Você está na página 1de 20
ANAIR VALENIA MARTINS DIAS CLAUDIA GOULART MORAIS VIVIANE RAPOSO PIMENTA WALLESKA BERNARDINO SILVA MINICONTOS MULTIMODAIS ee al eescrevendo imagens otidianas s desafios impostos aos professores que trabalham com leitura ¢ escrita na escola contemporanea tém sido alvo de intimeras pesquisas e esto no cerne da atual agenda dos estudos da linguagem. Ha algumas décadas, as praticas de letramento na escola alicerga- am-se em atividades de leitura e escrita nas quais se recorria apenas Jinguagem escrita como tecnologia para o ensino de lingua materna. ttualmente, essas praticas tém sofrido modificagdes com a insergdo ¢ juso das novas tecnologias. Os textos combinam imagens estaticas (¢ minicontos multimodais ( (95) em movimento), com audio, cores, links, seja nos ambientes digitais ou na midia impressa. Tais modalidades passaram a exigir do leitor —no caso escolar, do aluno e do(a) professor(a) — a aquisigfio e o desenvolvimento de ou- tras habilidades de leitura e escrita, dependendo das modalidades uti- lizadas, ampliando a nogio de letramentos para miltiplos letramentos. ‘A ampliagdio desse conceito vem dar conta da diversidade de semioses que co-ocorrem nos textos encontrados hoje nas midias: visual (uso das imagens), sonoro (uso de sons), verbal (uso das linguas), para citar os mais recorrentes. Nesse novo contexto, foram surgindo novos géneros' do discurso, tais como 0 blog, 0 e-mail, 0 chat, as homepages, os podcasts, os info- graficos ¢ diversos outros trazidos para/pela internet. Basta abrir uma pagina da web para encontrar uma multiplicidade de textos multimo- dais, combinando diversos modos de significar A preocupagiio dos(as) professores(as) com o aprimoramento das praticas escolares — para adequar o ensino as modificagdes sociais e 4 pluralidade cultural — e a articulacao do ensino da lingua portugue- sa nos dois eixos (0 do uso da lingua e 0 da reflexao sobre seus usos) proposta nos Parametros Curriculares Nacionais (PCNs) de lingua por- tuguesa tém requerido cada vez mais do alunado o refinamento das habilidades de leitura e escrita, de fala e de escuta de géneros variados presentes nas diversas praticas sociais letradas. Além disso, a publicagdio dos PCNs, em 1998, e das diretrizes curri- culares para o ensino da lingua portuguesa nos niveis fundamental, mé- dio ¢ £1 trouxe a nogdo de géneros do texto/discurso para o primeiro plano das questées de ensino e aprendizagem da lingua, jé que “todo 0 texto se organiza dentro de determinado género em fungio das inten des comunicativas, como parte das condigdes de produgao dos discur- sos, 0s quais geram usos sociais que os determinam” (Brasil, 1998: 21). ‘Assumimos @ nogio de género na perspectiva bakhtiniana multiletramentos na escola Outro aspecto da nogio de género que também nos € caro é aquele © enfatiza como “instrument” ou “megainstrumento” (Schneuwly, 94[1994]) de ensino e de aprendizagem de lingua. Sendo os géneros srumentos que possibilitam a interagao humana, € necessario que ofessor de lingua matera sistematize as praticas de linguagem, ma que haja uma progressio no dominio dos géneros trabalhados na sola. E nessa perspectiva que os pesquisadores do Grupo de Genebra m que os géneros sejam apresentados aos alunos por meio de cias didaticas que, segundo eles, so “um conjunto de atividades solares organizadas, de maneira sistemética, em toro de um género ctual” (Dolz, Noverraz ¢ Schneuwly, 2004{2001]: 97). A finalidade ncipal das sequéncias didaticas & confrontar os alunos com praticas inguagem historica e socialmente construidas e Ihes dar a possibili- de de aprendé-las ¢ delas se apropriarem de forma progressiva. Nosso objetivo