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Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade

A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO CAMPO JURÍDICO

LILIAN CRISTINA SANTOS ARAÚJO1

RESUMO
O presente artigo é resultado do Trabalho de Conclusão de Curso que teve como
objetivo conhecer e analisar a atuação do pedagogo em um ambiente não escolar, nesse
caso o campo jurídico. O estágio da acadêmica no Tribunal de Justiça do Estado do Pará
(TJE/PA), no período de abril de 2011 a dezembro de 2012. Nesse estudo delimitou-se
apresentar o trabalho de uma pedagoga nas Varas dos Juizados de Violência Doméstica
e Familiar Contra a Mulher e como se dá a atuação e quais as atribuições dos pedagogos
no campo jurídico. Metodologicamente optou-se pela pesquisa qualitativa, tendo como
procedimento estudo bibliográfico e utilização da técnica de entrevista com a pedagoga
que atua no lócus da pesquisa. Após a coleta e análise de dados identificou-se as
atribuições que competem ao pedagogo no campo jurídico. Constataram-se as
possibilidades de atuação em diferentes ambientes educativos, além de visualizar o
possível fortalecimento do trabalho desenvolvido pelo pedagogo no TJE/PA. A pesquisa
suscitou a necessidade de expandir o conhecimento da pesquisadora e ampliar o debate
sobre a temática abordada, a qual tem grande relevância à comunidade acadêmica e à
sociedade.

Palavras-chave: Atuação do Pedagogo. Ambientes Educativos. Campo Jurídico.

1
Licenciada Plena em Pedagogia pela Universidade do Estado do Pará - UEPA. Graduada em
Serviço Social pela Universidade Federal do Pará - UFPA. Pós-graduanda em Infância, Família e
Políticas Públicas na Amazônia pela UFPA. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Pedagogia
Social e Empresarial – GEPESE – UEPA.

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INTRODUÇÃO
A disciplina Estágio Supervisionado em Instituições Não Escolares e Ambientes
Populares oportunizou conhecer o trabalho desenvolvido por pedagogos no Tribunal de
Justiça do Estado do Pará (TJE/PA), o qual foi campo de estágio não obrigatório da
pesquisadora, no período de abril de 2011 a dezembro de 2012. Esse estágio no campo
jurídico despertou a problemática: como se dá a atuação e quais as atribuições dos
pedagogos no campo jurídico? Ao fazer um recorte do Trabalho de Conclusão de Curso
(ARAÚJO; CARVALHO, 2012), o qual entrevistou 4 pedagogas do TJE/PA, delimitou-
se apresentar aqui os resultados acerca da atuação da única pedagoga, na época da
pesquisa, que atuava nas Varas dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar Contra
a Mulher.
Metodologicamente iniciou-se pela pesquisa bibliográfica que “Utiliza-se de
dados ou de categorias teóricas já trabalhadas por outros pesquisadores [...]”
(SEVERINO, 2007, p. 122), assim como, leituras da Psicologia e do Serviço Social,
literaturas de autores renomados, como: Fávero; Melão; Jorge (2008), Libâneo (2010),
dentre outros, e análises em documentos legais foram imprescindíveis. Optou-se pela
pesquisa qualitativa, que consiste em trabalhar com “[...] o universo dos significados,
dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes” (MINAYO, 2011,
p. 21). Utilizou-se ainda a observação participante, técnica que possibilitou uma série
de vantagens uma vez que “[...] a experiência direta é sem dúvida o melhor teste de
verificação da ocorrência de um determinado fenômeno” (LUDKE; ANDRÉ, 1986, p.
26).

DESENVOLVIMENTO
Ao longo dos anos a educação sofre mudanças em seu conceito, pois deixa de
ser restrita ao processo ensino aprendizagem em espaços formais, ultrapassando os
muros da escola para diversos segmentos. Nesse sentido, Libâneo (2010, p. 26) afirma
que “[...] as transformações contemporâneas contribuíram para consolidar o
entendimento da educação como fenômeno plurifacetado, ocorrendo em muitos lugares,
institucionalizados ou não, sob várias modalidades”. As ações educativas acontecem na
comunidade, nas organizações não governamentais, no trabalho, nas empresas, clubes,
igrejas, nos movimentos sociais, na família e em outras instituições não escolares como
o TJE/PA.

