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MELIPONICULTURA

CRIAÇÃO RACIONAL DE ABELHAS


INDÍGENAS SEM FERRÃO

Mario Cesar Milward Luna;


Maria Cristina Lorenzon;
Carina Oliveira de Abreu;
Emilyana Bretas.
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ
Presidente: Luis Inácio Lula da Silva
Reitor: Ricardo Motta Miranda
Vice-Reitora: Ana Maria Dantas Soares
Decano de Extensão: José Cláudio Souza Alves
Decano de pesquisa e pós-graduação: Áurea Echevarria Aznar Neves Lima
Editoração: Maria Cristina Lorenzon, Carina de Oliveira; Emilyana Bretas
Projeto gráfico da capa: Mário Cesar Milward Luna
Desenhos: Mário Cesar Milward Luna
Índice: O que são abelhas sem ferrão?; Por que criar abelhas sem ferrão?; Conhecendo as abelhas
sem ferrão; Tipo de caixas; Ferramentas do criador; Instalação do meliponário; Povoamento do
meliponário; Divisão de colônias; Revisão das caixas; Colheita do mel.
Apoio: CNPq, Faperj

Ficha Catalográfica
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Meliponicultura – Criação Racional de Indígenas Abelhas Sem Ferrão
/Luna, Mario Cesar Milward; Lorenzon, Maria Cristina; Oliveira, Carina; Bretas, Emilyana.
Seropédica, RJ: EDUR, 2007.
xxxp.: il.
ISBN:
1. Abelhas sem ferrão 2. Ecologia 3. Manejo 4. Desenvolvimento
sustentado
5. Meliponicultura.
I. Título
________________________________________________________________________
____________
© Editora da Universidade Rural, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Pavilhão Central, sala 102 PI
Rodovia BR 465, km 7, Seropédica, RJ, Brasil, CEP: 23890-000
Fone: (0xx21) 2682-1201 ramal 27
E-mail: edur@ufrrj.br http://www.editora.ufrrj.br
Seropédica, RJ: EDUR, 2007
ÍNDICE

O que são abelhas sem ferrão?

Por que criar abelhas sem ferrão?

Conhecendo as abelhas sem ferrão

Tipo de caixas

Ferramentas do criador

Instalação do meliponário

Povoamento do meliponário

Divisão de colônias

Revisão das caixas

Colheita do mel
I - O QUE SÃO ABELHAS SEM FERRÃO?

As abelhas sem ferrão, ou meliponíneos, são insetos que possuem o


ferrão atrofiado. Essas abelhas são nativas do território brasileiro, ou seja,
não foram trazidas e introduzidas pelo homem de outras partes do mundo,
como ocorrem com as abelhas melíferas (Apis mellifera), conhecidas como
africanizadas. No Brasil existem mais de 300 espécies de abelhas sem ferrão,
variando conforme a região.

As abelhas sem ferrão são abelhas que vivem em SOCIEDADE, ou em


famílias. Na família ou colônia, as abelhas dividem as tarefas, cooperam e se
comunicam entre si. O número de indivíduos em suas colônias pode variar de
cerca de 500 até 150.000 indivíduos.

Algumas espécies são mansas, outras agressivas, algumas pequeninas e


outras graúdas. Como abelhas nativas das regiões tropicais estão adaptadas a
diferentes condições climáticas e feições de vegetação, sendo importantes
polinizadores e, algumas, são produtoras de delicioso mel.
II – POR QUE CRIAR ABELHAS SEM FERRÃO?

O principal interesse pela criação racional destas abelhas está no


prazer que o manejo diário proporciona ao criador, uma vez que esta atividade
não representa risco de acidentes com enxames.

Além do lazer, a atividade pode ainda representar uma renda extra,


através da comercialização de enxames e se dispor de delicioso para a própria
alimentação.

A criação de abelhas sem ferrão permite, principalmente, a


preservação das plantas nativas, devido aos serviços de coleta de néctar e
pólen das flores realizadas pelas campeiras (abelhas campeiras). Ao se
movimentarem sobre as flores em busca do pólen e néctar as abelhas
promovem o transporte do pólen de uma flor para outra, colaborando para a
fertilização das plantas. Este mecanismo é que assegura a multiplicação e
sobrevivência das vegetais.