neste capitulo é apresentar uma proposta de leitura producdio de textos (orais e escritos) a partir da elaboracdo de uma éncia diditica que parte do género miniconto multimodal. va Sous des sobre o género discursivo Tomando como pardmetro a organizacio das atividades realizadas slo ser humano em esferas de comunicaao, Bakhtin (2003[1952- 53/1979]: 279) define os géneros como “tipos relativamente estaveis ‘enunciados”, sendo que eles se constituem a partir do funcionamen- das esferas de atividades desenvolvidas pelos sujeitos. A linguagem, Js, assumida sob uma perspectiva enunciativa, torna-se materialida- ‘semiotica e linguistica e realiza-se em uma esfera de pratica social Fssas priticas sociais envolvem as mais diferentes situagdes de co- micagio, que podem ir desde uma conversa informal até uma situa- 5 de absoluta formalidade. Os enunciados — sejam eles orais, escri- ou multimodais — exprimem, em certa medida, a individualidade minicontos multimodais 7 WZ “78 dos sujeitos e suas idiossinerasias, mas na dependéncia de situagdes so- ciais concretas de enunciagdo (Bakhtin, 2003[1952-53/1979]). Sendo produgdes individuais e renovaveis a cada situagao social de interagao verbal, os enunciados contribuem para a constituigdo e a permanente continuidade/mudanga dos géneros. Partindo da premissa de que as “esferas da atividade humana” fa- zem surgir os géneros e, consequentemente, os enunciados, Bakhtin discute 0 fato de que trés elementos genéricos se fundem na realizagaio dos enunciados: 0 estilo, o contetido temitico ¢ a estrutura composi- cional, O estilo é a “‘selegao operada nos recursos da lingua — recur- sos lexicais, frascolégicos e gramaticais” — ¢ esta indissoluvelmente ligado ao enunciado e, ao mesmo tempo, & estrutura composicional a0 contetido tematico (Bakhtin, 2003[1952-53/1979]: 279.283), A es- trutura composicional diz respeito a propria forma de apresentagio e organizagao do género, a sua estruturagdo e a sua apresentagao globais. Por fim, 0 contetido tematico diz respeito aos efeitos de sentido, a sig- nificagfio do enunciado no género, ou seja, aos assuntos possiveis de serem abordados nos enunciados de um género dado. Esses elementos sao importantes para 0 estudo dos géneros ¢ os retomaremos em nossa proposta de leitura e interagdo com o género multimodal miniconto, Sequéncia didatica como 7 dimento de aprendizagem Os pesquisadores Schneuwly, Dolz et alii (2004) discutem a im- porténcia de trabalhar com os alunos o funcionamento, a fungo, as condigdes de produgao e a circulagdo dos textos nos diversos géneros © contextos em que estado inseridos. Nessa perspectiva, esses autores apresentam o trabalho organizado a partir de sequéncias didaticas so- bre géneros especificos. multiletramentos na escola A sequéncia didética, organizada como uma sequéncia de médu- de ensino, que possui como objetivo maior o desenvolvimento da cidade comunicativa dos sujeitos envolvidos no processo ensino- ndizagem, visa criar contextos de produco reais e desenvolver jdades miltiplas e variadas, Embora os textos, orais, escritos ou multimodais, produzidos pelos tos em um proceso de interago em determinada situacao de co- icagdo sejam sempre diferentes uns dos outros, eles possuem ca- isticas semelhantes que podemos considerar como determinadas s géneros de discurso. Uma sequéncia didatica, com objetivos bem imitados, pode auxiliar os alunos a conhecer, a interagir e a produzir énero que estiver sendo estudado, percebendo analiticamente os ele- ios recorrentes ¢ os que divergem do padrio recorrente. Uma sequéncia didatica se organiza em tomo dos seguintes proce- lentos: (a) definicdo da situagdo de comunicagéo [ou