Você está na página 1de 118

Capı́tulo 1

Séries de Fourier – parte 1

1.1 Introdução

Estas séries surgiram quando J. Fourier usou o método de separação de variáveis para resolver
a equação do calor, que será estudada no capı́tulo 4. Neste capı́tulo estuda-se as séries de Fourier
por si só. A questão central na teoria das séries de Fourier é saber quando é possı́vel representar
uma dada função por meio de uma série infinita envolvendo um conjunto prescrito de funções.
Quando se estuda certos problemas de valores de contorno é comum surgir a necessidade de
representar funções por séries. Por exemplo, alguns problemas da da fı́sica-matemática indicam
a necessidade de saber se uma função real f : [0, L] → R pode ser representada na forma abaixo:
∞ h  nπ x   nπ x i
a0
(1.1) f (x) = + ∑ an cos + bn sen ·
2 n=1 L L

A expressão
∞ h  nπ x   nπ x i
a0
+ ∑ an cos + bn sen
2 n=1 L L
é dita série trigonométrica.
A série de Fourier, objeto de estudo deste capı́tulo, é uma série trigonométrica, onde os coe-
ficientes guardam estreita relação com a função f dada a priori. Por outro lado, existem séries
trigonométricas que não são séries de Fourier. Isto será visto na seção 1.11, onde será apresen-
tada e estudada a identidade de Parseval e que demonstra, como aplicação de tal identidade, o
que foi afirmado.

1.2 Funções periódicas

D EFINIÇ ÃO : Uma função f : R → R diz-se periódica de perı́odo T se f (x + T ) = f (x) para


todo x ∈ R.

1
2 1 Séries de Fourier – parte 1

Exemplo 1.1: As funções f , g : R → R, definidas por f (x) = sen x e g(x) = cos x, são
periódicas de perı́odo T = 2π .
De fato, tem-se que

f (x + 2π ) = sen (x + 2π ) = sen x · cos 2π + sen 2π · cosx


= sen x · 1 + 0 · cosx = sen x = f (x),

para todo x ∈ R.
Da mesma forma,

g(x + 2π ) = cos(x + 2π ) = cos x · cos 2π − sen x · sen 2π


= cos x · 1 + sen x · 0 = cos x = g(x),

para todo x ∈ R.

O leitor poderá verificar que o valor 4π também representa um perı́odo para as funções seno
e cosseno. De fato, se uma função é periódica, então ela possui vários perı́odos. Na verdade,
não há mal algum em funções periódicas possuı́rem vários perı́odos. Aliás, esta propriedade
das funções periódicas, além de útil, desempenha importante papel, em particular no estudo das
séries de Fourier.
Neste ponto será introduzido o conceito de perı́odo fundamental. Inicialmente, observa-se
que, se T é um perı́odo para a função f , então 2T também é um perı́odo para a mesma f . De
fato,
f (x + 2T ) = f [(x + T ) + T ] = f (x + T ) = f (x).
Outro caso também merece atenção: se f é periódica de perı́odo T , então −T também é
perı́odo para f . Com efeito,

f (x) = f [(x − T ) + T ] = f (x − T ) ⇒ f (x − T ) = f (x),

mostrando que f também é periódica de perı́odo −T .


Estas duas situações mostram que uma mesma função pode ter vários perı́odos, positivos e
negativos. Mais ainda: de maneira mais geral tem-se que, se T é um perı́odo para a função f ,
então kT também é um perı́odo para f , onde k é um inteiro positivo, negativo ou nulo. Para ver
isso, basta usar indução em k. De fato, suponha que f é periódica de perı́odo T e que a mesma
seja periódica de perı́odo kT , isto é, que f (x + kT ) = f (x). Assim,

f [x + (k + 1)T ] = f (x + kT + T ) = f [(x + T ) + kT ]
= f (x + T ) = f (x),

onde usou-se a hipótese de indução no penúltimo passo acima e a peridiocidade de f no último.


Isto demonstra o que foi afirmado.
1.2 Funções periódicas 3

No caso acima, qualquer múltiplo inteiro do perı́odo T é também um perı́odo. O caso k = 0


equivale afirmar que 0 é um perı́odo de f . Mas, a rigor, o número 0 é um perı́odo para qualquer
função, pois é sempre verdade que f (x + 0) = f (x) qualquer que seja x e qualquer que seja
a função f . Deste modo não é interessante ter o valor 0 como perı́odo, devendo o mesmo ser
descartado. Portanto, ao falar sobre perı́odo de função deve-se levar em conta que T 6= 0.
Além disso, também é interessante não considerar perı́odos negativos, visto que seus simétricos
serão também perı́odos, bastando estes para trabalhar. Sendo conveniente considerar apenas
perı́odos positivos, deve-se, agora encontrar uma maneira de fixar apenas um entre eles de modo
que termine a aparente ambiguidade na definição de função periódica. Assim sendo, tem-se:

O menor perı́odo positivo é chamado de perı́odo fundamental, ou simplesmente perı́odo


quando não houver dúvida de que se trata do perı́odo fundamental.

Exemplo 1.2: Seja f : (0, 2) → R uma função definida por f (x) = x2 . Fazer uma extensão
periódica de f e de perı́odo T = 2.

S OLUÇ ÃO : O gráfico da função f encontra-se abaixo:

x
2 4

Figura 1.1: Gráfico da função f .

Inicialmente deve-se observar que uma extensão periódica implica dizer que a nova função
f esteja definida para todo x ∈ R. Tais valores de x devem ser divididos em dois grupos: (a)
x = 2k, com k ∈ Z e (b) os demais valores de x, ou seja, x ∈ (2k − 2, 2k), k ∈ Z.
4 1 Séries de Fourier – parte 1

Para os valores x ∈ (2k − 2, 2k) a função deve ser um “espelho” do gráfico de x2 , ou seja,
deve ser a translação desta função, para a esquerda e direita. Melhor dizendo, a função deve ser
(x − 2k)2 para x ∈ (2k − 2, 2k).
Para os valores de f nos pontos x = 2k, com k ∈ Z, deve-se ter um cuidado adicional: a função
f dada não está definida em x = 0 e x = 2. Assim, antes de se fazer uma extensão direta para a
função f , deve-se fazer uma extensão de f , ainda não periódica, definindo-se um valor em um
dos pontos x = 0 e x = 2. Fixado um destes pontos, por exemplo, x = 0, escolhe-se qualquer
valor para a sua imagem. Aqui será assumido o valor zero, isto é, se fe denota a extensão de f
no ponto x = 0, então e f (0) = 0.
Observa-se que não é possı́vel estender f simultaneamente nos dois valores x = 0 e x = 2,
pois a periodicidade esperada para f implicaria em duas imagens distintas para os pontos da
forma x = 2k e, consequentemente, deixaria de ser função.
Com estas considerações é possı́vel escrever a extensão periódica da seguinte maneira:
(
(x − 2k)2 , se 2k − 2 < x < 2k, k ∈ Z,
f (x) =
0, se x = 2k.

O gráfico da extensão periódica f encontra-se na figura 1.2 abaixo.

x
-6 -4 -2 2 4 6

Figura 1.2: Gráfico da função f .

Foi comentado acima que não é possı́vel fazer uma extensão inicial de f definindo valores
simultaneamente para x = 0 e x = 2, pois a extensão periódica não seria função. A maneira
mais simples de ver isso é considerar a função g : [0, 2] → R definida por g(x) = x2 . Com isso,
nota-se facilmente que g(0) = 0 e g(2) = 4. Se uma nova extensão, agora periódica, for feita,
então o gráfico será como na figura 1.3.
Agora basta observar que em cada ponto da forma x = 2k, k ∈ Z existem duas imagens, isto
é, g(2k) assume os valores 0 e 4. Deste modo, a extensão periódica g não é uma função. Em
suma, não é possı́vel fazer uma extensão periódica para a função g : [0, 2] → R definida por
g(x) = x2 .
1.2 Funções periódicas 5

x
-6 -4 -2 2 4 6

Figura 1.3: Gráfico da extensão periódica de fe.

Exemplo 1.3: Seja f : R → R uma função definida por f (x) = sen (nπ x/L), onde n ∈ N é
fixo, porém arbitrário.
Deseja-se determinar o perı́odo fundamental T para a função dada. Assim, para que T seja
perı́odo, para todo x ∈ R, deve-se ter
h nπ i  nπ x 
sen (x + T ) = sen ,
L L
ou seja,     
 nπ x  nπ T nπ T nπ x   nπ x 
sen · cos + sen · cos = sen ·
L L L L L
A última equação acima é verdadeira para todos os valores de x real. Assim, em particular,
pode-se tomar x = L/2n para obter
π    π    π 
nπ T nπ T
sen · cos + cos · sen = sen ,
2 L 2 L 2
π    π 
nπ T
sen · cos = sen ,
2 L 2
que implica em
 
nπ T
(2.1) cos = 1.
L

Usando a identidade trigonométrica fundamental sen 2θ + cos2 θ = 1, com θ = n π T/L, obtém-


se      
2 nπ T 2 nπ T 2 nπ T
sen + cos =1 ⇒ sen + 12 = 1,
L L L
isto é,
6 1 Séries de Fourier – parte 1

 
nπ T
(2.2) sen = 0.
L
Agora deve-se procurar o menor valor positivo de T que satisfaça as equações (2.1) e (2.2)
simultaneamente. Logo, o argumento (nπ T)/L deve ser igual a 2π . Assim,
nπ T 2L
= 2π ⇒ T= ·
L n
Portanto, o perı́odo fundamental de sen (n π x/L) é T = 2L/n.

Exemplo 1.4: Analogamente, mostra-se que o perı́odo fundamental de cos (n π x/L) também
é T = 2L/n.

De fato, suponha que T é um perı́odo fundamental da função f : R → R definida por f (x) =


cos (nπ x/L), onde n ∈ N é fixo, porém arbitrário. Então, para todo x ∈ R, deve-se ter f (x + T ) =
f (x), isto é, h nπ i nπ x
cos (x + T ) = sen ,
L L
ou seja,    
 nπ x  nπ T  nπ x  nπ T  nπ x 
cos · cos − sen · sen = cos ·
L L L L L
Como a igualdade acima vale para todo x real, basta tomar, em particular, x = L/2n, para
escrever
π    π    π 
nπ T nπ T
cos · cos − sen · sen = cos ,
2 L 2 L 2
   
nπ T nπ T
0 · cos − 1 · sen = 0,
L L
 
nπ T
(2.3) sen = 0,
L
onde usou-se os fatos que cos(π/2) = 0 e sen (π/2) = 1.
Com a identidade trigonométrica fundamental sen 2 θ + cos2 θ = 1, com θ = (nπ T )/L, obtém-
se      
2 nπ T 2 nπ T 2 2 nπ T
sen + cos =1 ⇒ 0 + cos = 1,
L L L
isto é,
 
nπ T
(2.4) cos = 1.
L
Assim, procura-se pelo menor valor positivo de T que satisfaça as equações (2.3) e (2.4)
simultaneamente. Logo, o argumento (nπ T)/L deve ser igual a 2π , isto é,
1.2 Funções periódicas 7

nπ T 2L
= 2π ⇒ T= ·
L n
Portanto, o perı́odo fundamental de cos(nπ x/L) é T = 2L/n.

O leitor deve ter em conta que o objetivo deste texto é estudar e analisar as séries de Fourier,
de modo que o estudo das funções periódicas que está sendo feito aqui se deve a periodicidade
das funções senos e cossenos que aparecem neste tipo de série e que foi mostrada através dos
exemplos 1.3 e 1.4. Assim, observando, mais uma vez, que se uma função pode ser representada
por sua série de Fourier, então é possı́vel escrever
∞ h  nπ x   nπ x i
a0
f (x) = + ∑ an cos + sen .
2 n=1 L L

Em virtude da periodicidade das funções senos e cossenos na série de Fourier, é possı́vel


questionar se a função f , no primeiro membro, também deve ser periódica, ou seja, é preciso
saber se a periodicidade de f é uma exigência para que faça sentido falar em sua série de Fourier.
Antes de responder tal questionamento, é preciso observar que o segundo membro da
última igualdade acima, que é a série de Fourier, possui termos envolvendo senos e cossenos,
multiplicação por escalar, bem como suas somas (e diferenças). Assim, é preciso garantir,
primeiro, que somas e diferenças de funções periódicas também é uma função periódica e que
a multiplicação de uma função periódica por um escalar é periódica.
Os próximos resultados e exemplos a seguir caminham nesta direção, têm como objetos exibir
as propriedades satisfeitas pelas funções periódicas, bem como certos cuidados que se deve ter.

Proposição 1.1: Sejam f , g : X → R funções periódicas de perı́odo T . Então, também são


periódicas de perı́odo T as seguintes funções:
(a) f ± g;
(b) f · g;
(c) λ · f , onde λ ∈ R
(d) f/g, desde que g(x) 6= 0.
D EMONSTRAÇ ÃO : Como f e g são periódicas de mesmo perı́odo T , para todo x ∈ R, tem-se

f (x + T ) = f (x) e g(x + T ) = g(x).

Logo,
( f + g)(x + T ) = f (x + T ) + g(x + T ) = f (x) + g(x) = ( f + g)(x),
o que mostra que f + g é periódica de perı́odo T .
Analogamente,

( f − g)(x + T ) = f (x + T ) − g(x + T ) = f (x) − g(x) = ( f − g)(x),

mostrando que f − g também é uma função periódica de perı́odo T .


8 1 Séries de Fourier – parte 1

(b) Para todo x ∈ R, tem-se

( f · g)(x + T ) = f (x + T ) · g(x + T ) = f (x) · g(x) = ( f · g)(x),

de modo que f · g também é periódica de perı́odo T .

(c) Para todo x ∈ R e λ ∈ R, tem-se

(λ · f )(x + T ) = λ · f (x + T ) = λ · f (x) = (λ · f )(x),

mostrando que λ · f é periódica de perı́odo T .

Seja f (x)/g(x), tal que g(x) 6= 0, para x ∈ R. Tem-se:


   
f f (x + T ) f (x) f
(x + T ) = = = (x),
g g(x + T ) g(x) g
o que demonstra que o quociente entre duas funções periódicas de perı́odo T também é periódica
de mesmo perı́odo, mas desde que o denominador não se anule.

Proposição 1.2: Seja f : X → R uma função periódica de perı́odo T . Então o perı́odo da


função f (ax), onde a 6= 0 é um número real, é T/a.
D EMONSTRAÇ ÃO : Seja g : R → R definida por g(x) = f (ax). Suponha que P ∈ R+ seja o
perı́odo de g. Então,
g(x + P) = g(x),
isto é,
f [a(x + P)] = f (ax) ⇒ f (ax + aP) = f (ax).
Agora faça t = ax para obter
f (t + aP) = f (t).
Deste modo, aP também é um perı́odo de f . Como T é o perı́odo de f , então nT , com n ∈ Z,
também é perı́odo. Assim, existe k ∈ Z tal que

aP = kT, k ∈ Z.

Portanto,
T
· P=k
a
Considerando entre todos os valores de P aquele que é o menor positivo, tem-se que T/a é um
perı́odo para g. De fato,
    
T T
g x+ = f a x+ = f (ax + T ) = f (ax) = g(x).
a a
1.2 Funções periódicas 9

Observação 1.1: Na proposição 1.1, é importante notar que o perı́odo T assumido é qual-
quer, isto é, não é necessariamente o perı́odo fundamental. Além disso, deve-se entender que
aquelas propriedades nos itens (a)–(d) são satisfeitas para algum perı́odo e não para todos os
perı́odos. Por exemplo, para o caso da diferença entre funções periódicas f e g, o que se pode
dizer é que, se existir certo perı́odo T comum a f e g, então este também será o perı́odo de
f − g. Isto não impede que exista outro perı́odo P, igualmente comum a f e g, que não seja
perı́odo para f − g. Em geral isto pode acontecer quando se toma como perı́odo para f e g o
perı́odo fundamental. Os próximos exemplos ilustram esta situação.

Exemplo 1.5: O objetivo deste exemplo é mostrar que a diferença de duas funções periódicas
de mesmo perı́odo é ainda periódica, porém com um perı́odo diferente.
Sejam f , g : R → R funções definidas por

f (x) = sen x e g(x) = 4 sen x · cos2 x.

−3π −2π −π π 2π 3π

Figura 1.4: Gráfico da função f (x) = sen x.

y
2
1
x

−3π −2π −π −1 π 2π 3π

−2

Figura 1.5: Gráfico da função g(x) = 4 sen x · cos2 x.

O exemplo 1.1 mostrou que o perı́odo de f é igual 2π . Afirma-se que g tem o mesmo perı́odo
2π . De fato, basta observar que

g(x + 2π ) = 4 sen (x + 2π ) · cos2 (x + 2π )


= 4 sen (x + 2π ) · cos(x + 2π ) · cos(x + 2π )
10 1 Séries de Fourier – parte 1

= 4 sen x · cos x · cos x (pois seno e cosseno tem perı́do 2π )


= 4 sen x · cos2 x = g(x).

Agora considere a função h : R → R definida por

h(x) = g(x) − f (x) = 4 sen x · cos2 x − sen x.

y
2
1
x

−3π −2π −π −1 π 2π 3π

−2

Figura 1.6: Gráfico da função h(x) = sen 3x.

Observe-se que a função h pode ser reescrita na forma

h(x) = g(x) − f (x) = 4 sen x · cos2 x − sen x


  
= sen x · 4 cos2 x − 1 = sen x · 3 cos2 − 1 − cos2 x

= sen x · 3 cos2 x − sen 2 x = 3 sen x · cos2 x − sen 3 x
= 2 sen x · cos2 x + sen x · cos2 x − sen 3 x

= (2 sen x · cosx) · cos x + sen x · cos2 x − sen 2 x

= sen 2x · cos x + sen x · cos2 x − sen 2 x
= sen 2x · cos x + sen x · cos 2x = sen (2x + x)
= sen 3x

Assim, para h(x) = sen 3x, basta usar o exemplo 1.2 e tomar L = π e n = 3 em T = 2L/n para
concluir que h tem como perı́odo T = 2π/3.

Exemplo 1.6: Este exemplo mostra que o produto entre duas funções periódicas de mesmo
perı́odo é uma função periódica, mas tendo perı́odo distinto.
Sejam f , g : R → R funções definidas por

f (x) = sen x e g(x) = cos x.

Considere h : R → R uma função dada por h(x) = f (x) · g(x). Assim,


1.2 Funções periódicas 11

h(x) = f (x) · g(x) = sen x · cos x


1
= ( sen x · cos x + sen x · cos x)
2
1 1
= · sen (x + x) = · sen 2x.
2 2
Tem-se que o perı́odo de f e g é igual a 2π , enquanto o perı́odo de h é π . Para confirmar
a afirmação para f e g, basta consultar o exemplo 1.1. Para a afirmação sobre o perı́odo de h,
basta consultar o exemplo 1.2, tomando T = 2L/n, L = π e n = 2.

Exemplo 1.7: Neste exemplo será mostrado que o quociente entre funções de mesmo
perı́odo é ainda periódica, porém com perı́odo diferente.
Sejam f , g : R → R funções definidas por

f (x) = sen x e g(x) = cos x.

Considere h : R → R uma função dada por


f (x) sen x
h(x) = = = tg x.
g(x) cos x
Como foi visto no exemplo 1.1, f e g têm perı́odo 2π , enquanto h tem perı́odo π . De fato,
sen (x + π )
h(x + π ) = tg (x + π ) =
cos(x + π )
sen x · cos π + sen π · cos x
=
cos x · cos π − sen x · sen π
− sen x sen x
= =
− cosx cosx
= tg x = h(x).

Exemplo 1.8: Este exemplo mostra que existem funções periódicas de mesmo perı́odo e
cuja soma entre elas não possui um perı́odo fundamental.
Sejam f , g : R → R funções definidas por

f (x) = sen 2 x e g(x) = cos2 x.

Antes é preciso determinar o perı́odo fundamental para estas duas funções. Afirma-se que as
funções f e g acima têm perı́odo T = π .
De fato, se T é um perı́odo fundamental para f (x) = sen x, então a equação a seguir deve ser
satisfeita:
12 1 Séries de Fourier – parte 1

y
1
x

−2π −π π 2π
−1

Figura 1.7: Gráfico da função f (x) = sen 2 x.

y
1
x

−2π −π π 2π
−1

Figura 1.8: Gráfico da função g(x) = cos2 x.

(2.5) sen 2 (x + T ) = sen 2x.

Mas da trigonometria tem-se que


1 − cos 2θ
sen 2 θ = ·
2
Fazendo θ = x + T no primeiro membro e θ = x no segundo membro de (2.5), obtém-se
1 − cos[2(x + T )] 1 − cos(2x)
= ⇒ cos(2x + 2T ) = cos(2x),
2 2
isto é,
cos(2x) · cos(2T ) − sen (2x) · sen (2T ) = cos(2x).
Em particular, tomando x = π , obtém-se

cos(2π ) · cos(2T ) − sen (2π ) · sen (2T ) = cos(2π ),

ou seja,

(2.6) cos(2T ) = 1.

Na identidade trigonométrica fundamental, sen 2 θ + cos2 θ = 1, tomando θ = 2T e usando


(2.6), obtém-se

sen 2(2T ) + cos2 (2T ) = 1 ⇒ sen 2(2T ) + 12 = 1,

donde segue-se que

(2.7) sen (2T ) = 0.


1.2 Funções periódicas 13

Assim, deve-se procurar o menor perı́odo positivo T onde as equações (2.6) e (2.7) são satis-
feitas simultaneamente, isto é,

cos(2T ) = 1 e sen (2T ) = 0.

Portanto,
2T = 2π ⇒ T = π.
Isto mostra que a função f (x) = sen 2 x tem perı́odo π . Analogamente mostra-se que a função
g(x) = cos2 x tem o mesmo perı́odo π .

y
1
x

−2π −π π 2π
−1

Figura 1.9: Gráficos das funções f (x) = sen 2 x e g(x) = cos2 x.

Agora considere h : R → R uma função definida por

h(x) = f (x) + g(x) = sen 2 x + cos2 x = 1.

Deste modo, enquanto as funções f e g têm perı́odo igual a π , a função h, que é soma de f e
g, não tem um perı́odo fundamental (pois h é constante e igual a 1).

A proposição 1.1 deu uma resposta positiva sobre a periodicidade de somas, diferenças,
multiplicação por escalar, etc. para funções periódicas. E através dos exemplos anteriores viu-se
que se deve tomar cuidado com os resultados afirmados na citada proposição.
Agora, interessa ao estudo das séries de Fourier saber se há exigência de periodicidade para a
função f dada. Para isso, deve-se observar que, na expressão para a série de Fourier, as funções
cossenos e senos que aparecem na mesma têm perı́odos diferentes, como pode ser comprovado
através dos exemplos 1.3 e 1.4, pois o valor do perı́odo T = 2L/n muda para cada valor de
n ∈ N. E na série de Fourier tais funções senos e cossenos aparecem somadas. Assim, é preciso
investigar quando é possı́vel garantir que somas de funções periódicas de perı́odos distintos
é ainda uma função periódica. Note-se que esta situação é diferente de tudo aquilo que foi
estudado até este ponto.

Exemplo 1.9: Este exemplo mostra que a soma de duas funções periódicas de perı́odos
diferentes pode ser periódica.
14 1 Séries de Fourier – parte 1

Antes de exibir o exemplo propriamente dito, analisar-se-á a seguinte situação: considere


duas funções f , g : R → R definidas por f (x) = sen x e g(x) = cos x. O exemplo 1.1 mostrou que
as funções f e g são periódicas de perı́odo T = 2π , isto é, sen (x + 2π ) = sen x e cos(x + 2π ) =
cos x.
Agora defina h : R → R por

h(x) = f (x) + g(x) = sen x + cos x.

Assim,
h(x + 2π ) = sen (x + 2π ) + cos(x + 2π ) = sen x + cos x = h(x),
mostrando que a soma de duas funções periódicas também pode ser periódica. Este caso está,
portanto, em conformidade com o item (a) da prosição 1.1.
Por outro lado, existem casos em que as funções f e g possuem perı́odos diferentes e que a
sua soma ainda poderá ser periódica.
Para ver isso, considere, como exemplo, as seguintes funções u, v : R → R definidas por
u(x) = sen (π x) e v(x) = sen (2π x).

y
1
x

−6 −5 −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 5 6
−1

Figura 1.10: Gráfico da função u(x) = sen (π x).

y
1
x

−6 −5 −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 5 6
−1

Figura 1.11: Gráfico da função v(x) = sen (2π x).

Note-se que u é periódica de perı́odo T1 = 2, pois

u(x + 2) = sen [π (x + 2)] = sen (π x + 2π )


= sen (π x) · cos(2π ) + sen (2π ) · cos(2x)
= sen (π x) = u(x).
1.2 Funções periódicas 15

Observe-se também que v é periódica de perı́odo T2 = 1, pois

v(x + 1) = sen [2π (x + 1)] = sen (2π x + 2π )


= sen (2π x) · cos(2π ) + sen (2π ) · cos(2π x)
= sen (2π x) = v(x).

Agora considera-se w : R → R definida por

w(x) = u(x) + v(x) = sen (π x) + sen (2π x).

y
2

x
−6 −5 −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 5 6

−1

−2

Figura 1.12: Gráfico da função w(x) = sen (π x) + sen (2π x).

Assim, para todo x ∈ R, tem-se

w(x + 2) = sen [π (x + 2)] + sen [2π (x + 2)]


= sen (π x + 2π ) + sen (2π x + 4π )
= sen (π x) · cos(2π ) + sen (2π ) · cos(π x) +
+ sen (2π x) · cos(4π ) + sen (4π ) · cos(2π x)
= sen (π x) + sen (2π x) = w(x),

mostrando que w é periódica de perı́odo T = 2.

O exemplo 1.9 mostrou que a soma de duas funções periódicas com perı́odos distintos pode
resultar em uma função ainda periódica. O próximo resultado dá mais informações sobre quando
isso é possı́vel.

Proposição 1.3: Sejam f : R → R uma função periódica de perı́odo T1 e g : R → R uma


função periódica de perı́odo T2 . Suponha que existam inteiros m e n tais que mT1 = nT2 . Então
a função f + g é periódica de perı́odo T = mT1 .
16 1 Séries de Fourier – parte 1

D EMONSTRAÇ ÃO : Como T1 e T2 são os perı́odos, respectivamente, para as funções f e g,


pode-se escrever
f (x + T1 ) = f (x) e g(x + T2 ) = g(x).
Por hipótese, existem m, n ∈ Z tais que mT1 = nT2 . Faça T = mT1 . Agora deve ser lembrado
que, se T é perı́odo de uma função periódica, então kT também é um perı́odo, onde k ∈ Z, ou
seja, que se tem
f (x + mT1 ) = f (x) e g(x + nT2 ) = g(x).
Deste modo,

( f + g)(x + T ) = f (x + T ) + g(x + T ) = f (x + mT1 ) + g(x + mT1)


= f (x + mT1 ) + g(x + nT2) = f (x) + g(x)
= ( f + g)(x).

