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O intelectual e a coleção: a escrita de si de Jerônimo

Vingt-un Rosado Maia por meio da Coleção


Mossoroense

Paula Rejane Fernandes*

Resumo
Nosso objetivo é investigar como Jerônimo Vingt-un Rosado Maia fez uso da
Coleção Mossoroense como meio para produziu para si mesmo a imagem de
intelectual a serviço de Mossoró. Para respondermos ao nosso objetivo,
dialogaremos com Pierre Bourdieu (1996, 2002), Jean-François Sirinelli (1996),
Roger Chartier (1990, 2002) e usaremos como fonte de o livro Vingt-un (1980)
publicado pela Coleção Mossoroense.
Palavras-chave: Vingt-un. Escrita de si. Coleção Mossoroense.

Resumé
Notre objectif est d'étudier comment Jérôme Vingt-un Rosado Maia, à travers
de la Collection Mossoroense, fait usage comme un moyen de produire pour
lui-même l'image de Mossoró de services intellectuels. Pour répondre à notre
objectif, dialogaremos avec Pierre Bourdieu (1996, 2002), Jean-François
Sirinelli (1996), Roger Chartier (1990, 2002) et va utiliser le livre comme une
source de Vingt-un (1980) publié par collection Mossoroense.
Mots-clés: Vingt-un. Écriture elle-même. Mossoroense Collection.

1 - A vida como narrativa de si

Segundo Pierre Bourdieu (1996), para darmos sentido a


nossas vidas criamos narrativas explicativas com base em
acontecimentos que foram vivenciados por nós ou que de alguma

*
Professora efetiva do IFBA e doutorando em História na UFES.
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forma se relacionam as nossas vidas. Tais acontecimentos são


selecionados e reorganizados temporalmente de modo a produzir a
ideia de que os mesmos se sucedem cronologicamente como se uma
vida fosse vivida sempre em linha reta. Ao fazer isso, aquele que narra
a sua própria vida suprime de seu relato os desvios que acabam por
conduzir a vida para outros caminhos às vezes não imaginados. Os que
não foram suprimidos podem passar por um processo de reelaboração
e adquirirem outro sentido.
Neste caso, o desvio é tido como sendo parte do devir que o
indivíduo deveria cumprir. Isso é visto deste modo, pois, de acordo
com Bourdieu, o senso comum descreve a vida como sendo um trajeto
que deve ser percorrido pelo indivíduo. E por ser trajeto, tem começo,
meio e fim. Ainda segundo Bourdieu (1996), a palavra fim deve ser
entendida de dois modos: primeiramente como término ou conclusão
de algo; segundo, como sendo finalidade. Sendo assim, na linguagem
simples, toda vida teria a sua finalidade que vai se cumprindo e se
confirmando ao longo da caminhada.
A ideia de unidade atribuída à vida é uma ilusão biográfica
uma vez que o indivíduo não é uma unidade, pelo contrário é
fragmentado e múltiplo. Cabe à narrativa que se deseja ser biográfica
produzir a intenção subjetiva de unidade. Para que possamos produzir
relatos que deem sentidos as nossas vidas é necessário que
arquivemos a nós mesmos. Segundo Philippi Artières (1998), arquivar a
si mesmo é uma injunção social, o indivíduo é constantemente
obrigado pela sociedade a produzir arquivos sobre si.
O arquivamento não é um processo desprovido de interesses,
pelo contrário, é marcado por escolhas que orientam as seleções e a
organização do arquivo de si mesmo. Mas de que é composto este
arquivo? Em grande medida, os arquivos pessoais são compostos por
fotografias, cartas, diários pessoais, livros dentre outros. Por meio da
construção deste arquivo e do modo como ele é apropriado e dado a

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ler, o indivíduo produz representações a respeito de si e do mundo.


