Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Científicos Executivos
Autor(es): Judson Da Cruz Gurgel, Heitor Takashi Kato, Eliane Cristine Francisco
Apoio Realização
Capa Introdução Organização Realização Apoio Sobre o GVcev Mantenedores do GVcev Programação Artigos Aprovados
Científicos Executivos
Resumo
O presente estudo tem como objetivo investigar quais variáveis possuem maior importância
para o consumidor de supermercados que atuam na modalidade conhecida no Brasil como
‘atacarejo’, quando este escolhe onde fazer suas compras. Para isto foi elaborado um
questionário com base no construto composto varejista, sendo realizada uma pesquisa junto a
249 consumidores deste tipo de estabelecimento. Com 197 questionários válidos, foi realizada
análise fatorial exploratória, com método de extração de análise dos componentes principais.
Foram identificados quatro fatores, semelhantes às dimensões do composto varejista, sendo
eles intitulados de: (1) pessoal, (2) preço, (3) promoção e (4) ponto. Foi também realizada
análise de agrupamentos por meio da distância euclidiana quadrada, o que permitiu a
visualização da formação de clusters. Além dos fatores e clusters formados, a contribuição do
artigo enfatiza três itens de maior importância para o consumidor do atacarejo, sendo elas:
descontos para compras em maior quantidade, menor preço em relação à concorrência e
possuir estacionamento privativo para clientes.
1
Capa Introdução Organização Realização Apoio Sobre o GVcev Mantenedores do GVcev Programação Artigos Aprovados
Científicos Executivos
Introdução
Referencial
2
Capa Introdução Organização Realização Apoio Sobre o GVcev Mantenedores do GVcev Programação Artigos Aprovados
Científicos Executivos
De acordo com Cznkota et al, (2001), o varejo supermercadista possui três atividades
fundamentais: fazer com que os consumidores entrem na loja, convertê-los em clientes leais e
realizar suas operações da forma mais eficiente possível, a fim de diminuir custos e conseguir
oferecer preços menores. Braga Júnior; Alonso Júnior e Costa (2011, p.3) defendem que o
varejista de supermercado possui a “função de manter o estoque dos produtos que
comercializa, oferecendo variedade aos consumidores e prestação de serviços que agregam
valor à venda do produto”, sugerindo que este segmento possui um papel que se estende além
da atividade de venda de produtos ao consumidor final.
O varejo supermercadista é considerado pelo próprio setor como empresa de
autosserviço, porém conceitualmente pode-se dizer que se trata de um canal para entrega de
produtos físicos ao consumidor final, e não de serviços (ZEITHAM; BITNER e GREMLER,
2011; NÓBREGA, 2013). Assim, mesmo que para a realização de suas operações um
supermercado faça uso de serviços complementares, sua atividade principal continua sendo a
venda de produtos diversificados para o consumidor final. Calsavara, (2009) defende que o
varejista deve dar ênfase à diversificação e suprimento de produtos, assim como sortimento e
o uso de estratégias como marcas próprias para agradar ao consumidor.
As empresas do segmento de atacado possuem como principal característica a venda
em grandes quantidades, a princípio para varejistas ou representantes comerciais. Este tipo de
venda proporciona economia de escala, o que possibilita redução de custos e consequente
oferta de preços mais baixos do que os encontrados pelo consumidor final no varejo. Kotler e
Keller (2007, p.506) conceituam atacado como “todas as atividades relacionadas com a venda
de bens ou serviços para aqueles que compram para revenda ou uso comercial”, enquanto que
varejo “inclui todas as atividades relativas à venda de produtos ou serviços diretamente ao
consumidor final, para uso pessoal e não comercial” (KOTLER e KELLER, 2007, p. 500).
De acordo com Hsien, Cônsoli e Giuliani (2011) o atacarejo existe desde os anos 80,
mas sofria críticas por não ser considerado na época um modelo de comércio que poderia
prosperar e muitos não davam importância ao segmento. Apenas na década de 90 houve uma
maior expansão de suas atividades, atendendo principalmente pequenas empresas, bares e
pequenos restaurantes. Como muitos destes negócios não possuíam CNPJ, as compras eram
realizadas em nome de seus proprietários, que aproveitavam os preços com desconto para
abastecer também a própria casa; surgindo assim o “cash and carry”. No Brasil este modelo
de negócio passou a ser chamado de “atacarejo”.
