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Muitos têm usado, aqui e alhures, a terminologia de cluster erradamente, contribuindo para a
dessiminação negativa do conceito, com graves prejuízos para Manaus, que está em
desenvolvimento, na medida em que devemos ter a perfeita percepção do que ainda nos resta
trilhar. Já passa da hora, então, de se tentar entender o que seja cluster.
Do ponto de vista objetivo, não há uma tradução literal para o termo. Entretanto, Michael E.
Porter, em “A Vantagem Competitiva das Nações”, Editora Campus, Rio de Janeiro, 1989, trata
(pg. 179) o termo em forma de um “agrupamento de indústrias competitivas”, entendidas bem-
sucedidas porque “estão, geralmente, ligadas através de relações verticias
(comprador/fornecedor) ou horizontais (clientes, tecnologia, canais comuns, etc.)”.
Do Diamante2
O que é importante salientar, é que aquele agrupamento deriva da natureza sistêmica do que
Porter denomina de “diamante”, expressão que utiliza para referenciar os determinantes da
vantagem nacional3 como um sistema. Assim, para Porter, um país terá êxito internacional na
hipótese de se construir os 4 grandes atributos que modelam o ambiente no qual as empresas
competem e que promovem a criação da vantagem competitiva4, a saber:
Porter assegura que “são necessárias vantagens por todo o diamante para obter e manter o
sucesso competitivo nas indústrias”, até porque “o diamante é um sistema mutuamente
fortalecedor, onde o efeito de um determinante é dependente do estado dos outros”.
1
Síntese elaborada por Antônio José Botelho, servidor da Suframa e professor do Cesf. Contida em
“pequenas lascas: reflexões junto ao modelo mental do projeto zfm”, edição independente publicada em
Manaus, em abril de 2003.
2
Vide Figura 1 adiante.
3
Proponho, a título de reflexão, que toda vez que estiver nominado a palavra nacional ou local haja a
mudança para a palavra Manaus.
4
As citações adiante estão contidas no Capítulo 3 “Determinantes da Vantagem Competitiva Nacional”,
do livro de Porter mencionado acima.
Os fatores5, eleito o primeiro determinante, que podem ser agrupados segundo as seguintes
categorias, destacando especialmente os pertinentes ao conhecimento intensivo, que
constituem a espinha dorsal das economias adiantadas, são:
Porter aponta que “os fatores básicos incluem recursos naturais, clima, localização, mão-de-
obra especializada e semi-especializada, dívida de capital”. Já os fatores adiantados “incluem a
moderna infra-estrutura de comunicação de dados digital, pessoal altamente educado, como
engenheiros e cientistas de computação diplomados, e institutos universitários de pesquisas em
disciplinas sofisticadas”. Porter ensina que “os fatores básicos são herdados passivamente, sua
criação exige um investimento privado e social modesto e não sofisticado”. Assegura, ainda,
que “em proporções cada vez maiores, esses fatores não são importantes para a vantagem
competitiva nacional ou a vantagem que proporcionam às empresas de um país é
insustentável”.
Por sua vez, adianta que “os fatores adiantados são, agora, os mais significativos para a
vantagem competitiva”, na medida em que são “necessários para se conseguir vantagem
competitiva de ordem superior, como produtos diferenciados e tecnologia de produção
protegida por direitos de propiedade”. Ao contrário dos fatores básicos, “seu desenvolvimento
exige investimentos grandes e por vezes contínuos, em capital humano e físico”, fazendo “parte
integral do projeto e desenvolvimento de produtos e processos de uma empresa, bem como de
sua capacidade de inovar”.
Não resta dúvidas que os fatores adiantados, frente aos básicos, são fundamentais para a
criação da vantagem competitiva.
Tantos os fatores adiantados quanto os especializados são, muitas vezes, construídos sobre,
respectivamente, os fatores básicos e generalizados.
Porter defende que “a vantagem competitiva mais significativa e mais sustentável ocorre
quando um país possui os fatores necessários à competição numa determinada indústria que
sejam, ao mesmo tempo, adiantados e especializados”, e que, “em contraste, a vantagem
competitiva baseada em fatores básicos/generalizados não tem sofisticação e, com freqüência,
é passageira”.
Porter aborda quanto a composição da demanda interna que “a influência mais importante
da demanda interna sobre a vantagem competitiva se faz através da combinação e do caráter
das necessidades do comprador interno” na proporção em que “a composição da demanda
interna determina a maneira pela qual as empresas percebem, interpretam e reagem às
necessidades do comprador”, os quais “pressionam as empresas locais a inovar mais depressa e
a obter vantagens competitivas mais sofisticadas”6.
