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Edigfo apoiada pela Fundagio Calouste Gulbenkian ( © 1997, Bdigdes Cosmos Composed: Edigdes Cosmos Impresedo: ipogratia Guerra, Visew 1* edigao: Julho de 1997 ISBN 972-762.084-X | Deposito legal 113375/97 Hdicoes Cosmos Rua da Emenda, 111, 1°- P1200 Lisboa Servigos Comerciais ¢ Administrativos: Aw [allo Dinis, 6:C, 4° Dto, -P 1050 Lisboa Telefone 799 99 50 Fax 79999 79 email: cosmosoliv-arcoitis pt iusto: Livia Arcos Ai TlioDins, 6A P 1050 Lisboa Telefoane 79999 50° Fax 759.99 79 "homepage wiawsliv-arcoirispt so livesrinelivancoiri pt 138, ‘Aires A. Nascimento Em alguns aspectos as preocupagées de hoje coincidem com as medievais quando apontamos como objectivo a atingir o da inteligibili- dade, ainda que utilizemos procedimentos diversos para atingir o efeito, comunicativo do texto traduzido. Os prinefpios em que se inspira a reflexio medieval derivam de Jerénimo e este por sua vez, assenta as suas bases em Cicero, Nao é indiferente o patrocinio invocado. E que, ‘entre um e outro, ha distancias: enquanto para o Arpinate seus intér~ pretesimediatos, como Quintiliano e Aulo Gélio, a tradugio visa objecti- vos estilisticos e é um exercicio que experimenta capacidades proprias, para os homens da Patristica, com Jerénimo & cabeca, ela toma como objectivo tornar acessiveis a sucessivas e diversas comunidades textuais, ‘uma cultura que se exprime em diversas linguas. Ponha-se a questo em termos de traducio ad werbum ow ad sensu: na base, ainda que nem. sempre em termos explicitos, persiste um dado fundamental: 0 reconhe- ‘cimento da equivaléncia de sistemas linguisticos. Em processo lento, € nao sem inflexdes, a oposicao entre linguas privilegiadas e linguas bar baras esbate-se e rompe-se. Esti por fazer o balanco do contributo da tradugao nas modalizagées das diversas linguas através de influéncias transmitidas. Recusaremos hoje 0 recurso a expedientes explicativos ou adaptacdes que a tradugio medieval considerava admissiveis™. Te- ‘mos uma nogio de autoria mais firme e rigorosa, mas ela nasce j& na Idade Média quando se contrapée autor a comentador e a compilador”. A fungao cultural da tradugao foi também um ganho feito pela Idade Média. A fidelidade ao original exprimia-se por weriias, a autonomia do sistema linguistico ateve-se acaso a relagao com a latinifas, a corres- pondéncia de efeitos assentou porventura na elegantia ou a garantia de (eligibilidade nao dispensou a intervencdo da ordinatio textual, As proprias limilagdes chamam a atencéo para a complexidade de um ‘proceso que tem as suas rafzes no tempo medieval. © Claude Buridant, «Translatio medievalis: Théorie et pratique de la traduction médiévalen, Throne de Linguistique et Littémture, 2, 1988, pp. 81-136, © A.J. Minnis, Medizoa! theory of authorship, Londres, 1986, De como o Mosteiro de S. Vicente foi refundado Isabel Dias Universidade do Algarve A Cronica da Fundagio do Mosteiro de S. Vicente, provavelmente redigida em finais do século XIV, principios doXV, é uma tradugao para portugués de um relato latino, conservado no dito mosteiro desde finais| do século XII. Da Crénica chegaram-nos vérios testemunhos, 0 mais antigo dos quais data do século XIV-XV, e encontra-se hoje na Biblioteca, Nacional; do referido original latino, intitulado Indiculum Fundationis ‘Monasterii Beati Sancti Vicentii Ulixtone, possuimos igualmente varios manuscritos, sendo 0 mais antigo um pergaminho datado do século XIII, proveniente daquele mosteiro ¢ actualmente depositado na Torre do Tombo. Desconhecemos os autores de ambos os textos. O principal assunto neles tratado, como os préprios titulos indicam, 6 a fundagéo do mosteiro de S. Vicente, acto estreitamente ligado & conquista de Lisboa aos mouros, de que se narram importantes etapas. A Cronica’ nao é, contudo, uma simples tradugio do Indiculunt, mas ‘sim um trabalho pessoal, tardio, de ampliagao da historia edo discurso do sintético texto latino, o qual articula