Segundo Roger Chartier (1991), a noção de representação supera o
conceito de mentalidades empregado pela terceira geração dos
Annales, pois, consegue articular de modo mais claro três pontos
importantes: a classificação e o recorte das configurações intelectuais;
o estudo das práticas; e a investigar as formas como as representações
deixam marcas visíveis por meio das instituições. Somado a isso, ainda
de acordo com Chartier, a representação promove um afastamento
com a história social e ao mesmo tempo um retorno a ela: afastamento
porque entende que a história não se explica unicamente por meio das
lutas de econômicas e de classes; aproximação porque as
representações são estratégias simbólicas que permitem a ocupação
de certas posições dentro do grupo conquistadas por meio das lutas de
representações. Deste modo, concordamos com Chartier quando
afirma que as representações são formas de classificar, nomear e
produzir sentidos sobre o mundo muitas vezes expressos em práticas
cotidianas que algumas vezes são legitimadas por estarem vinculadas a
instituições ou a um grupo que compartilhem dos mesmos referenciais
de produção de sentido: as comunidades interpretativas.
O exercício de arquivar a própria vida é percebido quando
analisamos o intelectual Jerônimo Vingt-un Rosado Maia. Nascido em
Mossoró em 25 de setembro de 1920, era o vigésimo primeiro e último
filho de Jerônimo Ribeiro Rosado, farmacêutico procedente da cidade
de Catolé Rocha – PB que chegou a Mossoró, no ano de 1890, para
instalar uma farmácia juntamente com Almeida Castro, médico
radicado em Mossoró e com influência política construída
gradativamente por meio de suas relações de amizade e da
participação em espaços formadores de opinião, como o jornal O
Mossoroense. Nesse período, a cidade era uma praça comercial em
crescimento e mantinha trocas comerciais com as praças do Ceará e da
Paraíba. Mesmo sendo um forasteiro, o farmacêutico Jerônimo Rosado

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conseguiu inserir-se dentro da sociedade local e de sua política,


chegando a ser presidente da Intendência Municipal no período de
1917 a 1919. Destacou-se na cidade por seu gosto pela ciência, por seu
modo peculiar de vestir-se, e por nomear seus filhos com números em
latim ou francês correspondentes à ordem do seu nascimento, isso
justifica o nome de batismo do nosso intelectual mossoroense: Vingt-
un (vinte e um).
Vingt-un arquivava a si mesmo e isto é percebido por meio do
arquivamento de suas cartas, cópias de telegramas, fotos de família,
recortes de jornais, medalhas, biblioteca pessoal. Em sua biblioteca,
destacam-se ainda exemplares de livros publicados pela editora que
ele mesmo criou: a Coleção Mossoroense. Editora criada com a
finalidade de publicar as suas pesquisas, bem como documentos sobre
a história de Mossoró, pesquisas sobre a seca, trabalhos de jovens
escritores. A Coleção começou a editar seus livros no ano de 1949 e
continua até hoje. Partimos do entendimento de que a Coleção
Mossoroense, do mesmo modo que o arquivo pessoal e a organização
da Biblioteca, também fez parte do exercício autobiográfico realizado
por Vingt-un ao longo de sua vida e de que produz representações a
respeito dele.
As representações, de acordo com Roger Chartier (2002),
ajudam os grupos sociais a produzirem sentidos para si mesmos e para
o mundo. O fato de produzirem sentidos, não deve significar que as
representações se limitam apenas as ideias desprovidas de ações. Pelo
contrário, elas se expressam por meio de ações cotidianas como o ato
de escrever e ler. Tais ações são nomeadas por Chartier com sendo
práticas culturais. Estas, assim como as representações, são
legitimadas por meio das instituições ou grupos que compartilhem seus
sentidos.
Diante disso, partimos do pressuposto de que a Coleção
Mossoroense é uma prática cultural que ajuda a construir e por em

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circulação representações a respeito de Vingt-un, de sua família e da


cidade de Mossoró. É por meio dela que o nosso intelectual realiza o
seu exercício autobiográfico.
Entendemos o exercício autobiográfico como sendo o meio
pelo qual o indivíduo produz narrativas que dão sentindo a sua
existência de modo a criar a ideia de que ele é portador de uma
identidade única contribuindo, assim, para construir a sensação de que
a vida transcorre por meio de uma linha cronologicamente linear e que
o indivíduo vive para cumprir o seu destino. O exercício autobiográfico
deve ser pensado em relação com o arquivamento de si, pois, para
produzir narrativas sobre si o indivíduo necessita de vestígios materiais
a respeito do seu passado, vestígios que simbolizam a materialização
de sua memória a exemplo das cartas, fotos, livros, recortes de jornais.
Vale destacar que o exercício autobiográfico não é um exercício
solitário, pelo contrário, é um exercício que conta com a participação
de outras pessoas que produzem representações sobre o indivíduo, e
tais representações o auxiliam a construir a si mesmo e a dar sentido a
sua vida.
Por meio do seu exercício autobiográfico que pode ser
percebido na produção de livros e na manutenção de seu arquivo
pessoal que está sob a guarda da Fundação Vingt-un Rosado, o
intelectual construiu para si a representação de soldado a serviço do
“País de Mossoró”, expressão utilizada por ele para nomear a sua
cidade. E, investido da imagem de soldado, combateu uma única
batalha, a “Batalha da Cultura”. A Batalha da Cultura de Mossoró foi o
nome dado a um movimento iniciado em abril de 1948 cujo objetivo
era desenvolver a cultura na cidade, principalmente, criar espaços
mantenedores da cultura como biblioteca e museu. Naquele ano,
Jerônimo Dix-sept Rosado Maia, irmão de Vingt-un, assumiu a
prefeitura da cidade de Mossoró. Um dos pontos contidos na carta
proposta de Dix-sept quando candidato era criar biblioteca e museu