Os criadores de abelhas colhem, indiretamente, os efeitos da


polinização em seus pomares graças às abelhas: frutos e sementes mais
saborosos, sadios, em maior quantidade. Além da produção das abelhas
decorrente do forrageamento nas flores.

A POLINIZAÇÃO DAS PLANTAS é a


principal tarefa das abelhas na Natureza e daí a
grande importância de se preservar as nossas A polinização é
minha principal
abelhas indígenas. Para protegê-las denuncie os função na
desmatamentos clandestinos, ajude a salvar natureza

aquelas que podem ser despojadas de suas matas


ou outros locais, de queimadas, do uso de
agrotóxicos e extrativistas de mel. Organize este
serviço e em sua região, seja um pioneiro!
III – CONHECENDO AS ABELHAS SEM FERRÃO

A) Organização Social das Abelhas

As abelhas sem ferrão são verdadeiramente insetos sociais avançados,


pois apresentam divisão de tarefas, cooperação e comunicação entre indivíduos
de forma bem desenvolvida.
Seu ciclo de vida refere-se ao período para formar os jovens, que
ocorre nos favos: ovo, larva e pupa. O período de adulto, que chamamos de
abelhas, ou abelhas adultas, as abelhas vivem sobre os favos, cuidando dos
jovens, ou trabalham no campo. Larvas e pupas são também abelhas, mas são
jovens, com forma totalmente diferente da dos adultos.

CICLO DE VIDA DAS ABELHAS

OVO (5 dias)

LARVA (12-13 dias)

PUPA (18-19 dias)

ADULTO (45 a 54 dias)


abelhas: macho (zangão), operária,
rainha
As colônias possuem comumente: uma rainha, com função exclusiva de
reprodução; várias gerações de operárias, que fazem as tarefas domésticas;
machos, que possuem como função principal a reprodutiva. O número de
operárias e machos irá depender da condição geral da população e das
condições da Natureza. Se há fartura crescem (colônias densas), se há
escassez, reduzem a população.

As operárias das abelhas sem ferrão vivem,


em média, de 30 a 60 dias e são quase brancas ao
saírem dos favos, escurecendo com o passar do
tempo. Durante a vida adulta, desempenham
diversas funções dentro do ninho, seguindo
relativamente uma ordem: faxineiras – limpeza de
favos, nutrizes – alimentação da rainha e larvas,
engenheiras – construção de favos, soldados –
guardiãs da colônia, campeiras – coletoras de
recursos no campo.

A rainha apresenta o abdômen bem


dilatado, podendo ser localizada facilmente a olho
nu. Normalmente a rainha passeia na área de cria,
caminhando por entre os favos. Existem poucas
observações sobre fuga de meliponíneos,
considera-se que algumas espécies, a fuga seja
improvável devido à impossibilidade de voo da
rainha fecundada.
B) Conhecendo a colmeia por dentro

As abelhas sem ferrão constroem seus ninhos em ocos de árvores,


cupinzeiros, formigueiros abandonados e nos mais variados locais onde
encontram espaço e segurança suficiente para o desenvolvimento da colônia
(postes, paredes, muros, caixas de força, armários, pedreiras, etc.).

Na elaboração dos ninhos, as abelhas utilizam diversos materiais de


construção tais como a CERA PURA, o CERUME (mistura de cera + resina), que
utilizam para a construção de invólucro, cabos e favos. Preparam ainda o
GEOPRÓPOLIS (resina + barro) e o, BATUME (resina + dejetos), destinados à
delimitação do espaço do ninho e como repelente de inimigos naturais. Algumas
abelhas usam restos de carcaça animal e excrementos para construir suas
moradias como já foi observado em colônias de Jandaíra, Cupira, Trigona
hypogea, T. fulviventris e outras.

As abelhas constroem o NINHO em FAVOS, que são geralmente


dispostos em forma de discos empilhados, sendo que algumas espécies
apresentam favos em forma de discos em espiral, ou cria em cachos, como
cachos de uvas. Os favos apresentam CELAS (ou células), onde a rainha
deposita a cria.

As abelhas cuidam de filhotes (crias) que ficam aninhadas nos favos.


Para facilitar os trabalhos, entre os favos, existe um espaço – o
ESPAÇO-ABELHA, onde as abelhas circulam para CUIDAR DA CRIA.

