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QUATRO CASTAS
CURITIBA
2007
QUATRO CASTAS
UNICENP.
CURITIBA
2007
UNICENP.
Aprovada em ______/_______/_________
EXAMINADORES:
uma missão.
Ortega y Gasset
(1883 - 1955)
cultura.
à Elma Elisa
pelo tempo que se dedicou a me ajudar com as traduções, e principalmente, por ter me
à Aline
por ter se dedicado sem hesitar, durante todo o período, a me ajudar com a pesquisa e o
transporte de livros.
RESUMO...............................................................................................................................VII
ABSTRACT ........................................................................................................................ VIII
LISTA DE FIGURAS............................................................................................................ IX
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 10
1.1 TEMA:................................................................................................................................11
1.2 PROBLEMA: .....................................................................................................................12
1.3 OBJETIVO: ........................................................................................................................13
2 REVISÃO DA LITERATURA ..........................................................................................15
2.1 A PRESENÇA DE CASTAS NAS SOCIEDADES HUMANAS .....................................15
2.1.1 CORRESPONDÊNCIA DAS CASTAS COM AS PARTES DO CORPO HUMANO .18
2.1.2 CORRESPONDÊNCIA DAS CASTAS COM OS CICLOS CÓSMICOS OU ERAS ..20
2.1.3 AS CASTAS COMO DEFINIÇÃO DE OCUPAÇÃO SOCIAL ...................................28
2.2 TRANSIÇÃO DO CRITÉRIO DE CASTAS PARA O CRITÉRIO DE CLASSES
ECONÔMICAS........................................................................................................................32
2.3 A DECADÊNCIA DA VISÃO ONTOLÓGICA DAS VOCAÇÕES HUMANAS AFETA
A CONCEPÇÃO DO TRABALHO ........................................................................................34
2.4 A INFLUÊNCIA DA INDUSTRIALIZAÇÃO E DA CIÊNCIA ADMINISTRATIVA NO
NOVO SIGNIFICADO DO TRABALHO ..............................................................................41
2.5 COM A PERDA DO SENTIDO DO TRABALHO SURGEM AS TEORIAS DE
MOTIVAÇÃO..........................................................................................................................45
2.6 A TEORIA DE MASLOW SOBRE AS NECESSIDADES HUMANAS.........................46
2.6.1 NECESSIDADES BÁSICAS OU DE DEFICIÊNCIA ..................................................53
2.6.2 NECESSIDADES DE CRESCIMENTO OU DO SER ..................................................59
2.6.3 CRÍTICA À TEORIA DA HIERARQUIA DE NECESSIDADES ................................61
2.7 DESDOBRAMENTOS DA TEORIA DE MASLOW.......................................................65
2.8 O SISTEMA DE CASTAS ................................................................................................71
2.9 A TEORIA HINDU DAS CASTAS ..................................................................................73
2.9.1 A PRIMEIRA CASTA – OS BRÂHMANES.................................................................74
2.9.2 A SEGUNDA CASTA – OS KSHATRIYAS.................................................................75
2.9.3 A TERCEIRA CASTA – OS VAISHYAS .....................................................................77
2.9.4. A QUARTA CASTA – OS SHUDRAS.........................................................................78
2.9.5 A HIERARQUIA DAS CASTAS ...................................................................................80
2.9.6 OS “SEM CASTA” OU PÁRIAS ...................................................................................88
3 ANÁLISE .............................................................................................................................90
3.1 A PIRÂMIDE DE MASLOW E A QUARTA CASTA.....................................................90
3.2 A PIRÂMIDE DE MASLOW E AS CASTAS DE “RENASCIDOS” ............................106
3.3 A PIRÂMIDE DE MASLOW: UMA ONTOLOGIA EQUIVOCADA ..........................113
4. CONCLUSÃO................................................................................................................... 119
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................123
O presente estudo propõe interpretar uma teoria de motivação, a Hierarquia das Necessidades
Humanas de Abraham Maslow, à luz do esquema ontológico das castas, representado pelo
modelo hindu. Trata-se de um estudo científico de comparação, que tem como objetivo
teoria da Hierarquia das Necessidades Humanas, detalha o esquema de castas hindu e depois
os compara, considerando cada um dos cinco tipos de necessidades e cada uma das quatro
castas. O estudo constata que o modelo maslowniano não se aplica a todos os estamentos.
Somente três das cinco necessidades da pirâmide de Maslow estão em consonância com
portanto. Os três outros estamentos, ou castas, não têm consonância com o modelo da
hierarquia de necessidades, isto é, não podem ser explicados por ele. Isso ocorre basicamente
This study is proposed to interpret a theory of human motivation, the Hierarchy of Human
Needs of Abraham Maslow in the light of the ontological scheme of casts, represented by the
hindu model. This scientific study of comparison aims to present a relatively new model and
quite accepted in science of management, the Pyramid of Maslow, in the common perspective
of old societies. Analysis begins by presenting the four social strata, organized hierarchically,
relates them to the cycles of history, examines the socio-economic context prior to publication
of Maslow, detailing his theory of the Hierarchy of Human Needs, details the Hindu caste
scheme and then compares them, considering each of the five types of needs and each of the
four castes. The study concludes that the maslownian model does not apply to the four strata
in full. Only three of the five needs of Maslow's pyramid are in line with just one of the social
strata under traditional scheme, explaining it partially so. The three other castes are not
consistent with the model of the hierarchy of needs, that is, not can be explained by it. This
happens basically because the model maslownian takes into account only the materialistic
1 INTRODUÇÃO
incessante ocorreu através das religiões, da filosofia e das ciências humanas. Era o homem
tentando conhecer a si mesmo, sua essência e sua existência. Houve muitas e diversificadas
formas de pensar a este respeito: o homem criatura divina, o homem espiritual, o homem
animal político (ζώου πολιτικόυ), o homem bom, o homem racional, o homem reprimido, o
homem livre, o super-homem (Übermensch) etc. Mas afinal, há respostas para estas
ensinam que o ser humano tem origem transcendente. Em cada uma das tradições antigas,
religiosas ou não, o conceito de homem permanece através dos tempos, ou seja, é perene, tal
Entre tantos aspectos, em que se pode tentar interpretar o homem e sua natureza
social, o homem político no conceito aristotélico (zoon politikon), está a atividade do trabalho
e sua motivação para tal. Por que o homem trabalha? Como o indivíduo se insere na sociedade
através da função que ocupa? Há significado no trabalho? Que missão o trabalho representa?
1.1 TEMA:
valor espiritual. O trabalho humano era reconhecido como mais do que meramente uma forma
homem passou a trabalhar para atingir interesses próprios e não mais coletivos e, apenas por
trabalho?
Abraham Maslow, um psicólogo americano, foi um deles. É famosa a sua Hierarquia das
filosofia diferente da natureza humana, uma nova imagem do homem” e citando o próprio
Maslow: “[...] quando falamos sobre as necessidades dos seres humanos, estamos falando
sobre a essência de suas vidas [...]” (Maslow apud Campos, 1992, p. 149-150).
1.2 PROBLEMA:
Para Maslow o homem estaria sujeito a uma hierarquia de necessidades, e “no que
à pessoa diz respeito, o valor último, absoluto, sinônimo da própria vida, é qualquer uma das
(Maslow, s/d, p. 186). Seria esta hierarquia de necessidades realmente estruturadora da vida
do sujeito, de forma absoluta, mesmo que por tempo determinado? Seriam tais necessidades
maneira com a satisfação das mesmas necessidades? Seriam estas necessidades, ordenadas
nos esquemas ontológicos humanos também conhecidos como “sophia perennis” 1, também
Maslow, as tradições não consideram uma hierarquia de necessidades e sim, uma hierarquia
de poderes e obrigações, por assim dizer. Na tradição há quatro possibilidades para a ação
humana. Cada uma delas representa um “tipo humano” e, cada uma delas recebe o nome de
______________
1
Os conceitos de Tradição e de “Sophia Perennis” são aprofundados por vários autores em diversas obras. Entre
as nacionais podemos citar “Fronteiras da Tradição” de Olavo de Carvalho.
proposto pelas Tradições precisa logo ser destacada: a hierarquia de Maslow prevê uma
1.3 OBJETIVO:
Este trabalho se propõe a examinar uma das influentes teorias sobre motivação
aqui pelo sistema de castas hindu, por ser o exemplo de que se tem mais farta documentação.
______________
2
MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS (1907 – 1968). Um dos maiores filósofos brasileiros. Conteúdo extraído
de palestra realizada no “Centro de Cultura” em 14.11.1965. Santos apresenta a ontologia das castas, sobretudo
na obra “Filosofia e história da cultura”, volume III, São Paulo: Vozes, 1ª edição, 1962.
Andrea de Oliveira Jaques - andrea.jaques@gmail.com – Dezembro/2007
14
do assunto, sem, no entanto, esgotá-lo. Para tal, consideramos o tema “motivação para o
Podemos propor uma velha perspectiva para um assunto tão desgastado de novas
______________
3
JOSÉ MONIR NASSER. Ad. tempora. Pesquisador, escritor, editor e economista. Orientou o presente estudo.
Na obra Economia do Mais, Nasser dedica um capítulo a apresentação das castas, o qual nomeia de “O
Empreendedorismo e a Teoria das Castas”.
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15
2 REVISÃO DA LITERATURA
mais critérios, como hereditariedade, parentesco, etnia, território, profissão, religião etc.
elas não recebem este nome. O filósofo Mário Ferreira dos Santos esclarece que, ao
examinarmos a História, encontramos sempre quatro estamentos sociais (castas), onde sempre
um deles está predominando, isto é, concentrando o poder social, com exceção do quarto. E
completa especificando-os:
As castas são tipos psicológicos (em geral distribuídos pelas várias classes) e por
isso são determinantes diretos da conduta humana. Não são propriamente agentes
da história, mas são o molde estrutural onde esses agentes nascem e se definem. Por
isso, toda e qualquer ação histórica leva uma marca de casta. As quatro castas têm
existência permanente, independentemente das variações da estrutura socio-
econômica. Perceber a identidade de casta dos agentes históricos é essencial para
compreender a lógica de suas ações. (CARVALHO, 2007).
morais, cosmológicas e ontológicas) atribuir às castas origem divina e, ao mesmo tempo, uma
______________
4
OLAVO LUÍS PIMENTEL DE CARVALHO. Jornalista, escritor e filósofo brasileiro. Apresenta a ontologia
das castas em vários artigos e ensaios.
5
JULIUS EVOLA (1898 – 1974). Pensador tradicionalista italiano. Fala das castas, sobretudo na obra Revolt
Against the Modern World.
Quando o autor especifica “de acordo com a justiça”, está usando termos
platônicos, ou seja, segundo a natureza ideal das coisas. Platão entendia por justiça a
ocupação adequada de cada indivíduo em cada estrato social. As relações entre as diversas
castas são para o corpo social o que as faculdades são para a alma humana, seus lugares são
Na mesma obra, Evola (1995) lembra que a sociedade dos persas era distribuída
coleta e plantio (o que não é regra geral, pois nestas sociedades tribais básicas não há escassez
trabalhos manuais.
Na Idade Média, o mundo feudal também era dividido em quatro estratos sociais:
O filósofo grego Platão (c. 427/ 428 a 348/347 a.C.), com influência maiúscula na
formada por uma hierarquia de estratos sociais. Para elaborar este modelo, Platão desenvolveu
uma teoria sobre a natureza da alma composta de três partes independentes e presentes no
Estado ideal deveria ser organizada tal como a alma humana, ou seja, seguindo esta divisão
Para Platão, a Cidade deveria ser governada pelo primeiro estrato social, a dos
rei ou governante, pois correspondiam à parte mais elevada da alma humana, ou seja, a
parte central da alma humana ligada à alma e ao peito, e eram chamados de geomores ou
coragem dos demais. Na sociedade idealizada por Platão, há despreocupação com a classe
econômica produtiva, fato que, tal como nas sociedades tribais básicas, deve-se ao contexto
econômico da época.
pertence a Platão; na verdade, ela é tão antiga quanto às civilizações antigas, orientais ou
ocidentais.
saiu dos lábios de Brahma, a segunda casta saiu dos seus braços, a terceira casta provém das
livro de Daniel narra a interpretação que ele fez do sonho de Nabucodonosor, o imperador
babilônico:
No segundo ano de seu reinado, Nabucodonosor teve sonhos que lhe perturbaram a
tal ponto o espírito, que perdeu o sono. [1] Mandou chamar os escribas, os mágicos,
os feiticeiros e os caldeus para lhe fazerem a interpretação. Estes vieram apresentar-
se diante do rei. [2] ‘Tive um sonho, disse-lhes, e meu espírito se consome à
procura de significado’. [3]
[...................................................................................................................................]
O rei dirigiu a palavra a Daniel (que tinha o cognome de Baltazar): ‘És realmente
capaz, disse-lhe, de desvendar-me o sonho que tive e fornecer-me a interpretação?’
[26]
[...................................................................................................................................]
Senhor: contemplavas, e eis que uma grande, uma enorme estátua erguia-se diante
de ti; era de um magnífico esplendor, mas de aspecto aterrador. [31] Sua cabeça era
de fino ouro, seu peito e braços de prata, seu ventre e quadris de bronze, [32] suas
pernas de ferro, seus pés metade de ferro e metade de barro. [33] Contemplavas
(essa estátua) quando uma pedra se deslocou da montanha, sem intervenção de mão
alguma, veio bater nos pés, que eram de ferro e barro, e os triturou. [34] Então o
ferro, o barro, o bronze, a prata e o ouro foram com a mesma pancada reduzidos a
migalhas, e, como a palha que voa da eira durante o verão, foram levados pelo
vento sem deixar traço algum, enquanto que a pedra que havia batido na estátua
tornou-se uma alta montanha, ocupando toda a região. [35]. (BIBLIA SAGRADA,
Livro de Daniel, cap. 2, versículos 1-3, 26, 31-35.).
nobreza da segunda casta; o ventre e os quadris de bronze fazem referência à terceira casta -
daquelas concebem o mundo de modo cíclico, isto é, com nascimento, vida e morte. A
concepção de tempo destas sociedades antigas, em conseqüência, não é linear, mas espiralada.
