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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

FFCJ
Nº 70082416660 (Nº CNJ: 0213575-23.2019.8.21.7000)
2019/CÍVEL

APELAÇÃO CIVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. AÇÃO DECLARATÓRIA DE
INEXISTÊNCIA DE DÉBITO COM PEDIDO DE
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. CHEQUES
EMITIDOS POR TERCEIRO MEDIANTE FRAUDE.
INSCRIÇÃO DO NOME DO AUTOR NOS
CADASTROS DE INADIMPLENTES.
TEMPESTIVIDADE.
Os atos processuais que devam ser praticados por
meio de petição em autos não eletrônicos devem
atender ao horário do foro ou tribunal, conforme
legislação de organização judiciária local, sendo entre
9h e 18h no Poder Judiciário do Rio Grande do Sul
(art. 212, § 3º, do CPC e art. 1º da Ordem de Serviço
nº 01/2012 do OE). No caso, o recurso foi interposto
por meio do Protocolo Integrado em agência dos
Correios que encerra suas atividades às 18h, de forma
que se conclui que o advogado da parte apelante lá
ingressou antes das 18h, ou seja, antes do término do
expediente forense, até porque não lograria ingressar
em momento posterior, já que o término do expediente
da agência franqueada coincide com o término do
expediente forense, porém, ao que tudo indica, a
petição somente foi protocolada alguns minutos depois
(18h06min21seg), em razão do tempo despendido
para o seu atendimento, certamente em razão de
eventual número de pessoas para serem atendidas à
sua frente.
MÉRITO.
1. ILEGITIMIDADE PASSIVA DA INSTITUIÇÃO
FINANCEIRA. INOCORRÊNCIA. A parte ré foi
diretamente responsável pela inclusão do nome do
demandante nos órgãos de proteção ao crédito,
possuindo legitimidade para figurar no polo passivo da
demanda.
2. RESPONSABILIDADE CIVIL. FALHA NA
PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS. OCORRÊNCIA.
Tratando-se de responsabilidade objetiva, as
instituições financeiras, os bancos emissores de cartão
de crédito e os estabelecimentos comerciais
respondem pelos danos gerados por fortuito interno,
relativo a fraudes praticadas por terceiros,
independentemente de culpa. Entendimento
consolidado na Súmula 479 do STJ e no REsp
1.197.929/PR, submetido à sistemática dos recursos
especiais repetitivos. No caso em tela, em alegando o
autor a ocorrência de fraude, cabia à parte ré trazer
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aos elementos que pudessem atestar que os cheques


teriam sido assinados pela Sra. Janine, ex-mulher do
demandante e correntista conjunta, falecida há mais
de três anos da data de assinatura das cártulas, a
comprovar a inexistência de falha na prestação de
serviço ou a culpa exclusiva dos correntistas.
3. DANO MORAL. OCORRÊNCIA. O dano moral
oriundo de inscrição negativa indevida do nome do
consumidor em cadastros de inadimplentes prescinde
de comprovação, configurando-se in re ipsa,
porquanto se trata de dano presumido, cuja lesão
decorre da própria ilicitude do fato.
4. VALOR DA INDENIZAÇÃO. REDUÇÃO.
CABIMENTO. A indenização pelo dano moral possui
dupla finalidade: compensatória e pedagógica. O valor,
portanto, deve ser suficiente a desestimular tais
condutas lesivas. No caso dos autos, o montante
fixado na sentença deve ser reduzido, a fim de
adequar-se aos valores praticados por esta Câmara
em casos análogos.

APELAÇÃO CONHECIDA, POR MAIORIA.

APELAÇÃO PROVIDA, À UNANIMIDADE.

APELAÇÃO CÍVEL VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

Nº 70082416660 (Nº CNJ: 0213575- COMARCA DE PORTO ALEGRE


23.2019.8.21.7000)

BANCO SANTANDER BRASIL S.A. APELANTE

ROBERTO GUIMARAES CINTRA APELADO


REZENDE

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.


Acordam os Desembargadores integrantes da Vigésima Quarta
Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, por maioria, em não

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conhecer do apelo, vencido o Desembargador Cairo Roberto Rodrigues


Madruga, que votava pelo conhecimento do recurso. Conforme o art. 942 do
CPC, em prosseguimento, votaram os Desembargadores Altair de Lemos
Júnior e Jorge Maraschin dos Santos. Resultado: por maioria, vencidos os
Desembargadores Fernando Flores Cabral Júnior e Jorge Alberto Vescia
Corssac, em conhecer do recurso e, no mérito, à unanimidade, em dar
provimento à apelação.
Custas na forma da lei.
Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes
Senhores DES. JORGE MARASCHIN DOS SANTOS (PRESIDENTE) E
DES. ALTAIR DE LEMOS JÚNIOR, DES. JORGE ALBERTO VESCIA
CORSSAC, DES. CAIRO ROBERTO RODRIGUES MADRUGA.
Porto Alegre, 30 de outubro de 2019.

DES. FERNANDO FLORES CABRAL JÚNIOR,


Relator.

R E L AT Ó R I O
DES. FERNANDO FLORES CABRAL JÚNIOR (RELATOR)
Trata-se de apelação interposta pelo BANCO SANTANDER
BRASIL S.A. em face da sentença prolatada nos autos da ação declaratória
de inexistência de débito com pedido de indenização por danos morais em
que contende com ROBERTO GUIMARÃES CINTRA REZENDE. Constou
na sentença apelada (fls. 133/136):

“[...]. Isso posto, ratifico a tutela provisória de urgência


outrora deferida e, nos termos do art. 487, I do Código

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do Processo Civil, JULGO PROCEDENTES os


pedidos formulados por ROBERTO GUIMARÃES
CINTRA REZENDE em desfavor de BANCO
SANTANDER (BRASIL) S.A., para: a) declarar a
inexistência do débito, descrita à fl. 20 (R$ 215,31) e
tornar definitiva a liminar deferida. b) condenar o réu
ao pagamento de indenização por danos morais no
valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), corrigido
monetariamente pelo IGP-M a partir da publicação
desta sentença, acrescidos de juros de mora de 1%
(um por cento) ao mês desde a inscrição (Súmula nº
54, do STJ). Caso ainda não tenha sido cumprida a
tutela, fixo multa de R$10.000,00 em caso de persistir
o descumprimento após cinco dias da intimação da
presente decisão. Condeno o réu ao pagamento das
custas processuais e honorários advocatícios ao
procurador da parte autora, os quais fixo em 10% (dez
por cento), sobre o valor da condenação, forte nos art.
85, § 2º do CPC. Havendo recurso(s) – excepcionados
embargos de declaração intime(m)-se,
independentemente de conclusão (ato ordinatório –
arts. 152, VI, CPC, e 567, XX da Consolidação
Normativa Judicial), a(s) contraparte(s) para
contrarrazões, remetendo-se em seguida os autos ao
Tribunal de Justiça (art. 1010 § 3º CPC). Transitada
em julgado, arquivem-se com baixa. Publique-se.
Registre-se. Intimem-se.”

