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PASTAGENS MAU
ARADAS
LARISSA PRESTES SILVA
CEIFANDO
PASTAGENS MAU
ARADAS
O conteúdo desta obra, inclusive revisão
ortográfica, é de responsabilidade exclusiva do
autor
Ao tempo
DA SILVA
Abertura
“Ceifando pastagens mau aradas” é sobre viver.
Cada uma das palavras que compõem essa narrativa
poética fala sobre a vida, em suas mais variadas
nuances.
O conteúdo é um desabafo entrecortado por
linhas que escondem um grito de alívio, gozo e
desprezo, de tudo, pela minha perspectiva.
E a minha perspectiva tem ancestralidade Bantu
angolana e indígena, na composição de uma
brasileira do Sul do país, que cresceu correndo pelos
vales de canaviais no Horto das Oliveiras e se
derramando pelo manancial das Águas de Sarandi.
O restante é teoria.
Daqui, expresso e exponho:
É para se ler delicado.
Grata.
9
CEIFANDO PASTAGENS MAU ARADAS
UM
Sete linhas
Conectadas
Expostas
Escancaradas.
Em tudo!
No que você lê
Nas manchetes
Na podridão política subconsciente
Em você.
Ar que transforma
Terra que castiga
ALIMENTO.
Há chuva, aflora.
Seca, afugenta.
Água marinha,
Marinheiros,
Frente à vida vazia de embalagens que
Gritam,
Não escutam.
10
DA SILVA
ACORDA!
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CEIFANDO PASTAGENS MAU ARADAS
DOIS
A força
Á ferro
Incendiando narinas
Pungentemente
Com odor de sangue
O renascimento.
Passeio
No ar e
Sinto sabores
Cheiros
Tremores
Medos.
Fastigo!
Água doce que
Evanesce e ondula
Preserva tua essência, braço de mãe do mar.
Salgada
Segura.
Caçada!
Haste LEVANTADA contra TODOS os
coniventes.
Abra caminhos, faça justiça, transforma a
morada.
Evolua.
Abrigo
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DA SILVA
Peito Malungo
Mão que ampara
Jorrando mel em vasos quentes
Renovada.
13
CEIFANDO PASTAGENS MAU ARADAS
TRÊS
Acorrentada
No olho do furacão
Nosso túnel de água.
Encontro roto
Desterrado.
Depois
Clarão
Vida vazia
Dia cinza
Tempestade e mar.
Sangue
Cântico
O gozo
Memória dos tempos breus
Corrida
Mata. Mato. Manto. Sagrado.
Zambi
Recém-chegada, Palmas
Morada, legado.
14
DA SILVA
Dolorida
Envelhecida
Ancestral.
Sagrada.
15
CEIFANDO PASTAGENS MAU ARADAS
QUATRO
Agora, presente.
Lancinante ancestralidade
Guiando o ar
Em ventania
Transformações que
Afundam o corpo. Rebento.
16
DA SILVA
17
CEIFANDO PASTAGENS MAU ARADAS
CINCO
Fé
Força silenciosa que embala a paz no
Colo onde hoje se
Trançam memórias na lápide fria.
Te encontro em
Hora marcada por mel e brincadeiras.
Sorriso doces
Lágrimas frias
Mãos de cura e aperto
peito, vazia.
Silencia
Marca o ritmo do encontro
Ladeia com a noite
Mistura o pranto
Despedida.
Abraço apertado
Te vejo em sonhos
Lutamos lado a lado.
18
DA SILVA
Saúda a miragem
É seu o corpo
Delineia as linhas
Vigia
Guia
Abra passagens.
Até breve
Nos vemos lá por quarta-feira
Manda um cheiro no nego
E flores
Azuis
Meu céu. Alado.
19
CEIFANDO PASTAGENS MAU ARADAS
SEIS
20
DA SILVA
Calada em insônia.
Na ira da cobiça
Tomei o caminho do desacerto
Perdi ancestralidades e direitos
Embarquei em construções de egos sonsos
Para então me encontrar com os pontos
Que abriram caminhos de pedras
Até a minha aldeia vazia.
Agora, recomeçamos.
No ciclo intermitente que ondula como ar
Levamos nossos sonhos como panos de
assento
rumamos ao infinito
dessa vez
sem pressa
nenhuma pressinha sequer
de voltar.
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CEIFANDO PASTAGENS MAU ARADAS
SETE
Frio
A ânsia germinou o ar gelado
Fustigando de cansaço o olhar longínquo
E comprimindo de medo com um aceno triste
Dois girassóis cravados em ares desterrados.
