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IJUÍ
2016
GIRLYANNIE PAZ MORAIS BONIATTI
Ijuí
2016
UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul
Elaborado por
Comissão examinadora
Primeiramente à Deus que permitiu que tudo isso acontecesse “no Seu
Tempo”, ao longo de minha vida e não somente nestes anos como universitária, mas
que é o maior Psicólogo que já existiu.
Aos meus pais Natalino e Dinair e meus manos Kirliel e Débora, que ao longo
desses 16 (dezesseis) anos em formação, sempre estiveram ao meu lado com
palavras de incentivo e apoiando todas as minhas decisões, orações e força nos
tempos difíceis e por acreditarem que eu chegaria ao fim. Agora também não
esquecendo de Yanni e Emmanuelle que trazem alegria à nossa família.
Aos meus tios Edgar e Roseli por me acolherem em sua casa, como filha para
uma etapa deste curso poder ser executada. Cada momento de apoio, conversas,
orações, me auxiliaram muito. Aos primos Delano e Delanise que sempre carinhosos
me mostraram o amor de Deus em olhar, gestos e atitudes.
Aos queridos Cézar e Márcia por todo o carinho e apoio que foi muito
importante.
Agradeço também a Bisa Ceni pelo carinho com as meninas nestes dois
anos, cuidando delas nos momentos que eu mais precisava.
À minha orientadora Ana Dias, por cada detalhe observado no decorrer das
supervisões e que fundamentaram minha escrita. Cada intervenção sua me levou a
caminhos distintos para chegar a minha escrita.
The present work reflects the importance of early stimulation in the psychoanalytic
clinic. The choice of this theme happens from elements that arose in the practice of
the school-clinic during the care of small children. After the psychic constitution has
passed from authors such as Freud, Lacan, Julieta and Alfredo Jerusalinsky, among
others, a historical review is made that will situate the beginning of the multidiscipline
as a field of action in psychoanalysis with infants and young children. Soon after, the
text discusses the clinic that prioritizes the structural questions, then pointing to
interventions in constitutive problems that may be amenable to changes before the
pathology completely establishes itself. Following the qualitative method, the study
was carried out through a literature review based on psychoanalytic theory, from
which it is possible to consider an intervention in the psychic constitution of the child
if the intervention happens before the age of 3 years
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 9
1. A CONSTITUIÇÃO PSÍQUICA DO SUJEITO EM PSICANÁLISE ..................... 10
2. A INTERVENÇÃO PRECOCE NA CLÍNICA PSICANALÍTICA ......................... 21
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 29
4. REFERÊNCIAS .................................................................................................. 30
9
INTRODUÇÃO
Foi vivendo essa experiência juntamente com outras na clínica, que pude
atravessar os conceitos e definir qual seria então o ponto discorrido durante esta
pesquisa bibliográfica, que será embasada na teoria psicanalítica.
Quando fala-se em constituir, logo surge em mente algo que não está pronto,
algo que não está dado ou biologicamente pré-estabelecido, mas sim precisa se
constituir a partir do Outro.
Constituir lembra construir, sendo assim, diferente dos animais onde seu
instinto é pré-determinado biologicamente e não se pode modificar, como escreve
Jerusalinsky (1999) em seu texto Falar uma criança, ao oferecer a um macaco bebê
uma banana, ele pode demorar para abrir, mas instintivamente sabe que é um
alimento e o leva até a boca pois de maneira instintiva sabe que se trata de um
alimento.
O mundo é transformado pela cultura, que por sua vez é construída por
palavras: os registros simbólicos têm significação, valor, uma história. Um bebê é
recebido neste mundo simbólico antes mesmo de nascer. Os pais desenvolvem um
pensamento sobre esse bebê, escolhendo suas roupas, preparando um enxoval,
preparando um quarto, dando um lugar no mundo real para aquele que ainda está
no mundo simbólico. A escolha do nome, as cores da decoração do quarto, todos
esses aspectos são da cultura familiar.
