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o

METABOLOGIA E ENDOCRINOLOGIA

APOSTILA
2019.1
1
hormônio importante para o metabolismo do
Capítulo 1 cálcio.
Anatomia da Glândula Tireoide
A TIREOIDE A glândula tireoide localiza-se
anteriormente no pescoço e inferior e
lateralmente à cartilagem tireoidea. Consiste em
dois lobos laterais (que cobrem as superfícies
ântero-lateral da traqueia, a cartilagem cricoidea
e a parte inferior da cartilagem tireoidea) com
um istmo que conecta os lobos e atravessa as
superfícies anteriores da segunda e terceira
cartilagens traqueais.
A tireoide, localizada imediatamente Tiroxina e Tri-iodotironina
abaixo da laringe e ocupando as regiões A tiroxina (também conhecida como
laterais e anterior da traqueia, é uma das tetraiodotironina) e a T3 são moléculas
maiores glândulas endócrinas, pesando estruturalmente simples, sendo tironinas
normalmente de 15 a 20 gramas em adultos. iodinadas produzidas pelo acoplamento de um
Essa glândula secreta dois hormônios grupo fenila obtido a partir de uma tirosina ao
principais, a tiroxina e a tri-iodotironina, grupo fenila de outra tirosina intacta. A
usualmente chamados de T4 e T3, biossíntese de T4 e T3 ocorre na superfície da
respectivamente. Ambos aumentam tireoglobulina, uma glicoproteína grande rica
intensamente o metabolismo do organismo. em tirosina e responsável por cerca de 75% do
Enquanto o T4 é mais abundante na circulação, conteúdo proteico da glândula tireoide. A
o T3 é mais potente. iodinação (ou iodetação) da tireoglobulina
A ausência completa de secreção ocorre após ela ter sido secretada para o lúmen
tireoidiana, em geral, faz com que o folicular, e a secreção de T4 e T3 requer a
metabolismo basal caia para 40% a 50% do hidrólise enzimática da tireoglobulina, que está
normal, e o excesso extremo de secreção pode localizada no coloide folicular. Durante a
aumentá-la por 60% a 100%. A secreção hidrólise e a subsequente deiodinação, o iodeto
tireoidiana é controlada, principalmente, pelo liberado é conservado e reutilizado.
hormônio estimulante da tireoide (TSH), A bioatividade do hormônio tireoidiano é
secretado pela hipófise anterior. Além da regulada pelo controle da conversão de T4 em
secreção de T3 e T4, a tireoide também é
responsável por secretar a calcitonina,
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T3 pela deiodinação, a qual é mediada pelos quais o hormônio tireoidiano aumenta o
por três enzimas deiodinases. metabolismo corporal.
3) Efeitos sobre o Crescimento
Efeitos Fisiológicos dos É mais importante na infância, sendo que

Hormônios Tireoidianos: crianças com hipotireoidismo apresentam um


crescimento retardado e aquelas com
hipertireoidismo têm um crescimento
1) Aumento da Transcrição de Genes
esquelético excessivo.
O efeito geral dos hormônios
Além disso, durante a vida fetal e os
tireoidianos consiste em ativar a transcrição
primeiros anos pós-natal, os hormônios
nuclear de grande número de genes. Portanto,
tireoidianos são importantes para a promoção do
em praticamente todas as células do organismo
crescimento e desenvolvimento do cérebro.
é sintetizado grande número de enzimas,
4) Efeitos do Hormônio Tireoidiano
proteínas estruturais, transporte de proteínas e
sobre Mecanismos Corporais Específicos
outras substâncias. O resultado final é o
aumento generalizado da atividade funcional
Estímulo do Metabolismo de Carboidratos
de todo o organismo.
Estimula a captação rápida de glicose
2) Aumento da Atividade Metabólica
pelas células, o aumento da glicólise, da
Celular
gliconeogênese, da absorção pelo trato
Percebe-se um aumento do número e do
gastrointestinal e, até mesmo, a secreção de
tamanho das mitocôndrias em animais que
insulina, com seus efeitos secundários
recebem tiroxina ou tri-iodotironina, o que, por
resultantes sobre o metabolismo de
sua vez, aumenta a formação de trifosfato de
carboidratos.
adenosina (ATP) para fornecer energia para as
Estímulo do Metabolismo de Lipídios
funções celulares.
Praticamente, todos os aspectos do
Em resposta ao hormônio tireoidiano, a
metabolismo de lipídios são estimulados sob
atividade da enzima Na+-IC-ATPase é
influência do hormônio tireoidiano. De forma
aumentada, o que eleva a velocidade de
particular, os lipídios são rapidamente
transporte de íons sódio e potássio através das
mobilizados do tecido adiposo, o que reduz os
membranas celulares de alguns tecidos. Como
acúmulos de gordura do organismo, de modo
esse processo utiliza energia e aumenta a
mais acentuado que os de qualquer outro
quantidade de calor produzido pelo organismo,
elemento tecidual. Isso também aumenta a
foi sugerido que esse seria um dos mecanismos
concentração de ácidos graxos livres no plasma

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e acelera, de modo acentuado, sua oxidação A pressão arterial média não sofre
pelas células. alteração, mas observa-se se elevação da pressão
Redução do Peso Corporal sistólica por 10 a 15 mmHg no hipertireoidismo,
Quantidade muito elevada de hormônio enquanto a pressão diastólica se reduz na mesma
tireoidiano quase sempre reduz o peso corporal intensidade.
e quantidade muito reduzida, quase sempre, o 6) Outros Efeitos
aumenta; esses efeitos não ocorrem sempre
porque o hormônio tireoidiano também Aumento da Respiração
aumenta o apetite, o que pode compensar a O maior metabolismo aumenta a
variação do metabolismo. utilização de oxigênio e a formação de dióxido
5) Efeito dos Hormônios Tireoidianos de carbono; esses efeitos ativam todos os
sobre o Sistema Cardiovascular mecanismos que aumentam a frequência e a
A utilização mais rápida de oxigênio e a profundidade da respiração.
liberação de quantidade aumentada de Aumento da Motilidade Gastrointestinal
produtos metabólicos – relacionados ao Além do maior apetite e da ingestão
aumento do metabolismo – provocam alimentar, o hormônio tireoidiano aumenta tanto
vasodilatação na maioria dos tecidos, o que a produção de secreções digestivas como a
aumenta o fluxo sanguíneo e, em consequência motilidade do trato gastrointestinal.
disso, o débito cardíaco. Efeitos Excitatórios sobre o Sistema Nervoso
A frequência cardíaca aumenta mais do Central
que o esperado pelo aumento do débito Em geral, o hormônio tireoidiano aumenta
cardíaco. Por isso, acredita-se que o hormônio a velocidade do pensamento, mas também,
tireoidiano apresenta efeito direto sobre a frequentemente, o dissocia; por outro lado, sua
excitabilidade do coração. falta reduz essa função.
Aparentemente, a elevação da atividade
enzimática provocada por apenas ligeiro Efeito sobre a Função Muscular
aumento da secreção do hormônio tireoidiano Leve aumento do hormônio tireoidiano
já é capaz de aumentar a força de contração faz com que os músculos reajam com vigor, mas
cardíaca. Contudo, quando a secreção de quando a quantidade de hormônio fica
hormônio tireoidiano é acentuadamente excessiva, os músculos são enfraquecidos
elevada, a força do músculo cardíaco fica devido ao excesso do catabolismo proteico. Ao
deprimida devido ao catabolismo proteico contrário, a falta de hormônio tireoidiano torna
excessivo, por longos períodos. os músculos vagarosos, relaxando lentamente,
após contração.

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Um dos sinais mais característicos do
HIPOTIROIDISMO
hipertireoidismo é o tremor muscular leve.
Acredita-se que seja causado pela atividade
aumentada das sinapses neuronais nas áreas da
medula espinhal que controlam o tônus
O hipotireoidismo é uma afecção em que
muscular.
a glândula tireoide tem um funcionamento
Regulação da Secreção
anômalo no qual produz pouca quantidade de
O eixo hipotálamo-hipófise-tireóide, hormônios tireoidianos. O hipotireoidismo
através do mecanismo de feedback, controla a muito grave denomina-se mixedema. Além
secreção adequada dos hormônios disso, é a doença mais comum da tireoide com
tireoidianos. Primeiro, o hormônio liberador prevalência de 2% na população geral e 15% em
de tireotropina (TRH) é secretado por pessoas com mais de 60 anos, sendo oito vezes
terminações nervosas na eminência mediana mais frequente em mulheres que homens. A
do hipotálamo e, na membrana das células principal forma de apresentação (95% dos
hipofisárias, liga-se a receptores de TRH, o casos) é decorrente de alterações na glândula
que provoca a liberação de TSH. tireoide (hipotireoidismo primário), podendo
A tireotropina, ou TSH, aumenta todas também ocorrer secundário a medicamentos
as atividades secretórias conhecidas das (antitireoidianos, amiodarona, lítio, interferon,
células glandulares tireoidianas. Seu efeito talidomida e rifampicina) e a disfunções
precoce mais importante é o início da hipofisárias ou hipotalâmicas (hipotireoidismo
proteólise da tireoglobulina que provoca a central).
liberação de tiroxina e tri-iodotironina no O hipotireoidismo primário (HOP) é o
sangue, após 30 minutos. estado de baixa produção dos hormônios
Dessa forma, quando há elevação do tireoidianos (HT), resultante de condições que
hormônio tireoidiano nos líquidos corporais, o interfiram diretamente sobre a tireoide. No
hipotálamo e a hipófise (principalmente) nosso meio, a primeira e a segunda causas mais
reduzem a secreção de seus respectivos comuns são, respectivamente, a tireoidite de
hormônios, a fim de manter os níveis Hashimoto (doença autoimune) e o tratamento
adequados de T3 e T4. do hipertireoidismo com cirurgia ou, sobretudo,
radioiodo. No HOP caracteristicamente há falta
do feedback dos hormônios tireoidianos sobre
os tirotrofos e, assim, sempre se acompanha de
elevação do TSH, associada à redução dos

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níveis de T4 livre. O T3 pode estar baixo ou hormônio tireoidiano. Muitos outros tipos de
normal. Níveis altos de TSH, sem alteração hipotireoidismo podem ocorrer,
dos HT, caracterizam o hipotireoidismo frequentemente, associados ao aumento da
subclínico (HOSC). Esses pacientes glândula, chamado de bócio. O termo “bócio”
tendem a evoluir para HOP franco, sobretudo significa o grande aumento da tireoide. Existem
se o TSH for menor que 10mUI/L. tipos de bócio:
O hipotireoidismo central (HC)
caracteriza-se por deficiente produção de TSH 1. Bócio Endêmico causador por
e pode resultar de qualquer patologia da região deficiência Dietética de Iodeto
hipotalâmico-hipofisária, bem como de seu Em certas regiões do mundo, como nos
tratamento com cirurgia ou radioterapia. Alpes Suíços, nos Andes e na região dos
Laboratorialmente, manifesta-se por níveis Grandes Lagos nos Estados Unidos, existe
séricos baixos de T4 livre, enquanto o TSH quantidade insuficiente de iodo no solo, de
usualmente estão baixos ou normais. Nessa modo que os alimentos não possuem sequer essa
situação, o TSH tem atividade biológica mínima quantidade diária necessária. Portanto,
diminuída, não tem ritmo circadiano, mas nos tempos anteriores ao sal de cozinha iodado,
mantém sua imunoatividade. muitas pessoas que viviam nessas áreas
desenvolviam tireoides extremamente
aumentadas, chamadas de bócios endêmicos.O
Fisiopatologia e Etiologia
mecanismo de desenvolvimento de grandes
Os efeitos do hipotireoidismo, em geral,
bócios endêmicos é o seguinte: a falta de iodo
são opostos aos do hipertireoidismo, mas
impede a produção tanto de tiroxina quanto de
alguns mecanismos fisiológicos são
tri-iodotironina. Como resultado, não há
específicos dessa patologia. O
hormônios disponíveis para inibir a produção de
hipotireoidismo, assim como o
TSH pela hipófise anterior, que passa a secretar
hipertireoidismo, é provavelmente iniciado por
quantidade excessiva desse hormônio. O TSH,
autoi-munidade contra a tireoide (doença de
então, estimula as células tireoidianas a secretar
Hashimoto), mas imunidade que destrói a
grande quantidade de coloide de tireoglobulina
glândula em vez de estimulá-la. A tireoide da
nos folículos e a glândula torna-se cada vez
maioria desses pacientes apresenta “tireoidite”
maior. Entretanto, devido à falta de iodo, a
autoimune, que significa inflamação da
produção de tiroxina e tri-iodotironina não
tireoide. Isso causa deterioração progressiva e,
ocorre na molécula de tireoglobulina e, portanto,
por fim, fibrose da glândula, resultando em
não causa a supressão normal da produção de
diminuição ou ausência da secreção do
TSH pela hipófise anterior. Os folículos

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adquirem um enorme tamanho e a tireoide algumas porções da glândula, enquanto outras
pode aumentar até 10 a 20 vezes. são destruídas pela tireoidite. Em algumas
pessoas com bócio coloide, a tireoide apresenta
anormalidade no sistema enzimático necessário
para a formação dos hormônios tireoidianos.
Entre as anormalidades encontradas
frequentemente podem ser citadas:
● Deficiência do mecanismo de
captação de iodeto,na qual o iodeto
não é bombeado adequadamente
para as células tireoidianas
● Deficiência do sistema da
peroxidase, na qual os iodetos não
são oxidados para o estado de iodo
2. Bócio Coloide Atóxico Idiopático ● Deficiência da conjugação de
tirosinas iodadas na molécula de
O aumento da tireoide, semelhante ao que tireoglobulina, de modo que os
ocorre no bócio coloide endêmico, pode hormônios tireoidianos finais não
também ocorrer em pessoas que não podem ser formados
apresentam deficiência de iodo. Essas ● Deficiência da enzima deiodinase,
glândulas aumentadas podem secretar que impede a recuperação do iodo
quantidade normal de hormônios tireoidianos; das tirosinas iodadas que não são
entretanto, cada vez mais a sua secreção é conjugadas para formar os
reduzida, como no bócio coloide endêmico. A hormônios tireoidianos (que
causa exata do aumento da tireoide em representam cerca de dois terços do
pacientes com bócio coloide idiopático não é iodo), levando à deficiência de iodo
conhecida, mas a maioria desses pacientes
apresenta sinais de tireoidite leve; portanto, 3. Bócio Induzido por substancias Bocio-
sugeriu-se que a tireoidite provoca ligeiro gências
hipotireoidismo que leva então ao aumento da
secreção de TSH e ao crescimento progressivo Alguns alimentos contêm substâncias
das porções não inflamadas da glândula. Isso bocio-gênicas com atividade antitireoidiana,
poderia explicar por que essas glândulas são semelhante ao propil-tiouracil, levando ao
em geral nodulares, com o crescimento de aumento da tireoide estimulado pelo TSH. Tais

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substâncias bociogênicas são encontradas e por sua vez resulta em doença vascular
especialmente em algumas variedades do nabo periférica.
e do repolho.