seja, estabelecer, para 0s alunos envolvidos no estudo, 0 contexto de produgo. o(S) género(s) que seri(ao) abordado(s), as etapas que serio percorridas para a efetivagao do trabalho e os possiveis leitores dos textos]; produgao escrita inicial (que tem por objetivo conhecer 0 po- tencial de escrita dos alunos, que demonstrardo o que ja sabem sobre o género abordado); ‘médulos de ensino, que se desenvolvem a partir de trés principios: (i) trabalhar problemas de niveis diferentes: (ii) variar as atividades e exercicios: (iii) capitalizar as aquisigdes; producdo final (partindo das varias situagdes de comunica- go estudadas ao longo dos médulos, esse € 0 momento em que os alunos produzem 0 texto no(s) género(s) discursivo(s) estudado(s) durante 0 processo) [Dolz, Noverraz e Schneuwly 2004[200 1]: 95-128]. Todas essas etapas nortearao 0 trabalho com o género miniconto multimodal, que sera discutido em seguida. minicontos multimodals | (79 80 -género relativamente recente: iniconto O género miniconto teve inicio em 1959, com 0 guatemalense Au- gusto Monterroso, que escreveu 0 miniconto “O dinossauro”, conside- rado um dos menores de que se tem noticia. No Brasil, Ah, 6?, livro de Dalton Trevisan de 1994, é considerado o ponto de partida do minicon- to no seu formato contemporaneo. Em 2004, ganha destaque a obra Os cem menores contos brasileiros do século, organizada por Marcelino Freire, com contos utilizando no maximo cinquenta letras. Na contemporaneidade, com as tecnologias digitais, esse género tomou novo fdlego, sendo amplamente publicado em blogs, celulares, Twitter, dentre outras ferramentas. Esse folego foi renovado devido a fluidez e a rapidez com que as informagdes siio divulgadas por meios tecnolégicos digitais que exigem outras formas de leitura, outros géne- ros de textos e outros letramentos. Embora niio tenhamos encontrado muita literatura sobre 0 assunto, 08 escritores de minicontos que divulgam seu trabalho na rede os ana- lisam de diferentes formas: E simples, sio contos muito pequenos, limitados pelo tamanho minimo?; O miniconto, como qualquer ficgdo curta, tem de pegar o leitor de cara, com recursos expressivos eapazes de interessé-lo a seguir o desenvolvimento da historia até chegat ‘uma reviravolta que provocara a surpresa e que geralmente é 0 objetivo do escritor’; O miniconto é uma estética prépria da contemporaneidade e herdeiro do minimalismo*. Assim, a pressuposigdo de uma narrativa de ordem linear, conforme estudos candnicos do género conto, deixa de ser privilegiada nos mini: G.G. Ferraz, Hisioriasem apenasuma linha. Disponivelem , acesso em 27/08/2010, » 4, P, Hergesel, Dicas para eserever um micraconto. Disponivel em , acesso em 27/08/2010, + M, Spalding, Os cem menores contos brasileiros do século ea reinvengio do miniconto na literatura ‘brasileira contempordnea. Dissertasio (Mestrado em Literatura Brasileira, Portuguesa e Luso-africanas) Instituto de Letras, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2008, Disponivel ex , acesso em 27/08/2010. Disponivet em , acesso em 27/08/2010. multiletramentos na escola tos, que buscam, por sua vez, uma “estética da brevidade” (Ferraz, ), aliada tanto as necessidades das novas tecnologias de informacao mmunicagdo quanto a condigdo de uma cultura do impacto, do ines- 10. Segundo Ferraz (s.d.)