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para atender as necessidades da cidade. De acordo com Vingt-un, o


compromisso assumido por Dix-sept foi cumprido apenas cinco dias
após ter tomado posse (ROSADO et alli, 1978, p.5).
Isso fez com que Vingt-un atribuísse a Dix-sept Rosado o
papel de líder da Batalha da Cultura e atribuiu a si mesmo o lugar de
soldado. A imagem construída da família fazia parte do processo de
escrita de si e, assim, Vingt-un descreveu seu irmão como sendo um
homem prático e ligado ao comércio. De acordo com o geógrafo José
Lacerda Alves Felipe (2001), Jerônimo Rosado, o patriarca, havia
atribuído a seus filhos a tarefa de trabalhar pelo crescimento de
Mossoró. Um deles, Dix-sept Rosado, levou esta tarefa a ponto de
tornar-se prefeito do município em 1948 e assumindo o posto de chefe
familiar e local, passando a atribuir funções aos irmãos visando cumprir
o sonho de seu pai. Segundo Felipe, isso era uma estratégia política e
simbólica para ampliar o poder da família Rosado e, como parte da
divisão de tarefas, coube ao irmão caçula, Vingt-un Rosado, ocupar-se
com as questões envolvendo a cultura da cidade e com a elaboração da
história escrita da mesma.
A atuação nesta “Batalha da Cultura” auxiliou Vingt-un a
construir para si a imagem de trabalhador intelectual incansável.
Entretanto, esta é uma imagem que merece uma reflexão basilar.
De acordo com Jean-François Sirinelli (1996), o conceito de
intelectual é de difícil definição. Como tentativa de delimitar o sentido,
Sirinelli aponta duas possíveis definições. A primeira diz que os
intelectuais correspondem aos “produtores” e “mediadores” de cultura
como os professores, jornalistas, sociólogos. A segunda definição está
relacionada ao engajamento nas questões sociais da cidade, neste
caso, o intelectual seria uma pessoa que participaria ativamente dentro
da cidade propondo melhorias para a mesma e organizando eventos.
Sirinelli sugere que esses dois sentidos sejam pensados
interligadamente e não em oposição. Isto é, ainda segundo Sirinelli, um

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professor, por exemplo, se pensado como intelectual, tanto “produz”


bens culturais dentro de seu espaço de trabalho (o colégio, a
academia), quanto também intervém na organização da cidade, pois a
sua opinião, quando emitida, é tida como sendo especializada e,
portanto, legítima para falar sobre algo ou algum acontecimento.
Dessa forma, sua intervenção é promotora de ação dentro da cidade.
(SIRINELLI, 1996, p.243).
É a partir desse olhar emprestado de Sirinelli que
entendemos Jerônimo Vingt-un Rosado Maia em nossa pesquisa como
um intelectual. Assim sendo, é a partir de sua atuação na “Batalha da
Cultura” que Vingt-un vai construindo para si uma imagem de
intelectual e de soldado a serviço da cultura.

2- A Coleção Mossoroense

A “Batalha da Cultura” teve como um dos seus frutos a


Coleção Mossoroense, criada em 1949. Nos seus primeiros anos foi
financiada pela Prefeitura Municipal de Mossoró. Já no ano de 1974,
ela passou a ser financiada pela Fundação Guimarães Duque. A
fundação foi criada por Vingt-un Rosado durante o seu primeiro
mandato como diretor da Escola Superior de Agricultura de Mossoró –
ESAM. A fundação tinha como objetivo financiar pesquisas e publicação
de obras. Nesta sua nova fase que durou até o ano de 1994, o número
de publicações aumentou de modo significativo1. E segundo
informação do site da Coleção Mossoroense, enquanto a primeira fase
publicou 293 títulos, a segunda atingiu 1.888 publicações.
No ano de 1994, devido a divergências entre Joaquim Amaro,
então diretor da ESAM, e Vingt-un, a Fundação Guimarães Duque
deixou de financiar a edição de novas obras da Coleção. Essa ficou sem
recursos até a criação da Fundação Vingt-un Rosado no ano de 1995. O
objetivo da fundação era angariar fundos para publicar novas obras. A