Características Fisiológicas
O hipotireoidismo causado por
tireoidite, bócio coloide endêmico, bócio
coloide idiopático, destruição da tireoide por
radiação ou remoção cirúrgica da glândula,
Fáceis mixematosa: presente no hipotiroidismo
provoca os mesmos efeitos fisiológicos.
Incluem fadiga e sonolência extrema, QUADRO CLÍNICO
provocando 12 a 14 horas de sono por dia,
extrema lentidão muscular, redução da As manifestações clínicas do
frequência cardíaca, do débito cardíaco e do hipotireoidismo estarão diretamente
volume sanguíneo, ocasionalmente aumento relacionadas à redução do metabolismo do
de peso, constipação, lentidão mental, indivíduo em consequência dos níveis
insuficiência de muitas funções tróficas do diminuídos dos hormônios tireoidianos. Dentre
organismo, evidenciada por redução do os sintomas da doença estão: fadiga, letargia,
crescimento do cabelo e descamação da pele, ganho ponderal, inapetência, constipação,
desenvolvimento de rouquidão e, em casos intolerância ao frio, alopecia, madarose, pele
graves, de aparência edematosa em todo o seca, dores articulares e musculares.
corpo, chamada de mixedema. Os pacientes também podem manifestar
É importante lembrar que a falta de sintomas psiquiátricos, como a depressão, além
hormônio tireoidiano aumenta a concentração de déficits cognitivos, delírio, demência,
sanguínea de colesterol, devido à alteração do convulsões e coma. As mulheres podem
metabolismo dos lipídios e do colesterol e à apresentar história de puberdade precoce,
redução de sua excreção hepática na bile. A menorragia, amenorreia e galactorreia.
elevação do colesterol sanguíneo está A apresentação do doente no exame
geralmente associada ao aumento da físico será diferente a depender a faixa etária de
aterosclerose. Portanto, muitos pacientes com instauração da doença, do tempo de
hipotireoidismo, particularmente os com acometimento e gravidade do quadro. As
mixedema, desenvolvem aterosclerose, qu crianças podem ter seu crescimento
comprometido em decorrência do atraso da

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maturação óssea, puberdade precoce, triglicerídeos, níveis de colesterol total e LDL
infantilismo sexual e pseudo-hipertrofia colesterol. No eletrocardiograma, a bradicardia
muscular. Na fase adulta, o paciente pode pode ser verificada. Na radiografia de tórax, a
encontrar-se em bradicardia, hipertensão silhueta cardíaca pode encontrar-se aumentada.
diastólica e hipotermia moderadas, além de
DIAGNÓSTICO
poder apresentar pele seca, amarelada, unhas
Devido à inespecificidade da gama de
quebradiças, mixedema, hiporreflexia, bócio e
sintomas que pode caracterizar o quadro de
rouquidão.
hipotireoidismo, uma vez que eles podem ser
Durante a avaliação física, o exame do
comuns a outras condições de saúde, torna-se
pescoço é de grande importância. Cicatrizes
difícil realizar o diagnóstico baseando-se
incisionais na região cervical podem sugerir
estritamente às manifestações clínicas. Além
cirurgia pregressa de tireoide; a inspeção e
disso, na grande maioria dos casos, o início da
palpação da tireoide podem revelar tamanhos
doença é insidioso, o que também dificulta a sua
aumentados ou diminuídos da glândula; e
suspeição. Por isso, embora a hipótese
averiguar sua consistência e textura pode
diagnóstica do hipotireoidismo possa ser
fornecer informações pertinentes ao
levantada durante a anamnese e exame físico,
diagnóstico e conduta médica.
ela só será confirmada com exames
laboratoriais.
Na suspeita de hipotireoidismo,
solicitam-se as provas de função tireoidiana, as
quais são as dosagens de TSH e T4 livre. Níveis
elevados de TSH e diminuídos de T4 livre
confirmam o diagnóstico de hipotireoidismo
Diante da facilidade de realização dos primário; níveis de TSH aumentados e de T 4
exames complementares e do considerável livre normais indicam hipotireoidismo leve ou
aumento de sua prescrição à título de subclínico; níveis de TSH normais, ou
confirmação ou investigação diagnóstica, vale diminuídos, associados a níveis diminuídos de
ressaltar que algumas anomalias encontradas T4 livre, podem ser reflexo de um quadro de
nesses testes podem estar vinculadas ao hipotireoidismo central ou secundário, de uma
hipotireoidismo. Nos exames de sangue, pode doença não tireoidiana ou de efeito de fármacos.
ser encontrado: anemia; hiponatremia; É importante lembrar que o aumento
hipoglicemia; elevação de creatinina isolado do TSH pode acontecer na recuperação
fosfocinase, homocisteína, prolactina,

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de uma doença sistêmica grave e nas
TRATAMENTO
insuficiências renal e suprarrenal.
O objetivo do tratamento do paciente
Embora não seja muito comum na
com hipotireoidismo é a reposição hormonal,
prática ambulatorial, a dosagem de alguns
evitando a tireotoxicose iatrogênica, exceto no
anticorpos pode ser solicitada quando se deseja
hipotireoidismo por efeito de fármacos, como a
ter certeza da causa do hipotireoidismo. O
amiodarona, talidomida e estavudina. Nesse
anticorpo antiperoxidase tireoidiana é a melhor
último caso, a conduta consiste na suspensão
escolha, uma vez que o anticorpo
dos medicamentos, seguida pela reversão do
tireoglobulina é menos sensível. Entretanto,
quadro.
estima-se que 10% dos pacientes com
A terapia de reposição hormonal
hipotireoidismo autoimune não portarão
geralmente é necessária por toda a vida. Ela
quaisquer anticorpos antitireoidianos.
baseia-se na administração de levotiroxina

Hipotireoidismo subclínico: é uma condição


sódica (tiroxina) sintética por via oral em jejum,
em que o paciente apresenta níveis elevados e
pois a sua absorção pode ser comprometida em
isolados de TSH na ausência de quaisquer
40% caso seja administrada em simultaneidade
manifestações clínicas de hipotireoidismo.
com a alimentação. Sua meia-vida de 7 dias
Consiste em um diagnóstico estritamente
permite uma posologia diária, que se relaciona
laboratorial e tem alta prevalência entre
com o peso corporal. Para adultos magros, a
mulheres e idosos no Brasil.
dosagem diária é de 1,8 µg⁄kg. Para adultos mais
velhos e idosos, a dose costuma ser mais baixa,

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devido ao metabolismo mais lento, sendo de  Gestação
1,0 µg⁄kg⁄dia. Devido ao aumento da concentração das
Nos pacientes com hipotireoidismo tireoglobulinas pela ação do estrógeno e da
primário, o início da terapia deve ser avaliada passagem de iodo e T4 para o bebê, a demanda
em 4 a 6 semanas, avaliando-se a necessidade pelos hormônios tireoidianos aumenta. Por isso,
de manutenção, aumento ou diminuição da geralmente há a necessidade de aumento da dose
dose medicamentosa. Após a adequação da da levotiroxina em 30-50 % durante a gestação.
dose, o paciente necessita ter seu nível de TSH Após a gravidez, retorna-se às doses usuais
monitorado anualmente. Em pacientes com anteriores à gestação.
hipotireoidismo central, o monitoramento deve  Hipotiroidismo subclínico
ser feito a cada 2 a 4 semanas depois do início O tratamento do hipotireoidismo subclínico
ou ajuste da dose. pode ser indicado para prevenir a progressão da
São muitas representações comercias doença em indivíduos com concentrações
da levotiroxina, mas o paciente deve ser séricas de TSH acima de 10mUI⁄L e elevadas

orientado a manter a mesma marca escolhida concentrações de anticorpos antitireoidianos.


pelo seu médico, pois existem diferenças Essa mesma conduta também pode ser
farmacocinéticas de uma para outra. recomendada a pacientes que apresentem
- Tratamento do hipotireoidismo em situações sintomas altamente sugestivos da doença,
especiais: mulheres inférteis e aquelas que almejam
 Coronariopatias e idosos engravidar.
Doses menores de hormônio devem ser
administradas, pois o hormônio tireoidiano  Câncer de tireoide
aumenta o consumo de O2 pelo miocárdio, A terapia com levotiroxina aplicada a pacientes
fator que predispõe um maior risco de pós-tireoidectomia total deve visar à
arritmias cardíacas, angina ou infarto agudo do compensação do hipotireoidismo e a supressão
miocárdio em idosos.

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dos valores de TSH abaixo dos níveis de Estimulação do tecido tireoidiano mediada por
referência. Um cuidado especial necessita ser anticorpos
dedicado à monitorização desses pacientes,
Doença de Graves
tendo em vista que o TSH estimula a
Tecido tireoidiano autonomamente funcionante
proliferação celular, podendo provocar
recidivas. Bócio multinodular tóxico

Adenoma tóxico

Exposição ao iodo
TIREOTOXICOS E Tecido tireoidiano heterotópico autonomamente

HIPERTIREOIDISMO funcionante

Estruma ovariano

Câncer tireoidiano diferenciado metastático


O termo tireotoxicose refere-se as
Secreção excessiva de TSH
manifestações fisiológicas clássicas de
Adenoma hipofisário secretor de TSH
quantidade excessivas de hormônios
tireoidianos que são tão características dessa Tireotoxicose não hipertireoidiana

condição. Deveria ser empregado o termo Ingestão de hormônio tireoidiano exógeno


tireotoxicose, em vez de hipertireoidismo, para Farmacol69ica
este distúrbio, uma vez que ele não precisa
Levotiroxina
estar associado a hiperfunção da glândula
tireoide. Liotironina

O termo hipertireoidismo está reservado Preparações combinadas


para os distúrbios que resultam da Não farmacológica
superprodução sustentada de hormônios pela
Suplementos dietéticos
própria tireoide, sendo a Doença de Graves o
Produtos alimentícios inadequadamente
mais comum.
processados

Inflamação provocando a liberação de


ETIOLOGIA
hormônio

ETIOLOGIAS DA TIREOTOXICOSE
FISIOPATOLOGIA
Hipertireoidismo

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O hipertireoidismo se desenvolve resultado do crescimento de múltiplos nódulos
quando existem síntese e a secreção excessivas autonomamente funcionantes formando um
de hormônio tireoidiano provocadas pelo bócio tóxico multinodular, ou cm casos raros,
estímulo tireotrópico ou pela função autônoma quando pacientes com câncer tireoidiano bem
do tecido tireoidiano. A rigor, hipertireoidismo diferenciado se apresentam com metástases
se refere àquelas formas de tireotoxicose que funcionantes. Em alguns adenomas tóxicos, as
são provocadas pela produção excessiva de mutações somáticas do gene receptor do TSH
hormônio tireoidiano pela glândula tireoide. levam à ativação constitutiva. Nos pacientes
Os dois termos frequentemente são cujas glândulas tireoides apresentam o potencial
empregados de modo intercambiável. Na para a função autônoma, a exposição a
doença de Graves, a causa mais comum de quantidades excessivas de iodo sob a forma de
hipertireoidismo, a glândula tireoide é amiodarona ou de agentes de contraste iodado
estimulada por auto anticorpos que se ligam ao pode, por vezes, provocar hipertireoidismo.
receptor do TSH, ativando-o. A secreção A tireotoxicose transitória também pode
excessiva de TSH provoca o hipertireoidismo ser provocada por condições infamatórias que
em pacientes com os raros adenomas liberam quantidades excessivas de hormônio
hipofisários secretores de TSH. A tireoidiano armazenado na glândula. Estas
gonadotrofina coriônica humana (hCG), uma incluem a tireoidite subaguda, que se acredita
glicoproteína com elevada homologia com o seja causada por uma infecção viral, tireoidite
TSH pode, durante a gravidez, provocar um aguda ou supurativa provocada por infecção
hipertireoidismo gestacional transitório. Este bacteriana, tireoidite induzida por radiação e
tipo de hipertireoidismo também pode ocorrer tireoidite farmacológica, precipitada pela
quando coriocarcinomas, gravidez molar, ou exposição à amiodarona. A autoimunidade
tumores de células germinativas produzem também pode provocar uma tireoidite
formas variantes de hCG que são mais ativas inflamatória que leva a uma tireotoxicose
ou quando receptoras mutantes de TSH se inflamatórias fata comumente ocorre no
Ligam mais avidamente à hCG, conforme contexto de uma tireoidite linfocitica (também
ocorre na tireotoxicose gestacional familiar. conhecida como tireoidite silenciosa, indolor ou
A produção autônoma de hormônio pós-parto). Ela raramente ocorre no cenário de
tireoidiano ocorre quando os tireócitos uma tireoidite autoimune (também conhecida
funcionam independentemente da ativação do como tireoidite de Hashimoto). Raramente o
receptor do TSH. Isso pode ocorrer como excesso de hormônio tireoidiano é secretado por
resultado do crescimento de um adenoma tecido tireoidiano ectópico localizado cm
funcionante tireoidiano benigno, como qualquer lugar desde a base da língua até o

