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Greve de massas, partido e sindicatos (1906)

Rosa Luxemburgo

Rosa inicia seu opúsculo assinalando que todos os textos e declarações dos socialistas sobre a
greve de massas "datam da época anterior à Revolução Russa (de 1905)" e, por isso, seriam
antiquados. A sua formulação clássica remetia à polêmica de Engels com Bakunin. Segundo
Engels:

A greve geral, tal como a concebe Bakunin, é o meio de realizar a revolução social, pois:
(i) ou obrigaria as classes proprietárias a ceder, (ii) ou elas seriam levadas a atacar os
trabalhadores, que se defenderiam derrubando a velha sociedade. Mas essa tese leva a
uma contradição, pois, (i) ou o proletariado ainda não possui organização suficiente
para realizar uma greve geral, (ii) ou está devidamente organizado e então não precisa
da greve geral.

Essa foi a tese que orientou a socialdemocracia durantes décadas e que serviu para desviar o
movimento operário das quimeras anarquistas e difundir a ideia da luta política aos operários.

A Revolução Russa, no entanto, inaugurou uma nova época no desenvolvimento do movimento


operário ao realizar, pela primeira vez, a ideia da greve de massas - o que obriga os marxistas
uma revisão profunda da sua argumentação. Isso não quer dizer que a tática da luta política ou a
crítica ao anarquismo estivessem erradas. Ao contrário, a revolução russa "significa a liquidação
histórica do anarquismo". De fato, coube às organizações socialdemocratas a direção do
movimento. Os anarquistas, por sua vez, não desempenharam nenhum papel relevante no curso
dos acontecimentos.

Além disso, a greve de massas na Rússia não se deu como um desvio da luta política, como um
salto rumo à revolução social, mas como um meio dessa luta. Assim, "a greve de massas,
combatida como oposta à atividade política do proletariado, aparece hoje como a arma mais
poderosa da luta pelos direitos políticos".

II

"A primeira revisão da questão da greve de massas... refere-se à concepção geral do problema".
A concepção anarquista, abstrata e anistórica, crê que basta coragem e boa vontade para realizar
a greve de massas - entendida como "o meio mais direto, seguro e simples, para realizar o salto
para um além social melhor".

Nesse mesmo terreno da observação abstrata e anistórica se encontram tanto aqueles que
pretendem decretar a greve geral quanto aqueles que pretendem proibí-la. Ambos tratam a
greve de massas como um artifício, que pode ou não ser usado a seu bel-prazer. Em verdade, os
inimigos da greve de massas alegam se basear em fatos concretos para sustentar sua posição.
Quais são esses fatos? A fraqueza do proletariado e a força do aparato repressivo. "Do exemplo
comparativo dessas duas fileiras de números sempre é extraída a conclusão tranquilizadora: o
movimento operário revolucionário é criado por agitadores e provocadores isolados".

No entanto, os operários conscientes sabem que o seu movimento não é um produto artificial de
uma meia dúzia de agitadores.

Afinal, se fosse assim, nunca teríamos tido uma greve de massas na Rússia. "Se a Revolução
Russa nos ensina algo, é, sobretudo, que a greve de massas não é 'feita' artificialmente, não é
'decidida' e nem 'propagada' a partir do nada, mas é um fenômeno histórico que, num
determinado momento, resulta, como uma necessidade histórica, da situação social."

O problema da greve de massas não pode ser abordado pelo aspecto subjetivo (i.e. se ela é ou
não é possível, se ela é ou não é útil, etc.), mas apenas pelo aspecto objetivo, i.e., os fatores e
condições sociais de sua necessidade histórica.

Pela análise lógica abstrata pode-se provar tanto a possibilidade quanto a impossibilidade; a
vitória ou a derrota da greve de massas. Portanto, não faz sentido "propagar" a greve de massas
como meio abstrato de luta. Assim como a "revolução", a greve de massas só tem sentido e
conteúdo em situações históricas determinadas.

O crescente interesse dos operários pela greve de massas deve ser alimentado com explicações
sobre "o desenvolvimento da Revolução Russa, o significado internacional dessa revolução, o
acirramento dos conflitos de classe na Europa Ocidental, as novas perspectivas políticas da luta
de classes na Alemanha, o papel e as tarefas da massa nas lutas vindouras. Apenas desse modo é
que a discussão sobre a greve de massas levará à expansão do horizonte intelectual do
proletariado, ao aguçamento de sua consciência de classe, ao aprofundamento de seu modo de
pensar e ao fortalecimento de sua força de ação".

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