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falta de recursos não impedia que isso fosse feito, pois a paixão que
Vingt-un nutria pelos livros fazia com que ele pagasse a impressão das
obras usando recursos próprios. Na ausência de recursos, pegava
dinheiro emprestado com agiotas. De acordo com o site da Coleção
Mossoroense, Vingt-un chegou a dever mais de 20 mil reais a agiotas.2
Dizer que Vingt-un pedia dinheiro emprestado para produzir
livros ajuda a produzir a representação de que o intelectual era uma
pessoa que se sacrificava pela ciência, pela cultura, pela cidade de
Mossoró. Por sua vez, esta representação ajudava a criar uma nova
representação, sendo esta, a de que ele era o único a se preocupar
com Mossoró, o único a conhecer cuidadosamente a história da cidade,
por isso, deveria ser visto como o guardião da memória da mesma.
Somado a isso, afirmar que pegava empréstimos para publicar livros,
reforçava publicamente o seu amor por Mossoró e mostrava como a
sua paixão pela cidade era algo que estava acima do seu interesse
financeiro.
Para as autoras Maria Cristina Guimarães Oliveira e Glessa
Celestino de Santana (2011), a Coleção Mossoroense não deve ser vista
apenas como a paixão de um intelectual, mas principalmente como
registro de uma memória científica impressa a respeito de Mossoró e
da região Nordeste que auxilia na produção de identidades regionais.
Por entenderem que a Coleção representa a memória impressa, as
autoras consideram a Fundação Vingt-un Rosado como sendo um lugar
de memória uma vez que esta é responsável por assegurar a
manutenção e continuidade da Coleção Mossoroense. As mesmas
pensam o conceito de lugar de memória a partir de Pierre Nora (1993).
Para este, os lugares de memória começam a ser criados a medida que
as sociedades deixam de ser tradicionais e passam a entrarem na
modernidade e vivenciarem a história. Como forma de fugir da
mudança, as sociedades criam espaços de conservação da memória,
como museus, bibliotecas, livros. Tais locais de conservação são

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nomeados por Pierre Nora como lugares de memória. Isso acontece,


pois, os lugares de memória são provenientes do sentimento de que
não há memória espontânea, sendo assim, é preciso arquivar a
memória para evitar o seu esquecimento. (NORA, 1993, p. 13). Para
suprir a ausência da memória tradicional seria preciso arquivar todos
os vestígios que se relacionassem a sociedade e ajudasse a criar para a
mesma uma memória.
Por sua vez, Alessandro Teixeira Nóbrega (2007) defende o
argumento de que a Coleção Mossoroense produziu para Dix-sept
Rosado a representação de que ele era um herói que morreu servindo
a Mossoró e ao Estado do Rio Grande do Norte. Para defender seu
argumento, o autor trabalha com a ideia de que a Coleção
Mossoroense é um espaço utilizado para inventar tradições. Para
tanto, pensa invenção da tradição a partir de Hobsbawm e Ranger
(1997). Para esses autores, as tradições são criadas com o intuito de
promover unidade entre os participantes do grupo e criar uma
identidade para o mesmo, sendo assim, as tradições tem a função
social de criar e reforçar laços entre os habitantes de um lugar.
Concordamos com os dois autores, pois acreditamos que a Coleção
Mossoroense é um lugar de memória bem como um lugar de invenção
de tradições. Somado a isso, defendemos que ela ajudou no exercício
autobiográfico de Vingt-un.
Deste modo, a Coleção Mossoroense procurou tecer relações
entre valores do povo mossoroense e Dix-sept Rosado. Segundo
Nóbrega, a Coleção Mossoroense escreve história dentro de uma
perspectiva da história política tradicional, isso significa dizer, que há
exaltação dos grandes homens tidos como os sujeitos e heróis da
história. Nóbrega também lê a Coleção como sendo produtora de uma
história institucional e tendo como função legitimar o grupo. Ainda
segundo o mesmo autor, Vingt-un por meio da Coleção Mossoroense
se apropriou de acontecimentos históricos ocorridos na cidade de

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Mossoró e procurou enaltecer tais fatos de modo a criar uma unidade


entre passado e presente (NÓBREGA, 2007, p. 53-4). Isso fez com que a
Coleção Mossoroense assumisse um papel político e cultural dentro da
cidade. Por meio do seu papel cultural, ela ajudava a produzir coesão
para o grupo, pois produzia para o mesmo uma memória que passava a
ser compartilhada por todos. E a existência de uma memória em
comum ajudava a produzir o sentimento de pertencimento ao grupo e
ao lugar. Nóbrega concorda com o geógrafo José Lacerda Alves Felipe
(2001) que a Coleção Mossoroense era utilizada como forma de
assegurar o poder da família Rosado uma vez que produzia uma
identificação do lugar com a família Rosado.