Neste tópico, Porter argumenta, ainda, que “a composição da demanda interna está na raiz da
vantagem nacional, ao passo que o tamanho e padrão de crescimento dessa damanda pode
ampliar tal vantagem, afetando o comportamento, a oprtunidade e a motivação do
investimento”. Entretanto, aponta que “há uma terceira maneira pela qual as condições de
demanda interna contribuem para isso, através dos mecanismos pelos quais a demanda interna
se internacionaliza e impulsiona os produtos e serviços desse país para o exterior”7.
Finaliza, afirmando que “as várias condições de demanda interna podem reforçar-se
mutuamente”, bem como que “o efeito das condições da demanda sobre a vantagem
competitiva também depende de outras partes do diamante”, por exemplo “sem uma forte
rivalidade interna, o crescimento rápido do mercado interno ou um mercado interno grande
pode induzir à complacência em lugar de estimular o investimento”. Neste sentido, “o diamante
é um sistema no qual o papel de qualquer determinante não pode ser visto isoladamente”.
7
Ressurge permanentemente a máxima de Tolstói: “se queres ser universal, cantes a sua aldeia”. Até
então o PIM tem reproduzido as aldeias de terceiros, o que defenestra o nosso desenvolvimento
econômico.
8
Vide Figura 2 adiante.
9
Vide Figura 3 adiante.
10
Somente agora, após a experiência negativa da década de oitenta, de se tentar construir uma indústria
de componentes no PIM a partir do fracionamento das linhas de produção das grandes empresas -Philips
da Amazônia, Philips Componentes-, cuja estratégia incorporava maior volume de incentivo fiscal, é que
empresas líderes, como Moto Honda e Nokia, desenvolvem fornecedores representados, em tese, por
capital e tecnologia de terceiros.
mecanismos pelos quais a vantagem competitiva em indústrias fornecedoras e correlatas
beneficiam outras indústrias são semelhantes”
a) “a primeira é pelo acesso eficiente, precoce, rápido e, por vezes, preferencial à maioria dos
insumos economicamente rentáveis”;
b) entretanto, “mais significativa do que o acesso à máquinas ou outros insumos é a vantagem
que os fornecedores internos proporcionam em termos de coordenação constante. O
estabelecimento de ligações entre as cadeias de valores das empresas e seus fornecedores
são importantes para a vantagem competitiva na medida em que as atividades essenciais e
a alta administração dos fornecedores estiverem próximos”;
c) “talvez o benefício mais importante dos fornecedores internos esteja, porém, no processo
de inovação e aperfeiçoamento. A vantagem competitiva surge de estreitas relações de
trabalho entre fornecedores de classe mundial e a indústria. Os fornecedores ajudam as
empresas a ver novos métodos e oportunidades de aplicar tecnologia nova. As empresas
têm acesso fácil à informação, às novas idéias e conhecimentos e às inovações do
fornecedor. Têm a oportunidade de infuenciar os esforços técnicos dos fornecedores, bem
como servir como local de testes para o trabalho de desenvolvimento. O intercâmbio de
pesquisa e desenvolvimento e a solução conjunta dos problemas levam a resultados mais
rápidos e mais eficientes. Os fornecedores também tendem a ser um canal para a
transmissão de informação e inovações de firma para firma. Através desse processo, o ritmo
de inovação dentro de toda a indústria nacional é acelerado. Todas essas vantagens são
fortalecidas se os fornecedores estiverem localizados próximo das empresas, encurtando as
linhas de comunicação”.
Por sua vez, Porter adianta que “a presença no país de indústrias competitivas relacionadas
leva, com freqüência, a novas indústrias competitivas” porque “podem coordenar e partilhar
atividades na cadeia de valores, ou aquelas que envolvem produtos complementares”, cuja
“participação mútua em atividades pode ocorrer no desenvolvimento de tecnologia,
manufatura, distribuição, comercialização ou assistência”.
Porter finaliza o tópico, admitindo que “as vantagens tanto de fornecedores como de indústrias
correlatas baseadas no país, porém, dependem do resto do “diamente”, isto é, “sem acesso a
fatores adiantados, as condições da demanda interna que indicam as direções adequadas para
a mudança do produto ou ativam a rivalidade, por exemplo, a proximidade dos fornecedores
internos de classe mundial, podem oferecer poucas vantagens”.
