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O QUADRO DE LOJA DE APRENDIZ NO REAA

HISTÓRIA E SIMBÓLICA

Por Quadro, Painel, ou Tapete de Loja entende-se a representação gráfica


colocada,na maior parte dos ritos maçónicos, no centro do Templo, sobre o
pavimento de mosaico. Neste quadro alegórico encontram-se plasmados os simbolos
associados ao grau a que se reportam os trabalhos em curso.

Este elemento de decoração do Templo simboliza a Loja, é um dos simbolos


presentes na Loja e, constitui uma verdadeira “caixa de ferramentas” simbólicas de
elevado valor pedagógico, no desenvolvimento do trabalho maçónico.

Muito embora existam evidencias da sua utilização em Inglaterra, na tradição da


Grande Loja dos Modernos, é na Maçonaria Continental oitocentista que se encontra
a verdadeira génese do Quadro de Loja, na sua concepção atual. Assim:

Figura 1 - “Catéchisme des franc-maçons “ de Leonard Gabanon, 1744

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- Na mais antiga divulgação publicada em França, datada de 1737 e, denominada de
“Recepcion d’un frey-maçon”, documento este transcrito do relatório do tenente de
policia Herault, elaborado com base em informações recolhidas por Mle. Carton,
corista da Opera de Paris, encontra-se a referência “em volta de um espaço
delimitado sobre o pavimento, onde se desenhou a giz uma espécie de
representação, sobre duas colunas do átrio do Templo de Salomão”.

- Em 1744 o “Catéchisme des franc-maçons “ de Leonard Gabanon (pseudónimo de


Louis Travenol) para além de incluir reproduções de um “Plano da Loja para a
recepção de um Aprendiz-Companheiro” e, de um “Plano de Loja para a recepção de
um Mestre” apresenta uma série de gravuras, que ilustram a realização das
cerimónias de iniciação e, de exaltação, confirmando a descrição de Herault.

- Em 1745 a exposição “L’Ordre des franc-maçons trahi et le secret des mopses


révélé“, reproduz igualmente modelos de Quadros de Loja para os mesmos graus,
precisando que “o que se denomina propriamente a Loja, quer isto dizer as figuras
desenhadas sobre o pavimento nos dias de receção deve ser desenhado a giz
literalmente e não pintado sobre uma toalha que se guarda expressamente para
estes dias em algumas Lojas”.

De toda esta informação e, em especial, das gravuras de Léonard Gabanon, ressalta


que a importância do Quadro de Loja era, à época, marcante na realização das
cerimónias maçónicas.

Verdadeiro polo estruturante da vida e, da circulação na Loja, o Painel constituía-se


como imagem-arquétipo, simbolizando o estaleiro de construção do Templo de
Salomão.

O Quadro transportava, pois, para um espaço e, um tempo, que religavam a Loja à


existência da sua origem mítica e, permitia um suporte catequístico para um trabalho
didático, o qual fruto das reflexões e, contribuições interpretativas de sucessivas
gerações de Irmãos, deu origem ao que hoje se designa de Simbólica Maçónica.

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A posição central do Quadro favoreceu o desenvolvimento de uma deambulação
circular, um posicionamento face-a-face alinhado com as colunas, uma estruturação
na direção do Oriente e, uma distribuição espacial dos Oficiais suportada em critérios
de ordem funcional e, simbólica.

Figura 2 – Quadro de Loja para a receção de um Aprendiz-Companheiro “L’Ordre des franc-maçons


trahi et le secret des mopses révélé“, 1745

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Das primeiras representações de Quadros de Loja publicadas ressalta, desde logo, a
forma retangular que assumem, em perfeita analogia com as características
geométricas da maior parte das salas onde se realizavam as Sessões.

Outro aspeto fundamental consiste na orientação espacial denotada por estes


painéis, materializada através da referenciação dos pontos cardeais
convencionalmente atribuídos aos seus quatro lados, indicados na forma iniciática
(Ocidente – Oriente – Setentrião – Meio-Dia).

Os Quadros desta época são muito “operativos”, com grande ligação simbólica à
construção.

Em geral, assentam sobre a representação de um pavimento de mosaico em dois


níveis, ligados por um lanço de escadas composto por sete degraus, dotados de
geometria semi-circular. O nível superior encontra-se, correntemente, protegido por
uma balaustrada.