A proposição 1.3 exige que se tenha inteiros m e n tais que mT1 = nT2 para que a soma de
funções periódicas seja periódica. Mas
T1 n
mT1 = nT2 ⇒ = ,
T2 m
isto é, o quociente entre os perı́odos deve ser racional para que a soma de funções periódicas
também seja periódica.
Isto explica porque a função h(x) = sen (π x) + cos(2π x) no exemplo 1.9 é periódica: as
funções f (x) = sen (π x) e g(x) = cos(2π x) são periódicas e cujos perı́odos são, respectiva-
mente, T1 = 2 e T2 = 1. Assim,
T1 2
= ⇒ 1 · T1 = 2 · T2 ,
T2 1
ou seja, m = 1 e n = 2 são os dois inteiros esperados.
Por outro lado, nem sempre a soma de duas funções periódicas de perı́odos diferentes será
necessariamente periódica. O próximo exemplo exibe esta situação.

Exemplo 1.10: O objetivo deste exemplo é mostrar que a soma de duas funções periódicas
de perı́odos diferentes pode não ser periódica.

De fato, basta considerar duas funções entre aquelas apresentadas no exemplo 1.9: sejam
f , g : R → R duas funções definidas por f (x) = sen x e g(x) = sen (π x). Como já foi visto no
citado exemplo, f (x) = sen x é periódica de perı́odo T1 = 2π e g(x) = sen (π x) é periódica de
perı́odo T2 = 2.
Agora observe que
T1 2π
= = π 6∈ Q.
T2 2
1.2 Funções periódicas 17

Definindo h : R → R por h(x) = f (x) + g(x) = sen x + sen (π x), segue-se que h não é
periódica, pois a mesma é soma de duas funções periódicas f e g cujo quociente de seus perı́odos
não é um racional.

A situação do exemplo 1.10 precisa ser melhor esclarecida, uma vez que se está diante de
uma situação embaraçosa: a soma de funções periódicas de perı́odos distintos pode, ou não,
ser periódica. Neste caso, para as séries de Fourier, cujas funções cossenos e senos não têm
necessariamente o mesmo perı́odo, tal situação não permitiria conclusão alguma sobre a perio-
dicidade da função f dada a priori.
Por outro lado, o resultado apresentado abaixo será usado no exemplo 1.11 dado a seguir
e que explicará o motivo do exemplo 1.10 ter produzido uma soma não periódica de funções
periódicas (mas de perı́odos diferentes).

Proposição 1.4: Se f é uma função diferenciável e periódica de perı́odo T . Então a função


derivada, f 0 , também é periódica de perı́odo T .
D EMONSTRAÇ ÃO : Seja x = α + T para algum α ∈ [0, T ]. Note-se que para qualquer valor
de h, tem-se

f (x + h) − f (x) = f (α + T + h) − f (α + T )
= f [(α + h) + T ] − f (α + T )
(2.8) = f (α + h) − f (α ),

onde usou-se a periodicidade de f no penúltimo passo.


Tem-se também que f é diferenciável por hipótese. Assim, usando a definição de derivada e
(2.8), obtém-se
f (x + h) − f (x)
f 0 (x) = lim
h→0 h
f (α + h) − f (α )
= lim
h→0 h
0
(2.9) = f (α ).

A igualdade obtida em (2.9) mostra que f 0 (x) = f 0 (α ). Mas x = α + T . Logo, f 0 (α + T ) =


f 0 (α ). Porém, como α é arbitrário, segue-se que o resultado é sempre verdadeiro para qualquer
α . Isto mostra que f 0 é periódica de perı́odo T .

O próximo exemplo usa a proposição 1.4 para dar melhor entendimento sobre o que ocorreu
com a soma de funções periódicas (de perı́odos distintos) não ser periódica no exemplo 1.10.
18 1 Séries de Fourier – parte 1

Exemplo 1.11: A função f : R → R, definida por f (x) = sen (ax) + sen (bx), é periódica
se, e somente se, a/b é racional.

S OLUÇ ÃO : Suponha que a/b seja racional, isto é, onde a, b ∈ Z. Deve-se mostrar que f (x) =
sen (ax) + sen (bx) é uma função periódica de perı́odo P. Assim, ao tomar P = 2π , obtém-se

f (x + 2π ) = sen [a(x + 2π )] + sen [b(x + 2π )]


= sen (ax + 2aπ ) + sen (bx + 2bπ )
= sen (ax) · cos(2aπ ) + sen (2aπ ) · cos(ax)
+ sen (bx) · cos(2bπ ) + sen (2bπ ) · cos(bx)
= sen (ax) · 1 + 0 · cos(ax) + sen (bx) · 1 + 0 · cos(bx)
= sen (ax) + sen (bx) = f (x),

onde usou-se o fato que seno de múltiplo inteiro de 2π é zero e que cosseno de múltiplo inteiro
de 2π é igual a um, isto é,

sen (2aπ ) = sen (2bπ ) = 0 e cos(2aπ ) = cos(2bπ ) = 1.

Este cálculo mostra que a função f é periódica de perı́do P = 2π se a/b é racional.


Reciprocamente, suponha que a função f (x) = sen ax + sen bx seja periódica e que seu
perı́odo seja T . Agora deve-se demonstrar que a/b é racional.
Observe-se que f é uma função diferenciável (aliás, infinitamente diferenciável). Pela proposição
1.4, tem-se que
f 00 (x) = −a2 sen (ax) − b2 sen (bx)
também é periódica de mesmo perı́odo T .
Além disso,

f (0) = sen 0 + sen 0 = 0 e f 00 (0) = −a2 sen 0 − b2 sen 0 = 0.

Logo, pela periodicidade de f e f 00 , segue-se que

f (T ) = f (0 + T ) = f (0) = 0 e f 00 (T ) = f 00 (0 + T ) = f 00 (0) = 0.

Tem-se, portanto, o seguinte sistema:


(
sen (aT ) + sen (bT ) = 0,
a2 sen (aT ) + b2 sen (bT ) = 0.

Resolvendo o sistema acima, obtém-se



a2 sen (aT ) + b2 [− sen (aT )] = 0 ⇒ a2 − b2 sen (aT ) = 0,

implicando em sen (aT ) = 0, para a 6= b.


1.2 Funções periódicas 19

Substituindo na primeira equação, obtém-se também que sen (bT ) = 0 (a 6= b). Portanto,
tem-se que
sen (aT ) = sen (bT ) = 0, para a 6= b.
Daı́ segue-se que aT e bT são múltiplos inteiros de π , isto é,

aT = nπ e bT = mπ , m, n ∈ Z,

de modo que
a nπ/T nπ T n
= = · = ,
b mπ/T T mπ m
mostrando que a/b é racional (pois é quociente de dois inteiros).

No caso do exemplo 1.10, a função h(x) = sen x + sen (π x) tem a = 1 e b = π , de modo que
a 1
= ∈/ Q,
b π
mostrando que esta a função h não é periódica. Isto mostra que a questão não está relacionada
apenas aos perı́odos envolvidos, mas também com os argumentos das funções senos.
Estes exemplos anteriores tomaram como base funções senos, porém pode-se concluir as
mesmas coisas quando se considera as funções cossenos. Isto será deixado como exercı́cio para
o leitor.
A partir deste ponto retorna-se às considerações sobre as séries de Fourier, onde será anali-
sada a periodicidade da função f que é dada a priori. A ideia a ser perseguida consiste em
procurar um perı́odo que seja comum a todas funções cossenos e senos que aparecem na série
de Fourier e depois analisar se tal perı́odo também é um perı́odo para f .

Exemplo 1.12: Os exemplos 1.3 e 1.4 mostraram que as funções


 nπ x   nπ x 
sen e cos
L L
têm o mesmo perı́odo T = 2L/n. Mostrar-se-á que estas duas funções têm um perı́odo comum e
igual a 2L. Note-se que a afirmação feita diz apenas que estas funções têm, para cada n ∈ N, um
perı́odo em comum, que não necessariamente é o perı́odo fundamental para cada uma delas.
Com efeito, já foi comentado anteriormente que qualquer múltiplo inteiro do perı́odo funda-
mental também é um perı́odo. Assim, segue-se desta observação que nT também é perı́odo, de
modo que
2L
P = n·T = n· = 2L
n
é um perı́odo comum para sen (nπ x/L) e para cos (nπ x/L).
20 1 Séries de Fourier – parte 1

Exemplo 1.13: Suponha que f : R → R é uma função que possa ser representada através de
sua série de Fourier, isto é, que se possa escrever
∞ 
a0 nπ x nπ x 
f (x) = + ∑ an cos + bn sen ·
2 n=1 L L

Então, nestas condições, f é uma função periódica de perı́odo T = 2L.

De fato, como foi visto nos exemplos 1.3 e 1.4, as funções cos(nπ x/L) e sen (nπ x/L) têm como
perı́odo fundamental T = 2L/n para cada n ∈ N. Além disso, viu-se no exemplo 1.12 que P = 2L
é um perı́odo comum a todas estas funções. Assim,
∞ n h nπ i h nπ io
a0
f (x + 2L) = + ∑ an cos (x + 2L) + bn sen (x + 2L)
2 n=1 L L
∞ h  nπ x   nπ x i
a0
= + ∑ an cos + 2nπ + bn sen + 2nπ
2 n=1 L L
∞   nπ x   nπ x 
a0
= + ∑ an cos · cos(2nπ ) + an sen · sen (2nπ ) +
2 n=1 L L
 nπ x   nπ x  
+ bn sen · cos(2nπ ) + bn sen (2nπ ) · cos
L L
∞ h    i
a0 nπ x nπ x
= + ∑ an cos + bn sen
2 n=1 L L
= f (x),

onde usou-se os seguintes fatos

cos(2nπ ) = 1 e sen (2nπ ) = 0, n ∈ N.

Isto mostra que f (x + 2L) = f (x), ou seja, que toda função que pode ser escrita como sua
série de Fourier é periódica de perı́odo 2L.

Na seção 1.3 será apresentada uma maneira de determinar os coeficientes de Fourier. Para
isso, será necessário assumir um tipo de convergência que permita integrar a série termo a
termo, ou seja, passar o sinal de integração para depois do sinal de somatório. Em geral isso não
é possı́vel, mas se a convergência for uniforme, então sim. Além disso, a integração será feita
em um intervalo muito particular: [−L, L]. A questão é justificar o motivo para a escolha deste
intervalo.
O próximo resultado mostrará que qualquer intervalo tendo o comprimento do perı́odo T da
função periódica f pode ser usado na integração termo a termo da série de Fourier (lembrando
que isto será feito na seção 1.3). Ou mais geralmente: que a integral de uma função periódica
de perı́odo T tem o mesmo valor em qualquer intervalo de comprimento T .
1.2 Funções periódicas 21

Proposição 1.5: Seja f : R → R uma função periódica de perı́odo T e integrável em qual-


quer intervalo. Então, para qualquer a ∈ R, tem-se
Z a+T Z T
f (x) dx = f (x) dx.
a 0

D EMONSTRAÇ ÃO : Seja ϕ : R → R uma função definida por


Z x+T
ϕ (x) = f (t) dt.
x

Note-se que ϕ está bem definida, pois f é integrável em qualquer intervalo. Assim, pelo
teorema fundamental do cálculo, tem-se que

ϕ 0 (x) = f (x + T ) − f (x) ⇒ ϕ 0 (x) = 0,

pois f é periódica de perı́odo T , isto é, f (x + T ) = f (x).


Como ϕ 0 (x) = 0, segue-se que ϕ (x) é constante. Portanto, tem-se que ϕ (a) = ϕ (0), ou seja,
Z a+T Z T
f (t) dt = ϕ (a) = ϕ (0) = f (t) dt,
a 0

que é o resultado desejado.

Corolário 1.1: Seja f : R → R uma função periódica de perı́odo T = 2L e integrável em


qualquer intervalo. Então, para qualquer a ∈ R, tem-se
Z 2L Z a+L
f (t) dt = f (t) dt.
0 a−L

D EMONSTRAÇ ÃO : Viu-se na demonstração da proposição 1.5 que a função ϕ : R → R dada


por
Z x+2L
ϕ (x) = f (t) dt
x
é constante, pois f é periódica de perı́odo T = 2L.
Em particular, tem-se que ϕ (0) = ϕ (a − L). Assim,
Z 2L Z (a−L)+2L Z a+L
f (t) dt = ϕ (0) = ϕ (a − L) = f (t) dt = f (t) dt,
0 a−L a−L

que é o resultado desejado.

Corolário 1.2: Seja f : R → R uma função periódica de perı́odo T = 2L e integrável em


qualquer intervalo. Então, para qualquer a ∈ R, tem-se
22 1 Séries de Fourier – parte 1

Z a+L Z L
f (t) dt = f (t) dt.
a−L −L

D EMONSTRAÇ ÃO : Pela demonstração da proposição 1.5, a função ϕ : R → R dada por


Z x+2L
ϕ (x) = f (t) dt
x

é constante, pois f é periódica de perı́odo T = 2L.


Em particular, tem-se que ϕ (a − L) = ϕ (−L). Assim,
Z a+L Z −L+2L Z L
f (t) dt = ϕ (a − L) = ϕ (−L) = f (t) dt = f (t) dt,
a−L −L −L

que é o resultado desejado.

Usando a proposição 1.5 com T = 2L, bem como os corolários 1.1 e 1.2, obtém-se, por
transitividade, que
Z a+2L Z 2L Z a+L Z L
f (t) dt = f (t) dt = f (t) dt = f (t) dt,
a 0 a−L −L

isto é, Z a+2L Z L


f (t) dt = f (t) dt.
a −L
A última igualdade acima mostra que a integral de uma função f : R → R periódica de
perı́odo T = 2L também pode ser calculada no intervalor simétrico [−L, L] (e que também tem
comprimento 2L). Isto ainda não é suficiente para explicar porque se opta por integrar termo a
termo a série de Fourier, apenas que uma integração pode feita no intervalo [−L, L] sem alterar
valores e convergência. O motivo será apresentado na seção 1.3, mas plenamente esclarecido na
seção 1.5.
O próximo resultado analisa as relações sobre periodicidade entre a função f e a função ϕ
(que é nomeada de integral indefinida) introduzida na demonstração da proposição 1.5 e que
será útil em capı́tulos futuros.

Proposição 1.6: Seja f : R → R uma função periódica de perı́odo T . Então a função ϕ :


R → R, definida por Z x
ϕ (x) = f (t) dt,
0
é periódica de perı́odo T se, e somente se,
Z T
f (t) dt = 0.
0

D EMONSTRAÇ ÃO : Suponha que


1.2 Funções periódicas 23

Z T
f (t) dt = 0.
0

Tem-se:
Z x+T Z x
ϕ (x + T ) − ϕ (x) = f (t) dt − f (t) dt
0 0
Z 0 Z x+T
= f (t) dt + f (t) dt
x 0
Z x+T
= f (t) dt,
x

para qualquer x ∈ R.
Como f é periódica de perı́odo T , pela proposição 1.5, tem-se que
Z x+T Z T
f (t) dt = f (t) dt, ∀ x ∈ R.
x 0

Portanto, Z x+T Z T
ϕ (x + T ) − ϕ (x) = f (t) dt = f (t) dt = 0,
x 0
onde usou a hipótese assumida. Isto mostra que

ϕ (x + T ) − ϕ (x) = 0 ⇒ ϕ (x + T ) = ϕ (x),

ou seja, que ϕ é uma função periódica de perı́odo T .

Reciprocamente, suponha que ϕ é periódica de perı́odo T , isto é, que ϕ (x + T ) = ϕ (x) para
todo x ∈ R. Assim, em particular para x = 0, tem-se que

ϕ (T ) = ϕ (0 + T ) = ϕ (0),

ou ainda, Z T Z 0
f (t) dt = ϕ (T ) = ϕ (0) = f (t) dt = 0,
0 0
como desejado.

Observação 1.2: Seja f : R → R uma função periódica e integrável. Considere uma função
ϕ : R → R definida por Z x
ϕ (x) = f (t) dt.
0
Em geral, mesmo que f seja uma função periódica, nem sempre a função ϕ será periódica. De
fato, basta tomar, por exemplo, a função f definida por f (x) = 1 + cosx. A função f é periódica
de perı́odo T = 2π , pois

f (x + 2π ) = 1 + cos(x + 2π ) = 1 + cosx = f (x).


24 1 Séries de Fourier – parte 1

O gráfico de f encontra-se na figura dada a seguir.

y
2

1
x

−2π −π π 2π
−1

−2

Figura 1.13: Gráfico da função f (x) = 1 + cosx.

Por outro lado, um cálculo direto de ϕ permite escrever


Z x Z x
ϕ (x) = f (t) dt = (1 + cost) dt
0
x 0

= (t + sen t) = (x + sen x) − (0 + sen 0)
0
= x + sen x.

−3π −2π −π π 2π 3π

−π

−2π

−3π

Figura 1.14: Gráfico da função ϕ (x) = x + sen x.

A função ϕ (x) = x + sen x não é periódica, a menos que sua definição seja restrita a um
intervalo especı́fico.
Agora observe o motivo para que ϕ não seja periódica:
1.3 Coeficientes de Fourier 25

Z T Z 2π 2π

f (t) dt = (1 + cost) dt = (t + sen t)
0 0 0
= (2π + sen 2π ) − (0 − sen 0) = 2π 6= 0.

Como a integral de f , de 0 até T = 2π , é diferente de zero, então a proposição 1.6 garante


que ϕ não é periódica.

Exemplo 1.14: Seja f : R → R uma função periódica de perı́odo T . Determine a constante


K para que a função Z x
ϕ (x) = [ f (t) − K] dt
0
seja periódica de perı́odo T .

S OLUÇ ÃO : Faça g(x) = f (x) − K. Observe-se que g é periódica de perı́odo T , pois

g(x + T ) = f (x + T ) − K = f (x) − K = g(x).

Pela proposição 1.6 a função ϕ será periódica de perı́odo T se, e somente se, a integral de g
de 0 até T for igual a zero. Assim,
Z T Z T
0= g(t) dt = [ f (t) − K] dt
0 0
Z T Z T Z T T

= f (t) dt − K dt = f (t) dt − K · t
0 0 0 0
Z T
= f (t) dt − K · T,
0

ou seja, Z T
1
K= f (t) dt.
T 0

1.3 Coeficientes de Fourier

Inicia-se esta seção com resultados do Cálculo e que serão úteis naquilo que seguirá. Tais
resultados serão apresentados na forma de lema, para que possam ser citados oportunamente
quando necessário. Os quatro lemas dados a seguir são conhecidos como relações de ortogo-
nalidade.
26 1 Séries de Fourier – parte 1

Antes, apresentar-se-á alguns fatos simples de trigonometria que serão usados nos próximos
resultados, além de outros. Como os conceitos de paridade e imparidade de uma função ainda
não foram introduzidos, usar-se-á algebrismo para mostrar dois resultados e que serão usados
neste lema e em outros resultados. Tem-se:

cos(−x) = cos x e sen (−x) = sen x.

Com efeito,

cos(−x) = cos(0 − x) = (cos 0) · (cos x) + ( sen 0) · ( sen x) = cos x,


sen (−x) = sen (0 − x) = ( sen 0) · (cos x) − ( sen x) · (cos 0) = − sen x,

onde usou-se os fatos elementares da trigonometria: sen 0 = 0 e cos 0 = 1.

Lema 1.1: Tem-se:


Z L  nπ x  Z L  nπ x 
(3.1) cos dx = 0 = sen dx.
−L L −L L
D EMONSTRAÇ ÃO : A demonstração consiste em calcular as duas integrais diretamente. Tem-
se:
Z L  nπ x  L  nπ x  L
cos dx = · sen
−L L nπ L −L
L
= [ sen (nπ ) − sen (−nπ )]

L
= [ sen (nπ ) + sen (nπ )]

2L
= · sen (nπ ) = 0,

pois seno de múltiplo inteiro de π é sempre igual a zero.
Para a segunda integral, tem-se

Z L  nπ x  L  nπ x  L
sen dx = − · cos
−L L nπ L −L
L
= − [ cos(nπ ) − cos(−nπ )]

L
= − [ cos(nπ ) − cos(nπ )]

= 0.

Lema 1.2: Tem-se:


1.3 Coeficientes de Fourier 27

Z L  nπ x   mπ x 
(3.2) cos sen dx = 0, n, m ≥ 1.
−L L L
D EMONSTRAÇ ÃO : Deve-se mostrar o resultado separando em dois casos: m = n e m 6= 0.
Para m = n, tem-se
Z L  nπ x   mπ x  Z L  nπ x   nπ x 
cos sen dx = cos sen dx
−L L L −L L L
Z −nπ
= sen u · cosu du



= sen u = sen (nπ ) − sen (−nπ ) = 0,
−nπ

onde se fez duas mudanças de variáveis:


nπ x
u= ·
L
Para o caso m 6= n é necessário usar a seguinte identidade trigonométrica:
sen (α − β ) + sen (α + β )
sen α · cos β = ,
2
que pode ser obtida adicionando-se as fórmulas do seno da soma e do seno da diferença.
Assim,

Z L  nπ x   mπ x  Z  
1 L (n − m)π x (n + m)π x
cos sen dx = sen + sen dx
−L L L 2 −L L L
Z   Z  
1 L (n − m)π x 1 L (n + m)π x
= sen dx + sen dx
2 −L L 2 −L L
 
L (n − m)π x L
=− cos −
2(n − m)π L −L
  L
L (n + m)π x
− cos
2(n + m)π L −L
L
=− {cos[(n − m)π ] − cos[−(n − m)π ]} −
2(n − m)π
L
− {cos[(n + m)π ] − cos[−(n + m)π ]}
2(n + m)π
L
=− {cos[(n − m)π ] − cos[(n − m)π ]} −
2(n − m)π
L
− {cos[(n + m)π ] − cos[(n + m)π ]}
2(n + m)π
L L
=− ·0− · 0 = 0.
2(n − m)π 2(n + m)π
28 1 Séries de Fourier – parte 1

O leitor deve observar que este segundo procedimento de integração não pode ser aplicado
ao caso n = m, pois no segundo método o termo n − m aparece no denominador e que seria
anulado caso m = n.

Lema 1.3: Tem-se:


Z L
(
 nπ x   mπ x  L, se n = m ≥ 1,
(3.3) cos cos dx =
−L L L 0, se n 6= m, n, m ≥ 1.

D EMONSTRAÇ ÃO : Deve-se dividir a demonstração em dois casos: m = n e m 6= n. Para o


caso m = n será necessário usar a seguinte identidade trigonométrica
1 + cos2α
cos2 α = ,
2
que pode ser obtida adicionando-se a identidade trigonométrica fundamental à fórmula do
cosseno da soma, onde nesta última se toma os dois argumentos como α . Tem-se:
Z L  nπ x   mπ x  Z L  nπ x   nπ x 
cos cos dx = cos cos dx
−L L L −L L L
Z L  nπ x 
= cos2 dx
−L L
Z   
1 L 2nπ x
= 1 + cos dx
2 −L L
Z Z  
1 L 1 L 2nπ x
= dx + cos dx
2 −L 2 −L L
 
x L L 2nπ x L
= + sen
2 nπ −L L −L
1 L
= [L − (−L)] + [ sen (2nπ ) − sen (−2nπ )]
2 nπ
2L
= L+ · sen (2nπ ) = L.

Para o caso m 6= n, será necessário usar a identidade trigonométrica
cos(α − β ) + cos(α + β )
cos α · cos β = ,
2
que pode ser determinada adicionando-se as fórmulas do cosseno da soma e do cosseno da
diferença. Tem-se:

Z L  nπ x   mπ x  Z L 
1 (n − m)π x (n + m)π x
cos cos dx = cos + cos dx
−L L L 2 −L L L
1.3 Coeficientes de Fourier 29

Z L   Z  
1 (n − m)π x 1 L (n + m)π x
= cos dx + cos dx
2 −L L 2 −L L
 
L (n − m)π x L
= sen +
2(n − m)π L −L
 
L (n + m)π x L
+ sen
2(n + m)π x L −L
L
= { sen [(n − m)π ] − sen [−(n − m)π ]} +
2(n − m)π
L
+ { sen [(n + m)π ] − sen [−(n + m)π ]}
2(n + m)π
L L
= · sen (n − m)π + · sen (n + m)π
(n − m)π (n + m)π
L L
= ·0+ · 0 = 0,
(n − m)π ) (n + m)π
onde usou-se novamente o fato de que seno de múltiplo inteiro de π é igual a zero.

Lema 1.4: Tem-se:


Z L (
 nπ x   mπ x  L, se n = m ≥ 1,
(3.4) sen sen dx =
−L L L 0, se n 6= m, n, m ≥ 1.

D EMONSTRAÇ ÃO : Para o caso m = n usar-se-á a identidade trigonométrica


1 − cos 2α
sen 2 α = ,
2
que pode ser determinada somando-se a identidade trigonométrica fundamental com a fórmula
do cosseno da diferença, onde nesta última se toma os dois argumentos como α . Assim, para
m = n, tem-se

Z L  nπ x   mπ x  Z L  nπ x   nπ x 
sen sen dx = sen sen dx
−L L L −L L L
Z L  
2 nπ x
= sen dx
−L L
Z   
1 L 2nπ x
= 1 − cos dx
2 −L L
Z Z  
1 L 1 L 2nπ x
= dx − cos dx
2 −L 2 −L L
L   L
x L 2nπ x
= − sen
2 −L nπ L
−L
30 1 Séries de Fourier – parte 1

1 L
= [L − (−L)] − [ sen (2nπ ) − sen (−2nπ )]
2 nπ
2L 2L
= L− · sen (2nπ ) = L − · 0 = L.
nπ nπ
Para o caso m 6= n será necessário usar a identidade trigonométrica
cos(α − β ) − cos(α + β )
sen α · sen β = ,
2
que pode ser obtida através da subtração entre as fórmulas do cosseno da soma e do cosseno da
diferença. Assim, para m 6= n, tem-se
Z L  nπ x   mπ x  Z  
1 L (n − m)π x (n + m)π x
sen sen dx = cos − cos dx
−L L L 2 −L L L
Z   Z  
1 L (n − m)π x 1 L (n + m)π x
= cos dx − cos dx
2 −L L 2 −L L
 
L (n − m)π x L
= sen −
2(n − m)π L −L
  L
L (n + m)π x
− sen
2(n + m)π x L −L
L
= { sen [(n − m)π ] − sen [−(n − m)π ]} −
2(n − m)π
L
− { sen [(n + m)π ] − sen [−(n + m)π ]}
2(n + m)π
L L
= · sen (n − m)π − · sen (n + m)π
(n − m)π (n + m)π
L L
= ·0− · 0 = 0,
(n − m)π ) (n + m)π
onde usou-se, mais uma vez, o fato de que seno de múltiplo inteiro de π é igual a zero.

Observação 1.1: Os quatro lemas, enunciados e demostrados anteriormente, são conhecidos


como relações de ortogonalidade. Os valores das integrais nestes lemas ou é 0 ou é L. Isto só
foi possı́vel porque tomou-se a integração no intervalo simétrico [−L, L]. Em geral tal resultado
não é verdadeiro, mesmo que se tome qualquer outro intervalo tendo o mesmo comprimento 2L
(o perı́odo). Isto será esclarecido na seção 1.5, quando for estudado as funções pares e ı́mpares.