O grande historiador das religiões Mircea Eliade (1907 - 1986) nos conta que nas
igualmente utilizado no sentido de “ano”. Os yokut dizem “o mundo passou” para exprimir
que “um ano passou”. Os yuki definem “ano” com os vocábulos “terra” ou “mundo”. Esse
Na Grécia antiga havia uma concepção do tempo circular, uma concepção cíclica
do mundo, e para ilustrar isso, Eliade (1996) resume a citação do historiador Henri-Charles
Segundo a célebre definição platônica, o tempo que a revolução das esferas celestes
determina e mede é a imagem móvel da eternidade imóvel, que ele imita ao se
desenrolar em círculo. Consequentemente, todo devir cósmico, assim como a
duração deste mundo de geração e corrupção que é o nosso, desenvolver-se-á em
círculo ou segundo sucessão indefinida de ciclos, no decurso dos quais a mesma
realidade se faz, se desfaz, se refaz, de acordo com uma lei e alternativa imutáveis.
Não somente se conserva aí a mesma soma de ser, sem que nada se perca nem se
crie, mas também, segundo alguns pensadores do fim da Antiguidade – pitagóricos,
estóicos, platônicos -, admite-se que, no interior de cada um desses ciclos de
duração, desses aiones, desses aeva, se reproduzem as mesmas situações que se
produziram já nos ciclos anteriores e que se reproduzirão nos ciclos subseqüentes –
até o infinito. (PUECH, 1951, apud ELIADE, 1996).
oferecem uma visão cíclica da História, pela qual se passou a compreender a dinâmica dos
ciclos culturais. Cada ciclo tem nascimento, desenvolvimento e declínio, para então ser
substituído por outro. “É inegável que, se passarmos os olhos pelos grandes ciclos culturais
conhecidos, observamos que assim se deu com o mundo egípcio, com o mundo hindu, com o
mundo chinês e está se dando com o nosso: o mundo cristão” (Santos, 1964).
______________
6
OSWALD A. G. SPENGLER (1880-1936) - Historiador e filósofo alemão, autor de obra Der Untergang des
Abendlandes (A Decadência do Ocidente), publicada em 1918, em que defende a teoria cíclica do crescimento e
declínio das civilizações.
7
ARNOLD TOYNBEE (1889-1975) - Durante quase trinta anos, de 1934 até 1961, o historiador redigiu a obra
que interpreta os ciclos das grandes civilizações, aquela que veio a ser a mais impressionante obra da história do
século XX: A Study in History (Um Estudo de História).
preponderante para cada ciclo ou civilização. Um ciclo cultural se estabelece em torno de uma
cosmovisão ou visão de mundo que o estrutura e que, segundo Santos (1964), sempre esteve
civilizações em que predominam os valores de uma determinada casta. Cada era também é
cíclica, nasce com a decadência do ciclo anterior, caminha para seu auge por meio de um
certo equilíbrio, para então passar a ser questionada (tal como o paradigma identificado por
Kuhn8) e depois declinar sob a ascensão do ciclo ou era seguinte. Um ciclo pode se desfazer
A formação do mundo egípcio baseava-se numa cosmovisão que tinha, como fulcro
central, a idéia religiosa dos sacerdotes, assim como o mundo hindu se centralizava
nos brâhmanes. Estas concepções de mundo possuem um aspecto genérico, mas
não impedem que outros específicos (que são, de certo modo, divergentes) também
existam.[...] Observando o nosso clico cultural, notamos que ele se forma ao redor
da concepção cristã, opondo-se, quase frontalmente, à concepção greco-romana.
[...] (SANTOS, 1964).
______________
8
THOMAS KUHN – filósofo da ciência que publicou, em 1962, A Estrutura das Revoluções Científicas, onde
propõe a noção de “paradigma” gerando grande repercussão na comunidade científica.
esquema de castas, tem equivalência com as eras ou ciclos cósmicos, presentes tanto na
dividiam o mundo em quatro eras: ouro, prata, bronze e ferro, por ordem descendente. A
cosmovisão e os valores predominantes em cada era ou em cada ciclo eram pertinentes a uma
terceira casta predomina na era do bronze e os valores da quarta casta são predominantes na
era do ferro, fechando o ciclo cósmico, para se iniciar um novo. Um ciclo sempre termina na
era do ferro e com os valores e concepção do mundo da última casta. Não se está afirmando
que os valores das outras castas são “desativados”, mas que aumenta o trabalho de
preservação dos valores mais altos na medida em que o ciclo se aprofunda, enquanto os
grandes religiões lato sensu, Taoísmo, Budismo e Hinduísmo, prevêem a redução constante
decadência também enseja uma ordem hierárquica das eras (iniciam com a Idade do Ouro e
terminam com a Idade do Ferro), que, tal como as castas, também são organizadas
hierarquicamente.
justamente esta relação de depreciação crescente do mundo, com a passagem das eras:
Eis o sonho. Agora vamos à interpretação. [36] Senhor: tu que és o rei dos reis, a
quem o Deus dos céus deu a realeza, poder, força e glória; [37] a quem ele deu o
domínio, onde quer que habitem, sobre os homens, animais terrestres e os pássaros
Andrea de Oliveira Jaques - andrea.jaques@gmail.com – Dezembro/2007
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do céu, tu és a cabeça de ouro. [38] Depois de ti surgirá um outro reino menor que
o teu, depois um terceiro reino, o de bronze, que dominará toda a terra. [39] Um
quarto reino será forte como o ferro: do mesmo modo que o ferro esmaga e tritura
tudo, da mesma maneira ele esmagará e pulverizará todos os outros. [40] (BIBLIA
SAGRADA, Livro de Daniel, cap. 2, versículos 36-40).
redução contínua do sentido da existência humana. Eliade (1996) nos conta que na Índia
prevalece a doutrina dos ciclos cósmicos, onde a menor medida do clico é o yuga, a “idade”.
primordial e paradisíaca. Neste período, os homens são fiéis ao seu dharma9 - a doutrina
______________
9
O conceito hindu de dharma é amplo e possui muitos significados, no entanto, também é compreendido como
lei moral divina ou ordem moral do universo, a qual prevê direitos e deveres de cada indivíduo na sociedade. O
indiano precisa ser fiel ao seu dharma, independentemente de seus status ou condição social, porque ele é
devedor de seus antepassados.
Não há diferença moral entre os homens, de castas diferentes, quando cada um é fiel ao seu dharma.
O indólogo Heinrich Zimmer comenta que “em todo o dharma o Poder sagrado, brahman, está presente”
(Zimmer, 1986, p.127). No Bragavad-Gita (III, 35) consta que: “Mais vale para cada um a sua própria lei de ação
[dharma], mesmo imperfeita, que a lei do outro, mesmo bem aplicada”.
tretâ yuga, que já assinala uma degeneração e no qual, “os modos de ser próprios às quatro
castas começam a ser alterados”. O tretâ yuga é assim chamado por causa do dado de três
pontos, a “tríade”. Segundo Eliade (Op. Cit.), “os humanos seguem apenas os três quartos do
dharma. O trabalho, o sofrimento e a morte são então o apanágio dos homens. O dever não é
dvâpara yuga, a “idade” caracterizada por “dois”. Eliade (1996, p. 60) nos explica que “sobre
kali yuga (época sombria), que na escala de involução do ciclo corresponde à última fase de
No kali yuga, a “idade ruim”, só resta um quarto do dharma. O termo kali significa
o dado marcado por um único ponto, consequentemente o lance que perde [...]; kali
significa também “briga, discórdia”, e, em geral, o pior de um grupo de seres ou de
objetos. O homem e a sociedade alcançam, no kali yuga, seu ponto extremo de
desintegração. (ELIADE, 1996, p. 60.).
dharma, do cumprimento das leis, dos direitos e dos deveres sociais, da ordem moral do
universo. Segundo Nasser, “Quanto mais acima, mais ecumênico. Quanto mais próximos às
castas mais baixas, mais prisioneiros seremos da quantidade. Quanto mais próximos das
castas mais altas, mais sintonizados com a qualidade. O mesmo ocorre com as eras ou ciclos
cósmicos. Na concepção cíclica, as coisas começam bem e vão lentamente piorando até
Idade do Ouro é a idade santificada, as pessoas são espiritualizadas, sabem e temem a Deus e
estão em sintonia com Ele. Na Idade da Prata começa a separação entre o homem e a
divindade. Na Idade do Bronze, o homem está ainda menos espiritualizado, isto é, mais
afastado do divino. Na Idade do Ferro o homem está mais ligado à matéria que ao divino.
Todas as grandes religiões têm este componente escatológico. O kali yuga, “era sombria” do
Convém destacar que, nesta cosmovisão, a hierarquia das eras ou ciclos, tal como
Evola (1995) descreve esta idéia, fazendo uma interpretação do sistema indo-ariano:
Cada casta, portanto, correspondente a uma era e a uma parte do corpo humano, e
a hierarquia das castas e das eras se projeta a partir desse entendimento. A mais antiga das
eras, a Era do Ouro, tem correspondência com a parte mais elevada do corpo humano, que é a
cabeça, onde, tradicionalmente, entende-se que esteja a mente. É o que Evola (1995) descreve
como sendo “a força soberana e a ‘luz’ do organismo inteiro”. A Era de Prata tem
equivalência com região do peito e dos braços. Evola lembra que aqui estão associadas às
funções “reguladas pela vontade, que movimenta e dirige o corpo”. A Era de Bronze
correlaciona-se aos quadris e órgãos sexuais, contendo a “ação reguladora das funções do
Era de Ferro, é correlata às partes mais baixas. Evola explica que aí “no extremo inferior deste
a parte do corpo mais próxima ao plano terreno. No trecho bíblico referente ao sonho de
Nabucodonosor, o ferro já dividia lugar com o barro, ao formar o pé da estátua, dando uma
mundo, do tempo e das civilizações. E cada ciclo sendo representado por uma era ou “idade”,
onde predominam os valores de uma das quatro castas, em ordem descendente. São inúmeras
as representações – eras (ouro, prata, bronze e ferro), corpo humano (cabeça, braços, quadris
e pés), Idade (krta yuga, tretâ yuga, dvâpara yuga, kali yuga) - e os exemplos de civilizações
No contexto da tradição, há uma posição reservada para cada tipo humano dentro
do conjunto, cada homem sabendo quais são os seus deveres, os seus direitos e a sua
contribuição. Cada homem desempenhando uma função social através de sua vocação
ordem moral do Universo, e é chamado de dharma. O homem tradicional precisa ser fiel ao
seu dharma, ou seja, é leal a sua vocação em nome da comunidade, àquilo que ele “tem de
fazer”.
Isso ocorre porque o grupo depende da contribuição individual dos seus membros,
do mesmo modo pelo qual a saúde do corpo humano depende da saúde de seus órgãos.
homem em conjunto com a sociedade, usando o termo “Homem Coletivo”. Para o homem
coletivo, a felicidade individual não é o objetivo final, mas antes de tudo, está a busca da
ordem social e da hierarquia. Cada homem deve contribuir com as funções sociais, mas não a
todo se viabiliza. Para citar um exemplo mais contemporâneo, segundo o filósofo espanhol
Ortega y Gasset (1883 – 1955), ao exercer sua profissão o homem compromete-se a fazer o
que a sociedade necessita. “Terá de renunciar, então, a boa parte de sua liberdade e se verá
sua pessoa, mas do ponto de vista coletivo” (Ortega Y Gasset, 2006, p. 5).
Dumont (1992), “as castas nos ensinam um princípio social fundamental, a hierarquia”.
Propriamente a ordem das coisas sagradas, isto é, dos entes e dos valores supremos.
[...] Genericamente, nos dias de hoje, indica-se com este termo qualquer
ordenamento de valores ou de autoridade: por ex., “a hierarquia dos valores”, “a
hierarquia burocrática”, “a hierarquia de partido”, etc. (ABBAGNANO, 1970,
p.474).
[Do b.-lat. hierarchia, ‘hierarquia eclesiástica’ (< gr. hierós, ‘sagrado’, + gr. arché,
‘comando’, ‘autoridade’, + gr. -ía), retomando a prosódia gr.]. Substantivo
feminino. 1. Ordem e subordinação dos poderes eclesiásticos, civis e militares. 2.
Graduação da autoridade, correspondente às várias categorias de funcionários
públicos; classe. 3. Fig. Série contínua de graus ou escalões, em ordem crescente ou
decrescente; escala: hierarquia de valores. 4. Inform. Na orientação a objetos (q.
v.), organização de classes [v. classe (21)], que indica suas subordinações com
relação à herança (5 e 6). 5. Rel. Ordem e subordinação dos diferentes coros dos
anjos. [Var.: jerarquia.] Hierarquia militar. 1. Ordenação da autoridade, em
diferentes níveis, dentro da estrutura das forças armadas. (FERREIRA, 2004).
princípio, é atribuição de um lugar a cada elemento com relação ao conjunto.” Este “lugar de
______________
10
McKIM MARRIOTT - autor de vários estudos sobre as castas, entre eles: Interactional and Attributional
Theories of Caste Ranking, Caste, Ranking and Community Structure in five Regions of India and Pakistan.
naturalmente atribuem o trabalho ao homem conforme a sua casta, ou seja, a sua posição na
hierarquia social, conforme a natureza de cada indivíduo. Cada casta contendo uma missão ou
da hierarquia social e das atribuições de cada grupo de indivíduos, que confere ao trabalho
Essa idéia não é estranha aos modernos, a professora Lévy-Leboyer (1994) lembra
realidade”:
[...] o simples trabalho profissional, tal como é acessível a cada um, pode
desempenhar o papel atribuído em Candide ao cultivo do nosso jardim, cultivo que
Voltaire nos aconselha tão sabiamente [...]. Nenhuma outra técnica de conduta vital
liga o indivíduo mais solidariamente à realidade, ou pelo menos a esse pedaço de
realidade que constitui a sociedade e à qual uma disposição em demonstrar a
importância do trabalho incorpore fatalmente as pessoas. (FREUD apud LÉVY-
LEBOYER, 1994, p. 20).