Nos favos estão presentes as CRIAS NOVAS, que são os ovos e larvas
com alimento – este favo é visível porque fica compacto, com células pouco
delineadas e pesadas, nele há muito alimento nas celas. Não deve ser
manuseado, porque facilmente se quebra e mata a cria. As CRIAS MADURAS
são as larvas sem alimento e as pupas – nestas o favo fica bem delineado, é leve
e não há alimento nas células.
Eventualmente, surgem em alguns favos REALEIRAS, uma célula
especial, modificada, ovalada, bem maior do que as outras, onde serão criadas
novas rainhas. Essa célula se encontra nas extremidades de alguns favos ou na
parte central (depende da espécie de abelha). Células de rainhas só aparecem
quando a população de abelhas está muito forte e prepara-se para se dividir
naturalmente.

Várias espécies envolvem a área de cria com uma capa folheada feita
de cerume chamada de INVÓLUCRO. Essas lamelas protegem as larvas e
abelhas mais jovens das variações de temperatura e de pancadas.

Por cima, ou ao lado dos favos as


abelhas organizam o DEPÓSITO DE
ALIMENTOS, onde se localizam os
POTES, que são construídos com cerume.
Existem potes que guardam somente MEL,
ou somente PÓLEN, e os que guardam uma
mistura desses dois alimentos. Os potes
desses alimentos quando estão fechados
estão MADUROS e prontos para uso pelas
abelhas; os POTES ABERTOS estão
VERDES, neles os alimentos estão sendo
preparados pelas abelhas.

Pode-se observar pequenos


depósitos de resina ou PRÓPOLIS, que as
abelhas armazenam para preparar a própolis, ou utilizá-la quando necessitam
para calefatar as paredes do ninho, ou defender contra inimigos naturais.

A LIXEIRA é uma área importante do ninho, localizada na parte


inferior do ninho. Na lixeira vivem microrganismos que auxiliam na fermentação
do mel. Eles cooperam com a sobrevivência da colônia de abelhas.
IV - TIPO DE CAIXAS

No interior do Brasil é comum se encontrar abelhas sem ferrão criadas


em troncos de árvores cortados e fechados com barro. Para dar condições ao
homem de coletar o mel de forma higiênica, foram idealizados diversos tipos de
caixas racionais, para as mais diversas espécies de abelhas. Os modelos mais
conhecidos são o do Prof. Paulo Nogueira Neto (PNN); modelo Capel; modelo
Baiano; modelo Uberlândia e modelo UFRRJ.

O modelo UFRRJ apresenta as seguintes partes: NINHO,


SOBRE-NINHO, MELGUEIRA (UMA OU MAIS) E TAMPA. As dimensões
internas variam de acordo com a espécie.

As gavetas são colocadas com a simples


Tampa
intenção de se aumentar a altura do espaço da
área de cria, o que vai depender das floradas da
Melgueira região. É uma alternativa para preparar as
colônias para divisão.

Sobre A melgueira colocada na parte superior


ninho possibilita colheita de mel sem que a área de cria
fique exposta. É na melgueira que os potes de
mel e pólen são colocados pelas abelhas. Esta
disposição protege o ninho e pode-se recolher a
Ninho
melgueira para outro local para melhor efetuar a
coleta do mel.
Por vezes, as abelhas podem construir potes de alimento na área em
torno dos favos de cria. Quando poucos podem permanecer. Se ocupam parte
importante do ninho devem ser transferidos para a melgueira, para deixar mais
espaço para a ocupação das crias. O número de melgueiras vai depender
também das floradas da região e da disponibilidade do criador de coletar o mel.
Nunca se deve colocar um número excessivo. A colocação de melgueiras começa
com uma, quando ocupada com potes, pode-se colocar a segunda. O número
excessivo de melgueiras pode tornar as abelhas preguiçosas.

Visão interna da
caixa
V - FERRAMENTAS DO CRIADOR

Diferentemente do manejo de abelhas melíferas (Apis mellifera), o criador de


abelhas sem ferrão precisa de poucas ferramentas para usar no dia a dia do
MELIPONÁRIO:

O FORMÃO - utilizado para a abertura das caixas, na raspagem e retirada dos


excessos de própolis;

FACA OU ESPÁTULA - auxilia o criador na revisão do ninho, removendo com mais


cuidado o invólucro que envolve a cria;

TÁBUA DE MADEIRA e PINCEL - para fazer invólucros de cera;

CANECA - Para derreter cera para fazer invólucros;