*, para chegar a surpresa do fim do texto, -se “a vantagem de no se precisar ler 345 paginas até chegar a 2”, pois hé a presenga, nesse género de texto, de outros recursos (se- ‘cos e multimodais) que colaboram para o desenrolar da narrativa, ando-a breve e interessante. Marcelo Spalding aponta para a dificuldade de definir 0 que seja miniconto e discute 0 fato de esse género se constituir no pro- 0 de interagdo com o leitor, que completa a narrativa, “transfor- do © miniconto em uma narraco plenamente satisfatéria em si a ¢ ndlo em mero fragmento, anedota, apontamento ou alusio” alding, 2008[1997]: 61). Nessa mesma diregio vio os nanocontos, produtos de um “movi- to artistico, liberal e ficticio” chamado nanocontagem, cujas carac- isticas mais relevantes so a “concisio textual, a tematica livre e © cto numérico”. Alguns nanocontistas assim definem esse género: bra ficcional que tem maior credibilidade ao tempo em que se torna ‘oF, ou seja, quanto mais conciso o nanoconto ¢ sua mensagem, hor a sua atuagao na rede”. ‘Além de miniconto e de nanoconto, esse género recebe outras nominagdes, tais como: microconto, microrrelato ¢ conto brevis- ‘0. Todas essas denominagdes nos remetem a producdes peque- que interpelam movimentos de leitura diferenciados, mais flui- s, dinamicos e que requerem letramentos diferenciados de seus terlocutores. GG. Ferraz, Histérias em apenas uma tinka. Disponivel em acesso em 27/08/2010. “Nanocontagem. Disponivel em , 268880 em minicontos multimodais juéncia didatica a servico dos itiletramentos: o trabalho com minicontos multimodais Partindo do pressuposto de que a escola é uma das agéncias mais importantes de letramentos, a leitura deve ser 0 eixo norteador de todo processo de ensino e aprendizagem e, por isso, deve ser considerada uma pratica voltada para a formagao de leitores e nao de “alfabetiza- dos”. O leitor precisa ser visto, na perspectiva bakhtiniana, como “res- ponsivo”, isto & como alguém que adota uma postura de compreensiio responsiva ativa: “Concorda ou discorda (total ou parcialmente), com- pleta, adapta, apronta-se para executar” (Bakhtin, 2003[1979]: 291) cumpre sua fungao protagonista de sujeito que interage e se comunica. As praticas de letramento, tais como as conhecemos na escola, no so mais suficientes para possibilitar aos alunos participar das vérias priticas sociais em que a leitura e a escrita sfio demandadas hoje (Rojo, 2009: 107). © uso do computador como ferramenta de leitura, de escri- tae de pesquisa, o ciberespago, a hipermodalidade e hipermidialidade que compdem os textos da web, além de motivarem as aulas, ainda propiciam aos alunos a possibilidade de desenvolverem habilidades de compreensio, produgo e edigao de textos de forma mais situada ¢ a partir de novas tecnologias. Dessa forma, a capacidade de uso das ferramentas disponibilizadas pela tecnologia digital passa a estar inti- mamente relacionada com competéncias que devem ser desenvolvidas pelos sujeitos contemporaneos. Estamos falando de multiletramentos. Em fungdo disso, as escolas precisam do respaldo de uma epistemolo- gia e de uma pedagogia do pluralismo (Kalantzis; Cope, 2006[2000): 130) que deem suporte as “novas” maneiras de ler. A insergio, cada vez mais acelerada, das tecnologias digitais da informagao nas salas de aulas esta fazendo “ruir uma ordem ou um. solo comum que era apenas para poucos”, conforme nos aponta Garcia Canelini (2008: 16). 82), multiletramentos na escola Com a aceleragaio na mudanga dos velhos conceitos, a nogio de jor também tem softido modificagdes ao longo das duas illtimas dé- s. Se antes um leitor era um sujeito que tinha uma relago solitéria as formas impressas de leitura, hoje, apds o advento da internet, lobalizagdo tem desencadeado efeitos multiplos sobre a circulagao. rodugaio e a recepgao de informagdes, na medida em que os meios comunicagaio e as novas tecnologias atravessam as fronteiras de um jo cultural préximo, local ou nacional, e nos aproximam de uma ra mundial, globalizada. Para o Grupo de Nova Londres (2006[1996]). tanto