Com auxı́lio dos lemas enunciados e demonstrados, os coeficientes de Fourier serão deduzi-
dos a partir deste ponto. O procedimento adotado é formal, onde será admitido a convergência
uniforme da série para que os cálculos façam sentido.
Se uma função f (x) pode ser representada na forma
1.3 Coeficientes de Fourier 31

∞ h  nπ x   nπ x i
a0
(3.5) f (x) = + ∑ an cos + bn sen ,
2 n=1 L L

é de se esperar que os coeficientes an e bn estejam intimamente ligados à função f . Objetiva-se


determinar as expressões que eles têm em termos da função f . Para isso, será admitido que
a igualdade em (3.5) se verifique e que a série dada no segundo membro de (3.5) convirja
uniformemente.
Note-se que, pela proposição 5.1 (apêndice E), a função f deve ser contı́nua (e, portanto, ela
pode ser integrada) e deve ser periódica de perı́odo 2L, pois o perı́odo fundamental de cos(π x/L)
é 2L e 2L é o perı́odo comum para as demais funções seno e cosseno que aparecem na série.
Reveja os exemplos 1.2, 1.3, 1.4 e 1.5 deste capı́tulo para detalhamentos sobre as afirmações
aqui feitas.
Em virtude da continuidade da função f pode-se usar a proposição 5.2 (apêndice E) para
integrar ambos os membros de (3.5) de −L até L para obter
Z L Z Z L
( )
∞ h  nπ x   nπ x i
a0 L
−L
f (x) dx =
L −L
dx +
−L n=1
∑ an cos L + bn sen L dx

= (conv. uniforme)
Z ∞  Z L  nπ x  Z L  nπ x  
a0 L
(3.6) = dx + ∑ an cos dx + bn sen dx .
2 −L n=1 −L L −L L

Pelas relações (3.1) do lema 1.1, tem-se que


Z L  nπ x  Z L  nπ x 
cos dx = 0 = sen dx,
−L L −L L
que aplicadas em (3.6) resulta em
Z L Z L
1
f (x) dx) = a0 · L ⇒ a0 = f (x) dx.
−L L −L

Para determinar os coeficientes an em (3.5), basta multiplicar ambos os membros por


cos (nπ x/L) e depois integrar de −L até L, isto é, para m ≥ 1 fixado, tem-se
 mπ x  ∞ h  nπ x   mπ x   nπ x   mπ x i
f (x) cos
L
dx = ∑ a n cos
L
cos
L
+ b n sen
L
cos
L
,
n=1

de modo que uma integração de −L a L resulta em

Z L  mπ x  Z L  mπ x 
a0
f (x) cos dx = cos dx +
−L L L −L L
Z L ∞   nπ x   mπ x 
+
−L n=1
∑ n a cos
L
cos
L
+
 nπ x   mπ x  
+ bn sen cos dx
L L
32 1 Séries de Fourier – parte 1

= (conv. uniforme)
Z  mπ x 
a0 L
= cos dx +
L −L L
∞  Z L  nπ x   mπ x 
+ ∑ an cos cos dx +
n=1 −L L L
Z L  nπ x   mπ x  
(3.7) + bn sen cos dx .
−L L L
Pelos lemas 1.1 e 1.2 tem-se, respectivamente, que para todo m, n ≥ 1
Z L  mπ x  Z L  nπ x   mπ x 
cos dx = 0 e sen cos dx = 0.
−L L −L L L
Já o lema 1.3 garante que
Z L
(
 nπ x   mπ x  L, se n = m ≥ 1,
cos cos dx =
−L L L 0, se n 6= m, n, m ≥ 1.

Tem em vista que m está fixo enquanto n varia sobre todos os naturais, segue das relações de
ortogonalidade (citadas acima) que o único termo não nulo à direita do sinal de igualdade em
(3.7) é o termo onde m = n no primeiro somatório. Assim,
Z L  nπ x  Z L  nπ x 
1
f (x) cos dx = an · L ⇒ an = f (x) cos dx.
−L L L −L L

Analogamente, uma expressão semelhante para bn pode ser obtida multiplicando-se (3.5) por
sen (mπ x/L), integrando de −L até L e usando as relações de ortogonalidade apresentadas através
dos lemas 1.1–1.4. Deste modo obtém-se
Z L  nπ x 
1
bn = f (x) sen dx.
L −L L

Observação 1.2: As fórmulas que definem os coeficientes de Fourier,


Z Z  nπ x  Z  nπ x 
1 L 1 L 1 L
a0 = f (x) dx, an = f (x) cos dx e bn = f (x) sen dx,
L −L L −L L L −L L
dependem apenas dos valores de f (x) no intervalo [−L, L]. Os exemplos 1.2 e 1.3 mostram
que as funções sen (nπ x/L) e cos (nπ x/L) são periódicas de perı́odo T = 2L/n. Já o exemplo 1.4
mostrou que estas funções têm P = 2L um perı́odo comum. Assim, como cada um dos termos
da série de Fourier (3.5) tem perı́odo comum igual a 2L, a série convergirá para todo x sempre
que convergir para x ∈ [−L, L]. Além disso, a sua soma f (x) também será uma função periódica
de perı́odo 2L, como pode ser visto no exemplo 1.5. Portanto, f (x) fica determinada para todo
x através de seus valores no intervalo [−L, L].
A proposição 1.5 diz que, para uma função periódica de perı́odo T , vale a igualdade
1.3 Coeficientes de Fourier 33

Z a+T Z T
f (x) dx = f (x) dx, ∀ a ∈ R.
a 0

Isto significa dizer que todas as integrais de f em um intervalo de comprimento T têm o


mesmo valor. Aplicando este resultado às fórmulas que definem os coeficientes de Fourier,
segue-se que o intervalo de integração, [−L, L], pode ser substituı́do, se for conveniente, por
qualquer intervalo de comprimento 2L.

D EFINIÇ ÃO : Seja f : R → R uma função periódica de perı́odo 2L, integrável e absolutamente
integrável em cada intervalo limitado. Os números an , para n ≥ 0, e bn , para n ≥ 1, dados por
Z L
1
a0 = f (x) dx,
L −L
Z L  nπ x 
1
an = f (x) cos dx,
L −L L
Z L  nπ x 
1
bn = f (x) sen dx,
L −L L
são definidos como os coeficientes de Fourier da função f .

Observa-se que a exigência da integrabilidade e integrabilidade absoluta de f é necessária


para que as expressões que definem os coeficientes de Fourier façam sentido. Um estudo deta-
lhado e cuidadoso não será neste capı́tulo, apenas chama-se atenção para o fato
Z L  nπ x  Z L


−L f (x) cos L dx ≤ −L | f (x)| dx;
e Z L  nπ x  Z L


−L f (x) sen L dx ≤ −L | f (x)| dx.

Observação 1.3: Na observação 1.1, comentou-se que as relações de ortogonalidade, em


geral, não são satisfeitas caso o intervalo de integração não seja simétrico. Apesar disso, ainda
assim é possı́vel determinar os coeficientes de Fourier em intervalos quaisquer de comprimento
2L. Por outro lado, suas expressões não seriam simples como aquelas vistas acima. Além disso,
com os coeficientes de Fourier nas formas aqui apresentadas permitem certas interpretações em
fenômenos fı́sicos em que eles aparecem.
34 1 Séries de Fourier – parte 1

1.4 Série de Fourier

Dada uma função f : R → R periódica de perı́odo 2L, integrável e absolutamente integrável,


pode-se calcular os seus coeficientes de Fourier através das expressões apresentadas na seção
1.3. Deste modo, pode-se escrever
∞ h  nπ x   nπ x i
a0
(4.1) f (x) ∼ + ∑ a cos + bn sen .
2 n=1 L L

O leitor não deve confundir o sı́mbolo ∼ que aparece em (4.1) com “aproximadamente”.
Ele apenas indica que a expressão no lado direito em (4.1) representa a série de Fourier para
a função f . Dito isso, o leitor poderá questionar sobre a relação entre a função f e sua série
de Fourier. Não há garantias sobre a igualdade entre estes dois objetos, isto é, a função e sua
série de Fourier. Na verdade, a série de Fourier para uma função f pode divergir. Por exemplo,
é possı́vel construir exemplos de funções contı́nuas cujas séries de Fourier divergem.
Por outro lado, existem funções cujas séries de Fourier convergem exatamente para elas, mas
também existem funções cujas séries de Fourier convergem para funções ligeiramente diferentes
das originalmente dadas (observa-se que “ligeiramente diferentes” significa ser diferente). As-
sim, é necessário dar um significado mais amplo para que dois objetos sejam iguais (para quem
já teve contato com o assunto, aqui se fala em relações de equivalência e classe de equivalência).
A seguir, apresenta-se condições suficientes para que a função f seja igual (em sentido amplo)
à sua série de Fourier.

D EFINIÇ ÃO : Diz-se que uma função f : R → R é seccionalmente contı́nua se ela tiver ape-
nas um número finito de descontinuidade (todas de primeira espécie1 ) em qualquer intervalo
limitado.

D EFINIÇ ÃO : Diz-se que uma função f : R → R é seccionalmente diferenciável se ela for
seccionalmente contı́nua e se a função f 0 (x) também for seccionalmente contı́nua.

Naturalmente, toda função contı́nua é seccionalmente contı́nua. A função f : R \ {0} definida


por f (x) = 1/x não é seccionalmente contı́nua, pois esta função tem uma descontinuidade em
x = 0 que é de segunda espécie (isto é, não existem os limites laterais à esquerda e à direita de
x = 0).

Exemplo 1.1: Seja f : R → R definida por

1 Diz-se que f : I → R tem descontinuidade de primeira espécie no ponto a ∈ I quando f é descontı́nua no ponto a e,
aém disso, existem os limites laterais lim f (x) e lim f (x). Se a for um ponto de acumulação de I apenas em um dos
x→a− x→a+
lados deste intervalo, exige-se somente que o limite lateral correspondente exista.
Diz que f : I → R tem uma descontinuidade de segunda espécie quando a é um ponto de acumulação à direita de I e
lim f (x) não existe ou quando a é um ponto de acumulação à esquerda de I, mas não existe o limite lateral lim f (x).
x→a+ x→a−
1.4 Série de Fourier 35



 1, se x ≥ 1,



1 1 1
f (x) = , se ≤x< , n ∈ N,

 n n+1 n



0, se x ≤ 0,

não é seccionalmente contı́nua.

y
1

x
1

Figura 1.15: Gráfico da função f .

Observe-se que todas as descontinuidades de f são de primeira espécie, isto é, existem os
limites laterais à esquerda e à direita em cada ponto de descontinuidade. Porém, no intervalo
(0, 1), existe um número infinito de descontinuidade. Mesmo que sejam de primeira espécie,
para ser seccionalmente contı́nua é necessário que apareçam em um número finito em todo
intervalo limitado e este não é o caso.
Note-se, também, que f não é seccionalmente diferenciável, pois para sê-lo f deveria ser
seccionalmente contı́nua, que não é o caso.

Exemplo 1.2: Seja f : R → R uma função definidas por


(
|x| para − 1 ≤ x < 1,
f (x) =
periódica de perı́odo T = 2,

O leitor poderá verificar que a função f é contı́nua, de modo que ela é seccionalmente
contı́nua. Tem-se também que f 0 (x) é seccionalmente contı́nua e, assim, f seccionalmente
diferenciável. Como exemplo do procedimento, será calculada as derivadas laterais de f e g
36 1 Séries de Fourier – parte 1

y
1

x
−3 −2 −1 1 2 3

Figura 1.16: Gráfico da função f .

em x = 0. Tem-se
f (0 + h) − f (0) −(0 + h) − 0 −h
= = = −1.
h h h
Como a expressão (constante e igual a 1) no último membro acima tem limite para h → 0− ,
então existe limite no primeiro membro. Assim,
f (0 + h) − f (0)
f 0 (0− ) = lim = lim (−1) = −1.
h→0− h h→0−

Agora observa-se que


f (0 + h) − f (0) (0 + h) − 0 h
= = = 1.
h h h
Deste modo, segue-se que existe limite para h → 0+ , pois existe limite no último membro
acima. Portanto,
f (0 + h) − f (0)
f 0 (0+ ) = lim = lim 1 = 1.
h→0+ h h→0+
Como as derivadas laterais são diferentes, não existe derivada na origem. Isto significa dizer
que a função derivada não está definida neste ponto. O leitor poderá adotar o mesmo proce-
dimento para os pontos x = ±1, ±2, ±3, . . . e verificar que a função derivada, f 0 (x), não está
definida nestes pontos.

x
−3 −2 −1 1 2 3

−1

Figura 1.17: Gráfico da função f 0 (x).


1.4 Série de Fourier 37

Apesar de f 0 (x) não estar definida para x = 0, ±1, ±2, ±3, . . ., existem os limites laterais
nestes pontos, além de f 0 (x) existe em todos os demais pontos de R. Assim, f 0 pode ser es-
tendida de maneira conveniente nestes pontos. Sem perda de generalidade, pode-se denotar a
extensão ainda por f 0 , de modo que f 0 : R → R é uma função seccionalmente contı́nua, pois as
descontinuidades serão de primeira espécie e em número finito em todo intervalo limitado. E
isto implica em dizer que f é seccionamente diferenciável.

Exemplo 1.3: Seja f : R → R uma função definidas por



 se − π ≤ x < 0,
 0,

f (x) = 1, se 0 ≤ x < π,


 periódica de perı́odo T = 2π .

y
1
x

−3π −2π −π −1 π 2π 3π

Figura 1.18: Gráfico da função f .

Facilmente o leitor poderá verificar que a função f tem apenas descontinuidades de primeira
espécie e que aparecem em um número finito em qualquer intervalo limitado. Assim, tem-se
que f é funções seccionalmente contı́nua.
Por outro lado, como f é descontı́nua nos pontos x = 0 ± π , ±2π , ±3π , . . ., tem-se que não
existe derivada em cada um destes pontos. Isto significa dizer que a função derivada, f 0 (x), não
está definida nestes pontos. Mas em todos os outros pontos, sim, sendo o valor da derivada igual
a zero, pois f é constante nos intervalos entre estes pontos. Seu gráfico encontra-se abaixo.

y
1
x

−3π −2π −π −1 π 2π 3π

Figura 1.19: Gráfico da função f 0 (x).

Definindo f’(x) em x = 0, ±π , ±2π , ±3π , . . . de maneira conveniente, tem-se que a extensão,


ainda denotada por f 0 (x), será uma função f 0 : R → R seccionalmente contı́nua, pois as descon-
tinuidades serão de primeira espécie. Com isso, tem-se que f será uma função seccionalmente
diferenciável.
38 1 Séries de Fourier – parte 1

Exemplo 1.4: Seja f : R → R uma função definida por


(p
1 − x2 , se − 1 ≤ x ≤ 1,
f (x) =
periódica de perı́odo T = 2.

y
1
x
−4 −3 −2 −1 1 2 3 4

Figura 1.20: Gráfico da função f .

O leitor poderá verificar facilmente que f é seccionalmente contı́nua, pois existem os limites
laterais à esquerda e à direita dos pontos x = −1 e x = 1, bem como em seus múltiplos x =
±3, ±5, . . . Na verdade tem-se que f é contı́nua em todos estes pontos.

y
4

1
x
−4 −3 −2 −1 1 2 3 4
−1

−2

−3

−4

Figura 1.21: Gráfico da função f 0 (x).


1.4 Série de Fourier 39

Por outro lado, f não tem derivada nos pontos x = ±1, ±3, ±5, . . . (são cúspides), pois
as derivadas laterais nestes pontos tende para −∞ e +∞. Isto significa dizer que as descon-
tinuidades da função derivada, f 0 (x), são de segunda espécie. Portanto, f 0 (x) não é seccional-
mente contı́nua e, consequentemente, f não é uma função seccionalmente diferenciável (apesar
de ser seccionalmente contı́nua).

O próximo resultado apresentada condições suficientes para a convergência da série de


Fourier de uma função f . A demonstração será omitida neste ponto; o leitor interessado poderá
consultar o capı́tulo 2.

Teorema 1.1 (Fourier): Seja f : R → R uma função seccionalmente diferenciável e periódica


de perı́odo T = 2L. Então, a série de Fourier da função f , dada por
∞ h  nπ x   nπ x i
a0
f (x) ∼ + ∑ an cos + bn sen ,
2 n=1 L L

converge em cada ponto x para a média dos limites laterais, isto é, converge para
f (x + 0) + f (x − 0)
,
2
ou ainda,
∞ h  nπ x   nπ x i
f (x + 0) + f (x − 0) a0
= + ∑ an cos + bn sen ,
2 2 n=1 L L
onde
f (x + 0) = lim f (t) e f (x − 0) = lim f (t).
t→x+ t→x−
O teorema de Fourier diz que, com as hipóteses assumidas, a série de Fourier converge para
a média dos limites laterais. Naturalmente, para as funções seccionalmente diferenciáveis que
são contı́nuas, a série de Fourier converge exatamente para o ponto, pois os limites laterais serão
iguais e coincidirá com o valor da função neste ponto.

Observação 1.1: No teorema de Fourier, a hipótese da periodicidade de f já foi justificada


na seção 1.2. Já a exigência de f ser seccionalmente contı́nua se dá por dois motivos:
(a) A necessidade da existência dos limites laterais, uma vez que a série de Fourier converge
para a média dos dois.
(b) A necessidade de f ser integrável e absolutamente integrável (no sentido de Riemann).
Por que pedir para que a função derivada também seja seccionalmente contı́nua (isto é, f ser
seccionalmente diferenciável)? Isto será visto na seção 1.9, onde serão feitas estimativas dos
coeficientes de Fourier. Com a integral de Riemann, usada neste texto, isto implica em fazer
integração por partes, de maneira que aparece a função derivada f 0 (x). Nesta mesma seção
também aparece de maneira clara a exigência da função f ser absolutamente integrável.
40 1 Séries de Fourier – parte 1

Exemplo 1.5: Seja f : R → R uma função definida por



 se − π ≤ x < 0,
 0,

f (x) = 1, se 0 ≤ x < π,



periódica de perı́odo T = 2π .

Determinar a série de Fourier para a função f .

S OLUÇ ÃO : O gráfico desta função pode ser visto na figura 1.18. Pelo exemplo 1.2, esta
função é periódica de perı́odo T = 2π e é seccionalmente diferenciável. Logo, pelo teorema
de Fourier, esta função admite uma série de Fourier. Inicialmente deve-se determinar os coefi-
cientes da série de Fourier. Observando que L = T/2 = π , tem-se:
Z Z
1 L 1 π
a0 = f (x) dx = f (x) dx
L −L π −π
Z Z
1 0 1 π
= f (x) dx + f (x) dx
π −π π 0
Z Z
1 0 1 π
= 0 dx + 1 dx
π −π π 0

x π 1
(4.2) = = (π − 0) = 1.
π 0 π
Para o cálculo de an , com n 6= 0, tem-se
Z  nπ x 
1 L
an = f (x) cos dx
L −L L
Z Z
1 0 1 π
= 0 · cos(nx) dx + 1 · cos(nx) dx
π −π π 0
Z π
1 π 1
= cos(nx) dx = · sen (nx)
π 0 nπ 0
1 1
(4.3) = [ sen (nπ ) − sen 0] = · 0 = 0.
nπ nπ
Para o cálculo de bn , tem-se
Z  nπ x  Z Z
1 L 1 0 1 π
bn = f (x) sen dx = 0 · sen (nx) dx + 1 · sen (nx) dx
L −L L π −π π 0
Z π
1 π 1 1
= sen (nx) dx = − · cos(nx) = − [cos(nπ ) − cos 0]
π 0 nπ 0 nπ
1 1
= [1 − cos(nπ )] = [1 − (−1)n] ,
nπ nπ
ou ainda,
2
(4.4) b2k = 0 e b2k−1 = , k ∈ N.
(2k − 1)π
1.4 Série de Fourier 41

Assim, usando os valores para os coeficientes a0 , an e bn obtidos em (4.2), (4.3) e (4.4), a


série de Fourier para a função f é dada por

1 2
f (x) ∼ +∑ · sen (2k − 1) x.
2 k=1 (2k − 1)π

−π π

Figura 1.22: Gráfico das somas parciais da série de Fourier.

A figura 1.23 exibe as quatro primeiras somas parciais da série de Fourier para a função f no
intervalo [−π , pi], isto é, o gráfico das funções
1 2
S1 (x) = + sen x,
2 π
1 2 2
S2 (x) = + sen x + sen (3x),
2 π 3π
1 2 2 2
S3 (x) = + sen x + sen (3x) + sen (5x),
2 π 3π 5π
1 2 2 2 2
S4 (x) = + sen x + sen (3x) + sen (5x) + sen (7x).
2 π 3π 5π 7π
O leitor poderá observar que cada termo adicionado faz com que a série se aproxime mais do
gráfico da função f . Também é interessante notar o que está acontecendo com os gráficos das
somas parciais no ponto (0, 1/2), que é o ponto médio entre os pontos (0, 0) e (0, 1), ou ainda,
que é o ponto obtido como a média dos limites laterais de f na origem.

Exemplo 1.6: A série de Fourier para a função f , que foi obtida no exemplo 1.4, pode ser
usada para obter uma representação para π através de uma série numérica.

De fato, basta tomar x = π/2. Note-se, naquele exemplo, que f (π/2) = 1 e que f é contı́nua
na vizinhança de x = π/2, de modo que a série de Fourier, ao convergir para a média dos limites
laterais, irá convergir exatamente para o valor de f (π/2) = 1. Assim, a função f pode ser escrita
através de uma igualdade nesta vizinhança, isto é,
42 1 Séries de Fourier – parte 1

1 2 ∞ 1
f (x) = + ∑ · sen (2k − 1) x.
2 π k=1 2k − 1

Fazendo x = π/2 na expressão acima, encontra-se


1 2 ∞ 1 h πi
1= + ∑ · sen (2k − 1) ,
2 π k=1 2k − 1 2

isto é,
1 2 ∞ 1 h πi
= ∑ · sen (2k − 1) ,
2 π k=1 2k − 1 2
ou ainda,
π ∞
1 h πi
=∑ · sen (2k − 1) ·
4 k=1 2k − 1 2
Portanto,
π  1      
π 1 3π 1 5π 1 7π
= · sen + · sen + · sen + · sen +···
4 1 2 3 2 5 2 7 2

1 1 1 (−1)k−1
= 1− + − +··· = ∑ ,
3 5 7 k=1 2k − 1

que é conhecida como a série de Leibniz.


Deste modo, é possı́vel determinar um valor para π através da soma

(−1)k−1 4 4 4
π =4∑ = 4− + − +··· ,
k=1 2k − 1 3 5 7

ou ainda com a aproximação desejada.

Exemplo 1.7: Seja f : R → R uma função definida por


(
| x |, se − 1 ≤ x < 1,
f (x) =
periódica de perı́odo T = 2.

Determinar a série de Fourier para f .

S OLUÇ ÃO : Note-se, primeiro, que f é uma função semelhante àquela apresentada no exem-
plo 1.2. Assim, analogamente aquele caso, mostra-se que f uma função seccionalmente difer-
enciável e periódica de perı́odo T = 2. Logo é possı́vel determinar a sua série de Fourier. Para
isso é necessário encontrar os coeficientes de Fourier. Observando que L = 1, para a0 , tem-se
1.4 Série de Fourier 43

Z 1 Z 0 Z 1
1
a0 = f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx
1 −1 −1 0
Z 0 Z 1
x2 0 x2 1
= (−x) dx + x dx = − +
−1 0 2 −1 2 0
1  1 
= − 02 − (−1)2 + 12 − 02
2 2
1 1
(4.5) = + = 1.
2 2
Para os coeficientes an , tem-se

Z 1
1
an = f (x) cos(nπ x)dx
1 −1
Z 0 Z 1
= −x · cos(nπ x)dx + x · cos(nπ x)dx
−1 0
" 0 #  Z 
x 1 0
= − · sen (nπ x) − − sen (nπ x)dx +
nπ −1 nπ −1
" 1#  Z 
x 1 1
+
· sen (nπ x) − sen (nπ x)dx
nπ 0 nπ 0
" 0 # " 0 #
x 1
= − · sen (nπ x) − 2
cos(n π x)
+
nπ −1 (n π ) −1
" 1# " 1 #
x 1
+ · sen (nπ x) − − 2
cos(n π x)

nπ 0 (n π ) 0
  0
1 1
= − · x · sen (nπ x) − · cos(nπ x) +
nπ (nπ )2
−1
  1
1 1
+ · x · sen (nπ x) + · cos(nπ x)
nπ (nπ )2
0
 
1 1
= − · 0 · sen 0 − · cos 0 −
nπ (nπ )2
 
1 1
− − · (−1) · sen (−nπ ) − cos(−nπ ) +
nπ (nπ )2
 
1 1
+ · 1 · sen (nπ ) + · cos(nπ ) −
nπ (nπ )2
 
1 1
− · 0 · sen 0 + · cos0
nπ (nπ )2
 
1 1 1 1
= − + cos(nπ ) + cos(nπ ) −
(nπ )2 (nπ )2 (nπ )2 (nπ )2
2 2
(4.6) = 2
[cos(nπ ) − 1] = 2 2 [(−1)n − 1] , n ∈ N,
(nπ ) n π
44 1 Séries de Fourier – parte 1

onde realizou-se integração por partes nos passos acima da seguinte forma
( 
u = −x,  −du = dx,
e
dv = cos(nπ x)dx,  v = 1 · sen (nπ x),

( 
U = x,  dU = dx,
e
dV = cos(nπ x)dx.  V = 1 · sen (nπ x).

A expressão obtida em (4.6) pode ser melhorada, escrevendo-a para n par e n ı́mpar, isto é,
4
(4.7) a 2k = 0, a 2k−1 = − , k ∈ N.
(2k − 1)2 π 2
Para o cálculo dos coeficientes bn , obtém-se
Z 1
1
bn = f (x) sen (nπ x)dx
1 −1
Z 0 Z 1
= −x · sen (nπ x)dx + x · sen (nπ x)dx
−1 0
" 0 #  Z 0 
x 1
= · cos(nπ x) − cos(nπ x)dx +
nπ −1 nπ −1
" 1#  Z 
x 1 1
+ − · cos(nπ x) − − cos(nπ x)dx
nπ 0 nπ 0
" 0 # " 0 #
x 1
= · cos(nπ x) − 2
sen (n π x)
+
nπ −1 (n π ) −1
" 1# " 1#
x 1
+ − · cos(nπ x) − − 2
sen (n π x)

nπ 0 (n π ) 0
  0
1 1
= · x · cos(nπ x) − · sen (nπ x) +
nπ (nπ )2
−1
  1
1 1
+ − · x · cos(nπ x) + · sen (nπ x)
nπ (nπ )2
0
 
1 1
= · 0 · cos0 − · sen 0 −
nπ (nπ )2
 
1 1
− · (−1) · cos(−nπ ) − sen (−nπ ) +
nπ (nπ )2
 
1 1
+ − · 1 · cos(nπ ) + · sen (nπ ) −
nπ (nπ )2
 
1 1
− − · 0 · cos0 + · sen 0
nπ (nπ )2
1.4 Série de Fourier 45

 
1 1
= · cos(nπ ) − cos(nπ )
(nπ )2 (nπ )2
(4.8) = 0, n ∈ N,

onde realizou-se integração por partes nos passos acima da seguinte forma
( 
u = −x,  −du = dx,
e
dv = sen (nπ x)dx,  v = − 1 · cos(nπ x),

( 
U = x,  dU = dx,
e
dV = sen (nπ x)dx.  V = − 1 · cos(nπ x).

