Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
É uma das peças mais estudadas e mais representadas da obra de Gil Vicente. A
intemporalidade da sua temática, a solidez do enredo, o desenho das personagens, a
comicidade característica de algumas situações, são ingredientes que valorizam a obra,
hoje e sempre.
O tema parte de um mote conhecido: "antes quero asno que me leve que cavalo que me
derrube". A visão solidamente burguesa do conceito, cujo equivalente actual seria "mais
vale ter um pássaro na mão do que ver dois a voar", sustenta uma arquitectura de
enredo simples: uma jovem, em idade casadoira, sonha desposar um príncipe
encantado e recusa um pretendente ingénuo e boçal. Entra em conflito com a mãe, leva
a sua avante e sofre uma enorme decepção. O príncipe é um déspota que a maltrata. A
libertação da jovem do cativeiro só ocorre porque o Marido decide ir combater em África
e é morto. A jovem assume rapidamente o estatuto de "viúva alegre" e não tarda em
recuperar o primeiro pretendente, que continua a ser ingénuo, boçal mas é rico e afirma
solenemente deixá-la divertir-se como muito bem lhe aprouver.
Temas relacionados:
Técnica Teatral
Entre o asno e o cavalo oscilará Inês Pereira, a personagem central da farsa, jovem
casadoira, mas exigente. Pêro Marques, filho de um camponês rico, mas inculto, que
nem sequer sabe para que serve uma cadeira, será o asno que carregará Inês e o
Escudeiro, o triunfo das aparências, é dissimulado na sua boa educação e bem estar
social, seria o cavalo que a derrubaria.
O mote “mais quero asno que me carregue, que cavalo que me derrube” é cumprido na
farsa, pois o asno não é melhor do que o cavalo mas, tornar-se preferível, porque não
oferece perigo.
Temas relacionados:
Ironia
Nesta Farsa, Gil Vicente põe de lado os símbolos e as personificações para agarrar em
personagens próximas do real. Inês Pereira é uma jovem, filha de uma mulher do povo
que, anseia por um casamento que a liberte da sua condição de mulher entediada com o
trabalho doméstico. Rejeita um lavrador tolo mas, abastado, Pêro Marques, e casa-se
com um escudeiro, Brás da Mata, que a conquista com belas palavras: "Antes que mais
diga agora/Deus vos salve fresca rosa, / e vos dê por minha esposa, / por mulher e por
senhora (...)" Mas, após o casamento ele maltrata-a e fecha-a em casa. O marido tirano
morre na guerra em Marrocos, onde é revelada, a sua cobardia. A experiência mostra a
Inês que mais vale casar com um marido rico e fraco do que um ideal, então é lançado o
mote "Mais quero asno que me leve do que cavalo que me derrube", daí a recuperação
de Pêro Marques o primeiro pretendente.
A Farsa de Inês Pereira é um episódio típico da sociedade daquele tempo e através das
suas personagens recorrendo ao cómico e à sátira, Gil Vicente procede à sua forte e
contundente crítica social.
Temas relacionados:
Estilo Literário
Valores
Diálogo
Temas relacionados:
Técnica Teatral
Sátira
A Mulher
A posição social da mulher no século XVI não pode ser entendida à luz dos valores que
orientam a sociedade do nosso tempo. Esse é um erro primário que convém evitar a fim
de se conseguir abarcar uma panorâmica tão ampla quanto possível do papel do sexo
feminino no teatro de Gil Vicente. Para analisar o papel da mulher nesse tempo será
conveniente não esquecer que ela saía pouco e sempre acompanhada, que as suas
tarefas sociais estavam confinadas à casa e ao cuidado dos filhos.
Apenas mais dois retratos exemplares da longa galeria de figuras femininas do teatro
vicentino: Mofina Mendes, a pastora que constrói um sonho, tipo castelo de cartas,
através do qual procura imaginar uma pirâmide de riqueza imaginada sobre um pote de
azeite que acaba por quebrar na dança frenética com que comemora o seu sonho e
Maria Parda, essa extraordinária maria ninguém que ainda hoje poderemos encontrar
alcoolizada, deambulando pelas ruas, meio-louca.
Temas relacionados:
Bruxaria
Análise Social
Temas relacionados:
Sátira
Ironia
Aqui, o efeito cómico surge a partir de uma construção de duplo sentido do verbo
conhecer: saber e relacionamento sexual.
É uma fala de Inês Pereira dirigida ao Moço tratando-o por guarda -mor. Guarda-Mor era
um tipo de tratamento que era, então, dispensado aos fidalgos da Guarda real. Inês joga
com a desproporção entre a denominação que lhe dá e a real condição do Moço.
Esta cantiga aparece no casamento de Inês com Brás da Mata, e é cantada pelos seus
amigos. Cumpre a função de resumir os acontecimentos e tem o dom de previsão do
futuro, graças ao simbolismo da garça que representa Inês, caminhando sozinha e triste,
depois de um Escudeiro lhe destruir os ideais.
Há várias referências a cantigas nesta farsa, eis alguns exemplos: "Canta o Judeu,
Canas de amor, canas de amor..."; “Canta o Escudeiro o romance, Mal me quieren en
Castilla...”
O modo de falar de Pêro Marques evidencia o seu carácter simplório. No outro extremo,
temos as falas do Escudeiro que, apesar de dar azo a belas palavras, revela-se um mau
carácter. Temos, então, o modo de falar ao serviço do jogo de contrastes entre a
aparência e a essência(o ser).
Temas relacionados:
Estilo Literário
Técnica Teatral
Farsa
Segundo os autores referidos (António José Saraiva e Óscar Lopes, História da
Literatura Portuguesa, 16ª ed.,Porto, Porto Editora, s.d., pág.195/198) "a farsa reduz-se
a um episódio cómico colhido em flagrante na vida da personagem típica. Tal é o caso
de Quem tem Farelos?, onde se conta o percalço sucedido a um triste escudeiro
namorador, corrido pela mãe da requestada, sob uma chuva de troças e de maldições.
Por vezes estes quadros sucedem-se, sem haver qualquer relação entre a cabeça e o
cabo da peça. É o caso da Farsa dos Almocreves, ou O Clérigo da Beira. Nesta última
aparecem-nos, sucessivamente, um padre rezando distraidamente as matinas, um
rústico roubado na corte, e um escravo negro que rouba: as personagens dão lugar
umas às outras, sem qualquer unidade da acção. Por vezes, também os episódios e as
personagens desfilam em torno de um motivo central, embora faltando-lhes um processo
de desenvolvimento como no caso de O Juiz da Beira, em que perante tribunal
comparecem várias causas. Há a considerar certas farsas mais desenvolvidas que são
histórias completas, com princípio, meio e fim. É o caso de Auto da Índia, onde se
apresenta o caso de uma mulher que engana o marido, alistado no Ultramar; ou o
do Auto de Inês Pereira, que ilustra com uma história picante o dito popular "antes quero
burro que me leve que cavalo que me derrube"; ou ainda o do Velho da Horta que nos
exibe desde o princípio até ao seu ridículo desfecho a paixão de um velho por uma
moça. Nestes autos, a história corre em diálogos e acções que se sucedem sem
transição; são como contos dialogados no palco, sem qualquer preocupação de unidade
de tempo sem qualquer compartimentação de quadros ou actos a marcar a
descontinuidade dos tempos. Nisso diferem estruturalmente da comédia de Plauto
ou Molière. Poderíamos talvez classificá-los como autos de enredo. Trata-se da forma
mais desenvolvida, e excepcional da farsa vicentina.