O estudioso italiano Julius Evola (1995) fala dos deveres do indivíduo para com
seu grupo social, conforme a casta a que pertence: “As castas, mais do que definir grupos
correspondente” (Evola, 1995). Assim cada indivíduo desempenhava seu trabalho como se ele
atribuído pelo conteúdo das castas, na nova postura de dessacralização do cosmos, o homem
Devemos lembrar que a hierarquia social do esquema de castas era tomada como
verdadeira e real por ser “manifestação do sagrado”. O historiador romeno Mircea Eliade
explica que o mundo sem a presença “do sagrado” é algo recente na história da humanidade.
O homem das sociedades arcaicas tem a tendência para viver o mais possível no
sagrado ou muito perto dos objetos consagrados. Essa tendência é compreensível,
pois para os “primitivos”, como para o homem de todas as sociedades pré-
modernas, o sagrado equivale ao poder e, em última análise, à realidade por
excelência.
[...................................................................................................................................]
É preciso dizer, desde já, que o mundo profano na sua totalidade, o Cosmos
totalmente dessacralizado, é uma descoberta recente na história do espírito humano.
Não é nossa tarefa mostrar mediante quais processos históricos, e em conseqüência
de que modificações do comportamento espiritual, o homem moderno
dessacralizou seu mundo e assumiu uma existência profana. Para o nosso propósito
basta constatar que a dessacralização caracteriza a experiência total do homem não-
religioso das sociedades modernas, o qual, por essa razão, sente uma dificuldade
cada vez maior de reencontrar as dimensões existenciais do homem religioso das
sociedades arcaicas. (ELIADE, 1996, p. 18-19).
nas diferenças ontológicas entre os homens e uma sociedade baseada eminentemente nas
diferenças econômicas entre os homens. No modelo medieval (800 - 1314)11 as castas eram
representadas pelo clero, pela nobreza, pelos artesãos e pelos servos. A partir do
conceito de casta do conceito de classe. Certos autores, entre eles Platão, usam a palavra
casta como sinônimo da palavra classe. Contudo, rigorosamente, não podemos confundir a
que não tem o mesmo significado de casta no sentido tradicional. Casta tem um sentido
Karl Marx12.
______________
11
A delimitação da idade média entre a sagração de Carlos Magno no Natal do ano 800 e a morte dos templários
em 18 de março de 1314 é geralmente aceita pelos estudiosos de “Shopia Perennis”.
12
HEINRICH KARL MARX (1818 – 1883) – escritor e pensador iconoclasta. Seguidor da filosofia hegeliana,
criou o materialismo dialético ou materialismo histórico. Na obra Manisfesto Comunista afirmou: “Toda a
história da Humanidade é a história da luta de classes”. Segundo Marx, a classe que possui os meios de produção
explora a classe que executa o trabalho. A classe explorada, que ele chamou de proletariado, vê-se obrigada a
lutar na oposição, o que comprovaria sua tese da inevitabilidade do advento do socialismo: o socialismo chegará
sem que ninguém faça nada por isso, pois a injustiça que o sistema capitalista representa, obriga o proletariado a
derrotá-lo. Depois do colapso do capitalismo viria, segundo Marx, uma “ditadura do proletariado”. Depois desta,
que seria uma fase de transição, o mundo já não estaria mais dividido entre exploradores e explorados e o
antagonismos das classes desapareceria, inaugurando uma era de irmandade fecunda. Marx ampliou este
conceito na sua obra clássica: O Capital. Os marxistas consideram O Capital como um Testamento Moderno.
Marx chegou a ser considerado o messias dos trabalhadores e o Anti-Cristo. A invocação de seu nome provoca
reações extremas de adulação ou repulsa.
para justificar até mesmo, a preferência pelo termo casta e não classe, no decurso deste
estudo.
avançamos com ela, para advertir quanto à nova conformação no emprego do termo. Diz
Abbagnano (1970):
A noção de Classe sofreu uma forte acentuação no séc. XVIII por obra da
Revolução Francesa e de todo o movimento cultural que a promoveu e a
acompanhou. Em filosofia, porém, ela adquire relevo só por obra de Hegel, que
julgava a divisão das Classes uma articulação necessária da sociedade civil devido
a uma imediata base particular, isto é, ao capital; à aptidão dos indivíduos que é,
por sua vez, em parte, condicionada pelo capital; a circunstâncias contingentes
devidas à diversidade das disposições e das necessidades corporais e espirituais
(Fil. do Dir., § 200). (et seq. ABBAGNANO).
as funções da vida social, e passa a ser usual para apontar a posição econômica das pessoas –
tão forte é o movimento mercantilista em ascensão, que passará a gerir às diversas dimensões
sociais com seus diversos nomes: progresso, mercado, liberalismo, capitalismo, globalização,
em classes econômicas, que são disputadoras da renda econômica. Tudo isso parece
concordar com a própria cosmovisão dos antigos que profetizou, para o final do ciclo, a
Ocidente passam por uma mudança radical, devido as grandes transformações sociais que
imagem que fazia da Terra. A economia é aquecida por novas fontes de matérias-primas e
abalo na autoridade exercida pela Igreja, e por conseqüência, o modelo medieval baseado no
renascentista coloca o homem no centro e como medida das coisas, enfatiza a individualidade,
caracterizado por uma ruptura com a tradição e pela valorização do novo, insiste na
humanização do pensamento filosófico e prima pela materialidade, isto é, por aquilo que é
mensurável, perceptível pelos sentidos. O período é marcado, enfim, por dualismos: antigo
versus novo, fé versus razão, sagrado versus liberdade, espiritualidade versus progresso.
com sua ocupação profissional e social e com a religião se distancia da idéia de vocação, isto
Andrea de Oliveira Jaques - andrea.jaques@gmail.com – Dezembro/2007
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pelas conveniências da técnica. O homem começa a mudar a maneira como via a si mesmo.
Até então, e sobretudo na Idade Média, a visão predominante era a de Deus como o criador e
do homem como a criatura. Com o advento da visão moderna há inversão: O homem alça-se a
próprio a razão de todas as coisas. Para Freud, por exemplo, o conceito de Deus é uma
extensão do conceito psíquico de pai. O homem, pela primeira vez, concebe-se a si mesmo.
Não é mais alguém que, pela sua vocação natural, liga sua vida terrena ao mundo cósmico.
Por conta disso, o homem não se vê mais com obrigação coletiva, mas ao contrário vê-se num
contexto de antagonismos sociais de que a idéia de “luta de classes” é apenas o exemplo mais
óbvio. Em suma, com o advento da era moderna, começaram a surgir teorias que atribuíram
ao ser humano aspectos divinos, independentemente de Deus (“Deus está morto” é a frase
lapidar de Nietzsche).
protestantes negam e rejeitam esta idéia: não seria a Igreja e nem o Estado a autoridade
designada para ser intermediário entre o homem e Deus. Na verdade, não deveria haver
nenhum intermediário. Lutero propõe que cada indivíduo interprete a Bíblia por si mesmo – a
dita “análise livre” das escrituras. Também na religião o indivíduo ganhará mais poder e não
terá que submeter suas opiniões à autoridade clerical, isto é, dispensará a hierarquia natural
dos poderes.
ocorre em todas as áreas e dimensões sociais (religião, literatura, filosofia etc.) e tem suas
na idéia de que o homem é a medida de todas as coisas. A conseqüência disso será a perda da
diferentes níveis de ser, todos unidos em um plano orgânico superior” (Needleman, 1996, p.
16).
mundo que se projeta, tem exemplo nas diferenças entre o “mundo das idéias” de Platão e a
“tabula rasa” de John Locke. Em Platão, as almas humanas provinham do mundo das idéias,
um lugar celeste chamado Topos Uranos. Lá viviam em perfeita contemplação das belezas
imperecíveis e da verdade, sem esforço algum, porque eram parte do mundo cósmico. Ao vir
empirista, a mente humana ao nascer, passou a ser considerada uma “folha de papel branco”,
sem nenhuma idéia. Nesta linha, o inglês John Locke (1632-1704) fundou a escola de
oferece o veículo cultural para esta rebelião contra a “divindade”. Seu conjunto de idéias –
Pelo lado prático, a industrialização e suas máquinas, com formas mais complexas
as concentrações urbanas. O ofício deixa de ser uma função natural do indivíduo enquanto
“homem coletivo”, para ser algo imposto, não culturalmente, mas pela lei econômica, que
muitas vezes é respaldada pelo Estado. Peyrefitte (1999) observa que na Inglaterra, desde o
governo monárquico dos Tudor, já desenvolvia-se uma legislação para o trabalho e que, a
trabalhar concernente a qualquer pessoa entre 12 e 60 anos. Não é o desemprego que é fora da
Smith (Escócia, 1723-1790) em Teoria dos Sentimentos Morais (1759), considerada sua obra
prima e fundadora da sua obra mais conhecida, A Riqueza das Nações (1776), descrevia os
indivíduos com “propensões sociais” por solidariedade, justiça e benevolência, uma visão que
converge com a visão do mundo antigo, na qual, os valores morais teriam natureza ontológica,
isto é, transcenderiam o próprio homem. Peyrefitte (1999) lembra que Smith, na obra, The
Wealth of Nations, afirma que o homem numa sociedade civilizada, precisa todo o momento
homem tem necessidade da ajuda de seus semelhantes.” Por este motivo, e também,
1999, p. 311). Com a publicação de A Riqueza das Nações, Smith contestou o governo
mercantilista e suas leis protecionistas da época. Adam Smith acreditava que os progressos
provinham da divisão do trabalho, que o homem seria determinado a produzir e a trocar e que
a atividade econômica não poderia ser regulada pela atividade política, mas pelos valores
morais. É por nada menos que isso, que Adam Smith é considerado o suposto pai da
A partir do exposto por Adam Smith na Teoria dos Sentimentos Morais, mesmo
esta economia liberal não seria possível sem os valores morais como lealdade, confiança e
honestidade. Este mesmo raciocínio será feito por Max Weber em A Ética Protestante e o
Confiança.
necessários à harmonia social. Santos (1964) comenta que conciliar os interesses individuais
com os interesses coletivos é na verdade, a clássica definição do termo “política” e que isto é
admite que há uma percepção “residual” do homem coletivo, no sentido platônico, ainda
Riqueza das Nações, os valores sociais predominantes são os valores do terceiro estamento
dominante, portanto, era da terceira casta, “a do homem de negócios” segundo Santos (1964),
mundo.
É fácil ver tudo o que separa este modo de ser no mundo da existência de um
homem a-religioso. Há antes de tudo o fato de que o homem a-religioso nega a
transcendência, aceita a relatividade da “realidade”, e chega até a duvida do sentido
da existência. As outras grandes culturas do passado também conheceram homens
a-religiosos [....] Mas foi só nas sociedades européias modernas que o homem a-
religioso se desenvolveu plenamente. O homem moderno a-religoso assume uma
nova situação existencial: reconhece-se como o único sujeito e agente da História e
rejeita todo apelo à transcendência. Em outras palavras, não aceita nenhum modelo
de humanidade fora da condição humana, tal como ela se revela nas diversas
situações históricas. (ELIADE, 1996, p. 165).
absoluto. “O sagrado é o obstáculo por excelência à sua liberdade. O homem só se tornará ele
Karl Marx, que considerava a religião uma alienação e um mito, idealizou uma
sociedade em que o proletariado tomaria o poder e instituiria uma sociedade sem classes.
Segundo Eliade (1996), essa idéia retoma e prolonga um dos grandes mitos escatológicos do
assumem o poder, muito embora o próprio proletariado não seja capaz de fazê-lo por si só,
precisando de um intelectual que o legitime, o caso preciso de Karl Marx, que era pequeno
burguês.
série. Partindo do sagrado para o profano (para usar a linguagem de Eliade), temos um novo
homem e uma nova era, de base econômica e anti-espiritual. Neste “mundo novo”, o conceito
“conteúdo” das castas, que dava aos homens um lugar social, naturalmente determinado, com
força mais de motivação interna. Contudo, essa motivação interna se enfraquece à medida que
(exteriores ao homem).
acessório. A divisão do trabalho aliena o homem da razão de seu esforço. Ambas passam a
constituir uma nova concepção de ocupação social. O trabalho não é mais sagrado. Para
manter o homem no trabalho, produzindo cada vez mais, porém com significado menor, a
sociedade precisa encontrar novos métodos. Esta preocupação gera uma nova área de
Henri Fayol (França, 1841 – 1925), com a publicação do seu General and
organização, direção, coordenação e controle. Apesar da influência de sua visão sobre o que
significa administrar durante o século XX, Fayol focou apenas na estrutura formal da
administração industrial e geral e não acrescentou nada em relação a como eram vistos os
trabalhadores. Mesmo com sua orientação sobre divisão do trabalho, coordenação, relações
parte da infra-estrutura.
trabalho, continuou reforçando a idéia de que o elemento humano não é a “peça mais
na verdade, o que se estudava neste período era o método. O taylorismo ficou conhecido por
dar pouco valor ao elemento humano, sendo este apenas um recurso à produtividade.
Foi com Henry Gantt (EUA, 1861 – 1919), considerado discípulo de Taylor, por
ter trabalhado com ele e se tornado defensor da Administração Científica, que começa a surgir
preocupação com a perspectiva dos trabalhadores. “Tudo o que fizermos deve estar de acordo
Entre 1925 e 1933, Mary Parker Follett vinha afirmando em suas palestras que
produção em massa por meio de forças mecânicas, Follett já defendia maior delegação de
(Goleman, 2007).
críticos sociais combatem à mecanização imposta pelo taylorismo, por entender que as
administração. Se de 1800 a 1920 imperava a visão de que as pessoas eram criaturas racionais
e econômicas que agiam em favor de interesses próprios e que por isso mesmo deveriam
do desempenho no trabalho.
Entre 1927 e 1932, Elton Mayo fez seus primeiros estudos sobre motivação no
potencial, confinando-o a tarefas repetitivas e sem significado porque impostas “de fora”. Não
mantivera com papel primordial durante tantas centenas de anos, e passar a ter de se submeter
a máquina, perdendo seu papel mais importante, justamente num período em que o homem
sentido do trabalho foi perdido, através da crescente obsessão pela eficácia e divisão do
próprio trabalho. Em seu artigo Beyond the surrogate of motivation (Além do sucedâneo da
[
...] o principal argumento deste ensaio vem de uma perspectiva metracrítica
segundo a qual a noção de motivação e as teorias que a ela se referem podem ser
vistas como invenções científicas. A hipótese levantada e trabalhada no artigo
coloca a motivação como um substituto para o próprio sentido do trabalho.