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mediastino, ou por tecido tireoidiano diretamente relacionadas com valores baixos de
hetetrotópico que se desenvolve como parte de TSH, principalmente cm idosos.
um teratoma ovariano (uma condição Pacientes com hipertireoidismo grave e
conhecida como estruma ovariano). de longa duração podem apresentar hipertrofia
A tireotoxicose também pode se miocárdica inicial, diminuição da resistência
desenvolver pela ingestão de quantidades de periférica por vasodilatação, hipertensão
hormônio tireoidiano. Isso frequentemente sistólica por aumento da contratilidade até a
resulta da prescrição de doses excessivas de insuficiência cardíaca. Pacientes com arritmia
preparados farmacológicos de hormônio atrial estão mais associados a fenómenos
tireoidiano, raramente pode se dever à ingestão tromboembólicos, aumentando o risco de
sub-reptícia ou acidental. mortalidade, principalmente cm idosos e
cardiopatas. A necessidade de anticoagulação
durante o hipertireoidismo é bastante
QUADRO CLÍNICO
questionável, pois o estado de
A intensidade, a duração do
hipercoagulabilidade é duvidoso. Já os pacientes
hipertireoidismo e a idade do paciente
com fibrilação atrial e cardiopatia devem
determinam a apresentação clínica, a qual está
receber anticoagulação pelo menos até a
associada a manifestações adrenérgicas, como
resolução do hipertireoidismo. Dispneia aos
nervosismo, palpitações e tremores de
exercícios é observada pelo aumento do "drive"
extremidades. Com os hormônios tireoidianos
respiratório, associada à diminuição da
aumentados na circulação, consequentemente
complacência pulmonar e até mesmo à
a ação nos órgãos-alvo também fica
manifestação de comprometimento
exacerbada. A intolerância ao calor, sudorese e
cardiovascular. Pacientes frequentemente
perda de peso refletem o aumento da
aumentam o número de evacuações
termogênese e o aumento do metabolismo.
(hiperdefecação) por aumento do peristaltismo.
Ocorre aumento da fome e em cerca de
Alterações hepáticas frequentemente são
20% dos pacientes observa-se aumento do
observadas pelo excesso de hormônio
peso devido a ingestão calórica ser muito alta.
tireoidiano, com elevações discretas de alanina
No sistema cardiovascular, o excesso de
e aspartato aminotransferase. A disfunção
hormônios tireoidianos leva a taquicardia,
hepática grave e a icterícia ocorrem na vigência
aumento da contração miocárdica e da
de crise tireotóxica.
condução atrial, aumento da demanda cardíaca
A hepatite autoimune concomitante
por oxigênio e risco de isquemia. A incidência
raramente coexiste com a doença de Graves. A
de arritmia atrial e fibrilação atrial estão
paralisia periódica hipocalcemica é uma

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situação extremamente rara, descrita
principalmente em orientais. Ela é revertida
com o tratamento da doença de Graves como
fator precipitante. Quando acomete crianças e
adolescentes, existe um crescimento linear
rápido com aceleração da maturação óssea. No
indivíduo idoso, exacerba a perda óssea, com
aumento dos marcadores de remodelação
anos. A prevalência é semelhante entre
óssea, hipercalciúria e, ocasionalmente,
caucasianos e asiáticos e é menor na raça negra
hipercalcemia. As alterações menstruais
ocorrem raramente e amenorreia está DIAGNÓSTICO
associada ao hipertireoidismo mais grave..
LABORATORIAL
O hipertireoidismo pode piorar a
O diagnóstico da doença de Graves é
intolerância à glicose em paciente diabético
clinico, ou seja, na presença de bócio com
insulino-dependente, por aumentar a
hipertireoidismo e oftalmopatia de Graves não
necessidade de insulina e, raramente, pode
existe outra possibilidade diagnóstica. Todos os
provocar hipoglicemia. Cerca de 90% dos
pacientes apresentam níveis de TSH diminuídos
pacientes com doença de Graves exibem bócio
ou suprimidos associados a níveis elevados de
difuso, de consistência fume e elástica, com
T4. A medida do TSH é um excelente parâmetro
tamanho variável. Com o aumento da
de triagem do hipertireoidismo, pois pequenos
vascularização, pode se sentir um frêmito na
incrementos na produção de hormônio
superfície da tireoide.
tireoidiano suprem os níveis circulantes de TSH.
A doença tiroideia descrita por Robert
Se o TSH é baixo e o T4 encontra-se normal,
Graves em 1835, hoje conhecida como Doença
recomenda-se medir o T3, pois 10% dos
de Graves, é uma doença auto-imune que se
pacientes podem apresentar somente elevação
caracteriza pela presença de hipertiroidismo,
dos níveis de T3, especialmente no início da
bócio, oftalmopatia e, ocasionalmente,
doença.
dermopatia infiltrativa ou mixedema pré-tibial.
A dosagem de T4 livre é mais
A DG é responsável por 60-80% dos
recomendável, pois sua medição sofre menor
casos de hipertiroidismo. Relativamente à
interferência que o do T4 total. A detecção de
incidência por género, surge numa relação
TRAb com pacientes com doença de Graves
feminino/masculino de 5-10:1.
.Pode surgir em qualquer idade, chega a 99%, porém sua aplicação diagnóstica
deve ser limitada apenas quando há dúvida no
contudo a idade típica situa-se entre os 20 e 40

15
diagnóstico etiológico. A realização da medida
para TRAb no terceiro trimestre também tem
importância cm mulheres grávidas com
história passada ou presente de doença de
Graves, para avaliar o risco de disfunção
tireóidea fetal ou neonatal, pois o TRAb
atravessa a barreira placentária, podendo
estimular ou até mesmo inibir a tireoide fetal,
causando hiper ou hipotireoidismo transitório,
Fácies basedowiana: presente no hipertiroidismo
respectivarnente.
A avaliação de TRAb pode ser útil
durante o tratamento medicamentoso, pois a TRATAMENTO
diminuição ou desaparecimento deste As modalidades terapêuticas para
anticorpo, indica maior chance de remissão da diminuir a produção excessiva de hormônio
doença. O mapeamento e a captação da tireoidiano são as drogas antitireoidicas, iodo
tireoide também devem ser solicitados quando radioativo e a cirurgia
há dúvida no diagnóstico etiológico. • Drogas antitireóideas :
Classicamente, o mapeamento da Tionamidas, mctimazol e propiltiouracil
tireoide, tanto com tecnécio quanto com iodo são as drogas de escolha para o tratamento da
revela uma glândula aumentada e doença de Graves no Brasil'. As tionamidas
hiperfuncionante. A captação com iodo agem inibindo a tireoperoxidase, diminuindo a
mostra-se bastante aumentada, refletindo organificação do iodeto na glândula tireoide e,
maior capacidade da tireoide na produção dos consequentemente, a produção dos hormônios.
hormônios tireoidianos. A ultrassonografia da Somente o propiltiouracil, em
tireoide também deve ser solicitada somente se concentrações elevadas, bloqueia a enzima 5' -
há dúvida quanto a presença de nódulos. O desiodase, que converte T4 a T3
exame de ultrassom irá determinar o tamanho perifericamente. Esse efeito pode ser vantajoso
e as características do(s) nódulo(s), sendo útil somente em pacientes com crise tireotóxica. As
durante o tratamento medicamentoso, para drogas antitireoidicas têm efeitos
avaliar boa resposta com diminuição do imunossuprcssivos desejáveis no tratamento da
volume e da vascularização. doença de Graves, promovendo diminuição dos
títulos de TRAb, bem como diminuição da
infiltração linfocltica tireoidiana 17

16
• Somente 30 a 40% dos pacientes desconforto abdominal também ocorrem e
tratados com droga aotitireoidiana apresentam desaparecem após alguns dias de tratamento.
remissão do hipertireoidisrno, considerando Propiltiouracil (PTU) tem sido usado
TSH e hormônios tireoidianos normais após cada vez menos na prática clinica, restringindo
suspensão da medicação por pelo menos 12 seu uso apenas no primeiro trimestre da
mcses18 gestação, nos casos de crise ti.reotóxica (por
• Os aspectos considerados favoráveis inibir a 5' -deiodinase em doses altas) e em
ao uso de droga antitireoidiana como pacientes com efeitos colaterais relacionados ao
tratamento definitivo da doença de Graves são: metima1.01'7. Entretanto, cerca de 50% dos
sexo feminino, idade (adul10 jovem), bócio pacientes que apresentam efeitos colaterais ao
pequeno, hipertireoidismo leve e valores metimazol também podem apresentar ao PTU.
baixos de TRAb. • Radioiodoterapia :
Metimazol é usualmente iniciado com O tratamento da doença de Graves com
15 a 40 mg, uma única vez ao dia na quase radioiodo é considerado um recurso seguro,
totalidade dos casos, dose de 60 mg em eficiente e com excelete relação custo-
ocasiões de tirotoxicose muito acentuada, beneficio. A radioiodoterapia pode ser oferecida
diminuindo-se progressivamente até manter-se como tratamento inicial da doença de Graves ou
entre 5 mg a 10 mg/dia. Para o paciente que como tratamento definitivo, após recidiva ou
necessita de doses altas de medicação, com falha do tratamento medicamentoso.
bócio volumoso (>4Sg), sem diminuição dos É prudente evitar o tratamento em
valores de TRAb, manutenção da crianças menores de 7 anos, e não deve ser usado
vascularização da tireoide ao longo do em grávidas ou em mulheres que estão
tratamento e tabagista, a remissão com amamentando. As pacientes devem ser
tratamento medicamentoso é pouco provável, advertidas para evitar a concepção por 3-6
podendo logo ser indicado o tratamento meses após o tratamento. Não existe risco
definitivo (radioiodo ou cirurgia). Em até 13% teratogênico estabelecido para o radioiodo, mas
dos usuários, a droga antitireoidiana pode o uso inadvertido após a 10-- 12• semana de
provocar efeitos colaterais leves, e.orno gestação, quando a tireoide fetal já se
prurido, rash e reações urticariformes, desenvolveu, pode levar ao hipotireoidismo
principalmente nos primeiros dias de uso de congênito.
medicação". Não há necessidade de suspensão, • Cirurgia:
podendo associar-se anti-histamínicos, pois as A opção cirúrgica para doença de Graves
manifestações são autolimitadas. Artralgias e está indicada cm indivíduos com
contraindicações para o tratamento

17
medicamentoso (reações adversas graves) e
com a impossibilidade de submeter-se à
Capítulo 2
radioiodoterapia, como na gravidez,
coexistência de nódulo tireoidiano de natureza
DIABETES
indeterminada, bócio muito volumoso ou com
sintomas compressivos, presença de
Conceito
exoftalmopatia grave e pacientes que desejam
engravidar nos próximos 6 meses. O termo “diabetes mellitus” (DM)
refere-se a um transtorno metabólico de
etiologias heterogêneas, caracterizado por
hiperglicemia e distúrbios no metabolismo de
carboidratos, proteínas e gorduras, resultantes
de defeitos da secreção e/ou da ação da insulina
(WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1999).
O DM vem aumentando sua importância pela
sua crescente prevalência e habitualmente está
associado à dislipidemia, à hipertensão arterial e
à disfunção endotelial. É um problema de saúde
considerado Condição Sensível à Atenção
Primária, ou seja, evidências demonstram que o
bom manejo deste problema ainda na Atenção
Básica evita hospitalizações e mortes por
complicações cardiovasculares e
cerebrovasculares (ALFRADIQUE, 2009).

Epidemiologia

A prevalência de DM está aumentando


rápido; a frequência em especial do DM tipo 2
está aumentando paralelamente à epidemia de
obesidade . Entre 1985 e 2010, a prevalência
mundial de DM aumentou quase 10 vezes, de 30
milhões para 285 milhões de casos. Nos EUA, a
prevalência de DM em 2010 foi estimada em 26
milhões, ou 8,4% da população. Uma porção

18
significativa das pessoas com DM são por aproximadamente 8% (AMERICAN
subdiagnosticadas. DIABETES ASSOCIATION, 2010). Além
O DM está associado a morbidade desses tipos, o diabetes gestacional também
grave e mortalidade significativa; é a quinta merece destaque, devido a seu impacto na saúde
principal causa de morte no mundo todo. da gestante e do feto (AMERICAN DIABETES
(DAN et al. 2013) ASSOCIATION, 2010). Em algumas
Estudos epidemiológicos demonstram circunstâncias, a diferenciação entre o diabetes
uma relação direta e independente entre os tipo 1 e o tipo 2 pode não ser simples. Em alguns
níveis sanguíneos de glicose e a doença casos de dúvida, podem ser solicitados níveis de
cardiovascular (MOLITCH et al., 2003) anticorpos anti-GAD e avaliação da reserva de
fazendo com que a estratégia clínica de insulina pancreática por meio da medida de
prevenção cardiovascular requeira o peptídeo-C plasmático. Anticorpos positivos e
conhecimento do estado diabético. No entanto, peptídeo C abaixo de 0,9 ng/ml sugerem o
o diabetes mellitus (DM) pode permanecer diagnóstico de diabetes tipo 1, enquanto que
assintomático por longo tempo e sua detecção anticorpos negativos e peptídeo C elevado
clínica é frequentemente feita, não pelos sugerem diabetes tipo 2 (MARASCHIN et al.,
sintomas, mas pelos seus fatores de risco. Por 2010). Outros tipos específicos de diabetes são
essa razão, é importante que as equipes de mais raros e podem resultar de defeitos
Atenção Básica estejam atentas, não apenas genéticos da função das células beta, defeitos
para os sintomas de diabetes, mas também para genéticos da ação da insulina, doenças do
seus fatores de risco (hábitos alimentares não pâncreas exócrino, endocrinopatias, efeito
saudáveis, sedentarismo e obesidade). A colateral de medicamentos, infecções e outras
abordagem terapêutica dos casos detectados, o síndromes genéticas associadas ao DM.
monitoramento e o controle da glicemia, bem
como o início do processo de educação em
saúde são fundamentais para a prevenção de
complicações e para a manutenção de sua DIABETES MELLITUS
qualidade de vida (prevenção terciária).
TIPO 1
Classificação
O DM tipo 2 abrange cerca de 90% dos O diabetes melito é o resultado de uma
casos de diabetes na população, sendo seguido secreção inapropriada de insulina pelas células
em frequência pelo DM tipo 1, que responde Beta pancreáticas, de defeitos na ação da

19
insulina ou associação desses dois distúrbios. por um fator ambiental em indivíduos com
Não é uma única doença, mais um grupo suscetibilidade genética. Uma infiltração das
heterogêneo de distúrbios metabólicos, com ilhotas pancreáticas por linfócitos T CD4 e CD8,
tecnologias diversas, que apresentam em linfócitos B e macrófagos, com predominância
comum a hiperglicemia crônica acompanhada dos linfócitos T CD8, caracteriza a insulite e
de alterações no metabolismo de carboidratos, posterior redução da massa das células beta.
lipídios e proteínas. a hiperglicemia a longo observam-se diminuição da secreção de insulina
prazo está associada a alterações teciduais, e presença de anticorpos contra antígenos da
denominadas complicações crônicas do ilhota pancreática meses a anos antes da
diabetes. afecção dos pequenos vasos é apresentação clínica da doença. Quando a
denominada microangiopatia e compreende a reserva de secreção de insulina está reduzida em
retinopatia e a nefropatia. a doença dos grandes 20% ou menos, observam-se os sintomas
vasos é denominada macroangiopatia e clássicos de polidipsia, poliúria, polifagia e
manifesta-se clinicamente como doença emagrecimento.
arterial coronariana, doença cérebrovascular Durante um período variável de meses a
ou doença vascular periférica. A neuropatia anos antes da apresentação clínica da doença,
diabética compromete os sistemas nervosos auto-anticorpos contra células Beta podem estar
periférico e autônomo. presentes nos pacientes com diabetes melito tipo
1A. Os anticorpos antiilhotas, antiinsulina, anti-
IA2 e antidescarboxilase do ácido glutâmico-65
ETIOPATOGENIA E
(GAD 65) são os mais frequentemente
FISIOPATOLOGIA pesquisados nos estudos clínicos de rotina.

