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Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Departamento de História – IFCH


Antiguidade da China e do Japão – Prof. André Bueno
João Pedro Lima de Souza - 201710150711

Com base na última série de textos do cursos, explique como se deu a


construção da imagem de chineses e japoneses no contexto cultural brasileiro

De formas variadas e em sentidos igualmente variados ao longo dos anos,


as civilizações caracterizadas pelo que se convencionou identificar por orientais
sempre despertaram o interesse e a curiosidade dos brasileiros. As visões nem
sempre foram carregadas de juízos de valores positivos. De fato, como notou o
professor André Bueno em “Caminhos para uma sinologia brasileira”, uma teoria
que via na China um modelo de referência de civilização a ser copiada ou
refutada pela nossa sociedade já pode ser vista como consolidada, haja vista o
fato que vem sendo desenvolvida desde o século XIX. É importante destacar que
no Brasil Império já se discutia intensamente a imigração de chineses em troca
do cada vez mais decadente trabalho escravo.
Para o autor, apesar de sobredita iniciativa não ter se efetivado, ela firmou
a adoção de uma perspectiva ideológica não somente frente a China, mas aos
chineses que por durante muito tempo se posicionou de maneira antagônica a
ambos. Dito isso, temos que o tratamento contínuo dos brasileiros que pensavam
e discutiam no congresso pela imigração, e notando o ambiente do Congresso
como um microcosmo do Brasil de então, temos que os chineses – e a China -
eram modelos refutáveis por representar o atraso, a pobreza e a não-
cristandade. Pelo que podemos perceber, a visão dos brasileiros se manteve de
tal forma carregada de eurocentrismo, tendo atingido até mesmo a literatura, fato
que podemos comprovar através do texto de Osmar Pereira Oliva.
Nos atendo mais diretamente a tais percepções, temos que a construção
da imagem desses grupos no contexto cultural brasileiro não se deu de forma
que pode ser vista como positiva para trocas e dinâmicas culturais. Ao
retomarmos sobredito Congresso de 1878, tendo por base a autora Kamila
Czepula, temos que alguns de seus membros, como Domingos Jaguaribe
estavam marcados por profundos preconceitos em relação àqueles identificados
como ‘chins’. Jaguaribe destacou, como mostrou a autora, a inadaptabilidade do
trabalho provindo dos chineses, dotados estes, para ele, de uma “baixeza moral”.
O que havia entre uma parcela dos presentes no Congresso eram teses
claramente xenófobas, e mais especificamente anti-chinesas. Ao longo das
discussões, como mostrou a professora Czepula, eram alertados os perigos de
uma eventual miscigenação com uma “raça inferior”, não descartando a
“mongolização” e quebra do sentimento de nacionalidade.
Ainda que as perspectivas de Jaguaribe não tenham se concretizado e as
primeiras ideias tivessem avançado, até mesmo os defensores da integração se
mostravam bastante preocupados em ressaltar que a adoção seria uma prática
transitória para que a posteriori o Brasil fosse capaz de trazer indivíduos então
vistos como superiores, leia-se europeus ou estadunidenses. A adoção dos
grupos chineses era vista por estes como único meio de se ter trabalhadoresque
se sujeitassem ao serviço pesado, sem deixar de reafirmar a suposta
inferioridade chinesa.
Alguns outros membros como João Cordeiro como mostrado pela autora
destacavam não só os chineses, mas a China como um todo como um país com
remarcada brutalidade, ausência de civilidade e dotada de indivíduos que
poderiam vir a gerar grandes inconvenientes quando de sua imigração, mesmo
com seu trabalho e baixo custo, não compensando o despendimento de
esforços. Para além disso, a adoção destes para ele poderia afastar “homens-
modelo” e todos concordavam em ver os chineses como pouco mais que
mercadorias.
Em geral, a percepção que foi ponto de partida sobre o chinês no Brasil
esteve ligada a embates étnicos, biológicos, socioculturais e econômicos
permeada por uma estrutura ignorante e fomentadora de estereótipos falsos.
Essa ideia esteve presente em indivíduos os mais reconhecidos, como por
exemplo Joaquim Nabuco que tratava tal grupo com medo justamente pelas
criações que foram desenvolvidas sobre a China, vista como extremamente
ligada aos tradicionalismos, imobilidades e antiquismos enquanto o Brasil
tomava o caminho do futuro. O abolicionista chegou a deixar claro seus temores