[...................................................................................................................................]
______________
13
BURKARD SIEVERS - Professor de desenvolvimento organizacional Bergische Universität, Wuppertal,
Germany. Artigo publicado na íntegra pela Revista de Administração de Empresa. Disponível em
<http://www.rae.com.br/rae/index.cfm>. Acesso em 22 out. 2007, 20:30:30.
condenado a um trabalho sem sentido, que pode ser compensado com medidas política e
econômica. Como indicado pelos tradicionalistas, há uma promoção dos valores da última
Psicologia, como Abraham Maslow), voltam-se para pesquisar meios de compensar este vazio
conhecido por sua “Hierarquia das Necessidades”, citada pela primeira vez em 1943 no artigo
______________
14
Devemos nos lembrar que todos os sistemas tradicionais humanos são involucionistas. Eliade (1996) destacou
a concepção hindu dos yugas (idades), a qual é representada pelos números 4, 3, 2 e 1, nesta ordem descrescente,
indicando a diminuição progressiva do dharma ou cumprimento dos direitos e deveres sociais. Resulta daí, o
enfraquecimento da visão do mundo sacralizado e com isso, a redução do significado do trabalho e de tudo
aquilo que é de interesse coletivo. Na Idade do Ferro, ou no último dos ciclos culturais, prevalecem valores
individualistas.
preferia dizer, mas logo passou a ser considerada uma importante teoria sobre motivação
Segundo Bowditch & Buono (1992), a teoria de motivação elaborada por Maslow
é uma teoria de motivação de conteúdo estático, pois trata “do conteúdo do que efetivamente
motiva as pessoas”.
Estes modelos também são chamados de estáticos, porque observam apenas um (ou
poucos) ponto(s) no tempo, e assim são orientados para o passado ou para o
presente. Embora essas teorias, portanto, não possam prever necessariamente a
motivação ou o comportamento, elas podem oferecer uma compreensão básica
sobre o que energiza (motiva) os indivíduos. (BOWDITCH & BUONO, 1992, p.
41).
na ordem:
da seguinte forma:
Necessidade de
realização
pessoal
Necessidade do
ego ou da auto-
estima
Necessidades
Sociais
Necessidade de
Segurança
Necessidades
Fisiológicas
A hierarquia das necessidades de Maslow. Adaptado de "A theory of Human Motivation", Psychological Review,
50, nº 4 (1943): 370-96. Fonte: BOWDITCH e BUONO (1992).
satisfação das necessidades humanas, na pirâmide, pode ser lida de baixo para cima.
organizadas em seqüência. Isso significa dizer justamente que uma necessidade predominará
pirâmide, e somente quando esta necessidade for relativamente suprida partirá em busca da
necessidades sociais, as quais têm prioridade sobre as necessidades de estima e, estas, por sua
Essa teoria apresenta a motivação da vida humana com base numa configuração de
necessidades que se organizam em uma certa ordem e que, à medida que vão sendo
resolvidas a um grau satisfatório para o indivíduo, permitem que outras
necessidades mais elevadas possam ir se expressando e, por sua vez, motivando
diferentes tipos de comportamento, na busca de resolução. (GUENTHER, 1997, p.
207).
por satisfazer aquelas que ainda não alcançou. Uma necessidade de ordem superior surge
somente quando a de ordem inferior for relativamente satisfeita, e sempre quando uma
necessidade é satisfeita, surgirá outra em seu lugar. Douglas Mcgregor (1992)15, ao resumir a
Eis aí um fato de profunda significação.” (Op. Cit., p. 44). Em outras palavras, uma
necessidade satisfeita não é motivadora e que, ao se sentir satisfeito, o homem dará ênfase
homem segundo Maslow”, por meio do qual pretende ilustrar que as necessidades devem ser
satisfeitas simultaneamente, ou seja, “em cada estágio haverá ênfase em uma das
______________
15
DOUGLAS MCGREGOR (1906 - 1964) autor da Teoria X e da Teoria Y, em seu Livro The Human Side of
Enterprise, resumiu a teoria de Maslow, apresentando seus conceitos principais.
Andrea de Oliveira Jaques - andrea.jaques@gmail.com – Dezembro/2007
51
Escala das necessidades básicas do homem segundo Maslow. Fonte: CAMPOS, Vicente Falconi. “TQC:
controle da qualidade total: no estilo japonês”. 2 ed. Belo Horizonte: Fundação Christiano Ottoni, 1992, p. 154.
nível de necessidade fisiológica, pode concentrar 50% do seu tempo e energia na busca do
alívio desta privação, e as outras necessidades de níveis superiores estarão distribuídas nos
outros 50% de tempo e energia: 25% para necessidades de segurança (nível imediatamente
necessidades de auto-realização.
Stoltz (2000):
hierarquia:
tido como um grupo à parte dos níveis anteriores, por consistir em necessidades de
cognition, originalmente cognição B, que com a tradução para o português tornou-se cognição
Maslow não trata explicitamente dos valores D, embora discuta com detalhes os
valores S. Ele sentia que existem certos valores intrínsecos a todo o indivíduo.
Maslow argumenta que: “os valores supremos (existem) na própria natureza
humana, onde devem ser descobertos. Isto está em contradição frontal com as
crenças mais antigas e habituais, segundo as quais os valores supremos provêm
unicamente de um Deus sobrenatural ou alguma outra fonte alheia à própria
natureza humana”. (MASLOW, 1968, p. 204 apud FADIMAN & FRAGER, 1986,
p. 270).
Neste grupo, estão agrupadas as necessidades por déficit ou por deficiência, isto é,
aquilo que falta e que precisa ser reposto. São todas as carências do organismo humano e,
para as quais, o indivíduo irá buscar alívio. Se as necessidades básicas não foram satisfeitas,
[...] Mas esta vida superior se baseia na satisfação das necessidades básicas em
níveis mais baixos; por exemplo, necessidades de segurança, que agora são
satisfeitas; necessidades de pertencer, que agora são satisfeitas; e assim por diante.
Mas supondo que a satisfação das necessidades básicas fosse removida, ameaçada
ou não completada, a elevada superestrutura da psicologia da saúde (eupsychology)
entraria em colapso. (MASLOW, 2001, p. 54).
preponderantes de todas as necessidades humanas. Por este motivo, são representadas no nível
- exercício físico;
- sexo;
Quando um indivíduo está com fome, todas as suas capacidades são empregadas a
serviço da satisfação da fome; a organização dessas capacidades é quase que
totalmente determinada pelo objetivo de satisfazer a fome. Nessas circunstâncias,
os receptores e efetores, a inteligência, a memória e os hábitos podem ser definidos
simplesmente como instrumentos de gratificação da fome. As capacidades que não
são úteis para esse objetivo permanecem inativas e todos os desejos e interesses são
esquecidos ou colocados em plano secundário. (AGUIAR, 1992, p. 258).
Segundo Mcgregor (1992, p. 43): “Só de pão vive o homem, quando não há pão.
reconhecimento são inoperantes quando seu estômago está vazio há algum tempo”. Entende-
se, portanto, que somente com a satisfação das necessidades fisiológicas, o indivíduo estará
Segundo a autora:
Neste sentido, Stoltz (2000) afirma que as necessidades de segurança nos adultos
“estão presentes na preferência por um trabalho estável e seguro”. Para Mcgregor (1992) as
perigo, ameaça e privação e que podem também ser chamadas de necessidades de garantia.
sentirá ansiedade ou medo quanto ao seu bem-estar físico. Caso contrário sentir-se-á
perturbado e a segurança será o objetivo principal de sua vida. Mcgregor (1992, p. 45) alerta
pertencer:
Goleman (2007, p. 03) descreve as necessidades sociais como tendo relação com a
formação de grupos de trabalho: “a maioria dos seres humanos precisa pertencer a algum
lugar e ser aceita pelos demais. Eles são essencialmente seres sociais e, portanto, procuram
pessoa necessita para manter seu organismo físico, psicológico e social funcionando”
(Guenther, 1997). E estas estariam representadas pelos três primeiros níveis da pirâmide de
plano externo, referente a percepção que os outros tem do indivíduo, sendo reputação,
algumas sociedades elas podem ser significativas, devido à precariedade de condições para se
segurança e sociais).
[...] no diz respeito à necessidade de auto-estima. (Na verdade, isto não acontece
com muita freqüência em nossa sociedade, a maioria das pessoas, em níveis
inconscientes, não têm sentimentos de amor próprio, respeito próprio suficiente.
Mas, de qualquer forma, o cidadão americano está em uma situação muito melhor,
digamos, do que o cidadão mexicano, por exemplo). (MASLOW, 2001, p. 23).
básicas, por não estarem ligadas a déficit ou privação. Neste nível de necessidades do Ser
(cognição S), a pessoa não está passando nenhuma privação ou déficit, o estímulo para a
topo da pirâmide”, o último nível a ser alcançado. Segundo Maslow, as necessidades básicas
auto-realização.
Levando esses dados em conta, podemos resolver muitos problemas de valor com
que os filósofos se debateram infrutiferamente durante séculos. Para começar, é
como se aparentemente existisse um único valor básico para a humanidade,
um objetivo que todos os homens se esforçam para alcançar. A esse valor são
dados vários nomes, por diferentes autores – individuação, auto-realização,
integração, saúde psicológica, autonomia, criatividade, produtividade – mas todos
eles concordam em que isso equivale à realização de potencialidades da pessoa,
quer dizer, à conversão da pessoa à sua plenitude humana, tudo aquilo que ela pode
vir a ser. (MASLOW, s/d, p. 185, grifo meu).
na espécie humana e precisam ser satisfeitas, pois delas dependem a saúde física e psíquica.
Uma vez contentadas as necessidades básicas, o homem estaria preparado para buscar a auto-
Fadiman & Frager (1986), “Maslow definiu vagamente auto-atualização como o uso e a
assim como de construir um sistema de valores”. Mcgregor (1992, p. 46) as coloca como
Andrea de Oliveira Jaques - andrea.jaques@gmail.com – Dezembro/2007
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continuamente, de ser criativo no sentido mais amplo do termo”. Podemos considerá-la como
Fadiman & Frager (1986, p. 263) explicam que Maslow tinha dois critérios para
incluir pessoas em seu estudo inicial sobre auto-atualização. Primeiro, ele queria sujeitos
estudadas usavam da melhor forma possível seus talentos, capacidades e outras forças. O
grupo de pessoas estudadas por Maslow, incluía nove personagens históricas e nove
contemporâneas, entre elas: Abraham Lincoln, Thomas Jefferson, Albert Einstein, Eleanor
Roosevelt, Jane Adams, William James, Albert Schweitzer, Aldous Huxley e Baruch Spinoza.
biopsicossocial. O homem deixa de ser visto como dominado por impulsos destrutivos,
sexuais e agressivos, por traumas do seu passado, deixa de ser um mero animal condicionado,
um respondente mecânico de estímulos e passa a ser um “homem que realiza-se a medida que
Hamel (2007) comentou: “[...] não existe estrutura que se tenha se infiltrado tão amplamente
na vida organizacional quanto a hierarquia das necessidades de Maslow. Talvez por que ela
toque diretamente nas aspirações que temos em relação a nós mesmos”.” (HAMEL apud
Bergamini (1990, p. 114) aponta que houve entendimento equivocado dentro das
organizações sobre as teorias de motivação, entre elas a teoria de Maslow. O resultado disso
comportamento humano”.
Isso pode ter se agravado pelo fato de a pirâmide de Maslow não ter sido
parte de seu autor e seguidores, o interesse de descrever sua aplicação prática. Outrossim, a
tarefa de teste empírico de uma teoria como a da Hierarquia das Necessidades só poderia ser
Segundo Bowditch & Buono (1992), o principal valor da teoria da Hierarquia das
para motivar o comportamento. No entanto, há poucas provas que sustentem o conceito de tal
progressão de necessidades.
Maslow desenvolveu este modelo através do raciocínio dedutivo, com base em seus
estudos clínicos. O modelo é conceitualmente simples e tem validade nominal. Há
poucas provas, entretanto, que sustentem o conceito de progressão
hierárquica. Embora pesquisas empíricas transversais do modelo sugiram
enfaticamente que os níveis da hierarquia efetivamente existem, a progressão ao
longo da mesma, de um estágio a outro, não é claramente sustentada por estudos
longitudinais. Além disso, pesquisas têm suscitado questões sobre até que ponto:
(1) necessidades altamente satisfeitas deixam de ser motivadores; (2) uma
necessidade altamente satisfeita num nível leva a necessidades cada vez mais
salientes no nível seguinte; e (3) as pessoas podem ser motivadas simultaneamente
por necessidades sociais, do ego e de realização pessoal. De fato, não há uma
verificação empírica adequada na estrutura da hierarquia das necessidades.
(BOWDITCH & BUONO, 1992, p. 41-42, grifo meu).
Guenther (1997) explica que para se atingir o pólo superior das necessidades, que
são as necessidades mais elevadas do ser humano, a idéia de Maslow era de que as
necessidades dos níveis inferiores precisam ser pelo menos parcialmente resolvidas. No
entanto, isso não se comprovou nos níveis acima das necessidades básicas.
ponto que suscita mais críticas à teoria. Os autores Fiorelli, Malhadas & Moraes (2004, p.
145) acrescentam: “como não se sabe bem a que esse nível representa ou significa e como
será atingido, a teoria torna-se uma verdade sempre à espera de comprovação. Aliás, não se
todas elas, de alguma forma, influenciaram grande parte daquilo que se acreditou em termos
motivacionais dentro das empresas, como Sievers (1990) denuncia, tem sido como
Além disso, estudos de motivação, como os de Maslow, estão sendo “encarados” como uma
“atividade científica”, e assim, se justifica sua utilização em larga escala, como “substituto do
(Siervers, 1990).
