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Conceito de Cluster em Porter1

Das Primeiras Palavras

Muitos têm usado, aqui e alhures, a terminologia de cluster erradamente, contribuindo para a
dessiminação negativa do conceito, com graves prejuízos para Manaus, que está em
desenvolvimento, na medida em que devemos ter a perfeita percepção do que ainda nos resta
trilhar. Já passa da hora, então, de se tentar entender o que seja cluster.

Do ponto de vista objetivo, não há uma tradução literal para o termo. Entretanto, Michael E.
Porter, em “A Vantagem Competitiva das Nações”, Editora Campus, Rio de Janeiro, 1989, trata
(pg. 179) o termo em forma de um “agrupamento de indústrias competitivas”, entendidas bem-
sucedidas porque “estão, geralmente, ligadas através de relações verticias
(comprador/fornecedor) ou horizontais (clientes, tecnologia, canais comuns, etc.)”.

Do Diamante2

O que é importante salientar, é que aquele agrupamento deriva da natureza sistêmica do que
Porter denomina de “diamante”, expressão que utiliza para referenciar os determinantes da
vantagem nacional3 como um sistema. Assim, para Porter, um país terá êxito internacional na
hipótese de se construir os 4 grandes atributos que modelam o ambiente no qual as empresas
competem e que promovem a criação da vantagem competitiva4, a saber:

a) condições de fatores (tais como trabalho especializado ou infra-estrutura necessários à


competição);
b) condições de demanda (a natureza da demanda interna para os produtos);
c) indústrias correlatas e de apoio (a presença de indústrias abastecedoras que sejam
internacionalmente competitivas); e
d) estratégia, estrutura e rivalidade das empresas (as condições que governam a
maneira pela qual as empresas são criadas, organizadas e dirigidas).

Porter assegura que “são necessárias vantagens por todo o diamante para obter e manter o
sucesso competitivo nas indústrias”, até porque “o diamante é um sistema mutuamente
fortalecedor, onde o efeito de um determinante é dependente do estado dos outros”.

Das Condições de Fatores

1
Síntese elaborada por Antônio José Botelho, servidor da Suframa e professor do Cesf. Contida em
“pequenas lascas: reflexões junto ao modelo mental do projeto zfm”, edição independente publicada em
Manaus, em abril de 2003.
2
Vide Figura 1 adiante.
3
Proponho, a título de reflexão, que toda vez que estiver nominado a palavra nacional ou local haja a
mudança para a palavra Manaus.
4
As citações adiante estão contidas no Capítulo 3 “Determinantes da Vantagem Competitiva Nacional”,
do livro de Porter mencionado acima.
Os fatores5, eleito o primeiro determinante, que podem ser agrupados segundo as seguintes
categorias, destacando especialmente os pertinentes ao conhecimento intensivo, que
constituem a espinha dorsal das economias adiantadas, são:

a) recursos humanos (a quantidade, capacidade e custos do pessoal, divididos em muitas


categorias, tais como: ferramenteiros, engenheiros eletricistas com PhD, assim por diante);
b) recursos físicos (a abundância, qualidade, acessibilidade e custo da terra, água, minérios
ou madeiras, fontes de energia elétrica, pesqueiros e outras características físicas da
localidade);
c) recursos de conhecimento (o estoque que se tem de conhecimento científicos, técnicos
e de mercado, relativos a bens e serviços. Os recursos de conhecimento estão nas
universidaes, institutos governamentais e particulares de pesquisas, órgãos estatísticos
governamentais e outras fontes);
d) recursos de capital (o total e o custo do capital disponível para o financiamento da
indústria); e
e) infra-estrutura (o tipo, qualidade e valor de uso da infra-estrutura disponível que afeta a
competição, inclusive o sistema de transportes, o sistema de comunicações e assim por
diante).

A vantagem competitiva duradoura, entretanto, depende da melhor percepção e


combinação dos fatores, que podem ser divididos segundo duas grandes categorias:

a) Fatores básicos e adiantados; e


b) Fatores generalizados e especializados.