Em razões recursais, postula o afastamento da condenação ao


pagamento de indenização por danos morais. Subsidiariamente, pleiteia a
redução do quantum indenizatório arbitrado. Defende que o montante fixado,
a quantia de R$ 20.000,00, se mostra em desacordo com os valores
costumeiramente aplicados por esta Corte em demandas semelhantes. Aduz
a inaplicabilidade da Súmula 479 do STJ, ao argumento de que a
responsabilidade do fornecedor deve ser afastada nas hipóteses de culpa
exclusiva da vítima ou de terceiro, nos termos da disciplina do art. 14, §3º, II,
do CDC.
Contrarrazões nas fls. 153/159.

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Intimada para se manifestar a respeito da tempestividade do


recurso de apelação, em respeito ao princípio da não-surpresa (fls.
161/161v), a parte ré restou silente (fl. 163).
Cumpridas as formalidades dos artigos 931, 934 e 935 do
Código de Processo Civil de 2016, tendo em vista a adoção do sistema
informatizado.
É o relatório.

VOTOS
DES. FERNANDO FLORES CABRAL JÚNIOR (RELATOR)
O recurso não deve ser conhecido.
O art. 1.003, § 5º, do CPC assim dispõe:

“O prazo para interposição de recurso conta-se da


data em que os advogados, a sociedade de
advogados, a Advocacia Pública, a Defensoria Pública
ou o Ministério Público são intimados da decisão.
(...)
§ 5º. Excetuados os embargos de declaração, o prazo
para interpor os recursos e para responder-lhes é de
15 (quinze) dias. ”

No caso dos autos, o ora apelante foi intimado da sentença


recorrida por intermédio da Nota de Expediente nº 1163/2019,
disponibilizada na edição do Diário da Justiça nº 6515, em 03/06/2019 (fl.
137).
Ou seja, o prazo de 15 dias para interposição do apelo iniciou
em 05/06/2019 e findou em 26/06/2019.
Contudo, examinando os autos, verifico que a apelação foi
apresentada junto à EBCT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos) em
26 de junho de 2019 às 18h06min (fl. 138v).
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Pois bem, de acordo com o art. 212, §3º, do Código de


Processo Civil a petição, quando não eletrônica, como no caso em apreço,
deve ser protocolada dentro do horário de expediente:

“Art. 212. Os atos processuais serão realizados em


dias úteis, das 6 (seis) às 20 (vinte) horas.
(...)
§ 3o Quando o ato tiver de ser praticado por meio de
petição em autos não eletrônicos, essa deverá ser
protocolada no horário de funcionamento do fórum ou
tribunal, conforme o disposto na lei de organização
judiciária local. ”

Atualmente, o horário forense no âmbito do Poder Judiciário do


Rio Grande do Sul é das 09h às 18h, de acordo com a Ordem de Serviço nº
01/2012 – Órgão Especial do TJRS.
Cumpre mencionar que o Poder Judiciário do Rio Grande do
Sul estabeleceu um sistema de protocolo integrado com a Empresa
Brasileira de Correios e Telégrafos, restando as regras dispostas na
Resolução nº 380/2001 do Conselho da Magistratura.
De acordo com o art. 6º da Resolução supracitada, o exame
acerca da tempestividade do ato processual deve ser realizado por meio de
documento próprio expedido pela EBCT.
Observa-se que no referido ato inexiste qualquer menção no
que tange ao horário diferenciado para a apresentação das petições.
Conclui-se, portanto, que a utilização do Sistema de Protocolo
Integrado do Poder Judiciário com a EBCT é uma faculdade da parte, e não
afasta a aplicação da regra prevista no art. 212, §3º, do Código de Processo
Civil.
Assim, já decidiu esta Corte:
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“APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. AÇÃO REVISIONAL. CONTRATO DE
EMPRÉSTIMO. CDC (CRÉDITO DIRETO AO
CONSUMIDOR). PRELIMINAR
CONTRARRECURSAL DE INTEMPESTIVIDADE DA
APELAÇÃO. REJEIÇÃO. PROTOCOLO CORREIOS.
SENTENÇA PARCIALMENTE MODIFICADA. Da
intempestividade do recurso de apelação. É
intempestivo o recurso interposto fora do prazo
recursal de 15 dias, previsto no artigo 508 do
Código de Processo Civil de 1973, vigente à data
da interposição do recurso de apelação. O recurso
interposto via protocolo integrado dos correios é
tempestivo se interposto até o último dia do prazo
e dentro do horário normal de expediente forense,
das 9h às 18h. Tendo a parte protocolado o
recurso de apelação via protocolo integrado
dentro do prazo legal, impõe-se o conhecimento
do recurso, ante a sua manifesta tempestividade.
Preliminar rejeitada. Capitalização de juros. Possível a
capitalização de juros em período inferior a um ano,
quando pactuado e nos contratos firmados quando já
em vigor da Medida Provisória nº 1.963, em sua
reedição de 30 de março de 2000 (atualmente
reeditada sob o nº 2.170/36). REJEITARAM A
PRELIMINAR CONTRARRECURSAL E DERAM
PROVIMENTO AO APELO. ” (Apelação Cível Nº
70071273965, Décima Sétima Câmara Cível, Tribunal
de Justiça do RS, Relator: Giovanni Conti, Julgado
em 27/10/2016) (grifei)

“APELAÇÃO CÍVEL. NEGOCIOS JURIDICOS


BANCARIOS. EMBARGOS À EXECUÇÃO. APELO
TEMPESTIVO. PROTOCOLO CORREIOS.
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. SUSPENSÃO.
INOCORRÊNCIA. ALEGAÇÃO DE EXCESSO DE
EXECUÇÃO. DEMONSTRAÇÃO DO VALOR
DEVIDO. INOCORRÊNCIA. REJEIÇÃO DOS
EMBARGOS MANTIDA. Tempestividade do recurso.
O recurso interposto via protocolo integrado dos
correios é tempestivo se interposto até o último
dia do prazo e dentro do horário normal de
expediente forense, das 9h às 18h, o foi o caso
dos autos. Mérito. A recuperação judicial do devedor
principal não frustra o prosseguimento das
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execuções, tampouco induz a suspensão ou extinção


das ações ajuizadas contra devedores solidários ou
coobrigados em geral. Inaplicável, portanto, a estes o
regramento previsto nos artigos 6º, caput, e 52, inciso
III, ou a novação a que se refere o artigo 59, caput,
por força do que dispõe o artigo 49, § 1º, todos da Lei
n. 11.101/2005. Precedente Jurisprudencial do
Superior Tribunal de Justiça. Entendimento desta
Colenda Câmara. Ainda, no caso dos autos o
embargante alegou a existência de onerosidade
excessiva, o que implica no excesso de execução.
Contudo, não trouxe com a peça portal memória de
cálculo do valor que entende devido, implicando,
evidentemente, na rejeição dos presentes embargos à
execução. Entendimento do Superior Tribunal de
Justiça e desta Colenda Câmara. Inteligência do
artigo 739-A, § 5º, do CPC/73. NEGARAM
PROVIMENTO AO APELO. UNÂNIME. ” (Apelação
Cível Nº 70058494618, Décima Segunda Câmara
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Alexandre
Kreutz, Julgado em 22/09/2016) (grifei)

E esta Câmara:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. NEGÓCIOS


JURÍDICOS BANCÁRIOS. EXCEÇÃO DE PRÉ-
EXECUTIVIDADE. PRESSUPOSTOS DE
ADMISSIBILIDADE. PROTOCOLO
EXTEMPORÂNEO. INTERPOSIÇÃO NO ÚLTIMO
DIA DO PRAZO APÓS O HORÁRIO DE
EXPEDIENTE. INTEMPESTIVIDADE. A
tempestividade é um dos requisitos de
admissibilidade do agravo de instrumento. Tal
requisito foi descumprido, pois interposto fora de
prazo. AGRAVO DE INSTRUMENTO NÃO
CONHECIDO. ” (Agravo de Instrumento Nº
70072567530, Vigésima Quarta Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Altair de Lemos
Junior, Julgado em 29/03/2017) (grifei)

Destarte, o apelo é intempestivo, o que impõe seu não


conhecimento.