Assim, por (4.5), (4.7) e (4.8), tem-se que os coeficientes de Fourier são dados por
4
a0 = 1, ak = − e bk = 0.
(2k − 1)2 π 2
Assim, a série de Fourier para f é dada por


a0
f (x) ∼ + ∑ { ak cos[(2k − 1)π x] + bk sen [(2k − 1)π x]}
2 k=1
∞  
1 4
∼ +∑ − cos[(2k − 1)π x] + 0 · sen [(2k − 1)π x]
2 k=1 (2k − 1)2π 2
1 4 ∞ 1
∼ − 2 ∑ cos[(2k − 1)π x].
2 π k=1 (2k − 1)2

y
1

x
−3 −2 −1 1 2 3

Figura 1.23: Gráfico das somas parciais.

Agora observe que a função f dada é contı́nua em todo x ∈ R, de modo que a média dos
limites laterais em um cada ponto coincide com o valor da função neste ponto. Em outras
palavras: é possı́vel usar a igualdade entre f (x) e sua série de Fourier, isto é,
46 1 Séries de Fourier – parte 1

1 4 ∞ 1
f (x) = − 2 ∑ cos[(2k − 1)π x].
2 π k=1 (2k − 1)2

A figura 1.23 exibe o gráfico de f e das primeiras três somas parciais da série de Fourier, isto
é, das seguintes funções:
1 4
S1 (x) = − 2 · cos(π x),
2 π
1 4 4
S2 (x) = − 2 · cos(π x) − · cos(3π x),
2 π 3π
1 4 4 4
S3 (x) = − 2 · cos(π x) − · cos(3π x) − · cos(5π x).
2 π 3π 5π

Exemplo 1.8: Seja f : R → R uma função definida por



 se − L < x < L,
 x,

f (x) = 0, se x = −L e x = L,


 periódica de perı́odo T = 2L.

Mostre que a série de Fourier para f é dada por


2L ∞ (−1)n+1  nπ x 
f (x) ∼ ∑ n
π n=1
sen
L
.

S OLUÇ ÃO : O gráfico de f pode ser visto na figura abaixo.

Figura 1.24: Gráfico da função f .

Trata-se, portanto, de uma função periódica de perı́odo T = 2L e que é seccionalmente dife-


renciável, logo é possı́vel usar o teorema de Fourier. O passo seguinte consiste em determinar
os coeficientes de Fourier. Para a0 , tem-se:

Z L Z L
1 1
a0 = f (x)dx = x dx
L −L L −L
1.4 Série de Fourier 47


x2 L (L)2 (−L)2
= = −
2L −L 2L 2L
(4.9) = 0.

Para os coeficientes an , é preciso realizar uma integração por partes fazendo


 
 u = x,  du = dx,
 nπ x  ⇒  
 dv = cos ,  v = L · sen nπ x .
L nπ L
Assim,
Z L Z
 nπ x   nπ x 
1 1 L
an = f (x) cos dx = x · cos dx
L L L −L L
"−L #
1 L  nπ x  L L
Z L  nπ x 
= · x · sen − sen dx
L nπ L nπ −L−L L
1 1 L2  nπ x  L
= [L · sen (nπ ) − (−L) · sen (−nπ )] + · 2 2 · cos
nπ L n π L −L
L L
= [ sen (nπ ) − sen (nπ )] + 2 2 [cos(nπ ) − cos(−nπ )]
nπ n π
L L
= [ sen (nπ ) − sen (nπ )] + 2 2 [cos(nπ ) − cos(nπ )]
nπ n π
(4.10) = 0,

onde usou os seguintes fatos

sen (−nπ ) = − sen (nπ ) e cos(−nπ ) = cos(nπ ).

Para os coeficientes bn , também é necessário realizar uma integração por partes fazendo
 
 u = x,  du = dx,
 nπ x  ⇒  
 dv = sen ,  v = − L · cos nπ x .
L nπ L
Tem-se:

Z L Z
 nπ x   nπ x 
1 1 L
bn = f (x) sendx = x · sen dx
L
−L L L −L L
" #
1 L  nπ x  L L
Z L  nπ x 
= − · x · cos + cos dx
L nπ L −L nπ −L L
1 1 L2  nπ x  L
= − [L · cos(nπ ) − (−L) · cos(−nπ )] + · 2 2 · sen
nπ L n π L −L
L L
= − [cos(nπ ) + cos(nπ )] + 2 2 [ sen (nπ ) − sen (−nπ )]
nπ n π
48 1 Séries de Fourier – parte 1

2L 2L
=− · cos(nπ ) + 2 2 · sen (nπ )
nπ n π
2L 2L
(4.11) = − · (−1)n = · (−1)n+1,
nπ nπ
onde usou-se os fatos

sen (−nπ ) = − sen (nπ ) = 0 e cos(−nπ ) = cos(nπ ) = (−1)n .

Assim, substituindo os coeficientes de Fourier obtidos em (4.9), (4.10) e (4.11) na série de


Fourier,
∞ h  nπ x   nπ x i
a0
f (x) ∼ + ∑ an · cos + bn · sen ,
2 n=1 L L
obtém-se
2L ∞ (−1)n+1  nπ x 
f (x) ∼ ∑ n
π n=1
· sen
L
, ∀ x ∈ R.

Observe-se agora que a função f é descontı́nua nos pontos x = ±kL, com k ∈ N, mas que a
série de Fourier, que converge para a média dos limites laterais, satisfaz nestes pontos
 
2L ∞ (−1)n+1 nπ (kL) 2L ∞ (−1)n+1
∑ n
π n=1
· sen
L
=
π n=1∑ n · sen (knπ ) = 0 = f (±kL),
pois seno se anula em múltiplos inteiros de π .
Assim, tem-se que a série de Fourier para a função f converge exatamente para a função f ,
de modo que é possı́vel escrever
2L ∞ (−1)n+1  nπ x 
f (x) = ∑ n · sen L ,
π n=1
∀ x ∈ R.

Figura 1.25: Gráfico das somas parciais.

A figura 1.25 mostra os gráficos de f e das seguintes quatro primeiras somas parciais da série
de Fourier:

2L  πx 
S1 = sen ,
π L
1.5 Simetria: funções pares e ı́mpares 49

 πx  L  
2L 2π x
S2 = sen − sen ,
π L π L
 πx  L    
2L 2π x 2L 3π x
S3 = sen − sen + sen ,
π L π L 3π L
 πx  L      
2L 2π x 2L 3π x L 4π x
S4 = sen − sen + sen − sen ·
π L π L 3π L 2π L

1.5 Simetria: funções pares e ı́mpares

D EFINIÇ ÃO : Diz-se que um conjunto X ⊂ R é simétrico em relação à origem se para todo
x ∈ X se tem −x ∈ X. Sejam X ⊂ R um conjunto simétrico e f : X → R uma função. Diz-se que
a função f : X → R é par se f (−x) = f (x) para todo x ∈ X. Diz-se que a função f : X → R é
ı́mpar se f (−x) = − f (x) para todo x ∈ X.
As definições de funções pares e ı́mpares permitem um interpretação geométrica: simetria de
seus gráficos. As funções pares são simétricas em relação ao eixo y: a distância do ponto (x, f (x)
ao ponto (0, f (x)) é igual a distância do ponto (−x, f (−x)) = (−x, f (x)) ao ponto (0, f (x)). As
funções ı́mpares são simétricas em relação à origem: a distância do ponto (x, f (x)) até a origem
é igual a distância do ponto (−x, f (−(x)) = (−x, − f (x)) ao ponto (0, 0).

x
(a) Gráfico de uma função par (b) Gráfico de uma função ı́mpar

Exemplo 1.1: A função f : R → R, definida por f (x) = xn , é par se n ∈ N é par e f é ı́mpar


se n ∈ N for um número natural ı́mpar.
50 1 Séries de Fourier – parte 1

Note-se que R é um conjunto simétrico, pois, para qualquer x ∈ R, tem-se sempre que −x ∈
R. Seja n um número natural par, então n = 2k para k ∈ N. Assim,

f (−x) = (−x)n = (−1)2k x2k = x2k = xn = f (x),

mostrando que f , neste caso, é par.


Agora seja n um natural ı́mpar, de modo que se escreve n = 2k − 1, com k ∈ N. Tem-se:

f (−x) = (−x)n = (−1)2k−1 x 2k−1 = −x 2k−1 = −xn = − f (x),

donde se conclui que f é ı́mpar.

Exemplo 1.2: Sejam f , g : R → R duas funções definidas por


 nπ x   nπ x 
f (x) = cos e g(x) = sen ,
L L
onde L > 0 e n ∈ N. Então, f é par e g é ı́mpar para todo n ∈ N.

Com efeito, note-se que R é um conjunto simétrico, pois, para qualquer x ∈ R, tem-se sempre
que −x ∈ R. Além disso, da trigonometria tem-se que

cos(−θ ) = cos(0 − θ ) = cos 0 · cos θ + sen 0 · sen θ = cos θ ,


sen (−θ ) = sen (0 − θ ) = sen 0 · cos θ − sen θ · cos0 = − sen θ .

Assim,
   nπ x   nπ x 
nπ (−x)
f (−x) = cos = cos − = cos = f (x),
L L L
   nπ x   nπ x 
nπ (−x)
g(−x) = sen = sen − = − sen = −g(x).
L L L

Exemplo 1.3: Seja f : [−1, 2] → R definida por f (x) = x3 + x. Esta função não é par e nem
é ı́mpar, pois o domı́nio de f , dom ( f ) = [−1, 2], não é simétrico em relação à origem. A função
g : [−π , π ] → R dada por
(
0, −π ≤ x < 0,
g(x) =
1, 0≤x≤π
não é par e nem é ı́mpar, mesmo que seu domı́nio, −π ≤ x ≤ π , seja simétrico. Basta observar
que para x ∈ [0, π ], se tem f (x) = 1, de modo que −x ∈ [−π , 0) e, assim, f (−x) = 0. Isto é, os
valores de f (x) e f (−x) não guardam ligação entre si.
1.5 Simetria: funções pares e ı́mpares 51

Exemplo 1.4: Sejam X ⊂ R um conjunto simétrico em relação a origem e f : X → R uma


função definida por f (x) = 0 para todo x ∈ X (ou seja, f ≡ 0 é a função identicamente nula em
X). Observe-se que
f (−x) = 0 = f (x),
mas também
f (−x) = 0 = −0 = − f (x),
isto é, a função identicamente nula é simultaneamente par e ı́mpar.

Agora suponha que existe uma função g : X → R que seja simultaneamente par e ı́mpar.
Então,
g(−x) = g(x) e g(−x) = −g(x),
ou ainda,
g(x) = g(−x) e g(x) = −g(−x).
Somando as duas últimas igualdades membro a membro, obtém-se

2g(x) = g(−x) − g(−x) = 0 ⇒ g(x) = 0, ∀ x ∈ X,

isto é, g é a função identicamente nula em X.


Isto mostra que a única função, tendo como domı́nio um conjunto simétrico, que é ao mesmo
tempo par e ı́mpar é a função identicamente nula.

Exemplo 1.5: As funções constantes, não identicamente nula, são funções pares.
De fato, sejam X ⊂ R um conjunto simétrico e f : X → R uma função dada por f (x) = c,
onde c ∈ R. Tem-se:
f (−x) = c = f (x),
mas
f (−x) = c 6= −c = − f (x),
isto é, as funções constantes não nulas são pares, mas não ı́mpares.

Proposição 1.1: Sejam X ⊂ R um conjunto simétrico e f , g : X → R funções dadas. Então,


(a) A soma (resp., diferença) de duas funções pares é uma função par.
(b) A soma (resp., diferença) de duas funções ı́mpares é uma função ı́mpar.
(c) O produto de duas funções pares é uma função par.
(d) O produto de duas funções ı́mpares é uma função par.
(e) O produto de uma função par por uma função ı́mpar é uma função ı́mpar.
(f) O quociente entre uma função par e uma ı́mpar é uma função ı́mpar.
(g) Se uma função for ı́mpar, então seu valor absoluto é par.
52 1 Séries de Fourier – parte 1

D EMONSTRAÇ ÃO : Seja X ⊂ R conjunto simétrico, isto é, x ∈ X se, e somente se, −x ∈ X,
podendo ser limitado ou não.
(a) Sejam f , g : X → R duas funções pares, isto é, f (−x) = f (x) e g(−x) = g(x) para todo
x ∈ R. Tem-se

( f + g)(−x) = f (−x) + g(−x) = f (x) + g(x) = ( f + g)(x),

o que mostra que f + g é par.


Analogamente,

( f − g)(−x) = f (−x) − g(−x) = f (x) − g(x) = ( f − g)(x),

demonstrando que f − g também é par.


(b) Sejam f , g : X → R duas funções ı́mpares, isto é, f (−x) = − f (x) e g(−x) = −g(x).
Tem-se

( f + g)(−x) = f (−x) + g(−x) = − f (x) − g(x) = −[ f (x) + g(x)] = −( f + g)(x),

mostrando que f + g é ı́mpar.


Similarmente,

( f − g)(−x) = f (−x) − g(−x) = − f (x) − [−g(x)] = − [ f (x) − g(x)] = −( f − g)(x),

que demonstra que f − g também é ı́mpar.


(c) Sejam f , g : X → R duas funções pares. Então,

( f · g)(−x) = f (−x) · g(−x) = f (x) · g(x) = ( f · g)(x),

donde segue-se que f · g é par.


(d) Sejam f , g : X → R duas funções ı́mpares. Então,

( f · g)(−x) = f (−x) · g(−x) = [− f (x)] · [−g(x)] = f (x) · g(x) = ( f · g)(x),

mostrando que f · g é par.


(e) Sejam f : X → R uma função par e g : R → R uma função ı́mpar. Tem-se:

( f · g)(−x) = f (−x) · g(−x) = [ f (x)] · [−g(x)] = −[ f (x) · g(x)] = −( f · g)(x),

demonstrando que f · g é uma função ı́mpar.

(f) Sejam f : X → R uma função par e g : X → R uma função ı́mpar tal que g(x) 6= 0 para
x ∈ X. Então,    
f f (−x) f (x) f (x) f
(−x) = = =− =− (x),
g g(−x) −g(x) g(x) g
demonstrando que o quociente é ı́mpar.
1.5 Simetria: funções pares e ı́mpares 53

Sejam f : X → R uma função ı́mpar e g : X → R uma função par tal que g(x) 6= 0 para x ∈ X.
Tem-se:    
f f (−x) − f (x) f (x) f
(−x) = = =− =− (x),
g g(−x) g(x) g(x) g
de modo que isto mostra que f/g é ı́mpar.

(g) Seja f : X → R uma função ı́mpar, isto é, f (−x) = − f (x) para todo x ∈ R. Seja g(x) =
| f (x)|. Tem-se:

g(−x) = | f (−x)| = | − f (x)| = | − 1| · | f (x)| = | f (x)| = g(x),

demonstrando que g é par.

Exemplo 1.6: Considere as funções fn : R → R definidas por


 nπ x   nπ x 
fn (x) = cos · sen , n∈N
L L
onde L > 0
Tem-se que cada função fn é ı́mpar, pois cada fn se escreve como o produto de uma função
par (cosseno) por uma ı́mpar (seno).

Exemplo 1.7: Considere as funções fn , gn : R → R dadas por


 nπ x   nπ x   nπ x   nπ x 
fn (x) = cos · cos e gn (x) = sen · sen ,
L L L L
com L > 0 e n ∈ N.
Tem-se que fn e gn são funções pares. Cada função fn é par, pois é produto de duas funções
pares; e cada função gn é par, pois é produto de duas funções ı́mpares.

O próximo resultado mostra que qualquer função, definida em um conjunto simétrico, pode
ser escrita como soma de uma função par com uma função ı́mpar.

Proposição 1.2: Sejam X um conjunto simétrico em relação a origem e f : X → R uma


função qualquer. Então, existem funções g, h : X → R, onde g é par e h é ı́mpar, tal que f = g + h.
D EMONSTRAÇ ÃO : Como X é um conjunto simétrico, tem-se que para qualquer x ∈ X, sem-
pre se tem −x ∈ X, de modo que f estará bem definida para quaisquer x e −x em seu domı́nio.
Agora escreva f (x) da seguinte forma:
54 1 Séries de Fourier – parte 1

f (x) f (x) f (x) f (x) f (−x)


f (x) = + = + ±
2 2 2  2 2
f (x) f (−x) f (x) f (−x)
= + + −
2 2 2 2
f (x) + f (−x) f (x) − f (−x)
= + ·
2 2
Agora escreva
f (x) + f (−x) f (x) − f (−x)
g(x) = e h(x) = ·
2 2
Afirma-se que g é par e que h é ı́mpar. De fato,
f (−x) + f [−(−x)] f (−x) + f (x) f (x) + f (−x)
g(−x) = = = = g(x),
2 2 2
f (−x) − f [−(−x)] f (−x) − f (x) f (x) − f (−x)
h(−x) = = =− = −h(x).
2 2 2
Como f (x) = g(x) + h(x), onde g é par e h é ı́mpar, tem-se, portanto, que f se escreve como
soma de uma função par com uma função ı́mpar.

Em relação a proposição 1.2, a função g é dita componente par (ou parte par) de f e a função
h é dita componente ı́mpar (ou parte ı́mpar) de f .

Observação 1.1: Existe outro modo de demonstrar a proposição 1.2. De fato, suponha que
f possa ser expressa como a soma

(5.1) f (x) = u(x) + v(x),

onde u e v representam as partes par e ı́mpar de f , respectivamente.


Como u é par e v é ı́mpar, então por definição, tem-se que

u(−x) = u(x) e v(−x) = v(x).

Assim,

(5.2) f (−x) = u(−x) + v(−x) = u(x) − v(x).

Segue-se de (5.1) e (5.2) que


(
f (x) = u(x) + v(x),
f (−x) = u(x) − v(x).

Este sistema pode ser resolvido para determinar u(x) e v(x). Somando as duas expressões,
obtém-se u(x). Já v(x) pode ser obtida subtraindo-se a segunda equação da primeira. Assim,
obtém-se:
1.5 Simetria: funções pares e ı́mpares 55

f (x) + f (−x) f (x) − f (−x)


u(x) = e v(x) = ·
2 2

Exemplo 1.8: Seja f : (−5, 5) → R uma função definida por f (x) = 2x3 − x2 − 3. Trata-se
de determinar funções g e f , par e ı́mpar, respectivamente, tais que f = g + h.

y
f

Figura 1.26: Gráfico da função f (x) = 2x3 − x2 − 3.

Pela proposição 1.2, a função g dada abaixo é par:


f (x) + f (−x)
g(x) =
2   
2x − x2 − 3 + 2(−x)3 − (−x)2 − 3
3
=
2
2x − x − 3 − 2x − x2 − 3 −2x2 − 6
3 2 3
= =
2 2
2
= −x − 3.

Observe-se que g realmente é uma função par, pois

g(−x) = −(−x)2 − 3 = −x2 − 3 = g(x).

Pela proposição 1.2, a função h dada abaixo é ı́mpar:

f (x) − f (−x)
h(x) =
2
56 1 Séries de Fourier – parte 1

  
2x3 − x2 − 3 − 2(−x)3 − (−x)2 − 3
=
2
2x − x − 3 + 2x + x2 + 3 4x3
3 2 3
= =
2 2
3
= 2x .

Note-se que h realmente é uma função par, pois

h(−x) = 2(−x)3 = −2x3 = −h(x).

y
h

Figura 1.27: Gráfico das funções g(x) = −x2 − 3 e h(x) = 2x3 .

Por fim, observe que f se escreve como soma de g e h:

g(x) + h(x) = (−x2 − 3) + 2x3 = 2x3 − x2 − 3 = f (x).

Proposição 1.3: Sejam X ⊂ R um conjunto simétrico em relação a origem, f : X → R uma


função qualquer, g : X → R uma função par e h : X → R uma função ı́mpar tais que f = g + h.
Então, as funções g e h são únicas.
D EMONSTRAÇ ÃO : Suponha que f possa ser escrita como as seguintes somas

f = g+h e f = u + v,

onde g e u são funções pares e h e v são funções ı́mpares.


1.5 Simetria: funções pares e ı́mpares 57

Então, g + h = u + v. Ou ainda, que g − u = v − h. Como g e u são funções pares, pelo item


(a) da proposição 1.1 tem-se que g − u é par. Analogamente, como h e v são ı́mpares, pelo item
(b) da mesma proposição segue-se que v − h é ı́mpar.
Assim, de g − u = v − h, segue-se que o primeiro membro é par e o segundo membro é uma
função ı́mpar. Mas a igualdade implica dizer que as funções g − u e v − h são simultaneamente
par e ı́mpar. O exemplo 1.4 mostrou que a única função simultaneamente par e ı́mpar é a função
identicamente nula. Isto implica em g − u ≡ 0 e v − h ≡ 0, ou seja, que g = u e h = v. Portanto,
segue-se daı́ a decomposição em soma de funções par e ı́mpar é única.

Exemplo 1.9: Seja f : [−1, 0) ∪ (0, 1] → R uma função definida por

2x3 − 1
f (x) = ·
x

y
50

40

30

20

10
x
−3 −2 −1 1 2 3
−10

−20

−30

−40

−50

Figura 1.28: Gráfico da função f .

Deseja-se determinar duas funções g e f , par e ı́mpar, respectivamente, tais que f = g + h.


Para g, tem-se:

f (x) + f (−x)
g(x) =
 2 
1 2x3 − 1 2(−x)3 − 1
= +
2 x (−x)
58 1 Séries de Fourier – parte 1

 
1 2x3 − 1 2x3 + 1
= +
2 x x
1 4x3
= · = 2x2.
2 x
Para h, tem-se:
f (x) − f (−x)
h(x) =
 2 
1 2x3 − 1 2(−x)3 − 1
= −
2 x (−x)
 3 
1 2x − 1 2x3 + 1
= −
2 x x
 
1 2 1
= − =− .
2 x x

h 1 g

x
−3 −2 −1 1 2 3

−1
h
−2

−3

Figura 1.29: Gráfico das funções g e h.

É fácil verificar que g(x) = 2x2 e h(x) = −1/x são, respectivamente, par e ı́mpar e que f (x) =
g(x) + h(x).
A decomposição em soma de função par e ı́mpar é única. Assim, outros procedimentos para
a determinação de funções par e ı́mpar podem ser usados, desde que as operações sejam viáveis
e corretas. Por exemplo,
 
2x3 − 1 2x3 1 2
 1
f (x) = = − = 2x + − = g(x) + h(x).
x x x x
1.5 Simetria: funções pares e ı́mpares 59

Exemplo 1.10: Considere f : R → R definida por


(
−2, −3 < x < 0,
f (x) =
2, 0 < x < 3,

e periódica de perı́odo T = 6.

2 y

1
x
−3 −2 −1 1 2 3
−1

−2

Figura 1.30: Gráfico da função f .

Note-se que o domı́nio X = (−3, 0)∪(0, 3) é simétrico e que f (−x) = − f (x) para todo x ∈ X.
Portanto f é uma função ı́mpar.

Exemplo 1.11: Seja f : R → R dada por


(
cos x, se 0 < x < π
f (x) =
0, se π < x < 2π ,

e periódica de perı́odo T = 2π . Esta função não é par e nem ı́mpar.

x
−2π −π π 2π

Figura 1.31: Gráfico da função f .


60 1 Séries de Fourier – parte 1

Exemplo 1.12: Seja f : R → R uma função definida por f (x) = x(10 − x) para 0 < x < 10
e periódica de perı́odo T = 10. Como f (−x) = f (x), tem-se que f é uma função par.

Proposição 1.4: Sejam X ⊂ R um intervalo simétrico e f : X → R uma função diferenciável.


Tem-se:
(a) Se f for uma função par, então f 0 será uma função ı́mpar;

(b) Se f for uma função ı́mpar, então f 0 será uma função par.
D EMONSTRAÇ ÃO : Para mostrar (a), suponha que f seja par. Então, para qualquer x ∈ X,
tem-se
f (−x + h) − f (−x) = f [−(x − h)] − f (−x) = f (x − h) − f (x).
Segue-se, portanto, que
f (−x + h) − f (−x)
f 0 (−x) = lim
h→0 h
f (x − h) − f (x)
= lim
h→0
 h 
f (x − h) − f (x)
= − lim ·
h→0 −h
Agora faça h = −∆ x. Tem-se:
 
0 f (x + ∆ x) − f (x)
f (−x) = − lim
h→0 ∆x
 
f (x + ∆ x) − f (x)
= − lim = − f 0 (x),
−∆ x→0 ∆x
donde se conclui que
f 0 (−x) = − f 0 (x),
logo f 0 é uma função ı́mpar.

Para (b), suponha que f seja uma função ı́mpar. Assim, para todo x ∈ X, tem-se

f (−x + h) − f (−x) = f [−(x − h)] − f (−x) = − f (x − h) + f (x).

Assim,
f (−x + h) − f (−x)
f 0 (−x) = lim
h→0 h
1.5 Simetria: funções pares e ı́mpares 61

− f (x − h) + f (x)
= lim
h→0 h
f (x − h) − f (x)
= lim ·
h→0 −h
Faça h = −∆ x. Tem-se:
(x + ∆ x) − f (x) f (x + ∆ x) − f (x)
f 0 (−x) = lim = lim = f 0 (x),
h→0 ∆x −∆ x→0 ∆x
donde se conclui que
f 0 (−x) = f 0 (x),
isto é, que f 0 é uma função par.

Proposição 1.5: Sejam X ⊂ R um intervalo simétrico e ϕ : X → R uma função definida por


Z x
ϕ (x) = f (t) dt.
0

Tem-se:

(a) Se f é uma função par, então ϕ é uma função ı́mpar.


(b) Se f é uma função ı́mpar, então ϕ é uma função par.
D EMONSTRAÇ ÃO : Note-se, primeiro, que
Z −x
ϕ (−x) = f (t) dt.
0

Fazendo u = −t, tem-se que −du = dt, de modo que


Z x Z x
(5.3) ϕ (−x) = − f (−u) du = − f (−u) du.
0 0

(a) Por hipótese, f é par, isto é, f (−u) = f (u). Usando este fato em (5.3), tem-se
Z x
ϕ (−x) = − f (u) du = −ϕ (x),
0

mostrando que ϕ é ı́mpar.

(b) Por hipótese, f é ı́mpar, isto é, f (−u) = − f (u). Assim, usando este fato em (5.3), obtém-
se Z x Z x Z x
ϕ (−x) = − f (−u) du = − − f (u) du = f (u) du = ϕ (x),
0 0 0
o que mostra que ϕ é uma função par.
62 1 Séries de Fourier – parte 1

Proposição 1.6: Seja f : [−L, L] → R uma função par e integrável. Então,


Z L Z L
f (x) dx = 2 f (x) dx.
−L 0

D EMONSTRAÇ ÃO : Observe-se, primeiro, que se pode escrever


Z L Z 0 Z L
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
−L −L 0

Agora usa-se a hipótese de que f é uma função par, isto é, f (x) = f (−x) para todo x ∈ R, na
primeira integral do segundo membro acima. Tem-se:
Z L Z 0 Z L
f (x) dx = f (−x) dx + f (x) dx.
−L −L 0

Em seguida usa-se a mudança de variáveis y = −x, tal que −dy = dx, na primeira integral do
segundo membro da igualdade acima, mas mantendo a segunda integral. Note-se que os novos
limites de integração passam a ser y1 = −(−L) = L e y2 = −0 = 0, onde usou-se a própria
mudança de variáveis, y = −x, para obtê-los. Assim,
Z L Z 0 Z L
f (x) dx = − f (y) dy + f (x) dx
−L L 0
Z L Z L
= f (y) dy + f (x) dx
0 0
Z L
=2 f (x) dy,
0

onde inverteu-se o sinal de integração ao trocar a ordem dos limites de integração. Além disso,
somou-se as duas integrais em virtudes das variáveis de integração serem “mudas”.

