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Resumo do texto “A noção de pessoa na áfrica negra” de Amadou Hampaté Bá

Psicologia da Educação
Profa. Ana Urpia
Felipe Rodrigues Rocha - Licenciatura em Música Popular Brasileira

Hampaté Bá inicia o texto destacando a importância de não generalizar as


conceituações, limitando-se às tradições do povo que conhece, o povo malinês. Ainda mais
especificamente, da etnia fula e bambara.
Para eles, dois termos designam a pessoa: neddo e neddaaku, maa e maaya. Sendo
a primeira de cada, “a pessoa” e a segunda “as pessoas da pessoa” e é aí que a filosofia
desses povos nos ensina sobre as individualidades que carregamos. Em um termo, temos o
corpo, maa, físico que carrega nossos maaya, nossos diversos aspectos dentro de maa.
Com estas ideias iniciais sobre o corpo físico e os diversos ‘nós’ que existem dentro
de nós, Hampaté Bá aborda a concepção, o nascimento e o desenvolvimento:

a) concepção: aqui o autor nos ensina que a existência física precede a existência
cósmica. E neste estado, o homem vive em um lugar maravilhoso conhecido por
benke-so. A este nome também está associada a figura do tio materno, figura
importantíssima na vida da criança e que representa a força masculina na força
maternal, assim como a tia paterna representa o lado feminino na força paternal.
b) nascimento: na tradição africana o papel da mãe na procriação e no nascimento é
maior que do pai. Somente após trinta e três meses a criança deve se alimentar sem
o aleitamento materno. O nascimento possui três tipos:
1. ji-bon - aborto.
2. banngi - nascimento no prazo
3. menkono ou nyanguan - nascimento depois do prazo

O ji-bon, aborto, é um acontecimento maléfico e que demanda tratamento espiritual e


físico até que a mulher esteja curada. O parto bangi é um momento de felicidade e
normalidade dentro do processo, com o processo de batismo e de nomeação daquela criança,
situando-a na comunidade. O menkono prenuncia o nascimento de um ser extraordinário,
nyanguan, o supra-feiticeiro.

c) desenvolvimento: o desenvolvimento físico acontece de acordo com os grandes


períodos de crescimento do corpo, e os ritos de passagem criam mentalmente e
moralmente um condicionamento para entender essas passagens e o que elas trazem
consigo.

A vida da pessoa se divide em 18 fases, sendo 9 ascendentes e 9 descendentes. A


primeira é dos 0 aos 7 e assim, de sete em sete, ascende até os 63 anos. Depois,
descendendo de sete em sete até os 126 anos, fase que o indivíduo retornaria à infância do
espírito e a fragilidade do corpo. Evidentemente essas fases não são obrigatórias.
Observando essas divisões e as compreensões das fases de um indivíduo, podemos
entender que não se trata de enxergá-lo como ser estático, único, de apenas uma
característica ou momento de vida, mas sim um ser plural, em construção a depender do seu
potencial, das suas experiências, da sua fase de vida e dos acontecimentos que o cercam.
Em seguida, Hampaté Bá nos pergunta qual o papel do corpo físico dentro dessas
compreensões. Ele é, segundo as tradições, uma miniatura da terra, e como um fractal, do
mundo inteiro.
Na tradição bambara, o Deus maa-nala se criou e criou vinte semelhantes seus,
porém percebeu que nenhum deles estava apto a ser seu interlocutor. Em nova tentativa,
misturou uma porção de cada um desses seres e criou o vigésimo segundo, o ser humano,
ao qual chamou de maa, a primeira palavra que compõe seu nome divino, e a este ser deu
um corpo físico capaz de especial.
Ao falar do psiquismo, o autor inicia trazendo uma frase significativa sobre essas
ideias: “não acabamos de conhecer a pessoa (maa)”. Pois, se o deus maa-nala fez o ser
humano cabendo tudo nele, a infinidade de pensamentos, questões, contradições e desejos
deixa para nós uma imensidão a percorrer no caminho do autoconhecimento. Não há,
também, a ideia de que a morte apaga o espírito e Hampaté Bá recorre ao seguinte ditado
para ilustrar esta ideia: “a morte não esgota a alma, a duração do tempo não retrai o espírito”.
Em seguida, Amadeu discorre sobre o ensino tradicional na região e a forma como se
relaciona com o desenvolvimento do corpo e da mente. A escola dos korojuba, que significa
grande tronco das coisas, foi um grande exemplo. Tratavam do conhecimento do universo,
do ser humano físico e psíquico e completavam estes saberes com ensinamento sobre
plantas e minerais.
Sobre a fala, a tradição entende como algo tão forte que sem ela não haveria
transmissão dos conhecimentos. A fala, ou kuma, “permite exteriorizar a genialidade dos
grandes espíritos” e sem ela, passaria despercebido qualquer inteligencia ou aspereza.
A tradição fula ensina que existem nove categorias de pessoas, número este que
deriva dos nove ossos do crânio, das nove aberturas do corpo, e essas nove categorias se
dividem em três partes, com três frações cada.
A parte superior corresponde ao sábio, pela sua inteligência. A parte intermediária, os
humanos, com todas as suas contradições e potências e a inferior, os patifes, que pouco
diferem dos animais. Ainda, para cada parte pode-se ter uma fração de sábio, humano ou
patife.
Por fim, Hampaté Bá conclui refletindo sobre a condição humana aberta às trocas
durante sua existência, a conexão com a natureza e a obediência a essas leis, leis que são
para a construção de um bem viver, que respeite a sociabilidade entre os semelhantes e
diferentes, mas também entre a natureza e a espiritualidade.

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