professores ito alunos se constituem participantes ativos na mudanga social e sm ser considerados parte do mundo globalizado. Partindo da pers- iva sociocultural de que os multiletramentos, com suas praticas de ira € escrita, so podem ser compreendidos se considerarmos 0 con- social, politico, econémico, cultural e histérico do qual fazem 2, 0s sujeitos contempordneos compreenderio a importancia desses {textos em tudo o que os cerca: naquilo que eles so, veem, ouvem € rpretam, fazendo mengao aos textos hibridos encontrados tanto nas dias digitais quanto nos meios impressos. O mundo contemporaneo impde aos sujeitos uma variedade infin wel de exigéncias que multiplicam enormemente a gama de priticas, eros e textos que nele circulam e que, de uma forma ou de outra, sm ser abordados na esfera escolar. Diante das novas demandas de ensino, pensamos no desenvolvimen- de uma sequéncia didética voltada para o trabalho com a multimo- fidade, tentando possibilitar aos alunos encarar as (multi)semioses ergentes na alta modernidade, nos termos de Garcia Canclini (2008). Escolhemos como tema para o trabalho com os minicontos 0 co- 10, como referéncia ao vivo e ao vivido, ao que est, por assim , fora dos muros da escola, Esse tema permite ao aluno ressignifi- sua visio sobre suas atividades corriqueiras, porque o leva a adotar “atitude responsiva ativa” diante de suas agdes diarias. minicontos multimodais Tentamos conciliar a leitura do cotidiano com leituras de miisica, de fotografia, de textos, de imagens, de videos e de sons que poderao auxiliar os alunos a desenvolverem competéncias basicas para lidar com a leitura de maneira critica e protagénica. A sequéncia didatica que propomos é composta pelas seguintes etapas: (i) apresentagdo do género miniconto; (ii)_interpretagdo de minicontos; (ii) confronto do miniconto com o conto; (iy) exibigdio de um miniconto em video; (v)_produgao de um miniconto em video (fase de preparagiio, pro- dugiio e revisio). Para alcangar cada uma dessas etapas, elegemos como objetivos da (a) conhecer 0 género miniconto; (b) comparar o miniconto com o conto, a fim de estabelecer seme- Ihangas e diferengas entre eles; (c) capturar imagens cotidianas e organizé-las em uma narrativa; (a). produzir um miniconto utilizando a ferramenta Movie Maker; (©) organizar um festival de minicontos em video. piiblico previsto so originalmente alunos do ensino médio, mas a sequéncia pode ser adaptada para qualquer faixa etéria, levando em consideragao os letramentos exigidos em cada projeto da aprendizagem. Antes de abordar especificamente 0 género miniconto, é importante olhar para o cotidiano dos alunos, discutir com eles cenas corriqueiras do seu dia a dia. Essa atividade possibilita a interagao verbal, a escuta € a réplica ativa (Bakhtin, 2003[1979]), com vistas & criago de vinculo e proximidade entre professor(a) ¢ alunos, num clima que comporta o par- tilhar do conhecimento e da troca de informages. Como atividade gera- dora da discussio elegemos Coridiano’, composigao de Chico Buarque. Disponivel em , acesso em: 23/08/10, = (ea) muttietramentos na escola ZF Em um segundo momento, ampliamos a discusso sobre 0 cotidiano coutra modalidade além da verbal e da musical: a visual. Dessa forma, 0 é necessariamente inserido em um tipo de letramento diferente do da igo escolar, numa nova estratégia de produzir sentido: os letramentos issemiéticos (Rojo, 2009). Para isso, o primeiro passo é convidar os 0s a observarem ¢ fotografarem momentos de seu cotidiano durante s dias, utilizando as novas tecnologias (camera digital, celular, mr5). As agens por eles capturadas serio utilizadas na producdo de um miniconto, tema