Proposição 1.7: Seja f : [−L, L] → R uma função ı́mpar e integrável. Então,


Z L
f (x) dx = 0.
−L

D EMONSTRAÇ ÃO : Note-se que


Z L Z 0 Z L
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
−L −L 0

Em seguida usa-se a hipótese de que f é uma função ı́mpar, isto é, f (x) = − f (−x) para todo
x ∈ R, na primeira integral do segundo membro acima. Tem-se:
Z L Z 0 Z L
f (x) dx = − f (−x) dx + f (x) dx.
−L −L 0
1.5 Simetria: funções pares e ı́mpares 63

Agora usa-se a mudança de variáveis y = −x, tal que −dy = dx, na primeira integral do
segundo membro da igualdade acima, mas mantendo a segunda integral. Os novos limites de
integração passam a ser y1 = −(−L) = L e y2 = −0 = 0, onde usou-se a própria mudança de
variáveis, y = −x, para obtê-los. Assim,
Z L Z 0 Z L
f (x) dx = − − f (y) dy + f (x) dx
−L L 0
Z 0 Z L
= f (y) dy + f (x) dx
L 0
Z L Z L
=− f (y) dy + f (x) dx = 0,
0 0

onde inverteu-se o sinal da primeira integral do segundo membro em um dos passos acima ao
realizar a troca da ordem dos limites de integração. Além disso, somou-se as duas integrais em
virtudes das variáveis de integração serem “mudas”.

Os vários resultados obtidos nesta seção são muito úteis para simplificar os cálculos dos
coeficientes de Fourier. Os resultados a seguir são bem simples, porém se mostram úteis na
prática. Os mesmos serão enunciados na forma de proposições apenas para facilitar citações
nas seções seguintes.

Proposição 1.8: Seja f : R → R uma função par, periódica de perı́odo 2L, integrável e
absolutamente integrável. Então,
Z Z  nπ x 
2 L 2 L
a0 = f (x) dx, an = f (x) cos dx e bn = 0.
L 0 L 0 L
D EMONSTRAÇ ÃO : A expressão para o coeficiente a0 segue imediatamente da proposição
1.6, pois, por hipótese, f é par. Para justificar a afirmação para os coeficientes an , basta observar
inicialmente que a função cos (nπ x/L) é par, como foi mostrado no exemplo 1.2. Além disso,
pelo item (c) da proposição 1.1, o produto entre duas funções pares resulta em uma função par.
Assim, o integrando na expressão para an , que é f (x) · cos (nπ x/L), é uma função par. Aplicando
a proposição 1.6, resulta que este coeficiente pode ser calculado multiplicando-se a integral por
2 e integrando no semi-intervalo [0, L].
Para justificar que os coeficientes bn são todos nulos para uma função f par, basta observar
que o exemplo 1.2 mostra que as funções sen (nπ x/L) são ı́mpares. E pelo item (e) da proposição
1.1, o produto entre uma função par por outra ı́mpar resulta em uma função ı́mpar. Assim,
o integrando na expressão que define bn, que é f (x) · sen (nπ x/L), é uma função ı́mpar. Logo,
pela proposição 1.7, a integral de uma função ı́mpar em intervalo simétrico é sempre zero. Isto
mostra que bn = 0 para todo n ∈ N.
64 1 Séries de Fourier – parte 1

Proposição 1.9: Seja f : R → R uma função ı́mpar, periódica de perı́odo 2L, integrável e
absolutamente integrável. Então,
Z  nπ x 
2 L
a0 = 0, an = 0 e bn = f (x) sen dx.
L 0 L
D EMONSTRAÇ ÃO : A expressão para o coeficiente a0 segue imediatamente da proposição
1.7, pois, por hipótese, f é ı́mpar. Para justificar a afirmação para os coeficientes an , basta
observar inicialmente que a função cos (nπ x/L) é par, como foi mostrado no exemplo 1.2. Além
disso, pelo item (e) da proposição 1.1, o produto entre uma função par por outra ı́mpar resulta
em uma função ı́mpar. Assim, o integrando na expressão para an, que é f (x) · cos (nπ x/L), é uma
função ı́mpar. Logo, pela proposição 1.7, a integral de uma função ı́mpar em intervalo simétrico
é sempre zero. Isto mostra que an = 0 para todo n ∈ N.
Para justificar a expressão dada para os coeficientes bn, basta observar que o exemplo 1.2
mostra que as funções sen (nπ x/L) são ı́mpares. E pelo item (d) da proposição 1.1, o produto
entre duas funções ı́mpares resulta em uma função par. Assim, o integrando na expressão que
define bn , que é f (x)· sen (nπ x/L), é uma função par. Aplicando a proposição 1.6, resulta que este
coeficiente pode ser calculado multiplicando-se a integral por 2 e integrando no semi-intervalo
[0, L].

1.6 Séries de Fourier de funções pares e ı́mpares

Até este ponto as funções dadas nos exemplos sempre estavam definidas em intervalos do
tipo [−L, L], ou (−L, L], ou ainda [−L, L). A questão que agora se apresenta é: O que fazer caso
a função f esteja definida em um intervalo do tipo [0, L] e nada for dito sobre o perı́odo? Em
princı́pio, seria possı́vel escolher um perı́odo T qualquer, tal que T > L, e estender a função de
maneira conveniente no intervalo (L, T ). Como consequência desta possibilidade, ter-se-ia uma
função f : [0, L] → R que pode ser representada por mais de uma série de Fourier.
Como exemplo, considere a função f : [0, π ] → R definida por f (x) = x. Os próximos exem-
plos mostram que esta função pode ser estendida de várias maneiras, sendo assim representadas
por séries distintas.

Exemplo 1.1: Seja f : [0, π ) → R definida por f (x) = x. Represente esta função como uma
série de senos.

S OLUÇ ÃO : Para obter uma série de senos é necessário fazer uma extensão da função f de
modo que resulte em uma função ı́mpar e periódica. Denotar-se-á a extensão por f . Assim,
1.6 Séries de Fourier de funções pares e ı́mpares 65

(
x, se − π ≤ x < π ,
f (x) =
periódica de perı́odo T = 2π .

−π π

Figura 1.32: Gráfico da função f .

y
π
x

−4π −3π −2π −π π 2π 3π 4π


−π

Figura 1.33: Gráfico da função estendida f .

O leitor poderá verificar facilmente que f é uma função ı́mpar e periódica, isto é, que f (−x) =
f (x) e que f (x + 2π ) = f (x).
Para os coeficientes a0 e an , tem-se
Z π Z π
1 1
a0 = f (x) dx e an = f (x) cos (nx) dx.
π −π π −π

Como f é ı́mpar, pela proposição 1.7, tem-se que a0 = 0, pois se trata de uma integral em
intervalo simétrico de uma função ı́mpar. Para an , tem-se que o integrando é o produto de uma
função ı́mpar por uma par, isto é, o produto de f que é ı́mpar por cos(nx), que é uma função
par. Pelo item (e) da proposição 1.1, este integrando é uma função ı́mpar e pela proposição 1.7 a
integral em intervalo simétrico de uma função ı́mpar é sempre igual a zero. Assim, an = 0 para
todo n ∈ N.
Já os coeficientes bn precisam ser determinados pela definição. Porém, por ser f uma função
ı́mpar e sen (nx) também uma função ı́mpar, tem-se que o integrando em bn é uma função par.
Assim, pela proposição 1.6, basta multiplicar a integral por 2 e integrar no semi-intervalo [0, L].
66 1 Séries de Fourier – parte 1

Assim, realizando uma integração por partes, obtém-se


Z Z
1 π 2 π
bn = f (x) sen (nx) dx = x · sen (nx) dx
π −π π 0
 π Z π 
2 x 1
= − · cos(nx) + cos(nx) dx
π n 0 n 0
  π
2 x 1
= − · cos(nx) + 2 · sen (nx)
π n n
  0
2 π 1
= − · cos(nπ ) + 2 sen (nπ ) −
π n n
 
2 0 1
− − · cos 0 + 2 sen 0
π n n
2 1 (−1)n+1
= − cos(nπ ) = −2 · (−1)n = 2 · ·
n n n
A série de Fourier para f é dada por

a0
f (x) ∼ + ∑ [an cos(nx) + bn sen (nx)]
2 n=1

que após substituição dos valores dos coeficientes a0, an e bn , obtidos acima, resulta em

(−1)n+1
f (x) ∼ 2 ∑ · sen (nx), ∀ x ∈ R.
n=1 n

y
π
x

−4π −3π −2π −π π 2π 3π 4π


−π

Figura 1.34: Gráfico das somas parciais até n = 4.

Para expressar a função f , dada originalmente, em termos de uma série de senos é necessário
restringir os valores de x para o domı́nio de f , isto é, para o intervalo 0 ≤ x < π . Assim,

(−1)n+1
f (x) = 2 ∑ · sen (nx), 0 ≤ x < π.
n=1 n

Neste ponto chama-se atenção para o fato da série de Fourier não ser igual a f (x) = x para
x = π , pois neste ponto a função f é descontı́nua e, assim sua série de Fourier converge neste
1.6 Séries de Fourier de funções pares e ı́mpares 67

ponto para a média dos limites laterais e que é diferente de f (π ) = π . Por isso tomou-se o
intervalo [0, π ) como domı́nio de f .

−π π
Figura 1.35: Gráfico da função f e das cinco primeiras somas parciais restritas ao intervalo [0, π ).

Exemplo 1.2: Seja f : [0, π ) → R definida por f (x) = x. Represente esta função como uma
série de cossenos.

S OLUÇ ÃO : Para determinar uma série de cossenos para representar f , é necessário fazer uma
extensão desta função de modo que resulte em uma nova função par e periódica. Denotando a
extensão por f , pode-se escrever
(
| x |, se − π ≤ x < π ,
f (x) =
periódica de perı́odo T = 2π .

y
π
x

−4π −3π −2π −π π 2π 3π 4π

Figura 1.36: Gráfico da função f .

Facilmente se verifica que f (−x) = f (x) e que f (x + 2π ) = f (x). Como f é par, pela
proposição 1.6, obtém-se
68 1 Séries de Fourier – parte 1

Z Z π
1 π 2
a0 = f (x) dx = x dx
π −π π 0
π
x
2
= = π .
π 0

Como f é par, o integrando nos coeficientes an é par, pois se trata do produto entre duas
funções pares (veja proposição 1.1). Além disso, pela proposição 1.6, basta multiplicar a integral
por 2 e integrar no intervalo [0, L]. Assim, fazendo uma integração por partes, obtém-se
Z Z
1 π 2 π
an = f (x) cos(nx) dx = x · cos(nx) dx
π −π π 0
 π Z π 
2 x 1
= sen (nx) − sen (nx) dx
π n 0 n 0
  π
2 x 1
= sen (nx) − 2 cos(nx)
π n n
 0  
2 π 1 2 0 1
= sen (nπ ) − 2 cos(nπ ) − sen 0 − 2 cos 0
π n n π n n
2 2 2
= − 2 cos(nπ ) + 2 = 2 [ (−1)n − 1],
πn πn πn
ou seja,
4
a 2k = 0 e a 2k−1 = − , k ∈ N.
(2k − 1)2 π
Para os coeficientes bn , basta notar que f é par e que sen (nx) é ı́mpar, de modo que o produto
entre estas duas funções, que é o integrando na integral que define bn , é ı́mpar. Assim, pela
proposição 1.7, tem-se que a integral de uma função ı́mpar em intervalo simétrico é igual a
zero, de modo que bn = 0 para todo n ∈ N.

y
π
x

−4π −3π −2π −π π 2π 3π 4π


Figura 1.37: Gráfico da função f e das três primeiras somas parciais.

O passo seguinte consiste em substituir os coeficientes de Fourier encontrados na série de


Fourier para f , isto é,

a0
f (x) ∼ + ∑ [ak cos(kx) + bn sen (kx)] ,
2 k=1

ou ainda,
1.6 Séries de Fourier de funções pares e ı́mpares 69

π 4 ∞ 1
f (x) ∼ − ∑ · cos(2k − 1)x, ∀ x ∈ R.
2 π k=1 (2k − 1)2
Por fim, para representar a função f , dada originalmente, através de uma série de cossenos,
é necessário restringir os valores de x na série para f (x) para aqueles x no domı́nio de f , isto é,
para o intervalo 0 ≤ x < π . Assim,
π 4 ∞ 1
f (x) = − ∑ · cos(2k − 1)x, 0 ≤ x < π.
2 π k=1 (2k − 1)2

−π π
Figura 1.38: Gráfico da função f e as três primeiras somas parciais.

Exemplo 1.3: Seja f : [0, π ) → R definida por f (x) = x. Represente esta função como uma
série de senos e cossenos.

S OLUÇ ÃO : Para que se represente f por uma série envolvendo senos e cossenos é necessário
fazer uma extensão periódica de f , mas de tal modo que resulte em uma função que não seja par
e nem ı́mpar. A maneira de se estender f para −π < x < 0 não importa, mas desde que não seja
par ou ı́mpar (ou seja, não seja simétrica em relação ao eixo y e nem seja simétrica em relação
à origem). Assim, é natural escolher uma extensão mais simples, como 0 para π < x < 0, isto é,

 −π < x < 0,
 0,

f (x) = x, 0 ≤ x ≤ π,



periódica de perı́odo T = 2π .

Agora passa-se à determinação dos coeficientes de Fourier. Para a0, tem-se


70 1 Séries de Fourier – parte 1

y
π

−4π −3π −2π −π π 2π 3π 4π


Figura 1.39: Gráfico da função f .

Z Z 0 Z π
1 π 1 1
a0 = f (x) dx = 0 dx + x dx
π −π π −π π 0

2 π
x π
= = ·
2π 0 2
Para os coeficientes an , realizando uma integração por partes, obtém-se
Z Z Z
1 π 1 0 1 π
an = f (x) cos(nx) dx = 0 · cos(nx) dx + x · cos(nx) dx
π −π π −π π 0
 π Z 
1 x 1 π
=
· sen (nx) − sen (nx) dx
π n 0 n 0
  π
1 x 1
= · sen (nx) + 2 · cos(nx)
π n n
 0  
1 π 1 1 0 1
= · sen (nπ ) + 2 · cos(nπ ) − · sen 0 + 2 · cos0
π n n π n n
1 1 1
= 2
cos(nπ ) − 2 = 2 [(−1)n − 1] ,
n π n π n π
ou ainda,
2
a 2k = 0, e a 2k−1 = − , k ∈ N.
(2k − 1)2π
Para os coeficientes bn , onde será feita uma integração por partes, obtém-se
Z Z Z
1 π 1 0 1 π
bn = f (x) sen (nx) dx = 0 · sen (nx) dx + x · sen (nx) dx
π −π π −π π 0
 π Z 
1 x 1 π
=
− · cos(nx) + cos(nx) dx
π n 0 n 0
  π
1 x 1
= − · cos(nx) + 2 · sen (nx)
π n n
 0  
1 π 1 1 0 1
= − · cos(nπ ) + 2 · sen (nπ ) − − cos 0 + 2 · sen 0
π n n π n n
1 1 (−1) n+1
= − · cos(nπ ) = − (−1)n = ·
n n n
Portanto, determinou-se os seguintes coeficientes de Fourier:
1.6 Séries de Fourier de funções pares e ı́mpares 71

π 2 (−1)k+1
a0 = , ak = − , e bk = ·
2 (2k − 1)2π k

Deste modo, a série de Fourier para a função f é dada por



a0
f (x) ∼ + ∑ [ ak cos[(2k − 1)x] + bk sen (kx)]
2 k=1
∞  
π/2 2 (−1)k+1
∼ +∑ − · cos[(2k − 1)x] + · sen (kx)
2 k=1 (2k − 1)2 π k
π 2 ∞ 1 ∞
(−1)k+1
∼ − ∑ · cos[(2k − 1)x] + ∑ k · sen (kx)
4 π k=1 (2k − 1)2 k=1

para todo x ∈ R.

y
π

−4π −3π −2π −π π 2π 3π 4π


Figura 1.40: Gráfico das quatro primeiras somas parciais.

−π π
Figura 1.41: Gráfico da função f e das quatros primeiras somas parciais no intervalo [0, π ).

Assim, para representar a função f , dada originalmente, basta retringir os valores de x na


série para f (x) para aqueles x no domı́nio de f , isto é,

π 2 ∞ 1 ∞
(−1)k+1
f (x) = − ∑ · cos[(2k − 1)x] + ∑ k · sen (kx),
4 π k=1 (2k − 1)2 k=1
72 1 Séries de Fourier – parte 1

para todo 0 ≤ x < π .


Por fim, chama-se a atenção do leitor para que seja observado que a representação de f em
séries de senos e cossenos pode ser obtida pela soma das séries encontradas nos exemplos 1.1 e
1.2, mas dividindo o resultado por 2.

Observação 1.1: Nos exemplos anteriores desta seção nada foi comentado sobre a maneira
de estender a função de maneira periódica. Na prática o que se viu foi uma extensão periódica
“dobrando-se” o comprimento do intervalo de definição da função, isto é, adotando-se como
perı́odo o menor possı́vel. Não é necessário que seja assim, ou seja, é possı́vel adotar como
perı́odo qualquer T > L.
Assim, a função do exemplo 1.1 pode ser estendida de maneira ı́mpar, mas usando como
perı́odo 4π e não necessariamente 2π como foi visto. Deste modo, uma extensão f : R → R
definida por 

 −2π − x, se − 2π < x < −π ,



 x, se − π ≤ x < π ,
f (x) =

 2π − x, se π ≤ x ≤ 2π ,



 periódica de perı́odo T = 4π .

também permite que se represente f : [0, π ) → R, dada por f (x) = x, em uma série de senos.
Como visto anteriormente, por ser f uma função ı́mpar, segue-se dos resultados da seção 1.5
que os coeficientes a0 = 0 = an para todo n ∈ N. Assim, basta calcular os coeficientes bn.
Lembrando que agora L = 2π e que o integrando em bn será par, por ser produto de f que é
impar por sen (nx/2) que também é ı́mpar, resultando em uma função par, obtém-se
Z  nx  Z  nx 
1 2π 1 2π
bn = f (x) sen dx = f (x) sen dx
2π −2π 2 π 0 2
Z  nx  Z  nx 
1 π 1 2π
= x · sen dx + (2π − x) sen dx
π 0 2 π π 2
Z  nx  Z 2π  nx  Z  nx 
1 π 1 2π
= x · sen dx + 2 sen dx − x · sen dx.
π 0 2 π 2 π π 2
A segunda integral no segundo membro acima pode ser resolvida através de uma substituição
simples. Já a primeira e a última integrais no segundo membro podem ser resolvidas por
integração por partes do seguinte modo:
 
 u = x,  du = dx,
 nx  ⇒  
 dv = sen dx  v = − 2 cos nx .
2 n 2
Assim,
1.6 Séries de Fourier de funções pares e ı́mpares 73

Z π  nx  Z 2π  nx  Z  nx 
1 1 2π
bn = x · sen dx + 2 sen dx − x · sen dx.
π 0 2 π 2 π "π 2 #
1

2x  nx  π 2 Z π  nx   2  nx  2π
= − · cos + cos dx + 2 − · cos −
π n 2 0 n 0 2 n 2 π
" #
1 2x  nx  2π 2 Z 2π  nx 
− − · cos + cos dx
π n 2 π n π 2
1

2x  nx  4  nx  π 4  nx  2π
= − · cos + 2 · sen
π n 2 n 2 − n · cos 2 −
0 π
      2π
1 2x nx 4 nx
− − · cos + 2 · sen
π n 2 n 2 π
  nπ  4  nπ    
1 2π 1 2.0 4
= − · cos + 2 · sen − − · cos 0 + 2 · sen 0 −
π n 2 n 2 π n n
4 h  nπ i
− cos(nπ ) − cos −
n 2  
1 4π 4 1 2π  nπ  4  nπ  
− − · cos(nπ ) + 2 · sen (nπ ) + − · cos + 2 · sen
π n n π n 2 n 2
2  nπ  4  nπ  4 4  nπ 
= − · cos + 2 · sen − · cos(nπ ) + · cos +
n 2 n π 2 n n 2
4 2  nπ  4  nπ 
+ · cos(nπ ) − · cos + 2 · sen
n n 2 n π 2
8  nπ 
= · sen ·
n2 π 2
Portanto, a série de Fourier para a função f é dada por
8 ∞ 1  nπ   nx 
f (x) ∼ ∑ 2 · sen · sen , ∀ x ∈ R.
π n=1 n 2 2

Agora basta restringir os valores de x para a série de Fourier de f para os valores de x no


domı́nio de f , isto é,
8 ∞ 1  nπ   nx 
f (x) = ∑ 2 · sen · sen , 0≤x<π
π n=1 n 2 2

e, assim, tem-se uma nova representação por meio de uma série de senos para a função f do
exemplo 1.1.
Note-se que o procedimento usado ao restrigir os valores de x ao domı́nio de f , isto é, para
0 ≤ x < 1, também poderia ser usado para x = π . Isto se deve ao fato que a extensão f adotada é
contı́nua em todos os pontos, de maneira que a série de Fourier converge para o valor da função
em cada ponto de seu domı́nio. Em outras palavras: a extensão adotada no exemplo 1.1 não é
adequada caso f esteja definida no intervalo [0, π ], mas a extensão feita nesta observação sim.
74 1 Séries de Fourier – parte 1

1.7 Diferenciação de séries de Fourier

As séries de Fourier constituem um importante modo de representar soluções de equações


diferenciais parciais (EDP), isto é, representar funções que são soluções de equações deste tipo.
Isto será visto em capı́tulo futuro. Além disso, também será visto que candidatos à soluções
de EDP, que são representadas através de séries de Fourier, precisam satisfazer não apenas a
equação como também condições de contorno e/ou condições iniciais. Com isso, será necessário
derivar o candidato à solução, isto é, a série de Fourier deverá ser derivada termo a termo.
As condições que permitem derivar termo a termo dadas através da proposição 5.3 (apêndice
E), porém esta exige condições suficientes e não necessárias. Além disso, a derivação termo
a termo de uma série de Fourier também tem aspectos delicados, visto que as derivadas das
funções senos e cossenos que aparecem nesta série contêm a variável n, que em geral aparece
multiplicando tais funções e, com isso, atrapalhando a convergência da série. O teorema dado
a seguir possui exigências um pouco menores do que aquelas da proposição 5.3, mas também
deve ser usado com cuidado, isto é, nem sempre é possı́vel derivar termo a termo uma série de
Fourier.

Teorema 1.1: Seja f : R → R uma função contı́nua, periódica de perı́odo T = 2L e tal que
f é seccionalmente diferenciável. Então, a série de Fourier para f 0 pode ser obtida derivando-se
00

termo a termo a série de Fourier para a função f , isto é,


∞ h nπ   nπ x   nπ   nπ x i
0
f (x) ∼ ∑ L
· bn cos
L

L
· an sen
L
·
n=1

D EMONSTRAÇ ÃO : Como f 00 é seccionalmente diferenciável e é periódica de perı́odo T = 2L,


pode-se aplicar o teorema de Fourier (teorema 1.1) para concluir que f 0 possui uma série de
Fourier que converge para f 0 , isto é,
∞ h  nπ x   nπ x i
A0
(7.1) f 0 (x) ∼ + ∑ An · cos + B0 · sen ·
2 n=1 L L

Assim, a demonstração deste teorema se reduz a mostrar que


nπ nπ
A0 = 0, An = · bn e Bn = − · an .
L L
Para isto, usa-se as fórmulas dos coeficientes de Fourier, mas aplicados à função f 0 (e não a
f ). Para A0 , tem-se
Z L
1 L 0 1
A0 = f (x) dx = · f (x)
L −L L −L
1 1
(7.2) = [ f (L) − f (−L)] = · 0 = 0,
L L
onde usou-se o fato de f ser periódica de perı́odo T = 2L, isto é, fazendo-se x = −L em
1.7 Diferenciação de séries de Fourier 75

f (x + 2L) = f (x) ⇒ f (L) = f (−L + 2L) = f (−L).

Como f 00 é seccionalmente contı́nua, tem-se que ela é integrável, de modo que faz sentido
integrar por partes os coeficientes An e Bn . Para An , fazendo
     
 u = cos nπ x ,  du = − nπ sen nπ x ,
L ⇒ L L
 dv = f 0 (x) dx,  v = f (x).

tem-se
Z L  nπ x 
1
An = f 0 (x) · cos dx
L −L L
" #
1  nπ x  L n π
Z L  nπ x 
= f (x) · cos + f (x) · sen dx
L L −L L −L L
1 nπ
= [ f (L) · cos(nπ ) − f (−L) · cos(−nπ )] + · bn
L L
(−1)n nπ (−1)n nπ
= [ f (L) − f (−L)] + · bn = ·0+ · bn
L L L L

(7.3) = · bn ,
L
onde usou-se que cos(−nπ ) = cos(nπ ) = (−1)n (isto é, a paridade de cosseno), f (L)− f (−L) =
0 (isto é, a periodicidade de f , como foi visto anteriormente), bem como
Z  nπ x 
1 L
bn = f (x) sen dx.
L −L L
Para Bn , fazendo
     
 u = sen nπ x ,  du = nπ cos nπ x ,
L ⇒ L L
 dv = f 0 (x) dx,  v = f (x).

tem-se
Z L  nπ x 
1
Bn = f 0 (x) · sen dx
L −L L
" #
1  nπ x  L n π
Z L  nπ x 
= f (x) · sen − f (x) · cos dx
L L −L L −L L
Z L  nπ x 
1 nπ
= [ f (L) · sen (nπ ) − f (−L) · sen (−nπ )] − f (x) · cos dx
L L −L L
sen (nπ ) nπ
= [ f (L) + f (−L)] − · an
L L

(7.4) = − · an ,
L
onde osou-se o fato que sen (−nπ ) = sen (nπ ) = (isto é a imparidade de seno) e que
76 1 Séries de Fourier – parte 1

Z L  nπ x 
1
an = f (x) cos dx.
L −L L
Substituindo (7.2), (7.3) e (7.4) em (7.1), obtém-se o resultado desejado, ou seja, substituindo
nπ nπ
A0 = 0, An = · bn e Bn = − · an .
L L
em
∞ h  nπ x   nπ x i
A0
f 0 (x) ∼ + ∑ An · cos + B0 · sen ·
2 n=1 L L
encontra-se h nπ   nπ x   nπ   nπ x i

0
f (x) ∼ ∑ L
· bn cos
L

L
· an sen
L
·
n=1

Observação 1.1: Se a função f no teorema 1.1 for descontı́nua, então a conclusão do mesmo
é falsa, isto é, mesmo que f possua uma série de Fourier que converge para f em seus pontos de
continuidade, não será possı́vel derivar, termo a termo, a série de Fourier para f a fim de obter
a série de Fourier para f 0 .
Os dois próximos exemplos ilustram o caso de uma função f cuja derivada f 0 possui uma
série de Fourier, mas que não pode ser obtida derivando termo a termo a série de Fourier para
f.

Exemplo 1.1: Seja f : R → R uma função definida por



 se − L < x < L,
 x,

f (x) = 0, se x = −L e x = L,



periódica de perı́odo T = 2L.