Neste particular, as metas, tanto dos empregados quanto dos diretores, são importantes,
porque “os países terão êxito na indústria em que essas metas e motivações estão alinhadas
com as fontes de vantagem competitiva”, isto é, além do fato de que “em muitas indústrias, um
componente para obter e manter a vantagem é o investimento contínuo”, está a premissa de
que, “mais amplamente, os países conseguem êxito em indústrias onde há dedicações e
empenho incomuns”. Quanto as metas da empresa, Porter diz que “são determinadas com mais
força pela estrutura da propriedade, motivação dos donos e titulares de débitos, natureza da
direção empresarial e processos de incentivos que condicionam a motivação dos altos
diretores”. As metas dos indivíduos, por sua vez, tem como “determinante importante o sistema
de recompensa para os funcionários, onde os valores sociais influenciam atitudes para com o
trabalho e as proporções nas quais as pessoas são motivadas pelos ganhos financeiros”.
Adicionalmente, Porter argumenta que várias atitudes estão na base das metas dos indivíduos:
para com a riqueza; para com o desenvolvimento de conhecimento; para com os riscos.
Finalizando o quarto e último determinante de seu diamante, Porter professora que “entre as
mais fortes constatações de nossa pesquisa está a associação entre uma vigorosa rivalidade
interna e a criação e persistência da vantagem competitiva numa indústria”. Para tanto, lança
algumas acertivas:
Porter assegura, ainda, que “a rivalidade interna intensiva depende da formação de novos
negócios para criar novos competidores, onde a formação de novos negócios é também vital
para a melhoria da vantagem competitiva, porque alimenta o processo de inovação numa
11
No caso do PIM, há uma nítida assimetria entre a formação educacional, a estrutura familiar e a
história social dos trabalhadores do chão de fábrica, de descendência cabloca, e da alta administração
das empresas, basicamente de origem nacional-sulista e até mesmo internacional, que deve contribuir
para uma limitada elaboração estratégica e estrutural das firmas aqui instaladas.
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Veio à mente a possibilidade das empresas emergentes locais (Pronatus; AmazonErvas; Magama; etc),
da área da biotecnologia, virem estabelecer esta rivalidade em benefício da construção da nossa
vantagem competitiva, dinâmica.
indústria”. Adianta, para tanto, que “o processo pelo qual os novos negócios são criados num
país sustenta, de maneira importante, a vantagem competitiva das indústrias nacionais,
havendo dois mecanismos básicos pelos quais novos empresas se formam: uma é o
estabelecimento de companhias totalmente novas, sejam rebentos de empresas estabelecidas,
sejam criadas pelos empregados de fornecedores e clientes ou sejam resultado de idéias
adquiridas durante treinamento acadêmico ou a pesquisa universitária; outro mecanismo é a
diversificação interna em novas indústrias de firmas já estabelecidas”
Porter proclama, para finalizar, que “o mais importante é criar as pressões sobre as empresas
para investir e inovar”.
Segundo Porter, o acaso são “ocorrências fortuitas que pouco têm a ver com as circunstâncias
de um país e estão fora do alcance das firmas e com freqüência fora também do alcance do
governo nacional”. Cita os seguintes exemplos:
Na visão de Porter, “os acontecimentos ocasionais são importantes porque criam interrupções
que permitem mudanças na posição competitiva, podendo neutralizar as vantagens de
competidores já estabelecidos, mas criam o potencial para que as empresas novas do país
possam suplantá-los e atingir a vantagem competitiva em conseqüência de novas e diferentes
condições”. Portanto, ainda que admitindo que “os acontecimentos ocasionais têm impactos
assimétricos sobre diferentes países”, os mesmos “desempenham seu papel modificando
condições do diamante” (Vide mais uma vez a Figura 1).
13
Um grande exemplo de acaso para o Projeto ZFM é a questão da convergência tecnológica vis a vis a
Lei de Informática. Na minha percepção, representa, tenho dito, as sementes da seringueira que os
ingleses levaram para o Oriente em busca da domesticação da cultura da produção da borracha. Explico:
com a Lei de Informática, as vantagens campetitivas estáticas (incentivo fiscal), foram distribuídas, ainda
de forma diferenciada, por todo o território nacional; muito bem, cruzando esta determinação nacional
com o fato de que todos os produtos eletroeletrônicos (60% perfil de produção/faturamento do PIM)
convergirão para uma caracterização técnica de produto de informática, escapará de Manaus, ainda que
se prorrogue o Projeto ZFM para além de 2040, a grande motivação de atração e retenção de
investimentos, salvo se se construir vantagens competitivas dinâmicas (em regra, os fatores do
diamante de Porter). Isto sem falar da grande tendência mundial da alíquota zero para a área de
semi-condutores, onde se concentra o altíssimo índice de valor agregado dos produtos eletroeletrônicos.