Porter aponta que “os fatores básicos incluem recursos naturais, clima, localização, mão-de-
obra especializada e semi-especializada, dívida de capital”. Já os fatores adiantados “incluem a
moderna infra-estrutura de comunicação de dados digital, pessoal altamente educado, como
engenheiros e cientistas de computação diplomados, e institutos universitários de pesquisas em
disciplinas sofisticadas”. Porter ensina que “os fatores básicos são herdados passivamente, sua
criação exige um investimento privado e social modesto e não sofisticado”. Assegura, ainda,
que “em proporções cada vez maiores, esses fatores não são importantes para a vantagem
competitiva nacional ou a vantagem que proporcionam às empresas de um país é
insustentável”.

Por sua vez, adianta que “os fatores adiantados são, agora, os mais significativos para a
vantagem competitiva”, na medida em que são “necessários para se conseguir vantagem
competitiva de ordem superior, como produtos diferenciados e tecnologia de produção
protegida por direitos de propiedade”. Ao contrário dos fatores básicos, “seu desenvolvimento
exige investimentos grandes e por vezes contínuos, em capital humano e físico”, fazendo “parte
integral do projeto e desenvolvimento de produtos e processos de uma empresa, bem como de
sua capacidade de inovar”.

Não resta dúvidas que os fatores adiantados, frente aos básicos, são fundamentais para a
criação da vantagem competitiva.

Relativamente aos fatores generalizados e especializados, Porter também classifica-os na


mesma lógica dos básicos e adiantados. Assim, os “fatores generalizados incluem sistema de
rodovias, oferta de dívida de capital e reserva de empregados motivados e com educação
superior”. Por outro lado, “fatores especializados envolvem pessoal de especializações
5
Do ponto de vista da Teoria da Localização Industrial, a inexistência de fatores em Manaus é que
justifica a concessão de incentivos fiscais para o desencadeamento do processo de industrialização local,
o que, de resto, deve ser uma situação transitória.
específicas, infra-estrutura com determinadas propriedades, bases de conhecimento em certos
campos e outros fatores relevantes para um número limitado de indústrias e, até mesmo, para
uma única indústria”. Ensina que “os fatores especializados oferecem uma base mais decisiva e
sustentável para a vantagem competitiva do que os fatores generalizados que mantêm apenas
os tipos de vantagens mais rudimentares”. De igual forma dos fatores adiantados, “os fatores
especializados exigem um investimento privado e social mais concentrado e, com freqüência,
mais arriscado”.

Tantos os fatores adiantados quanto os especializados são, muitas vezes, construídos sobre,
respectivamente, os fatores básicos e generalizados.

Porter defende que “a vantagem competitiva mais significativa e mais sustentável ocorre
quando um país possui os fatores necessários à competição numa determinada indústria que
sejam, ao mesmo tempo, adiantados e especializados”, e que, “em contraste, a vantagem
competitiva baseada em fatores básicos/generalizados não tem sofisticação e, com freqüência,
é passageira”.

Das Condições de Demanda

O segundo determinante amplo da vantagem competitiva nacional numa indústria é a


demanda interna do produto ou serviço dessa indústria. A importância está no fato de que
ela “determina o rumo e o caráter da inovação pelas empresas do país”. Porter analisa esse
determinante a partir de três atributos gerais: a composição, o tamanho e o padrão.
Assegura em sua análise que “a qualidade da demanda interna é mais importante do que a
quantidade para a determinação da vantagem competitiva”.

Porter aborda quanto a composição da demanda interna que “a influência mais importante
da demanda interna sobre a vantagem competitiva se faz através da combinação e do caráter
das necessidades do comprador interno” na proporção em que “a composição da demanda
interna determina a maneira pela qual as empresas percebem, interpretam e reagem às
necessidades do comprador”, os quais “pressionam as empresas locais a inovar mais depressa e
a obter vantagens competitivas mais sofisticadas”6.