Mostre que f 0 (x) pode ser representada por uma série de Fourier e determine esta série.

S OLUÇ ÃO : Note-se, primeiro, que para os valores de x ∈ (−L, L), tem-se que f (x) = x e
isto implica em f 0 (x) = 1. Mas f é descontı́nua nos pontos x = ± kL, de modo que não existe
derivada neles, ou seja, f 0 (x) não está definida para estes valores de x. Porém, sem perda de
generalidade, é possı́vel definir f 0 (± kL) = 1. Assim,

 se − L < x < L,
 1,

f 0 (x) = 1, se x = −L e x = L,



periódica de perı́odo T = 2L,

ou seja, f 0 (x) = 1 para todo x ∈ R.


1.7 Diferenciação de séries de Fourier 77

Facilmente conclui-se que f 00 (x) = 0 para todo x ∈ R. Assim, tem-se que f 00 (x) é uma função
seccionalmente contı́nua (por ser contı́nua). Além disso, pela proposição 1.4, tem-se f 0 é uma
função periódica de perı́odo T = 2L, pois f é periódica e tem este perı́odo. Isto permite deter-
minar, segundo o teorema de Fourier, uma série de Fourier para a função f 0 (x).
Como f 0 (x) = 1 para todo x ∈ R, pode-se calcular os coeficientes de Fourier para f 0 através
de suas fórmulas. Para A0 , tem-se
Z Z
1 L 1 L
A0 = f (x) dx = 1.dx
L −L L −L

x L 1
= = · [L − (−L)] = 2.
L −L L
Para os coeficientes An , obtém-se
Z  nπ x  Z  nπ x 
1 L 1 L
An = f (x) cos dx = cos dx
L −L L L −L L
1 L  nπ x  L
= · · sen = 1 · [ sen (nπ ) − sen (−nπ )]
L nπ L −L nπ
1 1
= · [ sen (nπ ) + sen (nπ )] = · sen (nπ ) = 0.
nπ nπ
Para os coeficientes Bn , obtém-se
Z  nπ x  Z  nπ x 
1 L 1 L
Bn = f (x) sen dx = sen dx
L −L L L −L L
1
   nπ x  L
= · −
L
· cos = − 1 · [cos(nπ ) − cos(−nπ )]
L nπ L −L nπ
1
= − · [cos(nπ ) − cos(nπ )] = 0.

Substituindo os coeficientes A0 , An e Bn na série de Fourier para f 0 , obtém-se
∞ h  nπ x   nπ x i
A0
f (x) = + ∑ An · cos + Bn · sen
2 n=1 L L
∞ h    i
2 nπ x nπ x
= + ∑ 0 · cos + 0 · sen
2 n=1 L L
= 1,

isto é, a série de Fourier para a função f 0 é dada por

f 0 (x) = 1, ∀ x ∈ R.

Exemplo 1.2: Seja f : R → R uma função definida por


78 1 Séries de Fourier – parte 1


 se − L < x < L,
 x,

f (x) = 0, se x = −L e x = L,



periódica de perı́odo T = 2L.

Mostre que a série de Fourier para f 0 não pode ser obtida derivando termo a termo a série de
Fourier para a função f .

S OLUÇ ÃO : Como foi visto no exemplo 1.1, apesar de existir uma série de Fourier para f 0 (x),
a mesma não pode ser obtida derivando termo a termo a série de Fourier para f , pois tal série
assim obtida é divergente. De fato, foi visto no exemplo 1.7, a série de Fourier para f é dada
por
2L ∞ (−1)n+1  nπ x 
f (x) = ∑ n sen L .
π n=1
Derivando termo a termo o segundo membro da expressão acima, obtém-se
2L ∞ (−1)n+1 d h  nπ i 2L ∞ (−1)n+1 h nπ  nπ x i
∑ n · dx sen L = π ∑ n
π n=1 L
· cos
L
n=1
∞  nπ x 
(7.5) = 2 ∑ (−1)n+1 cos .
n=1 L

A série no segundo membro de (7.5), resultante de derivação termo a termo, é divergente em


todos os pontos. Por exemplo, fazendo x = 0, a série em (7.5) se escrever como
∞  nπ x  ∞
n+1
2 ∑ (−1) cos = 2 ∑ (−1)n+1 cos 0
L
n=1 x=0 n=1

= 2 ∑ (−1)n+1
n=1
= 2 (1 − 1 + 1 − 1 + · · ·)

A série numérica acima oscila entre os valores 2 e 0. Já para x = L em (7.5), obtém-se
∞  nπ x  ∞
n+1
2 ∑ (−1) cos = 2 ∑ (−1)n+1 cos(nπ )
L
n=1 x=L n=1

= 2 ∑ (−1)n+1 · (−1)n
n=1

= 2 ∑ (−1)n
n=1
= 2 (−1 + 1 − 1 + · · ·) ,

que oscila entre os valores −2 e 0.


Em geral, a série diverge em qualquer ponto porque

lim cos(nx) 6= 0, ∀ x ∈ R.
n→∞
1.8 Integração de séries de Fourier 79

Para verificar tal afirmação, suponha por absurdo que lim cos(nx) = 0 para algum x ∈ R. Isto
n→∞
implica que

lim cos2 (nx) = lim [ cos(nx) · cos(nx)]


n→∞
hx→∞ ih i
= lim cos(nx) lim cos(nx)
n→∞ n→∞
= 0 · 0 = 0.

Como a sequência de funções {cos(nx)} é convergente para zero, segue-se que toda sub-
sequência sua também é convergente e converge para o mesmo limite. Assim, em particular, a
subsequência {cos(2nx)} de {cos(nx)} converge para zero, isto é, lim cos(2nx) = 0.
n→∞
Por outro lado, considere a seguinte identidade trigonométrica
1 + cos(2nx)
cos2 (nx) = ·
2
Tomando limite para n → ∞ em ambos os membros da identidade acima, obtém-se
 
2 1 + cos(2nx)
0 = lim cos (nx) = lim
n→∞ n→∞ 2
lim 1 + lim cos(2nx) 1 + 0 1
n→∞ n→∞
= = = ,
lim 2 2 2
n→∞

ou seja, um absurdo, pois 0 6= 1/2.


Isto mostra que
lim cos(nx) 6= 0, ∀x∈R
n→∞
e, portanto, que a série diverge em todos os pontos.

1.8 Integração de séries de Fourier

Se uma função f : R → R for igual à sua série de Fourier, isto é,


∞ h  nπ x   nπ x i
a0
f (x) = + ∑ an cos + bn sen ,
2 n=1 L L

a qual se supõe convergir uniformemente, então é possı́vel usar a proposição 5.2 para concluir
que
Z b Z b ∞  Z b  nπ x  Z b  nπ x  
a0
f (x) dx) = dx + ∑ an cos dx + bn sen dx ,
a a 2 n=1 a L a L
80 1 Séries de Fourier – parte 1

isto é, realizar uma integração termo a termo na série de Fourier para uma função f .
Em comparação com a derivação termo a termo da série de Fourier, as hipóteses necessárias
para integração termo a termo de tal série para f são bem mais fracas. Mostrar-se-á nesta seção
que a integração termo a termo de uma série de Fourier é verdadeira mesmo que a série de
Fourier não convirja uniformente para f e mesmo que a série de Fourier não convirja pontual-
mente para f . Não para aı́: mesmo quando a série de Fourier seja divergente ainda é possı́vel
integrá-la termo a termo!
Isto, por si só, já sugere que a série de Fourier tem uma caracterı́stica especial e rica em
propriedades interessantes.

Teorema 1.1: Sejam f : R → R uma função periódica de perı́odo T = 2L e seccionalmente


contı́nua e
∞ h  nπ x   nπ x i
a0
+ ∑ an cos + bn sen
2 n=1 L L
a sua série de Fourier.
Tem-se:
(a) A série pode ser integrada termo a termo e o valor da série integrada é a integral de f ;
mais precisamente:
Z b Z b ∞  Z b  nπ x  Z b  nπ x  
a0
(8.1) f (x) dx = dx + ∑ an cos dx + bn sen dx ;
a a 2 n=1 a L a L

(b) A função Z xh
a0 i
ϕ (x) = f (t) − dt
0 2
é periódica de perı́odo 2L, contı́nua, tem derivada ϕ 0 seccionalmente contı́nua e é representada
por sua série de Fourier
  nπ x  a  nπ x  
L ∞ bn L ∞ bn n
(8.2) ϕ (x) = ∑ + ∑ − · cos + · sen
π n=1 n π n=1 n L n L
e
Z L
L ∞ bn 1
(8.3) ∑
π n=1 n
=
2L −L
ϕ (x) dx.

D EMONSTRAÇ ÃO : Defina a função ϕ : R → R por


Z xh
a0 i
(8.4) ϕ (x) = f (t) − dt,
0 2
a qual é contı́nua.
Como consequência do teorema fundamental do cálculo, tem-se que ϕ 0 (x) existe em todos os
pontos x onde f é contı́nua. Além disso, ϕ 0 (x) = f (x) nesses pontos. Portanto, ϕ 0 (x) é seccio-
nalmente contı́nua.
Note-se que ϕ é periódica de perı́odo 2L, pois
1.8 Integração de séries de Fourier 81

Z x+2L h Z xh
a0 i a0 i
ϕ (x + 2L) − ϕ (x) = f (t) − dt − f (t) − dt
0 2 0 2
Z x+2L h Z Lh
a0 i a0 i
(8.5) = f (t) − dt = f (t) − dt,
x L −L 2
onde usou-se o fato de f (t) − a0/2 ser periódica de perı́odo 2L, bem como o corolário 1.1, que
diz Z a+L Z L
g(t) dt = g(t) dt,
a−L −L
para todo função g periódica de perı́odo 2L e todo número a ∈ R fixado.
Agora observe que
Z Lh Z L Z
a0 i a0 L
f (t) − dt = f (t) dt − dt
−L 2 −L 2 −L
Z L
a0 t L
= f (t) dt −
−L 2 −L
a0
= a0 · L − [ L − (−L)] = 0.
2
Isto mostra que, em (8.5), o primeiro membro

ϕ (x + 2L) − ϕ (x) = 0,

isto é, que a função ϕ definida em (8.4) é contı́nua, tem derivada ϕ 0 contı́nua por partes e é
periódica de perı́odo 2L. Com isso, é possı́vel usar o teorema de Fourier (teorema 1.1) para
escrever
∞ h  nπ x   nπ x i
A0
(8.6) ϕ (x) = + ∑ An cos + Bn sen ,
2 n=1 L L

onde os coeficientes de Fourier An e Bn são dados por


Z  nπ x 
1 L
(8.7) An = ϕ (x) cos dx, n ≥ 0,
L −L L
Z  nπ x 
1 L
(8.8) Bn = ϕ (x) sen dx, n ≥ 1.
L −L L
O próximo passo consiste em usar integração por partes para relacionar os coeficientes de
Fourier de ϕ com os coeficientes de Fourier da função f . Assim, fazendo,
 
 u = ϕ (x),  du = ϕ 0 (x) dx
 nπ x  ⇒  
 dv = cos dx,  v = L · sen nπ x ,
L nπ L
observando que ϕ 0 (x) = f (x) (em virtude do teorema fundamental do cálculo), para os coefi-
cientes An , obtém-se
82 1 Séries de Fourier – parte 1

Z L  nπ x 
1
An = ϕ (x) cos dx,
L L
"−L #
1 L  nπ x  L L
Z L  nπ x 
= · ϕ (x) · sen − ϕ 0 (x) · sen dx
L nπ L −L nπ −L L
 Z  nπ x  
1 L L L L
= · ϕ (L) · sen (nπ ) − · ϕ (−L) · sen (−nπ ) − f (x) sen dx
L nπ nπ nπ −L L
Z  nπ x 
1 L L 1
=− · f (x) sen dx = − · (bn · L)
L nπ −L L nπ
L
(8.9) = − · bn , n ≥ 1,

onde usou o fato que seno é ı́mpar, isto é, sen (−nπ ) = − sen (nπ ), bem como o fato de ser
sen (nπ ) = 0.
Antes de relacionar os coeficientes Bn com os coeficientes da função f , observe-se primeiro
que, por ser ϕ periódica de perı́odo 2L, isto é, ϕ (x + 2L) = ϕ (x), tomando x = −L, tem-se que

ϕ (−L) = ϕ (−L + 2L) = ϕ (L).

Assim, fazendo,
 
 u = ϕ (x),  du = ϕ 0 (x) dx
 nπ x  ⇒  
 dv = sen dx,  v = − L · cos nπ x ,
L nπ L
observando que ϕ 0 (x) = f (x) (em virtude do teorema fundamental do cálculo), para os coefi-
cientes Bn , obtém-se
Z  nπ x 
1 L
Bn = ϕ (x) sen dx,
L −L L
" #
1 L  nπ x  L L
Z L  nπ x 
= − · ϕ (x) · cos +
ϕ 0 (x) · cos dx
L nπ L −L nπ −L L
 Z  nπ x  
1 L L L L
= − · ϕ (L) · cos(nπ ) − · ϕ (−L) · cos(−nπ ) + f (x) cos dx
L nπ nπ nπ −L L
 Z  nπ x  
1 L L L
= − cos(nπ ) [ϕ (L) − ϕ (−L)] + f (x) cos dx
L nπ nπ −L L
Z  nπ x 
1 L L 1
= · f (x) cos dx = (an · L)
L nπ −L L nπ
L
(8.10) = · an , n ≥ 1,

onde usou-se os fato que cosseno é par, isto é, que cos(−nπ ) = cos(nπ ) e que ϕ (L) = ϕ (−L).
Já para o coeficiente A0 é preciso um tratamento à parte: deve-se fazer x = 0 em (8.6). Além
disso, deve ser observaddo que segue-se da definição de ϕ , dada em (8.4), que ϕ (0) = 0. Assim,
1.8 Integração de séries de Fourier 83

∞     
A0 nπ .0 nπ .0
0 = ϕ (0) = + ∑ An cos + Bn sen
2 n=1 L L

A0
= + ∑ An (que por (8.9) resulta em)
2 n=1
A0 L ∞ 1
= − ∑ · bn ,
2 π n=1 n

donde
A0 L ∞ bn
= ∑ ,
2 π n=1 n
ou seja,
2L ∞ bn
(8.11) A0 = ∑ n·
π n=1

Agora usa-se (8.4) para ϕ (x), a expressão para a série de Fourier de ϕ que é dada em (8.6),
bem como as relações dos coeficientes de Fourier obtidas em (8.9), (8.10) e (8.11) para escrever
∞ h  nπ x   nπ x i
A0
ϕ (x) = + ∑ An cos + Bn sen ,
2 n=1 L L

ou seja,
Z xh ∞   nπ x  
a0 i L ∞ bn L  nπ x  L
f (t) − dt = ∑ + ∑ − · bn · cos + · an · sen
0 2 π n=1 n n=1 nπ L nπ L
∞ ∞      
L bn L bn nπ x an nπ x
= ∑ + ∑ − · cos + · sen ,
π n=1 n π n=1 n L n L

ou ainda,
Z xh   nπ x 
a0 i L ∞ bn L ∞ bn  nπ x  a
n
(8.12) f (t) dt − dt = ∑ + ∑ − · cos + · sen ,
0 2 π n=1 n π n=1 n L n L

que é (8.2) na parte (b) deste teorema.


A expressão (8.3) na parte (b) deste teorema é uma consequência imediata do coeficiente A0
da série de Fourier para a função ϕ (x). De fato, viu-se que
2L ∞ bn
A0 = ∑ n·
π n=1

Porém, por definição de A0 , tem-se que


Z L
1
A0 = ϕ (x) dx.
L −L

Combinando estas duas últimas expressões, obtém-se


84 1 Séries de Fourier – parte 1

Z L Z L
1 2L ∞ bn 1 L ∞ bn
L −L
ϕ (x) dx = ∑ n
π n=1

2L −L
ϕ (x) dx = ∑ n,
π n=1

que é a expressão dada em (8.3).

Para mostrar a parte (a), basta notar que a expressão (8.12) pode ser reescrita como
Z x Z x ∞    nπ x    nπ x i
a0 L L h
(8.13) f (t) dt = dt + ∑ an · sen + bn · 1 − cos ·
0 0 2 n=1 nπ L nπ L

Por outro lado,


Z x  nπ t  L  nπ t  x
cos dt = · sen
0 L nπ L 0
L h  nπ x  i
= sen − sen 0
nπ L
L  nπ x 
(8.14) = · sen ·
nπ L
Também tem-se que
Z x  nπ t  L  nπ t  x
sen dt = − · cos
0 L nπ L 0
L h  nπ x  i
=− cos − cos 0
nπ L
L h  nπ x i
(8.15) = 1 − cos ·
nπ L
Substituindo (8.14) e (8.15) em (8.13), obtém-se
Z x Z x ∞  Z x  nπ t  Z x  nπ t  
a0
(8.16) f (t) dt = dt + ∑ an cos dt + bn sen dt ·
0 0 2 n=1 0 L 0 L

Por fim, faz-se x = a e x = b na expressão (8.16) e depois uma subtração entre os resultados
obtidos para chegar ao resultado desejado. Tem-se:
Z Z a ∞  Z a  nπ t  Z a  nπ t  
 a a0

 f (t) dt = dt + ∑ an cos dt + bn sen dt

 0 0 2 0 L 0 L
n=1
 Z b Z b ∞  Z b  nπ t  Z b  nπ t  

 a0

 f (t) dt = dt + ∑ an cos dt + bn sen dt
0 0 2 n=1 0 L 0 L

que multiplicando a primeira linha acima por −1 implica em


 Z Z a ∞  Z a  nπ t  Z a  nπ t  
 a a
 0

 − f (t) dt = − dt + ∑ −an cos dt − bn sen dt
 0 0 2 n=1 0 L 0 L
 Z b Z b ∞  Z b  nπ t  Z b  nπ t  

 a0

 f (t) dt = dt + ∑ an cos dt + bn sen dt
0 0 2 n=1 0 L 0 L

e invertendo a ordem os limites de integração, obtém-se


1.8 Integração de séries de Fourier 85

Z Z 0 ∞  Z 0  nπ t  Z 0  nπ t  
 0 a0

 f (t) dt = dt + ∑ an cos dt + bn sen dt

 a a 2 a L a L
n=1
 Z b Z b ∞  Z b  nπ t  Z b  nπ t  

 a0

 f (t) dt = dt + ∑ an cos dt + bn sen dt
0 0 2 n=1 0 L 0 L

que somado membro a membro resulta em


Z b Z b ∞  Z b  nπ t  Z b  nπ t  
a0
f (t) dt = dt + ∑ an cos dt + bn sen dt ,
a a 2 n=1 a L a L

que é o resultado em (8.1) na parte (a) deste teorema.

Observação 1.1: Para as aplicações, o teorema 1.1 toma a forma prática seguinte: se
∞ h  nπ x   nπ x i
a0
f (x) ∼ + ∑ an cos + bn sen ,
2 n=1 L L

então,
Z xh
a0 i
ϕ (x) = f (t) − dt
0 2
Z L   nπ x  a  nπ x  
1 L ∞ bn n
= ϕ (x) dx + ∑ − · cos + · sen .
2L −L π n=1 n L n L

Exemplo 1.1: Seja f : [−L, L] → R uma função definida por f (x) = x. Tem-se que a sua
série de Fourier é dada por
2L ∞ (−1)n+1  nπ x 
f (x) ∼ ∑ n · sen L ·
π n=1

Note-se, primeiro, que


2L (−1)n+1
a0 = 0, an = 0 e bn = · ·
π n
Pela observação 1.1, será necessário determinar ϕ (x) e a sua integral. Tem-se
Z xh Z x 
a0 i 0
ϕ (x) = f (t) − dt = t − dt
0 2 0 2
x
t
2 x2
= = ·
2 0 2
Além disso,
86 1 Séries de Fourier – parte 1

Z L Z L 2 L
1 1 x 1 3

ϕ (x) dx = dx = ·x
2L −L 2L −L 2 12L −L
1  3  L 2
= L − (−L)3 = ·
12L 6
Substituindo os resultados obtidos em
Z L   nπ x  a  nπ x  
1 L ∞ bn n
ϕ (x) = ϕ (x) dx + ∑ − · cos + · sen ,
2L −L π n=1 n L n L

obtém-se
  nπ x  0  nπ x  
x2 L2 L ∞ 2L (−1)n+1 1
= + ∑ − · · · cos + · sen
2 6 π n=1 π n n L n L
L2 2L2 ∞
(−1)n+2  nπ x 
= + 2 ∑ 2
· cos
6 π n=1 n L
L2 2L2 ∞ (−1)n  nπ x 
= + 2 ∑ · cos , −L ≤ x ≤ L,
6 π n=1 n2 L

que é a série de Fourier para a função ϕ (x) = x2/2.

Exemplo 1.2: Considere a função f : [−L, L] → R dada por f (x) = x2/2. Determine a série
de Fourier para a função ϕ : [−L, L] → R definida por

x3 L2
ϕ (x) = − x.
6 6
S OLUÇ ÃO : O exemplo 1.1 mostrou que a série de Fourier para a função f dada neste exemplo

x2 L2 L2 ∞ (−1)n  nπ x 
f (x) = = + 2 ∑ · cos ·
2 6 π n=1 n2 L
A ideia consiste em aplicar novamente o teorema1.1 a esta série, tomando

L2 2L2 (−1)n
a0 = , an = · e bn = 0.
3 π2 n2
Agora determina-se ϕ (x). Tem-se:
Z xh Z x 2 
a0 i t L2
ϕ (x) = f (t) − dt = − dt
0 2 0 2 6
 3 
t L2 t x x3 L2
= − = − x.
6 12 0 6 6
Agora determina-se a integral de ϕ (x):
1.8 Integração de séries de Fourier 87

Z L Z L 3 
1 1 x L2
ϕ (x) dx = − x dx
2L −L 2L −L 6 6
 4 
1 x L2 x2 L
= −
2L 24 12 −L
 4   4 
1 L L4 L L4
= − − −
2L 24 12 24 12
= 0.

Substituindo os resultados obtidos em


Z L   nπ x  a  nπ x  
1 L ∞ bn n
ϕ (x) = ϕ (x) dx + ∑ − · cos + · sen ,
2L −L π n=1 n L n L

obtém-se
  nπ x  2L2 (−1)n 1  nπ x  
x3 L2 L ∞ 0
− x = 0 + ∑ − · cos + 2 · · · sen
6 6 π n=1 n L π n2 n L
2L 3 ∞
(−1) n  nπ x 
= 3 ∑ 3
· sen , −L ≤ x ≤ L,
π n=1 n L

que é a série de Fourier para a função ϕ (x).

Exemplo 1.3: Seja f : [−L, L] → R uma função definida por

x3 L2
f (x) = − x.
6 6
Determine a série de Fourier para a função ϕ : [−L, L] → R dada por

x4 L2 2
ϕ (x) = − x
24 12
e, fazendo x = L, mostre que

π4 1
= ∑ 4·
90 n=1 n
S OLUÇ ÃO : Pelo exemplo 1.2, a série de Fourier para f é dada por
2L3 ∞ (−1)n  nπ x 
f (x) = ∑ n3
π 3 n=1
· sen
L
, −L ≤ x ≤ L,

cujos coeficientes de Fourier são dados por

2L3 (−1)n
a0 = 0, an = 0 e bn = 3 · ·
π n3
88 1 Séries de Fourier – parte 1

Novamente se usa o teorema 1.1. Porém, antes, confirmar-se-á a expressão para ϕ (x) e
determinar-se-á a sua integral. Tem-se:
Z xh Z x 3 
a0 i t L2
ϕ (x) = f (t) − dt = − t dt
0 2 0 6 6
 4  x
t L t
2 2 x4 2
L x 2
= − = − ·
24 12 0 24 12
Em seguida, determina-se a integral de ϕ (x):
Z Z  
1 L 1 L x4 L2 x2
ϕ (x) dx = − dx
2L −L 2L −L 24 12
 5 
1 x L2x3 L
= −
2L 120 36 −L
 5   
1 L L5 L5 L5
= − − − +
2L 120 36 120 36
L4 L4 3L4 − 10L4 7L4
= − = =− ·
120 36 360 360
Substituindo os resultados obtidos em
Z L   nπ x  a  nπ x  
1 L ∞ bn n
ϕ (x) = ϕ (x) dx + ∑ − · cos + · sen ,
2L −L π n=1 n L n L

obtém-se
x4 L2 x2
ϕ (x) = − =
24 12 
7L4 L ∞ 2L3 (−1)n 1  nπ x  0  nπ x  
=− + ∑ − 3 · · cos + · sen
360 π n=1 π n3 n L n L
7L4 2L4 ∞ (−1)n+1  nπ x 
=− + 4 ∑ 4
cos , −L ≤ x ≤ L.
360 π n=1 n L

Para finalizar, basta fazer x = L na série de Fourier para ϕ (x), isto é, em

x4 L2 x2 7L4 2L4 ∞ (−1)n+1  nπ x 


− =− + 4 ∑ cos ,
24 12 360 π n=1 n4 L

ou seja,
L4 L4 7L4 2L4 ∞ (−1)n+1

24 12
=− + ∑ n4 cos(nπ ).
360 π 4 n=1
Assim,
L4 7L4 2L4 ∞ (−1)n+1
− =− + 4 ∑ 4
· (−1)n ,
24 360 π n=1 n
que implica em
1.9 Estimativas dos coeficientes de Fourier 89

7L4 L4 2L4 ∞ (−1)2n+1


− = 4 ∑ ,
360 24 π n=1 n4
ou ainda,
7L4 − 15L4 2L4 ∞ 1
= − 4 ∑ 4.
360 π n=1 n
A última expressão pode ser simplicada para obter

8L4 2L4 ∞ 1 π4 ∞
1
= 4 ∑ 4 ⇒ = ∑ 4,
360 π n=1 n 90 n=1 n

que é a série numérica pedida.

1.9 Estimativas dos coeficientes de Fourier

Esta seção é dedicada à certas estimativas dos coeficientes de Fourier de uma dada função a
partir de hipóteses sobre a diferenciabilidade da mesma. Ver-se-á que a rapidez da convergência
da série de Fourier dependerá de seus coeficientes.

Proposição 1.1: Seja f : R → R uma função periódica de perı́odo T = 2L, integrável e


absolutamente integrável. Então, existe uma constante M ≥ 0 tal que

(9.2) | an | ≤ M e | bn | ≤ M.

D EMONSTRAÇ ÃO : A demonstração é muito simples, basta usar o fato de que as funções seno
e cosseno são limitadas, isto é,
 nπ x   nπ x 

sen ≤1 e cos ≤ 1.
L L
Para os coeficientes an , tem-se
Z L  nπ x 
1

| an | = f (x) sen dx
L −L L
Z Z
1 L  nπ x 
1 L

 nπ x 

≤ f (x) sen dx = | f (x)| sen dx
L −L L L −L L
Z
1 L
≤ | f (x)| dx.
L −L
Como f é absolutamente integrável, fazendo
Z L
1
(9.3) M= | f (x) | dx,
L −L
90 1 Séries de Fourier – parte 1

obtém-se | an | ≤ M, que é a primeira desigualdade em (9.2).


Para os coeficientes bn , tem-se
ZL  nπ x 
1
| bn | = f (x) cos dx
L −L L
Z Z
1 L  nπ x 
1 L  nπ x 

≤ f (x) cos dx = | f (x)| cos dx
L −L L L −L L
Z
1 L
≤ | f (x)| dx.
L −L
Usando a mesma constante M ≥ 0 em (10.3) obtém-se que | bn | ≤ M, que é a segunda de-
sigualdade em (9.2).

