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MÃES DE MAIO CONTRA O TERRORISMO DE ESTADO

NOTA DE REPÚDIO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

À Sociedade Paulista e Brasileira

CRIMES DE MAIO DE 2006 – FERIDAS ABERTAS- Descaso do Governo Paulistano –


Secretaria de Direitos Humanos de São Paulo, com a dor das/os familiares de vítimas.

Frente ao descaso do Estado ao sofrimento dos familiares que tiveram seus entes queridos
assassinados pelo Estado, as Mães de Maio apoiadas pela Rede de Proteção e Resistência contra o
Genocídio solta esta nota de Repúdio e solicita apoio dos movimentos sociais, coletivos e
sociedade,juntando-se a nós submentendo suas assinaturas.
O Movimento Independente “Mães de Maio” é uma rede de Direitos Humanos autônoma de mães,
familiares, amigas/os, vítimas diretas da violência estatal, principalmente a violência policial. O movimento
nasceu a partir do maior e mais emblemático massacre da história brasileira recente, ocorrido em maio de
2006, quando, em apenas uma semana (entre os dias 12 e 20 daquele mês), agentes policiais e grupos
paramilitares de extermínio a eles ligados, executaram, segundo estudo, 564 pessoas, dentre elas 505 civis
e 59 agentes públicos, tiveram suas vidas ceifadas. As vítimas civis, com idade de 15 a 24 anos, pobres,
negros e afro-indígenas. Essa violência brutal dilacerou a vida de muitas famílias no Estado de São Paulo,
na capital e Baixada Santista, há registro de quatro jovens vítimas de desaparecimento forçado,
sequestrados por agentes da Polícia Paulista, Rota e Força Tática, jovens que jazem insepultos, sem o
direito constitucional de um enterro digno e respeitado. 1
Os Crimes de Maio foram uma violação dos direitos humano tão grave que atingiu não apenas suas
vítimas diretas, mas as famílias, sobretudo as mães que mantém pulsante o Movimento Mães de Maio.
Muitas perderam suas vidas em decorrência do sofrimento imposto, num processo de intenso adoecimento
físico e psicológico, sendo típicos quadros de hipertensão, diabete, câncer, hipertiroidismo e depressão, que
as levam a morte físíca, pois a simbólica é continuada. O direito ao atendimento psicológico às mulheres,
tem sido negligenciado, quando ocorrem, são marcados por incompreensão de alguns profissionais sobre
o fenômeno do genocídio, suas implicações e efeitos nefastos. Perdemos muitas Mães, Dona Maria
Pureza, Rita de Cássia, e Vera Gonzaga, morreram sem sequer ver avançar o processo dos seus filhos
julgados. Especialmente, esta última, a Vera, fundadora do Movimento, faleceu lutando por justiça, ante o
assassinato da sua filha, Ana Paula, grávida de nove meses de Bianca, e do seu genro, Eddie Joey.
Assim como outras nove mulheres da Baixada Santista que foram vítimas das implicações do genocídio
de seus filhos, de acordo com estudo realizado pelo Centro de Arqueologia e Antropologia Forenses da
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP),com a participação de algumas Mães de Maio como
pesquisadoras, intitulado, “Violência de Estado no Brasil: uma análise dos Crimes de Maio de 2006 na
perspectiva da antropologia forense e da justiça de transição (2018).
Nosso Movimento, fundando por quatro mulheres- mães guerreiras: Débora Maria da Silva, Ednalva
Santos, Vera de Freitas e Vera Gonzaga (falecida), conseguiu, ao longo de anos, politizar suas dores e o