Os degraus são ladeados pelas duas colunas evocativas das existentes à entrada do
Templo de Salomão, dispostas segundo a disposição moderna (J à esquerda – B à
direita), uma vez que durante todo o século XVIII a Maçonaria masculina praticada
em França derivou, essencialmente, desta tradição.

Na maior parte dos exemplos, localizando-se o espaço mítico retratado no Templo


em fase de construção, aparecem representadas as suas três portas e, as suas três
janelas, localizadas no Ocidente, Oriente e, Meio-Dia.

Os símbolos ligados à construção apresentam-se com disposição espacial variável


sendo corrente encontrarem-se representações de outros apetrechos, para além dos
que correspondem às joias móveis (esquadro-nível-fio de prumo) e, dos inerentes ao
Aprendiz (malhete e cinzel). Destes utensílios, hoje em desuso nos Quadros do 1º
Grau, salientam-se o machado, a trolha e, a picareta.

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A corda, dotada frequentemente de um ou dois laços de Amor, aparece apenas como
simbolo de utensilio ligado à construção, encimando o Quadro.

Durante todo o século XVIII as representações do Sol e da Lua aparecem,


indistintamente, à esquerda ou à direita da parte superior do painel, configurando um
triangulo com a estrela flamejante, que então representava o Mestre da Loja, simbolo
este de outro simbolo, o Supremo Arquiteto do Universo.

Refira-se, ainda, que é frequente a marcação, nos cantos superiores do Quadro e, no


seu canto inferior do lado do Meio-Dia, das posições nas quais deveriam ser
dispostos os candelabros das “estrelas” que o circundavam,e que também
simbolizavam o ternário “Sol – Lua – Mestre da Loja”, configurando um esquadro,com
a respetiva base voltada para o Oriente

No último terço do século XVIII os Quadros de Loja passaram a ser,


generalizadamente, pintados sobre tecido, tendo as salas onde se realizavam as
sessões vindo a assumir um caráter e, uma decoração específicas para o efeito. Os
símbolos empregues nos Paineis, a sua distribuição espacial e, o seu aspeto gráfico
foram também denotando uma maior dispersão de critérios conceptuais, acentuando-
se esta diversidade com o advento de distintos ritos.

O Quadro de Loja integrava a decoração do Templo no Rito Francês, de 1801,


conforme se encontra definido no “Régulateur du Maçon”, ocupando a posição
central da loja, circundado por três “estrelas” com a mesma disposição atrás descrita.

Segundo René Desaguliers, pode-se começar a falar de Ritos Escoceses quando


aparecem rituais, relativos aos graus simbólicos, nos quais esta disposição das
“estrelas” é invertida, passando a base do esquadro que configuram, a estar a
Ocidente e, a sua interpretação simbólica a identificar-se com o ternário “Sabedoria –
Força – Beleza”.

Não é pois de estranhar, que os primeiros Rituais de Loja de S. João do REAA, de


1804, tenham adotado esta disposição, evoluindo a simbologia considerada nos
respetivos Paineis para os modelos constantes em vários Telhadores publicados na
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primeira metade do séc. XIX, dos quais os mais significativos são os apresentados no
Tuilleur de Vuillaume, de 1820.

Figura 3 – Quadro de Loja de Aprendiz, “Tuilleur de Vuillaume”, 1820

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Constata-se, da observação dos Quadros de Loja desta época, que a sua geometria
convergiu para a forma de um retângulo pitagórico, cujos lados se relacionam
dimensionalmente na proporção de três para quatro.

Por vontade de precisão técnica, decorrente do desenvolvimento do pensamento


cientifico, os pontos cardeais iniciáticos, utilizados no século anterior, foram
correntemente substituídos pelos pontos cardeais profanos (Norte-Sul-Este-Oeste).

A corda passou a simbolizar a Cadeia de União, circundando todo o painel, com


exceção do Ocidente, no qual permanece aberta, para ilustrar que a Maçonaria se
encontra sempre recetiva a receber novos obreiros. No princípio do século XIX o
numero de laços de Amor mais frequentemente encontrado é de sete, dado que
sendo este o numero simbólico da conclusão, a corda assim representada pretende
transmitir que o objetivo final da Arte Real é a Cadeia de União.

A definição da localização espacial da Loja de Aprendiz, relativamente ao Templo de


Salomão, tornou-se objeto de interpretações divergentes, que perduram passados
dois séculos, tendo esta questão dado origem a que nos Quadros de Loja do inicio do
século XIX tenha desaparecido o pavimento de mosaico, por ser entendido que o
Aprendiz ainda se encontra à porta do Templo, sendo pois confrontado com esta,
depois de ter subido uma escada com numero de degraus idêntico à da sua idade
simbólica. Tal critério foi igualmente adotado na elaboração dos emblemas dos dois
primeiros graus do REAA, ilustrados no livro de J. T. Loth, publicado em 1875.