261), as críticas à teoria de Maslow têm sido fundamentadas no fato de que há poucos estudos
hierárquica proposta pela teoria, a qual não se sustenta, como apresentada por muito autores
que ajudaram a divulgar os trabalhos de Maslow. Os autores Fadiman & Frager (1986, p. 276)
‘explanatório’ seria o termo mais adequado” e que o próprio Maslow reconheceu isto.
terceira força, surgida em 1960. Suas idéias tiveram larga aplicação na psicologia social, na
outras duas, uma nova alternativa, uma terceira opção, por isso, chamada também de terceira
Segundo os autores Fadiman & Frager (1986), Maslow achava que o sistema
psicanalítico era muito insatisfatório enquanto psicologia geral. “Para simplicar a questão é
como se Freud nos tivesse fornecido a metade doente da psicologia e nós devêssemos
preencher agora a outra metade sadia” (Maslow, 1968, apud Fadiman & Frager, 1986, p.
261). Diferenciando-se da linha psicanalítica, a psicologia humanista não deu prioridade aos
Fadiman & Frager (Op. Cit.) contam ainda que Maslow também estudou a
psicologia da Gestalt. Dedicou seu livro “A Introdução à Psicologia do Ser” à Kurt Goldstein.
Então, surge uma psicologia de “terceira força” que com a visão humanista de
Maslow procurou preencher as lacunas deixadas pela psicanálise e pela Gestalt. A linha
humanista propõe colocar a pessoa humana no centro, propõe estudar pessoas saudáveis e de
forma holística. Stoltz (2000) afirma que “é a normalidade e a saúde que interessam sobretudo
indivíduo, mas também pelos grupos, e a dedicar-se às pessoas saudáveis, tal como os
estudantes e trabalhadores normais. Nunca o contexto social e econômico esteve tão favorável
a este tipo de estudo. Neste cenário, Abraham Maslow foi um dos psicólogos mais
destacados. Antes mesmo de comprovar empiricamente sua teoria sobre motivação humana,
Segundo os autores Fadiman & Frager (1986), o interesse de Maslow por negócios e pela
administrativa.
Maslow também idealizou uma sociedade ideal e para ela inventou o termo
“eupsiquia” (como alternativa para utopia). A sua sociedade ideal seria constituída de
Como explicam Fadiman & Frager (1986), Maslow admitia que as necessidades
das pessoas são satisfeitas por intermédio da sociedade e que a cultura é indispensável para a
conceito de sinergia. O termo foi usado originalmente pela antropóloga Ruth Benedict,
sociedade16.
Assim, a principal função de uma cultura saudável deve ser a promoção da auto-
realização ou individuação universal. Aqui entra o relacionamento sinérgico, onde
os interesses da pessoa são compatíveis com os interesses fundamentais da
sociedade e vice-versa. (Stoltz, 2000).
identificação do indivíduo com os outros. A alta sinergia significaria que o sucesso do grupo é
entre os indivíduos.
______________
16
Note-se que o conceito de sinergia de Ruth Benedict, emprestado de Franz Boas, é de natureza igualitarista, o
que o distancia da idéia de interesse coletivo contida nas castas, onde são as diferenças que formam sinergia e
não as igualdades.
Sobre o homem e a sua motivação para trabalho, Maslow escreveu em seu diário
Nesta mesma obra, Maslow no gerenciamento (2001), consta que ao fazer análise
Likert, Mcgregor, Argyris, et al., todos eles seus contemporâneos - Maslow pontua o quesito
“Todos os serem humanos preferem trabalho com significado a trabalho sem significado” e
da Hierarquia de Necessidades, uma vez que a satisfação de necessidades básicas deixa de ser
suficiente se o trabalho não tiver sentido. O mesmo ocorre com a aplicação de conceitos
Uma das críticas à Psicologia Humanista é expressa sob a queixa de que os estudos
e colocações centrais da linha humanista abordam conglomerados de temas amplos
Para Guenther (1997) isso ocorre porque a psicologia humanista não foi
Ela é na história da psicologia, a primeira tentativa de se pensar o ser humano em toda a sua
Junto com o movimento “New Age” nos Estados Unidos dos anos 60, as
como representantes principais Anthony Sutich, Carl Rogers, Erich Fromm, Roberto
humanista, teve como principais representantes Stanislav Grof e Ken Wilber. Anthony Sutich
teria estabelecido o elo entre os dois movimentos. James Fadiman fundou a Associação de
detalhada, houve outras teorias motivacionais elaboradas mais ou menos na mesma época
Maslow, o modelo de David McClelland, entre outros), que não são objeto deste estudo.
castas estão presentes em todas as sociedades humanas, pois são necessários ontologicamente.
Estamos debatendo as castas do modelo hindu, para efeito de pesquisa e praticidade, e não por
falta de outros exemplos. Afinal, um estudo aprofundado das castas nas diversas concepções
históricas seria necessariamente exaustivo e fugiria ao escopo deste trabalho. Não nos cabe,
tampouco, discutir o tema social da Índia, pois o sistema social e econômico, bem como o
código civil, não é necessariamente reflexo das condições naturais de um certo povo. Mesmo
na Índia, desde sua independência do Reino Unido em 1947, foram extintos todos os
dispositivos legais associados às castas, o que não significou que elas deixaram de existir.
Cabe comentar, também, que o modelo social indiano sempre foi pouco
como um modelo de privilégios e de exclusão social, uma vez que se mostra incapaz de se
estudo sobre as castas, começa a introdução do seu livro Homo Hierarchicus, admitindo esta
dificuldade: “Nosso sistema social e o de castas são tão opostos em sua ideologia central, que
sem dúvida um leitor moderno raramente está disposto a dedicar ao estudo da casta toda sua
17
atenção” . E prossegue afirmando que, para a antropologia social, só haveria interesse
especial pelo assunto, se realmente se tratasse de uma sociedade humana muito diferente da
nossa, algo novo. Razão pela qual há tais trabalhos de pesquisa acadêmicos. A exemplo do
antropólogo francês, é válido esclarecer que o presente estudo não vai analisar os ideais
modernos à luz do sistema de castas hindu, mas procurar o “tesouro ontológico” que estes
______________
17
LOUIS DUMONT (1911 – 1998). Original:“Homo hierarchicus: le systeme des castes et ses implications”,
1992 (2 ed. 1997), Éditions Gallimard.
de castas, e exatamente devido a esta imensa dificuldade, concentramos nosso estudo somente
explicitamente.
obrigações e valores. Cada ser humano que está cumprindo sua obrigação existencial pertence
cujo significado é “cor”. O termo casta foi incorporado do português para todas as outras
línguas modernas, significando a mesma coisa que para os hindus significa varna.
intelectuais em geral. “A primeira casta lida com a esfera da inteligência: símbolos, idéias e
crenças; é habitada por todos aqueles incumbidos do guiamento espiritual, moral e intelectual.
Esta casta teria saído dos lábios de Brama.” (Nasser, 2003, p. 32). O Brâhmane tem a
responsabilidade de educar os outros, ele veio ao mundo para escrever o enredo da vida das
outras pessoas. A mais alta das castas tem a capacidade de influenciar todos os tipos humanos,
filosofia, as ciências, as práticas religiosas, etc. Segundo Nasser (Ad tempora) “o Brâhmane
veio ao mundo para escrever o enredo da vida das outras pessoas. Ele não quer submeter-se,
não quer acumular coisas nem poder público. O que é real está além do mundo físico, isto é,
não está neste mundo, mas naquilo que o transcende.” A autoridade moral é a maneira pela
áreas ocupadas pela casta brahmânica, embora não seja regra, porque vivemos numa
sociedade de classes e não de castas. Numa sociedade de classes, uma pessoa que tenha esta
ou aquela profissão não pode ser classificada, apenas, por este motivo em nenhuma das quatro
castas. Mas, devido a sua natureza contemplativa, espiritual e intelectual e a sua autoridade
visionários em geral.
o termo Kshatriya é “guerreiro”, que na sua forma mais moderna, pode-se traduzir por
O Kshatriya – o tipo “cavaleiresco” – tem uma inteligência aguda, mas voltada para
a ação e para a análise mais que para a contemplação e a síntese; sua força reside
sobretudo em seu caráter; ele compensa a agressividade de sua energia por sua
generosidade, e sua natureza passional por sua nobreza, seu autodomínio, sua
grandeza de alma; para este tipo humano, é o ato que é “real”, pois é o ato que
determina, modifica, ordena as coisas; sem o ato, não há nem virtude, nem honra,
nem glória. Dito de outro modo, o kshatriya “crê” mais na eficácia do ato que na
fatalidade de uma dada situação: ele despreza a servidão aos fatos e só pensa em
determinar-lhes a ordem, em clarificar um caos, em cortar nós górdios. (SCHUON,
2002, p. 25).
ponto de vista das regras de convívio. É por este motivo que eles são atraídos para o comando
militar, para as esferas jurídicas, para o poder político. O Kshatriya quer manter a lei e a
ordem, ele conhece as normas, ele cria as normas. “A segunda casta lida com a esfera de
vontade, mando e obediência; é habitada por todos os que possuem poder político e militar.
Esta casta teria saído dos braços de Brama.” (NASSER, 2003, p. 32).
Movido pelo desejo de ação, o Kshatriya acredita que pode comandar os outros,
mesmo de modo imoral – caso dos kshatriyas criminosos armados em geral, que são os
braços que empunham a espada. Ele carrega a arma física e a arma da lei e, é neste sentido
que ele pretende liderar. Para o Kshatriya, os outros vão lhe obedecer de acordo com seu
potencial de violência. Ele age impelido por um senso de superioridade. Isso é absolutamente
natural para ele e é assim que ele interfere no mundo. Um exemplo da natureza do Kshatryia é
necessidade; é habitada por todos aqueles ligados à organização da economia. Esta casta teria
saído das pernas de Brama.”, no sentido simbólico, de que é por meio dela que a humanidade
O Vaishya tem espírito empreendedor, uma mentalidade inata para gerar riquezas
material. Ao contrário do Shudra, o Vaishya não espera pelas decisões dos outros, ele acredita
Quando a maioria das pessoas pensa em empreendedor, não pensa na quarta casta,
mas na terceira: a dos indivíduos que não aceitam que outra pessoa escreva o
roteiro de sua vida e produzem ações econômicas voltadas para a satisfação dos
seus próprios desejos e necessidades. É justamente esta casta que é merecidamente
louvada como renovadora da vitalidade econômica. (NASSER, 2003, p. 34).
O Vaishya cobiça o que é material. Por acreditar que interfere no mundo a partir
do que tem ou do que produz, motiva-se pelo desejo de ter e age de acordo com este desejo.
A quarta casta composta pelos Shudras (leia-se sudras) constitui o grupo humano
mais numeroso. Esta casta é a garantia de base da sociedade. O termo Shudra significa
“servo” ou “criado”, que adequado aos tempos modernos e contemporâneos, quer dizer,
“empregado”. É importante distinguir que o termo “empregado” não tem relação alguma com
psicológico e espiritual. Ele acredita que o ato de obedecer a alguém lhe permite cobrar
Ele se deixa mandar por conveniência. Sua missão no mundo é servir, obedecer e fazer o que
os outros programam para a sua própria vida. Ele é diligente nesta missão, porque ele acredita
que o outro pode lhe compensar com segurança. O Shudra troca submissão por proteção. É a
sua índole. Na sua forma superior, vê como uma grande honra servir os outros com lealdade,
[...] é muito passivo diante da matéria para poder se governar a si mesmo, ele
depende, por conseqüência, de um querer outro que não o seu; sua virtude é a
fidelidade, ou uma espécie de retidão maciça, opaca, sem dúvida, mas simples e
inteligível. (SCHUON, 2002, p. 27).
Em outras palavras, o objetivo central da vida do Shudra é manter seu corpo vivo,
o seu e dos seus familiares. Na sua lógica de Shudra, o que “existe” é o seu corpo. Ele precisa
de emprego para sustentar-se. Precisa de proteção para manter-se. Só o corpo é real, as outras
coisas todas vêm depois. As necessidades vitais precisam ser satisfeitas e tornam-se o objetivo
da vida do Shudra. Qualquer idéia diferente desta é estranha, “em sua perspectiva inata, em
seu “coração”, tudo o que está fora das satisfações corporais aparece como um “luxo” ou
mesmo uma “ilusão”, ou em todo caso como algo que se situa “à parte” do que sua
imaginação toma como realidade; é a satisfação das necessidades vitais imediatas” (Schuon,
2002, p. 27).
Segundo Nasser (2003, p. 33), “a quarta casta lida com a esfera do hábito ou da
ação sobre a matéria; é habitada por todos os ligados a trabalhos auxiliares e braçais. Esta
casta teria saído dos pés de Brama”. Para o Shudra, executar trabalhos manuais ou manipular
verdadeiro trabalhador ou operário, com o desejo de ter emprego, de ter alguém ou uma
organização, disposta a lhe oferecer garantia e condições de manter seu corpo vivo e em
segurança. Em troca disso, oferece pacificamente sua mão de obra e sua lealdade.
seres humanos, logo, de uma hierarquia. Não há dúvida, de que os homens são iguais, do
ponto de vista da imortalidade da alma e das expectativas morais, mas cada categoria humana
seguido pelos Vaishyas. Estes três primeiros são dvija, “duas-vezes-nascidos” ou “renascidos”
porque participam do ritual do nascimento espiritual, quando têm idade para compreendê-lo.
A última casta, não menos importante, é a dos Shudras, cujos membros não “renascem”
As castas ativas (dvijas) definem-se pelo tipo de poder que têm, ou seja, por seu
meio da ação sobre a realidade. O indólogo Heinrich Zimmer nos dá o exemplo da Índia:
[...] é bom ter em mente que na Índia, o Poder sagrado sempre foi levado a sério.
Os brâmanes, capazes de controlá-lo e usá-lo por meio de suas fórmulas mágicas,
eram conselheiros e assistentes indispensáveis aos reis: o Poder sagrado podia ser
uma arma secreta em suas mãos. [...] Sabiam que o poder vence e que a força é o
direito. Mas, conforme sua concepção, há muitas espécies de poder, e o mais forte é
o Poder sagrado. Este, além disso, também é “justo”, porque é nada menos que a
essência e manifestação da própria Verdade. (ZIMMER, 1986, p. 133).