1Conferir

CAAF/UNIFESP: Violência do Estado no Brasil: um estudo dos Crimes de Maio de 2006 na perspectiva da Antropologia
Forense e da Justiça de Transição. São Paulo.2018
FERNANDES, G.F. Barbárie e direitos humanos: as execuções sumárias e desaparecimentos forçados de maio (2006) em São
Paulo .2011. 142. Dissertação de Mestrado.PUC-SP.São Paulo.2011.
NOGUEIRA, Rose. (Org.). Crimes de Maio. 1.ed. São Paulo, 2006.
SZMYHIEL, Adriana, GOMES, Francilene. Desaparecidos de maio de 2006: uma história sem fim: um desafio para o serviço social
na perspectiva de direitos humanos. São Paulo, TCC, Serviço Social. 2007. PUC-SP.
luto, transformando profundamente, de forma irreversível, todo o cenário sobre as narrativas falaciosas das
autoridades do Estado e das mídias corporativistas sobre os crimes de maio, ganhou repercussão nacional
e hoje faz parte da Rede Nacional de Familiares de Vítimas de Violência Policial, bem como da Rede
Global. Somos Lei em São Paulo, desde criação, Semana Estadual das Pessoas Vítimas de Violência
no Estado de São Paulo, através da promulgação da Lei 15.501/2014, rememorada entre os dias 12 e
19 de maio.
A reparação psíquica, com o devido acompanhamento psicológico e social dos familiares de vítimas é
uma bandeira antiga e permanente do Movimento. Em julho de 2012, na Carta escrita e enviada à
Presidenta Dilma Rousseff, a pauta da reparação foi colocada e exigida a devida atenção. Todo esse
percurso de luta e exigência de atenção neste aspecto tão fundamental que é a saúde mental e atenção ao
sofrimento dos familiares de vítimas do Estado, culminou na proposta 087169/2013 do Governo Federal, e
no convênio n°800023/2013 do município de São Paulo, publicado no Diário Oficial do Município no dia
27/06/2018, efetuando a dotação de recursos da União para o projeto de reparação em territórios nas
regiões Norte, Sul e Leste de São Paulo, com recurso previsto em 1.897.283,44 (um milhão, oitocentos e
noventa mil, duzentos e oitenta três reais e quarenta centavos), tendo em vista a atualização do valor, face
ao tempo decorrido, sem a efetivação do convênio, mesmo com tantas mães morrendo pelo sofrimento.
Após muita articulação e pressão nossa, Mães de Maio e a Rede de Proteção e Resistência contra o
Genocídio de São Paulo, junto à SMDH- Secretaria Municipal de Direitos Humanos de SP, conseguimos
exigir que esta pasta enviasse ao Ministério da Saúde, gestor do recurso citado, nova solicitação de
prorrogação de vigência de execução para que pudessémos ter enfim, a chance, de executar esse projeto a
nós tão caro, em 2020. O processo agora de número 25000.229164/2013 -71, esteve tramitando no
Departamento de Ações Programáticas Estratégicas, da Secretaria de Atenção Primária à Saúde, do
Ministério da Saúde- DF, desde 09/10/2019, sendo que na data de hoje 27/11/19 fomos informadas que o
pedido de prorrogação do prazo fora indeferido pelo Ministério, no seguintes termos “Apesar da
Convenente( Secretaria de Direitos Humanos de SP) ter dado entrada no pedido dentro do prazo
legal, e em que pese a tempesĕvidade da solicitação de alteração no prazo de vigência do referido
Convênio, ante às sucessivas prorrogações desse convênio que foi firmado no ano de 2013 e diante
da apresentação de justificativas repetidas nas outras solicitações, além das dificuldades da
Convenente em executar o plano de trabalho aprovado a Coordenação Geral de Saúde Mental, Álcool
e Outras Drogas‐ CGMAD/DAPES/SAPS/MS, posiciona‐se desfavorável à prorrogação do prazo de
vigência do Convênio nº 800023/2013.”. O Minitério ainda destaca a “morosidade do orgão executivo (
SMDH) em executar as ações previstas no plano de trabalho aprovado”.
Nossa bandeira pela assistência psicológica e social aos familiares de vítimas, pauta central da luta
das Mães de Maio, foi mais uma vez negligenciada face à recusa do Governo Federal, devido a inércia do
Governo Municipal de São Paulo, em aditar o prazo do convênio acima citado. Nossa caminhada tem sido,
embora coletiva e intensa, dolorosa e, É LAMENTÁVEL, REVOLTANTE E INDIGNO, QUE FAÇAMOS
ESTE PERCURSO POR JUSTIÇA, SEM O APOIO DEVIDO DO ESTADO COM OS CUIDADOS COM AS
VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA PERPETRADA POR ELE MESMO. Faz-se urgente o atendimento ao nosso
clamor pela atenção psicológica e social. Quantas mais de nós precisarão morrer para sermos ouvidas?
Seguiremos mobilizadas, resistindo e persistindo, junto as demais centenas e milhares de familiares
vítimas da violência, em suas imprescindíveis articulações coletivas, como Mães de Maio, Mães da Leste,
Mães Mogianas, Mães de Manguinhos e Rede de comunidades e movimentos contra a Violência do Rio de
Janeiro e a Rede de Proteção e Resistência contra o Genocídio pois nas periférias da cidade, a presença do
Estado se dá dessa única forma: pela violação do principal direito humano, o direito à vida!!!!
Nossos mortos têm voz e nossa voz NÃO PRESCREVE!
Movimento Independente MÃES DE MAIO
Fábio Konder Comparato CPF: 3.322.678-49 - Jurista e professor emérito da Faculdade de Direito da
Universidade de São Paulo.