Na classificação atual do diabetes


melito, o diabetes melito tipo 1 corresponde ao Componente Genético
diabetes associado a destruição das células o diabetes melito tipo 1A é uma doença
Beta pancreáticas, resultando em deficiência poligênica e até o momento 21 genes candidatos
absoluta de insulina. Do ponto de vista foram descritos e denominados IDDM 1 a
ecológico, o diabetes melito tipo 1 é IDDM 21 em diferentes localizações. O gene
subdividido em tipo 1A (em decorrência de IDDM 1, localizado no complexo HLA (human
uma agressão auto-imune pancreática) e tipo leucocyte antígen), no cromossomo 6p, é o
1B (idiopático). No diabetes melito tipo 1A, principal determinante da suscetibilidade
ocorre destruição das células Beta pancreáticas genética. O HLA DR4 e DR3 estão fortemente
por um processo auto-imune, desencadeado associados ao diabetes mellitus tipo 1A e o HLA

20
DR2 confere proteção. Nos Estados unidos, sindrome poliglandular auto-imune, doença de
35% dos indivíduos com diabetes melito tipo Addison, doença celíaca, doença de Graves e
1A são heterozigotos DR3/DR4, comparados a diabetes melito tipo 1A.
2,4% da população em geral.
Aproximadamente 20% dos americanos e Fatores Ambientais
europeus têm o HLA DR2, sendo encontrado A concordância de apenas 50%, entre
em menos de 1% das crianças com diabetes. gêmeos monozigóticos no desenvolvimento do
No Brasil, HLA DR3 e DR4 também estão diabetes melito tipo 1A, sugere a presença de
associados a maior risco de diabetes melito fatores ambientais na etiologia da doença. Os
tipo 1A, não tendo sido encontrado o papel fatores de risco ambientais para a eclosão do
protetor do HLA DR2. diabetes tipo 1A são classificados em três
Aproximadamente 20 genes não grupos: infecções virais (por exemplo: rubéola,
relacionados ao HLA, que também contribuem coxsaxkie e citomegalovírus); alimentares
para a suscetibilidade genética da doença, já (introdução precoce do leite de vaca e a
foram identificados, mas somente dois tem deficiência de vitamina D) e toxinas
função conhecida: IDDM2 e IDDM12. O (nitrosaminas). O impacto de determinado fator
segundo maior locus de suscetibilidade para o ambiental pode ser direto diferente segundo a
diabetes melito tipo 1, o locus IDDM2, suscetibilidade genética.
localiza-se no cromossomo 11p5-5. Localiza- A observação de um padrão sazonal na
se na região 5' do gene da insulina, em região incidência do diabetes melito tipo 1A, com pico
minissatélite não transcrita, e é uma região no outono, levou a suspeita do envolvimento de
polimórfica composta de 14 a 15 pares de base vírus na gênese da doença. Os vírus podem estar
de oligonucleotídeos que se repetem (VTNR, envolvidos na patogênese da doença por ação
variable number of tandem repeats). Comprei direta na célula Beta levando à sua destruição ou
ele em três classes de alelos de acordo com o pela indução de resposta imune contra a célula.
seu tamanho, determinado pelo número de A introdução precoce de leite de vaca
unidades repetidas. Polimorfismos nessa (antes dos 3 meses de idade) tem sido estudada
região estão associados a maior risco ou a como fator de risco para o diabetes melito tipo
proteção contra o diabetes melito tipo 1. O 1A, entretanto, essa associação não tem sido
gene CRLA-4 (cytotoxicT-lymphocyte- observada em todos os estudos realizados.
associated antigen-4) do cromossomo 2q33, Em camundongos non-obese diabetic (NOD),
denominado IDDM 12, codifica um receptor modelo animal clássico para estudo do diabetes
expresso nas células T ativadas e os auto-imune, a administração de 1,25-
polimorfismos nesse gene estão associados à diidroxivitamina D previnil desenvolvimento do

21
diabetes e da insulite auto-imune. A apresentadoras de antígenos aos linfócitos T
suplementação de vitamina D no primeiro ano helper CD4 auto-reativos, em associação com
de vida, para a prevenção do raquitismo, está moléculas do HLA de classe II é o primeiro
associada a menor risco de desenvolvimento passo para o início da doença. Os macrófagos
de diabetes mellitus tipo 1 em países nórdicos. secretam interleucina-12, que estimula os
É difícil estimar se doses elevadas de vitamina linfócitos T helper 1 (Th1) a secretar interferon-
D ou de seus análogos poderiam ser efetivas na gama (IFN-gama) e interleucina-2 (IL-2). O
prevenção do diabetes melito tipo 1A na IFN-gama estimula a secreção por macrófagos
população em geral. de fator de necrose tumoral-alfa (TNF-alfa), IL-
Os nitratos são encontrados em 1-beta e radicais livres, que são tóxicos para
vegetais e os nitritos em produtos derivados de células Beta. as citocinas também promovem a
carnes ponto final os nitratos são reduzidos a apoptose das células Beta diretamente ou por
nitritos no intestino e depois podem ser aumento da expressão do receptor Fas na
transformados em compostos n-nitrosos. superfície dessas células, tornando-as mais
Estudos em animais têm demonstrado que sensíveis à apoptose mediada por células T.
esses compostos são tóxicos para as células As citocinas envolvidas na resposta Th1
Beta. Na Suécia, em um estado de caso- (IL-2 e IFN-gama) também induzem a ativação
controle, foi observada uma associação entre o e migração de células T citotóxico CD8+,
alto consumo de nitrosaminas e o aumento de aumentando infiltrado dessas células nas ilhotas.
risco no desenvolvimento de diabetes melito As células CD8+ ao reconhecer auto-antígenos
tipo 1A específicos, juntamente com as moléculas HLA
classe I, causam danos celular mediante
Auto-imunidade liberação de perfurina e granzina B, além de

Acredita-se que nos indivíduos com favorecer a apoptose Fas-mediada.

suscetibilidade genética, a presença de um Recentemente tem sido verificado que as

determinado fator ambiental associado a uma citocinas da resposta Th2 também podem causar

falta de regulação do sistema imunológico danos às células Beta. A expressão pancreática

(alteração no equilíbrio entre as atuações dos de citocinas Th2, particularmente IL-10, pode

linfócitos T helper tipos 1 e 2)leva ao induzir imunidade humoral contra constituintes

desenvolvimento de graus variáveis de insulite das células Beta e, em associação com as

e de diabetes. citocinas Th1, exacerbar o diabetes melito tipo

Apresentação de auto-antígenos 1A.


específicos das células Beta por células o processo auto-imune que leva ao diabetes
melito tipo 1A é acompanhado pela produção de

22
auto-anticorpos antiilhotas, anti-insulina, anti- doença clínica é mais lenta, possibilitando uma
GAD e anti-IA2. Raramente, auto-imunidade fase assintomática mais pronunciada. Com a
contra a célula Beta pode estar presente antes metodologia atualmente disponível, o
dos 6 meses de idade cronológica, sendo diagnóstico do diabetes melito tipo 1A pode ser
anticorpo antiinsulina o primeiro a ser feito em uma fase pré-clínica.
observado. Nos adultos, observa-se com maior
frequência os anticorpos anti-GAD. a
QUADRO CLÍNICO
positividade para dois auto-anticorpos está
A manifestação clínica do diabetes
associada a alto risco de desenvolver diabetes
melito tipo 1 ocorre quando já existe perda
mellitus tipo 1.
substancial de massa das células Beta (80 a
Essas alterações evoluem com
90%) e qualquer condição que aumente a
velocidades diferentes em cada indivíduo e,
demanda de insulina, como é o caso de
durante a sua progressão, se acompanham de
puberdade, quadro infeccioso ou trauma, pode
diminuição da primeira fase de secreção de
precipitar seu início clínico. O fenótipo clássico
insulina, alteração na tolerância à glicose e
do diabetes melito tipo 1 é aquele de uma
finalmente pelo diabetes manifesto. nos
criança ou adolescente com peso adequado ou
primeiros anos de diagnóstico clínico, pode
magro; porém, com aumento da prevalência de
haver ainda uma certa reserva de secreção de
obesidade na infância, cerca de 25% dos
insulina que se esgota com o decorrer do
pacientes com diabetes mellitus tipo 1 recém-
tempo.
diagnosticados são obesos.
Classicamente, o desenvolvimento do diabetes
Inicialmente, ocorre hiperglicemia pós-
melito tipo 1A é dividido em seis estágios: (1)
prandial e, à medida que a secreção de insulina
predisposição genética; (2) fatores ambientais
se deteriora, ocorre a hiperglicemia de jejum.
desencadeantes; (3) auto-imunidade ativa; (4)
Quando as concentrações plasmáticas de glicose
Pedro da primeira fase de secreção de insulina;
é sério limiar renal de reabsorção (cerca de 180
(5) diabetes manifesto e (6) Pedro da secreção
mg/dL) ocorre a glicosúria, resultando em
residual de peptídeo C.estudos de seguimento
diurese osmótica e aparecimento dos sintomas
de indivíduos de risco e a observação clínica
clássicos de poliúria e polidipsia compensatória.
diária tem mostrado que a duração desses
Esses sintomas associam-se a enurese em
estádios é inversamente proporcional a faixa
crianças de menos idade. Se o diagnóstico não
etária do indivíduo.
for feito o tratamento instituído, há progressão
Os estudos de acompanhamento de
dos sintomas e desenvolvimento de perda
indivíduos de risco mostram que, nos adultos,
ponderal. a hiperglicemia crônica geralmente
a evolução do processo auto-imune até a

23
também causa candidíase perineal em ambos
DIAGNÓSTICO
os sexos. Apresentação em centro acidose
Na história natural do DM, alterações
varia de 26 a 67% dos casos, entre os diferentes
fisiopatológicas estão presentes antes que os
entre os estudados, sendo mais elevada em
valores glicêmicos atinjam níveis supranormais.
crianças com idade inferior a 5 anos. A duração
A condição na qual os valores glicêmicos estão
do período sintomático até o diagnóstico é, em
acima dos valores de referência, mas ainda
geral, inferior a 4 semanas, sendo menor que
abaixo dos valores diagnósticos de DM,
duas semanas em apenas 25% dos casos. Após
denomina-se pré-diabetes. A resistência à
a correção da hiperglicemia, acidose
insulina já está presente e, na ausência de
metabólica e cetose, pode haver redução
medidas de combate aos fatores de risco
importante das necessidades de insulina
modificáveis, ela evolui frequentemente para a
exógena e um bom controle metabólico é
doença clinicamente manifesta. A ADA
facilmente atingido. É a fase de remissão do
previamente havia atribuído os termos “glicemia
diabetes o período de lua-de- mel, que pode ter
de jejum alterada” e “tolerância à glicose
a duração de semanas, meses ou mais
diminuída” a essas condições de risco
raramente 1 a 2 anos. Entretanto, essa fase é
aumentado de doença cardiovascular e
sempre temporária e inevitavelmente haverá
complicações em longo prazo. Na maioria dos
aumento das necessidades de insulina após
casos de pré-diabetes, a “doença” é
esse período.
assintomática e o diagnóstico deve ser feito com
O LADA, ou diabetes melito tipo 1
base em exames laboratoriais. Mesmo o DM
lentamente progressivo, ocorre geralmente
estando presente do ponto de vista laboratorial,
entre 30 e 50 anos de idade (em média aos 35
seu diagnóstico clínico pode tardar até anos pelo
anos) e os indivíduos não são obesos. o
fato de a doença ser oligossintomática em
diabetes é inicialmente controlado com dieta,
grande parte dos casos, por isso a importância
mas depois de um período de meses ou anos,
do rastreamento na presença dos fatores de
há necessidade de utilização de agentes orais e
risco.
progressão para dependência de insulina. Em
As categorias de tolerância à glicose têm
alguns pacientes, ocorre tendência à cetose.
sido definidas com base nos seguintes exames:3
Seu reconhecimento clínico nem sempre é fácil
• Glicemia em jejum: deve ser coletada em
e estima-se que cerca de 50% dos pacientes
sangue periférico após jejum calórico de no
classificados como diabetes mellitus tipo 2 não
mínimo 8 horas;
obesos são, na verdade, portadores de LADA.
• TOTG: previamente à ingestão de 75 g de
glicose dissolvida em água, coleta-se uma