Inscreve 3 caractéristicas fundamentais da composição da demanda interna para a vantagem


competitiva:

a) estrutura da demanda do segmento: o tamanho dos segmentos é importante porque


determina prioridades das empresas de um país, especialmente na distribuição de recursos
para projeto, manufatura e comercialização. sobretudo, numa indústria nova ou em
desenvolvimento, onde as firmas se preocupam com a criação e o aperfeiçoamento do
produto básico e acompanhamento do crescimento da demanda;
b) compradores sofisticados e exigentes: a natureza dos compradores internos é mais
importante do que a combinação dos segmentos. tanto maior a contribuição da natureza
para a vantagem competitiva quanto mais sofisticados em relação ao mundo forem os
compradores internos, onde a proximidade, tanto física quando cultural, ajuda as empresas
do país a perceber novas tendências; e
c) necessidades precursoras do comprador: as empresas de um país adquirem vantagens
se as necessidades dos compradores nacionais prenunciarem as dos compradores de outros
6
Este determinante talvez seja o mais distante para Manaus construir clusters, considerando que
praticamente não há consumo local para os produtos globais do PIM. Porter já adianta que “poderia
parecer que a demanda interna se tornaria menos significativa pela globalização da competição, mas isso
não acontece”.
países, significando que a demanda nacional constitui um indicador precoce das
necessidades de compradores que se tornarão generalizadas. isso é importante porque
estimula o aperfeiçoamento constante dos produtos com o tempo.

Quanto ao tamanho e padrões de crescimentoda demanda, Porter destaque que “desde


que sua composição seja sofisticada e prenuncie as necessidades internacionais, podem
reforçar a vantagem nacional numa indústria”. Entretanto, por si só, um mercado interno
grande pode representar uma força devido às economias de escala, se se entender que
induzem a vantagem competitiva por estimular as empresas do país a investir agressivamente
em grandes instalações, desenvolvimento de tecnologia e melhoramentos produtivos, isto é, “o
tamanho dos mercados internos é uma vantagem se estimular investimento e reinvestimento
ou dinamismo”. Na mesma direção, Porter entende que “a taxa de crescimento da demanda
interna pode ser tão importante para a vantagem competitiva quanto o seu tamanho absoluto”,
na medida em que “o rápido crescimento interno leva as empresas de um país a adotar
tecnologias novas mais depressa, com menos receio de que tornem redundantes os
investimentos existentes, e a construir instalações grandes e eficientes com a certeza eu serão
utilizadas”.

Neste tópico, Porter argumenta, ainda, que “a composição da demanda interna está na raiz da
vantagem nacional, ao passo que o tamanho e padrão de crescimento dessa damanda pode
ampliar tal vantagem, afetando o comportamento, a oprtunidade e a motivação do
investimento”. Entretanto, aponta que “há uma terceira maneira pela qual as condições de
demanda interna contribuem para isso, através dos mecanismos pelos quais a demanda interna
se internacionaliza e impulsiona os produtos e serviços desse país para o exterior”7.

Finaliza, afirmando que “as várias condições de demanda interna podem reforçar-se
mutuamente”, bem como que “o efeito das condições da demanda sobre a vantagem
competitiva também depende de outras partes do diamante”, por exemplo “sem uma forte
rivalidade interna, o crescimento rápido do mercado interno ou um mercado interno grande
pode induzir à complacência em lugar de estimular o investimento”. Neste sentido, “o diamante
é um sistema no qual o papel de qualquer determinante não pode ser visto isoladamente”.

Das Indústrias Correlatas8 e de Apoio9

Na teoria de Porter, “o terceiro determinante amplo da vantagem nacional numa indústria é a


presença, no país, de indústrias de abastecimento ou indústrias correlatas que sejam
internacionalmente competitivas”. Isto é, “a vantagem competitiva de algumas indústrias
fornecedoras conferem vantagens potenciais às empresas do país em muitas outras indústrias,
porque produzem insumos amplamente usados e importantes para a inovação ou a
internacionalização”10. De igual forma, Porter registra que “a presença de indústrias
competitivas num país, relacionadas entre si, não é menos comum ou significativa”, e que “os

7
Ressurge permanentemente a máxima de Tolstói: “se queres ser universal, cantes a sua aldeia”. Até
então o PIM tem reproduzido as aldeias de terceiros, o que defenestra o nosso desenvolvimento
econômico.
8
Vide Figura 2 adiante.
9
Vide Figura 3 adiante.
10
Somente agora, após a experiência negativa da década de oitenta, de se tentar construir uma indústria
de componentes no PIM a partir do fracionamento das linhas de produção das grandes empresas -Philips
da Amazônia, Philips Componentes-, cuja estratégia incorporava maior volume de incentivo fiscal, é que
empresas líderes, como Moto Honda e Nokia, desenvolvem fornecedores representados, em tese, por
capital e tecnologia de terceiros.
mecanismos pelos quais a vantagem competitiva em indústrias fornecedoras e correlatas
beneficiam outras indústrias são semelhantes”