SUGADOR DE ABELHAS - para sugar as abelhas que caem durante a revisão;

MANGUEIRA CORTADA (7 x 1 cm) ou TUBO DE VIDRO tampado com um chumaço


de algodão nas pontas - para fornecer a alimentação artificial;

SERINGA ou BOMBA SUGADORA - para retirada do mel dos potes de alimento;

PENEIRA - para peneirar o mel coletado;

FRASCOS DE VIDRO - para armazenar mel coletado;

FITA ADESIVA - para vedar as caixas no final da inspeção, protegendo-as de


inimigos naturais. Pode-se também utilizar barro;

BONÉ - para se proteger de espécies mais agressivas evitar que as abelhas grudem
própolis nos cabelos, ou se enrolem nos mesmos.
VI – INSTALAÇÃO DO MELIPONÁRIO

A) Onde criar?
Na escolha do local do meliponário, o criador deve observar algumas
características, tais como:

 FONTE DE ALIMENTO - todas as abelhas precisam visitar flores para coletar


o pólen e o néctar e levar para as outras abelhas da colônia. Desta forma, é
importante que o local possua uma boa quantidade de flores atrativas às
abelhas.

 VENTOS - as colônias não devem ficar em locais de intensa e frequente


ventania. A existência de barreiras como árvores é fundamental na quebra
destas correntes de vento.

 SOMBRAS - o ideal é a colocação das caixas em locais sombreados, seja em


galpões ou aproveitando o sombreamento de árvores, evitando-se aquelas que
produzem frutos pesados. Em caixas colocadas ao ar livre, devemos proteger as
abelhas com cobertura de telha, o excesso de sol poderá derreter o cerume,
matar a cria e fermentar o mel. Local muito sombreado (de mangueiras e
eucaliptais) também não é satisfatório, há muitas formigas, moscas, além de
ser frio e úmido.

 POLUENTES - as abelhas não devem ser criadas em locais de intenso


lançamento de poluentes, perto de lixeiras, curais, criações de animais,
fábricas, etc... Especiais cuidados deve haver com o uso dos pesticidas químicos
perto do meliponário, um dos responsáveis pela extinção de várias espécies de
insetos.

 PROTEÇÃO CONTRA INIMIGOS NATURAIS - se a proteção é contra os


predadores rasteiros (ex: formigas), as caixas devem ser colocadas sobre
cavaletes individuais ou coletivos, com isoladores (tipo espuma com óleo);

 SEGURANÇA - cuidados na prevenção de furtos no meliponário devem ser


tomados pelo criador. E muito mais fácil roubar caixas destas espécies que
enxames de abelhas melíferas, devido a sua mansidão.
b) Quais são os INIMIGOS NATURAIS?

 Forídeos (pequenas moscas)


 Formigas
 Cupins
 Fungos
 Lagartixas
 Aranhas
 Homem
 Sapos

c) Quais ESPÉCIES de abelhas devo criar?

Antes de qualquer decisão sobre qual espécie de abelha criar é


importante conhecer quais os tipos mais comuns que ocorrem na sua região.
Uma boa opção é conversar com apicultores tradicionais, muitos além de
conhecerem, já criaram espécies de abelhas sem ferrão e a ajuda pode ser de
grande valia para a aprendizagem do manejo, principalmente para as primeiras
transferências.

DESACONSELHA-SE A OBTENÇÃO DE COLÔNIAS DE REGIÕES


DIFERENTES DA SUA DE ORIGEM. Existe risco das abelhas não se
acostumarem ao novo local e até morrerem. Muitas espécies estão adaptadas a
um limite estreito de condições climáticas e de vegetação. Devemos respeitar
estas condições que garantem sua sobrevivência.

Criar abelhas dentro de Unidades de Conservação e seus entornos é


proibido. É recomendável que se procure o órgão responsável ( IEF, IBAMA,
etc.) antes de iniciar uma criação.
Edição Número 158 de 17/08/2004
Ministério do Meio Ambiente Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA
RESOLUÇÃO Nº 346, DE 16 DE AGOSTO DE 2004

Disciplina a utilização das abelhas silvestres nativas, bem como a implantação de meliponários.
O CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE-CONAMA, no uso das competências que lhe são
conferidas pela Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981, regulamentada pelo Decreto no 99.274, de 6
de junho de 1990, e tendo em vista o disposto no seu Regimento Interno,