24
amostra de sangue em jejum para segunda amostra de sangue, na ausência de
determinação da glicemia; coleta-se outra, sintomas inequívocos de hiperglicemia.
então, após 2 horas da sobrecarga oral. Pacientes com sintomas clássicos de
Importante reforçar que a dieta deve ser a hiperglicemia, tais como poliúria, polidipsia,
habitual e sem restrição de carboidratos pelo polifagia e emagrecimento, devem ser
menos nos 3 dias anteriores à realização do submetidos à dosagem de glicemia ao acaso e
teste. Permite avaliação da glicemia após independente do jejum, não havendo
sobrecarga, que pode ser a única alteração necessidade de confirmação por meio de
detectável no início do DM, refletindo a perda segunda dosagem caso se verifique glicemia
de primeira fase da secreção de insulina; aleatória ≥ 200 mg/dL. Os valores de
• Hemoglobina glicada (HbA1c): oferece normalidade para os respectivos exames, bem
vantagens ao refletir níveis glicêmicos dos como os critérios diagnósticos para pré-diabetes
últimos 3 a 4 meses e ao sofrer menor e DM mais aceitos e adotados pela Sociedade
variabilidade dia a dia e independer do estado Brasileira de Diabetes (SBD), encontram-se
de jejumpara sua determinação. Vale reforçar descritos no quadro a seguir.
que se trata de medida indireta da glicemia, que As categorias de pré-diabetes, além de
sofre interferência de algumas situações, como conferirem risco aumentado para
anemias, hemoglobinopatias e uremia, nas desenvolvimento de DM, também estão
quais é preferível diagnosticar o estado de associadas a maior risco de doença
tolerância à glicose com base na dosagem cardiovascular e complicações crônicas.
glicêmica direta. Os critérios diagnósticos para DM1 são
Outros fatores, como idade e etnia, semelhantes aos utilizados no DM2. No
também podem interferir no resultado da primeiro caso, porém, comumente a
HbA1c. Por fim, para que possa ser utilizada sintomatologia já chama muito mais a atenção
no diagnóstico de DM, a determinação da do clínico do que no segundo caso.
HbA1c deve ocorrer pelo método padronizado
no Diabetes Control and Complications Trial
(DCCT) e certificado pelo National
Glycohemoglobin Standardization Program
(NGSP).
A confirmação do diagnóstico de DM
requer repetição dos exames alterados,
idealmente o mesmo exame alterado em

25
diabética) e crônicas (retinopatia, nefropatia,
TRATAMENTO neuropatia e doença cardiovascular).
A insulinoterapia é a base para o Quanto à sua origem, a insulina pode ser
tratamento do diabetes melito tipo 1 (DM1), classificada em insulina animal, insulina
enquanto a orientação alimentar, a atividade humana e análogos de insulina.
física e o monitoramento glicêmico são Insulina animal
procedimentos complementares na terapia Atualmente, as insulinas de origem
dessa enfermidade. Antes da descoberta da animal têm apenas interesse histórico. tinham
insulina, quase 100% dos pacientes com DM1 a desvantagem de ser absorvidas mais
morriam precocemente. O objetivo do lentamente pelo tecido subcutâneo, com início e
tratamento do DM1 é manter a glicemia e a pico de ação mais lentos, além de apresentarem
hemoglobina glicada o mais próximo maior antigenicidade, o que causava processos
possível da normalidade, com o intuito de alérgicos e lipodistróficos, potencialmente
controlar a sintomatologia dos pacientes e capazes de inviabilizar seu uso.
prevenir as complicações agudas (cetoacidose Insulina humana

26
Hoje em dia, duas técnicas são usadas
para se obterem insulinas com estrutura Farmacocinética das Insulinas
química idêntica à insulina humana. A
Insulinas de ação rápida
primeira utiliza a engenharia genética (técnica
O único representante deste grupo é a
do DNA recombinante) e a segunda consiste
insulina Regular (IR). Após aplicação
na “humanização” da insulina suína quando,
subcutânea, tem seu início de ação entre 30 e 60
pelo processo de transpeptidação, o
minutos, efeito máximo de 2 a 3 horas e duração
aminoácido alanina da cadeia B é substituído
efetiva de 8 a 10 horas.
pela treonina.
As duas principais indicações são
Análogos de insulina
controle da glicemia pós-prandial e correção
São compostos sintéticos obtidos por
de episódios ou períodos hiperglicêmicos
alterações na estrutura química da molécula de
(insulina pré-prandial/bolus). Além disso, é a
insulina (troca de aminoácidos ou de suas
insulina mais empregada no tratamento da
posições, ou adição de novas moléculas), por
cetoacidose diabética.
meio da técnica de DNA recombinante. Essas
Insulinas de ação ultrarrápida
mudanças mantêm o poder biológico da
São representadas pelos análogos Lispro, Aspart
insulina, mas alteram suas características
e Glulisina. Têm início de ação mais rápido e
físico-químicas, com consequentes maior
duração mais curta, em comparação à insulina
rapidez na absorção e maior ou menor tempo
Regular (IR), com a qual compartilham as
de ação.
mesmas indicações. aplicadas um pouco antes

27
ou logo depois das refeições, enquanto a IR associação de insulina de ação intermediária
requer administração 30 minutos antes. Têm o (NPH) à de ação rápida (Regular) ou
perfil farmacocinético que mais se aproxima ultrarrápida (Lispro, Aspart ou Glulisina),
da secreção fisiológica de insulina pelas aplicadas antes do café da manhã e do jantar.
células beta em resposta à alimentação rica em Preconiza-se que, aproximadamente, 70% da
carboidratos em indivíduos não diabéticos. dose sejam aplicados pela manhã e os 30%
Dessa maneira, propiciam melhor controle da restantes à noite. Do total da insulina matutina,
glicemia pós-prandial. 70% devem ser NPH e 30%, Regular (ou Lispro,
Pré-misturas Aspart ou Glulisina), enquanto a dose noturna

Existem pré-misturas de insulinas NPH será repartida de maneira igual (50% e 50%)

e Regular nas proporções de 90/10, 80/20 e entre os dois tipos de insulina. Como alternativa,

70/30 (a única disponível no Brasil), na pode-se substituir a NPH pela Detemir, a qual

apresentação de Penfill® ou frascos. As pré- provoca menos hipoglicemias e menor ganho de

misturas têm como inconveniente maior o fato peso. O esquema de duas aplicações diárias,

de as proporções entre as duas insulinas serem na maioria das vezes, consegue o controle

fixas e não se adequarem a muitos pacientes. glicêmico apenas nos primeiros meses ou
Além disso, aumentam o risco de hipoglicemia anos da doença; posteriormente, na maioria das

e se associam a maior ganho de peso. Na vezes, há a necessidade de intensificação do

prática, são mais utilizadas no tratamento do tratamento insulínico.

DM2.

Esquemas de insulinoterapia
Uma aplicação diária
Recomenda-se injeção única de insulina de
ação intermediária (NPH) ou lenta (Glargina)
pela manhã. É desaconselhada pela maioria
dos autores; pode, entretanto, ser utilizada
no período de remissão, conhecido como “fase
de lua de mel” (quando o pâncreas ainda
Regiões recomendadas para aplicação
possui alguma reserva de insulina endógena).
Duas aplicações diárias
Insulinoterapia intensificada
É o esquema mais frequentemente utilizado
Há duas modalidades básicas: infusão contínua
no Brasil. Entre os vários esquemas existentes,
subcutânea (bomba de insulina, elevado custo,
o mais popular, devido ao menor custo, é a

28
pouco) e múltiplas aplicações diárias. Nesta endurecimento, prurido ou sensação de ardor)
última, por exemplo, utiliza-se o esquema com ou, mais raramente, como manifestações
insulina Regular (ou, de preferência, Aspart, sistêmicas variadas (de urticária a edema de
Glulisina ou Lispro) antes das refeições + NPH glote ou choque anafilático). Com o advento das
(ou Detemir) 2 vezes/dia (antes do café da insulinas humanas, reações alérgicas têm sido
manhã e do jantar ou à hora de deitar) ou observadas em menos de 1% dos pacientes
Glargina ou Degludeca (antes do café da tratados. O tratamento mais simples consiste em
manhã ou do jantar). trocar a insulina por análogos de insulina.
Outras reações cutâneas
Efeitos colaterais da insulina Neste item, incluem-se a lipoatrofia e a

Hipoglicemia lipo-hipertrofia. A última resulta da aplicação


repetida da insulina em um mesmo sítio e pode
É a principal e mais temida
ser prevenida pelo rodízio adequado dos locais
complicação, sendo mais comum com a
das injeções. A lipoatrofia parece ser um
insulinoterapia intensiva do que com a
fenômeno imunológico e tornou-se bastante rara
convencional. Ausência de refeição e erro na
após a introdução da insulina humana.
dose de insulina, bem como excessivas
atividades física e ingestão de bebidas
alcoólicas, são os fatores precipitantes mais
comuns. No entanto, muitas vezes, não há uma
causa aparente.
Ganho de peso
Insulinoterapia implica ganho de peso Figura 1. Lipoatrofia na região glútea (A) e no
médio de 3 a 9%. Isso pode ser importante abdome (B) em pacientes em uso de insulina de
quando há sobrepeso ou obesidade. Um origem animal.
excessivo ganho ponderal pode ser
minimizado pelo uso da menor dose possível,
a fim de se alcançarem as metas do controle
glicêmico. Além disso, dieta e atividade física
devem ser
incentivadas.
Reações alérgicas
Pode surgir alergia à insulina como
reação no local da injeção (eritema, Figura 2 Lipo-hipertrofia em abdome e coxas

29
em paciente tratada com insulina de origem SITUAÇÕES ESPECIAIS: Hiperglicemia
animal. matinal
O monitoramento glicêmico é Um dos dilemas terapêuticos mais difíceis no
realizado com o intuito de avaliar o controle controle do DM é determinar o ajuste adequado
glicêmico em tempo real (glicemia capilar) ou da dose de insulina quando a glicemia se mostra
retrospectivamente (glicemias elevada antes do café da manhã. Duas
laboratoriais, HbA1c, frutosamina e sistema principais causas devem ser consideradas:
de monitoramento glicêmico contínuo cego ou Efeito Somogyi: consiste no aparecimento de
leitura fechada). A partir dos dados obtidos, hiperglicemia de rebote, consequente à
são feitas mudanças na terapia, as quais podem liberação de hormônios contrarreguladores
ser apenas para aquele exato momento (catecolaminas, glucagon, cortisol e hormônio
(correção de hipoglicemia ou hiperglicemia de crescimento), em resposta à hipoglicemia no
transitória) ou mais definitivas e complexas meio da madrugada. Deve ser cogitado em
(envolvendo insulina, alimentação e atividade pacientes que, apesar da hiperglicemia matinal,
física). clinicamente estão bem (p.ex., ganhando peso,
Hemoglobina glicada sem sintomas de descompensação, como
A HbA1c constitui 4 a 6% da hemoglobina poliúria e polidipsia), ou, ainda, naqueles
total, e seus valores refletem a média das queixando-se de distúrbios do sono (insônia,
glicemias durante os últimos 2 a 3 meses, que pesadelos etc.) ou cefaleia ao acordar. O
é o tempo de sobrevida das hemácias. A tratamento consiste em diminuir a dose da
HbA1c é considerada o padrão-ouro na insulina NPH ou lenta aplicada à noite e/ou
avaliação do controle glicêmico, devendo ser fornecer mais alimentos na hora de deitar.
realizada a cada 3 a 4 meses. A ADA tem Fenômeno do alvorecer: tem sido observado
recomendado como meta níveis de HbA1c < em até 75% dos diabéticos tipo 1, na maioria
7%. daqueles com DM2 e também em indivíduos
Condições que falsamente aumentam a normais. Caracteriza-se por redução da
HbA1c (uremia, hipertrigliceridemia, sensibilidade tissular à insulina, entre 5 e 8
alcoolismo crônico, uso crônico de salicilato e horas. Aparentemente, é desencadeado pelos
opiáceos, anemias por carência de ferro, picos de hormônio de crescimento, liberado
vitamina B12 ou folato etc.) ou diminuem horas antes, no início do sono. Mais
(anemia hemolítica, estados hemorrágicos, recentemente, a queda nos níveis do IGF-1
hemoglobinopatias, gravidez) seus valores. passou, também, a ser implicada no
especiais aparecimento do FA. Tentativas de corrigir essa
hiperglicemia com o aumento da dose da NPH

30
noturna frequentemente resultam em um pico Assim como no DM tipo 1, aqui também
de insulina que não coincide com a temos uma interação entre fatores genéticos e
hiperglicemia do alvorecer, provocando, ambientais. Indivíduos geneticamente
paradoxalmente, hipoglicemia entre 3h e 5h da propensos têm maior chance de desenvolver
manhã, piorando ainda mais o controle DM tipo 2 quando expostos a ganho de peso e
glicêmico. A aplicação da NPH ao deitar tem, inatividade física, eventos que acarretam
em alguns pacientes, atenuado ou resolvido o resistência à insulina. A hiperglicemia crônica,
problema. Entretanto, ocasionalmente, apenas juntamente com a hiperlipemia, agrava a
o uso da bomba com aumento da insulina basal resistência insulínica e o deficit secretório
entre 5h e 8h da manhã consegue controlar a (efeitos “glicotóxico” e “lipotóxico”), gerando
glicemia. um ciclo vicioso que evolui com
descompensação metabólica progressiva.
Curiosamente, a influência genética no
DM tipo 2 é maior do que no DM tipo 1. A
DIABETES MELLITUS concordância entre gêmeos univitelinos, por