Em manhãs mornas,
Dias que se estendiam como braços de água
A se perder no horizonte
O tempo que ensinava a paciência do ser
Acenou ao longe
A volta
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DA SILVA
E a perca
Da espera.
Descansamos tranquilos
De volta
Ao lar.
Sagrado.
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CEIFANDO PASTAGENS MAU ARADAS
OITO
24
DA SILVA
25
CEIFANDO PASTAGENS MAU ARADAS
NOVE
Depois queimem.
26
DA SILVA
Em todas as vidas.
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CEIFANDO PASTAGENS MAU ARADAS
DEZ
Eu via
Vislumbrava a beleza escondida
Intacta
À espera de ser fecundada.
Então, ouvi.
Para acalmar
Fiz a prece
E o mantra cantado
Ecoou chorado:
Guia esse alarde
E transforma essa miséria de alma
Entoada até tarde
Em história de horror e
Maldades
Em tese,
Relegue-a teoria.
Amém.
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DA SILVA
ONZE
Para ti
Cada parte do caminho
Todos os rumos tomados, confusos e errôneos
Que foram lançados nos dados
Desenrolados e guiados
Para me levarem até ti.
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CEIFANDO PASTAGENS MAU ARADAS
DOZE
O amor de quando a
Dor descobre o anseio
Pelo retorno da chuva
Que umedece
Renova
E frutifica
O deserto oco de
Essência
E vida.
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DA SILVA
TREZE – TRANSA
Te conheço de antes
Rodopiei aos ventos contigo
Nos sonhos, em bares
De longe.
31
CEIFANDO PASTAGENS MAU ARADAS
32
DA SILVA
QUATORZE
Sumo nossos
Vultos ofegantes
Em ares densos
Que sopram ventos
Doces para mares
De calma,
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CEIFANDO PASTAGENS MAU ARADAS
Na tempestade da alma
A essência do fim.
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DA SILVA
QUINZE
Em dias de ar quente
Minha gente se joga
Nos braços de cachoeiras
E enfeita o cabelo com flores que
Serpenteiam distraídas, a flutuar nas margens
De águas que fluem para fecundar
A terra vermelha do vale inteiro.
São nossas
As águas, a terra
As flores e o vale.
35
CEIFANDO PASTAGENS MAU ARADAS
É tua.
És dela.
Respeite.
36
DA SILVA
DEZESSEIS
37
CEIFANDO PASTAGENS MAU ARADAS
DEZESSETE
Me sentei para
Admirar o céu
Rosado de um fim de
Tarde nublado.
Gravei-o na memória
E em palavras de
Êxtase agrado
Com tons de Tarso
Embasbacado.
Grato.
38
DA SILVA
DEZOITO
À Lía de Itamaracá
por me ensinar a cirandar.
Os sons ensinam.
É no ciclo
Do passar do tempo
Meu lugar
Levada pelo cirandar de Lia
39
CEIFANDO PASTAGENS MAU ARADAS
A observar o ir e vir
Para narrar
Aqueles dias de companhia
Com chuva escorrendo pelas paredes
Mãos dadas, alegria
Na porta de entrada e saída
No chão de terra batida
Nas vigas de madeiras
Rachaduras sem tintas
A descascar
Para renovar
E iluminar nova vida.
40
DA SILVA
DEZENOVE
Esse brilho
No olhar
Carrega o sonho
De se viver
Na ilusão
Da alegria
Aquela que derrama
Amor em neve
Macia
Para se desvanecer
Ao sol
De meios dias
Banais.
Na abertura
Para esse mundo
Você iniciou a guia
41
CEIFANDO PASTAGENS MAU ARADAS
Dando alicerce
Que constrói forte
O escudo onde me
Destruirei mais dia
Menos dia
Para então estar
No recôndito
Da sua companhia
Flutuando entre
As linhas da sua
Energia
Corrigirá
Obá.
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DA SILVA
VINTE
Plástico
Medida fabricada
Para ornar com
Interiores lúgubres
Cheios de medo e
Sombras.
As esquinas
Apinhadas de tentáculos
Que se originam
Em seres criados
Unicamente para
Fecundar, até se dizimar
Na terra, em águas
Como ondas.
Nos livra
Pois, livres encontraremos
A fonte
Mergulharemos em suas poças
E voltaremos
A lama
Nossa fossa-origem
Herança da evolução
Insonsa dessa raça
Demasiadamente humana.
43
CEIFANDO PASTAGENS MAU ARADAS
VINTE E UM
Venho te
Alimentando
Em pensamentos
Há tempos.