Meidan e Tomes (1991) destacam três principais tipos de clientes em lojas cash and
carry: mercearias independentes, pequenos fornecedores e bares. Suas características também
consistem em consumidores de atacado selecionarem mercadorias em gôndolas assim como
em supermercados varejistas, utilizando carrinhos e efetuando o pagamento em cheque ou
dinheiro. Em sua pesquisa, estes autores concluíram que os critérios mais importantes para a
seleção de uma loja neste segmento são preços razoáveis, higiene e limpeza da loja, variedade
e qualidade de produtos. Percebe-se que na época da pesquisa dos referidos autores, as lojas
de atacarejo ainda possuíam muitas características que as faziam parecer mais um atacado
com comportamento de varejo. Porém percebem-se também supermercados varejistas que
adotaram oferta de mercadorias como atacarejo: mesmo com estrutura de varejo, oferecem
descontos para compra em quantidade, e diferente da definição de Meidan e Tomes (1991),
possuem como principal público o consumidor final.
Pode-se conceituar que atualmente o atacarejo reúne características dos segmentos
varejista e atacadista, oferecendo ao consumidor as opções de comprar de forma fracionada,
3
Capa Introdução Organização Realização Apoio Sobre o GVcev Mantenedores do GVcev Programação Artigos Aprovados
Científicos Executivos
com preços normais praticados pelo varejo ou em quantidades maiores de cada produto,
obtendo descontos gradativos de acordo com o volume de compra. Este segmento apresentou
em 2012, faturamento no valor de R$ 286,5 bilhões, crescendo em termos de faturamento
mais do que o varejo em relação ao ano anterior (NIELSEN, 2013). Sendo um segmento
presente principalmente nas capitais e em grandes cidades, o atacarejo apresenta tendência de
se expandir para cidades menores, com até 200 mil habitantes (ABAD, 2013).
Metodologia
Para traçar o perfil dos entrevistados, foram feitos questionamentos acerca do tempo
em que os mesmos frequentam o supermercado, faixa etária, renda e frequência com que faz
compras. Percebe-se que a maioria dos respondentes já frequenta o supermercado há no
mínimo um ano, está na faixa etária entre 35 e 54 anos, possui renda média de 3 a 9 salários
mínimos e faz suas compras de três a quatro vezes por mês. A tabela 1 apresenta uma síntese
destas respostas.
- - 65 acima 17,8 - - - -
Fonte: pesquisa aplicada
Para identificar se os dados estão adequados para a realização de AFE, foi verificada a
consistência interna das 30 variáveis manifestas presentes no instrumento de pesquisa por
7
Capa Introdução Organização Realização Apoio Sobre o GVcev Mantenedores do GVcev Programação Artigos Aprovados
Científicos Executivos
meio do coeficiente Alpha de Cronbach. De acordo com o método mais comum de análise de
confiabilidade dos dados, cujo preceito estabelecido é de que os indicadores devem medir o
mesmo construto e serem inter-correlacionados (LEE e HOOLEY 2005; KLINE 2000). De
acordo com Carvalho, Santos e Rêgo, (2010), quanto mais próximo de 1 for o valor do alpha,
maior a fidedignidade das dimensões, sendo que 0,7 é o valor mínimo ideal. Para os dados
coletados foi obtido o valor de 0,716, sugerindo consistência interna suficiente para
prosseguir com a AFE.
Uma vez que o valor obtido para KMO e a significância do teste de esfericidade
permitem a realização da AFE, em seguida foi avaliada a medida de adequação da amostra,
por meio da diagonal principal da matriz anti-imagem, onde observaram-se valores
adequados, variando entre 0,569 a 0,868. Neste momento, foi verificada novamente a
consistência interna com as variáveis restantes, sendo obtido o valor de 0,76 para o alpha de
Cronbach.
Por meio da extração dos fatores, o método Varimax foi empregado para rotacionar a
matriz componente (AAKER, DAY e KUMAR, 2004; HAIR et al, 2009; MARÔCO, 2011).
Os fatores foram formados por variáveis manifestas cujo valor das comunalidades (h2) variam
entre 0,569 e 0,868. O eigenvalue de cada fator variou entre 1,27 a 4,16. Neste momento a
consistência de cada fator foi verificada, de forma que para todos o valor de alpha de
Cronbach pode ser considerado satisfatório (HAIR, et al, 2009) (tabela 4).
Tabela 4– Solução fatorial com as cargas fatoriais, comunalidades, percentual de variância e alpha de Cronbach.