3- A Coleção Mossoroense e a construção de si de Jerônimo Vingt-un


Rosado Maia

Entendemos a Coleção Mossoroense como sendo parte


constitutiva do processo de escrita de si de Vingt-un. Esse
entendimento provém do fato de que Vingt-un criou a Coleção e usou
a mesma como espaço para publicação e circulação de seus trabalhos
de pesquisas que incluíam temas diversos como paleontologia,
petróleo, história de Mossoró. A respeito da história da cidade de
Mossoró, vale destacar que Vingt-un estimulou, por meio da Coleção
Mossoroense, a publicação de atas da Câmara Municipal de Mossoró,
códigos de posturas municipais, relatórios das atividades dos
presidentes da intendência municipal, e reprodução de jornais que
circularam na cidade no passado, como, por exemplo, o jornal O
Mossoroense que teve seus exemplares da primeira fase (1872-1876)
compilados e reproduzidos em forma de livro.
Assim, analogamente ao Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro – IHGB que criou uma história escrita para o Brasil Império,
Vingt-un, por meio da Coleção Mossoroense elaborou a história da

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cidade de Mossoró produzindo para a mesma uma memória coletiva


construtora de uma identidade local pautada nas ideias de coragem,
pioneirismo, valentia. Criou para sua família um lugar de destaque
dentro da história da cidade e para si criou o lugar de intelectual do
“País de Mossoró”.
Fazemos essa analogia, pois segundo Manoel Luís Salgado
Guimarães (1988), o IHGB foi criado no ano de 1838 com a missão de
produzir uma história para a jovem nação que se formava no Brasil pós-
1822. Até a independência, a história do Brasil estava vinculada a da
sua metrópole, Portugal. Pós-independência se fazia necessário uma
história que desse sentido ao país e que fosse capaz de inseri-lo dentro
do rumo de civilização e progresso seguido pelos países da Europa.
Para tanto, o IHGB estimulava a coleta e publicação de documentos
ligados à história do Brasil. Segundo Guimarães (1988), a história era
vista como sendo o meio pelo qual se construiria a nacionalidade
(GUIMARÃES, 1988, p. 14).
Pensamos que do mesmo modo que o IHGB, a Coleção
Mossoroense pode ser vista como o meio pelo qual Vingt-un desejava
construir a história de Mossoró, história capaz de servir de suporte
para criar uma identidade mossoroense como sendo a cidade da
resistência e da liberdade. E como argumenta de Certeau (2007), a
escrita contribui para criar o morto e um lugar para ele. O morto deve
ser entendido como sendo o passado. Ao falar sobre ele por meio da
escrita, é possível defini-lo e delimitá-lo criando, assim, um espaço
específico para o passado. E ao delimitá-lo, a escrita acaba por criar um
lugar para o presente, continuando a metáfora de Certeau, um espaço
para os vivos. Sendo assim, supomos que a Coleção Mossoroense
criava um passado para Mossoró.
Além dos livros escritos e organizados por Vingt-un, a Coleção
Mossoroense também publicou trabalhos de outros autores. Quando
observamos alguns nomes desses autores a exemplo de Raimundo

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Nonato, Raimundo Brito, Sebastião Vasconcelos, percebemos que eram