Te nutro
Com a umidade
Que desce de um
Prazer doce
Recheado pelas lembranças
De aromas melados
Em momentos de
Pequenas pausas
Que brindavam
Espaço à luz
Nascente do
Mútuo gozar
Intensamente.
Venho nos
Devorando
Em pensamentos
Há tempos.
44
DA SILVA
VINTE E DOIS
Melancolia?
Talvez
Um pouco.
A dor de Ser
Vez ou outra
Nos estilhaça.
45
CEIFANDO PASTAGENS MAU ARADAS
VINTE E TRÊS
Rocha
Pedra macia
Que afaga
A mutabilidade
Do ar.
Escorro pelas
Tuas encostas
Como terra
Úmida e ansiosa
Por ser lama.
Corre e se
Encontra com
A mão, mar
Fluindo no rolar
De ondas
Que salgam
E limpam.
Te encontro
No vento de outono
Que mergulha
Em nuvens brancas
Do entardecer
Para fazer incendiar
E anoitecer.
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DA SILVA
Minha rocha
Pedra do afago e do apego
Nos encontraremos
Em tardes de céu rosado
Com lábios
Pintados de amora
No sossego.
Até mais.
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CEIFANDO PASTAGENS MAU ARADAS
VINTE E QUATRO
Principalmente aqui
Nessa coletânea
Mal organizada de ego
Que devora ego
Para alimentar
O cardume de parasitas
Enlatados e engravatados
Prontos para serem
Servidos
E servirem
Fantoches do mal agrado.
48
DA SILVA
Ai então,
Em meio à
Liberdade de Ser
Valor sem mercado
Talvez o nojo se
Pegue espantado.
49
CEIFANDO PASTAGENS MAU ARADAS
VINTE E CINCO
Não!
A transformação
Veio daí
Surgiu como
Onda vermelha
Na fúria da negativa
Não!
Surgiu para
Abominar o mau agrado
Gritou para denunciar a dor
Levantou vozes em
Ecos e engasgos
Que entoaram em uníssono:
Não!
50
DA SILVA
Geme aflita:
Não!
Cortando
Pastagens
Não
Amadas.
51
CEIFANDO PASTAGENS MAU ARADAS
VINTE E SEIS
Aceito.
Vou digerir
Todos os membros da dor
Que irão se decompor
Em ácido
A ser expelido como
Vômito de passado.
E só então seguirei
Leve de todas
As cargas mal alimentadas
Que comi
Pelo puro medo de
Ser, solitário
Renascido.
52
DA SILVA
VINTE E SETE
Não sei
E a delícia do
Não saber me move
Feito folha
Em rio que flui
Leve para
A cascata.
E fecho os
Pontos.
Grata.
53
CEIFANDO PASTAGENS MAU ARADAS
P.s.
54
DA SILVA
ANULAR-SE
É preciso desaparecer
Para encontrar.
Andei me prostituindo
Às teorias vazias de significado
E corrompendo a arte
Macia que me
Foi concedida com
Debates inflados de ego
Sem valia.
E preciso de perdão.
As penitências envolvem
Perder-se, anular-se,
Consumir-se.
É preciso se desvanecer
Ao âmago do nada
Sem nome
Ou qualquer
Outra mesquinharia
insone
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CEIFANDO PASTAGENS MAU ARADAS
Para curar.
56
DA SILVA
AR
E sorri
Sentindo a transformação
Pela fala do Ar.
57
CEIFANDO PASTAGENS MAU ARADAS
COM CALMA
58
DA SILVA
FOME
Fantasia
É essa a minha fome
E preciso comê-la
Com o olhar antes
E depois
Lambê-la e já salivando
Mastigá-la lentamente
Para sentir seu gosto
Em líquido doce
Engolido suavemente
Saciando-me
Diariamente
Incessantemente
A fim de manter
A sanidade
Em meio à
Essa realidade
Vazia
Deliciosamente quente
Invasivamente fria
Ora divina
Ora torpe.
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CEIFANDO PASTAGENS MAU ARADAS
LAVA
Me deixei ir.
Flui como
Quando ainda
Era ar.
E aos ventos
Me joguei
Para descansar
Na lava que escorre
Lentamente
Pela encosta da pedreira
Tomando conta dos vales
E montes
Para então desfazer-se
60
DA SILVA
E se solidificar
Nos braços do Mar.
61
CEIFANDO PASTAGENS MAU ARADAS
LEVE
Leve
Disponha-se a
Ser
Entrega aos Ventos
Que levam
Suavemente à
Redenção ao Todo
Em carne
Vísceras
Músculos
Alma e ossos
Para se dizimar.
Serenar
Ser em Ar
Se desmanchar
Desvanecer
Despertar.
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