Porter assegura que a presença de indústrias fornecedoras, internacionalmente competitivas,


cria vantagens em pelo menos 3 frentes:

a) “a primeira é pelo acesso eficiente, precoce, rápido e, por vezes, preferencial à maioria dos
insumos economicamente rentáveis”;
b) entretanto, “mais significativa do que o acesso à máquinas ou outros insumos é a vantagem
que os fornecedores internos proporcionam em termos de coordenação constante. O
estabelecimento de ligações entre as cadeias de valores das empresas e seus fornecedores
são importantes para a vantagem competitiva na medida em que as atividades essenciais e
a alta administração dos fornecedores estiverem próximos”;
c) “talvez o benefício mais importante dos fornecedores internos esteja, porém, no processo
de inovação e aperfeiçoamento. A vantagem competitiva surge de estreitas relações de
trabalho entre fornecedores de classe mundial e a indústria. Os fornecedores ajudam as
empresas a ver novos métodos e oportunidades de aplicar tecnologia nova. As empresas
têm acesso fácil à informação, às novas idéias e conhecimentos e às inovações do
fornecedor. Têm a oportunidade de infuenciar os esforços técnicos dos fornecedores, bem
como servir como local de testes para o trabalho de desenvolvimento. O intercâmbio de
pesquisa e desenvolvimento e a solução conjunta dos problemas levam a resultados mais
rápidos e mais eficientes. Os fornecedores também tendem a ser um canal para a
transmissão de informação e inovações de firma para firma. Através desse processo, o ritmo
de inovação dentro de toda a indústria nacional é acelerado. Todas essas vantagens são
fortalecidas se os fornecedores estiverem localizados próximo das empresas, encurtando as
linhas de comunicação”.

Por sua vez, Porter adianta que “a presença no país de indústrias competitivas relacionadas
leva, com freqüência, a novas indústrias competitivas” porque “podem coordenar e partilhar
atividades na cadeia de valores, ou aquelas que envolvem produtos complementares”, cuja
“participação mútua em atividades pode ocorrer no desenvolvimento de tecnologia,
manufatura, distribuição, comercialização ou assistência”.

Porter finaliza o tópico, admitindo que “as vantagens tanto de fornecedores como de indústrias
correlatas baseadas no país, porém, dependem do resto do “diamente”, isto é, “sem acesso a
fatores adiantados, as condições da demanda interna que indicam as direções adequadas para
a mudança do produto ou ativam a rivalidade, por exemplo, a proximidade dos fornecedores
internos de classe mundial, podem oferecer poucas vantagens”.

Da Estratégia, Estrutura e Rivalidade de Empresas

Na teoria de Porter, “o quarto determinante amplo da vantagem nacional numa indústria é o


contexto no qual as firmas são criadas, organizadas e dirigidas, bem como a natureza da
rivalidade interna”. Isto é, “a vantagem nacional resulta de um bom equilíbrio entre as escolhas
quanto as metas, estratégias e modos de organizar as empresas em indústriais, das fontes de
vantagem competitiva numa determinada indústria, bem como do papel profundo do padrão da
rivalidade no processo de inovação e nas perspectivas finais do sucesso internacional”.

Relativamente à estratégia e estrutura das empresas internas, Porter, entendendo que


“nenhum sistema administrativo é universalmente adequado”, postula que “os países terão a
tendência de conseguir êxito nas indústrias onde as práticas administrativas e de organização
preferidas pelo ambiente nacional são bem adequadas às fontes de vantagem competitiva da
indústria”. Admite, neste sentido, que as “diferenças nacionais em práticas administrativas e
abordagens ocorrem em áreas como treinamento, formação e orientação de líderes, estilo de
grupo em contraposição a estilo hierárquico, influência da iniciativa individual, instrumentos
para a tomada de decisões, natureza das relações com os clientes, capacidade de coordenar
funções, atitude para com as atividades internacionais e relação entre trabalho e a
administração, criam vantagens e desvantagens na competição de diferentes tipos de
indústria”. Assim, reconhece que há “aspectos de um país influenciando a maneira pela qual as
empresas são organizadas e administradas, tais como: atitudes para com a autoridade, as
normas de interação interpessoal, atitudes dos trabalhadores para com a administração e vice-
versa, normas sociais de comportamento individualista ou de grupo e padrões profissionais”, os
quais, por sua vez, “nascem do sistema educacional, da história social e religiosa, das
estruturas familiares”11.