Ao nascer então, esse bebê vai encontrar um lugar e também vai se encontrar
com uma estrutura de linguagem, um lugar nesse mundo que já começou. Leda
Bernardino (2008) escreve:
Esse encontro não pode ser automático, muito menos técnico, não podemos
esperar que a criança saia em busca de seu próprio alimento como os animais o
fazem. A criança necessita da intervenção do Outro. É necessário que algumas
funções essenciais de humanização, basicamente: função materna e função
12
Sabe-se que as mães estabelecem uma relação afetiva com seu bebê,
dialogando com eles nos cuidados básicos, olhando-os nos olhos no momento da
amamentação, dando um colo aconchegante onde ele se sinta contido, seguros de
maneira agradável. Isso que vai além do que permite a sobrevivência física, é o que
vai permitir a constituição. A mãe, lhe oferece esse olhar, essas palavras, toques
carinhosos num vai-e-vem de presenças e ausências, nesse sentido produzindo
inscrições psíquicas dessas experiências numa vida mental. Além dessas
experiências de satisfação de necessidade, tem uma conotação de significados, o
outro materno então passa para ele experiências boas e ruins, nesse sentido, o
bebê desenvolve em termos físicos e se estrutura em termos mentais.
Para que uma mãe consiga estabelecer esse laço com seu bebê, é
necessário que ela esteja presente nessa relação, não só com seu corpo, mas
também com seu desejo, para o que parece ser somente da ordem da necessidade,
passe a ter uma significação maior de vivência prazerosa e simbólica de
reconhecimento. Ao mesmo tempo que ela o alimenta, também o reconhece como
seu filho e se reconhece nessa nova função, nesse novo lugar, o lugar de mãe.
borda do objeto que permanecerá vazio, que só será preenchido no caso de uma
psicose se instaurar.
Ainda Jerusalinsky (2002), vai falar sobre o bebê que ao nascer se depara
com uma estrutura simbólica que o antecede, ou seja, um lugar determinado
previamente a ele, seja pela cultura onde nasce, pelos modos pelos quais os laços
parentais se articulam ou pela posição na família, nome e outras
sobredeterminações simbólicas, é certo que, por não chegar ao mundo constituído,
é necessário um tempo para que esta estrutura simbólica produza inscrições
simbólicas nesse bebê.
Supõe-se, então, que a função materna seja realizada por um Outro castrado,
alguém que está estruturado em torno da falta e, portanto, deseja. Esse Outro, toma
seu bebê como sendo um objeto de desejo que representa o que lhe falta. Sabe-se
que é necessária essa ilusão do corpo do bebê como objeto fálico, para que essa
relação tenha a ilusão de completude. Essa estrutura, então, aos poucos vai se
instalando no corpo do bebê, dando assim forma ao seu psiquismo. Um bebê, então,
está situado no primeiro tempo do complexo de Édipo: o de ser o falo da mãe. Essa
operação simbólica, da castração, permitirá que essa mãe invista falicamente em
seu bebê. Desse modo, a função paterna está desde o início, no laço da mãe com o
bebê.
também como se deu a reconstrução do Édipo nas gerações anteriores. Foi a partir
deste sentido que Lacan afirmou a existência do Édipo antes do nascimento.
Sabe-se que para um bebê, a função paterna não é um suposto rival que
detém o falo, mas o laço dele com a mãe nunca é dual, pois não existe
complementariedade possível. Mesmo que no bebê a castração ainda não tenha se
inscrito, ele está sustentado pela estrutura edípica, mesmo ainda não se envolvendo
nos conflitos edípicos, já se depara com os efeitos advindos em seus pais. Logo, os
pais que sustentam e marcam as diferenças de menino e menina, pois esse bebê é
recebido a partir da fantasia materna e no melhor dos casos, do casal parental,
fantasias que ficam implicadas na constituição do laço conjugal e familiar.
A mãe ou quem se ocupe dessa função, é quem vai acolher esse bebê e
apresentar o mundo a ele. A falta da presença deste Outro, produz angústia no
bebê, pois seu corpo esfacelado precisa desse Outro para se constituir. Para
conquistar esse corpo, passa pela experiência de unificação com a imagem que a
mãe projeta como sendo deste bebê. Então, o momento do estádio do espelho é
fundamental, pois através desta identificação que irá constituir-se como corpo
unificado. Aos poucos então, o bebê vai aprendendo os objetos de sua cultura e se
utilizando deles como elementos de investigação intelectual ou mesmo para suas
brincadeiras, dirigidas pela lógica simbólico-imaginário, presentes no psiquismo
encarnados nas funções parentais.
Quando uma mãe coloca essas regras, esses ritmos em seu bebê, de
alimentação, de sono, ela o está colocando em contato com o que é esperado dele
na cultura, o situando dentro desses valores simbólicos. A cada momento assim, ela
está se referindo a fatores externos a sua relação com seu bebê, está então se
referindo ao que chamamos de função paterna, ou seja, essa estrutura simbólica
que são as leis e normas, os costumes transmitidos nas gerações através da
linguagem que constitui a nossa cultura. Essa função permite a entrada de um
terceiro elemento rompendo essa dualidade mãe/bebê, o outro diferente da mãe,
20
essa função dá abertura ao mundo externo e faz com que a criança se interesse por
outras coisas.