Fatores
h2
Questão Conteúdo I II III IV
23 Funcionários Prestativos 0,911* 0,006 0,960 0,171 0,868
21 Qualidade no atendimento 0,852* 0,307 0,127 0,172 0,866
22 Rapidez nos caixas 0,798* 0,262 0,214 0,130 0,769
24 Funcionários em número suficiente 0,739* -0,149 0,016 0,009 0,569
9 Menor preço em relação à concorrência 0,052 0,830* -0,095 0,230 0,754
Descontos gradativos para compra em 0,700
7 0,041 0,797* -0,009 0,250
quantidade
12 Produtos em oferta 0,100 0,737* 0,136 -0,064 0,576
27 Possuir acesso fácil 0,308 0,132 0,853* 0,122 0,854
29 Ser fácil de chegar a partir do trabalho -0,071 -0,306 0,847* -0,059 0,820
26 Ser fácil de chegar a partir de casa 0,164 0,210 0,826* -0,161 0,779
17 Facilidade em encontrar o produto desejado 0,042 -0,004 -0,047 0,881* 0,779
19 Disponibilizar estacionamento privativo 0,275 0,135 -0,058 0,796* 0,730
16 Limpeza e organização 0,094 0,390 0,013 0,681* 0,625
Valor Próprio (Eigenvalue) 4,169 2,533 1,708 1,279
% Variância Total Explicada 32,071 19,488 13,138 9,835
Alpha de Cronbach 0,865 0,741 0,816 0,758
Elaborado pelos autores.
*Cargas fatoriais significativas
Método de extração: Análise de Componentes Principais; Método de Rotação: Varimax com normalização de
Kaiser; h2 – Comunalidade;
Fator I- pessoal; Fator II – Preços; Fator III – Ponto; Fator IV – Apresentação
9
Capa Introdução Organização Realização Apoio Sobre o GVcev Mantenedores do GVcev Programação Artigos Aprovados
Científicos Executivos
A AFE pôde identificar quatro fatores que agrupam as variáveis apontadas pelo
público pesquisado serem as que possuem maior importância no momento em que eles
escolhem o supermercado onde irão efetuar suas compras. O primeiro fator refere-se ao
construto “pessoal”, que possui como variáveis manifestas elementos como funcionários
prestativos, atendimento de qualidade, rapidez nos caixas e funcionários em número
suficiente, sugerindo que para os clientes o atendimento, a rapidez e os serviços (quadro 2)
são ações a serem consideradas pelos atacarejos, assim como afirmam Mason, Mayer e Ezel,
(apud Parente, 2000) ser necessário para os varejistas.
Outro fator identificado se refere ao construto “preços”, que possui como variáveis
menor preço em relação à concorrência, descontos gradativos para compra em quantidade
(característica inerente à modalidade de atacarejo) e produtos em oferta, relacionados à ações
de preços, créditos, benefícios e custos (quadro 2). Esperava-se a variável “produtos em
oferta” fizesse parte do construto “promoção”, que não foi revelado na AFE. O terceiro fator
confirmado refere-se ao “ponto”, tendo como variáveis manifestas possuir acesso fácil, e
facilidade de chegar a partir de casa e do trabalho, envolvendo decisões de localização, acesso
e visibilidade.
O quarto fator identificado, que possui como variáveis manifestas a facilidade em
encontrar o produto desejado, a disponibilidade de estacionamento privativo e limpeza e
organização do estabelecimento refere-se à “apresentação”, que envolve decisões relacionadas
à loja, departamentos e planograma. Todos os fatores identificados sugerem que o composto
varejista pode também ser considerado para o setor de atacarejo, permitindo inferir que
decisões estratégicas comumente utilizadas no primeiro também aplicam-se à segunda
modalidade de supermercados.
Análise de Cluster
Considerações
de quatro fatores similares aos do composto que até então era associado apenas ao varejo.
Resultados de estudos anteriores aplicados junto a consumidores de supermercados varejistas
reforçam este argumento (CARPENTER, MOORE e FAIHUST, 2005; CARPENTER E
MOORE, 2006; CAMPOLINE et al, 2007; QUEIROZ, SOUZA E GOUVINHAS, 2008;
WATANABE, 2010; VEIGA NETO e SOUZA, 2012).
Dentre as variáveis manifestas, a que apresentou maiores valores de médias é a
“descontos para compras em maior quantidade”, o que pode ser considerado natural para uma
amostra de consumidores de supermercado cujo principal atrativo é justamente a oferta deste
tipo de vantagem, fomentando a necessidade de novas pesquisas para explorar esta variável
em outros contextos como em supermercados tradicionalmente varejistas. Algumas variáveis,
mesmo não tendo formado fatores apresentaram médias elevadas (acima de 5), como
variedade dos produtos, qualidade do açougue e prazo para pagamento, sugerindo que estes
são elementos a serem considerados pelo estabelecimento ao elaborar seu plano de
atratividade de clientes.
Os fatores formados na AFE assemelham-se a quatro das seis dimensões do composto
varejista de Mason, Mayer e Ezel, sugerindo também semelhanças nestes fatores entre
supermercados varejistas e atacarejo, de forma que estes apesar de atuarem de forma disjunta
daqueles, deveriam atentar para necessidades similares entre os clientes das duas formas de
atuação. A exploração deste fato também demanda a realização de novas pesquisas, para
evidenciar eventuais similaridades e discrepâncias entre o comportamento de consumidores
de supermercados varejistas e atacarejo.