seré o mesmo explorado nas atividades anteriores: 0 cotidiano. ‘Nossa proposta considera o aluno um sujeito imerso num universo opolita e multimidia, pois, muitas vezes, é nas telas extracurricula- (em casa ou nas Jan houses) que os alunos vao entrar em contato com multissemioses e aprender a combinar conhecimento ¢ entretenimento. Apés essa etapa, em que se prepara 0 terreno para o trabalho com os Itiletramentos, damos inicio especificamente ao estudo do género mini- ito multimodal por meio da apresentacdo de atividades interpretativas. Eternos? Unidos para sempre Miniminimizado por Everaldo Ygor *Disponivel em , acesso etn 23/08/10. Minicontos multimodais | (@5 Proposta de anélise: (2) Qual 6 a relacao entre o titulo e a imagem? (b)_ Em sua opiniao, por que ha a ligagdo de apenas um érgao entre 0s per- sonagens, no caso, 0 coracao? (c)_ Por que 0 rosto do homem foi retratado pela metade? (d) © que se pode pensar da relacao entre 0 texto “Unidos para sempre” € a imagem? () O que significa a expresso “para sempre” nesse contexto? (Por que a imagem esta em preto e branco? (g) Quais sensages a imagem desperta em vocé? (h) Levante hipéteses sobre 0 fato de apenas um braco fazer parte dos dois corpos Avela eo vento? f : A longa espera pelos pequenos corpos da escola Fonte: Zero Hora, 14/05/2008 Minimizado por Silvio Vasconcelos” Sob Os escombros esperava ajuda. Sua voz ja ficava fraca e seus gemidos se perdiam entre tantos que vinham dos destrocos de prédios misturados a restos humanos. Nao sentia fome, nem sede, fem dor. Era vela que tremulava a qualquer sopro. Disponivel em ,acesso em: 23/08/10, Disponivel em ,acesso ett: 23/08/10. 86 }) multiletramentos na escola Alice sant’anna —Cine Palacio (texto e audio)" Estagao da carioca (video) 0 acessar 0 link , selecione gina da autora Alice Sant’Anna para entrar em contato com o ontetido proposto. o de habitos culturais diferentes em leitores que, por sua vez, S30 es- dores e internautas” (Garefa Canclini, 2008: 21), fazendo alusio a um sjeito-leitor multimidia que combina leitura de texto ¢ imagem, audiglio ¢ habilidades que integram ages e linguagens diferenciadas, para inte- com as multissemioses propiciadas por um computador ligado a web. “Textos retimdos de Enter — Amtologia digital, organizado por Heloisa Buarque de Holanda. Dis- vel em , acesso em 23/08/10. minicontos multimodais (87 ‘A partir da reflexdo acerca da coexisténcia da imagem, do verbal, das cores, do movimento, das formas, dos sons e lugares em um mesmo texto & que o aluno seré capaz de ter uma nogiio do miniconto multimo- dal enquanto enunciado que comporta um estilo, um contetido tematico e uma estrutura composicional especificos. Somente depois de ser confrontado com o género, ¢ que o aluno poder compari-lo com outros géneros ¢ definir 0 que ha de singu- lar na realizago dos minicontos multimodais, a partir da proposta de confrontar 0 miniconto multimodal com 0 conto, para estabelecer um recorte no género trabalhado. A dinamica apropriada para esse tipo de trabalho é a divisio da sala em dois grupos, que deverio conversa en- tre si sobre o género miniconto ¢ listar caracteristicas dese género no quadro, Isso seri feito a partir do estudo do género conto previamente realizado, para eventuais comparacSes. ‘Antes, porém, de convidar os alunos a produzirem seu proprio mi- niconto multimodal, o professor exibiré um video"? que retrata 0 co- tidiano de um jovem. Esse curta serviré como exemplo para que os alunos possam se orientar ¢ desenvolver sua propria narrativa. Sera necessirio chamar a atengiio dos alunos quanto: (i) aos sons e misicas que se hibridizam as imagens; (ji) ao enquadramento das imagens; (iii) as