Entretanto, deste acaso delineado no horizonte, poderá resultar uma grande oportunidade para o
desenvolvimento econômico estruturado em bases endógenas, caso se estabeleça a
interdependência entre os Projetos CT-PIM e CBA (ambos prevêm não só inovações para as empresas
estabelecidas, mas, sobretudo, a criação de empresas de base tecnológica), em atenção a grande
tendência tecnológica, a biotecnologia cruzada com os microsistemas (microeletrônia e micromecânica).
Vejam o item b) acima citado pelo Porter como acaso particularmente importante.
Finalizando suas abordagens sobre o papel do acaso junto ao diamante, Porter dá grande
importância à invenção e o espírito empresarial, porque estes estão no centro da vantagem
nacional, na medida em que “os determinantes desempenham um papel importante na
localização de onde a invenção e o espírito empresarial têm mais probabilidade de surgir”.
Portanto, ainda que admitindo que “o diamante tem grande influência sobre a capacidade de
transformar uma invenção ou conhecimento numa indústria internacionalmente competitiva”, os
dois, a invenção e o espírito empresarial, devem caminhar juntos, porque “se o país tem apenas
a invenção, empresas de outros países provavelmente se apropriarão dela”.
a) “as condições de fatores são afetadas por meio de subsídios, políticas para com os
mercados de capital, políticas de educação e outros”;
b) modelagem das condições locais de demanda;
c) estabelecimento de “padrões ou regulamentos locais para os produtos, que condicionam ou
influenciam as necessidades dos compradores”
d) “o governo também é, com freqüência, um importante comprador de muitos produtos do
país”;
e) “o governo pode moldar as circunstâncias de indústrias correlatas e de apoio de muitas
outras maneiras, como o controle da mídia publicitária ou a regulamentação de serviços de
apoio”;
f) “a política de governo também influi na estrutura da estratégia das empresas e na
rivalidade, através de recursos como regulamentação de mercado de capital, política fiscal e
leis antitruste”;
g) “a política governamental pode, por sua vez, ser influenciada pelos determinantes. As
escolhas sobre a destinação dos investimentos educacionais, por exemplo, são afetadas
pelo número de competidores locais. Uma forte demanda interna de um produto pode levar
à adoção pelo governo de padrões de segurança”
Porter finaliza o tópico afirmando que o governo certamente tem importante influência na
configuração da vantagem competitiva nacional, mas seu papel deve ser entendido como
parcial. Para tanto, diz que “a política governamental falhará se continuar se continuar sendo a
única fonte de vantagem competitiva nacional”, uma vez que, “o governo, ao que parece, pode
apressar ou aumentar as probabilidades de obter vantagem competitiva (e vice-versa), mas
falta-lhe o poder de criar a própria vantagem”.
Porter entende que “os determinantes individuais, que definem o ambiente nacional, são
mutuamente dependentes, porque o efeito de um depende do estado dos outros”. Portanto, “o
diamante é um sistema no qual o papel de qualquer determinante não pode ser visto
isoladamente”.
Porter elege três grandes variáveis que determinam o sucesso competitivo: a história social e
política, os valores e os fatores culturais. “A história social e política influencia as habilitações
que se acumularam num país e a estrutura institucional dentro da qual ocorre a competição”.
“Os valores afetam a natureza da demanda interna, por exemplo, bem como as metas dos
diretores e a maneira pela qual as empresas são organizadas”. “Os fatores culturais são
importantes porque modelam o ambiente enfrentado pelas empresas; eles operam através dos
determinantes e não isoladamente”
14
Porter analisa a dinâmica no Capítulo 4 que não constitui objetivo desta síntese. Mas que fique
registrado que a dinânimica está centrada em dois elementos chaves, que têm a capacidade de
transformar o diamante num sistema: a rivalidade interna, porque promove o aperfeiçoamento de
todo o “diamante”, e a concentração geográfica, porque eleva e amplia as interações dentro do
“diamante”.
Estratégia, Estrutura
e Rivalidade das
Acaso Empresas
Condições de Condições de
Fatores Demanda
Indústrias Governo
Correlatas e de
Apoio
Partes Serviços
do de
Couro Criação
Maquinaria de Couro
Trabalhar o Processado
Couro
Máquinas
de
Tecer
Seda
Fibras Sintéticas de
Filamento
Longo