Você está na página 1de 11

Recensão Crítica

Título: A Teoria da Escolha Racional na Ciência Política Autores: John Ferejohn e


Pasquale Pasquino Editado: Revista Brasileira de Ciências Sociais – Vol. 16 Nº 45 Ano:
Fevereiro 2001

Recenseadores: André Vidal, Cláudia Cotrim; Margarida Ferreira; Paulino Freitas; Sara
Barbosa

“A Teoria da Escolha Racional na Ciência Política” é um artigo de 2001, da co-autoria


Ferejohn e Pasquino publicado na Revista Brasileira de Ciências Sociais, que examina a
conceção de teorias de racionalidades presentes na ciência política, baseada na
centralidade da racionalidade e sua delimitação através de três pensadores homogéneos
na sua conceção e apresentados no artigo, segundo os autores, Hobbes, Aristóteles e
Rousseau respetivamente, com o objetivo de sustentar que as teorias políticas possuem
um relacionamento com a teoria normativa com suposições de racionalidade, ou seja,
em proposições que se apresentam como julgamentos avaliativos (Vita, 2017) - aquilo
que queremos que seja (Rosa, 2009) e um relacionamento com a teoria positiva - aquilo
que é (Rosa, 2009).

Os autores enquadram o conceito de racionalidade ou ação racional ou ato racional


como algo intrinsecamente relacionado com o indivíduo, no seu ser mais primordial na
linha de pensamento – estado de natureza, uma teoria que os recenseadores enquadram,
num sentido mais amplo, na nossa perspetiva, com a Pirâmide de Maslow, onde, seu ato
mais racional, o indivíduo pode almejar a sua vontade nos diversos graus de
necessidade que se figuram na Teoria da Hierarquia das Necessidades - na base
(comida, sexo), no meio (segurança, família) ou no topo (auto-realização, sublimação
do “eu”) conjugado com o seu estado de “awarness” – estado de consciência - no
momento de decisão/escolha ou livre arbítrio.

Contextualizado com o artigo, a racionalidade é deste modo interpretada por via de três
perspetivas em consonância com três teorias de política dos teóricos mencionados,
através de exemplificações, numa combinação triangulada entre crenças-desejos-ações
do indivíduo.

Os autores Ferejohn e Pasquino referem que, pela linha de pensamento de Hobbes, a ação
racional do indivíduo é centrada na escolha de ações de acordo com os desejos
específicos e crenças e onde o estado de natureza é de conflito e guerra. Em termos
Recenseadores: André Vidal, Cláudia Cotrim; Margarida Ferreira; Paulino Freitas; Sara Barbosa

políticos afirmamos que a sua teoria se enquadra na necessidade da existência do


absolutismo e estado autoritário que para impor ordem e segurança onde o indivíduo
cedia ou abdicava do seu estado de natureza, neste caso referente à sua liberdade e
obediência.

Através de Aristóteles, a teoria política enquadra-se na democracia e na harmonia onde


as crenças e ações eram centradas nos desejos do indivíduo, este constitui a sociedade a
partir de hierarquias, hierarquias essas que partem da família; de uma aldeia através de
conjuntos de famílias até um “estado” ou sociedade, constituído por conjuntos de
aldeias. A hierarquia da ordem das coisas levaria o indivíduo no seu âmago a satisfazer
os seus desejos de forma harmoniosa, ordenada e alcançando os mais diversos grupos
homogéneos e heterógenos de indivíduos que se enquadram nos mesmos “desejos”.

Rousseau, centralizava as crenças dos indivíduos na formação de crenças coletivas


baseadas nas suas ações e desejos. Essas crenças seriam uma das características da
identidade da sociedade/estado ou como referem os autores “crenças são sobre coisas
de alguma forma externa aos agentes particulares que fazem a sociedade”, havendo a
necessidades de Leis traduzidas na vontade geral da comunidade.

O artigo demonstra a Ciência Política baseada em teorias da escolha racional ou


racionalidade e através disso os indivíduos concebem várias formas de exercer a
racionalidade partindo do seu estado de natureza. Ora como indicado inicialmente, o
artigo presenteia com maior caracterização a racionalidade pela via da teoria normativa:
pela perceção, avaliação e julgamentos daquilo que deveria ser.

Os autores colocam Hobbes, Aristóteles e Rousseau, em patamares diferentes de


ideologia política, do que se entende por “uma vida racionalmente vivida” apesar de
partilharem os mesmos conceitos e ideais, tendo em conta a janela temporal que os
separa na sua existência, e o que os diferencia no seu contexto económico-social.