TIPO 2 exemplo, beira os 100%!!! Todavia, vale


ressaltar que, mesmo nesses casos, a história
natural da doença tende a ser modulada em
Enquanto no DM tipo 1 o problema é a função do estilo de vida (ex.: quanto mais obeso
destruição das células beta (autoimune ou e sedentário for o paciente, mais rapidamente o
idiopática), levando ao hipoinsulinismo DM tipo 2 se instala e evolui)... Sabemos que a
absoluto, no DM tipo 2 os fatores que maioria dos casos tem herança poligênica.
justificam a hiperglicemia são: (1) resistência A gênese da “exaustão” secretória das
à insulina; e (2) deficit secretório das células células beta também vem sendo elucidada... Nas
beta. Acredita-se que ambos sejam necessários fases iniciais, ocorreria uma hipossensibilidade
para a expressão clínica da doença, e parece da célula beta à glicose, devido à menor
que a resistência à insulina surge primeiro, expressão do canal de glicose GLUT 2 na
fazendo com que a célula beta trabalhe em membrana. A causa desse fenômeno é
excesso até atingir uma “exaustão” secretória desconhecida. O fato é que haveria, como
(ver Gráfico 1). O resultado é o consequência, uma resposta subnormal na
hipoinsulinismo “relativo”, isto é, a insulina secreção de insulina pós-prandial, justificando a
pode estar “normal” ou mesmo alta, mas é hiperglicemia neste período. Outro fator que
sempre insuficiente para manter a homeostase contribuiria para uma menor resposta
da glicose. pancreática ao pico de glicose pós-prandial é a

31
deficiência de incretinas (cuja causa é estado hiperosmolar não cetótico, principal
igualmente desconhecida)... Nas fases mais complicação aguda do DM tipo 2. Um
avançadas, ocorre algum grau de destruição importante sinal clínico é a acantose nigricans
das células beta, momento em que costuma ser (ou nigricante) – ver adiante. Toda vez que você
necessário insulinizar o paciente. A explicação encontrar esta lesão na prática, pense em duas
é a seguinte: à medida que a resistência à possibilidades diagnósticas principais: (1)
insulina progride, forçando a célula beta a resistência à insulina (ex.: DM ou pré-diabetes);
sintetizar mais insulina, ocorre acúmulo (2) neoplasia maligna (ex.: Ca de pulmão ou do
intracelular de uma substância cossintetizada: trato gastrointestinal – principalmente se o
a amilina. Esta se precipita dentro da célula acometimento for extenso, rápido e envolver
beta, formando depósitos amiloides palmas e solas).
patogênicos...

QUADRO CLÍNICO
O diagnóstico de DM tipo 2 costuma
ser tardio, uma vez que muitos pacientes
passam anos ou mesmo décadas
completamente assintomáticos! Não raro (em
cerca de 50% dos casos), o reconhecimento da
doença só é feito quando lesões de órgão-alvo
já estão presentes e são irreversíveis... O
paciente típico é adulto (> 40-45 anos), obeso,
sedentário e possui outros fatores de risco
cardiovascular, mas vale lembrar que a
incidência em crianças e adolescentes está
aumentando (em função da pandemia de
obesidade). Com menos frequência, sintomas
de franca hiperglicemia podem ser referidos
Acantose nigricans é uma lesão cutânea
(poliúria, polidipsia) sendo raríssimo o
hiperpigmentada e de aspecto aveludado que
surgimento de cetoacidose diabética (a
predomina em áreas de dobra cutânea (ex.:
produção endógena de insulina é suficiente
axilas, virilhas, pescoço). Sua gênese provém da
para evitar a cetogênese hepática). Às vezes, o
estimulação de queratinócitos e fibroblastos da
diagnóstico é firmado na vigência de um

32
pele (pela hiperinsulinemia, nos casos de geralmente hipocalórica, pois cerca de 80 % da
resistência à insulina, ou pela secreção população diabética é obesa.
ectópica de fatores de crescimento, no caso A redução da ingestão calórica diminui
das neoplasias). rapidamente a glicemia de jejum e melhora a GJ,
antes mesmo da redução do peso. Nas
obesidades refratárias {lMC >27 kg/m 2),
TRATAMENTO
podem ser utilizados agent es supressores do
MUDANÇAS NO ESTILO DE VIDA
apetite, indutores da saciedade ou redutores da
1)Educação
absorção de gorduras. A cirurgia bariátrica,
2)Dieta
indicada na obesidade mórbida {IMC > 35
3)Exercícios
kg/m1), melhora ou normaliza a glicemia em
77% dos pacientes.
Educação e cuidados gerais
A ingestão de colesterol deve ser inferior
a 200 mg/dia. Esteróis de plantas e ésteres de
Instruir detalhadamente o paciente
estanol podem ser vantajosos, assim como os
sobre a doença e suas consequências e
ácidos graxos Ômega 3, presentes em peixes,
estabelecer metas quanto a mudanças no estilo
óleos decano-la, de soja e de nozes. Sugere-se a
de vida e controle metabólico. Cuidar da
ingestão diária de carboidratos ( 45 a 60% da
higiene, tratar lesões de pele e evitar o fumo.
energia total), particularmente os ricos em
Orientar sobre o uso de sapatos especiais ( na
fibras, com baixo índice glicêmico.Os adoçantes
presença de calosidades ou deformidades) e
não calóricos são úteis.
cremes hidratantes. Atuar nos problemas
A adição de frutose,que agrava a
psicossociais e prover suporte psicológico,
resistência à ação da insulina e a
quando indicado.
trigliceridemia,não é recomendada. A sacarose
não deve ultrapassar10% da energia total da
Dieta
dieta.As proteínas contribuem com 15 a 20% da
Fundamental no controle do diabete. O
energia total da dieta.
acesso a uma lista de equivalentes alimentares
quanto à composição e ao valor calórico dos
Exercícios físicos
alimentos confere flexibilidade à dieta e maior
A atividade física é tópico importante no
adesão ao tratamento. A dieta pode ser
tratamento dos pacientes com diabetes. A
fracionada em 3 refeições principais e, se
diminuição das concentrações plasmáticas de
necessário. 3 intermediárias,e o plano
glicose e a melhora da sensibilidade á insulina
alimentar deve ser individualizado. A dieta é

33
se mantém por até 48 horas após uma sessão não têm necessariamente o efeito de causar
de exercícios já o treinamento físico potenciali za os hipoglicemias, sendo chamadas,mais
efeitos agudos do exercício, reduz o risco de doença apropriadamente, antidiabéticas.
cardiovascular e melhora a qualidade de vida. Os antidiabéticos podem ser classificados
Durante o exercício físico, a energia conforme sua ação em 5 grandes grupos, além da
necessária para a contração muscular provém insulina. (Por motivos didáticos aqui só serão
inicialmente do metabolismo dos carboidratos e exemplificados os dois grupos mais usados:
gorduras. Ocorre aumento dos hormônios de secretagogos de insulina e os sensibilizadores
crescimento, do glucagon, da norepinefrina e do de insulina).
cortisol, além da queda fisiológica da insulinemia,
favorecendo a quebra rápida dos estoques de Medicamentos que aumentam a
glicogênio (glicogenólise) muscular e hepático e a
secreção de insulina
gliconeogênese (síntese hepática de glicose a
partir de lactato e aminoácidos), fornecendo
1) Sulfonilureias (Glibenclamida, Glipizida
glicose para o músculo executar os movimentos.
e Glicazida, Glimepirida)

TRATAMENTO As sulfonilureias são as mais antigas


MEDICAMENTOSO drogas utilizadas no tratamento do DM2, e estão
1) Medicamentos que aumentam a secreção de disponíveis desde 1954. Atuam na célula-beta
insulina aumentando a secreção da insulina basal e é
(secretagogos de insulina): sulfonilureias e estimulada após as refeições. O mecanismo de
glinidas. ação das sulfonilureias é dependente do
2) Medicamentos sensibilizadores da ação da pâncreas funcionante, estimulando a secreção
insulina: da insulina endógena pelo fechamento dos
biguanidas e glitazonas. canais de potássio das células-beta.

Para o tratamento medicamentoso do


DM2, estão disponíveis vários tipos de drogas,
com mecanismo de ação variável, que devem ser
empregadas isoladamente ou em combinação, de
acordo com a apresentação clínica e comas metas
glicêmicas objetivadas para cada paciente. As
drogas,antigamente chamadas hipoglicemiantes,

34
Tipos de sulfonilureias

A ***glibenclamida*** é a sulfonilureia mais comercializada no Brasil, apresentada por com


primidos de 5 mg (dose usual de 2,5 a 20 mg/dia) e metabolizada pelo fígado. Os efeitos duram de 16
a 24 horas, e pode ser administrada de 1 a 3 vezes/dia. O principal efeito colateral é a hipoglicemia,
e alguns pacientes também podem apresentar ganho de peso.

A glipizida está disponível em comprimidos de 5 mg. Ela é metabolizada no fígado em


produtos inativos - o que reduz o risco de hipoglicemia - e a excreção é predominantemente renal
(80%). A meia-vida é de 2 a 4 horas. A dose usual é de 2,5 a 20 mg/dia. Ela é uma boa opção para
idosos, bem como para pacientes com doença hepática ou renal leves.

A glicazida <3 é também metabolizada por via hepática em produtos inativos, com excreção
predominantemente renal (80%). Ela está disponível em comprimidos de 30 mg e 6-0 mg, que podem
ser administrados em uma única tomada diária (30 a 120 mg). Pacientes Cardiopatas <3

A $$$glimepirida$$$ tem meia-vida ao redor de 5 horas e tempo de ação aproximado de 24


horas. Está disponível em comprimidos de 1, 2, 4 e 8 mg. A dose diária é de 1 a 8 mg e a administração
é feita geralmente 1 vez/dia. Os metabólitos são, em maioria, inativos (60% de excreção renal). Muito
Boa no grupo, porém cara!!!

Efeitos adversos quando ocorre associação com outras drogas,

O efeito adverso mais comum é a como acarbose ou metformina, podendo chegar

hipoglicemia. O risco do paciente apresentar próximo a 5 a 7% do peso corporal basal.

um quadro de hipoglicemia depende não só do Contraindicações


tipo e da dosagem de sulfonilureia ingerida, O uso de sulfonilureias está
como também da alimentação, excesso de contraindicado em pacientes com insuficiência
atividade física, ingestão excessiva de renal ou hepática graves, durante a gravidez
bebidas alcoólicas, idade do paciente ou de ou a amamentação. em pacientes portadores de
outras doenças associadas (p. ex., DM1, após cirurgias de grande porte,
insuficiência hepática, insuficiência renal). complicações hiperglicêmicas agudas
Outro efeito adverso importante é o (cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar
ganho de peso, relacionado principalmente ao não cetótica) e história de reação adversa à
aumento de insulina sérica, sendo menor sulfonilureia e/ou ao composto similar.

2
Glinidas A única biguanida disponível no

As glinidas pertencem a uma família de mercado brasileiro é a metformina. O outro

medicamentos secretagogos de insulina não representante do grupo, a fenformina, não é mais

sulfonilureias. São fármacos desse grupo a utilizada por predispor à acidose lática.

repaglinida, derivada do ácido benzoico, e a A metformina reduz a glicemia por meio

nateglinida, derivada do aminoácido 0 - do aumento da sensibilidade periférica à

fenilalanina. Apesar de pertencerem ao mesmo insulina, inibição da gliconeogênese hepática,


grupo farmacológico, a repaglinida e a retardo na absorção intestinal da glicose e

nateglinida possuem características aumento dos níveis endógenos de GLP-1.

farmacológicas diferentes. O principal mecanismo de ação da

A repaglinida tem início de ação após 10 metformina é a inibição da produção hepática de

minutos e ação dura entre 3 e 5 horas. Ela tem glicose sendo a via preponderante a

metabolização hepática e excreção gliconeogênese. No adipócito, a metformina

predominantemente por via fecal (90%). A inibe a lipólise e a disponibilidade de AGL. No

nateglinida tem início de ação após 4 minutos nível celular, foi demonstrado que a metformina

e a duração de ação é de 2 horas em média. Sua aumenta a atividade da tirosinoquinase do

excreção ocorre quase totalmente por via renal. receptor da insulina, estimulando a translocação

O mecanismo de ação das glinidas é do GLUT4 e a atividade da glicogênio-sintetase.

semelhante ao das sulfonilureias. Elas A metformina é absorvida

aumentam a secreção insulínica pelas células- principalmente no intestino delgado, meia -vida

beta do pâncreas, atuando nos canais de é ao redor de 2 a 5 horas e concentração sérica

potássio ATP-dependentes, porém em sítios d maior é atingida após 1,5 a 2 horas. Não sofre

e ligação diferentes daqueles das metabolização hepática, sendo excretada pelos

sulfonilureias. rins por meio da filtração glomerular e da


excreção tubular,sem sofrer alterações .
Pode ser encontrada em comprimidos de

Medicamentos sensibilizadores do 500 mg, 850 mg e 1 g e, para evitar os efeitos


adversos gastrointestinais e retardar a absorção
ação da insulina: Biguanidas
da droga, deve ser administrada junto ou
(Metformina) e Glitazonas (estas não
imediatamente após a alimentação.
serão abordadas) A dose inicial é de 500 mg após o
jantar, sendo aumentada para 850 mg, ou duas
Biguanidas (METFORMINA) tomadas ao dia (geralmente após o café da