em relação a seu próprio desaparecimento com a chegada massiva de asiáticos,
chegando a ponto de usar seu antiescravismo e suposta preocupação com o que
viria a acontecer com os “amarelos” para mascarar o racismo e preconceito de
sua visão fantasiosa.
Já tratando especificamente da imigração japonesas ao território
brasileiro, traçamos um primeiro paralelo já referente ao século. As prmeiras
ondas começaram ainda no XIX da era comum, e desembarcaram
principalmente em São Paulo também com a remarcada ideia de substituição da
mão-de-obra escrava. É importante que se ressalte que o uso dos japoneses
para tais fins se deu justamente após longos diálogos não exitosos que
acabaram por esbarrar por diversas vezes nos preconceitos supracitados em
relação aos grupos chineses.
O Japão daquele período vinha em franco desenvolvimento e abertura
com a Era Meiji, e também por isso lidava com severas questões referentes à
demografia. Teliti Suzuki trabalha em seu texto com tais perspectivas, e
estabelece divisões referente aos processos de vinda dos nipônicos ao Brasil e
mostra com as três sessões que o fluxo foi intensficado até a parada com a
Segunda Grande Guerra. Na década de 1950 as imigrações foram retomadas
até se mostrarem pouco relevantes nos vinte anos posteriores.
Como analisado através da leitura dos textos, desde o governo do
Marechal Deodoro da Fonseca e sua política de imigração para posterior
“branqueamento” da população. A priori, houve aceitação da vinda de asiáticos
para desempenhar labor, como mostrado acima, mas tão breve os chineses
foram mal vistos na sociedade e tiveram sua imagem fortemente construída pelo
brasilianismo, os japoneses foram de certa forma melhor reconhecidos.
Após tratados com o governo japonês e vitória deste na guerra contra a
Rússia (1905), a imagem que foi criada sobre o japoneses após os eventos
bélicos foi de certo temor, haja vista a confirmação de poderio por parte dos
asiáticos. De forma mais específica, temos na perspectiva do autor Rogério
Dezem uma ideia ambivalente remarcada como a do samurai e a da gueixa, que
segundo ele esses padrões de imagem tomaram por base perspectivas
ocidentais e nunca de fato se desvaneceram. Na perspectiva do autor, a segunda
seria a representação que se faz da mulher japonesa como delicada e até
exótica, ao passo que o homem é disciplinado e forte como o samurai.
O autor mostra como supracitada guerra impactou o Brasil de forma em
certa medida descompassada com o resto do Ocidente. Apesar de algumas
opiniões dissonantes, em geral o imigrante japonês foi bem visto e a ideia do
“perigo amarelo” não se efetivou de fato em um primeiro momento.
Contudo, o autor destaca que as visões foram se tornando cada vez mais
estereotipadas ao longo do tempo a medida que o contato aflorava. Como se
poderia imaginar, a visão degradada sobre os chineses aos poucos eram
direcionadas aos japoneses e ao Japão. Os nipônicos passaram a ser cada vez
mais vistos como concorrentes de trabalho.
Temos a partir dessas duas análises que de forma geral a aculturação e
o reconhecimento por parte dos brasileiros sobre supracitados grupos asiáticos
não se efetivou da forma mais amistosa, e isso, ao meu ver diz muito – em
consonância com o nosso modelo norte-americano/eurocentrado – na análise,
oercepção e estudos em geral superficiais e desrespeito para com as culturas
de grupos e países que de acordo com as lentes incorporadas pelo nosso senso
comum não estão enquadrados entre os dominantes ou modelos que nós temos
de civilizações.
BUENO, Andre; CREMA, Everton; ESTACHESKI, Dulceli; NETO, José Maria
[orgs.] Diversos Orientes. União da Vitória/Rio de Janeiro: Edição Especial
Sobre Ontens – LAPHIS/UNESPAR, 2018.

CZEPULA, Kamila. A questão chinesa no Congresso Agrícola Brasileiro de


1878 pp. 67-77. Humania del Sur. Ano 13, Nº 25. Júlio-Dezembro, 2018.

DEZEM, Rogério (2005). Matizes do “amarelo”: elementos formadores do


imaginário sobre o japonês no Brasil. São Paulo: Associação Editorial
Humanitas.

NUCCI, Priscila. O perigo japonês. Campinas - São Paulo. Número 12. 133-
149. 2006

OLIVA, Osmar P.Machado de Assis, Joaquim Nabuco, Eça de Queirós e a


imigração chinesa – qual medo? 2008.

SUZUKI, Teliti. A imigração japonesa no Brasil. In: vida e arte dos japoneses no
Brasil. São Paulo/MASP. Banco América do Sul. 1988

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