cronologicamente os eventos, bélicos da conquista de Lisboa e os que rodeiam a fundagao e construgao da igteja de S. Vicente e também de Santa Maria dos Martires, desde 0 infcio associada & primeira. ‘As diferengas entre o original latino ¢ a tradugdo manifestam-se desde logo no campo das fontes. As utilizadas e nomeadas pelo autor do Indiculum sao os testemunhos orais de dois contemporaneos dos 1 Mendes, Joaquitn, Clronica da Tomudu deste Cidade de Lixbon aes Mouros e dat Fundagom deste Moesteiro de Sam Vicente = Estuda e Edigao, Lisboa, 1991 (tese policopiada}. as : * Indiculum Fundationis Monasterit Beati Sencti Vicentié Ulixbone, in Portugoline “Monumente Historica, Scriptores, vol. I, Academia das Ciencias de Lisboa, 1856, pp. 91-98. SOMA 140 Isabel Dias acontecimentos, nos quais se faz assentar a veracidade do relato: o de Fernao Peres, cavaleiro portugués, e o do alemao Otha («Estes dois, por graca de Deus ainda vivos, foram quase undnimes em confirmar 0 que aqui escrevemos, dando credibilidade a presente obra e deixando por isso uma noticia fidedigna aos vindouros»)°, Por seu lado, o autor da tradugao apresenta os dois citados informantes como redactores: «E, estes dous homes [...] escreverom esta estoria que adiante ¢ escripta, tornada de latim em linguagem (p. 108). (Outta diferenca de inicio notada entre o original ea tradugao refere- -se noticia da participacao portuguesa na conquista da cidade de Lisboa. O relato latino 6 quanto a este assunto absolutamente omisso, 0 que, pata além de afectar a imagem dos guerreiros portugueses e de enfra- quecer a meméria de D. Afonso Henriques, como chefe militar, perturba a glorificagao de um mosteiro através do qual se homenageia o pasado nacional. Varias secqdes do relato parecem, na verdade, dominadas por ‘uma voz narrativa que mostra a perspectiva nao-portuguesa dos factos, eque, ao sublinhar os feitos dos estrangeiros, guarda para a posteridade a lembranca desse contributo certamente tao importante e decisivo. ‘Talvez.a voz que elogia a bravura dos que vieram das regides do Norte, «guerreiros mais fortes do que 0 carvalho»', seja a de Otha, uma das «duas testemunhas presenciais da conquista da cidade ouvidas pelo autor do Indiculum, como atras refer. Confrontado com um registo que silencia o papel desempenhado pelos portugueses nos acontecimentos em questao, o tradutor procura ‘uma solucio narrativa que arranque ao esquecimento as virtudes guer- reiras daqueles homens e do seu rei. A intervengao na meméria do passado, feita através de um forte investimento no plano da composicéo narrativa, nota-se, assim, em pri- ‘meiro lugat, no enriquecimento do perfil militar de D.Afonso Henriques ena valorizagio das qualidades guerreiras dos seus stibditos. Do Indiculum o tradutor retém a imagem do rei, cavaleiro de Cristo {«ElRei Dom Afonso de Portugal [..] persiguidore destruidor dos enmi- 0s da fe de Thesu Christo», idem), mas modifica, depois, o enunciado > O original latino diz:«Hi duo dei miseratione adhue supersites, quasi de uno conferunt ore quehie ponimus, ad presents negotifider astruendam, accertamm, inde noticiam posteris relinquendamy, p. 91 Apresento todas ascitagdes do Indiculuns em traducio feita por mime por Manuel Ramos, trabalho que o Professor Aires Nascimento gentilmente revi 4 sviti bellators fortissimi robre>, p. $1. * Lemos no texto latino: schristianissimus portugalensiaum Rex Alfonsus [.. ini- micorum crucis christi mirficus extispator»,p.91, (Ou sea: wo ctistianissimo rei De como o Mostelro de S, Vicente foi refundado 141 que mostra o monarca em accao, chefiando uma investida de rotina contra os mouros («com 40 anos de idade, reine o seu exército contra 608 sarracenos, como era costume todos os anos»), transformando tal acto numa intengao de cruzada espiritual: «e avia gram vééntade de destruir a mizquita de Mafomede, e de levantar a sancta cruz do nosco Senhot Ihesu Christo» (pp. 103-4). Ao contrério do indiculum, atradugao pe