A porta, em alguns painéis fechada, noutros aberta, apresenta-se ladeada pelas duas
colunas. Estas, nos Quadros de Loja do REAA, cujos graus simbólicos nasceram em
1804, encontram-se já dispostas segundo o posicionamento Antigo (J à esquerda – B
à direita).

As colunas aparecem, em geral, encimadas por três romãs e, o frontão do Templo,


que se sobrepõe à porta, normalmente é espiritualizado através da ostentação de um
Delta Radiante.

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Não encontramos mais, neste período, representações de portas a Oriente e, no
Meio-Dia, mantendo-se a presença das três janelas, nas suas formas e disposições
habituais.

Para além das joias móveis, imóveis, do malhete e, do cinzel, não subsistem outros
símbolos no primeiro grau, sendo estes, em geral, representados desagrupados.

O Sol e a Lua aparecem na parte superior do Painel, estabilizando-se o primeiro à


direita e, a segunda à esquerda.

Entre os simbolistas do princípio do século XX verificaram-se divergências de


opiniões no que concerne à geometria a adotar para a pedra trabalhada, à inclusão
do pavimento de mosaico e, ao número de laços de Amor a adotar na corda,
perdurando muitas delas até à atualidade.

O padrão geral manteve-se, contudo, inalterado por cerca de século e meio,


verificando-se já em meados do séc. XX a introdução de modificações significativas,
decorrentes da evolução dos rituais, muitas delas devidas a uma tendência de
Britanização do Rito, nos seus graus simbólicos, que ocorreu a partir dos anos 50, na
Grande Loja de França.

Esta evolução (ou involução, conforme as diferentes opiniões) deveu-se à vontade


desta Obediência de ser reconhecida pela Grande Loja Unida de Inglaterra, o que
motivou esta tentativa de tornar a prática ritualística dos graus simbólicos do REAA
mais semelhante aos “workings” ingleses e, como tal, mais aceitável pelos Irmãos do
outro lado do Canal da Mancha.

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Figura 4 – Quadro de Loja de Aprendiz, Grande Loge de France, 1962

Neste exemplo extraído do ritual de referência da GLdF, de 1962 (Fig. 4) podemos


constatar o desaparecimento da representação da Porta do Templo e, do seu frontão,
verificando-se já uma tentativa de distribuição espacial dos símbolos analógica com o
seu posicionamento na decoração da Loja.

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Aparecem-nos, assim, o pavimento de mosaico na sua forma reduzida (atualmente a
mais utilizada em França), o Altar dos Juramentos com as três Grandes Luzes da
Maçonaria agrupadas na posição correspondente ao Grau de Aprendiz, as Pedras
Bruta e Trabalhada colocadas na sua disposição habitual em Loja, as ferramentas do
Aprendiz situadas do lado da sua coluna e, as Joias Móveis dispostas nos locais
onde se situam os altares dos Oficiais respetivos (Esquadro/Venerável Mestre-
Nível/1º Vigilante-Perpendicular/2º Vigilante).

Como elementos característicos de uma influência Britânica notória destacam-se:

- A Biblia, que não existiu no REAA como Livro da Lei Sagrado, em França, entre
1829 e 1953;

- A Régua de 24 Polegadas, como simbolo do Primeiro Grau;

- Três pilares, de ordem arquitetónica Jónica, Dórica e, Coríntia, respetivamente, que


simbolizam o ternário Sabedoria – Força – Beleza e, que se encontram dispostos nas
posições de cada um dos Oficiais que o personificam (Venerável Mestre/Coluna
Jónica/Sabedoria – 1º Vigilante/Coluna Dórica/Força - 2º Vigilante/Coluna
Coríntia/Beleza).

Refira-se, ainda, que neste exemplo a corda só se encontra dotada de três laços de
Amor, correspondentes à idade simbólica do Grau (três anos) e, saliente-se o fato de
nos Paineis de loja só constarem duas cores, o negro e o branco, à semelhança das
existentes no pavimento no qual assenta, de modo a serem evitadas controvérsias no
que concerne à interpretação simbólica de outras cores, as quais suscitariam sempre
opiniões divergentes.