Observação 1.1: A proposição 1.1 dá uma informação importante: basta a hipótese de in-
tegrabilidade de f e | f | para que os coeficientes de Fourier sejam limitados. Se isto não fosse
verdade, então certamente a série de Fourier seria divergente. Por outro lado, tomando como
hipótese apenas a integrabilidade de f e | f | o máximo que se obtém é limitação dos coefi-
cientes, não garantindo ainda que a série de Fourier será convergente, isto é, com estas hipóteses
a série poderá ser divergente.
A ideia de exigir que f e | f | sejam integráveis é natural: f deve ser integrável para que as
fórmulas que definem os coeficientes de Fourier façam sentido; já a integrabilidade de | f | é
necessária para que a estimativa faça sentido, isto é, ao tomar o valor absoluto dos coeficientes.
Assim, a integral resultante fica dependente de | f (x)| e que também deve fazer sentido, isto é,
ser integrável.

O próximo resultado melhora bastante o anterior: informações sobre a derivada de f dão


condições para a convergência da série de Fourier para f , isto é, com hipóteses adicionais sobre
f 0 os coeficientes de Fourier tendem a zero quando n tende para infinito.

Proposição 1.2: Seja f : R → R uma função periódica de perı́odo T = 2L, derivável e tal
que f 0 (x) seja uma função integrável e absolutamente integrável. Então, existe uma constante
M ≥ 0 tal que
M M
(9.4) | an | ≤ e | bn | ≤ ,
n n
para todo n ∈ N.
D EMONSTRAÇ ÃO : A ideia consiste em integrar por partes os coeficientes de Fourier e depois
fazer as estimativas necessárias. Assim, para os coeficientes an , fazendo
1.9 Estimativas dos coeficientes de Fourier 91

 
 u = f (x), 
 du = f 0 (x) dx,
  ⇒  nπ x 
 dv = cos nπ x dx, 
v =
L
sen .
L nπ L
obtém-se
Z L  nπ x 
1
an = f (x) cos dx
L L
"−L L Z L
#
1 L  
nπ x L  nπ x 
= · f (x) · sen − f 0 (x) · sen dx
L nπ L −L nπ −L L
Z  nπ x 
1 1 L 0
= [ f (L) · sen (nπ ) − f (−L) · sen (−nπ )] − f (x) · sen dx
nπ nπ −L L
Z  nπ x 
1 L 0
(9.5) =− f (x) · sen dx,
nπ −L L
onde usou-se os fato de que a função seno é ı́mpar e que sen (nπ ) = 0. Note-se que a hipótese
da integrabilidade de f 0 foi usada para dar sentido aos procedimentos acima.
Agora se faz a estimativa para os coeficientes an tomando-se o valor absoluto da expressão
obtida em (9.5). Tem-se:
 nπ x 
1 Z L 0

| an | = − f (x) · sen dx
nπ −L L
Z Z
1 L 0  nπ x 
1 L 0  nπ x 

≤ f (x) · sen dx = f (x) sen dx
nπ −L L nπ −L L
Z
1 L 0
≤ f (x) dx.
nπ −L
Como, por hipótese, f 0 é absolutamente integrável, fazendo
Z L
1 f 0 (x) dx,
(9.6) M=
π −L

segue-se da estimativa acima que


M
| an | ≤ , ∀ n ∈ N,
n
que é a primeira desigualdade em (9.4).
De modo análogo se realiza os procedimentos para os coeficientes bn. Fazendo
 
 u = f (x), 
 du = f 0 (x) dx,
  ⇒  nπ x 
 dv = sen nπ x dx, 
 v = − cos
L
.
L nπ L
obtém-se
92 1 Séries de Fourier – parte 1

Z L  nπ x 
1
bn = f (x) sen dx
L L
"−L #
1 L  nπ x  L L
Z L  nπ x 
= − · f (x) · cos + f 0 (x) · cos dx
L nπ L −L nπ −L L
Z  nπ x 
1 1 L 0
= − [ f (L) · cos(nπ ) − f (−L) · cos(−nπ )] + f (x) · cos dx
nπ nπ −L L
Z  nπ x 
cos(nπ ) 1 L 0
=− [ f (L) − f (−L)] + f (x) · cos dx
nπ nπ −L L
Z  nπ x 
1 L 0
(9.7) = f (x) · cos dx,
nπ −L L
onde usou-se os fato de que a função coseno é par. Além disso, usou-se a periodicidade de f
para concluir que f (L) − f (−L) = 0, isto é, fazendo x = −L, tem-se

f (x + 2L) = f (x) ⇒ f (L) = f (−L + 2L) = f (−L).

Agora se faz a estimativa para os coeficientes bn tomando-se o valor absoluto da expressão


obtida em (9.7). Tem-se:
Z L  nπ x 
1 0
| bn | = f (x) · cos dx
nπ −L L
Z Z
1 L 0  nπ x 
1 L 0  nπ x 
≤ f (x) · cos dx = f (x) cos dx
nπ −L L nπ −L L
Z
1 L 0
≤ f (x) dx.
nπ −L
Usando a mesma constante M ≥ 0 obtida em (9.6), conclui-se que
M
| bn | ≤ , ∀ n ∈ N,
n
que é a segunda desigualdade em (9.4)

A proposição 1.2, que considera hipóteses adicionais sobre f (isto é, existir f 0 e esta ser in-
tegrável e absolutamente integrável) que implicaram na convergência para zero dos coeficientes
de Fourier. Porém isso ainda não assegura que a série de Fourier seja convergente.
Com hipóteses adicionais sobre f 0 e f 00 é possı́vel melhorar ainda mais as estimativas obtidas
na proposição 1.2.

Proposição 1.3: Seja f : R → R uma função periódica de perı́odo T = 2L, com derivada
contı́nua e segunda derivada integrável e absolutamente integrável. Então, existe uma consante
M ≥ 0 tal que
M M
(9.8) | an | ≤ e | bn | ≤ ,
n2 n2
1.9 Estimativas dos coeficientes de Fourier 93

para todo n ∈ N.
D EMONSTRAÇ ÃO : Na demonstração da proposição 1.2 viu-se que nas igualdades (9.5) e
(9.7) que
Z  nπ x  Z  nπ x 
1 L 0 1 L 0
an = − f (x) · sen dx e bn = f (x) · cos dx.
nπ −L L nπ −L L
Como, por hipótese, f 00 é integrável, então faz sentido integrar por partes, cada uma das
expressões acima, novamente. Assim, para os coeficientes an, fazendo
 
0
 u = f (x), 
 du = f 00 (x) dx,
  ⇒  
 dv = sen nπ x dx,  v = − L cos nπ x .

L nπ L
obtém-se
Z L  nπ x 
1 0
an = − f (x) · sen dx
nπ L
"−L L Z L
#
1 L  nπ x  L  nπ x 
=− − · f 0 (x) · cos + f 00 (x) · cos dx
nπ nπ L −L nπ −L L
Z L  nπ x 
L  0 0
 L 00
= 2 2 f (L) · cos(nπ ) − f (−L) cos(−nπ ) − 2 2 f (x) · cos dx
n π n π −L L
Z L  nπ x 
L · cos(nπ )  0 0
 L 00
= f (L) − f (−L) − f (x) · cos dx
n2 π 2 n2 π 2 −L L
Z L  nπ x 
L
(9.9) =− 2 2 f 00 (x) · cos dx,
n π −L L
onde usou-se a paridade das funções cosseno. Além disso, na proposição 1.4, mostrou-se que
se f é uma função periódica de perı́odo T , então f 0 também é periódica de mesmo perı́odo T .
Isto mostra que f 0 (L) − f 0 (−L) = 0 e que foi usado no desenvolvimento acima, pois fazendo
x = −L obtém-se

f 0 (x + 2L) = f 0 (x) ⇒ f 0 (L) = f 0 (−L + 2L) = f 0 (−L).

Em seguida se faz a estimativa para os coeficientes an tomando-se o valor absoluto na ex-


pressão obtida em (9.9). Tem-se:
Z L  nπ x 
L 00

| an | = − 2 2 f (x) · cos dx
n π −L L
Z L  nπ x  Z L  
≤ 2 2
L 00
f (x) · cos
L
dx = 2 2 f 00 (x) cos nπ x dx
n π −L L n π −L L
Z L
L f 00 (x) dx.
≤ 2 2
n π −L
Como, por hipótese, f 00 é absolutamente integrável, fazendo
94 1 Séries de Fourier – parte 1

Z L
M f 00 (x) dx,
(9.10) M= 2
π −L

segue-se da estimativa acima que


M
| an | ≤ , ∀ n ∈ N,
n2
que é a primeira desigualdade em (9.8).
De modo análogo se realiza os procedimentos para os coeficientes bn. Fazendo
 
 u = f 0 (x), 
 du = f 00 (x) dx,
  ⇒  nπ x 
 dv = cos nπ x dx, 
v =
L
sen .
L nπ L
obtém-se
Z L  nπ x 
1
bn = f 0 (x) · cos dx
nπ −L L
" #
1 L  nπ x  L L
Z L  nπ x 
= · f 0 (x) · sen − f 00 (x) · sen dx
nπ nπ L −L nπ −L L
Z L  nπ x 
L  0 0
 L
= 2 2 f (L) · sen (nπ ) − f (−L) sen (−nπ ) − 2 2 f 00 (x) · sen dx
n π n π −L L
Z L  nπ x 
L · sen (nπ )  0 0
 L 00
= f (L) − f (−L) − 2 2 f (x) · sen dx
n2 π 2 n π −L L
Z L  nπ x 
L 00
(9.11) =− 2 2 f (x) · sen dx,
n π −L L
onde usou-se a imparidade das funções seno e o fato que sen (nπ ) = 0.
Em seguida se faz a estimativa para os coeficientes bn tomando-se o valor absoluto na ex-
pressão obtida em (9.11). Tem-se:
Z L  nπ x 
L 00

| bn | = − 2 2 f (x) · sen dx
n π −L L
Z L  nπ x  Z L  nπ x 
L 00 L 00
≤ 2 2 f (x) · sen dx = f (x) sen dx
n π −L L n2 π 2 −L L
Z L
L f 00 (x) dx.
≤ 2 2
n π −L
Usando a mesma constante M ≥ 0 obtida em (9.10), conclui-se que
M
| bn | ≤ , ∀ n ∈ N,
n2
que é a segunda desigualdade em (9.8).
1.10 Forma complexa da série de Fourier 95

A proposição 1.3 mostra que, sem fazer uso do teorema de Fourier (teorema 1.1), com o uso
do teste de comparação, a série de Fourier é convergente, pois a série

1
∑ n2
n=1

é convergente.
Cabe observar que a proposição 1.3 garante a convergência da série de Fourier, porém este
resultado não garante que a convergência da série de Fourier será exatamente para a própria
função f .

Observação 1.2: Com as hipóteses de integrabilidade e integrabilidade absoluta de f 00 , a


rapidez da convergência da série de Fourier é de ordem quadrática. Mais geralmente, usando-se
indução e os mesmos procedimentos usados nas demonstrações das proposições desta seção,
é possı́vel mostrar que mais rapidamente os coeficientes de Fourier convergem para zero e,
portanto, com maior rapidez convergirá a série de Fourier. Assim, supondo que f (k), a derivada
de ordem k de f , seja integrável e absolutamente integrável, é possı́vel mostrar que
M M
|an| ≤ e |bn | ≤ , ∀ n ∈ N.
nk nk

1.10 Forma complexa da série de Fourier

Usando a fórmula de Euler,



e i θ = cos θ + i sen θ , i= −1,

decorre, em virtude da paridade do cosseno e a imparidade do seno, que

e −i θ = cos θ − i sen θ .

Assim, o sistema abaixo (


e i θ = cos θ + i sen θ
e −i θ = cos θ − i sen θ
pode ser resolvido para obter

e i θ + e −i θ e i θ − e −i θ
cos θ = e sen θ = ·
2 2i
Assim, tomando θ = nπ x/L, tem-se que
96 1 Séries de Fourier – parte 1

 nπ x   nπ x  e inπ x/L + e −inπ x/L e inπ x/L − e −inπ x/L


an · cos + bn · sen = an + bn
L L 2 2i
   
an bn inπ x an bn inπ x
= + e L + − e− L
2 2i 2 2i
   
an bn inπ x an bn inπ x
= −i· e L + +i· e− L
2 2 2 2
Faça
an bn an bn
cn =
−i· e dn = + i · ·
2 2 2 2
Então, usando as fórmulas dos coeficientes de Fourier,
Z  nπ x  Z  nπ x 
1 L 1 L
an = f (x) cos dx e bn = f (x) sen dx,
L −L L L −L L
em cn , obtém-se
an bn
cn = −i·
2 2
Z L  nπ x  Z  nπ x 
1 1 L
= f (x) cos dx − i · f (x) sen dx
2L −L L 2L −L L
Z h  nπ x   nπ x 
1 L
= f (x) cos − i · sen ]dx,
2L −L L L
que pela fórmula  nπ x   nπ x 
−inπ x/L
e = cos − i · sen ,
L L
que é consequência da fórmula de Euler, permite escrever
Z L
1 nπ x
cn = f (x) e − L dx, n = 1, 2, 3, . . .
2 −L

De maneira análoga, mostra-se que


Z L
1 nπ x
c−n = dn = f (x) e L dx.
2 −L

Agora, para n = 0, define-se


Z L
a0 1
(10.2) c0 = = f (x) dx.
2 2L −L

Assim, vê-se que a série de Fourier


∞ h  nπ x   nπ x i
a0
f (x) ∼ + ∑ an cos + bn sen
2 n=1 L L

pode ser escrita na forma


1.10 Forma complexa da série de Fourier 97

∞   a ∞
a0 inπ x
− inLπ x 0 inπ x −inπ x
+ ∑ cn · e L + c−n · e = + ∑ cn · e L + ∑ c−n · e L
2 n=1 2 n=1 n=1
∞ −inπ x a0 inπ x
= ∑ c−n · e L +
2
+ ∑ cn · e L

n=1 n=1
n=−1 inπ x a0 inπ x
= ∑ cn · L +
2
+ ∑ cn · e L
n=−∞ n=1
∞ inπ x
(10.3) = ∑ cn · e L ,
n=−∞

onde
a0 an − ibn an + ibn
(10.4) c0 = , cn , c−n = , n ∈ N.
2 2 2
Observa-se que o somatório de −∞ a ∞ é entendido como sendo uma soma de duas séries
∞ inπ x
∞ inπ x
∞ inπ x
∑ cn e L = ∑ cn e L + ∑ c−n e − L , n ∈ Z.
n=−∞ n=0 n=1

Se as duas séries no segundo membro acima são convergentes, então o resultado é o mesmo
daquele na série no primeiro membro de (10.3).
A forma complexa da série de Fourier, dada em (10.3), apresenta várias vantagens. Por ex-
emplo, todos os coeficientes cn podem ser definidos diretamente em termos de f (x):
Z L
1 −inπ x/L
cn = f (x) e dx, n ∈ Z,
2L −L

pois a integral no segundo membro acima é dada por


Z h  nπ x   nπ x i
1 L
f (x) cos − i · sen .
2L −L L L
Quando n = 0, isso dá 12 a0 ; quando n > 0, a integral é igual a 12 (an − i bn) e quando n < 0,
vale 12 (a−n + i b−n). Tem-se, portanto, que
∞ Z L
(inπ x)/L 1
f (x) e −
(inπ x)/L
f (x) ∼ ∑ cn e , cn =
2L −L
dx,
n=−∞

sempre que a série converge para f (x).


A série acima para f é conhecida como série de Fourier na forma complexa, onde seus
coeficientes podem ser encontrados pela fórmula que define os cn .

Observação 1.1: Aqui cabe um comentário importante: na prática, quando se determina


os coeficientes cn da série na forma complexa, pode ocorrer a presença de n no denominador
de uma dada expressão que representa cn . Neste caso, para a determinação do coeficiente c0 ,
não é possı́vel fazer a substituição direta tomando-se n = 0, pois isto anularia o denominador.
98 1 Séries de Fourier – parte 1

Quando isto acontece, então é necessário determinar o coeficiente c0 diretamente a partir de sua
definição, que é dada por (10.2).

Exemplo 1.1: Seja f : R → R definida por


(
x, para − π < x ≤ π ,
f (x) =
periódica de perı́odo T = 2π .

Use a forma complexa para obter a série de Fourier para a função f .

S OLUÇ ÃO : Note-se que T = 2π , de modo que L = π . Agora deve-se determinar os coefi-
cientes cn para a série na forma complexa. Tem-se
Z Z
1 L −(inπ x)/L 1 π
cn = f (x) e dx = x e −inx dx
2L −L 2π −π
 Z 
1 1 −inx π 1 π −inx
= − xe + in −π e dx
2π in −π
 
1 1 −inπ inπ
 1 −inx π
= − π ·e +πe − 2 2e
2π in i n −π
  inπ  
1 2π e + e −inπ 1 −inπ inπ

= − + 2 e −e
2π in 2 n
    
1 2π i e inπ + e −inπ 2i e inπ − e −inπ
= − 2
2π n 2 n 2i
 
i 1
= π cos(nπ ) + sen (nπ )
nπ n
i
= (−1)n ,
n
onde nos passos acima realizou-se integração por partes, usou-se a fórmula de Euler, multiplicou-
se e dividiu-se por constantes convenientes, bem como usou-se os fatos

cos(nπ ) = (−1)n e sen (nπ ) = 0.

Os coeficientes c−n podem ser obtidos a partir dos coeficientes cn , substituindo n por −n na
expressão encontrada, ou seja,
i 1
c−n = (−1)−n = − (−1)n .
−n n
Por outro lado, o coeficiente c0 não pode ser obtido pela substituição n = 0 em cn , pois n
aparece no denominador; logo deve ser obtido diretamente por sua fórmula. Assim,
1.10 Forma complexa da série de Fourier 99

Z Z
1 L 1 π
c0 = f (x) dx = x dx
2L −L 2π −π

1 x2 π 1  2 
= · = π − (−π )2
2π 2 −π 4π
= 0.

Com as expressões dadas em (10.3), constitui-se um sistema que deve ser resolvido. Tem-se:

 an bn (

 − i = cn
2 2 an = cn + c−n


 an + i bn = c−n
 bn = i (cn − c−n)
2 2
Assim,
i 1
an = cn + cn = (−1)n − (−1)n = 0
n n
e
 
i i
bn = i (cn − c−n ) = i (−1)n + (−1)n
n n
2 2
= i 2 · (−1)n = − (−1)n
n n
n+1
(−1)
=2 ·
n
Deste modo, foram determinados os seguintes coeficientes reais da série de Fourier:
(−1)n+1
a0 = 0, an = 0 e bn = 2 ·
n
Portanto, a série de Fourier para a função f é dada por

(−1)n+1
f (x) ∼ 2 ∑ sen (nx).
n=1 n

Observação 1.2: O leitor deve estar atento o bastante para não afirmar que a função f , dada
no exemplo 1.1, restrita ao intervalo (−π , π ], é ı́mpar. Isto se deve ao fato deste intervalo não
ser simétrico. Basta tomar x = π para verificar imediatamente que −x (que é igual a −π ) não
pertence a tal intervalo. Deve ser notado que a função está, na verdade, definida em todo R
através de uma extensão periódica.
Como a função f deste exemplo é uma extensão periódica ao conjunto R, ao se fazer isto, o
número −π passa a fazer parte do domı́nio da função, de modo que se tem de fato uma função
ı́mpar. Em suma, o domı́nio da função f é todo R, que é simétrico, de modo que a função é
ı́mpar.
100 1 Séries de Fourier – parte 1

Além disso, pela imparidade da função f do exemplo 1.1, já seria esperado que os coefi-
cientes a0 e an de sua série de Fourier fossem zeros. A resolução deste exemplo permitiu tal
confirmação. Mas observa-se que o valor zero para estes coeficientes foi uma decorrência do
método empregado, ou seja, a imparidade de f não foi usada em momento algum.

Observação 1.3: O leitor também deve estar atento ao fato de que os coeficientes cn e c−n
da série na forma complexa são números complexos. Portanto tais coeficientes podem conter a

unidade imaginária i = −1. Por outro lado, os coeficientes a0, an e bn da série de Fourier são
sempre números reais, isto é, não podem conter a unidade imaginária. Se a unidade imaginária
aparecer nestes coeficientes, então um erro foi introduzido durante a resolução.

Exemplo 1.2: Use a forma complexa da série de Fourier para determinar os coeficientes
(reais) a0 , an e bn da série (real) de Fourier para a função f : [−π , π ] → R dada por f (x) = | x |,
periódica de perı́odo T = 2π .
S OLUÇ ÃO : Deve-se determinar, inicialmente, os coeficientes da forma complexa e que são
dados por
Z Z
1 L 1 L
f (x) e − /L dx.
inπ x
c0 = f (x) dx e cn =
2L −L 2L −L
Observando que L = π e realizando integração por partes, com

u=x e dv = e − inx dx,


1 − inx
du = dx e v=− e ,
in
obtém-se
Z π Z Z
1 1 0 1 π − inx
| x |e −
i n π x/π
cn = −x e − inx dx +
dx = xe dx
2π −π 2π −π 2π 0
Z Z
1 0 − inx 1 π − inx
= − xe dx + xe dx
2π −π 2π 0
" Z
#
1  x − inx  0 1 0 − inx
= − − e + i n −π e dx +
2π in −π
 Z 
1  x − inx  π 1 π − inx
+ − e + in 0 e dx
2π in 0
!  
1 π inπ 1 − inx 0 1 π − inπ 1 − inx π
= − − e − 2 2e + − e − 2 2e
2π in i n −π 2π in i n 0
0 !  π 
1 π 1 1 π 1
= − − e inπ + 2 e − inx + − e − inπ + 2 e − inx
2π in n −π 2π in n 0
1.10 Forma complexa da série de Fourier 101

   
1 π inπ 1 1 inπ 1 π − inπ 1 − inπ 1
=− − e + 2− 2e + − e + 2e − 2
2π in n n 2π in n n
1 inπ 1 1 1 1 1
= e − 2
+ 2
e inπ − e − inπ + 2
e − inπ −
2in 2π n 2π n 2in 2π n 2π n2
1  1  1
(10.5) = 2
e inπ + e − inπ + e in π − e − inπ − 2 ·
2π n 2i n πn
Das fórmulas de Euler

e inπ = cos(nπ ) + i sen (nπ ) e e − inπ = cos(nπ ) − i sen (nπ ),

segue-se que

e in π + e in π = 2 cos(nπ ) = 2(−1)n ,
e in π − e in π = 2 sen (nπ ) = 0,

que substituı́dos em (11.5) resulta em


1 n 1 1 (−1)n 1
cn = 2
· 2(−1) − · 0 − 2
= 2
− 2
2π n 2in πn πn πn
1 n
(10.6) = 2 [(−1) − 1] .
πn
Segue-se de (10.6), para n 6= 0, que
1  
c−n = 2
(−1)−n − 1
π (−n)
1
(10.7) = 2 [(−1)n − 1] .
πn
Observe-se que o coeficiente c0 não pode ser obtido fazendo n = 0 na expressão para cn , pois
surge um zero no denominador de (10.6). Para determinar c0 deve-se usar a definição. Assim,
Z Z Z
1 π 1 0 1 π x2 0 x2 π
c0 = f (x) dx = − x dx + x dx = − +
2π −π 2π −π 2π 0 4π −π 4π 0
1  2  1  π π π
(10.8) =− 0 − (−π )2 + π 2 − 02 = + = ·
4π 4π 4 4 2
Como a0 = 2 c0, então usando (10.8), obtém-se que
π
a0 = 2 · = π.
2
Para determinar os valores dos coeficientes an e bn deve-se usar as seguintes fórmulas

an = cn + c−n e bn = i (cn − c−n) ,

onde cn e c−n são dados por (10.6) e (10.7), respectivamente, isto é,
1 1
cn = [(−1)n − 1] e c−n = [(−1)n − 1] .
π n2 π n2
102 1 Séries de Fourier – parte 1

Assim,
1 1
an = cn + c−n = 2
[(−1)n − 1] + [(−1)n − 1]
πn π n2
2
= [(−1)n − 1] ,
π n2
que, para n = 2k − 1, resulta em
4
ak = − ,
π (2k − 1)2
pois, para n par, tem-se que an = a2k = 0.
Para o cálculos dos coeficientes reais bn deve-se usar a seguinte fórmula:

bn = i (cn − c−n ) .

Deste modo,
 
1 n 1 n
bn = i (cn − c−n) = i [(−1) − 1] − 2 [(−1) − 1]
π n2 πn
= i · 0 = 0.

Portanto, os coeficientes (reais) da série de Fourier, para a função f (x) dada, são
4
a0 = π , ak = − e bk = 0.
π (2k − 1)2

1.11 Identidade de Parseval

Dada uma função f : R → R periódica de perı́odo T = 2L, onde f , | f | e | f |2 são integráveis,


é possı́vel demonstrar rigorosamente a identidade de Parseval, (veja, por exemplo, o capı́tulo
2) que é dada por
a20 ∞
2 2
 1Z L
+ ∑ an + bn = | f (x)|2 dx.
2 n=1 L −L

Com as hipóteses dadas, a demonstração é mais delicada e só será apresentada no próximo
capı́tulo. Um procedimento formal (isto é, sem rigor) e que permite mostrar tal identidade é
supor que a série de Fourier para a função f converge uniformemente para a própria função
e, então, realizar os cálculos formalmente, realizando trocas entre os sinais de integração e
somatório, etc.
Assim, nesse cenário, tem-se que a série de Fourier para f é escrita na forma
1.11 Identidade de Parseval 103

a0 ∞ h  nπ x   nπ x i
(11.2) f (x) =
2
+ ∑ an cos
L
+ bn sen
L
,
n=1

onde os coeficientes de Fourier são dados por


Z L Z L  nπ x  Z L  nπ x 
1 1 1
a0 = f (x) dx, an = f (x) cos dx e bn = f (x) sen dx.
L −L L −L L L −L L
Multiplicando ambos os membros de (11.2) por f (x) e integrando de −L até L, encontra-se
Z L Z L Z L
( )
∞ h  nπ x   nπ x i
a 0
[ f (x)]2 dx = f (x) dx + ∑ an f (x) cos L + bn f (x) L dx.
−L 2 −L −L n=1

Como se está supondo convergência uniforme da série, é possı́vel trocar a ordem entre a
integração e o somatório no segundo membro da última expressão. Assim,
Z L Z L
2 a0
(11.3) [ f (x)] dx = f (x) dx +
−L 2 −L
∞  Z L  nπ x  Z L  nπ x  
+ ∑ an
−L
f (x) cos
L
dx + bn
−L
f (x) sen
L
dx .
n=1

Por outro lado, os coeficientes da série de Fourier são dados por


Z Z  nπ x  Z  nπ x 
1 L 1 L 1 L
a0 = f (x) dx, an = f (x) cos dx e bn = f (x) sen dx,
L −L L −L L L −L L
que substituı́dos em (11.3) resulta em
Z L ∞
a0
[ f (x)]2 dx = · (a0 L) + ∑ [ an · (an L) + bn · (bn L)] ,
−L 2 n=1

ou seja, " #
Z L ∞
2 a20 
[ f (x)] dx = L + ∑ a2n + bn2
,
−L 2 n=1
ou ainda,
Z L ∞
1 a20 
[ f (x)]2 dx = + ∑ a2n + b2n ,
L −L 2 n=1
que é a identidade de Parseval.