2
manhã e o jantar) de 500 mg após uma semana. em associação com modificações do estilo de
Após isso. o reajuste das doses deve ser vida.
gradual, de preferência a cada 10 a 15 dias,
evitando, assim,que ocorram os efeitos Efeitos adversos
adversos e até que se tenha um bom controle Entre os efeitos adversos, a hipoglicemia
glicêmico, ou a dose máxima seja atingida (2,5 é rara e está associada geralmente ao uso
g/dia ). concomitante de sulfonilureia ou insulina, ou
No mercado brasileiro, está disponível nos pacientes que fazem uso excessivo de
também a metformina de liberação prolongada álcool. Podem ocorrer sintomas
(500mg, 750mg o u 1 g), indicada em uma gastrointestinais em cerca de 20% dos pacientes
única tomada diária, juntamente com a (como náuseas, diarreia, dor abdominal,
refeição noturna, melhorando dispepsia).
significativamente a incidência de efeitos Os sintomas geralmente são transitórios,
adversos gastrointestinais. e são raros os casos ( < 5%) que exigem o
Indicações abandono do tratamento por conta desses
A metformina está indicada em sintomas. O efeito adverso mais temido,
associação ao plano alimentar para o principalmente pela elevada taxa de
tratamento do DM2 (isoladamente ou morbimortalidade, é a acidose lática. Ela ocorre
associada a outros hipoglicemiantes orais e/ou raramente (3 a 5 casos/100.000 pacientes/ano
insulina), eventualmente para a intolerância à de tratamento), e geralmente está associada a
glicose, DM2 em crianças e adolescentes e alguma disfunção renal, insuficiência cardíaca
síndrome dos ovários policísticos. Estas congestiva e hipóxia, levando ao acúmulo da
últimas indicações estão frequentemente droga. Também pode ser observada, em alguns
associadas à síndrome metabólica. Trabalhos casos, menor absorção de vitamina B12, pelas
têm demonstrado seu efeito benéfico para o alterações causadas na membrana do íleo distal.
sistema cardiovascular.
Atualmente, como recomendação por Contraindicações
praticamente todas as sociedades médicas, a O uso da metformina está contra
metformina é considerada a droga de indicado nos portadores de doenças hepáticas
primeira escolha no tratamento dos crônicas ( transaminases maiores do que 3 vezes
portadores de DM2 recém-diagnosticados, o limite superior do método), doença pulmonar
sendo indicada a utilização já ao diagnóstico, obstrutiva crônica descompensada, fase
aguda do infarto do miocárdio, alcoolismo,

3
descompensação cetoacidótica, estados Entretanto, existem situações em que outras
hiperosmolares e em crianças com menos de opções precisam ser utilizadas.
10 anos de idade. Alguns pacientes têm efeitos colaterais
Sua principal contraindicação é importantes, a maioria relacionados ao sistema
insuficiência renal: recomenda-se que a dose digestivo. Nesta situação, outra opção deve ser
seja corrigida de acordo com a taxa de filtração utilizada. Peso, idade do paciente,
glomerular. comorbidades associadas e até o custo devem
Nos casos de: ser considerados. Uma situação em que pode
- Cirurgia, ser preciso outra opção é quando o grau de
Exames radiológicos com contraste descompensação ao diagnóstico é tão intenso
- Admissão hospitalar por doença que a única possibilidade de tratamento é a
grave, administração de insulina em 1, 2 ou múltiplas
a droga pode ser suspensa no dia ou na véspera doses.
do procedimento, devendo reiniciar o uso após Uma vez iniciado o tratamento,
48 horas. No caso de estabelece-se um prazo para se avaliar a
doença grave, a droga deve ser evolução em relação às metas estabelecidas.
retirada imediatamente. Conforme a necessidade, prescreve-se um
segundo agente, conforme as características do
ESTRATÉGIAS PARA paciente.

IMPLEMENTAÇÃO DO Havendo tolerabilidade, aguarda-se mais


um período para reavaliação; não se atingindo o
TRATAMENTO
alvo, alguns estudos indicam a possibilidade da
MEDICAMENTOSO
adição de uma terceira droga.
Em qualquer momento do tratamento,
O objetivo do tratamento
a adição da insulina pode ser necessária.
medicamentoso é atingir o alvo glicêmico
estabelecido para cada paciente baseado no
risco, benefício e recursos disponíveis, dentro
USO DA INSULINA NO DIABETES
da melhor evidência científica.
TIPO 2
A metformina permanece sendo a
droga de primeira escolha para início do
A insulinização do paciente portador do
tratamento, logo no diagnóstico do DM2,
DM2 pode ser necessária em qualquer momento
beneficiando a maior parte dos pacientes.
do tratamento: ao diagnóstico, se o paciente

4
estiver gravemente descompensado, em alto risco de desenvolvimento de complicações
situações agudas e quando, apesar do uso de micro e macrovasculares, bem como de
vários outros agentes, o paciente deixa de neuropatias. Desta forma, o DM é considerado
responder à terapêutica anti- causa de cegueira, insuficiência renal e
hiperglicemiante (medicamentos orais). amputações de membros, sendo responsável por
A insulinização pode ser temporária, gastos expressivos em saúde, além de
em uma situação aguda ou quando houver um substancial redução da capacidade de trabalho e
fenômeno de glicotoxicidade para as células- da expectativa de vida (SCHMIDT et al., 2010).
beta, ou definitiva, quando a reserva insulínica Por isso, a detecção de retinopatia,
se encontrar definitivamente comprometida. nefropatia, neuropatia e pé diabético deve ser
Em condições normais, opta-se realizada em tempo oportuno, com definição de
inicialmente por uma dose de insulina basal, responsabilidades compartilhadas entre a
mantendo-se a medicação prévia. Atenção Básica e os demais níveis de atenção,
Finalmente, em caso de falência de para acompanhamento e seguimento do caso.
todos os esquemas,opta-se pelo esquema As complicações do DM podem ser
basal-bolus, utilizado no tratamento do DM1, classificadas em complicações agudas
em que se administra insulina basal e insulina (hipoglicemia, cetoacidose e coma
ultrarrápida pré-prandial para corrigir a hiperosmolar) e crônicas, como a retinopatia, a
glicemia e metabolizar os carboidratos nefropatia, e a neuropatia diabéticas.
ingeridos. Complicações agudas do diabetes
As complicações agudas do DM incluem

COMPLICAÇÕES a descompensação hiperglicêmica aguda, com


glicemia casual superior a 250 mg/dl, que pode
AGUDAS evoluir para complicações mais graves como

O diabetes mellitus (DM) não cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar

controlado pode provocar, a longo prazo, hiperglicêmica não cetótica, e a hipoglicemia,

disfunção e falência de vários órgãos, com glicemia casual inferior a 60 mg/dL.

especialmente rins, olhos, nervos, coração e As complicações agudas do DM incluem

vasos sanguíneos. Estudos epidemiológicos a descompensação hiperglicêmica aguda,

sustentam a hipótese de uma relação direta e representadas pela cetoacidose diabética e

independente entre os níveis sanguíneos de síndrome hiperosmolar hiperglicêmica não

glicose e a doença cardiovascular. Também cetótica, e a descompensação hipoglicêmica.

está associado ao aumento da mortalidade e ao

5
Essas complicações costumam requerer ação Fundamentalmente, o que ocorre na
imediata dos indivíduos que entornam o CAD é a redução na concentração efetiva de
paciente, pois podem se agravar de maneira insulina circulante associada à liberação
acelerada levando a prejuízos permanentes, excessiva de hormônios contra-reguladores,
possivelmente fatais. A orientação adequada entre eles, o glucagon, as catecolaminas, o
ao paciente e à família e a disponibilidade de cortisol e o hormônio de crescimento. Ainda, a
um serviço de pronto atendimento são combinação de deficiência de insulina com o
fundamentais para auxiliar a pessoa a impedir aumento de hormônios contra-reguladores
que o quadro evolua para quadros clínicos provoca a liberação excessiva de ácidos graxos
mais graves. livres do tecido adiposo (lipólise), que no fígado
serão oxidados em corpos cetônicos, (ácidos β-
Descompensação hiperglicêmica hidroxibutírico e acetoacético) resultando em
aguda cetonemia e acidose metabólica.
Por outro lado, no EHH a concentração
Tanto a cetoacidose diabética(CAD)
de insulina que é inadequada para promover a
quanto a síndrome hiperosmolar
utilização de glicose nos tecidos periféricos é ao
hiperglicêmica não cetótica(EHH) tem como
mesmo tempo suficiente para sustar a lipólise
característica base um aumento exacerbado
das taxas glicêmicas, diferenciando-se entre sí
pelo mecanismo de progressão que depende
diretamente de características metabólicas
especificas e inerentes ao indivíduo.
É importante notar que tal quadro
hiperglicêmico pode ter como origem a tanto a
própria DM de maneira isolada, através de
desconhecimento da doença por parte do
paciente ou má adesão ao tratamento, quanto
ser precipitado/potencializado por outros
fatores, como infecções, patologias
pancreáticas, hepáticas, renais, ou interações
medicamentosas. Em suma, a hiperglicemia é
resultante de três mecanismos, ou seja,
ativação da gliconeogênese, da glicogenólise e
redução da utilização periférica de glicose.

6
acentuada e a cetogênese, como normalmente variáveis, diurese osmótica e perda de fluidos e
ocorre de forma intensa na CAD. eletrólitos.
Em resumo, essas alterações Através do entendimento da
hormonais na CAD e no EHH desencadeiam o fisiopatologia de ambos os quadros podemos
aumento da produção hepática e renal de tirar uma conclusão importante o fator
glicose e redução de sua captação nos tecidos determinante se a Hiperglicemia vai cursar com
periféricos sensíveis à insulina, resultando CAD ou EHH é a presença ou não de insulina.
assim, em hiperglicemia e consequente Para o surgimento da CAD é necessário a

hiperosmolalidade no espaço extracelular. Em ausência absoluta ou parcial da insulina, sendo


ambas as situações, na CAD e no EHH apresentação mais comum em pacientes com
observam-se desidratação e glicosúria de graus DM1 e pacientes com DM2 cursando

7
tipicamente com EHH. Vale lembrar que por generalizada, sugerindo o quadro de abdômen
mais que CAD e EHH sejam mais comum em agudo. Em alguns casos ocorre dilatação, atonia
DM1 e DM2 respectivamente, eles não são e estase gástrica agravando o quadro de vômitos.
exclusivos e uma série de fatores associados O atraso no início do tratamento da acidose e da
pode mudar essa associação. Um bom exemplo desidratação pode evoluir com choque e morte.
seria o paciente de DM2 que, com histórico
antigo de doença, cursa com falência Achados laboratoriais
pancreática e consequente redução da A avaliação laboratorial inicial de
disponibilidade endógena de insulina, levando pacientes com CAD e com EHH deve incluir a
a um quadro de CAD. determinação de glicose plasmática, fósforo,
Figura 1: Fisiopatologia da cetoacidose ureia, creatinina, cetonemia, eletrólitos
diabética e do estado hiperglicêmico
inclusive com o cálculo de anion gap, análise
hiperosmolar (adaptada de Kitabchi e col)
urinária, cetonúria, gasometria, hemograma e
História e exame físico eletrocardiograma. Quando necessário, solicitar

O quadro clínico da CAD e do EHH radiografia de tórax e culturas de sangue e urina.


representa evolução lenta e progressiva dos Os critérios diagnósticos para CAD são

sinais e sintomas de diabetes mellitus glicemia ≥ 250 mg/ dL, pH arterial ≤ 7,3,

descompensada. Entre eles, poliúria, bicarbonato sérico ≤ 15 mEq/L e graus variáveis

polidipsia, perda de peso, náuseas, vômitos, de cetonemia. Em alguns casos a glicemia pode-

sonolência, torpor e finalmente, o coma, uma se encontrar normal ou levemente alta devido ao

ocorrência mais comum no EHH. Ao exame uso prévio e inadequado de insulina ou história

físico, na presença de acidose, pode-se de alcoolismo. A CAD é definida como grave

observar a hiperpneia, e em situações mais quando evoluir com pH venoso < 7,0, moderada

graves a respiração de Kussmaul. A entre 7,0 e 7,25 e leve entre 7,25 e 7,3. Para o

desidratação com pele seca e fria, língua seca, diagnóstico de EHH: glicemia > 600 mg/dL,

hipotonia dos globos oculares, extremidades osmolalidade sérica > 320 mOsm/kg. Além

frias, agitação, fácies hiperemiada, hipotonia disso, bicarbonato ≥ 15 mEq/L e discreta

muscular, pulso rápido e pressão arterial cetonemia.

variando do normal até o choque. A A maioria dos pacientes com crises

intensificação da desidratação dificulta e torna hiperglicêmicas agudas se apresenta com

doloroso o deslizamento dos folhetos da pleura leucocitose que pode traduzir em apenas intensa

e do peritônio, podendo se observar defesa atividade adrenocortical. O sódio sérico


muscular abdominal localizada ou geralmente é baixo na CAD, pela transferência
osmótica de líquidos do espaço intra para o
8
extracelular, vômitos e também, pela perda também que pacientes com episódios crônicos
renal associada aos corpos cetônicos. No de hipoglicemia podem não apresentar ou ter os
diagnóstico da CAD o potássio sérico pode ser sintomas autonômicos de forma atenuada, o que
elevado, secundário à acidose, normal ou de forma alguma representa uma ausência de
baixo, dependendo das reservas prévias nos dano neurológico a cada novo episódio.
espaços intra e extracelulares e exige muito Fatores de risco para hipoglicemia
cuidado durante o tratamento pelo risco de incluem idade avançada, abuso de álcool,
arritmias ou até parada cardíaca. Os valores de desnutrição, insuficiência renal, atraso ou
fosfato plasmático podem se encontrar omissão de refeições, exercício vigoroso,
normais ou aumentados no diagnóstico e consumo excessivo de álcool e erro na
tendem a diminuir com a terapia insulínica. A administração de insulina ou de hipoglicemiante
elevação da ureia e da creatinina reflete a oral.
depleção de volume intravascular. Outros A grande maioria das hipoglicemias é
achados são a hipertrigliceridemia e a leve e facilmente tratável pelo próprio paciente.
hiperamilasemia que quando acompanhada de A hipoglicemia pode ser grave quando a pessoa
dor abdominal podem sugerir o diagnóstico de ignora ou trata inadequadamente suas
pancreatite aguda. manifestações precoces, quando não reconhece
ou não apresenta essas manifestações, ou
Hipoglicemia quando a secreção de hormônios

Hipoglicemia é a diminuição dos níveis contrarreguladores é deficiente, o que pode

glicêmicos – com ou sem sintomas – para ocorrer com a evolução da doença. Todo esforço

valores abaixo de 70 mg/dL (AMERICAN deve ser feito para prevenir tais hipoglicemias

DIABETES ASSOCIATION, 2013). graves ou tratá-las prontamente.