escritores que faziam parte do ciclo de amizade de Vingt-un e
compunham juntamente com ela uma comunidade interpretativa. De
acordo com Roger Chartier (2002), a comunidade interpretativa de
leitores bem como a de escritores consiste em um grupo de indivíduos
que compartilham as mesmas ideias, hábitos, práticas culturais. Essas
comunidades podem estar reunidas em torno de universidades, clubes,
revistas, editoras. No caso de Vingt-un, supomos que a sua
comunidade interpretativa se reunia em torno da Escola Superior de
Agriculta e da Coleção Mossoroense. Como característica dessa
comunidade percebemos a existência de uma troca constante de
elogios mútuos e o hábito de citarem uns aos outros.
O antropólogo argentino Gustavo Sorá (2010) ao analisar a
formação do mercado editorial no Brasil do começo do século XX, por
meio da Editora José Olympio, percebeu que os autores que eram
publicados por esta casa editorial tinham o hábito de dedicarem obras
aos amigos escritores ou críticos literários, de se citarem uns aos
outros, prática nomeada pelo autor como sendo sistema de
autorreferência (SORÁ, 2010, p.137). A prática de autorreferência
ajudava a construir o que Bourdieu (2002) nomeava como sendo o
círculo de elogios mútuos. A criação deste círculo ajudava a reforçar
laços e a produzir críticas positivas que por sua vez auxiliavam a
legitimação dos intelectuais como sendo produtores de um saber
autorizado. Estar dentro do círculo de elogios mútuos contribuía para
que o intelectual fosse aceito e reconhecido pelos seus pares como
sendo um igual.
A Coleção Mossoroense é entendida por nós como sendo um
espaço de produção e circulação de representações a respeito de
Vingt-un e de Mossoró. É um espaço de produção de representações,
pois, produz sentidos e imagens a respeito da cidade de Mossoró e de
sua história, a exemplo das representações de que Mossoró é a cidade

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da resistência, pois, no ano de 1927, os mossoroenses fizeram uma


bem sucedida resistência à invasão do bando de Lampião; cidade da
liberdade, porque libertou os escravos no ano de 1883. Também
produz representações a respeito de Vingt-un, a exemplo da de
intelectual, homem a serviço da cultura, “homem que vale uma
instituição”, trabalhador incansável, homem humilde.
Algumas obras se apropriavam de representações já
existentes a respeito do intelectual mossoroense bem como a respeito
de Mossoró e, a partir delas, reforçavam ou produziam novas
representações, permitindo, assim, a circulação das mesmas e a
superposição de presentes diferentes. Entendemos a circulação como
sendo um meio que possibilita a divulgação e construção de
representações, por isso, para o nosso trabalho, lemos a Coleção
Mossoroense como sendo uma prática cultural (ação) que cria
representações e coloca as mesmas em circulação. Defendemos que há
a produção de representações, pois, os livros editados e publicados
pela Coleção buscam produzir um sentido para a cidade de Mossoró,
para Vingt-un e a família Rosado. Além de produzir sentido, os livros
também procuram legitimar essa produção de sentido, pois, se
revestem com o caráter de pesquisa histórica baseada em fatos e
documentos, modelo de história adotado pela escola metódica (REIS,
1996).
Esse exercício pode ser percebido em diversas obras da
Coleção Mossoroense, mas para este artigo destacamos a obra Vingt-
un (MAIA, 1980) organizada por América Rosado Maia, esposa de
Vingt-un. A obra foi publicada em comemoração ao aniversário de 60
anos do intelectual mossoroense e faz parte de uma série chamada
Vingt-un. Nesta obra lemos uma seleção de cartas recebidas por Vingt-
un e depoimentos a seu respeito. Entre as cartas e depoimentos havia
um ponto em comum que era a constância de elogios endereçados a
Vingt-un.

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4- Vingt-un

América Fernandes Rosado Maia e Jerônimo Vingt-un Rosado


Maia se conheceram em Minas Gerais quando este fazia o curso de
Agronomia na Escola Superior de Agricultura de Lavras – ESAL.
Casaram-se no ano de 1947 e, após o casamento, América Fernandes
tornou-se não apenas sua esposa, mas também uma incentivadora e
companheira de pesquisa e ajudante na “Batalha da Cultura”, uma
intelectual que fazia parte da comunidade interpretativa da qual
participava Vingt-un e uma das principais colaboradoras para a
construção da imagem de que ele era um intelectual a serviço de
Mossoró. Podemos perceber a sua atuação nos livros que organizou e
cujo tema principal era o seu esposo. Exemplo disso é a obra Vingt-un,
publicada em 1980 em comemoração ao aniversário de 60 anos do
intelectual mossoroense.
Visando explicar o propósito da obra, América Fernandes
Rosado Maia redigiu um texto introdutório para o livro, À guisa de um
prefácio, no qual contava ao leitor os motivos que a conduziram na
organização e elaboração do livro. Os motivos apresentados por
América Maia reforçam algumas representações em torno de Vingt-un
como a de que ele era uma pessoa simples, desprovidas de grandes
vaidades. “Nunca fizemos uma comemoração festiva no seu aniversário
[...]. Ele sempre pensou que uma festa de proporções maiores poderia
parecer uma agressão aos que, ao seu redor, tinham tão pouco (MAIA,
1980, p. 3). Deste modo, na imagem destacada pela esposa, ao invés
de festa, o melhor presente para o intelectual era ganhar um livro
contando a sua história.
América nos permite ler coisas significativas em sua escrita. A
primeira trata-se de que o seu objetivo inicial era escrever uma
biografia em tom de romance. “O nosso desejo primeiro era que

