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Tecnociência e capitalismo no século XXI; C&T na América Latina; C&T no Brasil; Inovação no
Brasil; Políticas Públicas de C&T e desenvolvimento territorial/local/regional; CT&I na visão
(neo)schumpeteriana; C&T segundo os estudos inspirados na Rede Sócio-Técnica; C&T e a
atualidade do Pensamento Latino-Americano de Ciência Tecnologia e Sociedade [PLACTS];
C&T e diversidades socioculturais; C&T e meio ambiente; Relações Universidade-Empresa;
Possibilidades e limites das Tecnologias Sociais.
Coordenação: Paula Casagrande Marimon (UDESC – SUL); Ana Cristina de Almeida Fernandes
(UFPE – NE); Rafael Dias (UNICAMP – SE).
1
SUMÁRIO
2
86 Potencial Tecnológico da Universidade Pública e Sua Contribuição Para o
Desenvolvimento Regional e Local
Felipe Augusto Lopes Carvalho
Janiel Célio Dos Santos
Romário Lustosa De Oliveira
Elizabete Cristina Sousa Araújo
Simone Silva Dos Santos Lopes
Giovanna Pezarico
Gilson Leandro Queluz
Maria de Lourdes Bernartt
GUMBOWSKY, ARGOS
SIQUEIRA, EDITE
3
Como a educação não formal incorpora o auto-registro audiovisual no
ensino e popularização da ciência?1
Resumo
Palavras-chave
Texto do trabalho
O cinema foi inventado em 1895 na França pelos irmãos Lumière para fins
científicos, a partir da criação do cinematógrafo, com intuito de estudar a
formação de uma imagem. No Brasil, ele foi trazido por Affonso Segretto em
1898. As primeiras imagens projetadas tanto em Paris como no Rio de Janeiro
eram o cotidiano dos meios de transporte: na Europa a chegada do trem em
uma estação, aqui os navios se atracando no Porto. O cinema nessa época era
fonte de divulgação cultural da sociedade. A maioria dos realizadores do início
1
Trabalho apresentado no GT 4 – Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Regional – II SEDRES,
Campina Grande (PB), de 13 a 15 de agosto de 2014
4
do século XX era fotógrafo que se convertera em cinegrafista. E a
predominância nas décadas de 10 e 20 no Brasil era uma produção intitulada
de cinema natural, com a produção de documentários e cine-jornais. Desta
forma, as câmeras cinematográficas foram incorporadas ao material de
trabalho de antropólogos que viajavam pelo país para registrar e documentar
produções indígenas.
5
em semiárido, por exemplo, uma das primeiras imagens que vem ao
pensamento da maioria das pessoas é de uma região pobre e seca. Essa
característica está não somente ligada a construção imagética que a grande
mídia até hoje insiste divulgar, mas as políticas públicas voltadas à região.
Desde a criação do Departamento Nacional de Combate às Secas (DNOCS)
em 1945. Somente na década de 80 a partir das ações dos movimentos sociais
é que se inicia um novo olhar sobre o semiárido: o da convivência.
6
2002)2. Na publicação algumas diretrizes para atingir os objetivos de
popularização da ciência e tecnologia são apontadas, dentre elas a educação
para a sociedade do conhecimento a partir do desenvolvimento de ações
específicas no âmbito da educação não formal e do ensino das ciências:
Semiárido em Tela
2
Livro Branco é resultado da II Conferência Nacional de C&TI realizada em setembro de 2001 que
aproxima o debate entre ciência, tecnologia e sociedade.
7
e experiências singulares (BENTES, 2007). Em uma rápida pesquisa pelo
google, podemos encontrar inúmeros vídeos com este formato. Os grupos que
mais produzem tais vídeos são crianças e jovens que crescem em uma
sociedade cada vez mais tecnológica e imagética, mesmo àqueles inseridos
em zonas rurais também estão conectados em decorrência de programas
sociais de inclusão digital. A partir desse contexto, o projeto Semiárido em Tela
incorporou o auto-registro audiovisual documental em oficinas de formação
com objetivo de popularizar a ciência para um público que até então o Insa não
conseguia dialogar e construir uma imagem do Semiárido a partir da reflexão
sobre a prática de uma política de convivência e não de combate a seca.
Para que uma ação seja realizável, não basta a vontade subjetiva de alguns
indivíduos. A ação proposta tem de corresponder as exigências da situação.
Tais exigências são conhecidas por meio da observação, da análise da
situação e por meio de uma ação das possibilidades. A ação é baseada em
descrição objetiva mas subjetivamente é assumida pelo conjunto dos
participantes que se comprometem na sua efetiva realização (THIOLLENT,
2011, p.108)
8
quais eram os entendimentos e desejos dos participantes em relação à sua
comunidade e a região onde estão inseridos:
Exposição dos desenhos feitos a partir do tema: Desenho feito por uma das educadoras a partir do
“Convivência com o semiárido” e discussão sobre tema “Convivência com o semiárido”.
a leitura que os moradores do semiárido tem
sobre sua própria região.
9
da comunidade quilombola Serra do Abreu houve uma solicitação por parte
delas para que a construção do roteiro fosse feito com e na própria
comunidade.
“Acho que temos que conversar com seu Aécio, pois ele sabe de toda a história
sobre os escravos até chegar aos dias atuais. Podemos iniciar nosso filme com
os negros que fugiam pra cá, depois com o reconhecimento pela Fundação
Palmares”, (Vera Lúcia dos Santos Dantas, aluna do Projeto Semiárido em
Tela, setembro 2013). “E temos que contar como conseguimos dinheiro através
da venda de nossas panelas de barro. Vamos mostrar como se faz uma panela
de barro e como a dona Maria aprendeu com a dona Tetinha e hoje ela passa
para a Solange”, complementou Diana. “Eu poderia mostrar minhas plantações
também e de como conseguimos plantar mesmo no período seco”, (dona
Josefa da Silveira Santos, aluna do Projeto Semiárido em Tela).
Roda para a construção do roteiro do curta- Roteiro sendo construído em conjunto com toda
metragem documental da comunidade a comunidade.
remanescente quilombola Serra do Abreu, Nova
Palmeira –PB.
10
curtas-metragens. A montagem foi feita pelos participantes após a finalização
das filmagens.
Cena sendo gravada do filme sobre a Filmagens do curta sobre os artesãos de Nova
comunidade remanescente quilombola Serra do Palmeira-PB que utilizam como matéria prima as
Abreu. madeiras da caatinga.
Mais de 400 pessoas estiveram presentes na Moradores assistem aos filmes produzidos
Mostra Semiárido em Tela em Nova Palmeira- pelos alunos do Projeto Semiárido em Tela.
PB.
11
Conclusão
O Projeto promoveu uma interação entre ciência, cultura e a arte, com maior
aproximação da Ciência e Tecnologia ao cotidiano das pessoas e valorizando
os aspectos culturais e humanísticos da ciência. Os curtas-metragens
produzidos recontam histórias dos moradores e sua convivência com a seca e
cultura local. Desde seu Adonias que em certa época criou o cinema no
município, abrindo às portas de sua casa para exibir filmes nacionais e
estrangeiros até as tecnologias sociais que foram construídas na comunidade
quilombola Serra do Abreu e colaboraram no desenvolvimento da comunidade,
passando pelo Projeto Plantas Medicinais e apresentando a importância do
cultivo e produção de remédios com as espécies da caatinga.
12
filmes de curtas metragens3 produzidos pelos jovens e educadores, e
principalmente possibilitou o acesso da população às linguagens artísticas da
sua própria cultura.
Referências bibliográficas
13
GT 4: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO REGIONAL
Resumo
Abstract
1
Trabalho apresentado no GT 4 – Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Regional – II SEDRES,
Campina Grande (PB), de 13 a 15 de agosto de 2014.
2
Mestranda do PPGDR/UEPB, e-mail: lisbarreiro@hotmail.com
3
Professora do PPGDR/UEPB, e-mail: angelaramalho@oi.com.br
14
1. Introdução
2. Discussão da literatura
15
(universidades), aplicados (empresas/mercado), organizacionais
(práticas/relacionamentos).
De acordo com Vedovelo; Judeci; Maculan (2006), a literatura internacional
vem tratando Parque Tecnológico como um instrumento de promoção a
diversos objetivos econômicos e políticos, servindo como mecanismos de
desenvolvimento local e territorial.
16
Pacífico e em 1990 no resto do mundo industrializado. Deste modo, esta
iniciativa marca de forma revolucionária a ciência, tecnologia e inovação como
diferencial competitivo para a sociedade industrialmente avançada.
No Brasil, especificamente, eles surgiram nos anos 1980, através da iniciativa
do então presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque. Foi criado através do
Programa de Implantação de Parques de Tecnologia. Os primeiros projetos
foram implantados em Campina Grande-PB, Joinvile-SC, Manaus-AM,
Petrópoles-RJ, Santa Maria–RS e São Carlos-SP. As experiências geraram
mudanças nas concepções das lideranças acadêmicas e científicas no país,
que passaram a potencializar a interface universidades, centros de pesquisa e
os segmentos da indústria.
Nesta fase inicial, foram estabelecidas diversas políticas de fortalecimento da
inovação tecnológica nos níveis local, regional e nacional, com ênfase na
relação entre empresas e universidades, estimulando a implantação dos
Parques Científicos e Tecnológicos (PCT).
Essa institucionalização de políticas públicas de incentivo a criação e expansão
de PCT em escala internacional (Estados Unidos, Europa, Ásia e América
Latina) resulta em várias experimentações e adaptações que ampliam e
modificam o conceito de PCT com relação ao seu sentido original. Assim,
constata-se a inexistência de um único conceito, um modelo padrão que possa
ser aplicado a todas as iniciativas, gerando, inclusive, dificuldade em
estabelecer indicadores de desempenho para avaliar tais experiências.
Apesar das dificuldades conceituais, segundo a International Association of
Science Parks – lASP (2014), um Parque Científico e Tecnológico pode ser
definido como uma estrutura organizacional que tem como objetivo principal
incrementar a riqueza da comunidade onde estão inseridos, promovendo a
inovação e competitividade das empresas. Além disso, gere e estimula o fluxo
de conhecimento e tecnologia entre universidades, instituições de pesquisa,
17
empresas e mercado, promovendo a criação de empresas inovadoras, através
dos mecanismos de incubação de empresas e spin-off 4.