cores que compdem os quadrantes; (iv) a escolha das cenas; (iv) a ordem das cenas. Apresentamos esses questionamentos para que os alunos atribuam sentidos as palavras, escritas ou ouvidas, ¢ as imagens vistas, estaticas ou em movimento. E importante mostrar ao aluno outras formas de significar, tendo em vista que, na contemporaneidade, os componentes midiaticos jé fazem parte do nosso cotidiano (Lemke, 1998). ‘Segunda-feira. Curta ou microfilme de Fabinho Femandes. Disponivel em , acesso em 18/02/2011 F (88) multiletramentos na escola ZF bendo que as semioses envolvem aspectos como: representagio de interesses (necessidade de comunicagao); Gi) selego de uma escala de recursos representacionais (linguisti- cos, gestuais, visuais, espaciais ou formas multimodais); i) ago de representago ou produgao de sentido como processo em si (Cope; Kalantzis, 2006[2000]), espera-se, por meio dessa intervengdo, um estudo mais sistematizado do video assistido. Depois de apresentar 0 curta aos alunos e de propor uma andlise condigdes de produgio e configuragao, é chegado 0 momen- 08 alunos produzirem uma primeira versio" de seu miniconto aitimodal, a partir das imagens capturadas ao longo dos trés dias em coletaram imagens de seu prdprio cotidiano. As imagens gravadas ( ser transferidas para 0 computador e editadas com 0 programa ie Maker. A etapa seguinte da sequéncia didatica ¢ 0 trabalho de editorag3o ‘versio final do miniconto multimodal’ no Movie Maker. Essa ati- de poderé ser desenvolvida em dupla ou grupos, para propiciar jiores oportunidades de negociacao da construgao do sentido. Para dar os alunos a utilizarem de forma adequada a ferramenta Movie er, um tutorial sobre a utilizagdo dessa ferramenta deverd ser esentado pelo professor: E importante lembrar que esse texto devers passar por reescritas até ser considerado adequado ccondigBes de produgo do gener. (0s alunos utilzario verso final do texto escrito, que ji teré passado por revisdes. minicontos multimodais Dee Cate ene» 90 )) multiletramentos na escola 1° passo: ‘Abra 0 programa e localize em seu computador as imagens que sero importadas. Em seguida, arraste-as para 0 Storyboard, que se localiza na parte inferior da ferramenta, 2° passo: Hora de editar seu filme. Primeiro, selecione os efeitos de video que deseja aplicar e arraste-os até a(s) imagem(ns). Em sequida, selecione as transigées de video que compordo as imagens. Na sequéncia, dé um titulo a seu video e atribua os créditos. Ainda nna edigao de seu video, importe uma misica (instrumental) que servira de fundo para seu miniconto. QP u 9- o- [aiewe|O ane nema Bl eee otc eect coe 3° passe Em Ferramentas, clique na opgo “Narrar linha do tempo” e inicie a nar- racdo. Nesse momento, com base nas imagens do cotidiano escolhidas, narte seu miniconto, que j4 possui uma versao escrita revisada. minicontos multimodals 2) multiletramentos na escola Vale lembrar aos alunos que a duragiio da narrago do miniconto multimodal nao deve ultrapassar 60 segundos, para que a configuragiio do género nio se perca. Para finalizar a sequéncia didatica, pode-se propor a organizagio de um “festival de minuto” de minicontos multimodais. A circulagdo social do género deve prevalecer para que a sequéncia didatica ndo tenha um fim em si mesma, nio fique cireunscrita aos “muros da escola”. A lei- tura solitéria deve ser redimensionada de modo a promover o enfrenta- mento que essas novas semioses proporcionam (Garcia Canclini, 2008). O evento de apresentag’o dos minicontos multimodais pode ser en- riquecido com a produgio, pelo préprio aluno, de folhetos, cartazes e convites impressos ¢ digitais para a divulgagio dos trabalhos. No dia do