No exemplo seguinte, correspondente ao modelo de referência introduzido na mesma


Obediência francesa, em 1979, e que permanece em vigor, reflete-se alguma
preocupação de retorno à simbólica tradicional do REAA, não deixando, contudo, de
transportar tendências da versão atrás descrita.

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Figura 4 – Quadro de Loja de Aprendiz, Grande Loge de France, 1979

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Assinale-se um regresso aos pontos cardinais iniciáticos, à reintrodução do
Pavimento de Mosaico, da Porta do Ocidente e, do Frontão do Templo segundo
formas análogas às utilizadas no século anterior.

Um pouco ao encontro de ideias já defendidas por Oswald Wirth, no princípio do


século XX, a corda, nesta versão, apresenta doze laços de Amor. Este numero de
nós permite que, ao longo da largura do Painel se encontrem evidenciados três
intervalos entre laços e, ao longo do seu comprimento, estejam aparentes outros
quatro, todos de igual extensão, ilustrando assim a natureza pitagórica do retângulo
que o contem.

Para este numero de laços de Amor Oswald Wirth, tão ao seu gosto sincrético,
encontrou uma interpretação simbólica, identificando-os com os signos do zodíaco.

Fruto da diversidade simbólica existente entre os diversos ritos maçónicos, em outros


sistemas, os Paineis de Loja assumem aspetos substancialmente distintos dos
considerados no REAA.

No Rito Francês Groussier, muito embora o Quadro de Loja não seja um elemento de
decoração do Templo indispensável, ou sequer recomendado, o Ritual de Referência
GOdF 6009 inclui um modelo tipo, a ser seguido pelas Oficinas, pelo menos no seu
trabalho simbólico.

Este não difere substancialmente, relativamento ao REAA, nos símbolos


considerados, apresentando apenas outra disposição para os mesmos e, omitindo o
Livro da Lei Sagrada, bem como a Régua de 24 Polegadas.

Destaca-se, ainda, que este Painel não é orientado, uma vez que neste Rito não
existe sacralização ritual do espaço iniciático, sendo apenas convencionado o tempo
mítico no qual decorrem os trabalhos.

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Figura 6 – Quadro de Loja de Aprendiz Rito Francês Groussier, Grande Orient de France, 2009

Em Inglaterra a utilização do Quadro de Loja só se fixou e, generalizou após o Acto


de União de 1813, tendo os modelos ainda hoje utilizados nos Ritos Anglo-Saxónicos
sido pintados por retratistas famosos, do princípio do séc. XIX, tais como John Harris
(1791-1873) ou Josiah Bowring (1757-1832).

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Nestes painéis, que se caraterizam por serem desenhados em perspetiva, abundam
as cores utilizadas, constando a respetiva interpretação do Ritual de Iniciação de
alguns “Workings”, como é o caso do Emulation.

Figura 7 – Quadro de Loja de Aprendiz, Emulation Ritual

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Como elementos simbólicos específicos deste “Working”, presentes no Quadro de
Loja do Primeiro Grau destacam-se os seguintes:

- Os três Pilares, representados nas ordens de arquitetura atrás referidas simbolizam,


para alem do ternário Sabedoria – Força – Beleza, também Salomão, Hiram Rei de
Tiro e, Hiram Abiff;

- A escada simboliza a visualizada por Jacob, no seu sonho, através da qual os Anjos
se deslocavam entre a Terra e o Céu;

- Os três símbolos presentes sobre esta escada representam as Virtudes Teologais:


Fé, Esperança e, Caridade;

- As quatro borlas, desenhadas nos cantos do Quadro simbolizam as Virtudes


Cardinais: Justiça, Temperança, Prudencia e, Coragem;

- As sete Estrelas que rodeiam a Lua representam os sete Irmãos necessários para
tornar uma Loja Justa e Perfeita;

- A Estrela Flamejante simboliza a Glorificação do Centro, representando a Orla


Denteada de triângulos negros e, brancos, tudo o que O circunda.

No Rito de Adopção, através do qual começaram a ser iniciadas Mulheres, no século


XVIII, o conteúdo simbólico baseia-se, essencialmente, em vários temas vetero-
testamentários.

Os Paineis do Primeiro Grau deste Rito são, pois, substancialmente diferentes dos
ligados aos Ritos, à época, exclusivamente masculinos, mais centrados na
construção do Templo de Salomão. Os relativos à Maçonaria de Adopção exibem,
assim, imagens alusivas aos três grandes temas da Aprendiza Maçona, os quais são
a escada de Jacob, a Arca de Noé e, a Torre de Babel.