Já para a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos
Inovadores – ANPROTEC (2013), os PCTs constituem um complexo produtivo
industrial e de serviços de base científico-tecnológica. Desta forma, eles atuam
como indutores da cultura da inovação, da competitividade e da capacitação
empresarial e têm como fundamento a transferência de conhecimento e
tecnologia, com o objetivo de possibilitar o aumento da produção de riqueza de
uma determinada região.
Sendo assim, as abordagens de PCT não são consensuais, porém,
apresentam características convergentes, tais como, reforço da infraestrutura
local e o enriquecimento do capital social e institucional, dando maior
visibilidade, atratividade e trabalho em rede para fomentar a aplicação de
estratégias mais amplas no campo da pesquisa e do desenvolvimento e do
conhecimento (GIUGLIANI; SELIG; SANTOS, 2012).
Além disso, os distintos modelos de PCTs estão enraizados no conceito da
Triple Helix (hélice tríplice). “Em qualquer análise que se possa tecer sobre os
distintos modelos de PCTs existentes hoje, é possível detectar a presença do
5
trinômio das hélices definidas por Etzkowitz e Leydersdorff – governo,
universidade e indústria” (MIRANDA; BEVILACQUA, 2011, p. 83). A Triple
Helix é um modelo alternativo para explicar o atual sistema de pesquisa no
contexto social, no qual a universidade pode exercer um importante papel na
inovação. É visto como um modelo analítico que agrega uma variedade de
arranjos institucionais e modelos políticos para explicar suas dinâmicas.
Desta forma, a relação Governo-Universidade-Indústria é comparada com
modelos alternativos para explicar o atual sistema de investigação em seus
4
As spin-offs, de forma geral, podem ser entendidas como empresas juridicamente constituídas que
tiveram como principal fator de criação o aproveitamento de uma oportunidade de negócios gerada pelos
resultados finais ou parciais de uma pesquisa acadêmica, ou seja, criação de empresas baseadas em
tecnologias desenvolvidas no interior das universidades. Cf. AZEVEDO, Gustavo Carrer I. Spin-Offs
Acadêmicas e a Inovação: Estudos de caso da USP e UFSCar. Curitiba, 2011.
5
ETZKOWITZ, H.; LEYDESDORFF, L. The dynamics of innovation: from National Systems and "Mode
2" to a Triple Helix of university-industry-government relations. Research Policy, v. 29, Issue 2, p.109-123,
2000.
18
contextos sociais. Comunicações e negociações entre parceiros institucionais
podem gerar um sobreposição que reorganiza cada vez mais os arranjos de
base. O conjunto institucional pode ser considerado como mecanismo de
execução de políticas públicas que visam o desenvolvimento tecnológico.
Este conceito evidencia que os arranjos institucionais entre universidades,
empresas e governo desempenham um papel fundamental para inovação e,
consequente, para o desenvolvimento econômico e tecnológico em níveis
nacional, regional e local, baseados no conhecimento. Segundo Etzkowitz e
Leydersdorff (2000), diferentes resoluções possíveis das relações entre as
esferas institucionais da universidade, indústria e governo podem ajudar a
gerar estratégias alternativas para o crescimento econômico e transformação
social.
Giugliani (2012) ratifica que as organizações PCTs visam fomentar o
desenvolvimento econômico e tecnológico, baseados no conhecimento e
inovação, a partir sinergia governo-universidade-indústria. Há, neste sentido, a
necessidade de parceria entre o setor governamental, o setor privado (onde
ocorre a transformação do conhecimento em riqueza) e a academia (com o
objetivo de formar recursos humanos e gerar conhecimento) para formulação
de políticas de inovação bem-sucedidas.
A partir dos enfoques elucidados, parte-se da premissa de que o Parque
Científico e Tecnológico se constitui em uma matriz de projetos no território, a
partir de instâncias e dinâmicas em que se combinam articulação
interinstitucional e participação social, a partir de uma lógica sistêmica de
construção social que tem alavancado o desenvolvimento local sustentável.
3. Metodologia
19
A pesquisa bibliográfica teve a finalidade de explicitar os pressupostos teóricos,
conceitos e ideias que norteiam à temática. Ou seja, a construção da
fundamentação teórica. Neste sentido, foram utilizados livros, teses, artigos,
revistas e outros documentos para construção de uma base de dados. Além
disso, esta metodologia possibilitou identificar, descrever e entender a
organização e as principais características dos Parques Científicos e
Tecnológicos.
A pesquisa documental foi realizada através da análise de relatórios, projetos,
convênios, contratos e acordos de cooperação arquivados na Fundação
Parque Tecnológico da Paraíba – PaqTcPB ou publicados em meios
eletrônicos. Este procedimento possibilitou identificar as parcerias e as
empresas criadas em torno deste arranjo e verificar os resultados destas
iniciativas.
Assim, as discussões apresentadas neste trabalho têm origem no arcabouço
teórico sobre Parques Científicos e Tecnológicos, aliado à pesquisa
documental realizada no PaqTcPB e na ITCG.
20
estadual. É possível perceber que o Parque Tecnológico incentiva e apoia a
criação de empresas de base tecnológica e à difusão de informação
tecnológica na região, configurando-se assim como uma das principais
instituições articuladoras do desenvolvimento tecnológico local, através da
aproximação entre a universidade e a empresa.
Nesta perspectiva, cabe destacar o papel da Incubadora Tecnológica de
Campina Grande – ITCG, criada em 1986, que constitui uma das unidades de
negócios do PaqTcPB. Ela apoia empreendimentos inovadores nascentes com
ênfase na geração e consolidação dos mesmos, bem como, na sua
capacitação e inserção no mercado.
Assim, a ITCG faz parte do Programa de Incubação de Empresas do Parque
Tecnológico, que tem como missão ações para o desenvolvimento de novos
empreendimentos nascentes inovadores através de suporte técnico e gerencial
no âmbito empresarial, buscando o crescimento sustentável e o
amadurecimento dessas empresas como forma de promover o
empreendedorismo inovador local e territorial.
6
O PRIME (Primeira Empresa Inovadora) é um programa da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP)
que entrou em operação no inicio de 2009. Seu objetivo é criar condições financeiras favoráveis para que
um conjunto significativo de empresas nascentes de alto valor agregado possa consolidar com sucesso a
fase inicial de desenvolvimento dos seus empreendimentos (FINEP, 2014)
21
A análise dos dados apresentados pela Incubadora Tecnológica de Campina
Grande demonstra que, desde 1986 até 2014, foram incubadas 93
empreendimentos, dentre eles, empresas de tecnologias da informação e
comunicação, eletroeletrônica, biotecnologia, petróleo e gás natural,
biocombustíveis, agroindústria, tecnologias ambientais e design.
A pesquisa mostra que das empresas incubadas até hoje, residentes e
virtualmente, aproximadamente 48% encontram-se ativas, conforme gráfico 1,
a seguir.
31%
48% ATIVAS
14% INATIVAS
7%
FECHADAS
NÃO ENCONTRADAS
22
A pesquisa dos contratos, convênio e acordos de cooperação firmados entre
2011-2013, possibilitou a identificação dos principais parceiros/atores
(universidades, institutos de pesquisa, empresas, agentes financeiros, governo
e agências de desenvolvimento) envolvidos nos arranjos institucionais do
PaqTcPB.
Com base nesta análise, o gráfico 2, a seguir, apresenta a evolução dos
números de convênios, contratos e acordos estabelecidos entre o PaqTcPB e
as instituições públicas e privadas parceiras.
60
50 Instituições Públicas
(Universidades, Institutos de
40 Pesquisa, Agentes
Financeiros, Governo e
30 Agência de
Desenvolvimento)
20 Instituições Privadas
(Empresas)
10
0
1 2 3
2011 2012 2013
23
aparece como executora ou co-executora de aproximadamente 55% dos
projetos desenvolvidos, no período de 2011-2013.
5. Considerações
Referências
24
http://coletanea.sebraesp.com.br/index.php/sebraesp/article/view/16/110. Acesso em:
15 de fevereiro de 2014.
25
GT 4 – CIÊNCIA, TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO REGIONAL
Resumo
O objetivo central deste artigo é agendar uma discussão sobre a relação entre
desenvolvimento e pós-graduação, a partir das estratégias de desenvolvimento
sugeridas nos Planos Nacionais de Pós-Graduação (PNPG´s). Os planos
fazem parte da política científica e tecnológica brasileira e tiveram sua primeira
versão publicada em 1975. A ideia de que o avanço da ciência e tecnologia é
um meio para superar o subdesenvolvimento e alcançar o progresso encontra-
se presente na política adotada nos cinco documentos analisados.
Introdução
e Comunicação com o Mercado. Graduada em Comunicação Social (UEPB). Bolsista CAPES. E-mail:
georgia_simonelly@hotmail.com.
26
O objetivo central deste artigo é mostrar como se apresenta a relação entre
desenvolvimento e pós-graduação, assim como explicitar as estratégias de
desenvolvimento sugeridas através da implantação do PNPG.
A história da pós-graduação no Brasil tem origem nos anos 30 com a
criação das primeiras universidades, conforme destaca Balbachevsky (2005),
no entanto, foi apenas em 1965 que o Ministério da Educação regulamentou os
primeiros cursos.
A partir de 1948, com a criação da Sociedade Brasileira para o Progresso
da Ciência (SBPC), a política científica e tecnológica do país se torna mais
sistemática. Nesse momento, como afirmam Moser e Theis (2010), a ciência
era vista como meio para superar o subdesenvolvimento e alcançar o
progresso. As políticas implantadas a partir da década de 1950 têm base nesse
pressuposto.
Um elemento que teve bastante influencia na propagação dessa ideia foi o
relatório “Science The Endless Frontier”, produzido em 1945 por Vannevar
Bush, então diretor do Escritório de Pesquisa Científica e Desenvolvimento dos
Estados Unidos. Bush (1945) defende que o avanço da ciência permitiria
padrões de vida mais elevados, aumento do número de empregos, levaria à
prevenção ou cura de doenças, assim como também à preservação dos
recursos naturais.
Esses seriam alguns dos benefícios apontados no documento, contudo,
para atingi-los seria preciso um fluxo contínuo e substancial de novos
conhecimentos. Essa visão foi bastante propagada na época, servindo como
base para as políticas de ciência e tecnologia (C&T) adotadas por gestores em
diversos países. Segundo Dias (2010), o relatório
continha alguns dos aspectos que viriam a compor a visão
tradicional acerca da relação entre ciência, tecnologia e
desenvolvimento nas décadas posteriores. Em particular, a
noção de que não poderia haver progresso sem o avanço
científico e tecnológico (DIAS, 2010, p. 72).