os portugueses em combate e faz. da fama dos seus actos o princi- pal motivo de atraccio da ajuda estrangeira. Neste ponto, abandona completamente a fonte latina, segundo a qual foi por zelo de Deus que chegaram de fora guerreiros em auxilio de D. Afonso Henriques, sendo esses 05 tinicos que ali vemos combaterem os mouros com valentia e serem honrados depois de mortos. A Cronica procura, pois, construir um discurso que torne visiveis ‘0s mértires portugueses, fazendo doles os principais protagonistas de uma guerra santa que levou 3 tomada de Lisboa. Também aqueles que sobreviveram as hostilidades com os mouros no foram esquecidos, reaparecendo em momentos importantes, como, por exemplo, na partilha das terras conquistadas. Depots de corrigida neste ponto a historia, o tradutor continua a afastarse da sua fonte: remata o fio narrativo da guerra logo no inicio da Crénica e fixa-se definitivamente no plano dos acontecimentos religiosos, ampliando-0s e ordenando-os segundo uma nova cronologia. Desta forma, as acgdes que no Indiculum sao apresentadas como ante- riores A conquista de Lisboa (enterro dos mortos, fundagao e construcio de igrejas, eleicéo do primeiro presbitero de 8. Vicente e ocorréncia de trés milagres) passam a ser-Ihe posteriores, De facto, no relato latino, os episédios guerreiros e os que giram em tomo doestabelecimento de S. Vicente e de Santa Maria dos Martires ‘vao-se alternando até ao momento do combate decisivo. Liga-os uma relagdo de interdependéncia enunciada pelo rei em discurso directo: «Se 0 Senhor Nosso Deus entregarnas maos clos seus servos esta cidade Lud, hei-de construir-Lhe dois mosteiros |... Porém, na Crénica, a recoce resolucao da guerra torna supérflua tal promesca, cuja formula de Portugal, Afonso [..] admirével e devidido destruidor dos inimiges da cruz de Cristo). * sotatis autem XL*,collegitexerctum suum, ut anis singulis solictuserat,adues- sus saracenus»,p. 91. ? «Si dominus deus nostertradens tradiderit seruis suis ciuitatem hane [J cons- teucturum [..] do monasteria», p. 91. ae 142 Isabel Dias por isso omitida: na verdade, a construgao das igrejas nao depende jé do que possa acontecer no plano da guerra (desde o inicio absolutamente definido), mas resulta do que afaconteceu, ou seja, da morte de muitos guerreiros, cujos corpos precisam de ser honrados: «e pera se fazer honra e servico a estes corpos destes sanctos martires, que levantemos e fun- demos dous mosteitos muito honrados em esta cidade de Lixboa» (p. 109). As igrejas representam aqui um tributo aos mortos, quando no original latino eram, antes de mais, consequéncia do cumprimento de ‘um voto feito antes da conquista da cidade. Ao investir na narragio dos acontecimentos religiosos, a traducao desenvolve o perfil do rei devoto, fundador ¢ patrocinador de igrejas. As suas falas sio 0 vetculo privilegiado para a fixagao desta imagem. Constittiem simultaneamente um dos mais importantes contributos para actiagio de uma meméria honrosa dos factos narradose geram também uma ilusdo de autenticidade dos mesmos, que é,afinal, um instrumento de autoridade utilizado pela narrativa. Através do discurso directo do rei, otradutor, por um lado, cria si- tuagdes narrativas novas, baseadas em elementos completamente ‘estranhos ao indiculum, como sejam as intengSes de D.Afonso Henriques recompensar materialmente os que o ajudaram a conquistar Lisboa, de construir uma catedral, ou de fazer de Santa Maria dos Martires dotagao dessa catedral; por outro, desenvolve sequéncias discursivas, original- mente breves, sendo exemplo disso a extensa fala sobre 0 enterro dos mortos, ¢ também aquela em que o rei entrega o priorado de. Vicente ao abade Galtério; e, finalmente, dramatiza fragmentos importantes da hist6ria, que o texto latino apresentava em discurso indirecto, como aquele em que o rei portugués manda fundar os mosteiros, e um outro em que lidera a entrada dos cristdos na cidade recentemente conquis- tada. Neste processo