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Figura 8 – Quadro de Loja de Aprendiz, Rito de Adopção, Séc. XVIII

Por último assinale-se que os Quadros de Loja do Rito Escocês Retificado, por
obedecerem a diretrizes constantes dos Rituais de Willermoz, de 1782, são os que
refletem mais a prática do século XVIII.

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Figura 9 – Quadro de Loja de Aprendiz, RER, Séc. XX

O Painel de Loja do RER apresenta de específico uma porta fechada, simbolo da


Porta do Templo Interior à qual se acede por uma escada composta por séries de
três, cinco e, sete degraus, separada por patamares. Tendo-se presente que o
Catecismo do Primeiro Grau deste Rito descreve o Pavimento de Mosaico como “o

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que se encontra sobre o subterranio do Templo”, encontramos aqui uma temática
presente nos graus crípticos de outros Ritos.

Esta Porta é ladeada pelas duas Colunas habituais, mas apenas a da esquerda exibe
a letra J, dado que o Aprendiz ainda não conhece a da direita.

Para além destes aspetos o Painel apresenta três conjuntos de símbolos, compostos
cada um deles por três símbolos dispostos em triângulo. Estes três ternários integram
as Joias Móveis, as Joias Imoveis e, o conjunto Sol-Lua-Estrela Flamejante,
contabilizando o número nove (3 x 3), presente no RER de várias formas, tais como o
número de Oficiais, ou o número de Luzes da Ordem.

Um dos aspetos que não foi normalizado nos Rituais de 1782 foi o número de Laços
de Amor da Corda, pelo que em muitos Paineis deste Rito se adoptam nove Nós.

Para além do Quadro de Loja, no RER existe, ainda, um Quadro do Grau, colocado
em frente ao altar do Venerável.

O do Primeiro Grau, que foi herdado da Estrita Observancia Templária, reflete bem a
dupla natureza Cavaleiresca e Cristã deste Sistema.

A coluna quebrada pelo fuste, mas cujas fundações permanecem firmes (em
consonância com a divisa “Adhuc Stat”), que na Estrita Observancia simbolizava a
Ordem do Templo, assume todavia, no RER, uma interpretação mais espiritualista,
representando o Homem, que muito embora se encontre corrompido pela queda,
conserva em si os meios que lhe permitirão a sua regeneração, permitindo-lhe a
Maçonaria a sua descoberta, no interior de si mesmo.

Este Quadro é sempre desenhado em branco, sobre fundo negro, em analogia com o
teor do Prologo do Evangelho de João, segundo o qual “A Luz brilha nas trevas, mas
as trevas não a compreenderam”.

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Figura 10 – Quadro do Grau de Aprendiz, RER, Séc. XX

Para além de conter os símbolos do grau, o Quadro de Loja é, por si só, um simbolo,
que assume no REAA um papel indispensável.

Assim, no nosso Rito, o Painel, disposto no local onde se projeta o eixo vertical da
Loja, que liga o Zénite ao Nadir, representa o terceiro termo que equilibra o binário
plasmado no pavimento de mosaico, orientando o espaço iniciático no qual se
desenvolvem os trabalhos e, sobrevalorizando o centro, no qual todo o Maçon se
deve situar.

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Ao repetir em si toda a decoração simbólica do Templo, o Painel de Loja reafirma que
a unidade contem, na sua essência, o Todo, ilustrando o princípio hermético de que
“Tudo o que está em baixo é igual ao que está em cima”.

Este simbolo interage dinamicamente com o ritual, encontrando-se aberto, quando


não estamos mais no mundo profano e, fechado, quando a Loja não está em
Trabalhos, configurando assim a via traçada que levará o Maçon de Ocidente para
Oriente, no caminho do Conhecimento e da Luz.

Acentua-se, ainda, que se o Quadro simboliza a Loja e, a Loja simboliza o Mundo,


tudo isto ilustra que a Maçonaria é Universal.

Como tal, prolonga-se de Ocidente a Oriente, do Setentrião ao Meio-Dia e, do Zénite


ao Nadir, numa única Cadeia de União intemporal, que nos religa ao passado, se
materializa no presente e, se projeta no futuro, numa demanda constante do Belo, do
Bom e, do Verdadeiro.