Concluímos que a teoria da escolha racional é uma metodologia que verifica como os
indivíduos se comportam de forma racional em busca da maximização dos seus ganhos
e minimização das suas perdas que transportada para a ciência política tem como
objetivo explicar a ação coletiva, com os atores políticos, e como os partidos se
coordenam em razão de maximizar os seus objetivos. A escolha pública enquanto
abordagem teórica do sector público aplica ferramentas da economia à política para
compreender como o estado e a política funcionam, sobre como os atores políticos
Recenseadores: André Vidal, Cláudia Cotrim; Margarida Ferreira; Paulino Freitas; Sara Barbosa

tomam as decisões coletivas com base na teoria política normativa, sendo que essas
decisões coletivas não possuem necessariamente uma vertente racional que obrigue “a
alcançar o custo-benefício”, sendo este cenário enquadrado nos fundamentos da base da
teoria política positiva de, acordo com Albuquerque (2014).

Aceitamos, como referem Ferejohn e Pasquino, que a teoria da escolha racional é “mais
bem classificada como teoria normativa do que como teoria positiva” uma vez que
dentro dos conceitos da triangulação concebida - seja qual for a interpretação resultante
da racionalidade - a ação racional do indivíduo manifesta-se numa prima facie e
posteriormente num plano mais imediato, sendo aqui que a teoria positiva entra em
ação, na medida que é nesta fase seguinte que o indivíduo efetua uma análise de custo-
benefício dessa ação racional demonstrando assim, como refere o artigo de estudo, a
existência de uma relação entre ambas, comprovando a existência de uma classificação
mais significativa na teórica normativa.

Como referido anteriormente, a interpretação da racionalidade resultou, também numa


consequente conclusão, na medida que este conceito a ser transportado, num contexto
mais amplo do comportamento humano, para a Teoria da Hierarquia das Necessidades e
utilizando a mesma triangulação axiológica do artigo, o indivíduo na sua mais pura
identidade pode racionalmente atribuir um determinado valor intrínseco à sua crença,
desejo ou ação com vista a satisfação de uma necessidade quer ela pessoal, profissional,
fisiológica ou social (enquadrada numa pirâmide de necessidades) onde apenas esse
indivíduo conjugado com o seu estado de natureza e awareness pode dar o “impulso”
para qualquer umas das interpretações mencionadas no artigo.
Recenseadores: André Vidal, Cláudia Cotrim; Margarida Ferreira; Paulino Freitas; Sara Barbosa

Referências Bibliográficas

Albuquerque, Rodrigo (2014) - Contribuições da Teoria Política Positiva e da


Democracia Participativa ao Estudo do Absenteísmo Eleitoral, Latitude, Vol. 8, nº 1,
pp. 9-31;
Campos, Macedo; Borsani, Hugo; Azevedo, Lima (2016) - Méritos e Limites da Teoria
da Escolha Racional como Ferramenta de Interpretação do Comportamento Social e
Político, Ciências Sociais, Unisinos, São Leopoldo, Vol. 52, N. 1, p. 100-112;

Nogueira, Adeilson (2019) - Ciência Política – Clube de Autores

Rosa, Godofredo Vidal (2009) - Debates y Progresso en la Ciencia política


Comtemporánea: La Teoría de las Decisiones Interdependienetes y el Estudio
Científico de la Política, Andamios Volumen 6, número 11, agosto, 2009, pp. 41-70;

Tozo, Lucas Suárez (2017) – A ideia de Método na Teoria Política Normativa, Teoria e
Pesquisas em http://dx.doi.org/10.4322/tp.25304;

Vita, Álvaro (2017) – Teoria Política Normativa E Justiça Rawlsiana, Lua Nova, São
Paulo, 102: 93-135
EPD
CIÊNCIA POLÍTICA
Abordagens….

BEHAVIORISMO INSTITUCIONALISMO

PLURALISMO
REALISMO

RACIONALISMO
EPD
TEORIA DA ESCOLHA
RACIONAL
Classificação

TEORIA TEORIA
NORMATIVA POSITIVA

Filosofia; Social; Ciências; Economia;


Subjetivo; Dedução Objetivo; Avaliação
EPD
TEORIA DA ESCOLHA
RACIONAL
CRENÇAS
Interpretação Delimitação
do conceito

RACIONALIDADE

TEORIA
TEORIA
POSITIVA
NORMATIVA
EPD
TEORIA DA ESCOLHA
RACIONAL
CRENÇAS

Hobbes
EPD
TEORIA DA ESCOLHA
RACIONAL
CRENÇAS

Aristóteles
EPD
TEORIA DA ESCOLHA
RACIONAL
CRENÇAS

Rousseau
TEORIA DA HIERARQUIA DAS EPD
NECESSIDADES
Crenças Auto-
realização Associação
Maslow

AWARENESS Status
SATISFAÇÃO

Sociais
ESTADO NATUREZA
IDENTIDADE

RACIONALIDADE
Desejos Ações
Interpretação
Segurança
TEORIA DA ESCOLHA
RACIONAL Fisiológicas

Você também pode gostar