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O TJE/PA tem jurisdição em todo o Estado do Pará, com 108 Comarcas que
atendem os 143 municípios paraenses, acolhendo demandas sociais, psicológicas e
pedagógicas. É, portanto, nesse espaço territorial que atuam pedagogos, junto às Varas
da Infância e Juventude, Varas de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher,
Vara de Execução de Penas e Medidas Alternativas, Varas da Família, Setor Social,
entre outros. Esses profissionais foram inseridos nesses ambientes da instituição, ao
longo do tempo, diversificando e ampliando seus espaços de atuação. Nesse sentido,
Freitas explicita que o TJE/PA:

[...] possui pedagogos concursados desde 2006 e não concursados há mais de


20 anos, o ingresso desses profissionais se deu por conta das exigências de
leis como o Estatuto da Criança e Adolescente. Foram essas áreas que
demandaram dentro do Poder Judiciário a necessidade da junção de várias
ciências (como o Serviço Social, Psicologia, Sociologia) [...] (FREITAS,
2012, p. 86).

Com o objetivo de atender demandas da instituição judiciária os pedagogos,


assistentes sociais e psicólogos realizam intervenções e “[...] percorrem caminhos
semelhantes na instituição […]” (FÁVERO; MELÃO; JORGE, 2008, p. 36), no intuito
de relacionar saberes e reunir esforços para desempenhar tarefas que contribuam para a
garantia de direitos dos usuários do Sistema de Justiça.
Com a promulgação da Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) fica estabelecida,
no artigo 8º, “[...] a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher; e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de
violência doméstica e familiar”. Assim, foram criadas as Varas dos Juizados de
Violência Doméstica e Familiar Conta a Mulher (VJVDFCM) as quais compreendem a
1ª, 2ª e 3ª Vara Criminal dos referidos juizados do TJE/PA e devem processar e julgar
crimes de violência doméstica e familiar que vitimizam inúmeras mulheres no Pará.
Para compreender o que faz um pedagogo no campo jurídico, especialmente, nas
VJVDFCM, indagou-se a pedagoga C sobre suas atribuições nesse ambiente de
trabalho:
Realizar estudo de caso referente aos processos das três varas de violência
doméstica, sim, faço estudo de caso, pois estudo social só quem pode fazer é
o assistente social, assim como o psicólogo com o estudo psicológico.
Desenvolvemos palestras nas escolas e centros comunitários e
encaminhamento dos usuários, participação em audiência quando solicitado
pelo juiz. Ainda tem a parte administrativa de receber e encaminhar os
processos (PEDAGOGA C, grifo nosso).

O edital do concurso do TJE/PA do ano de 2006 estabelece as descrições


sumárias das atividades a serem desempenhadas pelo pedagogo:

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Participar de comissões, quando designado, e de treinamentos diversos de


interesse da administração; assessorar dirigentes e magistrados, por meio de
pareceres técnicos em processos que requeiram conhecimento específico da
ciência em apreço; executar individualmente ou em equipe atividades
relacionadas com a administração de recursos humanos, desenvolvimento de
pessoal, treinamento, estudos, pesquisas, análises organizacionais,
planejamento de recursos humanos, serviço social aos funcionários e outras
tarefas das Unidades Administrativas; bem como desempenhar outras
atividades correlatas ou outras atribuições que possam vir a surgir, conforme
as necessidades da área ou do Tribunal (PARÁ, 2006, p. 06).