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SUCUMBÊNCIA.
Diante do não conhecimento do apelo, mantenho a
sucumbência fixada pelo juízo a quo.
Nos termos do art. 85, §11, do CPC/2016 e, respeitados os
limites estabelecidos no §2º do mesmo diploma legal, majoro em 2% do
valor da condenação os honorários advocatícios fixados na sentença em
favor da parte apelada, observado o trabalho adicional realizado neste grau
de jurisdição com a apresentação das contrarrazões (fls. 153/159).

Isso posto, não conheço da apelação.

DES. JORGE ALBERTO VESCIA CORSSAC

Acompanho o voto do eminente Relator na preliminar e no


mérito.

DES. CAIRO ROBERTO RODRIGUES MADRUGA

Com a devida vênia, divirjo do eminente Relator para


conhecer do apelo.

Efetivamente, a apelação foi protocolada no último dia do


prazo, 26/06/2019, às 18h06min21s, nos Correios, AGF Rua da Praia, em
Porto Alegre.

Portanto, não há dúvida de que o recurso foi protocolado


depois de encerrado o expediente forense, que é das 9h às 18h, em todo
o Poder Judiciário do Estado do Rio Grande do Sul, conforme disposto no
artigo 1º da Ordem de Serviço nº 01/2012 do Órgão Especial:

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“ORDEM DE SERVIÇO Nº 01/2012 - ÓRGÃO


ESPECIAL
O PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO
DO RIO GRANDE DO SUL, NO USO DE SUAS
ATRIBUIÇÕES LEGAIS, EM ATENDIMENTO A DECISÃO
PROFERIDA PELO ÓRGÃO ESPECIAL NO EXPEDIENTE
THEMISADMIN Nº 0139-08/000437-9, NA SESSÃO DE
27 DE JUNHO DE 2011,
CONSIDERANDO OS PRINCÍPIOS DA IGUALDADE E DA
ISONOMIA ENTRE OS SERVIDORES DO 1º E 2º
GRAUS, BEM COMO O DA IMPESSOALIDADE NO
SERVIÇO PÚBLICO,
DETERMINA:
ART. 1º - O HORÁRIO DO EXPEDIENTE NO 1º E 2º
GRAUS SERÁ DAS 9 HORAS ÀS 18 HORAS, A
PARTIR DE 5 DE MARÇO DE 2012, DE FORMA
ININTERRUPTA, COM INTERVALO DE 1 (UMA) HORA
PARA ALMOÇO, MEDIANTE REVEZAMENTO.”g.n.
[...].

Além disso, o art. 212, § 3º1, do CPC, estabelece que atos


processuais que tenham que ser praticados por meio de petição em autos
não eletrônicos devem atender o horário de funcionamento do fórum ou
tribunal, consoante lei de organização judiciária local.

Assim, em uma análise superficial, a conclusão a que se


chega é a de que o recurso é intempestivo, por 6 minutos e 21 segundos.

Todavia, essa conclusão não é razoável.

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§ 3º Quando o ato tiver de ser praticado por meio de petição em autos não eletrônicos, essa deverá ser
protocolada no horário de funcionamento do fórum ou tribunal, conforme o disposto na lei de organização judiciária
local.
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Com efeito, em consulta ao site dos Correios é possível


verificar que a AGF Rua da Praia 2 é uma agência franqueada que funciona
de segunda à sexta-feira das 9h às 18h.

Nesse contexto, conclui-se que o advogado da parte


apelante ingressou na agência dos correios antes das 18h, ou seja, antes
do término do expediente forense, até porque não lograria ingressar em
momento posterior, já que o término do expediente da agência
franqueada coincide com o término do expediente forense, porém, ao que
tudo indica, a petição somente foi protocolada alguns minutos depois, em
razão do tempo despendido para o seu atendimento, certamente em
razão de eventual números de pessoas para serem atendidas à sua
frente.

Veja-se que, hipótese semelhante seria a de quem


ingressasse na distribuição do foro antes das 18h, porém somente
lograsse protocolar um recurso alguns minutos após esse horário,
hipótese em que, por certo, o recurso não seria tido como intempestivo,
não se mostrando plausível tratamento diferenciado entre o protocolo
realizado diretamente no foro e no protocolo integrado.

Nesse sentido:
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. REPRESENTAÇÃO
COMERCIAL. CONTESTAÇÃO OFERECIDA POR MEIO
DO PROTOCOLO POSTAL INTEGRADO.
TEMPESTIVIDADE. HORÁRIO DE EXPEDIENTE DO
PODER JUDICIÁRIO. ART. 172, § 3º, CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL DE 1973. O prazo para o
oferecimento de defesa, de 15 dias, teve seu termo
final em 13/07/2015, tendo a parte ré se utilizado do
2
http://www.buscacep.correios.com.br/sistemas/agencias/
AGF RUA DA PRAIA - AG CORREIOS FRANQUEADA (AGF)
Endereço: RUA DOS ANDRADAS , 1001
Complemento: LOJA 102
Bairro: CENTRO HISTORICO
Município: PORTO ALEGRE
Cidade: PORTO ALEGRE
UF: RS
CEP: 90020-971
Telefone: (51) 3061-4893 / (51) 3225-4893
HORÁRIO DE ATENDIMENTO
Segunda a sexta: Das 09:00 às 18:00
Sábado: Das 09:00 às 12:00
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serviço de protocolo postal integrado, e protocolado


a peça de defesa no último dia do prazo, conforme
comprovante emitido pelos Correios, mas alguns
minutos após o encerramento do expediente
forense. A contagem do prazo para tal fim no
procedimento ordinário é regrado pelos artigos 241
e 297 do Código de Processo Civil. O protocolo postal
integrado se encontra previsto na Resolução
380/2001 do Conselho da Magistratura, que, em seu
art. 6º, estipula a forma de aferição da
tempestividade das peças entregues por este meio
com amparo na data em que emitido o comprovante
de depósito da petição. Além desse documento, no
caso de peças que devam ser oferecidas em prazo
determinado, deve ser obedecido o horário do
expediente, nos termos do art. 172, §3º, do Código
de Processo Civil de 1973, com complementação
pela Ordem de Serviço nº 01/2012 do Órgão Especial
deste Corte. No caso concreto, a parte ré logrou
demonstrar que a agência dos Correios onde
realizado o protocolo possui expediente até as 18h,
e que os clientes que já se encontravam no
estabelecimento até então são atendidos. Deste
modo, está evidenciado que o procurador que
realizou o protocolo da contestação ingressou na
agência antes das 18h e somente teve a emissão do
comprovante de depósito da mesma após dito
horário em virtude da existência de mais pessoas
aguardando atendimento, de modo que não deve ser
declarada a intempestividade da defesa e os efeitos
da revelia. AGRAVO DE INSTRUMENTO
DESPROVIDO.” (Agravo de Instrumento, Nº
70068565381, Décima Sexta Câmara Cível, Tribunal
de Justiça do RS, Relator: Cláudia Maria Hardt,
Julgado em: 13-10-2016).

“APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO


INDENIZATÓRIA POR DANOS MATERIAIS E MORAIS.
PRELIMINAR DE INTEMPESTIVIDADE REJEITADA.
RESPONSABILIDADE DE ESTABELECIMENTOS
COMERCIAIS POR VIOLAÇÃO DE VEÍCULO
ESTACIONADO NO INTERIOR DE SUAS
DEPENDÊNCIAS. DEVER DE INDENIZAR. JUSTA
EXPECTATIVA DO CLIENTE. RESSARCIMENTO DOS
BENS SUBTRAÍDOS DO AUTOMÓVEL. APLICAÇÃO DA
TEORIA DA REDUÇÃO DO MÓDULO DE PROVA. DANO
MATERIAL CONFIGURADO. VALOR MANTIDO. 1.
Preliminar de intempestividade. Os atos processuais
que devam ser praticados por meio de petição em
autos não eletrônicos devem atender ao horário do
foro ou tribunal, conforme legislação de organização
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judiciária local, sendo entre 9h e 18h no Poder


Judiciário do Rio Grande do Sul. Inteligência do art.
212, § 3º, do CPC e art. 1º da Ordem de Serviço nº
01/2012 do OE. Caso dos autos em que o recurso foi
interposto por meio do Protocolo Integrado em
agência dos Correios que encerra suas atividades às
17h30min, sendo razoável presumir que o
comprovante de postagem apenas foi impresso às
18h06min em razão do fluxo de pessoas que
aguardavam atendimento no interior do
estabelecimento. Preliminar afastada. [...].
PRELIMINAR CONTRARRECURSAL REJEITADA,
APELAÇÃO DESPROVIDA.” (Apelação Cível, Nº
70082137266, Nona Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Carlos Eduardo Richinitti,
Julgado em: 10-09-2019).

Diante do exposto, voto pelo conhecimento do apelo.

No mérito, acompanho o eminente Relator.

DES. JORGE MARASCHIN DOS SANTOS (PRESIDENTE)

Com a devida vênia ao Relator, diante das peculiaridades do


caso concreto, acompanho a divergência lançada pelo Desembargador
Cairo Roberto Rodrigues Madruga para conhecimento do recurso.

No mérito, acompanho o eminente Relator.

DES. ALTAIR DE LEMOS JÚNIOR

Rogando vênia ao eminente Relator, acompanho a


divergência lançada eminente Des. Cairo Roberto Rodrigues Madruga pelo
conhecimento do recurso.

No mérito, acompanho o Relator.

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Nº 70082416660 (Nº CNJ: 0213575-23.2019.8.21.7000)
2019/CÍVEL

Vencido quanto ao não conhecimento do recurso, passo à


análise do mérito da apelação.

1. ILEGITIMIDADE PASSIVA DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA.


INOCORRÊNCIA.
No presente recurso, postula o apelante seja reconhecida a
sua ilegitimidade para figurar no polo passivo da presente demanda.
Tenho que razão não lhe assiste.
Isso porque, conforme se depreende da consulta da fl. 20, a
parte requerida foi a responsável pela inclusão da inscrição restritiva nos
cadastros de inadimplentes impugnada pelo autor no presente processo.
Ademais, observa-se, dos cheques colacionados nas fls. 16/17,
que o autor e a correntista conjunta, Janine, ex-mulher do demandante, são
os sacadores/emitentes das cártulas e o banco réu é o sacado.
Assim, não há falar na ilegitimidade passiva da instituição
financeira.

2. RESPONSABILIDADE CIVIL. FALHA NA PRESTAÇÃO


DOS SERVIÇOS. OCORRÊNCIA.
No caso em tela, o autor relata, na inicial (fls. 02/10), ter sido
surpreendido com uma ligação de um comerciante lhe informando o
recebimento de um cheque de sua conta corrente, assinado pela correntista
Janine, junto ao banco réu. Refere ter desconfiado da procedência da
referida cártula, pois não operava com o Banco Santander há muitos anos e
pelo fato de Janine, sua ex-cônjuge e segunda correntista da conta, ter
falecido muitos anos antes da emissão do cheque que teria sido

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alegadamente assinado por ela. Destaca que, poucos dias depois, recebeu
um telefonema do demandado, lhe cobrando por um saldo em aberto, que
seria decorrente de um “adiantamento a depositantes”, atinente a um cheque
compensado em sua conta bancária. Salienta se encontrar a sua conta
corrente inativa há mais de 12 anos. Afirma ter se deslocado até a agência
da parte ré, oportunidade em que foi atendido pela gerente de
relacionamento especial e informado de que, provavelmente, teria sido
vítima de um golpe, em que um talonário fora obtido de forma ilícita.
Sustenta ter recebido a informação de que dois cheques foram apresentados
à compensação, ambos supostamente assinados pela correntista Janine,
sendo o primeiro compensado, mesmo que inexistente saldo em sua conta
bancária e o segundo, devolvido por divergência de assinatura. Argumenta
não ter sido mencionado pela instituição financeira ré como os cheques
foram fornecidos, tampouco como foram compensados sem que houvesse
saldo disponível em conta, na medida em que alega estar esta inativa há
mais de dez anos. Alude terem sido entregues cópias das cártulas
apresentadas à compensação e de extratos bancários retroativos a abril de
2006, data em que defende ter havido a última movimentação da sua conta.
Menciona ter registrado boletim de ocorrência policial noticiando o ocorrido.
Enfatiza que, além de não ter recebido uma solução do banco réu em razão
da fraude sofrida, veio a ser inscrito no cadastro de inadimplentes em virtude
do débito indevido. Postula a declaração de inexistência de dívida, com o
consequente encerramento da conta corrente, bem como a condenação da
parte ré ao pagamento de indenização por danos morais.
Pois bem.
Nesse cenário, importa salientar que a fraude perpetrada por
terceiros não constitui causa excludente de responsabilidade, pois configura
fortuito interno, uma vez que decorre do risco do próprio empreendimento,

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que não tem o condão de romper o nexo de causalidade entre a atividade


exercida pelo fornecedor e o evento danoso.
Nesse sentido:

AGRAVO INTERNO. AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE
INEXISTÊNCIA DE DÉBITO CUMULADA COM
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
INSCRIÇÃO INDEVIDA EM CADASTRO
RESTRITIVO DE CRÉDITO. FALHA NA
PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. RESPONSABILIDADE
OBJETIVA DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA.
HARMONIA ENTRE O ACÓRDÃO RECORRIDO E A
JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. REEXAME DE
FATOS E PROVAS. INADMISSIBILIDADE.
1. "As instituições bancárias respondem
objetivamente pelos danos causados por fraudes
ou delitos praticados por terceiros - como, por
exemplo, abertura de conta-corrente ou
recebimento de empréstimos mediante fraude ou
utilização de documentos falsos -, porquanto tal
responsabilidade decorre do risco do
empreendimento, caracterizando-se como fortuito
interno" (REsp 1.197.929/PR, Rel.
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA
SEÇÃO, DJe de 12.9.2011). 2. O Tribunal de origem
julgou nos moldes da jurisprudência desta Corte.
Incidente, portanto, a Súmula 83/STJ.
3. Não cabe, em recurso especial, reexaminar matéria
de fato (Súmula 7/STJ).
4. Agravo interno a que se nega provimento.
(AgInt no AREsp 1158721/SP, Rel. Ministra MARIA
ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em
08/05/2018, DJe 15/05/2018) – grifei

A propósito, trago à baila a lição do já mencionado Sérgio


Cavalieri Filho:

“O fortuito interno, assim entendido o fato imprevisível


e, por isso, inevitável ocorrido no momento da
fabricação do produto ou da realização do serviço, não
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exclui a responsabilidade do fornecedor porque faz


parte da sua atividade, liga-se aos riscos do
empreendimento, submetendo-se à noção geral de
defeito de concepção do produto ou de formulação do
serviço. Vale dizer, se o defeito ocorreu antes da
introdução do produto no mercado de consumo ou
durante a prestação do serviço, não importa saber o
motivo que determinou o defeito; o fornecedor é
sempre responsável pelas suas conseqüências, ainda
que decorrente de fato imprevisível e inevitável3.”

Assim, a instituição financeira ré deve responder por danos


causados ao cliente em decorrência de fraudes praticadas por terceiros -
risco do empreendimento -, salvo se provar inexistência do defeito ou culpa
exclusiva do consumidor.
Está é, aliás, a orientação do Superior Tribunal de Justiça
decorrente do julgamento do Recurso Especial n. 1.199.782/PR, conforme
incidente de processo repetitivo, in verbis:

RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE


CONTROVÉRSIA. JULGAMENTO PELA
SISTEMÁTICA DO ART. 543-C DO CPC.
RESPONSABILIDADE CIVIL. INSTITUIÇÕES
BANCÁRIAS. DANOS CAUSADOS POR FRAUDES E
DELITOS PRATICADOS POR TERCEIROS.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. FORTUITO
INTERNO. RISCO DO EMPREENDIMENTO. 1. Para
efeitos do art. 543-C do CPC: As instituições bancárias
respondem objetivamente pelos danos causados por
fraudes ou delitos praticados por terceiros - como, por
exemplo, abertura de conta-corrente ou recebimento
de empréstimos mediante fraude ou utilização de
documentos falsos -, porquanto tal responsabilidade
decorre do risco do empreendimento, caracterizando-
se como fortuito interno. 2. Recurso especial provido.
(REsp 1199782/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
24/08/2011, DJe 12/09/2011).

3
Programa de Responsabilidade Civil, 8ª edição, Editora Atlas, pg. 533-534.
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Nessa linha, o Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula n°


479, cujo enunciado, por oportuno, ora transcrevo:

As instituições financeiras respondem


objetivamente pelos danos gerados por fortuito
interno relativo a fraudes e delitos praticados por
terceiros no âmbito de operações bancárias.

No caso em tela, embora com condições para tanto, entendo


que a parte requerida não logrou êxito em demonstrar a inexistência do
defeito (falha na prestação do serviço) ou a culpa exclusiva do consumidor,
ônus que lhe competia, nos termos do art. 373, II, do CPC/2016.
Extrai-se, da petição inicial (fls. 02/10), que o autor sustenta a
existência de falha na prestação de serviços do banco réu, sob o argumento
de que foi surpreendido com a cobrança pelo demandado de dois cheques,
que supostamente teriam sido assinados, em 13/05/2018 e em 20/05/2018,
pela sua ex-mulher, Janine, falecida em 08/04/2015. Afirma que, em virtude
de um débito indevido, foi inscrito no cadastro de inadimplentes (fl. 20).
Veja-se que, do exame dos documentos juntados nos autos
pelo demandante, resta demonstrado que, na data em que as cártulas foram
assinadas, em 13/05/2018 (fl. 17) e em 20/05/2018 (fl. 16), a correntista
Janine, já havia falecido, consoante atesta a certidão de óbito da fl. 12, que
informa ter havido o falecimento desta em 08/04/2015, ou seja, há mais de
três anos da data em que firmados os cheques ora impugnados.
Por consequência lógica, denota-se que as assinaturas
constantes nas cártulas (fls. 16/17) em nada se assemelham à da de cujus,
conforme se verifica do documento de identidade desta acostado na fl. 13.
Neste contexto, cabia à parte ré trazer aos autos qualquer
elemento que pudesse atestar que os cheques teriam sido assinados pela
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correntista e não por terceiro, a comprovar a inexistência de falha na


prestação do serviço ou a culpa exclusiva da consumidora.
Ocorre que o banco réu, em sua contestação (fls. 92/100), se
limitou a defender, de forma genérica, a ausência de falha na sua prestação
de serviço, sem trazer elementos que pudessem afastar a fraude noticiada
na petição inicial, não se desincumbindo do ônus que lhe competia, a teor da
disciplina presente no art. 373, II, do CPC.
Neste cenário, não tendo sido demonstrada a culpa exclusiva
dos correntistas, afigura-se inviável excluir a responsabilidade do fornecedor
do serviço pela quebra do dever de segurança.
Nessa linha, trago à baila precedentes deste Tribunal de
Justiça:

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. AÇÃO INDENIZATÓRIA. CHEQUES
COMPENSADOS. FRAUDE. DANO MORAL.
CARACTERIZADO. - No caso, deferida a prova
pericial, restou inviabilizada porquanto a parte ré
não trouxe aos autos os cheques originais
indicados na inicial. - Assim, em se tratando de
relação de consumo, cabia à parte ré, ora apelante,
comprovar fato extintivo do direito da autora, nos
termos do art. 373, II, do CPC, o que não se ateve. -
Ademais, demonstrado pela autora a ocorrência
do furto e os descontos dos cheques
(apresentados e compensados sem nenhuma
conferência), e, levando-se em consideração que a
autora já contava com 81 anos na data do fato,
resta configurado o dano moral pretendido. APELO
PROVIDO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº
70078177821, Décima Sétima Câmara Cível, Tribunal
de Justiça do RS, Relator: Gelson Rolim Stocker,
Julgado em 30/08/2018) - grifei.