Dumont (1992, p. 120) explica que “a última categoria, a dos Shudras, se opõe ao
bloco das três primeiras, cujos membros são ‘duas-vezes-nascidos’ [...]. Esses duas-vezes-
nascidos, por sua vez, se dividem em dois: os Vaishyas se opõem ao bloco formado pelos
Kshatriyas e pelos Brâhmanes, que se dividem também em dois”, e também segundo Dumont,
outras castas.
potencial da violência, uma vez que, para eles, ameaçar e ser ameaçado é
natural e simples.
no qual podemos visualizar que a primeira casta lidera todas as outras, a segunda lidera as
duas castas que lhe estão abaixo, a terceira lidera a quarta, que não lidera ninguém. Neste
Hierarquia das Quatro Castas. DMTERKO, Henrique. Fonte: Tríade Editora, 2007.
A terceira casta conhece bem a psicologia da quarta casta. O Vaishya sabe o que o
Shudra quer e compreende a sua forma de interagir com o mundo. Por possuírem uma
natureza mais ativa, os Vaishyas empregam e se sentem responsáveis pelos Shudras. Mas o
Shudra, pertencente a uma casta inferior e não sendo renascido, não tem a aptidão de
compreender a psicologia dos demais. Nasser nos explica que “O Shudra sempre vê no patrão
certo mistério. Acha suas decisões misteriosas, impenetráveis. Não é capaz de compreendê-
las, pois não manipula o mesmo conjunto de variáveis de seu líder” (NASSER, 2006, Ad.
tempora).
Assim como a terceira casta conhece bem a psicologia da quarta, a segunda casta
compreende bem a terceira e quarta castas. O Kshatriya, arguto em sua inteligência, tem a
psicologia do governante, que conhece seus súditos e eleitores. Ele sabe que poderá liderar
Vaishyas e Shudras e o fará com a firmeza de propósito e de mando que lhe é peculiar. Mas a
segunda casta não é capaz de compreender a primeira que lhe está acima. O Kshatriya
poderoso para interferir no mundo, organizando-o através das leis e das armas, da força legal
e militar, com vocação para ocupar o governo de toda e qualquer sociedade humana, na forma
general, etc., mesmo assim, não consegue compreender a psicologia da casta brahmânica e
O inferior não somente não tem a mentalidade do superior, mas não pode mesmo
concebê-la exatamente; assim, poucas coisas são mais penosas que as
interpretações “psicológicas” que atribuem ao homem superior intenções que ele
não pode ter em nenhum caso, e que não fazem senão refletir a pequenez de seus
autores, como pode-se constatar à saciedade na “crítica histórica” ou na “ciência
das religiões”, homens cuja alma é fragmentária e opaca querem nos ensinar sobre
a psicologia da grandeza e do sagrado. (SCHUON, 2002, p. 31).
Kshatriyas, Vaishyas e Shudras) refere-se ao esquema hindu, escolhido para este estudo
termos para a mesma classificação. Como já mencionado por Evola (1995, p. 86-100), os
persas se referiam às castas como pishtra, e, da primeira para a quarta, diziam: atrevas,
chamadas:
3ª casta: artesãos;
1ª casta: Os que pensam “o” negócio e avistando trinta anos à frente de seu tempo
(o conselho de administração);
2ª casta: Os que cuidam dos resultados globais “dos” negócios (a alta gestão);
observar, ali organizadas, algumas das características marcantes das castas. Na coluna “Quem
são” (2ª coluna da esquerda para a direita) vemos algumas das ocupações profissionais mais
as castas não têm nenhuma relação com o contrato de trabalho formal, elas são espirituais e
ontológicas e não formadas por uma relação profissional no sentido jurídico da palavra.
Cada casta representa uma obrigação moral, um projeto de vida que transcende a
própria existência social. Todas as castas têm uma missão social inerente à sua vocação
empresário, espera-se que seja honesto e corajoso. Do governante espera-se que seja
Cada casta tem a sua maneira peculiar de perceber o mundo, uma maneira única
de interpretar o que é real, tem sua busca própria, tem sua esfera de atuação e seu meio de
ação. No tabela “Ontologia das Castas” (acima apresentada) observamos que a esfera de
caso da segunda casta temos a esfera da “Vontade” por meio da “Força Física”. A terceira
Como sabemos que há sempre a presença dos quatro estamentos em toda sociedade,
porque têm eles raízes mais profundas no temperamento humano, houve sempre
quem contribuísse para um facto histórico com apetites distintos, com intenções
diversas. Quatro homens podem entregar-se a realização de uma mesma obra,
movidos por interesses diversos. Quatro homens constróem uma escola. Um deles
vê, nela, principalmente o templo elementar do saber, o primeiro degrau do
conhecimento religioso, o caminho aberto a elevação dos jovens, é o homem
virtuoso, o homem religioso; outro considera a elevação do conhecimento para
tornar os homens mais valiosos, mais construtivos e empreendedores, é o
aristocrata; outro visualiza uma empresa econômica, uma obra que dará um ganho,
um lucro, é o construtor, o empresário utilitário; outro, enfim, vê nela,
principalmente, um ganha-pão, um emprego que lhe assegure meios necessários à
sobrevivência, é o servidor, o trabalhador, o pedreiro, o servente. (SANTOS, 1964,
grifo meu).
(384-322 a.C), já o havia intuído. “Os homens, segundo Aristóteles, escolhem quatro formas
(Pichler, 2004, p. 59), que nada mais são que as castas na ordem inversa.
Em sua obra A Política, No “livro I”, Aristóteles, fala da quarta casta, a casta
servidora. Na sua época, a escravidão era tida como socialmente natural e aceitável, o filósofo
jamais se opôs a ela. No entanto, Aristóteles distinguia o escravo natural do escravo forçado a
ser escravo e, este último caso para ele era condenável. É ao descrever o escravo natural, que
“sempre que igualmente pareça útil e justo para alguém ser escravo, para outrem mandar; pois
é preciso que aquele obedeça e este ordene, segundo o seu direito natural, isto é, com uma
autoridade absoluta.” (Aristóteles apud Chaves, Capítulo 2, 20). E fala da relação entre eles,
como sendo de interesse comum. Com esta relação útil de “amizade recíproca” o filósofo quer
dizer que aqueles que demonstram inferioridade devem ser escravos dos outros.
Ora, tal sendo em relação ao corpo, mais justa será essa distinção no que se refere à
alma, mas é tão fácil ver a beleza da alma como se vê a do corpo. Assim, dos
homens, uns são livres, outros escravos; e para ele é útil e justo viver a servidão.
(ARISTÓTELES apud CHAVES, Capítulo 2, 14-15).
Nesta ordem de idéias, aceita-se que há diferença entre os homens que mandam e
os homens que obedecem e que esta diferença em nada é imoral, na verdade, é natural, faz
indivíduo assim procede, contribui para manter um sistema social orgânico onde todos os
indivíduos podem encontrar a sua verdadeira natureza. O pária é aquele que não faz este papel
social. Nas sociedades organizadas em castas, o pária é o que recebe esta classificação por
tem o potencial para uma determinada casta, mas se recusa a oferecer o sacrifício necessário
para tal. O pária não assume responsabilidade, é leviano, não quer cumprir a missão de sua
vida”.
“O homem ‘fora das castas’ se opõe, por seu caráter caótico, aos homens de
como moral e ritual.” (Schuon, 2002). E o pária comprova que a casta pode ser perdida ou
rejeitada. Por este motivo, por muito tempo, os párias sempre estiveram na margem da
sociedade indiana.
[...] o pária, e sejam quais forem sua origem étnica e sua ambiência cultural,
constitui um tipo definido que vive normalmente à margem da sociedade e esgota
as possibilidades nas quais nenhum outro quer tocar; ele tem comumente algo de
ambíguo, de desiquilibrado, por vezes de simiesco e de protéico quando tem dons,
o que o torna capaz de “tudo e de nada”, se assim podemos dizer; pode ser visto
frequentemente como limpa-fossas, saltimbanco, comediante, carrasco, sem falar
das ocupações ilícitas; em uma palavra ele tem tendência seja a exercer as
atividades bizarras ou sinistras, seja simplesmente a negligenciar as regras
estabelecidas [...]. (SCHUON, 2002, p. 28-29).
3 ANÁLISE
Necessidades Humanas de Abraham Maslow e a teoria das Quatro Castas, representada aqui
Para a quarta casta o que é mais importante no mundo está ligado à satisfação do corpo. No
Para Maslow (1943), “as necessidades fisiológicas são as mais preponderantes de todas as
água, alimentação, sexo, repouso etc; são necessidades vitais, ou seja, que mantém o
organismo vivo, em estado de saúde e bem estar, livre de doenças físicas e até psíquicas.
Segundo Nasser (2006, Ad tempora), é próprio da quarta casta buscar manter seu corpo vivo,
porque esta é a única coisa que “é real”. Schuon (2002), na sua definição do Shudra, faz
fisiológicas, faz todo o sentido, porque ali está, em outras palavras, a maior parte de sua
“realidade”.
Shudra, parece também ser de grande relevância. Segundo Stoltz (2000) as necessidades de
Ora, isso é muito próprio da quarta casta. O Shudra tem como objetivo de vida
buscar segurança e proteção do seu corpo, e em troca disso, é fiel e servidor. Mcgregor
sabedoria antiga, o homem da quarta casta não se auto-organiza, logo, precisa estar em
ambiente protegido e esta proteção pode vir de seus líderes e/ou da sensação psicológica
confortadora da política de planos de cargos e salários, por exemplo. A sua natureza passiva
faz com que o Shudra acredite que obedecer e não fazer nada de errado seja bom, e que isso
poderá lhe garantir a proteção de seu corpo e a manutenção de seu emprego. Ele troca
lealdade, pontualidade e dedicação ao trabalho, para ter essa certeza, ou essa garantia, de
antiga admite a comparação das castas com as fases da vida humana. Todos os seres humanos
têm o potencial de cada uma das quatro castas dentro de si, embora seja apenas uma delas
pertencente à quarta casta, porque precisa ser obediente para obter proteção. Está sob o
controle dos adultos, isto é, dos outros. No início da juventude, o indivíduo tem o potencial da
terceira casta, ele se esforça para conseguir uma atividade profissional que lhe ajude a
construir a sua vida adulta. No caso particular do Brasil, até o concurso vestibular tem o um
autoridade e poder próprios da segunda casta, pois precisa manter a ordem no lar, bem como,
para si à missão de ser sábio, portanto analogicamente brâhmane, guiando os mais moços
intelectualmente e espiritualmente.
Não é, portanto, espantoso que esta alegoria simbólica, que toma como exemplo o
período da infância para ilustrar a necessidade natural de proteção da quarta casta, foi também
usada por Maslow para ilustrar a necessidade de segurança em sua teoria – que
diferentemente da teoria das castas, pretende valer para todos os seres humanos?
Este mesmo simbolismo foi adotado por outros autores. A quarta casta é a mais
numerosa. Ao longo da história esta casta esteve ligada ao trabalho braçal, à servidão, à
Carlos Augusto Taunay (1791-1867), em pleno regime de escravidão no Brasil, o autor deixa
claro como os negros naquela época eram tidos com as mesmas necessidades próprias das
crianças:
É claro que, vista aos olhos de hoje, a obra é carregada de restrições morais. Mas
quando escrita em 1839, no Rio de Janeiro, o Manual do Agricultor Brasileiro pretendia servir
de guia aos senhores de escravos na gestão de suas unidades agrícolas. Portanto, não deixa de
ser uma válida contribuição ao presente estudo, à medida que o mesmo apresenta, por assim
uma boa visão de uma mentalidade escravagista, sob a qual foram submetidas milhares de
pessoas, ao longo da história, em todo o mundo. Nesta obra, Taunay (2001) defende o
aumento da qualidade dos alimentos e vestimentas dados aos negros, além de melhor moradia
e asseio. Defende também que aos negros deveriam ser dadas condições de manter relações
familiares estáveis entre eles. Os conselhos de Taunay aos senhores de escravos, eram de uma
convivência, dando aos negros suporte social, além de outras condições básicas. O que
Taunay sugeria aos escravistas brasileiros em 1839 (não propriamente com uma preocupação
das fábricas: melhores condições que atendessem as necessidades sociais e de segurança dos
admitia que a procura por segurança e estabilidade no mundo existia sim, mas desprezando os
aspectos ontológicos que as tradições consideram e não tendo na sociedade de sua época
que insistiam nestas preferências como “neuróticas”: “[...] um homem saciado não sente
fome, um homem seguro não se sente em situação de perigo. Se desejarmos ver estas
está presente em todos os seres humanos. No entanto, Maslow observou somente a psicologia
humana dominante em sua época, realizando poucos estudos comparativos – como ele mesmo
cidadão mexicano.
Ela [a pessoa] foi e está sendo satisfeita no que diz respeito à necessidade de auto-
estima. (Na verdade, isto não acontece com muita freqüência em nossa sociedade, a
maioria das pessoas, em níveis inconscientes, não tem sentimentos de amor próprio,
respeito próprio suficiente. Mas, de qualquer forma, o cidadão americano está em
uma situação muito melhor, digamos, do que o cidadão mexicano, por exemplo).
(MASLOW, 2001, p. 24).
Assim como Maslow, Aristóteles aparentemente não sabia das castas, mas em sua
época já falava da “natureza da alma do escravo” e defendia que ela era útil e necessária para
a sociedade. Aristóteles não sabia, mas intuiu o sistema de castas e sua conseqüência natural,
da época de Maslow, a escravidão era natural e o filósofo chegou a considerar “uma ciência
O poder do amo não se ensina; é tal como a natureza o fez, e aplica-se igualmente
ao homem e ao escravo. Bem poderia haver uma ciência do amo e uma ciência do
escravo: uma ciência do escravo como que ensinava o fundador de Siracusa, o qual,
mediante um salário, ensinava às crianças todos os detalhes do serviço doméstico.
[...] (ARISTÓTELES, apud CHAVES, Cap. 2, 22).
Na época do filósofo, havia uma escola que ensinava crianças a ser escravas, e
que era paga. O que Aristóteles quer dizer com este exemplo é que a execução de tarefas
braçais pode ser potencialmente nobre. Por este motivo, haveriam de ser os escravos e os
criado a alma do escravo, “para ele é útil e justo viver na servidão”, o homem estaria sendo
coerente em criar a “ciência do escravo”. Entre os gregos, devemos lembrar, não haviam
estruturas rígidas entre cidadão e escravo, pois o escravo poderia deixar de o ser e o cidadão
poderia tornar-se escravo. O escravo natural, para o Estado, a pólis, segundo o filósofo, era
Aristóteles está falando da natureza das pessoas e não do seu status social.