de reconstrugao e expansao da hist6ria, tao impor tantes quanto as falas do rei sao os resumos do narrador, alguns dos qquais passarei de seguida a observar. Se lermos comparativamente o Indiculum e a Crénica no que diz respeito, por exemplo, a0s passos sobre a fundacao das igrejas, a respee- tiva dotagao material e a eleicao de Gilberto como bispo de Lisboa, verificamos que a traducao procura para cada um destes acontecimentos a cobertura da autoridade papal, a que a fonte latina nao faz qualquer referéncia, Assim, todas as etapas da fundagao de S. Vicente e de Santa Maria dos Mértires so conduzidas pelo arcebispo e bispos, enquanto representantes do papa, como o rei sublinha: «vos outros prelados que aqui sodes devedes fazer 0 que faria 0 sancto padre cujo logo vs téédes se presente fosse ou mandaria fazer» (p. 111). No que diz. respeito a De como o Mosteiro dle 8. Vicente foi refundado 143 dotacdo das igrejas, vemos D. Afonso Henriques acrescentar aos bens materiais de que fala o Indiculum os beneficios espirituais chegados de Roma, «grandes indulgencias daquelas que lhe o padre sancto avia enviadas e outorgadas» (p. 133). Também a eleigao do bispo de Lisboa, noticiada de passagem pelo texto latino, é na Crénica confirmada pelo papa: «e outorgou-Ihe [ao rei] todallas cousas que lhe emviou pedir» (p. 132), entre as quais a referida confirmacao. Note-se que nos trés casos as referéncias & autoridade eclesisstica esto directamente ligadas 4 intervencdo régia, Desta forma, a Créiica nao s6 aprofunda o perfil devocional do rei, como legaliza os actos de natureza religiosa por ele desencadeacios e praticados. Estencendo agora a comparagao a outros episddios da historia nar- rada, continuamos a encontrar significativas diferencas entre a fonte latina ea sua traclugdo. Assim, quanto aos enterros dos que foram mortos na conquista de Lisboa, o Indiculum refere que «os francos, segundo 0 costume da Igreja, resolveram enterrar os seus mortos»®, numa altura ‘em que a guerra contra os moutos prosseguia e a construcao das igrejas estava apenas no seu inicio, O autor da tradugdo, deparando uma vez, mais com a falta de informacao sobre os portugueses, neste caso os cafdos em combate, preenche essa lacuna dando-lhes sepultura em S. Vicente, templo queéapresenta como jé construido nesta fase dos aconte- ‘cimentos;na verdade, est mais preocupado com o significado dos factos, do que coma sua ordem, Por outro lado, acrescenta pormenores descriti- ‘vos sobre 0s tkimulos: «poinham sobre as sepulturas os nomes desses marteres, € terras onde eram, ¢ de que sangue viinham, e como morre- rom» (p. 115). Sobre os enterros dios fidalgos que mais tarde vieram a escolher ser sepultados em S. Vicente, deixando a este mosteiro parte dos seus bens, oreleto latinoe aCréntien apresentam perspectivas diferentes. O primeira comega por antecipar as implicacoes futuras de tal escolha, com efeitos zna dotacio material da igreja: «E na verdade todos os que resolvessem, escolher af sepultura, que levassem parte dos seus recursos»®; a Crénica encena 05 entertos eaponta 0 motive por que sao feitos na igreja: «muitos nobres fidalgos e cavaleiros e outros homens de grande guisa mancavam, em el fazer suas sepulturas muito honradas, eesto por a grancle devagom, que aviam ao dito Mosteiro e aos sanctos martires em ele sepultados» © acepere franci ecclesiastica consuetudine, interfectos suos mandare sepulchis», POL » «Ones etiam qui ibi sepulturam eligere deliberarent, partemque de suis con- ferrent facultatibus», p. 93. 