APELAÇÕES CÍVEIS. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. AÇÃO DECLARATÓRIA C/C
INDENIZATÓRIA. PERDA E FRAUDE DE CHEQUES.
FALSIFICAÇÃO DE ASSINATURA. INSCRIÇÃO
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INDEVIDA. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO


CONFIGURADA. 1. A fraude na operação bancária
perpetrada em desfavor do consumidor insere-se
no conceito de fortuito interno, cuja
responsabilidade recai sobre a instituição
financeira, a qual assume os riscos da atividade,
com todos os bônus e ônus que lhe são inerentes.
Este é teor do Enunciado de Súmula n° 479 do
STJ. 2. Há falha na prestação do serviço quando a
instituição financeira não imprime a segurança
necessária às operações bancárias que fornecem ao
consumidor. Caso dos autos em que não há como
eximir a responsabilidade da ré pela inscrição do
nome da parte autora nos cadastros restritivos de
crédito, por ausência de fundos, correspondente aos
cheques indevidamente compensados, mediante
assinatura falsa, uma vez que não evidenciada
qualquer excludente. PRESSUPOSTOS DA
CONFIGURAÇÃO DO DANO MORAL. São
pressupostos da caracterização de dano moral a
comprovação da ocorrência do dano, a ilicitude da
conduta e o nexo de causalidade entre o agir do réu e
o prejuízo causado à vítima. Requisitos plenamente
configurados na espécie, reconhecendo-se a
responsabilidade civil da ré em compensar o dano
moral sofrido. Inscrição indevida em cadastros
restritivos de crédito que consiste em dano moral in re
ipsa, cujo dano é presumido. Prescindibilidade da
discussão acerca da culpa no agir do réu, diante da
natureza objetiva da responsabilidade e, tampouco, de
imputar ao consumidor qualquer adminículo de
responsabilidade pelo evento danoso. QUANTUM
INDENIZATÓRIO. De acordo com abalizada doutrina,
o quantum indenizatório deve ser arbitrado a partir de
um sistema bifásico, em que primeiramente fixa-se o
valor básico ou inicial da indenização, considerando-
se o interesse jurídico atingido, em conformidade com
os precedentes jurisprudenciais acerca da matéria
(grupo de casos). Em um segundo momento, deve-se
considerar as características do caso concreto,
levando em conta suas peculiaridades. Caso dos
autos em que majorada a indenização para R$
9.980,00, levando em conta referidos parâmetros, as
particularidades do caso concreto, bem como
precedentes análogos desta Câmara. MINORAÇÃO
DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. O trabalho
exercido pelo advogado não se restringe a peticionar,
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englobando diversas outras atividades e, sobretudo,


responsabilidades. Assim, devem-se fixar os
honorários advocatícios de forma razoável, de forma
que não fira a dignidade da profissão. Honorários
advocatícios mantidos. APELO DA PARTE RÉ
DESPROVIDO. APELO DA PARTE AUTORA
PARCIALMENTE PROVIDO.(Apelação Cível, Nº
70081881146, Vigésima Terceira Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ana Paula
Dalbosco, Julgado em: 30-07-2019) – grifei.

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. AÇÃO DECLARATÓRIA DE
INEXISTÊNCIA DE TÍTULO C/C DANOS MORAIS E
CANCELAMENTO DE INSCRIÇÃO NEGATIVA.
CONTA ENCERRADA. DEVOLUÇÃO DE CHEQUE.
ADULTERAÇÃO GROSSEIRA. INSCRIÇÃO NOS
CADASTROS DE INADIMPLENTES. INSTITUIÇÃO
FINANCEIRA. FALHA NA PRESTAÇÃO DOS
SERVIÇOS. RESPONSABILIDADE. DANOS
MORAIS CARACTERIZADOS. - Demonstrado que o
cheque pelo qual a parte autora foi inscrita como
inadimplente possuía adulteração grosseira em
seu preenchimento, mais especificamente em sua
assinatura, responde a instituição financeira pela
falha na prestação do serviço, pois que deveria ter
conferido o cheque para assim devolvê-lo pela
alínea 35 (cheque fraudado), situação que não
resultaria na indevida inscrição da consumidora
nos cadastros restritivos ao crédito. - Inscrição
indevida do nome da postulante, por dívida
inexistente, nos cadastros de restrição ao crédito
configura o chamado dano moral in re ipsa. - O
quantum indenizatório deve ser fixado de forma a
proporcionar à vítima uma compensação pelos danos
sofridos, sem ensejar enriquecimento ilícito, e a
desestimular a prática de novo ato ilícito pela ré. -
Presentes os requisitos da responsabilização civil no
caso concreto, adequada a condenação da parte ré ao
pagamento de danos morais. Valor arbitrado que
merece minoração, de modo a adequar às
peculiaridades do caso concreto. APELO
PARCIALMENTE PROVIDO. UNÂNIME. (Apelação
Cível, Nº 70081408304, Décima Sétima Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Gelson Rolim
Stocker, Julgado em: 18-07-2019) – grifei.

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APELAÇÃO CÍVEL. CONTRATOS DE CARTÃO DE


CRÉDITO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE
INEXISTÊNCIA DE DÉBITO CUMULADA COM
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. FRAUDE.
INSCRIÇÃO NO CADASTRO DE EMITENTE DE
CHEQUES SEM FUNDOS. FALHA NA PRESTAÇÃO
DE SERVIÇO. QUANTUM INDENIZATÓRIO. 1. No
caso, deixou a Ré/Apelante de se desincumbir do
ônus previsto no artigo 373, inciso II, do Código de
Processo Civil. 2. Caso dos autos em que a parte
Autora arguiu a falsificação da sua assinatura em
cheque levado à compensação e que fora
devolvido por insuficiência de fundos, gerando a
inscrição perante o cadastro de emitentes de
cheques sem fundos, bem como a perda do limite
do cheque especial anteriormente contratado.
Documentação apresentada pela Ré que se mostra
insuficiente para afastar a falha na prestação dos
serviços. 3. Constitui decorrência inevitável da
inscrição irregular em rol de inadimplentes o abalo
moral. A quantificação do dano moral deve ter como
balizas critérios que considerem a extensão do dano,
grau de intensidade do sofrimento enfrentado, bem
como as condições pessoais dos envolvidos, tendo o
condão de inibir a incidência ou reincidência de
condutas ilícitas, bem como puni-las. 4. Caso em que
o consumidor teve o nome lançado em registro
desabonador de forma indevida, bem como revogada
a contratação do cheque especial utilizado para a
organização de seus ativos financeiros. 5.
Comprovado o erro inescusável a justificar a repetição
em dobro do indébito, uma vez que levado à
compensação cheque emitido mediante assinatura
falsificada por terceiro, sem que houvesse relação
jurídica a respaldar o ato, gerando, assim, a cobrança
indevida das taxas e tarifas decorrentes da devolução
da cártula. RECURSO PROVIDO. (Apelação Cível, Nº
70080922479, Vigésima Terceira Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Alberto Delgado
Neto, Julgado em: 28-05-2019) – grifei.

Desse modo, evidenciada a falha na prestação do serviço e


não tendo a parte ré demonstrado a ocorrência de qualquer das hipóteses
de exclusão de responsabilidade previstas no art. 14, §3°, do CDC, não há

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como afastar sua obrigação de reparar os prejuízos causados. Portanto, a


manutenção da sentença, no ponto em que reconheceu a responsabilidade
do réu, é medida que se impõe.
Apelo desprovido no ponto.