Neste particular, as metas, tanto dos empregados quanto dos diretores, são importantes,
porque “os países terão êxito na indústria em que essas metas e motivações estão alinhadas
com as fontes de vantagem competitiva”, isto é, além do fato de que “em muitas indústrias, um
componente para obter e manter a vantagem é o investimento contínuo”, está a premissa de
que, “mais amplamente, os países conseguem êxito em indústrias onde há dedicações e
empenho incomuns”. Quanto as metas da empresa, Porter diz que “são determinadas com mais
força pela estrutura da propriedade, motivação dos donos e titulares de débitos, natureza da
direção empresarial e processos de incentivos que condicionam a motivação dos altos
diretores”. As metas dos indivíduos, por sua vez, tem como “determinante importante o sistema
de recompensa para os funcionários, onde os valores sociais influenciam atitudes para com o
trabalho e as proporções nas quais as pessoas são motivadas pelos ganhos financeiros”.
Adicionalmente, Porter argumenta que várias atitudes estão na base das metas dos indivíduos:
para com a riqueza; para com o desenvolvimento de conhecimento; para com os riscos.

Finalizando o quarto e último determinante de seu diamante, Porter professora que “entre as
mais fortes constatações de nossa pesquisa está a associação entre uma vigorosa rivalidade
interna e a criação e persistência da vantagem competitiva numa indústria”. Para tanto, lança
algumas acertivas:

a) a rivalidade interna torna-se superior à rivalidade com os competidores estrangeiros quando


a melhoria e a inovação, não a eficiência estática, são reconhecidas como ingredientes
essenciais da vantagem competitiva numa indústria;
b) a rivalidade interna cria pressões sobre as empresas para que melhorem e inovem;
c) a rivalidade interna não precisa limitar-se aos preços; na verdade, a rivalidade em outras
formas, como tecnologia, bem pode levar a uma vantagem nacional mais sustentável;
d) a rivalidade nacional não só cria pressões para a inovação como também para inovar
maneiras que aperfeiçoam as vantagens competitivas das empresas do país;
e) a rivalidade local12 não só cria vantagens como, também, ajuda a evitar algumas
desvantagens.

Porter assegura, ainda, que “a rivalidade interna intensiva depende da formação de novos
negócios para criar novos competidores, onde a formação de novos negócios é também vital
para a melhoria da vantagem competitiva, porque alimenta o processo de inovação numa

11
No caso do PIM, há uma nítida assimetria entre a formação educacional, a estrutura familiar e a
história social dos trabalhadores do chão de fábrica, de descendência cabloca, e da alta administração
das empresas, basicamente de origem nacional-sulista e até mesmo internacional, que deve contribuir
para uma limitada elaboração estratégica e estrutural das firmas aqui instaladas.
12
Veio à mente a possibilidade das empresas emergentes locais (Pronatus; AmazonErvas; Magama; etc),
da área da biotecnologia, virem estabelecer esta rivalidade em benefício da construção da nossa
vantagem competitiva, dinâmica.
indústria”. Adianta, para tanto, que “o processo pelo qual os novos negócios são criados num
país sustenta, de maneira importante, a vantagem competitiva das indústrias nacionais,
havendo dois mecanismos básicos pelos quais novos empresas se formam: uma é o
estabelecimento de companhias totalmente novas, sejam rebentos de empresas estabelecidas,
sejam criadas pelos empregados de fornecedores e clientes ou sejam resultado de idéias
adquiridas durante treinamento acadêmico ou a pesquisa universitária; outro mecanismo é a
diversificação interna em novas indústrias de firmas já estabelecidas”

Porter proclama, para finalizar, que “o mais importante é criar as pressões sobre as empresas
para investir e inovar”.