27
tomando por base a visão citada por Dias (2010), enxergando a pós-graduação
como uma extensão da ciência.
4
“O economicismo se traduz pela aceitação explícita ou implícita da teoria da percolação (trickle down
theory), segundo a qual é a economia que está no comando” (SACHS, 1995).
28
No entendimento de Veiga (2008), o crescimento toma rumos
heterogêneos na estrutura social, podendo contribuir tanto de forma positiva
quanto negativa.
O desenvolvimento depende da maneira como os recursos
gerados pelo crescimento econômico são utilizados – se para
fabricar armas ou para produzir alimentos, se para construir
palácios ou para disponibilizar água potável (VEIGA, 2006, p.
85).
29
desenvolvimento não permite progressos nos campos econômico, social e
ecológico ao mesmo tempo, que para Sachs (1995) seria o ideal.
Uma das maneiras de perceber a materialização dessas assimetrias no
que se refere as atividades de C&T é através da sua distribuição desigual, que
segundo Moser e Theis (2010) revelam uma tendência de acompanhar a
acumulação do capital, fazendo a propagação da base técnica do centro e
reforçando sua capacitação técnico-científica.
Os autores chamam atenção para o fato de que o modelo de
desenvolvimento dos países subdesenvolvidos foi implementado com base no
modelo dos países desenvolvidos, considerando o papel da tecnologia a partir
do conceito de desenvolvimento na evolução destes últimos. Deste modo,
como enfatizam Moser e Theis (2010), a tecnologia seria desenvolvida em um
processo independente dos desejos humanos e dos fatores externos
resultando em um processo fechado e neutro.
Em decorrência dessa forma de pensar a tecnologia os
sistemas de P&D5 criados para os países
subdesenvolvidos foram baseados nesses critérios para
promover a industrialização. Os objetivos explícitos
desses planos eram, em primeiro lugar, interagir com o
sistema produtivo – principalmente industrial – para
satisfazer as demandas do mercado internacional e, em
segundo lugar, gerar inovações para competir nesse
mercado internacional (MOSER e THEIS, 2010).
5
Pesquisa e Desenvolvimento (P&D).
30
Diante do exposto, a chave para alcançar o caminho no qual a ciência
possa servir ao desenvolvimento é apostar em um modelo que valorize a
competência local, considerando o homem e sua própria cultura, minimizando a
importância exclusiva dos aspectos econômicos.
31
econômico, (2) formar, treinar e qualificar os recursos humanos de nível
superior em volume e diversificação adequados para o sistema produtivo
nacional e para o próprio sistema educacional (I PNPG, 1974).
A distribuição regional também era alvo dessa política, existia a intenção de
procurar manter uma relação de proporcionalidade em cada região
geoeducacional com objetivo de evitar o acirramento das disparidades
regionais, o que até hoje não foi conseguido, como podemos observar na
tabela 1 (abaixo), na qual ainda se observa uma excessiva concentração de
cursos no Sudeste.
Tabela 1: Cursos reconhecidos pela CAPES
32
implantação e a consolidação do Sistema de Acompanhamento e Avaliação da
Pós-Graduação, sob a responsabilidade da CAPES.
O PNPG 1982-1985 aborda de forma mais direta a utilização do
conhecimento como forma de interagir com o setor produtivo, o que já é um
indício do que posterioremente seria chamado de modelo da tríplice hélice –
caracterizado pela parceria entre Universidade, Estado e empresas. No trecho
a seguir essa ideia fica clara.
33
Entre as diretrizes gerais, se estabelece que o estímulo e apoio as
atividades de investigação científica e tecnológica são parte essencial do
Sistema de C&T, que garante a pesquisa básica como suporte para o
desenvolvimento tecnológico, destaca-se ainda a importância de consolidar a
pós-graduação, garantindo sua qualidade, “para assegurar sua função como
instrumento de desenvolvimento científico, tecnológico, social, econômico e
cultural”. Como estratégia sugerida no tocante a essa temática, a proposta foi
envolver os órgãos de desenvolvimento regional nos programas de
desenvolvimento científico e de formação de recursos humanos, buscando
articular a academia com o planejamento estatal. Este plano expressava uma
tendência vigente àquela época: a conquista da autonomia nacional.
O IV PNPG começou a ser elaborado em 1996, quando foi formulada
uma pauta para sua realização, mas apesar das diversas redações
preliminares, nenhuma chegou a se constituir como documento público.
Somente publicado em 2004, já no governo Lula, o IV PNPG “incorpora
o princípio de que o sistema educacional é fator estratégico no processo de
desenvolvimento sócio-econômico e cultural da sociedade brasileira”. Assim,
caberia à pós-graduação produzir profissionais aptos para contribuir com o
processo de modernização do país.
No balanço apresentado neste documento considerou-se que a pós-
graduação é uma das mais bem sucedidas realizações do sistema de ensino
do país, ressaltando-se que o seu desenvolvimento foi produto de uma
deliberada política indutiva, conduzida e apoiada pelas instituições públicas
com o engajamento da comunidade acadêmica.
Uma novidade deste plano, é que pela primeira vez foi realizada uma
consulta com interlocutores da comunidade científica e acadêmica, convidados
a enviar sugestões. Para concretizar a participação desses atores, foram
realizadas audiências com os Fóruns Regionais de Pós-Graduação, cobrindo
as cinco regiões do país.
O desenvolvimento da pesquisa e a integração com o sistema de C&T
eram as ênfases principais do IV plano, desse modo, as atividades de pesquisa
34
científica, tecnológica e inovação deveriam ser responsáveis pela inserção
competitiva do Brasil no mercado mundial.
A ênfase em setores estratégicos também aparece, sugerindo que a
política industrial fortaleça “os programas espacial e de energia, a criação de
programas de exploração do mar e da biodiversidade, assim como o efetivo
desenvolvimento da região amazônica como instrumento de integração
nacional” (IV PNPG, 2005).
Por fim, com um horizonte temporal mais vasto foi publicado o V PNPG,
editado pela CAPES em 2010, no final do segundo mandato do presidente
Lula. Um fato novo foi a introdução das diretrizes e políticas do ensino de pós-
graduação ao Plano Nacional de Educação (PNE). A exemplo do plano
anterior, também foram ouvidos diferentes segmentos da comunidade
acadêmica e da própria sociedade, além de especialistas de diversas áreas do
conhecimento e do ensino, que elaboraram estudos e sugestões.
Podemos destacar o aparecimento do modelo da tríplice hélice que
surge explicitamente no V PNPG. Dividido em dois volumes, este plano faz
uma síntese geral dos anteriores e detalha minuciosamente a discussão dos
problemas apontados de forma superficial nos demais. Novamente, a visão do
sistema de pós-graduação como fator propulsor do desenvolvimento
econômico e social está fortemente presente.
35
conjunta dos diversos órgãos envolvidos. A novidade em relação a essa
proposta é o foco nas mesorregiões.
Considerações finais
Referências
36
BRASIL. Ministério da Educação. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior. Plano Nacional de Pós-Graduação – PNPG 2005-2010 – Brasília, DF:
CAPES, 2004.
VEIGA, José Eli da. Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI. 3.ed. Rio
de Janeiro: Garamond, 2008.
37
GT4 - CIÊNCIA, TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO REGIONAL
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
1
Trabalho apresentado no GT4 – Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Regional – II SEDRES, Campina Grande
(PB), de 13 a 15 de agosto de 2014
2
Doutorando em PUR,DINTER/IPPUR/UFRJ-UEPB. email: austerlianorodrigues@bol.com.br
3
Graduanda em Administração pela UEPB. email: allicemontenegrolima@gmail.com
contaminavam o ar, o solo e as águas num volume sem procedentes. E é
nesse sentido que podemos afirmar que o modelo de desenvolvimento
resultante da Revolução Industrial é o responsável pela atual crise ecológica.
Ademais, com a importância da temática ambiental, a gestão ambiental
precisa ser administrada diariamente, com atenção especial sem comprometer
os cuidados dispensados aos recursos humanos, consumo de matérias-primas
e fonte de energia da organização; já que as empresas que dominam os
problemas ambientais têm melhores condições de crescer e sobreviver em um
ambiente de mercado competitivo.
Segundo Dias (2009), o marketing nesse contexto, principalmente
durante a segunda metade do século XX, foi visto como "vilão", pois seu
aspecto mais visível era a indução ao maior consumo possível de mercadorias,
prestando desse modo, um precioso serviço às empresas, mas que, no
entanto, desconsiderava os efeitos na sociedade como um todo. O fato é que o
crescimento do consumo, sem responsabilidade ambiental, intensificou a
exploração predatória dos recursos naturais e gerando resíduos poluentes de
todo tipo, que foram produzidos tanto no processo produtivo, como pelo
descarte de produto e suas embalagens.
O propósito da escolha da fábrica de calçados para o presente estudo
deve-se ao fato da existência do setor de Segurança, Saúde e Meio Ambiente,
que possibilitou a verificação das ações do marketing com base nas dimensões
do Novo Paradigma Ambiental (NPA).
Diante das preocupações ambientais, algumas questões precisam ser
respondidas no tocante as ações do marketing ecológico da fábrica de
calçados pesquisada, e suas interações entre homem e a natureza. Neste
contexto, questiona-se: até que ponto as ações do marketing ecológico estão
alinhadas com as dimensões do NPA? O presente estudo tem como objetivo
verificar as ações do marketing ecológico, com base no uso das dimensões do
Novo Paradigma Ambiental em uma fábrica de calçados na cidade de Campina
Grande-PB.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Concordância
47%
Neutralidade
53%
Discordância
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com as tendências apontadas no tocante a situação da
fábrica encontrada pela pesquisa, no que diz respeito às ações do marketing
ecológico com base no uso das dimensões do NPA na condução da prática
ambiental, aparenta haver uma leve tendência da fábrica a estar alinhada com
as dimensões do Novo Paradigma Ambiental (NPA), na condução das suas
ações ambientais, representada pelo percentual de 53% de nível de
concordância. Esse fato pode indicar que a fábrica tende a refletir de maneira
positiva nos seus sistemas de crenças ambientais como crenças sociais, a
relação entre o ser humano e a natureza, que variam desde uma preocupação
antropocêntrica, até uma ecocêntrica. A postura antropocêntrica coloca o ser
humano como referência central, e a visão ecocêntrica considera que todo ser
vivo tem seu valor inerente.