Considerando que as abelhas silvestres nativas, em qualquer fase do seu desenvolvimento, e que vivem
naturalmente fora do cativeiro, constituem parte da fauna silvestre brasileira;
Considerando que essas abelhas, bem como seus ninhos, abrigos e criadouros naturais são bens de uso
comum do povo nos termos do art. 225 da Constituição Federal;

Considerando o valor da meliponicultura para a economia local e regional e a importância da polinização


efetuada pelas abelhas silvestres nativas na estabilidade dos ecossistemas e na sustentabilidade da
agricultura; e
Considerando que o Brasil, signatário da Convenção sobre a Diversidade Biológica-CDB, propôs a
"Iniciativa Internacional para a Conservação e Uso Sustentável de Polinizadores", aprovada na
Decisão V/5 da Conferência das Partes da CDB em 2000 e cujo Plano de Ação foi aprovado pela
Decisão VI/5 da Conferência das Partes da CDB em 2002, resolve:

CAPÍTULO I - DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 1o Esta Resolução disciplina a proteção e a utilização das abelhas silvestres nativas, bem como a
implantação de meliponários.
Art. 2o Para fins dessa Resolução entende-se por:

I - utilização: o exercício de atividades de criação de abelhas silvestres nativas para fins de


comércio, pesquisa científica, atividades de lazer e ainda para consumo próprio ou familiar de mel e de
outros produtos dessas abelhas, objetivando também a conservação das espécies e sua utilização na
polinização das plantas;
II - meliponário: locais destinados à criação racional de abelhas silvestres nativas, composto de um
conjunto de colônias alojadas em colméias especialmente preparadas para o manejo e manutenção
dessas espécies.

Art. 3o É permitida a utilização e o comércio de abelhas e seus produtos, procedentes dos criadouros
autorizados pelo órgão ambiental competente, na forma de meliponários, bem como a captura de
colônias e espécimes a eles destinados por meio da utilização de ninhos-isca.

Art. 4o Será permitida a comercialização de colônias ou parte delas desde que sejam resultado de
métodos de multiplicação artificial ou de captura por meio da utilização de ninhos-isca.

CAPÍTULO II - DAS AUTORIZAÇÕES


Art. 5o A venda, a exposição à venda, a aquisição, a guarda, a manutenção em cativeiro ou depósito, a
exportação e a utilização de abelhas silvestres nativas e de seus produtos, assim como o uso e o
comércio de favos de cria ou de espécimes adultos dessas abelhas serão permitidos quando
provenientes de criadouros autorizados pelo órgão ambiental competente.

§ 1o A autorização citada no caput deste artigo será efetiva após a inclusão do criador no Cadastro
Técnico Federal-CTF do IBAMA e após obtenção de autorização de funcionamento na atividade de
criação de abelhas silvestres nativas.
§ 2o Ficam dispensados da obtenção de autorização de funcionamento citada no parágrafo anterior
os meliponários com menos de cinqüenta colônias e que se destinem à produção artesanal de abelhas
nativas em sua região geográfica de ocorrência natural.

§ 3o A obtenção de colônias na natureza, para a formação ou ampliação de meliponários, será


permitida por meio da utilização de ninhos-isca ou outros métodos não destrutivos mediante
autorização do órgão ambiental competente.

Art 6o O transporte de abelhas silvestres nativas entre os Estados será feito mediante autorização
do IBAMA, sem prejuízo das exigências de outras instâncias públicas, sendo vedada a criação de
abelhas nativas fora de sua região geográfica de ocorrência natural, exceto para fins científicos.

Art. 7o Os desmatamentos e empreendimentos sujeitos ao licenciamento ambiental deverão facilitar


a coleta de colônias em sua área de impacto ou enviá-las para os meliponários cadastrados mais
próximos.

Art. 8o O IBAMA ou o órgão ambiental competente, mediante justificativa técnica, poderá autorizar
que seja feito o controle da florada das espécies vegetais ou de animais que representam ameaça às
colônias de abelhas nativas, nas propriedades que manejam os meliponários.

CAPÍTULO III - DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 9o O IBAMA no prazo de seis meses, a partir da data de publicação desta resolução, deverá
baixar as normas para a regulamentação da atividade de criação e comércio das abelhas silvestres
nativas.

Art. 10. O não-cumprimento ao disposto nesta Resolução sujeitará aos infratores, entre outras, às
penalidades e sanções previstas na Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 e na sua regulamentação.