3. DANO MORAL. OCORRÊNCIA.


No que concerne à configuração do dano, em se tratando de
danos morais decorrente de cadastro negativo indevido, o entendimento
consolidado na jurisprudência é de que em se provando a violação do direito
presume-se a ocorrência do dano (figura do dano in re ipsa), cabendo à
parte contrária, se for o caso, desfazer tal presunção, do que não se
desincumbiu a parte ré.
Sobre o tema, vale destacar a jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO


AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO
DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO
C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
INSCRIÇÃO DO NOME DO AUTOR NOS
CADASTROS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO.
AUSÊNCIA DE AFRONTA AO ART. 1.022 DO
CPC/2015. DANO MORAL IN RE IPSA.
ASTREINTES. VALOR DOS DANOS MORAIS.
REEXAME DE CONTEÚDO FÁTICO-PROBATÓRIO.
SÚMULA N. 7/STJ. RAZOABILIDADE. DECISÃO
MANTIDA.
1. Inexiste afronta ao art. 1.022 do CPC/2015 quando
o acórdão recorrido pronuncia-se, de forma clara e
suficiente, acerca das questões suscitadas nos autos,
manifestando-se sobre todos os argumentos que, em
tese, poderiam infirmar a conclusão adotada pelo
Juízo.

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2. O recurso especial não comporta exame de


questões que impliquem revolvimento do contexto
fático dos autos (Súmula n. 7 do STJ).
3. Consoante a jurisprudência desta Corte, "nos
casos de protesto indevido de título ou inscrição
irregular em cadastros de inadimplentes, o dano
moral se configura in re ipsa, isto é, prescinde de
prova" (REsp n. 1.059.663/MS, Relatora Ministra
NANCY ANDRIGHI, DJe 17/12/2008). 4. Somente em
hipóteses excepcionais, quando irrisório ou
exorbitante o valor da indenização por danos morais
arbitrado na origem, a jurisprudência desta Corte
permite o afastamento do óbice da Súmula n. 7 do
STJ para possibilitar sua revisão. No caso, a quantia
arbitrada na origem é razoável, não ensejando a
intervenção desta Corte.
5. Agravo interno a que se nega provimento.
(AgInt no AREsp 1214839/SC, Rel. Ministro ANTONIO
CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em
26/02/2019, DJe 08/03/2019) – grifei.

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL - AÇÃO CONDENATÓRIA - DECISÃO
MONOCRÁTICA QUE CONHECEU DO AGRAVO
PARA DE PLANO DAR PROVIMENTO AO RECURSO
ESPECIAL - INSURGÊNCIA RECURSAL DA
DEMANDADA.
1. Consoante iterativa jurisprudência desta Corte
Superior, a inscrição indevida do nome do devedor
no cadastro de inadimplentes enseja dano moral in
re ipsa, prescindindo de provas. Precedentes.
1.1. No caso em tela, o Tribunal de origem reconheceu
ser indevida a inscrição, mas exigiu prova de abalo
psicológico, o que contraria a jurisprudência desta
Corte superior, impondo-se a reforma do aresto
estadual para correta aplicação do direito à espécie.
2. Agravo interno desprovido.
(AgInt no AREsp 1343671/RJ, Rel. Ministro MARCO
BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 12/02/2019, DJe
19/02/2019) – grifei.

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. PLANO DE SAÚDE. AÇÃO

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DECLARATÓRIA CUMULADA COM PEDIDO


INDENIZATÓRIO. INSCRIÇÃO INDEVIDA.
CADASTRO DE INADIMPLENTES. DANO MORAL IN
RE IPSA. SÚMULA N. 83/STJ.
VALOR DA INDENIZAÇÃO. REVISÃO.
DESCONSTITUIÇÃO QUE REQUER O REEXAME
DE FATOS E DE PROVAS. INCIDÊNCIA DA SÚMULA
7/STJ. HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS,
OBSERVADOS OS LIMITES LEGAIS. AGRAVO
INTERNO DESPROVIDO. 1. A jurisprudência
sedimentada desta Casa firmou entendimento no
sentido que a inscrição indevida em cadastro
negativo de crédito caracteriza, por si só, dano in
re ipsa, o que implica responsabilização por danos
morais. Súmula n. 83 do STJ. 2. De acordo com o
entendimento do Superior Tribunal de Justiça, "a
revisão de indenização por danos morais só é viável
em recurso especial quando o valor fixado nas
instâncias locais for exorbitante ou ínfimo" (AgRg no
AREsp n. 453.912/MS, Relator o Ministro João Otávio
de Noronha, DJe de 25/8/2014). Caso contrário, incide
o óbice previsto no enunciado n. 7 da Súmula desta
Casa.
3. Não se mostra excessiva a majoração dos
honorários sucumbenciais realizada na forma prevista
no art. 85, § 11, do CPC/2015, observados os limites
ali fixados.
4. Agravo interno a que se nega provimento.
(AgInt no AREsp 1284741/SP, Rel. Ministro MARCO
AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em
14/08/2018, DJe 28/08/2018) – grifei.

No mesmo sentido, precedentes desta Câmara em casos


análogos, inclusive, de minha relatoria:
APELAÇÃO CÍVEL. CONTRATOS DE CARTÃO DE
CRÉDITO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE
INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C PEDIDO DE
INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. PAGAMENTO
DE FATURA NÃO COMPUTADO PELA
ADMINISTRADORA DO CARTÃO DE CRÉDITO. -
FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. ERRO NO
CÓDIGO DE BARRAS NÃO ATRIBUÍVEL AO
CONSUMIDOR. Muito embora alegue a demandada
que o pagamento não restou comprovado, tendo em
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vista que o número do código de barras da fatura de


março de 2016 não confere com o número do
comprovante de pagamento apresentado (fl. 09), tal
fato não pode ser imputado ao autor. Assim, é
defeituosa a conduta da ré ao cobrar débito já pago.
Portanto, correta a declaração de inexistência de
débito. SÚMULA Nº 385 DO STJ.
INAPLICABILIDADE. As outras anotações em
desfavor da parte autora são posteriores ao registro
impugnado, o que afasta a aplicabilidade da Súmula
385 do STJ, conforme entendimento desta
Câmara. DANO MORAL. OCORRÊNCIA.O dano mor
al oriundo de inscrição negativa indevida do nome
do consumidor em cadastros de inadimplentes
prescinde de comprovação, configurando-se IN RE
IPSA, porquanto se trata de dano presumido, cuja
lesão decorre da própria ilicitude do fato. VALOR
DA INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. A
indenização pelo dano moral possui dupla finalidade:
compensatória e pedagógica. O valor, portanto, deve
ser suficiente a desestimular tais condutas lesivas.
POR MAIORIA, RECURSO PROVIDO. APLICADA A
TÉCNICA DO ART. 942 DO CPC. (Apelação Cível Nº
70078322310, Vigésima Quarta Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge Maraschin
dos Santos, Julgado em 29/08/2018) – grifei.

APELAÇÃO CÍVEL. CONTRATOS DE CARTÃO DE


CRÉDITO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE
INEXISTÊNCIA DE DÉBITO COM PEDIDO DE
INDENIZAÇÃO
POR DANO MORAL. INSCRIÇÃO NEGATIVA POR
DÉBITO QUITADO. 1. RESPONSABILIDADE CIVIL
DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NAS
RELAÇÕES DE CONSUMO. A responsabilidade das
instituições financeiras é objetiva, encontrando
fundamento na Teoria do Risco do Empreendimento,
respondendo, independentemente de culpa, pela
reparação dos danos causados a seus clientes por
defeitos/falhas decorrentes dos serviços que lhes
presta, motivo pelo qual somente não serão
responsabilizadas quando houver prova da
inexistência do defeito ou da culpa exclusiva do
consumidor ou de terceiro. 2. FALHA NA PRESTAÇÃO
DO SERVIÇO. OCORRÊNCIA. Na hipótese, é
defeituosa a conduta da instituição financeira
requerida ao inscrever o nome da consumidora em
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cadastros de inadimplentes por dívida quitada.