Assinaturas Institucionais:
Associação Amparar de familiares e amigos de presos e presas. Amparar
Associação Cultive
Associação de Mães e Amigos da Criança e Adolescentes em Risco AMAR Nacional
Cabaré Feminista.
Campanha Nacional Vida Viva
Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente “Mônica Paião Trevisan” (CEDECA
Sapopemba)
Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Interlagos
Centro de Direitos Humanos e Educação Popular do Campo Limpo CDHEP
CDHEP - Centro de Direitos Humanos e Educação Popular de Campo Limpo
Coletivo Ampliações
Coletivo Contra a Tortura
Coletivo DAR (Desentorpecendo A Razão)
Coletivo Democracia Corinthiana
Coletivo de Capoeira Cativeiro
COLETIVO DE ESQUERDA FORÇA ATIVA
Coletivo de Servidores Públicos em Defesa do Suas.
Coletivo Feminista Classista Maria vai com as outras
Coletivo Mães do Xingu
Comunidade Quilombaque
Conectas Direitos Humanos
CRP/SP -Conselho Regional de Psicologia
CRESS/SP - Conselho Regional de Serviço Social
Defend Democracy Brazil, em solidariedade sempre! -
Escola de Cidadania Cidade Ademar e Pedreira
Frente pelo Desencarceramento SP
Frente Parlamentar de Cultura ALESP
Fórum da Cidadania
Fórum em Defesa da Vida
Fórum Estadual de Defesa dos Direitos Humanos da criança e do adolescente do Estado de São Paulo
GT Indígena do Tribunal Popular
IBCCRIM - Instituto Brasileiro de Ciências Criminais
Kilombagem
Kiwi Companhia de Teatro/Coletivo Comum
Mães de Maio da Leste
Mães de Maio do Nordeste
Mães do Curió e Familiares
Mães do conjunto de Favelas da Maré do Rio de Janeiro
Mães em luto da Zona Leste.
Mandata Ativista ALESP
Mandata Feminista da Deputada Isa Penna.
Marcha das Mulheres Negras de São Paulo
MNU - Movimento Negro Unificado SP
Movimenta Caxias
Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua
Movimento de Organização de Base – MOB
MST - Movimento dos Trabalhadores rurais sem terra
Movimento Luta Popular
Movimento Moleque
Núcleo de Estudos e Pesquisas em Ética e Direitos Humanos (NEPEDH-PUC/SP)
Núcleo de Estudos e Pesquisas Lógicas Institucionais e Coletivas do Programa de estudos Pós-
Graduados em Psicologia Social da PUC-SP
Núcleo São Paulo da ABRAPSO - Associação Brasileira de Psicologia Social
Núcleo São Paulo - Anistia Internacional Brasil.
Observatório das Violências Policiais e Direitos Humanos (OVP/DH) PUC-SP
Organização Anarquista Socialismo Libertário – OASL
Papo Reto
Projeto Mandela Free - São Rafael
Projeto Meninos e Meninas de Rua
Quilombo Invisível
Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência do Rio de Janeiro
Rede de Proteção e Resistência contra o Genocídio
Rede Quilombação
Rede Mães de Luta MG
Rede Nenhuma Vida a Menos - Curitiba e Região Metropolitana
Sarau A Voz do Povo
Santos F.C Antifascista
Sarau Vila Fundão
Setorial Segurança Pública PSOL e Policiais Antifascismo SP
Torcida Jovem do Santos F.C
Torcida Pavilhão 9
UNEAFRO Brasil
Verde América
Vozes de Mães e Familiares do Sistema Socioeducativo e Prisional do Ceará

Assinaturas individuais:
Elisângela dos santos - Mãe de Fabio dos Santos Vieira – Rio de Janeiro
Tatiana Merlino, jornalista, sobrinha de Luiz Eduardo Merino, assassinado pela ditadura militar
Sandra Sales Mãe de Ingrid Mayara
Membros da equipe de pesquisa do CAAF/UNIFESP - Centro de Antropologia e Arqueologia
Forense da Universidade Federal de São Paulo.

1. Rimarcs Gomes Ferreira – CPF 288.249.706-72


2. Javier Amadeo - CPF: 219.151.848-60
3. Raiane Patrícia Severino Assumpção - CPF: 245.777.308-39
4. Rebeca Padrão Amorim Puccinelli - CPF 347.192.738-74
5. Cláudia Regina Plens - CPF: 262.190.628-17
6. Débora Maria da Silva - CPF: 090.964.958-88
7. Maria Elizete kunkel - CPF: 486.180.363-34
8. Aline Lúcia de Rocco Gomes - CPF: 227.856.678-40
9. Camila Diogo de Souza - CPF. 289.817.098-40
10. Valéria Aparecida de Oliveira Silva - CPF: 022.588.758-46
11. Lorrane Campos Rodrigues - CPF: 371.654.468-00
12. Bruno Konder Comparato - CPF: 187.293.428-56
13. Delphine Denise Lacroix - CPF: 233.331.528-86
14. Marina Figueiredo - CPF: 292.841.828-83

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