Art. 11. Esta Resolução não dispensa o cumprimento da legislação que dispõe sobre o acesso ao
patrimônio genético, a proteção e o acesso ao conhecimento tradicional associado e a repartição de
benefícios para fins de pesquisa científica desenvolvimento tecnológico ou bioprospecção.

Art. 12. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

MARINA SILVA

Presidente do Conselho
VI - POVOAMENTO DO MELIPONÁRIO:

Após a escolha do local e dos tipos de abelhas, o criador deve partir


para a aquisição de colônias, através da compra de outros criadores, ou pela
TRANSFERÊNCIA DE ENXAMES NATURAIS, uma alternativa mais barata,
que exige experiência e disponibilidade de tempo. A compra amplia e incentiva
as Associações de Criadores. Associe-se!

A) Transferência:

Antes da coleta todo o material deve ser separado e preparado, tais


como:
 Martelo
 Ponteiras
 Machado
 Sacos plásticos
 Potes
 Serrote
 Sugador de abelhas
 Água
 Lâminas de cera e bolinhas de cera para os cabos

Após a localização da colônia, devem-se seguir os seguintes passos:

1. Preparar a caixa, revestindo-a com cera de Apis mellifera derretida e


pincelada. Um canudo interno também deve ser colocado.
2. Retirar com cuidado o material (pedra, tijolo, madeira, etc.) que esconde as
abelhas até o contato direto com a área do ninho. É necessário tempo e
paciência, sob pena de condenar a colônia à morte, o que é comum entre os
principiantes. Faça isto em dias ensolarados, mas em horários não muito
quentes, de preferência à tardinha. Arrume um ajudante, uma coleta pode
durar mais de duas horas. A coleta deve ser rápida, feita com carinho e
destreza.
3. O canudo de entrada do ninho deverá ser retirado com cuidado e separado
para que seja colocado na caixa no final da transferência.
4. Inicialmente deverá ser transferido para a caixa o ninho, protegido pelo
invólucro, tomando-se cuidado para não amassar os favos e nem colocá-los
de cabeça para baixo.
5. Se o ninho se desmontar será necessário organizar os favos com cabos
(bolinhas de cera com cerca de 0,4 mm entre os favos), refazendo o espaço
abelha. É necessária toda a atenção neste momento, a rainha certamente
estará caminhando por entre os favos. Ela deve ser transferida junto com
a cria. Em caso de queda da rainha, jamais deve-se tocá-la com as mãos.
Isto pode levar a sua rejeição pelas operárias e assim, o enxame vai
perecer.
6. Se machucar a cria nova não a deixe no ninho, dispense ou passe estes
favos para que seja reparado por uma colônia forte já existente no
meliponário. Esta cria por conter muito alimento no favo atrai moscas que
rapidamente DIZIMAM A COLÔNIA.
7. Faz-se a transferência dos potes de alimento que estiverem fechados.
Potes abertos, com o alimento exposto, jamais devem ser colocados na
caixa, atraem formigas, outras abelhas, moscas e outros inimigos. Esta
atitude tem DIZIMADO MUITAS COLÔNIAS.
8. Quanto aos potes rompidos, deve-se no momento da captura recolhê-los
em recipientes plásticos. O alimento deve ser retirado e guardado em
geladeira para serem devolvidos futuramente às colônias. A cera deverá
então ser lavada e também devolvida em pequenos pedaços às colônias
durante as revisões.
9. Organizado o enxame, a caixa deverá ser fechada, lacrada com fita adesiva
e colocada no local do oco. Pode-se usar barro na falta desse material. Se
possível, espere até anoitecer para levar a caixa para o meliponário, para
levar o máximo de abelhas que estavam no campo e não ficarem surpresas
com a nova morada. Durante o transporte o canudo externo deverá estar
fechado.
10. Mel e pólen retirados devem ser oferecidos como alimentação artificial,
após a recuperação do enxame (cerca de sete dias). Diariamente o enxame
deve ser revisado externamente na procura de moscas e outros inimigos
que podem violar o novo enxame.
11. Se verificar presença de forideos, deverá ser instalado armadilhas com
vinagre. Basta utilizar potes pequenos com vinagre dentro. Deve-se colocar
um tampa com furos para que passe uma mosca e não uma abelha. Esta
armadilha devera ficar fora das colônias.
12. Além da coleta de enxames, o criador deve aumentar o número de caixas
do seu meliponário através da divisão de colônias.
VII) DIVISÃO DE COLÔNIAS:

A divisão de colônias é somente recomendada para colônias fortes e


deve ser realizada em épocas de florada expressiva. A forma de divisão vai
depender da espécie de abelhas.
A caixa para a divisão deverá ser preparada conforme a caixa para
transferência, lâminas de cera e bolinhas de cera também serão necessárias.

a) Divisão em Jataí, Mirim, Cupira, Borá:

1. Preparar a caixa, revestindo-a com lâminas de


cera de Apis mellifera ou pincelando com cera
derretida, fechando todas as frestas. Um
canudo interno deverá ser colocado, esta
caixa será a colônia-filha.
2. Na colônia-mãe deve-se observar se existem
realeiras na área dos favos, que são células
maiores, localizadas na extremidade dos
discos e que darão origem a uma nova rainha;
3. Transferir com cuidado o favo com realeira e
mais dois a três favos de cria madura (da
mesma colônia ou de outra disponível), mais as
abelhas que estão aderentes nesses favos,
para a colônia-filha.

4. Na colônia-filha dispor poucos potes de


alimento fechado;
5. Colocar a colônia filha no lugar da colônia-mãe.
Levar a colônia-mãe para um local distante de
3 a 6 metros da colônia-filha. Desta forma,
estaremos reforçando a nova caixa com a
chegada das campeiras que estavam
trabalhando durante a divisão.
b) Divisão em Uruçu, Mandaçaia, Jandaíra

Estas espécies não fazem realeiras, sendo que as rainhas nascem de


favos iguais aos das operárias. O criador deverá preparar a caixa para receber
a nova família. Tomar 2 a 3 favos de crias maduras de uma ou mais colônias e
organizar com cabos na colônia-filha. Proteger o novo ninho com invólucros.
Dispor alguns potes ao lado do ninho. Preparar o canudo de barro por fora e
colocar a nova família no lugar da colônia mãe, que doou abelhas nos favos
(aderentes).

VIII – Revisão das caixas:

Periodicamente, em intervalos de 20 dias, o criador deve fazer a


inspeção para ver como estão vivendo as abelhas. Antes da inspeção todos os
equipamentos deverão ser higienizados. A inspeção ou revisão sempre deve ser
feita em dias ensolarados e sem ventanias, nos horários mais frescos (pela
manhã, de preferência).

Esta tarefa não deve ser demorada, já que a simples abertura das
caixas causa um grande desconforto nas abelhas. Durante a revisão devemos
fazer algumas observações dentro e fora das caixas, como:

1. Quantidade de favos de cria – avalie pelo preenchimento da caixa –


1/3, ½ e 2/3, caso a colônia apresente uma deficiência no número de
favos, podemos reforçar este ninho com um a dois favos de cria
madura de outras caixas. NÃO SE DEVE MANUSEAR A RAINHA;

2. Quantidade de potes de alimento – Potes de mel: avalie a proporção de


potes com mel verde (abertos) e maduro (fechados) – 1/3, 2/3 ou 3/3;
Potes com pólen - devem estar sempre presentes. Retire os fungados.
Em caso de pouco alimento na melgueira, o criador deve entrar com
alimentação artificial, principalmente nas épocas de pouca florada;

3. Excesso de invólucro – se apresentar com mais de quatro lamelas,


aqueça a colônia de alguma forma (isopor por fora), deve-se retirar
parte desta camada de cerume para que os favos de cria possam
aumentar. Derreta para fazer outras camadas;

4. Batume – raspe, ou retire o excesso, quando atrapalhar o fechamento


da caixa;

5. Fauna – é comum a presença de ácaros próximos aos potes. Não os


mate, eles auxiliam no processo fermentativo do mel;

6. Após a revisão, os invólucros abertos devem ser restaurados com


outros pedaços de lâminas de cera. Feche também os potes de pólen
que abrir;

7. Ao final da revisão as caixas devem ser vedadas com fita adesiva ou


barro;

8. Abelhas mortas no chão – isto pode ser um caso de doença ou presença


de inimigos naturais. A colocação de isoladores permite a segurança
contra ataques de formigas. Deve-se observar se existe algum tipo de
parasita na colônia (ácaros, forídeos, nematóides) ou algum erro de
localização da caixa (excesso de sol ou sombra). Não se pode esquecer
que os pesticidas usados na agricultura são causadores de morte nos
insetos em geral;

