Na noite, enamorados, o porco e a porca descem o rio de barco. Sobre as suas
cabeças a lua lenta é um dente de alho. Em meio às moitas de mangue fechando as águas ,os dois ali ,a apontar o alho no alto. As unhas da porca são canivetes resplandecendo. Em certo momento do passeio, felizes mas famintos, eles resolvem, ideia asseada, comer a lua. O porco, então, equilibrado pela porca, a lua, sobe no mastro, ergue as patas, alcança a trança baixa de nuvens. Aí pega a lua, passa-a para a sua companheira. Esta a descasca por inteiro, as unhas amoladas. Divide-a ao meio. Cada um mastiga muito sua banda de lua, ou o seu dente de alho, antes de engolir. Depois, acamando-se nas tábuas cinzentas do barco, os dois continuam a descer o rio. Até que de repente vem o alvoroço. As luzes dos barracos próximos se acendem. Espalha-se um choro alvo de criança. Asas estalam na folhagem. Latidos. É que o porco e a porca ,ainda no meio do rio, agora soltam luminosos arrotos. Barulhentas erupções a temperar ainda mais o cheiro das margens.