3. DANO MORAL. OCORRÊNCIA.
O dano moral oriundo
de inscrição negativa indevida do nome da
consumidora em cadastros de inadimplentes
prescinde de comprovação, configurando-se IN RE
IPSA, porquanto se trata de danopresumido, cuja
lesão decorre da própria ilicitude do fato. 4. VALOR
DA INDENIZAÇÃO. REDUÇÃO. DESCABIMENTO. A
indenização pelo dano moral possui dupla finalidade:
compensatória e pedagógica. O valor, portanto, deve
ser suficiente a desestimular tais condutas lesivas,
como no caso em tela, impondo-se a manutenção do
montante fixado na origem, uma vez que inferior aos
valores praticados pela Câmara em casos análogos,
inclusive. APELAÇÃO CÍVEL DESPROVIDA.
(Apelação Cível Nº 70078372414, Vigésima Quarta
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Fernando Flores Cabral Junior, Julgado em
26/09/2018) – grifei.

Sobre o tema, oportuno reproduzir lição de Sergio Cavalieri


Filho:
Se a ofensa é grave e de repercussão, por si só
justifica a concessão de uma satisfação de ordem
pecuniária ao lesado. Em outras palavras, o dano
moral existe in re ipsa; deriva inexoravelmente do
próprio fato ofensivo, de tal modo que, provada a
ofensa, ipso facto está demonstrado o dano moral à
guisa de uma presunção natural, uma presunção
hominis ou facti, que decorre das regras da
experiência comum4.

Desse modo, demonstrado nos autos que houve a inscrição


indevida do nome da parte autora em órgãos restritivos de crédito e não se
aplicando a Súmula nº 385 do Superior Tribunal de Justiça 5 à hipótese -
porquanto na data em que o registro em discussão no presente foi efetuado

4
Programa de Responsabilidade Civil. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2014, p. 116.
5
Súmula nº 385 do Superior Tribunal de Justiça: “Da anotação irregular em cadastro de
proteção ao crédito, não cabe indenização por dano moral, quando preexistente legítima
inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento”.
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pela parte ré (07/07/2018– fls. 20) não havia qualquer registro ativo no nome
do demandante - não há que se falar na ausência de comprovação do dano
moral sofrido.
Apelo desprovido no ponto.

4. VALOR DA INDENIZAÇÃO. REDUÇÃO. CABIMENTO.


Pretende o apelante a redução do valor da indenização
arbitrado em favor da parte autora pelo juízo a quo.
Na avaliação do dano moral, o órgão judicante deverá
estabelecer uma reparação equitativa, baseada na culpa do agente, na
extensão do prejuízo causado e na capacidade econômica do responsável.
Além disso, deve-se atentar à dúplice finalidade da
indenização: à compensatória, visando proporcionar lenitivo ao prejuízo
causado à parte autora e à pedagógica, objetivando desestimular a
repetição de condutas semelhantes da parte ré.
Assim, o valor da indenização não pode ser tão elevado a
ponto de ensejar enriquecimento da parte lesada, tampouco ínfimo às
condições econômicas do causador do dano, incapaz de sancionar sua
conduta ilícita e coibir a reincidência na prática de tal ofensa.
O Egrégio Superior Tribunal de Justiça, à vista da conhecida
ausência de critério legal orientador para a fixação do quantum indenizatório,
assentou a necessidade de observância dos princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade6.
No caso em tela, o Juízo de origem fixou indenização por
danos morais em R$ 20.000,00, tendo em vista o cadastro indevido do nome
do autor nos órgãos restritivos de crédito (fl. 20).

6
REsp 521.434/TO, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA TURMA, julgado em
04.04.2006, DJ 08.06.2006 p. 120.
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Todavia, no caso concreto, sopesando as particularidades


acima apresentadas, bem como considerando os parâmetros desta Câmara
na fixação das indenizações em casos de inscrição negativa indevida,
entendo razoável a fixação da indenização no valor de R$ 10.000,00, para
compensar o dano sofrido e atender o caráter pedagógico da medida, a
efeito de permitir reflexão da parte demandada sobre a necessidade de
atentar para critério de organização e métodos no sentido de evitar conduta
lesiva ao interesse dos consumidores.
O valor deve ser corrigido monetariamente pelo IGP-M, a
contar da data da fixação (no caso, do acórdão). Além disso, devem incidir
juros de mora de 1% ao mês da data do evento danoso, nos termos da
Súmula 54 do STJ. Portanto, os juros de mora devem ter como termo inicial
a data do evento danoso que, na hipótese, foi a inscrição negativa indevida.
Apelo provido no ponto.

Destarte, o recurso de apelação interposto deve ser provido.

Diante do resultado do julgamento, a sucumbência fixada na


origem permanece inalterada, porquanto a redução/majoração do valor da
condenação não possui o condão de alterar o decaimento das partes, nos
termos da disciplina presente na Súmula nº 326 do Superior Tribunal de
Justiça7.

Deixo de majorar os honorários previstos no art. 85, §11, do


CPC, tendo em vista a inexistência de honorários fixados na origem em favor
do apelante.

7
Súmula nº 326 do STJ: “Na ação de indenização por dano moral, a condenação em
montante inferior ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca”.
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Isso posto, dou provimento à apelação da parte ré para


reduzir o valor da indenização por danos morais para R$ 10.000,00,
corrigidos monetariamente pelo IGP-M, a contar da data do arbitramento do
valor da condenação (no caso em tela, do acórdão), assim como acrescido
de juros de mora de 1% ao mês, a contar da data do evento danoso, nos
termos da fundamentação.

DES. JORGE ALBERTO VESCIA CORSSAC- Acompanho o voto do


Eminente Relator na preliminar e no mérito.

DES. CAIRO ROBERTO RODRIGUES MADRUGA - De acordo com o(a)


Relator(a).

DES. JORGE MARASCHIN DOS SANTOS - De acordo com o(a)


Relator(a).

DES. ALTAIR DE LEMOS JÚNIOR - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. JORGE MARASCHIN DOS SANTOS - Presidente - Apelação Cível


nº 70082416660, Comarca de Porto Alegre: "POR MAIORIA, NÃO
CONHECERAM DO RECURSO, VENCIDO O DESEMBARGADOR CAIRO
ROBERTO RODRIGUES MADRUGA, QUE VOTAVA PELO CONHECIMENTO DO
APELO. CONFORME O ART. 942 DO CPC, EM PROSSEGUIMENTO, VOTARAM
OS DESEMBARGADORES ALTAIR DE LEMOS JÚNIOR E JORGE MARASCHIN
DOS SANTOS. RESULTADO: POR MAIORIA, VENCIDOS OS
DESEMBARGADORES FERNANDO FLORES CABRAL JÚNIOR E JORGE

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ALBERTO VESCIA CORSSAC, CONHECERAM DO RECURSO E, NO MÉRITO, À


UNANIMIDADE, DERAM PROVIMENTO À APELAÇÃO."

Julgador(a) de 1º Grau: JOAO RICARDO DOS SANTOS COSTA

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