O Paradigma Social Dominante se baseia na perspectiva
antropocêntrica de que o ser humano é o centro da vida e, por isso, o
considera um ser único, excepcional; pelo contrário, sob os postulados do Novo
Paradigma Ambiental, ou visão ecocêntrica, considera-se que os seres
humanos seriam somente mais um, parte do conjunto ecológico (DIAS, 2009).
A análise do segundo maior percentual foi de 47% de neutralidade, revelou que
o entrevistado tem uma percepção realista das necessidades das ações do
marketing ecológico, com base no uso das dimensões no Novo Paradigma
Ambiental, ou seja, o alto percentual de neutralidade, em relação ao de
concordância, indica que ainda pode haver ações do marketing ecológico a ser
implementadas, afim de que estejam em conformidade total com o uso das
dimensões do NPA.
Por fim, o menor percentual – discordância, com 0% das respostas –
pode indicar que a fábrica está em posição favorável para a construção de
ações ecológicas com base no uso das dimensões do NPA, já que questões de
discordância representariam limitações nas ações do marketing ecológico com
base nas dimensões do NPA praticadas pela fábrica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
RILEY, D. Citizenship and the Welfare State. In: Allan, J., Braham, P. Lewis, P (Eds).
Political and Economic Forms of Modernity. Cambridge: Polity Press, 1992.
1 INTRODUÇÃO
1
Trabalho apresentado no GT 4 – Ciência, tecnologia e desenvolvimento regional. II SEDRES, Campina
Grande (PB), de 13 a 15 de agosto de 2014.
2
Graduanda em Psicologia, Bolsista de Iniciação Científica pela FURB, membro do Núcleo de Pesquisa
em Desenvolvimento Regional, e-mail: estergraf@gmail.com
3
Economista, mestranda em Desenvolvimento Regional pela FURB, membro do Núcleo de Pesquisas
em Desenvolvimento Regional, e-mail: tatilasta@gmail.com.
4
Economista, mestrando em Desenvolvimento Regional pela FURB, membro do Núcleo de Pesquisas
em Desenvolvimento Regional, e-mail: danistrelow@gmail.com.
desigualdade continua, seja nas regiões, ora ganhadoras, ora perdedoras, ou nas
gritantes assimetrias entre as classes sociais. De fato, não há como analisar o
desenvolvimento capitalista brasileiro sem a marca do desenvolvimento desigual, muito
menos, sem perceber as idas e vindas da acumulação primitiva permanente, que
assume variadas formas no decorrer da história (BRANDÃO, 2010).
Historicamente, as atividades científicas e tecnológicas também cumprem uma
tendência de distribuição desigual no território brasileiro, acompanhando a acumulação
do capital e sua expansão. O que se pretende neste artigo é problematizar a
implementação das políticas de Ciência & Tecnologia e Inovação no Brasil no período
pós Constituição de 88 até o período recente, na tentativa de evidenciar o papel que
vem exercendo no processo de acumulação de capital no Brasil. Para isso, se utilizou
os aportes teóricos de Marx (acumulação primitiva) e Harvey (desenvolvimento
geográfico desigual), além de indicadores do estado de inovação no Brasil, como os da
PINTEC/IBGE.
Este artigo está dividido em quatro seções. Após esta introdutória, segue
pequeno debate conceitual. Na terceira seção problematiza-se a política de ciência,
tecnologia e Inovação no Brasil. Por fim, são apresentadas considerações finais.
Neste primeiro capítulo, cabe uma pequena discussão do marco teórico, que vai
desde o desenvolvimento geográfico desigual, até o processo de acumulação primitiva
de capital. Estes que são elementos importantes de nossa análise.
O processo de “acumulação primitiva" precede mesmo o processo de
acumulação capitalista, não sendo, desta forma, resultado de sua produção, mas seu
ponto de partida, ou seja, está na gênese do modelo em questão. No contexto da
economia política, compara-se ao “pecado original” na teologia. A base de todo este
processo é a expropriação/separação dos meios de produção dos próprios
trabalhadores. E este ato de expropriação não foi resultado do acaso, da “mão invisível”
ou de métodos pacíficos. Pelo contrário. Todos os métodos que permitiram a
acumulação primitiva, base do modo de produção capitalista, são resultado de ações
cuja violência é característica comum e marcante (MARX, 1984).
Em suma, são todos os processos que serviram de base para a ascensão e
consolidação da classe capitalista, advinda das antigas ruínas feudais. “Se o dinheiro
[...] ‘vem ao mundo com manchas naturais de sangue sobre uma de suas faces’, então
o capital nasce escorrendo por todos os poros sangue e sujeira da cabeça aos pés”
(MARX, 1984, p.292).
O economista Carlos Brandão (2010) também nos ajuda a entender o processo
de acumulação de capital, sustentando a continuidade deste e afirmando que tem
caráter permanente ao longo da história do capitalismo, não meramente circunstancial.
Em sua análise, centrada no Brasil, evidencia que a ocupação do território brasileiro e o
modelo de desenvolvimento em que está alicerçado esteve e está a serviço da
acumulação primitiva de capital. O modelo de desenvolvimento e crescimento
econômico brasileiro esteve submetido à lógica de acumulação de capital nas mãos de
alguns poucos. Evidentemente, o formato de uso (predatório e extensivo) e de
ocupação do espaço territorial seguiram esta lógica. Suas características nada mais são
do que a materialização do que intitula de acumulação primitiva permanente.
De fato, não há como analisar a realidade brasileira, urbana e rural, sem que se
leve em consideração que o desenvolvimento capitalista brasileiro vem sendo marcado
por um desenvolvimento desigual. E mais do que isso, é preciso atentar ao fato de que
esta desigualdade continua, seja nas regiões, ora ganhadores, ora perdedoras, ou nas
gritantes assimetrias entre as classes sociais. Em suma, não há como analisar o
desenvolvimento brasileiro sem se perceber as idas e vindas da acumulação primitiva,
que assume variadas formas no decorrer da história (BRANDÃO, 2010).
Um dos fenômenos causados pela dispersão do capital no espaço é que se
denomina por desenvolvimento geográfico desigual. De acordo com Lowy (1995) a
noção de desenvolvimento desigual surge com os estudos de Lênin e adquire maior
importância nos estudos de Trotsky, que passa a utilizar a expressão desenvolvimento
desigual e combinado. A Teoria do desenvolvimento geográfico desigual é mais recente
e busca abordar a espacialidade do desenvolvimento desigual, ou seja, “a natureza
especificamente geográfica da desigualdade socioeconômica entre as regiões e os
países” (THEIS, 2009, p. 244-245).
De acordo com Harvey (2004) é a acumulação do capital, com bases no livre
mercado que produz as diferenciações geográficas em termos de riqueza e poder. De
forma que a acumulação de capital sempre foi uma questão geográfica. Assim, o
desenvolvimento geográfico desigual é tanto o produto quanto a premissa geográfica do
desenvolvimento capitalista. Como produto, o padrão é altamente visível na paisagem
do capitalismo, tal como a diferença entre espaços desenvolvidos e subdesenvolvidos
em diferentes escalas: o mundo desenvolvido e o subdesenvolvido, as regiões
desenvolvidas e as regiões em declínio, os subúrbios e o centro da cidade. Como
premissa da expansão capitalista, o desenvolvimento desigual [...] é a desigualdade
social estampada na paisagem geográfica e é simultaneamente a exploração daquela
desigualdade geográfica para certos fins sociais determinados (SMITH, 1988, p. 221).
Para se compreender o desenvolvimento geográfico desigual basta observar a
prática de ocupação dos espaços no território, o capital busca o que o se chama de
ajuste espacial. Portanto, ignoram-se espaços e regiões não promissores indo à busca
de espaços e regiões promissoras para se instalar motivado por um conjunto de fatores
como: fácil maximização de lucros, exército reserva, facilidades de transportes e
escoamento de produção. Esse processo de acumulação capitalista do espaço resulta
em regiões perdedoras e regiões ganhadoras. Com essa expressão se traduz
claramente que: enquanto regiões crescem a altas taxas, concentram os maiores
investimentos por parte do Estado (são detentoras de ciência e tecnologia,
investimento, universidades), outras experimentam estagnação, recebem migalhas do
poder público, populações pobres vivendo a mercê de direitos. Essas diferenças entre
ricos e pobres, entre uma região desenvolvida e uma região sub desenvolvida cresce
no território, produzindo uma paisagem que não encontra melhor nome do que
desenvolvimento geográfico desigual (HARVEY, 2006; SMITH, 1988).
5
United State Patent and Trademark Office http://www.uspto.gov/web/offices/ac/ido/oeip/taf/cst_all.htm
empresariado brasileiro não inova já que o governo brasileiro tem se mostrado bastante
generoso em patrocinar a “inovação”?
O problema da inovação no Brasil não é a falta de dinheiro. O que se evidencia
como gargalo é o próprio empresariado brasileiro. Além disso, Dagnino e Bagatolli
(2009) trazem a luz mais algumas reflexões que possibilitam responder a esta questão.
Contrariamente à premissa Schumpeteriana que explica a dinâmica inovativa pela
concorrência intercapitalista na corrida do “ganha – ganha” do mercado, os empresários
de países periféricos (como é caso brasileiro) não inovam por que no processo de
produção, na relação com os trabalhadores não é necessário "progresso tecnológico" a
fim de garantir a mais valia (nos países avançados garante o que se chama mais valia
relativa). Ao longo dos anos as políticas nacionais concentradoras possibilitaram a
deterioração continuada do salário real e conseqüentemente "à instauração de uma
forma de extração da mais-valia (absoluta) que prescinde da inovação" (DAGNINO;
BAGATOLLI, 2009, p. 169).
Ficam ainda alguns questionamentos: seria uma desculpa a necessidade em
aumentar os investimentos neste modelo de C&T e inovação para que se tenha uma
transferência fácil de dinheiro público ao setor privado, facilitando assim as coisas para
a acumulação de capital? Bem - estar social e desenvolvimento socioeconômico
seriam apenas termos bonitos para enfeitar os planos e documentos oficiais e tornar
eficaz o discurso dominante? Seria preciso um trabalho mais minucioso para dar conta
de todos estes questionamentos.