Exemplo 1.1: Seja f : R → R uma função definida por f (x) = x3 − L2 x para −L ≤ x ≤ L e


periódica de perı́odo T = 2L.

(a) Determine os coeficientes da série de Fourier para a função f .


(b) Use a identidade de Parseval para demonstrar que

1 π6
∑ 6 945 ·
=
n=1 n
104 1 Séries de Fourier – parte 1

S OLUÇ ÃO : Para a parte (a), determinar-se-á os coeficientes da série de Fourier para a função
dada. Note-se que f é uma função ı́mpar, pois

f (−x) = (−x)3 − L2(−x) = −x3 + L2x = − x3 − L2x = − f (x).

Assim, os coeficientes a0 = 0 e an = 0, de modo que basta calcular os coeficientes bn. Tem-se:


Z  nπ x  Z   nπ x 
1 L 1 L 3
bn = f (x) sen dx = x − L2x sen dx
L −L L L −L L
Z  nπ x  Z L  nπ x 
1 L 3
(11.4) = x sen dx − L x sen dx.
L −L L −L L
As duas integrais em (11.4) devem ser calculadas por integração por partes. Isto será feito
separadamente.
Z L  nπ x  L  nπ x  L Z
L L  nπ x 
x sen dx = − x cos + cos dx
−L L nπ L −L nπ −L L
L L2  nπ x  L
= − [L · cos(nπ ) + L · cos(−nπ )] + 2 2 · sen
nπ n π L −L
2L2 L2
=− (−1)n + 2 2 [ sen (nπ ) − sen (−nπ )]
nπ n π
2L 2
(11.5) = (−1)n+1 ,

onde usou-se a paridade da função cosseno, a imparidade da função seno e os fatos cos(nπ ) =
(−1)n e sen (nπ ) = 0.
Para o cálculo da outra integral no segundo membro de (11.4) deve-se integrar três vezes por
partes. Tem-se:
Z L  nπ x  L  nπ x  L Z
3L L 2  nπ x 
3
x sen dx = − x cos3 + x cos dx
−L L nπ L −L nπ −L L
L  3 3
 3L Z L 2  nπ x 
=− L cos(nπ ) + L cos(−nπ ) + x cos dx
nπ nπ −L L
Z  nπ x 
L4 3L L 2
=− [(−1)n + (−1)n ] + x cos dx
nπ nπ −L L
Z  nπ x 
2L4 n+1 3L L 2
= (−1) + x cos dx
nπ nπ −L L
" #
2L4 3L L  nπ x  L 2L
Z L  nπ x 
= (−1)n+1 + x2 sen − x sen dx
nπ nπ nπ L −L nπ −L L
2L4 3L2  
= (−1)n+1 + 2 2 L2 sen (nπ ) − L2 sen (−nπ )
nπ n π
Z  nπ x 
6L2 L
− 2 2 x sen dx
n π −L L
1.11 Identidade de Parseval 105

Z L  nπ x 
2L4 3L4 6L2
= (−1)n+1 + 2 2 [ 2 sen (nπ )] − 2 2 x sen dx
nπ n π n π −L L
Z L 
2L 4 6L 2 nπ x 
= (−1)n+1 − 2 2 x sen dx
nπ n π −L L
2L4 6L2 2L2
= (−1)n+1 − 2 2 · (−1)n+1
n π
 4 n π n π
2L 12L4
(11.6) = − (−1)n+1,
nπ n3 π 3
onde usou-se o valor encontrado em (11.5) para a última integral acima.
Agora substitui-se (11.5) e (11.6) em (11.4) para determinar os valores dos coeficientes bn.
Tem-se:
 
1 2L4 12L4 2L2
bn = − 3 3 (−1)n+1 − L · (−1)n+1
L nπ n π nπ
2n2 π 2 L3 n+1 12L3 n+1 2n2 π 2 L3
= 3 3
(−1) − 3 3
(−1) − 2 2
(−1)n+1
n π n π n π
12L3 12L 3
(11.7) = − 3 3 (−1)n+1 = 3 3 (−1)n .
n π n π
Portanto, os coeficientes da série de Fourier para f são dados por

12L3
a0 = an = 0 e bn = (−1)n .
n3 π 3
(b) Para aplicar a identidade de Parseval deve-se, primeiro, determinar o valor da integral de
| f |2 de −L até L. Tem-se:
Z L Z L 2 Z L  
2 3 2
| f (x)| dx = x − L x dx = x6 − 2L2x4 + L4x2 dx
−L −L −L
  L
x7 2L2 5 L4 3
= − x + x
7 5 3
−L
 7 7 7
  7 
L 2L L L 2L7 L7
= − + − − + −
7 5 3 7 5 3
2L 7 4L 7 2L 7 30L − 84L + 70L7
7 7
= − + =
7 5 3 105
16 7
(11.8) = L .
105
Como a0 = an = 0, basta usar o valor de bn, encontrado na parte (a), bem como o valor
da integral de | f |2 na identidade de Parserval. Assim, usando (11.7) e (11.8) na identidade de
Parseval,
a0 ∞
2 2
 1Z L
+ ∑ an + bn = | f (x)|2 dx,
2 n=1 L −L
obtém-se
106 1 Séries de Fourier – parte 1

∞  2
12L3 1 16 7
∑ 3 3
(−1)n = · ·L ,
n=1 n π L 105
isto é,

144L6 16
∑ n6 π 6 (−1)2n = 105 · L6
n=1
ou seja,
1 ∞ 1 16 1 ∞ 1 1
6 ∑
π n=1 n 6
=
144 · 105
⇒ 6 ∑
π n=1 n 6
=
9 · 105
,

donde se conclui que



1 π6
∑ 6 945 ·
=
n=1 n

Exemplo 1.2: Seja f : R → R uma função definida por



 −π ≤ x < 0,
 0,

f (x) = 1, 0 ≤ x < π,


 periódica de perı́odo T = 2π .

(a) Determine os coeficientes de Fourier para a função f .


(b) Use a identidade de Parseval para mostrar que

1 π2
∑ (2n − 1)2
=
8
·
n=1

S OLUÇ ÃO : Para a parte (a), inicia-se determinando o coeficiente a0 para a função f dada.
Observe-se que T = 2π , de modo que L = π . Tem-se:
Z Z
1 L 1 π
a0 = f (x) dx = f (x) dx
L −L π −π
Z Z Z
1 0 1 π 1 π
= f (x) dx + f (x) dx = dx
π π π 0 π 0
1 0 1
(11.9) = x = (π − 0) = 1.
π −π π
Para o cálculo de an , tem-se
Z  nπ x  Z
1 L 1 π
an = f (x) cos dx = f (x) cos(nx) dx
L −L L π −π
Z Z
1 0 1 π
= 0 · cos(nx) dx + 1 · cos(nx) dx
π −π π 0
1.11 Identidade de Parseval 107

Z π
1 π 1 1
= cos(nx) dx = · · sen (nx)
π 0 π n 0
1
(11.10) = [ sen (nπ ) − sen 0] = 0,

onde usou-se a imparidade do seno e o fato sen (nπ ) = 0.
Para o cálculo de bn , tem-se
Z  nπ x  Z
1 L 1 π
bn = f (x) sen dx = f (x) sen (nx) dx
L −L L π −π
Z Z
1 0 1 π
= 0 · sen (nx) dx + 1 · sen (nx) dx
π −π π 0
Z   π
1 π 1 1
= sen (nx) dx = · − · cos(nx)
π 0 π n 0
1
= − [cos(nπ ) − cos 0]

1 1
= − [(−1)n − 1] = [1 − (−1)n ]
 n π n π

 0, para n par,
=
 2 ,
 para n ı́mpar,

Portanto, fazendo n = 2k − 1, para k ∈ N, tem-se que
2
(11.11) bk = , k ∈ N.
(2k − 1)π

(b) Para usar a identidade de Parseval é necessário determinar o valor da integral | f |2 de −π


até π . Tem-se:
Z π Z 0 Z π
2 2
| f (x)| dx = | f (x)| dx + | f (x)|2 dx
−π −π 0
Z 0 Z π Z π
2 2
= |0| dx + |1| dx = dx
−π 0 0
π

(11.12) = x = π.
0

Substituindo os valores dos coeficientes de Fourier para f , obtidos em (11.9), (11.10) e


(11.11), bem como o valor da integral de | f |2 obtido em (11.12), na identidade de Parseval,
obtém-se
a20 ∞  1Z π
+ ∑ a2n + b2n = | f (x)|2 dx,
2 n=1 π π
isto é, "
∞  2 #
1 2 1
+ ∑ 02 + = · π,
2 n=1 (2n − 1)π π
ou ainda,
108 1 Séries de Fourier – parte 1

4 ∞ 1 1
2 ∑
π n=1 (2n − 1)2
= 1− ,
2
donde segue-se que

4 ∞ 1 1 ∞
1 π2
2 ∑
π n=1 (2n − 1)2
= ⇒ ∑ 2
= ,
2 n=1 (2n − 1) 8

que é o resultado desejado.


Observa-se que este resultado permite determinar o valor de π 2 com a aproximação desejada,
bastando realizar a soma

2 1
π =8∑
n=1 (2n − 1)
 
1 1 1
= 8 1+ 2 + 2 + 2 +···
3 5 7
8 8 8
= 8+ + + +···
9 25 49

Neste ponto, o leitor poderá se perguntar se toda série trigonométrica, isto é, séries do tipo
∞ h  nπ x   nπ x i
a0
+ ∑ an cos + bn sen
2 n=1 L L

é uma série de Fourier.


A resposta é: em geral, não! Como foi visto, a identidade de Parseval mostra uma estreita
relação entre a função dada e os coeficientes da série. Ou seja, é justamente a identidade de
Parseval que dá uma caracterização para que séries trigonométricas sejam séries de Fourier. De
modo geral pode-se dizer que toda série de Fourier é uma série trigonométrica, mas a recı́proca
é falsa. O próximo exemplo mostra isso.

Exemplo 1.3: Considere a seguinte série trigonométrica



sen (nx)
∑ nα
,
n=1

onde α > 0.
É possı́vel mostrar que esta série converge para todo x ∈ R; na verdade é possı́vel mostrar
que ela converge uniformemente em todo subintervalo fechado de (0, 2π ). Porém esta série con-
vergente não é absolutamente convergente se α < 1. Assim, o teste M de Weierstrass não pode
ser utilizado, precisando, neste caso, de outros tipos de testes de convergência condicionada,
como os testes de Abel e Dirichlet. A maneira mais conveniente de mostrar a convergência
desta série em particular é usando o teste de Abel,2 mas isto não será feito aqui. Caso o leitor

2 T ESTE DE A BEL : Sejam {un (x)} e {vn (x)} sequência de funções definidas em um intervalo I ⊂ R. Suponha que:
1.11 Identidade de Parseval 109

esteja interessado na demonstração da convergência da série dada, basta tomar un (x) = sen (nx)
e vn(x) = 1/n α no teste de Abel.
Em suma, a série dada define uma função f (x), isto é,

sen (nx)
f (x) = ∑ nα
·
n=1

O interesse deste exemplo é mostrar que esta série trigonométrica não é uma série de Fourier.
Para isso será usada a identidade de Parseval. Primeiro, note-se que a expressão acima pode ser
escrita na forma

sen (nx)
f (x) = ∑ nα
n=1
∞  
0 1
= + ∑ 0 · cos(nx) + α · sen (nx) ,
2 n=1 n

isto é, a0 = 0, an = 0, bn = 1/n α e L = π .


Por outro lado, a identidade de Parseval é dada por
Z L ∞
1 a20 
| f (x)|2 dx = + ∑ a2n + b2n ,
L −L 2 n=1

isto é,
Z π ∞
1 a20 
| f (x)|2 dx = + ∑ a2n + b2n
π −π 2 n=1
"  2 #

02 2 1
= + ∑ 0 +
2 n=1 nα

1
(11.13) = ∑ n 2α
·
n=1

Assim, para α = 1/2, a expressão (11.13) é escrita como


Z π ∞ ∞
1 1 1
| f (x)|2 dx = ∑ = ∑
π −π n 2· 12 n
n=1 n=1
1 1 1 1
= 1 + + + + ···+ + ··· ,
2 3 4 n

(a) A sequência {vn (x)} convirja uniformemente para 0 em I;



(b) A série ∑ |vn+1(x) − vn (x)| convirja uniformemente;
n=1

n

(c) Exista uma constante K > 0 tal que ∑ ui (x) ≤ K para todo x ∈ I e todo n.
i=1

Então, a série ∑ un(x)vn (x) converge uniformemente.
n=1
Para demonstração deste teorema, bem como outros resultados correlatos, sugere-se o livro [10] da bibliografia.
110 1 Séries de Fourier – parte 1

que é a série harmônica, que é divergente.


A divergência da série para α = 1/2 implica na divergência da integral do primeiro membro,
ou seja, diz que f não é uma função quadrado integrável. Logo, a identidade de Parseval não
é satisfeita e isto demonstra que a série trigonométrica dada não é uma série de Fourier (pois
funções representadas por série de Fourier sempre satisfazem a identidade de Parseval).
O leitor interessado poderá demonstrar que a série dada diverge para todo α ≤ 1/2, isto é, que
para testes valores de α a série trigonométrica nunca será uma série de Fourier.

1.12 Exercı́cios

Exercı́cio 1.1: Para as funções dadas abaixo, determine se ela é periódica e se for, encontre
o seu perı́odo fundamental.

(a) f (x) = senh (2x),

(b) g(x) = tg (π x),


(
0, 2n − 1 ≤ x < 2n, n ∈ Z,
(c) u(x) =
1, 2n ≤ x < 2n + 1,
(
(−1)n , 2n − 1 ≤ x < 2n, n ∈ Z,
(d) v(x) =
1, 2n ≤ x < 2n + 1,

Exercı́cio 1.2: Seja f : R → R uma função definida por


(
x + 1, −1 < x < 0,
f (x) =
x, 0 < x < 1,

e periódica de perı́odo T = 2.
Determine uma fórmula para f (x) no intervalo 1 < x < 2 e no intervalo 8 < x < 9.

Exercı́cio 1.3: Considere uma função definida por



 se − 5 < x < 0,
 0,

f (x) = 3, se 0 < x < 5,


 periódica com T = 10.
1.12 Exercı́cios 111

(a) Encontre os coeficientes de Fourier.

(b) Escreva a correspondente série de Fourier.

(c) Como f (x) deverá ser definida nos pontos x = 0, ±5 para que a série de Fourier convirja
para f (x) no intervalo −5 ≤ x ≤ 5?

Exercı́cio 1.4: Seja f : (0, 2π ) → R uma função definida por f (x) = x2 .

(a) Faça uma expansão periódida de perı́odo T = 2π para f .

(b) Determine a sua série de Fourier.

(c) Use série de Fourier obtida em (b) para mostrar que


π2 1 1 1
= 2 + 2 + 2 +···
6 1 2 3

Exercı́cio 1.5: Encontre a série de Fourier para cada função abaixo:


(
−x, −L ≤ x < L,
(a) f (x) =
L, x = L.
(b) f (x) = sen 2(x), −π ≤ x ≤ π .
(
0, se − L ≤ x < 0 ou x = L,
(c) f (x) =
a, se 0 ≤ x < L; a ∈ R.


 0, −2 ≤ x ≤ −1,



 x, −1 < x < 1,
(d) f (x) =

 0, 1 ≤ x < 2,



 f (x + 4) = f (x).

 −3 ≤ x ≤ 0,
 0,

(e) f (x) = x2 (3 − x), 0 < x < 3,


 f (x + 6) = f (x).

Exercı́cio 1.6: Faça uma extensão ı́mpar, periódica de perı́odo com o perı́odo indicado e
determine a série de senos para as seguintes funções:



 x, 0 ≤ x < 1,

(a) f (x) = 1, 1 ≤ x < 2,


 periódica com T = 4.
112 1 Séries de Fourier – parte 1

(
1, 0 < x < π,
(b) f (x) =
periódica com T = 2π .


 0, 0 < x < π,



 1, π < x < 2π ,
(c) f (x) =

 2, 2π < x < 3π ,



 periódica com T = 6π .
(
−x, −π < x < 0,
(d) f (x) =
periódica com T = 2π .
(
2 − x2, 0 < x < 2,
(e) f (x) =
periódica com T = 4.

Exercı́cio 1.7: Faça uma extensão par, periódica com o perı́odo indicado e determine a série
de cossenos para as seguintes funções:

 0 < x < 1,
 1,

(a) f (x) = 0, 1 < x < 2,



periódica com T = 4.
(
1, 0 ≤ x ≤ π,
(b) f (x) =
periódica com T = 2π .
(
L − x, 0 ≤ x ≤ L,
(c) f (x) =
periódica com T = 2.

 0 < x < π,
 x,

(d) f (x) = 0, π < x < 2π ,


 periódica com T = 4π .
(
x2 − 2x, 0 < x < 2,
(e) f (x) =
periódica com T = 8.

Exercı́cio 1.8: Use a forma complexa para obter as séries de Fourier (forma real) para cada
função do exercı́cio 1.5.

Exercı́cio 1.9: Se α não for um número inteiro, use a forma complexa para obter as séries
de Fourier para as funções abaixo:
(
cos(α x), se − π ≤ x < π ,
(a) f (x) =
periódica de perı́odo T = 2π .
1.12 Exercı́cios 113

(
sen (α x), se − π ≤ x < π ,
(b) f (x) =
periódica de perı́odo T = 2π .
(
e α x, se − π ≤ x < π ,
(c) f (x) =
periódica de perı́odo T = 2π .

Exercı́cio 1.10: Seja f : R → R uma função periódica de perı́odo T = 2L.

(a) Se f for par, mostre que todos os seus coeficientes de Fourier complexos são números
reais. Isto é, deve-se mostrar que cn ∈ R e cn = c−n , para todo n ∈ Z.
(b) Se f for ı́mpar, mostre que c0 = 0 e que cn é um imaginário puro. Isto é, deve-se mostrar
que, para n 6= 0, que cn é um número da forma cn = irn , onde rn é um número real.

Exercı́cio 1.11: Seja f : R → R uma função definida por




 −x,
 se − 1 ≤ x < 0,
f (x) = x, se 0 ≤ x < 1,



periódica de perı́odo T = 2.

(a) Determine os coeficientes de Fourier para a função f .


(b) Use a identidade de Parseval para mostrar que

1 π4
∑ 4
= ·
n=0 (2n + 1) 96

Exercı́cio 1.12: Seja f (0, 2) → R definida por f (x) = x.

(a) Faça uma expansão par e periódica de perı́odo T = 4 e determine uma série de cossenos
para a função f .
(b) Use a identidade de Parseval para mostrar que

1 π4
∑ 4 = 90 ·
n=1 n

Exercı́cio 1.13: Considere a seguinte função f (x) = sen x, com 0 < x < π .

(a) Faça uma expansão periódica, par e determine uma série de cossenos para f .
(b) Mostre que
1 1 1 π2 − 8
+ + + · · · = ·
12 · 32 32 · 52 52 · 72 16
114 1 Séries de Fourier – parte 1

Exercı́cio 1.14: Mostre que



1 π6
∑ 6
= ·
n=1 (2n − 1) 960

Exercı́cio 1.15: Mostre que

1 1 1 4π 2 − 39
+ + + · · · = ·
12 · 22 · 32 22 · 32 · 42 32 · 42 · 52 16

Exercı́cio 1.16: Use a identidade de Parseval para mostrar que, se f : R → R for uma função
periódica de perı́odo T = 2L e tal que f 0 é contı́nua, ent”ao a série abaixo é convergente:
∞ q
∑ a2n + b2n,
n=1

onde an e bn são os coeficientes de Fourier.

Exercı́cio 1.17: Mostre que a série trigonométrica



sen (nx)
∑ ln x
n=2

não é série de Fourier de uma função integrável e absolutamente integrável.

Exercı́cio 1.18: Seja f : (−π , π ) → R uma função definida por f (x) = x.

(a) Faça uma expansão periódica conveniente e mostre que


 
sen x sen (2x) sen (3x)
x=2 − + −··· ·
1 2 3
(b) Integre o resultado em (a) e mostre que, para −π ≤ x ≤ π , se tem
 
2 π2 cos x cos(2x) cos(3x
x = −4 − + −··· ·
3 12 22 32
(c) Integre o resultado em (b) e mostre que, para −π ≤ x ≤ π , se tem
 
sen x sen (2x) sen (3x)
x(π − x)(π + x) = 12 − + −··· ·
13 23 33

Exercı́cio 1.19: (a) Mostre que, para −π < x < π ,


 
1 2 3 4
x cosx = − sen x + 2 sen (2x) − sen (3x) + sen (4x) − · · · ·
2 1·3 2·4 3·5
1.12 Exercı́cios 115

(b) Use o resultado em (a) para mostrar que, para −π ≤ x ≤ π ,


 
1 cos(2x) cos(3x) cos(4x)
x sen x = 1 − cos x − 2 − + −··· ·
2 1·3 2·4 3·5
(c) Derive o resultado em (b) para mostrar que, para 0 ≤ x ≤ π , se tem
 
π 4 cos x cos(3x) cos(5x)
x= − + + +··· ·
2 π 12 32 52

Exercı́cio 1.20: Mostre que as séries abaixo não são séries de Fourier de funções dife-
renciáveis:
∞ ∞
cos(nx) sen (nx)
∑ n e ∑ n ·
n=1 n=1
Bibliografia

[1] Apostol, T. M, Calculus, vol. 1, 2a ed., John Wiley & Sons, 1967.
[2] Asplund, E., Bungart, L., A First Course in Integration. Holt, Rinehart and Winston, Inc.
(1966).
[3] Bartle, R. G., The Elements of Real Analysis, 2nd, John-Wiley & Sons, 1976.
[4] Bartle, R., G., Sherbert, D. R., Introduction to Real Analysis, 4th ed., John Wiley & Sons,
2011.
[5] Biezuner, R.J., Equações Diferenciais Parciais I/II, notas de aula das disciplinas
Equações Diferenciais I e II da UFMG, 2010. Disponı́vel em junho de 2018 no site
http://www.mat.ufmg.br/ rodney.
[6] Biezuner, R.J., Equações Diferenciais Parciais Lineares, notas de aula da disciplina
Equações Diferenciais B da UFMG, 2017. Disponı́vel em junho de 2018 no site
http://www.mat.ufmg.br/ rodney.
[7] Biezuner, R.J., Introdução às Equações Diferenciais Parciais, notas de aulas da disciplina
Introdução às Equações Diferenciais Parciais da UFMG, 2007. Disponı́vel em junho de
2018 no site http://www.mat.ufmg.br/ rodney.
[8] Carslaw, H. S., Introduction to the Theory of Fourier’s Series and Integrals, 2nd edition,
MacMillan and Co., 1921.
[9] Churchill, R. V., Fourier Series and Boundary Value Problems, McGraw-Hill, 1963.
[10] Figueiredo, D. G., Análise I, 2a edição, LTC, 1996.
[11] Figueiredo, D. G., Análise de Fourier e Equações Diferenciais Parciais, 4a edição, Projeto
Euclides, SBM, 2000.
[12] Dym, H., McKean, H.P., Fourier Series and Integrals, Academic Press, 1972.
[13] Edwards, R. E., Fourier Series, a Modern Introduction, Holt, Rinehart & Winston, 1967.
[14] Fulks, W., Advanced Calculus: an Introduction to Analysis, John Wiley & Sons, 1969.
[15] Grafakos, L., Classical Fourier Analysis, 2nd ed., Springer, 2008.
[16] Halmos, P. R., Finite-Dimensional Vector Spaces, 2nd ed., Springer-Verlag, 1987.
[17] Hobson, E. W., Theory of Functions of a Real Variable and the Theory of Fourier’s Series,
Vol. I, 2nd ed., Cambridge University Press, 1921.

325
326 BIBLIOGRAFIA

[18] Hobson, E. W., Theory of Functions of a Real Variable and the Theory of Fourier’s Series,
Vol. II, 2nd ed., Cambridge University Press, 1926.
[19] Hoffman, K., Kunze, R., Álgebra Linear, Editora Polı́gono, 1971.
[20] Hönig, C. S., A Integral de Lebesgue e suas Aplicações, 11o Colóquio Brasileiro de
Matemática, 1977.
[21] Hönig, C. S., Aplicações da Topologia à Análise, Projeto Euclides, IMPA, 1976.
[22] Hounie, J., Teoria Elementar das Distribuições, 12o Colóquio Brasileiro de Matemática,
1979.
[23] Hsu,, H. P., Análise de Fourier, LTC Editora, 1973.
[24] Iório, V. M., EDP, um Curso de Graduação, 2a edição, Coleção Matemática Universitária,
SBM, 2005.
[25] Iório, R., Iório, V. M., Equações Diferenciais Parciais: Uma Introdução, Projeto Euclides,
SBM, 1988.
[26] Kammler, D. W., A First Course in Fourier Analysis, Cambridge University Press, 2007.
[27] Kaplan, W., Cálculo Avançado, vol. 1 e 2, Editora Edgard Blücher, 1972 (7a reimpressão,
1996).
[28] Kreider, D. L., Kuller, R. G., Perkins, F. W., Ostberg, D. R., An Introduction to Linear
Analysis, Addison-Wesley, 1966.
[29] Kreyszig, E., Introductory Functional Analysis with Applicatioins, John Wiley & Sons,
1978.
[30] Kreyszig, E., Advanced Engineering Mathematics, 9th , John Wiley & Sons, 2006.
[31] Leithold, L., O Cálculo com Geometria Analı́tica, vol. 2, 3a edição, Editora Harbra, 1994.
[32] Lima, E. L., Curso de Análise, vol. 1. Projeto Euclides, IMPA, 1981.
[33] Lipschutz, S., Álgebra Linear, McGraw-Hill do Brasil, 1973,
[34] Pierpont, J., The Theory of Functions of Real Variables, vol. I, Ginn and Company, 1905.
[35] Pierpont, J., The Theory of Functions of Real Variables, vol. II, Ginn and Company, 1912.
[36] Santos, R. J., Equações Diferenciais Parciais: Uma Introdução, Imprensa Universitária da
UFMG, 2011.
[37] Rivera, J. E. M., Teoria das Distribuições e Equações Diferenciais Parciais, Série Textos
de Pós-Graduação, LNCC, 2004.
[38] Rudin, W., Principles of Mathematical Analysis, 3th ed., McGraw-Hill, 1976.
[39] Stein, E. M., Shakarchi, R., Fourier Analysis: an Introduction, Princeton University Press,
2003.
BIBLIOGRAFIA 327

[40] Spiegel, M. R., Fourier Analysis, McGraw-Hill, 1974.


[41] Spivak, M., Calculus. Addison Wesley (1973).
[42] Tijonov, A., Samarsky, A., Ecuaciones de la Fı́sica Matemática, Editorial Mir, 1972.
[43] Vretblad, A., Fourier Analysis and Its Applications, Springer, 2003.
[44] Widder, D. V., Advanced Calculus, Prentice-Hall, 1947.
[45] Wilson, E. B., Advanced Calculus, Dover, 1912.
[46] Wrede, R., Spiegel, M. R., Advanced Calculus, 2nd edition, McGraw-Hill, 2002.

Você também pode gostar