Assim como conceituado no modelo do composto varejista, os resultados da análise
fatorial exploratória indicam também que os gestores de supermercados que atuam na
modalidade atacarejo devem basear suas decisões em relação a preços, créditos, benefícios e
custos – fator preço; loja, departamentos e planograma – fator apresentação; atendimento,
rapidez e serviços – fator pessoal; localização, acesso e visibilidade – fator ponto.
A análise de agrupamentos permitiu observar a formação de clusters entre as variáveis
pesquisadas, semelhantes à formação dos fatores obtida na AFE, fortalecendo o argumento de
que tais variáveis latentes devem ser consideradas na estratégia das organizações deste setor.
Considera-se como limitação do presente estudo a aplicação da pesquisa em apenas
um estabelecimento, o que fomenta também novas pesquisas com maior número e variedade
de públicos e amostras. Os indicadores dos testes KMO e de esfericidade de Bartlett sugerem
a possível necessidade de aperfeiçoamento do instrumento de coleta.
Outras pesquisas podem ser elaboradas a partir desta, seja para aperfeiçoamento do
instrumento ora elaborado, seja para explorar um maior número de estabelecimentos de
atacarejo ou para a realização de comparação entre as opiniões de consumidores deste modelo
de supermercado e os do tradicional varejo supermercadista. Sugere-se ainda a elaboração de
modelagem por meio de equações estruturais a fim de explorar com maior riqueza os assuntos
ora abordados.
12
Capa Introdução Organização Realização Apoio Sobre o GVcev Mantenedores do GVcev Programação Artigos Aprovados
Científicos Executivos
Referências
AAKER, D. A; DAY, G. S.; KUMAR, V. Pesquisa de Marketing. 2ª ed. Atlas – São Paulo,
2004
ABAD, Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores de Produtos Industrializados.
Números do Setor. Disponível em: http://www.abad.com.br/dados/numeros.shtml. Acesso
em 04/04/2013
ABRAS, Associação Brasileira de Supermercados. Índice Nacional de Vendas. Disponível
em http://www.abrasnet.com.br/economia-e-pesquisa/indice-de-vendas/. Acesso em
05/04/2013
BRAGA JÚNIOR, S. S.; ALONJO JÚNIOR, N.; COSTA, P. R. Análise da Qualidade do
Serviço no Varejo Supermercadista Através do RSQ (Retail Service Quality). In XXXV
Encontro da ANPAD – ENANPAD, Rio de Janeiro, 2011.
CALSAVARA, A. R. . ATACAREJO: ESTRATÉGIA PLANEJADA OU MERA
COINCIDÊNCIA. Administração de Empresas em Revista, v. 9, p. 30-40, 2009
CAMPOLINA, A. S. ; CARVALHO, A. ; XAVIER, G ; BARROSO, A. C. ; OLIVEIRA, J;
DOURADO, M . Decisões de Compra dos Clientes de Supermercados de Anápolis.
REVISTA DE ECONOMIA DA UEG, v. 3, p. 1, 2007
CARPENTER, J. M., MOORE, M. , FAIRHUST, A. E. Consumer shopping value for retail
brands, Journal of Fashion Marketing and Management, Vol. 9 Iss: 1, pp.43 – 53, 2005
CARPENTER, J. M., MOORE, M. Consumer demographics, store attributes, and retail
format choice in the US grocery market. International Journal of Retail & Distribution
Management, Vol. 34 Iss: 6, pp.434 – 452, 2006
CARVALHO, J.R.M; SANTOS, W.C; RÊGO, T.F. Uma análise dos fatores de
desempenho financeiro: o caso das lojas americanas s.a. Qualit@s Revista Eletronica. v.9,
n.1, p.1-15. 2010.
CARVALHO, J.R.M; PEREIRA, J.M. Aplicação da análise fatorial na identificação dos
fatores de desempenho não-financeiros das empresas salineiras no estado do Rio Grande
do Norte. Revista de Informação Contábil. v.2, n.1, p.94-101, 2007
CLARKE, I. Retail, power, competition and local consumer choice in the UK grocery sector.
European Journal of Marketing, Vol. 34 No. 8, 2000, pp. 975-1002
CZINKOTA, M. R.; DICKSON, P.R.; DUNNE, P.; GRIFFIN, A.; HOFFMAN, K. D.
Marketing: as melhores práticas. São Paulo, Bookman, 2001
HAIR, J. F.; TATHAM, R. L.; ANDERSON, R. E.; BLACK, W. Análise multivariada de
dados. 6.ed. Porto Alegre: Bookman, 2009.
13
Capa Introdução Organização Realização Apoio Sobre o GVcev Mantenedores do GVcev Programação Artigos Aprovados
Científicos Executivos
14