O que se evidencia é o papel fundamental da tecnologia e da mudança
tecnológica na economia capitalista. A busca incessante por inovações tecnológicas,
para obter super - lucros está intimamente vinculada ao processo de produção e
reprodução do capital (MARX, 1984, p.254). Vale destacar ainda que “os enfoques
convencionais da inovação não oferecem alternativas adequadas (em termos de
políticas científico-tecnológicas e territoriais) para o processo de inovação voltado ao
desenvolvimento de formações sócio-espaciais periféricas”. As linhas que vem
contrapor estas correntes clássicas e neoclássicas afirmam que a inovação tecnológica
não se propaga a todas as firmas e convém a acumulação de capital por parte do
empresariado (RATTNER, 1980, p. 27).
Evidencia-se ainda que se faz mais do que necessário reorientar os amplos
volumes de recursos que o setor público está disposto a gastar com a inovação em
tecnologias alternativas. É necessário repensar o modelo de Ciência, Tecnologia e
Inovação que se faz no Brasil.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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internacional RII Belo Horizonte Brasil 01-05 de outubro de 2012.
Diversidade de abordagens na produção científica das ciências humanas
e sociais: uma breve revisão de literatura1
Resumo
Introdução
62
De acordo com Jonas (2006), que parte de uma concepção ética do
pensamento, as diferentes abordagens e alternativas científicas devem abarcar
distintas concepções de manutenção tanto dos meios naturais, quanto das
relações espaciais que influenciam e sofrem influência da natureza. Neste viés,
essa perspectiva dicotômica da estruturação do pensamento científico evidencia
discursos diferenciados no que tange ao papel da ciência na sociedade,
sobretudo, quando se remete a compreensão da complexidade da realidade e à
manutenção e desenvolvimento de técnicas que se estruturam em torno das lutas
entre os interesses sociais envolvidos. A tecnociência, indicada por vários
estudiosos como uma forma de conhecimento atrelada aos interesses capitalistas,
pode ser um exemplo destas questões.
Ziman (2003) em uma análise pautada essencialmente na relação entre
ciência e sociedade, afirma a agregação de uma parte da estrutura social que no
geral, assegura que o papel social da ciência é altamente suspeito e ambíguo e
possui um encontro com o público verdadeiramente limitado. Segundo este autor,
a dimensão política da produção e articulação da ciência, tornou-se um fator
relevante na vida coletiva, sendo influenciada por diversos poderes públicos, que
lhe atribuem diversos papeis sociais. O lugar da ciência na sociedade é
determinado pelas forças que permeiam as relações entre autores e instituições
que a produzem, caracterizados por diferentes intencionalidades e funções.
Um outro aspecto relativo a esta discussão, é o papel instrumental da
ciência, o qual, por um lado determina a ação dos produtores e por outro propicia
a formação de atitudes dos indivíduos que a consomem em debates públicos.
Nestes, por sua vez, encontra-se níveis diferenciados de disponibilização e
acesso ao conhecimento científico acerca de temas de interesse público em geral,
tais como, saúde, educação, fontes de energia, conservação dos recursos
ambientais e alimentares.
Considerando as implicações destes processos em áreas distintas do
conhecimento científico e da vida social, Leff (2003) e Capra (1982), com base em
63
uma perspectiva ambiental, afirmam a necessidade do diálogo entre os diferentes
campos dos saberes, uma vez que os fatores ambientais resultam e
simultaneamente são resultados da auto-organização social e da ecologização do
pensamento.
Soares et. al., (2010), por sua vez, defendem a diversidade de recursos
teórico-metodológicos na produção cientifica das ciências humanas e sociais,
uma vez que existe uma preocupação efetiva com questões relativas ao avanço
das disciplinas e ao modo como o conhecimento se estrutura nessas áreas
específicas.
Em uma análise dos aspectos característicos da produção científica em
ciências da saúde, Canesqui (2012) também aponta a existência de inovações
teórico-metodológicas relacionadas à integração de abordagens
transdisciplinares, assim como à diversidade de elementos de interesse dos
pesquisadores. Daí emergem acepções acerca do objeto e do sujeito, da ciência
e da consciência, da ideologia e da ética, as quais assumem papel substancial na
consolidação de um pensamento multilateral e multidimensional.
Defende-se aqui como pressuposto a ser adotado na produção do
conhecimento científico sobre aspectos da vida cotidiana, a agregação da
necessidade de discutir a interdependência das diversas abordagens disponíveis,
uma vez que a monoabordagem significaria necessariamente a simplificação de
situações complexas, enquanto a própria complexidade reuniria todos os
aspectos da realidade. Trata-se de pensar o homem e os cenários que ele produz
e nos quais é produzido não apenas como algo biologicamente constituído, porém
formado por uma consciência resultante de um contexto histórico, cultural e
ambiental (MORIN, 2005).
Diante desta perspectiva, Canesqui (2012) aponta discussões metodológicas
em torno da combinação de métodos qualitativos e quantitativos nas ciências
humanas de modo geral, como também o aprofundamento em torno das
discussões voltadas à necessidade de levar em consideração a teoria da
complexidade. O pensamento complexo, de acordo com Morin (2005), é
constituído por tecidos heterogêneos inseparavelmente associados, uma vez que
64
a agregação isolada desses tecidos constituiria um modelo simplificador de
pensamento.
O modelo proposto da complexidade proposto por Morin (2005) pauta-se na
concepção do pensamento como um conjunto de práticas que capacitem os
cientistas e os consumidores do que eles produzem para lidar e negociar com o
real, posicionando-se de forma adversa ao modelo que busca o controle e
domínio do real através de abordagens simplificadoras, disjuntivas, e portanto,
incompletas.
É pensando a corrente da complexidade e as correntes que a combatem,
que discutimos aqui o perfil das pesquisas desenvolvidas atualmente na área das
ciências humanas, interação do processo de produção científica no território e sua
interface com o desenvolvimento coletivo.
Dentre as questões que nortearam nossa pesquisa, a partir da qual
produzimos este artigo, destacamos as seguintes: Como se configura as
abordagens cientificas na produção das ciências humanas e sociais? Qual a
relação entre estes estudos e as necessidades sociais coletivas?
Procedimentos teórico-metodológico
65
2013; TAVARES et. al, 2011; PACHECO & KERN, 2003; STRAPSSON & JOB,
2006).
Com relação à análise de conteúdo dos textos, foram elencados itens de
observação para indicar a presença e o nível de interação entre ciências e suas
abordagens indicado em cada trabalho analisado, sendo desenvolvido um quadro
síntese para a organização e apresentação destas informações nos níveis em que
elas se apresentaram. De acordo com Pereira (2011), na análise de conteúdo
podem-se destacar três níveis de representatividade do item ou categoria
observadas. O alto nível corresponde a uma intensa representatividade do item
avaliado, o nível elementar corresponde à existência mínima de interações dos
aspectos em avaliação e, por fim, a ausência é quando determinado aspecto não
é observado no corpus analisado.
Os itens/categorias que considerados mais indicados para a observação
foram os seguintes: A afiliação dos autores a áreas distintas do conhecimento
científico; O uso de pesquisa qualitativa; O uso de pesquisa quantitativa; A
realização de trabalho de campo; A caracterização da ciência produzida
enquanto não instrumental e tecnociência; A produção de contribuições
relativas ao desenvolvimento.
A utilização de autores de diferentes áreas do conhecimento se relaciona
com à identificação de trabalhos que atendam à inspiração da matriz da
complexidade, que envolve um esforço de integração das diversas áreas de
estudo. O uso das técnicas de pesquisa qualitativa e quantitativa ou
qualiquantittiva também indicam em que medida se adota o pluriperspectivismo
em termos metodológicos. A utilização do trabalho de campo, de acordo com
Thiollent (1994), trata-se da estruturação de uma perspectiva de análise que
busque um conhecimento mais concreto e real da problemática, se posicionado
de forma a compreender as especificidades e situações do local. Nesta
perspectiva, assumindo posicionamento contrário a pesquisa de gabinete, o
trabalho de campo vincula-se a análise de aspectos concretos da realidade
empírica.
66
Com relação a ciência não instrumental, aborda-se a ideia da relevância
social do conhecimento cientifico produzido em interface com as estratégias de
produção do que se concebe como desenvolvimento social. Já no que se refere a
tecnociência, a vinculação do processo científico com a promoção de interesses
econômicos, configura um instrumento de alcance a habilidades com fins de
ampliação competitiva e mercadológica.
Por fim, no que tange às contribuições para o desenvolvimento das
pesquisas, compreende-se os procedimentos que podem ser aplicados pelas
variadas instâncias a partir dos estudos analisados para favorecer o equilíbrio do
crescimento econômico, a preservação do meio ambiente e a melhoria da
qualidade de vida das populações.
Resultados e discussão
67
Esta análise constou não apenas na identificação da observação das
ocorrências de cada um dos aspectos avaliados em cada trabalho avaliado, mas
também da discussão teórica voltada ao reconhecimento da existência ou
importância dos mesmos no cenário científico do qual os trabalhos fazem parte.
Assim, as palavras-chave aqui empregadas, implicam em especificidades
diferenciadas quanto a cada aspecto do qual se optou para efetivação da análise
cujos resultados aqui apresentamos.
Logo, a esquematização das informações trabalhadas no decorrer deste
trabalho constitui-se como um desafio organizacional, de modo que, buscando
minimizar as dificuldades correspondentes a este processo, relacionaram-se os
itens analisados com todos os trabalhos científicos correspondentes a cada
palavra chave utilizada durante o período de exame do corpus de artigos (Quadro
01).
Quadro 01: Análise de conteúdo dos trabalhos avaliados
Artigos Científicos
Itens analisados Meio ambiente Sociedade Tecnologia
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
Autores de áreas distintas
conhecimento científico
Pesquisa qualitativa
Pesquisa quantitativa
Trabalho de campo
Ciência não instrumental
Tecnociência
Sugestões
desenvolvimento
Auto nível
Nível elementar
Ausência
Observou-se nos artigos que com relação a primeira palavra chave (meio
ambiente), houve uma alta representatividade de autores de áreas distintas do
conhecimento científico em nível elementar. Já a pesquisa qualitativa teve
representação em quatro dos cinco artigos analisados, sendo concebida em nível
alto e elementar, a pesquisa quantitativa incidiu apenas em um documento.