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tivesse este livro o gênero biográfico. Uma biografia romanciada;


gênero de leitura que muito nos agrada”. A segunda era que seu
marido tinha a prática de arquivar material a respeito de si mesmo.
“No entretanto na riqueza dos seus arquivos fomos encontrar o
conteúdo destas páginas”. Terceiro, entendia o livro como sendo um
documento que atestava algo a respeito de Vingt-un, como se
houvesse uma verdade a ser dita. “Lendo cada uma delas achamos
razões muito fortes para reuní-las neste documento [...]”(MAIA, 1980,
p. 3).
De acordo com Angela de Castro Gomes (1998), os arquivos
pessoais são capazes de seduzir os pesquisadores com a ideia de que
eles representam a “verdade” a respeito do proprietário do acervo.
Deste modo, o feitiço dos arquivos pessoais é o de levar o historiador a
acreditar numa autenticidade só porque o documento foi escrito de
próprio punho do sujeito investigado. Diante disso, podemos dizer que
o contato com o arquivo seduziu a escritora América Maia ao ponto da
mesma entender que os documentos existentes nele atestavam a
verdade sobre Vingt-un, por isso, não era preciso haver uma crítica, só
era necessário compilar os documentos e ordená-los.
O quarto ponto que destacamos no texto de América Maia é
que há um desejo de construir para Vingt-un uma narrativa que desse
sentido a sua trajetória de vida e produzisse unidade para a sua
identidade. “mas seria também a história que teríamos de contar aos
nossos filhos e aos nossos netos [...]” (MAIA, 1980, p. 3). O desejo de
construir uma unidade para o indivíduo faz parte da necessidade que o
indivíduo moderno tem de criar narrativas que produzam a sensação
de unidade e deem a impressão de que as suas vidas transcorram de
modo a cumprir uma finalidade, como se houvesse um destino a ser
cumprido. Essa sensação de unidade cria o que Bourdieu (1996)
nomeia como sendo ilusão biográfica. Sendo assim, supomos que o
livro tenha como um dos seus objetivos criar uma unidade para Vingt-

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un de modo a tecer um fio condutor entre os diversos acontecimentos


de sua vida. Entendemos que a construção de narrativas biográficas
ajuda a produzir uma representação estanque do indivíduo capaz de
ser opor a outras narrativas que venham a se chocarem com a
representação principal. Quinto ponto que destacamos no prólogo de
América, corresponde ao fato da biografia ser escrita visando um
possível leitor, sejam eles os filhos e netos, como destacou América
Maia, sejam eles desconhecidos. A prática de contar a história de vida
de Vingt-un auxiliaria a produzir e a reforçar representações em torno
dele.
Por isso, entendemos a Coleção Mossoroense como
possuidora de um caráter (auto)biográfico, pois, por meio dela, Vingt-
un, às vezes só e/ou às vezes auxiliado por seus amigos, escrevia sobre
si mesmo de modo a dar sentido a sua vida de homem público e
homem privado. Nesse caso, a fronteira entre homem público e
privado parecia ser um pouco tênue de modo que, às vezes, quase não
há diferenciação entre o Vingt-un público e o privado. A Coleção
Mossoroense, portanto, trazia a marca de Vingt-un e de como ele
entendia a criação de livros, o papel do intelectual dentro do seu
campo, e a relação com outros intelectuais. Por meio da Coleção
Mossoroense podemos ler e analisar as representações produzidas em
torno de Vingt-un. Como vemos no depoimento do jornalista do jornal
O Mossoroense, Dorian Jorge Freire, que foi transcrito e anexado ao
livro Vingt-un organizado por América Maia:

Vingt-Un, já dissemos, é um dinâmico. O homem-


exceção de Mossoró. Sua administração na ESAM,
admirável. Suas iniciativas artístico culturais,
dignas de apreço. A ele devemos, de 1948 até
hoje, 80 a 90 por cento do que já se fez aqui em
matéria de cultura, de inteligência da estudo.
(Freire apud MAIA, 1980, p.84)
FERNANDES: O intelectual e a coleção...
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América Maia se apropriou de um texto escrito pelo jornalista