Brasileiro e para Aristóteles no século III a. C, quando escreveu A Política, a escravidão ali
tantas outras sociedades assim o entenderam. Aqueles que tinham vocação espiritual para
servir receberam vários nomes ao longo da história: shudra (hindu), huti (persa), demiurgo
(Platão), escravo natural (Aristóteles), servo (Idade Média), proletário (Marx), operário
Maslow não estudou a psicologia dos trabalhadores, mas de certa forma, quando
falou da prioridade da satisfação das necessidades básicas, intuiu a existência de pessoas que
buscam o bem-estar físico e a segurança em primeiro lugar. É possível que sua teoria tenha
alcançado aceitação na administração industrial pelo fato de o operariado ser, em sua maioria,
medidas administrativas são meramente sucedâneos para uma verdadeira adesão de cunho
ontológico. Ser operário deixou de ser algo de que alguém pudesse se orgulhar desde que o
trabalho perdeu seu significado, e principalmente, desde Karl Marx, quando o trabalhador
um grupo humano e neste precisa se sentir amado e querido. Stoltz (2000) comenta que:
esfera de representação sindical, um grupo de pessoas como ele, que pode defender seus
ela representa uma esfera de representação que tem poderes de garantir os interesses próprios
à idéia de prole, portando, filhos, admitindo que os trabalhadores além de servirem com sua
força de trabalho, também serviam a sociedade com seus filhos – o que é compatível com o
fato da numerosa população Shudra. Carvalho (2006) ao se referir aos Shudras toma
necessidade de amor.
descreve como pertencente a todas as pessoas, sendo que tem uma dimensão individual,
pela reputação, prestígio, respeito, etc. Maslow acrescenta também, que nem sempre os
proposta de Maslow, existe uma relação profunda entre a resolução das necessidades básicas e
materialista, ele perceberia que os indivíduos da quarta casta teriam automaticamente auto-
estima apenas pôr o ser, sem precisar esperar as outras necessidades serem satisfeitas.
[...] a auto-estima do Shudra está no próprio fato de ser Shudra, que implica,
automaticamente, uma responsabilidade dele para com ele mesmo, sem
necessariamente precisar de aprovação social. Esta auto-estima, portanto, é como
que automática pelo simples fato do Shudra existir. (NASSER, 2007, Ad tempora).
la e cumpri-la, para ser considerado um homem virtuoso. O indólogo Heinrich Zimmer (1890-
1943), explica que no Hinduísmo existe o conceito do dharma – a doutrina hindu dos deveres
e dos direitos de cada indivíduo numa sociedade ideal – e que o homem indiano precisa
necessariamente ser leal ao ser dharma, independente de qualquer consideração social ele é
Considera-se que a casta forma parte do caráter inato de cada um. A ordem moral
divina (dharma), que tece e mantem unida a estrutura social, é a mesma que dá
continuidade às vidas do indivíduo. [...] E, ainda, não apenas a casta e a profissão,
mas tudo o que acontece ao indivíduo [...] Portanto, a melhor maneira de lidar com
os problemas da vida é indicada pelas leis (dharma) da casta (varna) a que pertence
e pela etapa da vida em que se encontra (asrama). (ZIMMER, 1986, p. 122).
cada um é fiel ao seu dharma. No Bragavad Gita (3,35) consta que “É melhor o próprio
dharma, mesmo que imperfeitamente realizado, do que o dharma de outrem bem realizado.”
Zimmer (1986) explica que na cultura hindu, “O dharma não precisa ser aquele da mais alta
casta bramânica, nem mesmo das classes sociais respeitáveis da comunidade. Em todo
dharma o Poder sagrado, brahman, está presente.” (Op. cit, 1986, p. 127).
social. O que Schuon está tentando nos dizer, em outras palavras, pode ser dito desta forma: A
(realizado pelo budismo, pelo islamismo, pelo hinduísmo e por outras tradições espirituais)
está sempre calcado na existência. Os seres humanos são iguais do ponto de vista da condição
humana e também da imortalidade da alma, mas não sob as funções sociais a que se dedicam.
A análise precisa ser feita sob o ponto de vista qualitativo e não quantitativo. Assim, cada
condenável é não respeitar o seu dharma - caso dos párias que rejeitam desempenhar a
este assunto, e embora atribua a necessidades sociais e de estima (assim como as outras
necessidades em que se apresenta) a todos os seres humanos sem distinção, por hipótese
podemos afirmar que, por se tratar de uma teoria surgida e focada no mundo ocidental e
forma, incapaz de explicar o homem em sua essência, e apenas imperfeitamente quando este
homem pertence a quarta casta. Deste modo, não compreende que uma pessoa possa ser feliz
e realizada, mesmo com pouco dinheiro, se for o caso, mas leal à sua vocação espiritual.
sociais, de estima e de prestígio. Mas, de acordo com a visão qualitativa das tradições, esta
procura não será feita pelo Shudra somente com a intenção de se sentir aceito e buscar
reputação social, mas por necessidade interna. Na verdade, o homem da quarta casta, com
bom desenvolvimento espiritual (podendo ser hindu ou não) já está certo de seu valor moral e
da qualidade de seu varna. Nasser (2006) nos explica que “castas religiosas são reflexos da
humano”. Portanto, tendo o divino dentro de si, não há porque haver diferença qualitativa
quantitativa do mundo. Ao se referir ao “bem-estar espiritual” faz menção àquilo que possui
valor qualitativo. É o mundo da quantidade versus o mundo da qualidade. O autor ainda nos
diz:
Não esqueçamos, por outro lado, que o “bem-estar” é coisa relativa por definição;
quando o homem se coloca unicamente no ponto de vista material, ele destrói o
equilíbrio normal entre o espírito e o corpo e desencadeia apetites que não têm em
si nenhum limite. É este aspecto da natureza humana que os humanitaristas
propriamente ditos negam ou ignoram de forma preconcebida; eles crêem que o
homem é bom em si, portanto independente de Deus, e atribuem seus defeitos,
arbitrariamente, a condições materiais desfavoráveis, como se a experiência não
provasse, não somente que a malícia do homem pode não depender de nenhum fato
exterior, mas também que esta malícia se desenvolve freqüentemente no “bem-
estar” e ao abrigo das preocupações elementares, os desvios da “cultura” burguesa
o mostram à saciedade.[...] (SCHUON, 2001, p. 41).
máquina na concepção do trabalho, a corrida pelo comércio e pelo enriquecimento, sem falar
que não podemos encontrar uma resposta satisfatória que concilie a visão humanista-moderna
qualquer outra, sem considerar os fundamentos existenciais, e estes não são contemplados na
época, fascinado pelos valores materiais. Ao compararmos os aspectos das duas teorias, da
Hierarquia das Necessidades e das Quatro Castas Hindu, temos que os níveis mais básicos da
pirâmide de Maslow, das necessidades fisiológicas, das de segurança e das sociais, podem
sim, estar correlacionadas com a visão de mundo e a forma de ação da quarta casta, embora
alcançada quando as três anteriores forem relativamente satisfeitas. No entanto, sabemos que
disposições específicas de sua casta, no mesmo momento em que toma consciência de existir
como Shudra. Em Siracusa, como conta Aristóteles, havia uma escola de escravos, na qual
para se estudar era preciso pagar. Na Índia, o Shudra que esbarre com uma pessoa de outra
casta na rua, mesmo de casta mais alta, faz questão de banhar-se para se purificar.
conjecturar), o homem, sem necessariamente passar por cada um dos três primeiros níveis da
pirâmide de necessidades, mas simplesmente por ter nascido numa determinada condição,
adequação, de ser útil e necessário ao mundo” (Maslow, 1943). O Shudra, como qualquer
outro homem de qualquer outra casta, é um homem completo, “uma pessoa agraciada” pela
tradição (Evola, 1995), tão importante para a sociedade como qualquer outro.
Uma música popular brasileira, de muito sucesso na sua época, mostra claramente
Moro! / Num País Tropical / Abençoado por Deus / E bonito por natureza / (Mas
que beleza!) / Em fevereiro (Em fevereiro!) / Tem carnaval (Tem carnaval!) / Eu
tenho um fusca e um violão / Sou Flamengo e tenho uma nêga / Chamada Tereza.
[...................................................................................................................................]
[...................................................................................................................................]
Sambaby, Sambaby! / Eu posso não ser / Um Band Leader / (Pois é!) / Mas assim
mesmo lá em casa ; / Todos meus amigos / Meus camaradas / Me respeitam / (Pois
é!) / Essa é a razão da simpatia / Do poder, do algo mais / E da alegria.
da vida, sendo membro de grupos sociais com os quais se identifique (como o time de futebol
e a família que tem ou que constituiu), sendo cumpridor de suas obrigações sociais e mesmo
sem ser líder, ele pode sentir-se realizado, respeitado e feliz, tal como a canção proclama.
______________
18
JORGE BEN JOR. Compositor e cantor brasileiro. A música “País Tropical” é de 1977 pela gravadora Island
Records/Phonogram. Disponível em <http://www.jorgeben.com.br>, Acesso em 05/11/07 15:30:30.
Humanas são reais para a quarta casta, não necessariamente na ordem arbitrada pela Teoria –
o que exigiria uma pesquisa empírica. Nosso primeiro conflito, quando analisamos a
hierarquia das necessidades humanas à luz da Teoria das Castas, tomando como referência a
Neste contexto, “cultura” não é mais o contexto em que se possa realizar o próprio
ser a partir do envolvimento sério e da fé, mas um lugar de “auto-realização”. E
uma vez que as areias modeviças desta nulidade sem nome e tradição, que é o
sujeito empírico humano, tornaram-se a fundação desta auto-realização, a
reinvindicação de igualdade e do direito de ser qualquer coisa que se escolha, como
questão de princípio, é consequentemente levada adiante e defendida com
determinação na sociedade moderna.” (EVOLA, 1995, p. 89-100).
homem tem o poder e o direito de ser o que quiser conforme sua escolha e seu próprio
atingir o plano superior, em harmonia com o sentido geral da vida. A partir daí, está claro que
realização, também não podem ser analisadas sob as mesmas condições que as três primeiras
têm sim, correlação com a quarta casta (embora não nesta ordem), mas a necessidade de auto-
1º) O Shudra não precisará ter suas necessidades básicas satisfeitas totalmente ou
sistema de castas. É a ultima casta e é a casta servil. Devemos lembrar que esta
casta não governa a si própria. “O Shudra espera que os outros tomem a decisão
por ele e escrevam o enredo da sua vida” (Nasser, 2006, Ad tempora). A auto-
dever de forma virtuosa, viver de acordo com o seu próprio dharma e este fato é
da Hierarquia das Necessidades Humanas se torna ainda maior. Ao falarmos dos “renascidos”
estamos nos referindo aos verdadeiros líderes da história, aqueles que, por possuir a
consciência de sua diferença em relação às castas que lhe são inferiores, aceitam a obrigação
espiritual de liderá-las, mesmo as custas de sacrifícios pessoais19. Para as castas altas, tudo se
maslowniana.
3.2.1 O Vaishya
empresário, executivo e, algumas vezes, o profissional liberal; ele tem a missão de organizar a
produção das coisas, o que significa dizer que esta é a casta que se responsabiliza pelo
sustento material da sociedade. O Vaishya no seu desejo de ter posses e acumular riquezas,
sustento e riqueza para si e para os outros. Os Vaishyas têm a obrigação moral de ser honestos
empreendedores, a que emprega a quarta casta, dos Shudras. Segundo o economista José
Monir Nasser:
Quando a maioria das pessoas pensa em empreendedor, não pensa na quarta casta,
mas na terceira: a dos indivíduos que não aceitam que outra pessoa escreva o
roteiro de sua vida e produzem ações econômicas voltadas para a satisfação dos
seus próprios desejos e necessidades. É justamente esta casta que é merecidamente
louvada como renovadora da vitalidade econômica. (NASSER, 2003, p. 34).
______________
19
A idéia do líder que se sacrifica tornou-se bastante difundida modernamente. Basta lembrar as recentes
publicações da linha administrativa e de auto-ajuda, tais como as de James C. Hunter com “O Monge e o
Executivo”.
propriedade, mais capital. É disso que Marx acusava injustamente a classe burguesa.
Injustamente, porque este papel é essencial para a sociedade. A terceira casta vê nas coisas
materiais a “realidade”, ela possui interesses racionais e tende objetivamente para a matéria.
Seu desejo é o desejo de ter. Moralmente trata-se de uma ação legítima. O Vaishya tem
vocação espiritual para tal, uma mentalidade inata, uma adequação ontológica que serve
muito bem aos fins sociais. “Quando mais o empresário tiver sucesso, maior é o sucesso da
pode ser aplicada à terceira casta? As necessidades do Vaishya também seguem a mesma
Devemos lembrar que nas palavras de Maslow: “[...] quando falamos sobre as
necessidades dos seres humanos, estamos falando sobre a essência de suas vidas [...]”
(Maslow apud Campos, 1992, p. 149-150). Para que fosse possível então que a pirâmide de
Maslow fosse verdadeira para a terceira casta, esta casta teria de ser em essência igual à
quarta casta, o que não é possível, segundo o esquema tradicional das vocações ontológicas,
começando com o fato de que a terceira casta é ativa, enquanto a quarta casta é passiva.
Logicamente, o Vaishya, tanto quanto qualquer outro elemento humano, terá suas
lembrar que a essência da natureza do Vaishya, assim como do Shudra e das demais castas,
está em conformidade com aquilo dá sentido à vida espiritual e social, que os torna virtuosos e
não apenas com os meios para se cumprir a missão. A essência não pode ser o conjunto de
meios, porque embora o avião seja um meio de transporte, a missão do turista não é “andar de
avião”. Como disse Schuon (2001) “a tradição é centrada no que dá sentido à vida, e não em
perceberemos que ela “não nega a legitimidade, nem relativa e nem condicional do bem-estar,
mas ela subordina todo valor deste bem-estar aos fins últimos do homem”. (Schuon, 2001, p.