O Papel do Acaso13 e do Governo Junto ao Diamante

Já lemos a defesa de Porter de que “os determinantes da vantagem condicionam o ambiente


da competição em determinadas indústrias”. Agora, Porter adiciona duas variáveis, o acaso e o
governo, como contributo para a formação das histórias da maioria das indústrias de êxito.

Segundo Porter, o acaso são “ocorrências fortuitas que pouco têm a ver com as circunstâncias
de um país e estão fora do alcance das firmas e com freqüência fora também do alcance do
governo nacional”. Cita os seguintes exemplos:

a) atos de pura invenção;


b) importantes descontinuidades tecnológicas (por exemplo, biotecnologia, microeletrônica);
c) descontinuidade nos custos de insumos, como os choques de petróleo;
d) modificações significativas nos mercados financeiros mundiais ou nas taxas de câmbio;
e) surtos de demanada mundial ou regional;
f) decisões políticas de governos estrangeiros;
g) guerras

Na visão de Porter, “os acontecimentos ocasionais são importantes porque criam interrupções
que permitem mudanças na posição competitiva, podendo neutralizar as vantagens de
competidores já estabelecidos, mas criam o potencial para que as empresas novas do país
possam suplantá-los e atingir a vantagem competitiva em conseqüência de novas e diferentes
condições”. Portanto, ainda que admitindo que “os acontecimentos ocasionais têm impactos
assimétricos sobre diferentes países”, os mesmos “desempenham seu papel modificando
condições do diamante” (Vide mais uma vez a Figura 1).

13
Um grande exemplo de acaso para o Projeto ZFM é a questão da convergência tecnológica vis a vis a
Lei de Informática. Na minha percepção, representa, tenho dito, as sementes da seringueira que os
ingleses levaram para o Oriente em busca da domesticação da cultura da produção da borracha. Explico:
com a Lei de Informática, as vantagens campetitivas estáticas (incentivo fiscal), foram distribuídas, ainda
de forma diferenciada, por todo o território nacional; muito bem, cruzando esta determinação nacional
com o fato de que todos os produtos eletroeletrônicos (60% perfil de produção/faturamento do PIM)
convergirão para uma caracterização técnica de produto de informática, escapará de Manaus, ainda que
se prorrogue o Projeto ZFM para além de 2040, a grande motivação de atração e retenção de
investimentos, salvo se se construir vantagens competitivas dinâmicas (em regra, os fatores do
diamante de Porter). Isto sem falar da grande tendência mundial da alíquota zero para a área de
semi-condutores, onde se concentra o altíssimo índice de valor agregado dos produtos eletroeletrônicos.
Entretanto, deste acaso delineado no horizonte, poderá resultar uma grande oportunidade para o
desenvolvimento econômico estruturado em bases endógenas, caso se estabeleça a
interdependência entre os Projetos CT-PIM e CBA (ambos prevêm não só inovações para as empresas
estabelecidas, mas, sobretudo, a criação de empresas de base tecnológica), em atenção a grande
tendência tecnológica, a biotecnologia cruzada com os microsistemas (microeletrônia e micromecânica).
Vejam o item b) acima citado pelo Porter como acaso particularmente importante.
Finalizando suas abordagens sobre o papel do acaso junto ao diamante, Porter dá grande
importância à invenção e o espírito empresarial, porque estes estão no centro da vantagem
nacional, na medida em que “os determinantes desempenham um papel importante na
localização de onde a invenção e o espírito empresarial têm mais probabilidade de surgir”.
Portanto, ainda que admitindo que “o diamante tem grande influência sobre a capacidade de
transformar uma invenção ou conhecimento numa indústria internacionalmente competitiva”, os
dois, a invenção e o espírito empresarial, devem caminhar juntos, porque “se o país tem apenas
a invenção, empresas de outros países provavelmente se apropriarão dela”.