9. Todas estas revisões devem ser anotadas para que se tenha um bom
controle sobre as caixas. Isto ajuda o criador a identificar e resolver
de forma mais rápida problemas que venham a por em risco a “saúde”
do meliponário.
 Não dê PANCADAS na caixa – isto mata os embriões dos
ovos

IX – Colheita do mel:

A colheita do mel deve ser realizada nas épocas de florada expressiva,


quando os potes são inúmeros e encontram-se fechados, repletos de mel.
Primeiramente, todo material deve estar higienizado. O criador deve
estar com vestuário limpo, mãos limpas, unhas cortadas, de preferência usar
máscara ou lenço no rosto e luvas. Vasilhames limpos e secos. Proteger o mel
contra micróbios indesejáveis valoriza sua produção.

Pode-se coletar o mel das seguintes formas:

 Com seringa – o criador deve abrir com a ponta da espátula


ou faca os potes de mel (são os mais escuros), e sugar com
uma seringa esterilizada o seu conteúdo, colocando em seguida
o mel nos vasilhames definitivos. É uma tarefa mais demorada
e danifica muito os potes.

 Com bomba sugadora (odontológico-médica) – os potes de mel devem


ser abertos com uma faca e a mangueira do equipamento introduzida
para que o mel seja sugado. Todas as partes do equipamento deverão
ser esterilizadas.

 Escorrendo o mel – sacuda carinhosamente as abelhas da melgueira,


quando estiver sem abelhas, transporte para um local protegido. Após
suave inclinação da melgueira, o conteúdo dos potes já abertos será
escorrido para os vasilhames. O mel pode demorar a escorrer, utilize
um tecido limpo para isolar a melgueira e o vasilhame contar poeira,
micróbios e odores. Vazia, a melgueira deve retornar para a colméia
que que deve estar fechada.

 Filtrar - utilizando uma peneira de aço inox para a filtragem de


eventuais resíduos – abelhas mortas, espuma, cera.

Não se recomenda a retirada dos potes, estes devem permanecer na


melgueira para que logo sejam consertados e reutilizados pelas abelhas.

Durante o processamento do mel, não se deve expor ao ar por mais de


10 minutos; após a coleta deve ser imediatamente refrigerado. Algumas
espécies de abelhas sem ferrão produzem méis impróprios para o consumo in
natura, devendo passar por uma pasteurização (72°C) antes de serem
armazenados.
X – Referências:

ASSIS, M. da G. P de. Criação prática e racional de abelhas sem ferrão da Amazônia.


Manaus: INPA/SEBRAE, 2001. 46p.

CAMPOS, L.A.O. 1991. A criação de abelhas indígenas sem ferrão. Informe Técnico -
UFV. Vol. 67 p.1-5.

CARVALHO, CARLOS ALFREDO L. de. 2003. Criação de abelhas sem ferrão: aspectos
práticos. SEAGRI – BA.

CHAGAS, F.; CARVALHO, F. 2005. Iniciação a criação de Urucu. 2. Edição, Editora


Igarassu. PE

GODOI, R. 1989. A criação racional de abelhas jataí. Editora Ícone.

NOGUEIRA-NETO, P. 1997. Vida e criação das abelhas indígenas sem ferrão. Editora
Nogueirapis. São Paulo.

SOUZA I.C., ALVES R.M.O., MARTINS M.A.S, 1994. Criação de abelhas em ferrão.
Salvador-BA

KERR, WARRWICK E. 1996. Abelha Uruçu: Biologia, Manejo e Conservação. Editora


Fundação Acangaú. Belo Horizonte - MG

KERR, WARRWICK E. 1997. A importância da meliponicultura para o país.


Biotecnologia,Ciência e Desenvolvimento. 1:42-44.
WARRWICK E.

VELTHUIS, H.H.W. 1997. Biologia das abelhas sem ferrão. Ed. Utrecht e São Paulo.

VENTURINI, G.C., RAIOL, V. DE F.O. & PEREIRA, C.A.B. 2003. Avaliação da


introdução da criação racional de Meipona fasciculata (Apidae: Meliponina), entre os
agricultores familiares de Bragança – PA, Brasil. Biota Neotropica. 3: 19-23.

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