68
O trabalho de campo não foi constatado em nenhum dos artigos descritos,
bem como a verificação de uma interpretação alinhada à tecnociência para esta
palavra-chave. Quanto à associação destes trabalhos as características da
ciência não instrumental, observou-se a sua totalidade alinhada a uma
perspectiva social, sendo apresentada, em três dos cinco documentos analisados,
algumas sugestões relativas à promoção do desenvolvimento.
Com relação à segunda palavra-chave (sociedade), no que tange à
presença de autores de áreas distintas, bem como a pesquisa qualitativa,
observou-se grande representatividade, variando entre níveis altos e elementares.
A pesquisa quantitativa incidiu em dois documentos, enquanto o trabalho de
campo não foi observado e a tecnociência indicada em um trabalho. A pesquisa
qualitativa e sugestões para o desenvolvimento aplicado à temática surgiram em
três documentos. Os aspectos relativos à ciência não instrumental foi visualizado
em todos os artigos desse subcampo, variando entre o nível alto e elementar.
Finalmente, através da terceira palavra-chave (tecnologia), foi averiguada
uma alta representatividade de todos os elementos. A pesquisa quantitativa e
sugestões de desenvolvimento foram os únicos aspectos constatados em todas
as publicações analisadas. A pesquisa qualitativa e o trabalho de campo
possuíram quatro ocorrências. Dois dos trabalhos estudados apresentaram
aspectos da tecnociência na sua constituição, enquanto três estão associados a
um papel não instrumental do conhecimento.
Diante da apreciação desta pequena amostra não aleatória, compreende-se
que a presença dos itens analisados correspondem a vieses expressivos da
existência da interdisciplinaridade aplicada aos artigos avaliados e, em alguns
casos, o seu aproveitamento social. Considerando a produção de conhecimentos
generalizáveis e descrições mais aprofundadas de vários objetos de investigação,
afirma-se que a projeção de interesses multilaterais já se constitui como uma
realidade complexa indicada nesta pesquisa.
Por fim, considerando, sobretudo, os aspectos da ética e da
responsabilidade que emergem em meio a essa metamorfose, ressaltam-se a
indissociabilidade dos aspectos quantitativos e qualitativos, científicos e
69
empíricos, reais e abstratos. Podemos otimizar que vivenciamos um período de
transformações e evoluções complexas das quais deve-se lançar novos e
constantes questionamentos que atendam ao processo de construção do
conhecimento acerca da objetividade e subjetividade do real, no qual a ciência é
uma das bases fundamentais.
Nesta perspectiva, este contexto trata de análises diferenciadas quanto aos
objetivos e procedimentos teórico-metodológicos analisados. Deste modo, a
produção científica da qual se efetivou os procedimentos metodológicos,
assumem denotações científicas que se instituem desde pesquisas unicamente
bibliográficas, até estudos empíricos e de percepção.
Considerações finais
Referências
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73
GT4- Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Regional
RESUMO
Os territórios são a expressão de uma ordem social e as fronteiras que delimitam o
público e o privado podem ser estabelecidas de muitas formas: politicamente,
economicamente, culturalmente, etc. O território pode assumir uma variedade de
formas. Uma das formas menos conhecidas e pesquisadas diz respeito às fronteiras
estabelecidas pela ciência e, em particular, pela pesquisa científica. Como se pode
dividir um país considerando os programas de pós-graduação? Pautado em
pesquisa exploratória, bibliográfica e documental, analisa-se a configuração
territorial dos programas com mestrado e doutorado em Planejamento Urbano e
Regional (PUR) no Brasil. Conclui que os programas estão concentrados no sul do
país; há assimetrias em relação à produção de conhecimento científico e ao
território, pois não há programas de mestrado com doutorado na área de PUR no
norte e centro-oeste do Brasil.
PALAVRAS-CHAVE: Desenvolvimento Regional; Doutorado; Mestrado;
Planejamento Urbano e Regional; Território.
INTRODUÇÃO
O mundo está cada vez mais territorializado, e um aspecto que demonstra
essa territorialização pode ser identificado quando as pessoas se defrontam com
informações sobre o que é ou não permitido ou proibido, ou ainda, com placas de
“somente pessoal autorizado” ou “proibida entrada”. Storey (2012, p.1), descreve
que “todos os dias avisos e advertências refletem tentativas para impor formas de
poder (através de regras e regulações) sobre porções do espaço geográfico”. Costa
(2006) descreve que o território é usualmente focalizado em quatro dimensões,
quais sejam: a política, a cultural, a econômica e a “natural”. Um território pode ser
1
Trabalho apresentado no GT 4 – Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Regional – II SEDRES, Campina
Grande (PB), de 13 a 15 de agosto de 2014.
2
Doutoranda em Desenvolvimento Regional na Universidade Regional de Blumenau – FURB, Blumenau – SC.
Bolsista CAPES. christifabi@gmail.com
3
Doutor em Ciências Sociais e Pós- Doutor no Centre de Sociologie de L’innovation-ENMP/Paris. Professor
Titular no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade Regional de Blumenau –
FURB, Blumenau – SC.mattediblu@gmail.com
reconhecido pelas características relacionadas ao meio ambiente (naturais) ou por
sua cultura (identidade de uma determinada comunidade).
Nesse contexto, observa-se que há uma ciência que estuda principalmente a
intervenção humana no território, a ciência regional (BENKO, 1999, p.2). Essa
ciência possui influências de campos de estudo como a economia, a geografia, a
sociologia, a antropologia, as ciências políticas, o urbanismo, que se tornaram
perceptíveis em função das proposições para avaliar questões que, dentre outros
aspectos, contemplavam a sociedade (ser humano), o território, o planejamento, as
políticas públicas, o ambiente, a economia, as desigualdades regionais, locais, os
recursos sustentáveis. Dessa forma, a ciência regional apresenta uma variedade de
domínios que podem ser analisados sob a ótica dessa ciência. De acordo com
Benko (1999), é possível realizar análises a partir do agrupamento em quatro
grandes temáticas: localização das atividades econômicas, organização e
estruturação do espaço, interações espaciais e desenvolvimento regional.
Assim, a ciência regional possibilita estudar, não só o desenvolvimento
regional, mas também, possibilita desenvolver estudos não só sobre a sociedade e
outras temáticas já elencadas, mas sobre o território.Na percepção de Delaney
(2005, p. 12) o “Território, por sua vez, informa aspectos chaves das identidades
coletivas e individuais. Ele molda e é moldado pelo coletivo social e pela
autoconsciência”. Além disso, o conceito de território pode ser definido como: “o
espaço econômico socialmente construído, dotado não apenas de recursos naturais
de sua geografia física, mas também da história construída pelos homens que nele
habitam, através de convenções de valores e regras...” (MARINI; SILVA, 2011, p.
110). Esses valores e regras podem condicionar ações e direcionar decisões.
Nesse sentido, estudos sobre o território, bem como, sobre o
desenvolvimento no território, são objeto das análises da comunidade científica.No
que se refere ao Desenvolvimento Regional no Brasil, o conhecimento científico
produzido está vinculado à atuação da comunidade científica alocada no território,
nos programas de pós-graduação stricto sensu. O processo de desenvolvimento do
campo de estudo resulta como consequência da produção do conhecimento na área
e, no Brasil, os programas de pós-graduação stricto sensu desenvolvem e
2
contribuem para a construção do conhecimento. No entanto, essa comunidade
científica encontra-se dispersa pelo território brasileiro e a formação de massa crítica
em torno de uma determinada área pode não ocorrer de forma equitativa.
Assim, o objetivo principal do trabalho é analisar a configuração territorial dos
programas de pós-graduação em Desenvolvimento Regional no Brasil, a partir dos
programas que possuem, além do mestrado, também o curso de doutorado na área.
O trabalho está pautado em pesquisa exploratória, bibliográfica e documental e está
estruturado a partir dessa introdução, seguida das seções “A Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior e a pós-graduação no Brasil: um
breve histórico, Programas de Pós-graduação na área de Planejamento Urbano e
Regional no Brasil”, Metodologia e conclui com as Considerações.
3
elaboração, avaliação, acompanhamento e coordenação de atividades vinculadas ao
ensino superior (BRASIL, 2013). No entanto, o primeiro plano nacional de pós-
graduação refere-se ao período de 1975-1980.
No ano de 1990, após um período conturbado, em função de sua extinção
(período do Governo Collor) e intensa mobilização da comunidade científica e do
Ministério da Educação, a CAPES é recriada. Em 1995, com o novo governo, a
CAPES passa por uma reformulação e se torna responsável pelo acompanhamento
e avaliação de cursos de pós-graduação stricto sensu do território brasileiro. É nesse
período que o sistema de pós-graduação ultrapassa a marca de 1000 cursos de
mestrado e 600 cursos de doutorado, envolvendo 60 mil alunos. Atualmente, a
CAPES, é responsável também pela formação inicial e continuada dos professores
da educação básica no país (BRASIL, 2013).
Esses cursos de pós-graduação permitem a formação de massa crítica nas
áreas de conhecimento e ao mesmo tempo promovem a produção do conhecimento
científico. Para Velho (2011, p. 137), o conhecimento científico só pode ser
produzido por cientistas especificamente treinados para produzir conhecimento
objetivo. Ressalta-se ainda que, para Velho (2011, p. 137), “a ciência é vista como a
base, a origem da tecnologia”. Nesse sentido, ciência e tecnologia podem ser
‘motores’ para o progresso, Gouveia (2009) destaca que a competitividade de um
dado território, está cada vez mais relacionada com o conhecimento de seus ativos
humanos e com a capacidade de produção do conhecimento.
Verificou-se junto às informações disponibilizadas pela CAPES, que o Brasil
possui na grande área das Ciências Sociais Aplicadas, a área de avaliação do
Planejamento Urbano e Regional (área em que se insere o desenvolvimento
regional), 32 cursos de pós-graduação stricto sensu na área de Planejamento
Urbano e Regional. Parte da produção do conhecimento científico em
Desenvolvimento Regional é desenvolvida em programas de pós-graduação stricto
sensu que estão concentrados, em sua maioria, nos estados do litoral do Brasil e
outros programas de pós-graduação que se encontram em regiões do interior do
país. Gouveia (2009, p.14) ainda menciona a importância das instituições de ensino
superior tendo em vista que
4
transformam-se em elementos cruciais da equação da competitividade e
da capacidade de atrair investimento de uma dada região, desde que
conscientes do seu papel de não transmissores de conhecimento
“importado”, mas sim produtores de conhecimento local e que seja
reconhecido como uma centralidade, mesmo fora dos limites do território
onde estão inseridas.