Quanto ao papel do governo junto ao diamante, Porter confessa a tentação de adotá-lo


como um determinante propriamente dito, dada a sua importânicia na construção da
competitividade internacional das indústrias nacionais. Mas admite, por outro lado, “que o papel
real do governo na vantagem competitiva nacional está em influenciar os quatro diamantes e,
ao mesmo tempo, ser por eles influenciado” (Vide mais uma vez a Figura 1). De uma forma
geral, pode-se identificar assim as interações entre o governo e o diamante:

a) “as condições de fatores são afetadas por meio de subsídios, políticas para com os
mercados de capital, políticas de educação e outros”;
b) modelagem das condições locais de demanda;
c) estabelecimento de “padrões ou regulamentos locais para os produtos, que condicionam ou
influenciam as necessidades dos compradores”
d) “o governo também é, com freqüência, um importante comprador de muitos produtos do
país”;
e) “o governo pode moldar as circunstâncias de indústrias correlatas e de apoio de muitas
outras maneiras, como o controle da mídia publicitária ou a regulamentação de serviços de
apoio”;
f) “a política de governo também influi na estrutura da estratégia das empresas e na
rivalidade, através de recursos como regulamentação de mercado de capital, política fiscal e
leis antitruste”;
g) “a política governamental pode, por sua vez, ser influenciada pelos determinantes. As
escolhas sobre a destinação dos investimentos educacionais, por exemplo, são afetadas
pelo número de competidores locais. Uma forte demanda interna de um produto pode levar
à adoção pelo governo de padrões de segurança”

Porter finaliza o tópico afirmando que o governo certamente tem importante influência na
configuração da vantagem competitiva nacional, mas seu papel deve ser entendido como
parcial. Para tanto, diz que “a política governamental falhará se continuar se continuar sendo a
única fonte de vantagem competitiva nacional”, uma vez que, “o governo, ao que parece, pode
apressar ou aumentar as probabilidades de obter vantagem competitiva (e vice-versa), mas
falta-lhe o poder de criar a própria vantagem”.

Dos Determinantes em Perspectiva (Passada)

Porter entende que “os determinantes individuais, que definem o ambiente nacional, são
mutuamente dependentes, porque o efeito de um depende do estado dos outros”. Portanto, “o
diamante é um sistema no qual o papel de qualquer determinante não pode ser visto
isoladamente”.

Porter elege três grandes variáveis que determinam o sucesso competitivo: a história social e
política, os valores e os fatores culturais. “A história social e política influencia as habilitações
que se acumularam num país e a estrutura institucional dentro da qual ocorre a competição”.
“Os valores afetam a natureza da demanda interna, por exemplo, bem como as metas dos
diretores e a maneira pela qual as empresas são organizadas”. “Os fatores culturais são
importantes porque modelam o ambiente enfrentado pelas empresas; eles operam através dos
determinantes e não isoladamente”

Assim, o diamante é um sistema interativo no qual as partes se reforçam mutuamente,


determinando dinâmicas (na lógica de futuro)14, estruturadas na história, nos valores e na
cultura de uma sociedade, cujas implicações oportunizam ou não o aparecimento e o
desenvolvimento de indústrias competitivas, bem como a eventual perda das vantagens
competitivas conquistadas.

14
Porter analisa a dinâmica no Capítulo 4 que não constitui objetivo desta síntese. Mas que fique
registrado que a dinânimica está centrada em dois elementos chaves, que têm a capacidade de
transformar o diamante num sistema: a rivalidade interna, porque promove o aperfeiçoamento de
todo o “diamante”, e a concentração geográfica, porque eleva e amplia as interações dentro do
“diamante”.
Estratégia, Estrutura
e Rivalidade das
Acaso Empresas

Condições de Condições de
Fatores Demanda

Indústrias Governo
Correlatas e de
Apoio

Figura 1: O Sistema Completo do Diamante de Porter


Calçados
de
Couro

Partes Serviços
do de
Couro Criação

Maquinaria de Couro
Trabalhar o Processado
Couro

Figura 2: Exemplo de Indústrias Fornecedoras: o caso da indústra italiana de calçados


internacionalmente bem-sucedidas
Tecidos Tecidos Fibras
de Sintéticos de
Seda Contínuos Carbono

Máquinas
de
Tecer

Seda
Fibras Sintéticas de
Filamento
Longo

Figura 3: Exemplo de Indústrias Correlatas: o caso da indústra japonesa de fibas e tecidos

Legenda: Linhas tracejadas referem-se a indústrias correlatas


Linhas cheias representam relação com fornecedor

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