evento, apés a exibigtio dos minicontos em video, os alunos poderdo ainda propor uma discussio acerca do processo de produgiio do género miniconto multimodal. Caso se tenha ainda mais folego para o trabalho, © professor poder propor a inscrigiio dos minicontos multimodais no festival do minuto'’, adequando os trabalhos as exigéncias do evento". sao A partir de uma sequéneia didatica para 0 ensino de um género multimodal, os minicontos, apresentamos a possibilidade de trabalhar na perspectiva dos multiletramentos, considerando 0 aluno sujeito de seu proprio dizer/fazer, protagonista de seu percurso de aprendizagem. Do ponto de vista pedagégico, a sequéncia didatica, entendida como um instrumento norteador da aula, possibilita organizar o pro- "= "Para maiores informagdes sobre esse festival, basta acessar: ,acesso em 18/02/20 "No festival do minuto, por exempfo, hi um prémio para videos autobiogrfics de até um minuto. Ha ainda prémios para outrascategorias, como tema livre, minuto humor, animagio, dentre outs. o de ensino-aprendizagem num ambiente sistemitico e prazeroso que o(a) professor(a), além de orientar o processo de leitura ¢ pro- So de textos multimodais do ponto de vista metodolégico, orienta m 0 aluno sobre © processo do ponto de vista tecnolégico, ou de como utilizar a tecnologia disponivel. Dai ser imprescindivel poraneidade e construir novas praticas de intervengao para o 10 com a leitura ¢ a escrita. Quando possibilitamos aos nossos alunos o trabalho com textos mul- odais e multissemiéticos, segundo Lemke (1998), 0 conjunto de con- ncdes, j4 utilizado na produgdo do sentido nos textos escritos, é am- do e ressignificado, pois cada modalidade expressiva integra um con- diferenciado de significados possiveis. Os diferentes arranjos entre diferentes categorias de significados pelas diferentes modalidades no dem ser controlados e totalmente previstos pelo autor, 0 que explica nultiplicidade de leituras possiveis para os textos multimodais. Logo, mportancia de considerar o prefixo “multi” na e para a construg30 de gens que privilegiem um ensino produtivo de leitura e escrita em ua materna. Além disso, ¢ fundamental que os alunos realizem ativi- des de autoria, utilizando-se (d)essas novas tecnologias/midias. Nesta proposta, a propria concepgao de aula se ressignifica, na me- ia em que deixa de ter como base a transmissio oral e escrita da ver- de, sistematizada pelo(a) professor(a) e pelos textos didaticos e cien- ficos utilizados. As aulas ficam cheias de bricolagens das semioses: do om, da imagem e da escrita por meio de textos, fotografias, desenhos, fnturas, animagdes, videos, jogos, dentre outros, cujo trajeto seria de- inido a partir de uma légica estabelecida e ressignificada pelos alunos professores. Dessa forma, o processo de ensino estaria contribuindo a a construgao de uma educagtio conectada com as necessidades ais e para a produgdo de saberes plurais, coletivos ¢ interativos. Por mais que se tenha destacado nesta proposta a importancia da sio pedagdgica dos multiletramentos, é importante reiterar que sua ‘@) minicontos multimodais max ce 94 disseminagdo como forma de democratizar o ensino é, sobretudo, um problema politico. A educagao de qualidade nao pode continuar um privilégio de poucos. E preciso que as politicas publicas potenciali- zem a qualificagio dos(as) professores(as) para que se possa, de fato, superar a exclusio social e 0 insucesso escolar por meio de priticas que considerem o imbricamento entre a cultura valorizada, a cultura periférica e os letramentos locais e globais dos alunos, como geradores de sentidos e de aprendizagens. muttiletramentos na escola

Você também pode gostar