Destaca-se que para Rolim e Serra (2009, p. 85) “as universidades sempre
deram contribuições para o desenvolvimento das nações. Entretanto, a preocupação
com o papel que elas desempenham no desenvolvimento das regiões em que estão
inseridas é recente”. Para os autores,
a educação superior vem sendo identificada como o principal motor para
o desenvolvimento econômico, cultural e social dos países e,
principalmente, das regiões. De fato, a dimensão regional passa a ter
uma importância capital na medida em que o ambiente regional/local é
tão importante quanto à situação macroeconômica nacional na
determinação da habilidade das empresas em competir numa economia
globalizada, ou seja, a disponibilidade dos atributos regionais/locais
(conhecimento, habilidades, etc.) (...), o que faz das universidades que
estão umbilicalmente ligadas às suas regiões...(ROLIM; SERRA, 2009,
p. 87).
Diante do exposto, a seguir serão apresentados os programas de pós-
graduação em Desenvolvimento Regional que integram a área de avaliação de
Planejamento Urbano e Regional/Demografia conforme o disposto pela CAPES.
IPPUR - Instituto de Pesquisa e Planejamento Rio de Janeiro/RJ Planejamento urbano e M/D 1971 • Planejamento Urbano e Regional
Urbano e Regional na Universidade Federal regional 1993
do Rio de Janeiro - UFRJ
Universidade Federal de Pernambuco - UFPE Recife/PE Desenvolvimento urbano M/D 1975 • Desenvolvimento Urbano
1999
Universidade de Santa Cruz do Sul – Santa Cruz do Sul/ RS Desenvolvimento regional M/D 1994 • Desenvolvimento regional
UNISC/RS 2005
Universidade Salvador –UNIFACS Salvador /BA Desenvolvimento regional e M/D 1999 • Processos urbanos e regionais do
urbano 2006 desenvolvimento
• Desenvolvimento e políticas regionais
• Desenvolvimento, políticas urbanas e redes
de cidades
• Turismo e Desenvolvimento
• Circuitos Internac. e Locais do Turismo
Universidade Regional de Blumenau – Blumenau/SC Desenvolvimento regional M/D 2000 • Desenvolvimento regional sustentável
FURB/SC 2012
Universidade do Oeste do Paraná – Toledo/PR Desenv. regional e M/D 2002 • Desenvolvimento regional e do agronegócio
UNIOESTE agronegócio
Pontifícia Universidade Católica do Paraná - Curitiba/PR Gestão urbana M/D 2003 • Planejamento Urbano e
PUC/PR 2009 Regional/Demografia
Universidade Católica de Salvador – UCSAL Salvador/BA Planej. territorial e M/D 2005 • Territorialização e Desenvolvimento Social
desenvolvimento social 2012
Universidade Federal do ABC - UFABC Santo André/SP Planej. e gestão do território M/D 2011 • Planejamento e Gestão do Território
2012
Fonte: CAPES, 2014.
6
É possível verificar que dos programas de pós-graduação que possuem
mestrado e doutorado na área, cinco programas estão localizados na região
Sul, três na região Nordeste e dois na região Sudeste. Pode ser válido refletir
sobre essa configuração territorial e observar um aspecto apontado ainda no
primeiro Plano Nacional de Pós-graduação (1975-1980) uma vez que, “com a
concentração geográfica verificada, tem ocorrido um indesejável processo de
migração pós-universitária em um único sentido predominante - do interior para
as áreas das grandes capitais -...” (BRASIL, 1975, p. 11). Além disso,
retomando o histórico dos programas de pós-graduação na área de
Planejamento Urbano e Regional é possível visualizar que os primeiros
programas se localizaram em metrópoles, dispersos nas regiões sul do país,
sudeste e nordeste.
4 METODOLOGIA
Para atender o objetivo proposto, foi realizado um estudo exploratório
pautado em pesquisa bibliográfica e documental. Foi consultada a base de
dados da CAPES, considerando-se a lista dos cursos recomendados e
reconhecidos na grande área de Ciências Sociais Aplicadas, área de escopo
de Planejamento Urbano e Regional/Demografia enfocando os programas de
mestrado e doutorado na área no Brasil, bem como, documentos de área e
Planos Nacionais de Pós-Graduação. Quanto à configuração territorial dos
programas de pós-graduação com mestrado e doutorado na área, esta se
apresenta conforme a figura 1 a seguir:
80
Figura 1 – Programas de Pós-Graduação com Doutorado em Desenvolvimento Regional
Fonte: Extraído do sítio do IBGE (2014).
4
Ver Quadro 1 - Programas de Pós-graduação recomendados e reconhecidos pelas CAPES na área de
Planejamento Urbano e Regional/Demografia.
81
territorialização (uma área de concentração), turismo (duas áreas de
concentração) e processos urbanos (uma área de concentração).
Pode-se inferir que 10 programas de pós-graduação (mestrado e
doutorado) concentrados especialmente na região sul do país dificilmente
poderão investigar as realidades existentes no território nacional. Esse aspecto
pode gerar assimetrias não só quanto à questão da formação de massa crítica
para atuar, mas também, acerca da produção do conhecimento científico, das
pesquisas sobre as dimensões retratadas por Costa (2006), bem como, das
problemáticas do próprio território (dentre outros) conforme retratado por Marini
e Silva (2011) e Delaney (2005).
A percepção acerca de assimetrias quanto à Pós-Graduação está
retratada no PNPG 2011-2020, onde é citado que “programas foram
idealizados para ampliar o número de docentes doutores e o número de cursos
de mestrado e doutorado nas regiões Norte, Centro Oeste e Nordeste,
reconhecidamente possuidoras das maiores carências de recursos humanos”
(BRASIL, 2011, p.285). No caso da área de Planejamento Urbano e Regional
evidencia-se que as regiões Norte e Centro-Oeste não possuem nenhum
programa de pós-graduação (mestrado e com doutorado) que possa
desenvolver pesquisas e auxiliar na compreensão dos fenômenos relativos ao
Desenvolvimento Regional, Planejamento Urbano e Regional, Território e afins.
Diante disso, percebe-se que se faz necessário atentar para a questão
das assimetrias, que é notória, em virtude de que a própria discussão acerca
do Desenvolvimento Regional (Programas de Pós-Graduação em
Planejamento Urbano e Regional) e das temáticas do campo de estudo não
estarem sendo exploradas em sua totalidade.
Outra questão a ser analisada, decorre do fato de que de acordo com
Abramovay (2006, p. 1-2) “territórios não se definem por limites físicos e sim
pela maneira como se produz, em seu interior, a interação social” e quanto à
configuração territorial, para Delaney (2005, p. 12), “Configurações territoriais
não são artefatos simplesmente culturais. Eles são conquistas políticas”..
82
Assim, destaca-se que a análise sobre a configuração territorial dos programas
de pós-graduação (mestrado e doutorado) na área de Planejamento Urbano e
Regional pode culminar na ênfase das assimetrias em relação à formação de
massa crítica, desenvolvimento do conhecimento científico e dos fenômenos
que ocorrem no próprio território.
5 CONSIDERAÇÕES
A partir da análise realizada nesse trabalho observou-se que muito
embora estejam elencados pela CAPES 32 programas de pós-graduação
stricto sensu, somente 10 programas possuem mestrado e doutorado na área.
A formação de massa crítica para atuar na área concentra-se na região sul
(cinco programas com mestrado e doutorado), sudeste (dois programas) e
nordeste (três programas com mestrado e doutorado) do país. A alocação
destes programas no território brasileiro configura-se na faixa litorânea.
O debate acerca das problemáticas inerentes à área precisam ocorrer
em todo o território de forma que a configuração territorial não seja um
empecilho, mas sim, um motivo para gerar reflexões, que auxiliem na
compreensão ou proposições sobre planejamento urbano e regional no Brasil.
Além disso, as regiões Norte e Centro-Oeste, hoje, não possuem programas de
pós-graduação stricto sensu com mestrado e doutorado, o que evidencia a
questão da assimetria relatada nesse estudo. Assim, que tipo de território está
sendo construído nessas regiões? E as interações sociais como se
desenvolvem? Outras reflexões surgem relacionadas às constatações do
presente estudo, mas, percebe-se que a configuração territorial atual pode
privilegiar alguns em detrimento de outros.
REFERÊNCIAS
83
BENKO, G. A ciência regional. Oeiras: Celta Editora, 1999.
STOREY, D. Territories: the claiming of space. 2 ed. New York: Routledge, 2012.
85
GT4- CIÊNCIA, TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO REGIONAL
RESUMO
As universidades produzem diversas tecnologias resultantes de suas pesquisas
que podem atender às demandas sociais e auxiliam o desenvolvimento
nacional. A Universidade Estadual da Paraíba – UEPB vem aumentando o
número de pesquisas nas várias áreas do conhecimento, bem como a sua
capacidade de gerar produtos inovadores. Prospectar o potencial inovador das
pesquisas realizadas na UEPB representa um compromisso institucional com o
desenvolvimento econômico, tecnológico e social da região, além de incentivar
a cultura da inovação no ambiente da universidade. O objetivo deste trabalho é
apresentar o mapeamento tecnológico realizado nas pesquisas desenvolvidas
no Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da UEPB, visando avaliar o
potencial e capacidade que as suas pesquisas têm de gerar inovação, novos
produtos e processos aptos a contribuir com o desenvolvimento tecnológico
regional.
METODOLOGIA
Resultados e Discussões
Ciências
Farmácia Odontologia
Biológicas
Pesquisas analisadas 17 21 21
*Instituições colaboradoras:
UFPB: Universidade Federal da Paraíba
UFPE: Universidade Federal de Pernambuco
FIOCRUZ/BA – Centro de Pesquisa Gonçalo Moniz
UFCG: Universidade Federal de Campina Grande
USP: Universidade de São Paulo
CETENE: Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste
INSA: Instituto Nacional do Semiárido
UFMG: Universidade Federal de Minas Gerais
UFRN: Universidade Federal do Rio Grande do Norte
UPE-FOP: Faculdade de Odontologia de Pernambuco
UNICAMP: Universidade Estadual de Campinas
Apesar do desconhecimento por parte dos pesquisadores da importância e a
viabilidade tecnológica de sua pesquisas, observa-se que o potencial retratado
pelo UEPB tem buscado atender a demanda local, solucionando problemas
que afetam a população como a questão da água e saúde bucal da população.