Sem essa instância, Leda Bernardino (2006) afirma que, pode-se encontrar
crianças com capacidades cognitivas, psicomotoras e mesmo afetivas, mas
desorganizadas, pois, embora repitam palavras, façam algumas coisas, não tem
acesso ao sentido para entender o mundo que as cerca.
Observa-se que no centro Dra. Lydia Coriat2, em Buenos Aires e Porto Alegre,
tal tipo de intervenção sustenta-se pela prática interdisciplinar. De acordo com o
artigo: A relação mãe-bebê na estimulação precoce: um olhar psicanalítico de
Goretti, Almeida e Legnani (2014), a intervenção terapêutica ocorre quando a
espontaneidade do processo de desenvolvimento é interrompida por um acidente
patológico. Essa ótica de intervenção estimula as funções já existentes no sujeito, e
proporciona situações a partir do nível em que se encontram. Sendo assim, é
necessário conhecer a sequência do desenvolvimento, mesmo não sendo uma
técnica comportamentalista. Consiste em reconstruir, sustentar, ou substituir a
função materna, sendo o terapeuta um terceiro na relação mãe-bebê. Neste método,
a escuta psicanalítica transpassa todo o tratamento, não há intervenções
psicoterapêuticas e, por isso, a estimulação precoce que segue esse modelo não é
uma psicanálise com bebês.
2
Segundo o site www.lydiacoriat.com.br , o Centro Lydia Coriat é uma clínica interdisciplinar especializada em
diagnóstico e tratamento dos problemas do desenvolvimento na infância e adolescência.
22
Houve outra confrontação na prática com bebês, pois certamente eles eram
os mais prejudicados com essa multiplicação de especialistas ao seu redor. Havia
um embate entre os especialistas para determinar quem deteria a autoridade para a
criação da criança. Os pais, em casos graves, ficavam totalmente de fora do saber.
Nos tratamentos que até então vinham sendo realizados, os códigos da língua
fragmentados em tantos pedaços quando os terapeutas intervinham, dificultavam o
entendimento dos pais em relação às questões ali apresentadas. Logo, eles pouco
ou nada participavam. A consequência dessa fragmentação gerava condições mais
propícias para se instaurar a psicose. A estruturação da filiação, a sexuação 3 e as
identificações no plano simbólico também entravam em risco, levando em
consideração o pouco ou nenhum entendimento dos pais nas questões de seus
filhos, lançando-os numa fragmentação imaginária ou indiferenciação real. Os
reflexos disso eram observadas na clínica.
3
Segundo Roudinesco (1998), sexuação é uma proposição de Jacques Lacan para traduzir a diferença sexual e a
sexualidade feminina.
24
Voltando à Leda Bernardino (2008), a autora escreve que aos quatro anos é
tarde para uma intervenção precoce nos casos de autismo, por exemplo, tendo em
25
vista que nessa fase, as estruturas mais nobres do sistema nervoso já estão em vias
de finalização. Recentes pesquisas de neuroplasticidade demonstram possibilidades
de modificações no desenvolvimento, mas a possibilidade de intervir durante o
estabelecimento das estruturas básicas já terá passado.
Nos últimos anos esse olhar tem sido objeto de atenção de profissionais. A
partir da pesquisa Multicêntrica de Indicadores Clínicos de Risco para o
Desenvolvimento Infantil (IRDI)4, fundamentou-se sobre a constituição psíquica de
crianças entre 0 e 36 meses, elaborando-se e validando indicadores clínicos de
detecção precoce de transtornos psíquicos do desenvolvimento infantil, observáveis
nesse tempo de vida da criança.
4
Pesquisa desenvolvida no período de 2001 a 2008 pelo Grupo Nacional de Pesquisa, sob a chancela do
Ministério da Saúde e da Fapesp, a partir de pressupostos teóricos psicanalíticos. (BERNARDINO, 2007 p.1)
26
estão nesses lugares, passam mais tempo naquele ambiente, do que no meio
familiar. Esse adulto cuidador, será ponto de referência para o que essas crianças
possam vir a ser.
A cultura incide sobre nós pela linguagem, linguagem esta que causa estados
emocionais, causa também escolhas e significados.
crianças cortam uma formiga ao meio, não quer dizer que vão se transformar em
agentes do estado islâmico, significa simplesmente que eles estão elaborando sua
raiva por ter que fazer coisas que não compreendem muito bem o porquê.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS