de debate. Os três maiores partidos da assembleia distrital de Berlin-Mitte aprovaram na
noite desta quarta-feira (11/04) uma recomendação de novos nomes para as ruas do chamado Bairro Africano (Afrikanisches Viertel), no
noroeste da capital alemã.

"A decisão final pode levar mais ou menos um mês – a data ainda deve ser anunciada em outra audiência", disse a porta-voz Melita Ersek.
"Mas é bastante comum que as recomendações sejam adotadas."

A moção para retirar os nomes associados ao brutal passado das antigas colônias alemãs na África marca uma vitória para ativistas locais que
vinham defendendo a mudança.

Glorificação do colonialismo

O Bairro Africano fica hoje numa vizinhança multiétnica de classe trabalhadora. No local, há ruas e uma praça que homenageiam o fundador
do Sudoeste Africano Alemão (atual Namíbia), Adolf Lüderitz; Gustav Nachtigal, antigo comissário imperial para as colônias do Togo e de
Camarões; e o fundador da África Oriental Alemã (atual Tanzânia), Carl Peters.

"O Bairro Africano ainda glorifica o colonialismo e seus crimes", disseram membros do conselho dos partidos Verde, Social-Democrata e A
Esquerda em comunicado. "Isso entra em conflito com a nossa compreensão da democracia e causa danos duradouros à imagem da cidade de
Berlim."

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26/07/2019 Berlim quer apagar passado colonial de suas ruas | Notícias sobre política, economia e sociedade da Alemanha | DW | 12.04.2018

Já vereadores dos partidos Democrata-Cristão (CDU), do Partido Liberal Democrático


e da Alternativa para a Alemanha (AfD) votaram contra a mudança, mas acabaram
sendo derrotados pela maioria dos votos, vinda dos outros três partidos.

Embora a troca dos nomes dos logradouros pareça um fato inevitável, o jornal
Tagesspiegel apontou que a mudança ainda pode ser contestada por moradores e
comerciantes locais não satisfeitos com eventuais custos e esforços de adaptação que a
iniciativa pode gerar.

A rua Lüderitz, em referência ao fundador do Sudoeste Homenagens à resistência


Africano Alemão (atual Namíbia)
De acordo com os planos, duas vias e uma praça devem mudar de nome. A alameda
Peters (Petersallee), em homenagem a Carl Peters, passaria a ser chamada de alameda
Maji Maji em um dos trechos e avenida Anna Mungunda em outro.

A rua Lüderitz, em referência a Adolf Lüderitz, ganharia o nome de rua Cornelius Frederiks. A praça Nachtigal, em memória de Gustav
Nachtigal, mudaria para praça Bell.

Maji Maji foi uma rebelião armada contra contra o domínio germânico na atual Tanzânia. O levante, que ocorreu entre 1905 e 1907, é
considerado a maior luta de libertação do período colonial alemão.

Anna Mungunda (1932-1959) foi uma mulher da etnia herero que se revoltou contra a administração racista dos sul-africanos brancos na
Namíbia (a colônia alemã foi anexada pelo país vizinho após a Primeira Guerra Mundial). Ela acabou sendo morta em um protesto e hoje é
considerada uma heroína no país.

Já Cornelius Frederiks foi o líder de uma subtribo do povo Nama que combateu os alemães durante a Revolta dos Hereros (1903-1908) na
atual Namíbia.

Por fim, a praça Bell vai homenagear Rudolf Douala Manga Bell e sua mulher, Emily. Rudolf foi um rei da etnia duala, um dos grupos que
habita os Camarões. Junto com a esposa ele tentou resistir e denunciar a tomada de terras dos nativos africanos pelos alemães. Ele foi
enforcado pelas autoridades coloniais em 1914.

Em comparação com outros países europeus como o Reino Unido e a França, a experiência colonial dos alemães foi relativamente curta, tendo
durado pouco mais de três décadas, entre 1884 e 1918. Ainda assim, os alemães se destacaram como dominadores brutais. Na Namíbia, o
sufocamento da Revolta dos Hereros quase resultou no desparecimento completo de etnias locais.

Ao menos 65 mil hereros e 10 mil dos namas morreram. Esse episódio é considerado por alguns historiadores como um dos primeiros
genocídios do século 20. Ainda hoje, membros das tribos exigem reparações da Alemanha. Mas Berlim rejeita qualquer possibilidade de
indenização, apontando que os alemães já direcionam bastante ajuda monetária para o desenvolvimento da Namíbia.

Já a revolta Maji Maji deixou entre 250 mil e 300 mil mortos, na maioria civis que morreram de fome.

Bairro Africano

O Bairro Africano recebeu esses nome pouco antes da Primeira Guerra Mundial, quando o empreendedor Carl Hagenbeck planejou um
parque com uma exibição permanente de animais e seres humanos da África – este último projeto, conhecido como Zoo Humano, era
relativamente popular na Europa no início do século 20 e consistia na exibição de nativos das colônias em cenários que remetiam à África e
outra regiões; muitos deles viviam com salários de subsistência.

Os planos para o parque nunca foram concluídos devido à morte de Hagenbeck, em 1913, mas várias ruas desenhadas para o complexo
chegaram a ser batizadas com nomes que remetem às aventuras coloniais da Alemanha. Após a Primeira Guerra Mundial, a Alemanha perdeu
todas as suas colônias na África, Ásia e no Pacífico para os aliados, que dividiram entre si o espólio.

Segundo o jornal Die Zeit, outras cidades da Alemanha ainda continuam a homenagear antigos colonizadores em suas ruas e praças. Adolf
Lüderitz, o fundador do Sudoeste Africano Alemão, por exemplo, ainda empresta seu sobrenome para 37 praças e ruas pela Alemanha.

Curiosamente, seu legado é visto com menos desconforto na atual Namíbia. Uma das cidades do país ainda leva seu sobrenome, assim como
uma rua na capital Windhoek. Por enquanto não há planos para revogar as homenagens.

JPS/ots/afp

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DEZ FATOS SOBRE A ALEMANHA COLO N I A L I S TA

"Nosso futuro está na água"


Sob o chanceler Otto von Bismarck, o Império Alemão estabeleceu colônias nos atuais territórios da
Namíbia, Camarões, Togo, partes da Tanzânia e do Quênia. O imperador Guilherme 2°, coroado em 1888,
procurou expandir ainda mais as possessões coloniais através da criação de novas frotas de navios. O
império queria seu "lugar ao Sol", declarou Bernhard von Bülow, um chanceler posterior, em 1897.

LEIA M A I S

Alemanha confrontada com passado negro na Namíbia


Pela primeira vez um membro do governo alemão participa de uma cerimônia em memória às vítimas dos crimes cometidos pela Alemanha durante a
época colonial. Mas o que as vítimas e seus descendentes podem esperar? (11.08.2004)

Etnias da Namíbia processam Alemanha por crimes coloniais


Povos herero e nama exigem compensações por desapropriações de terra e pelo massacre ocorrido no início do século 20, quando país africano era uma
colônia alemã. (06.01.2017)

1904: Revolta dos hereros contra colonizadores alemães


Em 2 de janeiro de 1904 estourou uma revolta do povo banto dos hereros contra os colonizadores alemães na então África do Sudoeste, atual Namíbia. A
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Dez fatos sobre a Alemanha colonialista


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Data 12.04.2018

Assuntos relacionados Berlim, Ilha dos Museus, Checkpoint Berlim, Atentado no mercado de Natal em Berlim, Namíbia

Palavras-chave colônia alemã, passado colonialista alemão, Namíbia, Berlim, Tanzânia, Bairro Africano

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