Acerca da importância do pedagogo nas respectivas Varas em que atua, a


entrevistada comentou que “As áreas de trabalho se complementam, entretanto o
pedagogo tem um olhar diferente, um olhar multidisciplinar, pedagógico das ações
educativas, uma visão ampliada daquele fato social” (PEDAGOGA C).
Esse olhar para a vítima e o agressor, ambos envolvidos no caso de violência
doméstica, enfatiza a necessidade de defender os direitos humanos e sociais das partes
envolvidas para que os laços familiares sejam resguardados. Entretanto, resguardar
esses laços não significa aprisionar os indivíduos em uma relação afetiva desgastada,
mas sim primar pelo respeito mútuo, pela negação à violência doméstica e familiar e,
principalmente, pelo empoderamento da mulher vítima de violência, seja ela, física,
sexual, psicológica, moral ou patrimonial.
Dessa forma, percebe-se que o TJE/PA por ser um espaço diferenciado de
práticas educativas, necessita de agentes pedagógicos e requisitos específicos para o
exercício profissional do pedagogo, uma vez que o trabalho pedagógico desenvolvido
neste espaço visa à educação social do indivíduo, pois este deve ser visto na sua
singularidade e especificidade.

CONSIDERAÇÕES
Por meio de referenciais teóricos foi permitido um conhecimento do assunto
pesquisado e a pesquisa de campo contribuiu para alcançar os objetivos propostos.
Constatou-se que a Educação, é um processo amplo, que acontece em vários lugares,
formando um novo cenário para a atuação do pedagogo, o qual se apresenta como
profissional capaz de intervir e viabilizar o processo educativo nesses diferentes
âmbitos, como o que ocorre no TJE/PA. Observou-se ainda que a formação profissional
da pedagoga entrevistada foi direcionada para a docência e, possivelmente, não
contemplou uma experiência curricular com tendência à atuação em ambiente não
escolar como, por exemplo, o jurídico.

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Concluiu-se que para o profissional da Pedagogia ainda existem muitos campos


de atuação a serem conquistados, porém esse trabalho de conquista de espaço e
reconhecimento da importância desse profissional em ambiente não escolar, nessa
análise o campo jurídico, caminha gradativamente para uma efetivação e construção de
uma identidade profissional. O estudo suscitou a necessidade de expandir o
conhecimento da pesquisadora e ampliar o debate sobre a temática abordada, a qual tem
grande relevância à comunidade acadêmica e à sociedade.

REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Lilian Cristina Santos. CARVALHO, Thalita da Silva. A ATUAÇÃO DO
PEDAGOGO NO CAMPO JURÍDICO. 2012. 57 f. Monografia (Graduação em Pedagogia) –
Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia, Centro de Ciências Sociais e Educação,
Universidade do Estado do Pará, Belém, Pará, 2012.

BRASIL. Lei Maria da Penha. Lei n.11.340. Brasília, 07 ag. 2006. Disponível em:
<http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/95552/lei-maria-da-penha-lei-11340-06>. Acesso em:
30 nov. 2012.

FÁVERO, Eunice Teresinha; MELÃO, Magda Jorge Ribeiro; JORGE, Maria Rachel Tolosa. O
Serviço social e a psicologia no judiciário: construindo saberes, conquistando direitos / Eunice
Teresinha Fávero;Magda Jorge Ribeiro Melão; Maria Rachel Tolosa Jorge. - 3. ed. - São Paulo:
Cortez, 2008

FREITAS, Riane Conceição Ferreira. O Trabalho do pedagogo no Tribunal de Justiça do


Pará: os desafios da inovação no exercício profissional. Dissertação (Mestrado em Educação) -
Universidade Federal do Pará, Instituto de Ciências da Educação, Programa de Pós-Graduação
em Educação, Belém, 2012.

LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para quê? / José Carlos Libâneo. – 12. ed. –
São Paulo, Cortez, 2010.

LÜDKE, Menga. ANDRÉ, Marli. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas / Menga


Lüdke, Marli E. D. A. André. – São Paulo: EPU, 1986.

MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio da pesquisa social. In: DESLANDES, Suely
Ferreira. Pesquisa social: teoria, método e criatividade / Suely Ferreira Deslandes, Romeu
Gomes; Maria Cecília de Souza Minayo (organizadora). 30. ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.

PARÁ, Edital n. 01, de 1º de março de 2006. Diário da Justiça do Estado do Pará, Belém,
PA. Disponível em:
<http://www.cespe.unb.br/concursos/_antigos/2006/TJPA2006/> Acesso em: 07 dez. 2012.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico / Antonio Joaquim


Severino. - 23. ed. rev. e atual. – São Paulo: Cortez, 2007.

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