Geralmente, a queda da glicemia leva a É importante também lembrar que por

sintomas neuroglicopênicos (fome, tontura, mais que hipoglicemia em pacientes portadores

fraqueza, dor de cabeça, confusão, coma, de DM costuma provir do manejo inadequado

convulsão) e a manifestações de liberação do do tratamento, o quadro pode ser devido não ao

sistema simpático (sudorese, taquicardia, fato da medicação estar inadequada, mas a

apreensão, tremor) (CRYER, 2008). Os mudança do contexto do paciente. Fatores como

sintomas Autonômicos costumam surgir com comorbidades agudas, mudanças alimentares e

glicemias abaixo de 60 e os neuroglicopênicos interação com outros medicamentos podem

abaixo dos 50, com certa variação de valores pontualmente potencializar a medicação já em

de individuo a indivíduo. Vale lembrar uso e gerar quadros que, caso não corretamente
balanceados, tem potencial de causar eventos

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hipoglicemigos a curto prazo e posteriormente, gorduras, por exemplo, um copo de leite (300
com a retirada do fator potencializador, causar mL).
eventos hiperglicemicos graves.
A detecção precoce da hipoglicemia
COMPLICAÇÕES
evita seu agravamento. Para tanto é necessário
identificar os sinais precoces como sudorese, CRÔNICAS
cefaleia, palpitação, tremores ou uma sensação
As complicações crônicas do DM afetam
desagradável de apreensão. Quando isso não
muitos sistemas orgânicos e são responsáveis
ocorre, a cooperação da família, amigos e
pela maior parte de morbidade e mortalidade
colegas é fundamental; eles podem alertar para
relacionada a doença. As complicações crônicas
um sinal de hipoglicemia quando esta ainda
do DM podem ser dividas entre vasculares e não
não foi percebida pelo paciente. O tratamento
vasculares, este primeiro grupo subdividido
precisa ser imediato, com pequena dose de
entre, microvasculares (nefropatia, retinopatia)
carboidrato simples (10 g a 20g), repetindo-a
e macrovasculares (doença cardiovascular) e
em 15 minutos, se necessário. Em geral, 10 g
neuropáticas. O segundo grupo é representado
de carboidrato simples estão presentes em duas
por problemas como gastroparesia, infecções e
colheres de chá de açúcar, 100 ml de suco de
alterações cutâneas. Nesta seção vamos nos ater
fruta ou duas balas.
as complicações vasculares, mais comuns e mais
A hiperglicemia matinal persistente
nocivas ao prognóstico dos pacientes.
precisa ser investigada como consequência de
Patogênese
hipoglicemia noturna (efeito Somogyi). O
Durante o estado hiperglicêmico de
diagnóstico diferencial com o efeito do
longa duração no DM, a glicose forma pontes
alvorecer (hiperglicemia matinal por
covalentes com as proteínas plasmáticas através
deficiência de insulina, agravada pela secreção
de um processo não enzimático, conhecido
de hormônios contrarreguladores de
como glicação. A glicação proteica e a formação
madrugada) é necessário para definir a conduta
de produtos finais de glicação avançada (AGEs)
adequada. O efeito Somogyi requer redução da
desempenham um papel importante na
dose ou revisão do horário de aplicação da
patogênese das complicações diabéticas
insulina noturna; o efeito do alvorecer requer
(retinopatia, nefropatia e neuropatia). A glicação
aumento da dose de medicação em uso e com
das proteínas interfere nas funções normais pela
frequência ajuste de horário da insulina
modificação das conformações moleculares,
noturna. Para prevenção da hipoglicemia
alterando a atividade enzimática e interferindo
noturna, pode-se orientar um lanche antes de
no funcionamento dos receptores. Os AGEs
dormir que contenha carboidratos, proteínas e

10
ligam-se não apenas às proteínas, mas também 1. Complicações microvasculares
aos lipídios e ácidos nucleicos, favorecendo as 2. Nefropatia diabética.
complicações diabéticas. Estudos recentes
A nefropatia diabética (ND) é uma
também sugerem que os AGEs interagem com
complicação crônica do diabetes que afeta 20%
receptores localizados na membrana
a 30% das pessoas com diabetes mellitus tipo 1
plasmática (RAGE), para alterar a sinalização
ou DM2, sendo responsável por
intracelular, a expressão gênica e a liberação
aproximadamente metade dos novos casos de
de citocinas pró-inflamatórias, citocinas pró-
insuficiência renal nos indivíduos em diálise e
escleróticas e radicais livres, o que contribui
tendo sido associada a aumento significativo da
ainda mais para o desenvolvimento e a
mortalidade, principalmente cardiovascular.
progressão das complicações diabéticas.

A presença de pequenas quantidades de terminal é a insuficiência renal. Indivíduos com


albumina na urina representa o estágio inicial ND apresentam outras condições crônicas
da nefropatia diabética (microalbuminúria ou associadas, como retinopatia diabética, doença
nefropatia incipiente). O estágio avançado macrovascular e hipertensão arterial sistêmica.
caracteriza a nefropatia clínica A ND classifica-se em estágios baseados
(macroalbuminúria ou proteinúria) e a fase na excreção urinária de albumina (EUA):

11
microalbuminúria ou fase de nefropatia O rastreamento para ND deve ser
incipiente com EUA entre 30-300mg/24h ou iniciado ao diagnóstico em pessoas com DM2,
20-200mg/min; macroalbuminúria ou fase de uma vez que 7% delas já têm microalbuminúria
nefropatia clínica, caracterizada por EUA nesse momento. Nos indivíduos com DM1, a
superior a 300mg/24h ou 200mg/min; e fase de primeira triagem tem sido recomendada cinco
insuficiência renal terminal. anos após o diagnóstico. No entanto, a
A microalbuminúria, apesar de ser prevalência de microalbuminúria antes dos
considerada um fator de risco para cinco anos de diagnóstico nesse grupo pode
macroalbuminúria, não ocorre em todos os chegar a 18%, principalmente em pessoas com
casos, podendo inclusive regredir para controle glicêmico inadequado, dislipidemia e
normoalbuminúria. Alguns indivíduos, apesar hipertensão arterial sistêmica.
do controle glicêmico inadequado, não O tratamento da ND deve ser realizado
desenvolvem nefropatia diabética nos precocemente, a fim de se evitar a progressão da
primeiros 10 a 15 anos da doença, estando doença e, também, porque a redução da
aparentemente protegidos dessa complicação. albuminúria diminui o risco de eventos
Por isso, acredita-se que haja um fator genético cardiovasculares. O objetivo do tratamento é
predisponente, além dos fatores de risco impedir a progressão de micro para
habituais, como hiperglicemia, hipertensão macroalbuminúria, o declínio da função renal
arterial, dislipidemia e tabagismo, que em indivíduos com macroalbuminúria e a
contribuem para a ND. ocorrência de eventos cardiovasculares.
Inicialmente, o paciente apresenta Quando a microalbuminúria se
hiperfiltração, com valores elevados na taxa de estabelece, deve-se iniciar o bloqueio do sistema
filtração glomerular (TFG), e eventualmente já renina- -angiotensina com inibidor da enzima de
pode apresentar microalbuminúria. Essas conversão da angiotensina (iECA). Este
alterações duram em torno de cinco anos. medicamento deve ser prescrito inclusive para
Durante 20 anos de evolução do pessoas normotensas, a partir da puberdade. Ao
diabetes, o indivíduo pode exibir declínio mesmo tempo, o tratamento da hipertensão
gradual da TFG e microabuminúria arterial reduz drasticamente o risco de eventos
persistente, que evolui para proteinúria. A cardio e microvasculares em pacientes com
etapa final da história natural da doença diabetes.
caracteriza-se por proteinúria grave, com ou
sem síndrome nefrótica e insuficiência renal 3. Retinopia Diabética
crônica, levando à fase renal terminal (end
stage renal disease — ESRD).

2
A retinopatia diabética (RD) é a Pode-se classificar a RD em retinopatia
principal causa de novos casos de cegueira não proliferativa (RDNP) e proliferativa (RDP).
entre 20 e 74 anos. No DM2 a RD já está A Tabela 2 mostra essa classificação com mais
presente em 21% dos indivíduos recém- detalhes.
diagnosticados e pode atingir 60% dos O controle glicêmico tem um papel
pacientes após 20 anos de doença. O controle importante na atenuação do aparecimento e da
glicêmico intensivo pode postergar a RD, tanto progressão da retinopatia diabética. De modo
naqueles com DM1 como com DM2. No geral, a cada 1% de redução na hemoglobina
entanto, é importante salientar que alguns glicada (A1c) ocorre uma diminuição do risco
podem desenvolver RD mesmo com bom de retinopatia em 35%, e de progressão em 39%
controle glicêmico, e outros com controle nos indivíduos com DM1. No DM2 também foi
glicêmico inadequado estão protegidos dessa observado que para cada redução de 1% dos
complicação. níveis de A1c e de 10mmHg da pressão arterial

3
ocorre uma diminuição de 37% e 13%, presença de sintomas e/ou sinais de disfunção
respectivamente, do risco de evolução para dos nervos periféricos em diabéticos, após a
qualquer complicação microvascular. exclusão de outras causas.
Adultos e adolescentes com DM1 A neuropatia diabética abrange um
devem ter o primeiro exame de fundoscopia grupo de alterações relacionadas ao
com dilatação de pupila entre três e cinco anos envolvimento estrutural e funcional de fibras
do diagnóstico de diabetes. Já os pacientes com nervosas sensitivas, motoras e autonômicas, que
DM2 devem realizar o exame ao diagnóstico podem ser reversíveis ou permanentes.
de diabetes, haja vista que esse diagnóstico Clinicamente, manifestam-se de formas muito
muitas vezes é feito tardiamente. variáveis, desde síndromes dolorosas graves,
A principal forma de tratamento da RD agudas, secundárias a oscilações glicêmicas, até
é a fotocoagulação a laser, que pode ser formas assintomáticas.
realizada em vários padrões, dependendo das Os sinais e sintomas são parestesia, dor
alterações encontradas na retina. O fator de (queimação, pontada, choque ou agulhada) em
crescimento do endotélio vascular (VEGF) pernas e pés, hiperestesia (dor ao toque de
tem sido implicado na gênese da RD. Por isso, lençóis e cobertores), diminuição ou perda da
os antagonistas do VEGF vêm sendo utilizados sensibilidade tátil (fibras grossas), térmica ou
para inibir o extravasamento vascular do dolorosa (fibras finas), perda dos reflexos
edema macular diabético. tendinosos profundos, fraqueza e perda da
motricidade distal, úlceras nos pés.
4. Neuropatia Diabética O exame clínico é suficiente para definir

A neuropatia a

diabética (NeD) é a presença

complicação tardia mais


frequente do diabetes e
pode ser evidenciada no
DM2, muitas vezes no
momento do diagnóstico,
enquanto no DM1
geralmente aparece cinco
anos ou mais após o
diagnóstico. Uma
definição simples é a

4
de Polineuropatia Diabética (PNP), a (acidente vascular cerebral) e os membros
modalidade mais comum de ND, na maioria inferiores (doença vascular periférica), e
das vezes. Em pacientes com dor de origem acometem tanto o paciente com DM2 como
neuropática, decorrente de ND, quando o aquele com DM1. A maior causa de óbito nesses
exame clínico não for positivo, será necessário casos é a doença cardiovascular (DCV). Existem
realizar exames subsidiários para determinar diversos mecanismos que participam do
se a dor de etiologia não definida é ou não aumento do risco de doença macrovascular no
resultado da presença de ND. diabético. A hiperglicemia é apenas um deles,
As NDs não podem ser diagnosticadas como também estão envolvidos a hipertensão
com base em um único sintoma, sinal ou teste. arterial, a dislipidemia e o fumo. Há uma
São necessárias, no mínimo, duas importante sobreposição entre diabetes,
anormalidades, entre sintomas, sinais e, por hipertensão, refletindo aspectos etiológicos e
exemplo, alteração de condução nervosa, bem fisiopatológicos comuns.
como testes quantitativos de sensibilidade ou Na avaliação da DCV em pacientes
testes autonômicos quantitativos específicos, assintomáticos com diabetes, o rastreamento de
juntos, para que se possa estabelecer o rotina para doença arterial coronariana não está
diagnóstico de ND. recomendado, porque não melhora o desfecho à
A polineuropatia diabética em geral é medida que os fatores de risco de DCV são
diagnosticada tardiamente, e por isso daremos tratados.
destaque ao tratamento da dor neuropática. Em relação ao tratamento, em pacientes
Usa-se para o manejo da dor ligantes da com DCV conhecida deve-se considerar o uso
subunidade α2-δ dos canais de cálcio, como de inibidores da enzima de conversão da
Pregabalina e Gabapentina, inibidores da angiotensina (iECAs) e a terapia com aspirina e
recaptação de serotonina e de norepinefrina, estatina (se não contraindicadas), para reduzir o
como a Duloxetina e Venlafaxina e risco de eventos cardiovasculares. Em pacientes
Antidepressivos tricíclicos, como com infarto do miocárdio prévio, deve-se
Amitriptilina. utilizar betabloqueadores por pelo menos dois
anos após o evento. Em pacientes com
5. ComplicaçõesMacrovasculares insuficiência cardíaca sintomática deve-se evitar

As complicações crônicas o tratamento com tiazolidinediona. Em

macrovasculares do DM, também chamadas de pacientes com insuficiência cardíaca congestiva

doenças cardiovasculares, atingem o coração estável, a metformina pode ser empregada se a


(infarto agudo do miocárdio), o cérebro função renal estiver normal, mas deve ser

5
evitada em pacientes instáveis ou
hospitalizados com essa condição.
O pé diabético aparece como
consequência de alterações vasculares nos
membros inferiores (doença vascular
periférica) e/ou complicações neuropáticas
(polineuropatia periférica sensitivo-motora). O
Grupo de Trabalho Internacional sobre Pé
Diabético (IWGDF) relata que 40% a 60% de
todas as amputações não traumáticas de
membros inferiores são realizadas em
pacientes com diabetes e que, destas, 85% são Pé diabético com tecido de granulação exposto
precedidas por úlceras nos pés.

Pé diabético com úlcera

6
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