Dorian Jorge Freire em homenagem ao seu amigo Vingt-un, que foi
publicado primeiramente no jornal O Mossoroense no dia 29 de
setembro de 1976. Nesse período, Vingt-un estava a frente da direção
da ESAM e começava a fazer melhorias na estrutura física dela. Vemos
que América fez uso do texto de 1976 e o publicou em seu livro de
1980 sem fazer nenhuma observação a respeito da temporalidade.
Pelo contrário, trabalha com a ideia de que havia uma linearidade
entre o Vingt-un de 1976 e 1980.
América Maia seguiu esse mesmo raciocínio ao publicar uma
carta datada de 11 de novembro de 1979 que foi escrita por Leila
Fernandes Rosado, filha mais nova dela e Vingt-un:

Como vão Papai e a ESAM?


Que homem maravilhoso e raro ele é. Um homem
diferente, que dá a vida pelas coisas que se
compromete a fazer, por onde passaram as mãos
de Vingt-Un ficou uma marca forte de progresso,
de desenvolvimento, nascida do amor, da
dedicação e principalmente da ânsia de não tirar
proveito das coisas para si próprio, fato incomum
demais, não só hoje em dia, mas desde tempos
remotos.
[...]
Papai poderia ser um dos homens ricos de
Mossoró, mas não o é pela sua capacidade de
divisão, de doação, pelo valor que ele da às coisas
verdadeiras da vida.
Carta de Natal, 11/11/1979. (Leila Fernandes
Rosado apud MAIA, 1980, p. 167-8)

Revista Sertões, Mossoró-RN, v. 2, n. 1, p. 09-28, jan./jun. 2012


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A carta é datada de 11 de novembro de 1979, nesta data


Vingt-un não estava mais à frente da ESAM como diretor. Mas, mesmo
assim, a filha perguntou a respeito do pai e da ESAM na mesma frase.
Isso nos faz pensar que há uma associação entre o nome de Vingt-un e
a ESAM como se uma estivesse ligada a outra. A carta da filha ainda
destacou a simplicidade e honestidade de seu pai. Como podemos ver,
as duas citações destacavam a atuação de Vingt-un à frente da cultura
de Mossoró e também exaltavam o seu desprendimento. Era descrito
como um homem que trabalhava por um ideal e não em busca de
retorno financeiro ou pelos louros do reconhecimento. A sua postura
de humildade deveria ser tomada como exemplo pelos mossoroenses.
Do mesmo modo, o seu amor pela cultura e história de Mossoró
deveriam servir de modelo ao povo mossoroense.

5- Encerrando o texto

Como vimos, a Coleção Mossoroense fez parte do processo


de construção da imagem de intelectual de Jerônimo Vingt-un Rosado
Maia. Imagem tecida não apenas por ele, uma vez que contou com as
contribuições de sua família e de amigos. Estes se reuniam em torno da
própria Coleção Mossoroense e da ESAM, compondo, juntamente com
Vingt-un, a sua comunidade interpretativa por meio da qual conseguia
criar o círculo de elogios mútuos que legitimava o seu lugar de
intelectual defensor da cultura de Mossoró.

6- Referências bibliográficas

ARTIÈRES, Philippe. Arquivar a própria vida. Estudos Históricos, Rio de


Janeiro, nº 21, 1998. p.9-34
BOURDIEU, Pierre. Campo de poder, campo intelectual. Intinerario de
un concepto. s/l: Montressor, 2002.

FERNANDES: O intelectual e a coleção...


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Rio de Janeiro: FGV, 1996. pp. 183- 191
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Lisboa: Difel; Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 1990.
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Nacional. In: Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n.1, 1988, p. 5-27
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dos mitos: Dix-sept Rosado, o herói imolado. Dissertação (Mestrado) –
UFRN/Programa de Pós-Graduação em História, 2007.
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uma região. In: Encontro Nacional de Pesquisa em Ciências da
Informação. – Gt 10, Brasília, 2011. p. 3117- 3129
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SIRINELLI, Jean-François. Os intelectuais. In: RÉMOND, René (org.). Por
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SORÁ, Gustavo. Brasilianas: José Olympio e a Gênese do Mercado
Editorial Brasileiro. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo:
Com – Arte, 2010.

Revista Sertões, Mossoró-RN, v. 2, n. 1, p. 09-28, jan./jun. 2012


28

1
Ver o site http://www.itaucultural.org.br/rumos/webreportagem/fotos.htm
Acesso em 2 de julho de 2013.
2
Idem.

FERNANDES: O intelectual e a coleção...

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