41). Nesse sentido, as necessidades básicas ligadas ao bem estar físico do homem, não são
“absolutas” e nem “essenciais” como afirmava Maslow. O fato de que bens materiais sejam
importantes para a terceira casta, nos fala apenas das características psicológicas desta terceira
casta, e não dos homens em geral. O bem-estar espiritual estará sempre acima do bem-estar
físico, ao contrário do modelo de Maslow, que parte da matéria para o espírito. Se para o
Shudra, as necessidades básicas, descritas por Maslow, coincidiam com a sua natureza
espiritual, o mesmo não ocorre com os Vaishyas, que também estão associados à matéria,
No que à pessoa diz respeito, o valor último, absoluto, sinônimo da própria vida, é
qualquer uma das necessidades, na hierarquia, pela qual a pessoa é dominada
durante um determinado período. Portanto, essas necessidades básicas, ou
valores básicos, podem ser tratados como fins e, ao mesmo tempo, como passos
no sentido de uma única meta final. É verdade que existe um único valor ou fim
básico na vida e também é verdade que temos sempre um sistema hierárquico de
valores, complexamente inter-relacionados. (MASLOW apud CÓRIA-SABINI,
1990, p. 96).
Podemos levantar a hipótese de que Maslow confunde meios com fins e propõe,
com a sua pirâmide de necessidades, que todos os seres humanos, sem distinção, busquem os
mesmos objetivos usando os mesmos meios ou, em outras palavras, ele define a essência
humana pelos meios humanos e mesmo assim se equivoca. As tradições apontam que Shudras
e Vaishyas não têm os mesmos objetivos de vida, e não usam os mesmos meios para alcançá-
los. Enquanto o primeiro, que é voltado para o seu corpo, acha que a melhor maneira de viver
é trocar serviço por sustento e proteção, o segundo voltado para as coisas, acredita que
enriquecer para obter coisas. São objetivos complementares, porém diferentes. A satisfação
das necessidades fisiológicas são para a terceira casta, os Vaishyas, uma pré-condição para
são para os Shudras. O Vaishya é senhor de si próprio economicamente. Ele barganha com o
Shudra oferecendo-lhe garantia de sustento. O Vaishya tem sim seus temores, de ordem
material. É por este motivo que os comerciantes e empresários cobram dos governantes a
proteção do seu negócio, exigindo leis e penalidades, que os protejam da concorrência desleal,
terceira casta precisa estar em conformidade com seu dharma, cumprindo seu dever e
auto-estima está ligada ao externo e ao material, como conseqüência natural de uma vocação
que lhe é imposta. A auto-realização para a terceira casta, da mesma forma que a auto-estima,
3.2.2 O Kshatriya
sociedade, por meio do poder político e militar. Eles percebem que a ação, os valores e a
essência da sua vida não está alicerçada na hierarquia de necessidades maslowniana. Na busca
pela auto-estima e pela auto-realização, o Kshatriya está certamente convicto de que isto se
faz pela ação da sua vontade. Seria disparatado dizer que o Kshatriya procura a segurança e a
proteção dos demais e ofereçe obediência em troca disso; é justamente o contrário – tomemos
verdade, a segunda casta é a que confere a proteção. Segundo a tradição, os Kshatriyas vieram
dos “braços” de Brahma e são os braços que carregam a espada. Naturalmente impelido por
obediência.
A segunda casta tem a arma da lei e a arma física. Organizam a sociedade pelo
ponto de vista das regras de convívio, fazem o comando militar, criam as guerras,
defendem a fortaleza, dirigem e fazem as leis, as normas, etc. São eles que cuidam
para que a sociedade funcione com alguma ordem (Nasser, 2006, Ad tempora).
nobre e energética. O Kshatriya é o líder natural dos Vaishyas e dos Shudras e ele entende
muito bem a mentalidade de cada um deles. Sendo assim, a natureza psicológica do Kshatriya
não pode ser explicada pela teoria da Hierarquia das Necessidades Humanas.
3.2.3 O Brâhmane
Segundo a sabedoria tradicional, a primeira casta não está preocupada com segurança e a
proteção buscada pelos Shudras, também não cobiça as coisas materiais desejadas pelos
“O Brâhmane veio ao mundo para escrever o enredo da vida das outras pessoas,
saiu dos lábios de Brahma, e por meio dele, Brahma fala com a humanidade. É uma
qualidade de todas as outras castas e é o grande líder de todas elas. Uma liderança pacífica,
bem estar espiritual. Nada que esteja ligado apenas ao corpóreo ou a matéria pode interessá-lo
continuar vivo e não o objetivo da vida. A auto-realização para o Brâhmane seguramente não
é algo supérfluo a ponto de estar no último degrau da escala de necessidades. O seu sentido
sido acusado em praça pública pela esposa e filhos por deixá-los sem recursos, foi preso,
condenado a morte e executado, mas, neste meio tempo, criou a Filosofia20. Pessoas
jornalistas e os místicos, não podem ser explicadas pela pirâmide de necessidades - que as
de que a hierarquia de necessidades não explica todas as pessoas, mas apenas às do nível mais
______________
20
A obra “Fédon” de Platão relata os últimos ensinamentos do primeiro filósofo, Sócrates, antes de tomar cicuta
na sua condenação à morte pelo Estado.
apresentando-a como meta final. Ao fazê-lo, relega a auto-realização ao último plano, como
um estágio não necessariamente atingível em vida, uma vez que todas as outras necessidades
precisam ser satisfeitas primeiro e não se conhece objetivamente o quantum necessário para
atingi-las. Como não é básica e nem obrigatória – isso já está bem claro – a auto-realização,
pessoas.
1986, p. 262), é justamente esta menção vaga que, para os psicólogos humanistas, dá à teoria
maslowniana uma natureza holística e espiritual, segundo a qual o ser humano é pensado de
maneira mais ampla e completa. Muitos dos adeptos da psicologia humanista apostam que,
visão de homem, por assim dizer, que estaria em contraste com outras teorias motivacionais.
exatamente o objetivo de chegar ao topo da pirâmide que moveria todos os homens numa
auto-realização ou individuação geral, como se esta fosse o único valor básico para a
humanidade, o objetivo para o qual todos os homens se direcionam”. (Stoltz, 2000, p. 19).
Maslow confundiu meios com objetivos. Sua teoria propõe para todas as pessoas os mesmos
meios e os mesmos objetivos. No entanto, como demonstrado, cada grupo humano tem
necessidades diferentes, assim como objetivos diferentes. Ao confundir meios com fins,
Maslow está criando uma ontologia equivocada, porque usa como modelo somente o homem
da sua época, que de modo nenhum representa todos os homens em todas as épocas, exemplo
contradita pelo próprio Maslow. Em 1968, Maslow reafirma: “O ser humano necessita de uma
estrutura de valores, uma filosofia de vida... pela qual possa pautar sua vida e compreensão,
aproximadamente no mesmo sentido em que precisa de sol, cálcio ou amor” (Maslow, 1968,
apud Fadiman &Frager, 1986, p. 272). Ora, não estaria Maslow colocando agora a
Não estaria havendo confusão entre seqüência cronológica e objetivo de vida? O fato de o
sacerdote também se alimentar diariamente, não quer dizer que a missão da sua vida seja
comer.
individuação seja fácil, na prática ela raramente acontece (pelos meus critérios, certamente em
menos de 1% da população adulta)”. Como poderia ser possível, então, que todo ser humano
Devemos lembrar que ao falar dos Valores “S” ou “do Ser”, Maslow se referiu a
eles como “valores supremos” e argumentou que “os valores supremos (existem) na própria
natureza humana.” (Maslow, 1968). Segundo Fadiman & Frager (1986): “Isto está em
contradição frontal com as crenças mais antigas e habituais, segundo as quais os valores
supremos provêm unicamente de um Deus sobrenatural ou alguma outra fonte alheia à própria
uma espiritualidade humanista, Maslow torna seu modelo ainda mais inconsistente porque
que só seria possível se o homem fosse o autor de si mesmo, coisa que ainda está por
demonstrar.
Quando Maslow afirma que “o valor último, absoluto, sinônimo da própria vida é
qualquer uma das necessidades [individuais]”, está tornando o sentido da vida humana e do
trabalho humano, um aspecto daquilo que os hindus chamam de dharma. Maslow não
compreende também, tal como o compreendia Ortega y Gasset, que a missão é um ingrediente
seres humanos preferirem trabalho com significado, Maslow diz: “Isto está ressaltando a
e para dele tomar ciência. Isto está bem próximo da busca religiosa no sentido
humanístico.[...]” (Maslow, 2001, p. 46). Mas, afinal, o que significa “uma busca religiosa no
humanismo, não pode ser religioso, porque o homem não pode ser Deus de si mesmo. Como a
contradição é insuperável, Maslow pula rapidamente para um degrau mais alto, fora da sua
e “centrada mais no cosmos que nas necessidades e interesses humanos”, Maslow estaria
parece mais tão correto afirmar que a pirâmide de Maslow fala da essência do ser humano,
uma vez que o autor percebeu a posteriori que ela estaria incompleta. Parece-nos que Maslow
acabou por admitir que falta algo na visão humanista, algo “transcendente” e “transpessoal”,
algo “maior do que somos”, que possa ser encontrado pela psicologia transpessoal, sem
serem buscados, fato facilmente comprovável pela leitura dos autores referidos por ele mesmo
aspecto espiritual-religioso, mas seguindo o caminho equivocado que parte da matéria para o
Fenômeno Humano, ao contrário dos modelos tradicionais que partem do espírito para a
matéria. Na prática, trata-se de atirar a bola cada vez mais para cima, apenas para retardar o
Estando a teoria incompleta (na visão de seu próprio autor) e ainda sem
comprovação empírica (como já admitido por ele e por muitos outros comentaristas), a teoria
da Hierarquia das Necessidades Humanas elaborada por Maslow, não pode explicar as
necessidades que motivam o ser humano, em suas diversas dimensões de vida. Não pode
explicar a motivação do indivíduo para o trabalho ou motivação para vida em geral. Não pode
dar significado ao trabalho. Não pode explicar que as pessoas têm missões diferentes e
quando chega às necessidades, as coloca todas numa mesma seqüência, atirando para a última
abertos” de sua teoria, imanente e humanista, não acredita no que vê e, continua tentando
explicar o homem a partir apenas dele mesmo, de um ponto de vista não transcendente e não
espiritualizado.
quarta casta. Ao fazer está inversão de prioridades com sua hierarquia de necessidades,
Maslow, não consegue explicar os santos, os filósofos, os grandes generais, exemplos reais
como Sócrates, Gandhi e Madre Teresa de Calcutá e as pessoas que sacrificaram suas
necessidades da base da pirâmide em prol dos outros. A proposta de Maslow teve de produzir,
então, uma excepcionalidade para os casos das castas mais altas e, desta forma, tenta atirar
numa difusa transcendência este nível espiritual que ele não explica, embora intua sem
compreender, como demonstra a estranheza com que analisa a sua própria época.
Todas as eras que não a nossa tiveram o seu modelo, seu ideal. Mas nossa cultura
abriu mão de tudo isso; o santo, o herói, o cavalheiro, o cavaleiro, o místico...
Talvez, em breve, possamos usar como nosso guia e modelo o ser humano em total
crescimento e em processo de auto-realização. Um ser humano cujas
potencialidades estão alcançando o total desenvolvimento, cuja natureza interna se
expressa livremente... (MASLOW, 2001, p. 21).
Maslow rejeita a legitimidade dos sacrifícios e obrigações próprias das duas primeiras castas e
tentar criar uma ontologia materialista baseada nesta concepção, a teoria da Hierarquia das
divinização do homem, ambos fenômenos previstos nas tradições religiosas e não religiosas
do mundo antigo. São os valores da última casta e da Era do Ferro, conforme profetizam estas
4. CONCLUSÃO
vista entre o modelo humanista, aqui representado pela teoria da Hierarquia das Necessidades
Hindu das Quatro Castas. Se este ou aquele é considerado, como melhor ou pior que o outro,
ela não pode explicar a essência humana, e não pode, portanto, ser uma referência geral. Por
estar embasada nos princípios humanistas, a teoria da Hierarquia das Necessidades Humanas
proponente mais conhecido, não podem ser conciliadas com as expressões espirituais do
mundo antigo. A razão é que são absolutamente diferentes e incompatíveis porque partem de
aspectos diferentes do ser humano. Enquanto uma se afasta do divino para melhor entender o
divino para entender o homem e torná-lo mais espiritualizado e menos terreno. Enquanto, o
humanismo propaga o poder de o homem ser o que ele quiser, escolhendo seu próprio destino
vocação impõe. Em vista disso, fica patente que os modelos se alicerçam em princípios
completamente distintos.
seus quatro estamentos. Conclui-se que ela explica relativamente, com várias imperfeições, a
motivação somente dos indivíduos que compõem a casta trabalhadora – Shudras no modelo
hindu. Isso tão somente porque são valores desta casta que imperam no homem moderno, o
poucos questionamentos, apesar de não ter sido comprovada, e o fato desta teoria com
pretensões ontológicas ter surgido em contexto moderno, comprova, sob o ponto de vista
predominância dos valores materiais. Isto está claro quando Maslow afirma que as
necessidades fisiológicas têm prioridade sobre todas as outras. Ora, o corpo só é única coisa
“real” para a última casta. Para as outras é meramente contingente. Há muito o que se refletir
sobre uma sociedade que aceita a idéia de que as necessidades fisiológicas são a explicação da
vossa moral”. Sob o ponto de vista do pensamento tradicional, esta poderia ser a lógica do
assassino ou do criminoso, mas não deveria ser dos psicólogos, dos administradores de
passar por todos os níveis da pirâmide de necessidades. Segundo a tradição das castas, todas
que sua vocação e a cumprem, seja em que casta for. Quando Maslow coloca a auto-
realização como último patamar, não necessariamente atingível em vida, não explica um
número apreciável de pessoas auto-realizadas, com auto-estima, que sentem que seu trabalho
tem significado e que, em muitos casos, não desfrutam das necessidades ditas como básicas.
Em outras palavras, o que no modelo de Maslow pode ser compreendido como patologia, no
não descreve o ser humano “em sua própria essência” como o próprio Maslow afirma, isto é,
não se aplica a todas as pessoas universalmente e não tem validade ontológica. Na concepção