14a Isabel Dias (P. 141). Ao falar da egrande devagom», o tradutor nao esta apenas a reforcar a dimensio espiritual clos acontecimentos, introduz também. no plano da construcéo narrativa um elemento que explicita a relagio entre as suas sequéncias. E 6 justamente no dominio da relagio entre os acontecimentos que faz uma das intervencdes mais significativas: reconstréi o contexto em que se estabelece a ligacéo entre D. Afonso Henriques e a igreja de S. Vicente, Recorre para issoa um plano fundamental da historia que ainda faltava aqui referir: o dos milagres. Mas comecemos por observar 0 que se passa no budiculum, para compreendermos melhor as alteragoes subse- quenies. Desejanclo o rei recompensar o bispo de Lisboa, por este se mostrar disponivel a ajudé-lo a cumprir o voto de instalar comunidades de reli- gi050s nos dois mosteiros em construcéo, propée-the que escotha para para os seus cénegos uma das referidas casas. A opctio destes recai sobre Santa Maria dos Martires, ficando, portanto, a outra para 0 rei e ara os seus descendentes. Ora, Sesta aparente acidentalidade na ligagao entre © monarca ¢ a igreja de S. Vicente que o autor da traducio vai ever, procurando uma motivacdo forte que os una. Encontra-a nos milagres, acontecimentos sobrenaturais que passam a justificar um patrocinio com origem, ja nao no acaso, mas numa escolha consciente e motivada: «Ei vééndlo elRey este milagre e os outros que Deus fazia no dito moesteiro, quisse-o aver por sua camara estremada» (pp. 119-20). Conelui-se que os milagres, para além da funcao especifica de sacralizagio de um espaco, desempenham um papel articulador entre dois planos que se entrecruzam: 0 temporal, representado pelo rei, e 0 espiritual, pela igreja de 8. Vicente, Neste ponto da narrativa, tal como noutros referidos anteriormente, © tradutor esté mais interessado em criar uma l6gica que sitva os seus objectives do que em respeitar a letra do texto latino. De facto, no Indiculum, a alterndncia entre a narragao da conquista de Lisboa e a da fundacdo dos dois mosteiros, por um lado, e a contengao do discurso apologético de matriz crista, por outro, produzem um efeito de histori- cidade, que o autor da tradugio sacrificou ao trabalho de composigso narrativa @ aos objectivos que com ela procurott atingit, Nés, leitores, arrastados, assim, pelos artificios do discurso, vamo-nos provavelmente afastando da Histéria. Mas nao sera de facto para fora dela que o tradutor nos pretende levar? Marcas genolégicas de um comentario: Apringio de Beja Arnaldo Espirito Santo Ocomentério, enquanto género, néo tem merecido grande interesse Por parte dos teorizadores da literatura. Sao tantos os textos comentados €as formas que assumem que se generalizoua opiniéo de quenaoexiste nada de comum que possa coniribuir para o estabelecimento de uma tipologia. Esta comunicagéo representa uma tentativa de detectar as marcas tipicas de género no Comentério ao Apocilipse de Apringio de bela, escrito em meados do século VI Subsidiério de uma tradigao ji Tonga, nele confiuem influéncias e esquemas de um modelo literario apurado nas suas técnicas, estrutura e meios de exprossao. ‘Comecando pela primeira frase verificamos que algumas marcas textuais so comuns.a qualquer tipo de comentario. escrituristico. Aquela que definiriamos como a primeira marca de género consiste numa seleceao prévia dos elementos a comentar. Em geral dé-se preferéncia aos que mais se prestam a desenvolvimentos de sentido ou a exposicdes doulrinais, que nem sempre sio aqueles que mais careceriam de expli. citagao, Na frase wet significauit mittens per angelum suum seruo suo lohan nip! o comentario fixa-se no segmento «per angelum suum, que passa @ ser ampliado por uma espécie de anotagao as palavras seleccionadas. Assimangelus €ampliado pelosinénimo latinonuntiusa que éacres. centado o determinativo weritatis. Esta comespondéncia entre angelus nuntius ueritatis permite identificar com Cristo 0 anjo que em todos os apocalipses ¢ a entidade que garante a origem divina da mensagem, que a ouve de Deus ¢ a transmite ao seu servo. Perde-se, com isso, ¢ ideia de uma revelacdo extraordinéria, para se conferir um sentido 1. ligao de Alberto Campo Hemandez, Coment Apuealipss de Apringi de Beja, lneotucién, Texto Latino yTraeeiGn, Estelle, Verbo Divino, 1951, Tadas a tages ser eta a parti deta,

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