Como “caixa de ferramentas” de suporte dos Aprendizes, mais antigos ou mais


recentemente iniciados, o Tapete de Loja reveste-se de uma riqueza pedagógica
excecional, permitindo um trabalho de reflexão simbólica extremamente profícuo, que
possibilita a cada Irmão ir acrescentando o seu contributo às primeiras letras, que os
Irmãos, por quem anteriormente circulou a palavra, lhe dão.

De tudo o atrás exposto, sobressaiem as seguintes questões:

- A evolução histórica da simbólica associada ao REAA corresponde a uma tendência


de aprofundamento iniciático crescente ou, pelo contrário, seria mais interessante
proceder-se a uma abordagem revivalista, remontando-se aos rituais e, às
construções simbólicas do séc. XVIII ?

- Qual a atualidade e, a evolução previsível do nosso Rito, neste inicio do séc. XXI ?

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Quando falamos de conhecimento iniciático, não estamos perante uma realidade
estática, como a do conhecimento escolástico, que apenas se renova ao ritmo do
reconhecimento oficial das novas descobertas cientificas.

O conhecimento iniciático revivifica-se permanentemente, na medida em que o


mesmo só é adquirido quando às interpretações que recebemos, dos elos da cadeia
que nos antecederam, acrescentamos o nosso contributo reflexivo pessoal,
transmitindo aos elos seguintes o valor acrescentado da nossa opinião.

O Rito Escocês Antigo e Aceito é, congenitamente, sincrético e, consequentemente,


abrangente, o que lhe permite englobar todo um vasto universo de pensamento e, de
simbolos, que lhe tem permitido adaptar-se a praticamente todos os quadrantes
geográficos e, todos os sentidos de prática maçónica.

É certo que nem sempre os sincretismos introduzidos têm contribuído para uma
maior coerência do sistema, mas coerência será sempre a ultima coisa a exigir de um
Rito cujos graus simbólicos foram desenvolvidos em França, em 1804, sobre uma
base Antiga e, em que a maior parte dos seus altos graus foram gerados, no mesmo
país, entre 1740 e 1760, por Maçons que não conheciam outra forma de prática
maçónica que não a Moderna e, onde coexistem influencias filosóficas tão distintas e,
por vezes antagónicas como, por exemplo, a hermética e, a iluminista.

Devemos, contudo, pensar que um regresso às origens, levado até às suas ultimas
consequências, obliteraria todo o contributo de diversos simbolistas notáveis, tais
como Oswald Wirth ou, Jules Boucher, que contribuíram, já no séc. XX, para que o
REAA assumisse a riqueza simbólica presente, constituindo-se como verdadeiro
viveiro e, veículo transmissor da Tradição Maçónica, nas suas dimensões material,
intelectual e, espiritual.

No que concerne à atualidade deste sistema face às questões contemporâneas,


convem realçar que a Maçonaria se fundamenta em símbolos e, mitos que, por
remontarem a fontes tradicionais, transportam uma essência intemporal, associada à
natureza humana, que lhes tem permitido servirem de suporte à busca da Verdade,
em contextos muito diversificados, espacial e, temporalmente.
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A Verdade não se alcança, é fruto do momento e, tem sido esta sua busca que tem
permitido aos Maçons encontrar respostas, em termos de valores éticos, face aos
novos paradigmas das sociedades, em constante mutação, constituindo-se assim a
Nossa Augusta Ordem como verdadeiro fator de elevação da Humanidade, numa
constante busca de valores civilizacionais mais justos e, mais solidários.

Na reflexão filosófica maçónica contam mais os raciocínios que se produzem do que


a base que os sustenta. Ao comportar fontes tão abrangentes, o REAA possibilita
uma escolha das ferramentas adequadas à situação concreta, permitindo que a
interpretação dos seus símbolos, que pode sempre ser focalizada sobre diversos
pontos de vista, tenha uma leitura analógica que transporte para as questões
contemporanias, permitindo ao Maçon Escocês do séc. XXI continuar a trabalhar, à
semelhança dos seus antepassados, para o seu progresso pessoal e, da
Humanidade.

Não julgo, pois, que visões radicalmente revivalistas sejam as mais indicadas face ao
futuro mas, também em matéria de pratica ritualística, temos sempre de saber donde
vimos e, onde estamos para, em consciência, podermos decidir para onde queremos
ir.

Nesta linha de raciocínio, nada de coerente se poderá construir sem se entender a


mensagem que os Irmãos que nos antecederam nos deixaram, pois só assim será
garantida a continuidade da Cadeia Iniciática e, convenientemente, assegurada a
Transmissão.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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