Conclusões
Referências Bibliográficas:
RESUMO
(carlos.anes@uffs.edu.br).
98
INTRODUÇÃO
99
DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO
100
Para Cardoso (2001, p.39), “O desenvolvimento das capacidades
tecnológicas dos sistemas de informação, durante os vários ciclos de
investimentos em informática, produziu a cada momento novas modalidades de
organização empresarial [...]”.
101
O SETOR DE TIC NO BRASIL
102
Fonte: IBGE (2009), adaptado pelo autor.
FIGURA 1 – Número de pessoal ocupado nas empresas de TIC e taxa de
crescimento, em % ao ano, no período de 2003 a 2006.
Com base nos dados da tabela acima, nota-se que o número de pessoal
ocupado no setor de TIC apresentou um crescimento em percentual, frente aos
demais setores econômicos, evoluindo sua participação em 2003 de 2,61% do
total de pessoal ocupado para 2,99% em 2006, a uma taxa de crescimento do
percentual de 4,39% ao ano (Figura 2).
103
Fonte: IBGE (2009), adaptado pelo autor.
FIGURA 2 – Evolução da participação do setor de TIC em relação aos demais
setores econômicos, no período de 2003 a 2006.
104
TABELA 6 – Número de pessoal ocupado do setor de TIC no segmento de
serviços.
105
(A) (B)
Fonte: IBGE (2009), adaptado pelo autor.
106
TABELA 7 – Variação salarial do setor de TIC em relação aos segmentos.
107
observa-se que os equipamentos de telecomunicação são responsáveis pela
maior parte de produtos de TIC exportados e neste segmento verifica-se uma
variação do percentual de partição no período saindo de 1,8% para 2,3%,
correspondendo a uma variação de 27,78% no período e a uma taxa de
crescimento de 14,29% ao ano.
Já nas importações observa-se um cenário diferente das exportações,
sendo denotada uma dependência do Brasil de tecnologia externa e tal fato é
demonstrado através do crescimento das importações de produtos de TIC.
Na Tabela 12 são analisados os dados com referência ao total das
importações e comparadas com o total de importações do setor de TIC.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
108
Entretanto, ao comparar os dados, notou-se que apesar do setor de comércio
possuir a menor representatividade em números de ocupados, foi o segmento
que mais evoluiu no número de empregos gerados no período, ficando em
segundo lugar o setor de serviços e por último a indústria.
Com relação à análise dos dados sobre a renda, verificou-se que o setor
de TIC possui a maior média salarial ou “renda per capta” entre os demais
segmentos econômicos comparados. Essa diferença de renda pode ser
justificada em função do tipo de mão de obra empregada nesse setor, sendo
exigida maior qualificação técnica o que, por consequência, exige maior tempo
de escolaridade. Todavia, é importante salientar que mesmo tendo o maior
nível de renda, o setor de TIC apresentou um pequeno decréscimo nas
remunerações, enquanto os demais segmentos da economia obtiveram
crescimento no período avaliado, destacando-se novamente o setor de
comércio que teve a maior variação salarial em relação à indústria e serviços
respectivamente. O decréscimo da renda de TIC é justificado em função do
maior número de contratações do subsetor de telecomunicações, entretanto
com remunerações menores.
Quanto aos dados de importação e exportação fica claro que o Brasil
ainda é dependente de importação de tecnologia. No período observado,
observou-se que o percentual de exportações de produtos de TIC se manteve
no mesmo patamar, enquanto as importações apresentaram crescimento.
E por fim, foi possível observar que o comércio, apesar da sua pequena
representatividade frente ao setor de TIC brasileiro, demonstrou ser o
segmento com maiores índices de crescimento no período verificado, sendo
esta informação, justificada pela hipótese que compreende a mudança de
comportamento da relação consumidor e fornecedor, ocasionada pelo
crescimento do comércio eletrônico de produtos e serviços, incentivando desta
forma os investimentos em TIC pelo comércio.
REFERÊNCIAS
CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. 8.ed. São Paulo: Terra e Paz, 2005.
698p.
FUSFELD, Daniel Ronald. A Era do economista. São Paulo: Saraiva, 2001. 356p.
109
GT4 CIÊNCIA, TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO REGIONAL
Resumo
Palavras-chave
INTRODUÇÃO
1
Trabalho apresentado no GT 4 – Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Regional - II
SEDRES, Campina Grande (PB), de 13 a 15 de agosto de 2014.
110
empreendimentos era uma incubadora de pintos, dando origem à designação
que se popularizou nos anos seguintes.
No Brasil, na década de 1980, o Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico – CNPq implantou o primeiro Programa de Parques
Tecnológicos no país, baseado em estudos realizados em incubadoras e
parques científicos britânicos e americanos. Essa iniciativa desencadeou o
surgimento de incubadoras de empresas, pois o país não tinha ainda massa
crítica para a implantação de parques tecnológicos, o que veio a acontecer
mais recentemente.
Inicialmente, as incubadoras estavam focadas apenas em setores tecnológicos,
de informática, biotecnologia e automação industrial e tinham como propósito a
criação de empresas que pudessem levar ao mercado novas ideias e
tendências tecnológicas. Atualmente, além do objetivo inicial, elas têm o
propósito de contribuir para o desenvolvimento local e setorial.
De maneira geral, as incubadoras de empresas são caracterizadas por serem
organizações que oferecem um conjunto de elementos facilitadores do
desenvolvimento de empresas emergentes: espaço físico, consultoria e
capacitação, acesso a financiamento, acesso a redes de negócios, acesso a
tecnologia (LAHORGUE, 2004, ZEDTWITZ, GRIMALDI, 2006). As diferenças
serão encontradas nas combinações feitas desses elementos pelas
incubadoras para cumprir com suas funções.
Buscando organizar melhor o setor no Brasil, vários passos já foram dados,
além da inserção das incubadoras nos diferentes planos de desenvolvimento,
entre eles: criação do PNI, promovendo a integração entre os principais atores
do sistema, implantação do SAPI (Sistema de Acompanhamento de Parques e
Incubadoras) no Portal Inovação, oportunizando o acesso às informações e
indicadores de desempenho das incubadoras e das empresas incubadas de
forma padronizada, e a introdução do CERNE (Centro de Referência para
Apoio a Novos Empreendimentos), que se constitui num sistema de qualidade
promovido pela Anprotec , sua idealizadora, e pelo Sebrae , que o colocou no
centro de sua ação de apoio às incubadoras.
111
Dessa evolução aparecem duas fortes tendências: a primeira é a adaptação
das incubadoras às necessidades locais de desenvolvimento, espelhada na
diferenciação ocorrida; a segunda é traduzida pela sua inserção nas políticas
públicas. Essa segunda tendência ainda se manifesta mais fortemente no
âmbito federal, que detém os principais programas de apoio, sejam públicos,
como CNPq ou Finep, sejam parapúblicos, como o Sebrae Nacional. Dessa
forma, parece existir um relativo vácuo entre a ação local das incubadoras, que
é incentivada pelo CERNE, e as políticas públicas a elas direcionadas. No que
se refere às políticas municipais, esse descompasso pode dificultar o
atingimento por parte das incubadoras de objetivos de contribuição ao
desenvolvimento local, diminuindo seu impacto.
Este artigo investiga como os gerentes de incubadoras no país percebem a
capacidade institucional, social e econômica local para planejar o
desenvolvimento, dando indicações sobre os maiores gargalos e as principais
potencialidades a serem consideradas para o preenchimento da lacuna ora
observada.
Além dessa seção introdutória e das conclusões, o artigo está organizado em
três seções. A primeira trata da visão da literatura sobre a interação entre
incubadoras, ambiente local e sistema de inovação. O método é apresentado
na próxima, que é seguida pela análise dos resultados obtidos.
112
existência e pela disseminação de sua criação mediante políticas públicas de caráter
nacional e, mesmo, multilateral.
As incubadoras de empresas tiveram um impulso forte e espraiado a partir da crise
dos anos 1980, quando as ideias de desenvolvimento nacional começaram a serem
revistas face ao esfacelamento da produção fordista, à rápida introdução das novas
tecnologias em todos os âmbitos do cotidiano (produção, relações interpessoais,
comunicações e assim por diante) e ao novo papel das pequenas e médias empresas
na criação de empregos e renda. Com efeito, as estatísticas nacionais mostram um
crescimento acelerado das incubadoras na década de 1990, como instrumentos de
superação da crise e de alteração cultural, especialmente nos países onde o
empreender não havia ainda se tornado uma alternativa de mesma qualidade que o
“empregar-se” (LAHORGUE et al., 2012).
A aceleração da implantação de incubadoras de empresas foi o resultado de políticas
públicas de fomento. Isso aconteceu na Coréia do Sul, França, Alemanha, Estados
Unidos, Canadá, Brasil e em tantos outros países onde o financiamento público, seja
ele direto ou por meio dos editais das agências de fomento ao desenvolvimento e à
inovação, ainda é a principal fonte de receitas das incubadoras de empresas.
O envolvimento dos governos centrais indica que as incubadoras de empresas fazem
parte dos sistemas nacionais de inovação (SNI), funcionando tanto no oferecimento de
estruturas físicas quanto no apoio imaterial aos negócios emergentes, com
consultorias e acesso a redes, especialmente voltados às micro e pequenas empresas
de base tecnológica.
A partir de uma definição estreita, incluindo somente organizações e instituições
envolvidas na busca e exploração do conhecimento (como os departamentos de P&D,
os institutos tecnológicos e as universidades), o conceito de SNI ampliou-se para
agregar todas as partes e aspectos da estrutura econômica e da formatação
institucional que afetam o aprendizado, a busca e a exploração: sistema produtivo, o
sistema de mercado e o sistema de financiamento (LUNDVALL, 2010).
Globalização, liberalização, desmaterialização e revolução tecnológica são elementos
que estão na base das transformações dos SNI. Essas transformações tiveram início
com a turbulência provocada pela primeira crise do petróleo (1973), sendo reforçada
pela introdução de novas tecnologias, especialmente as tecnologias de comunicação e
informação.
113
“A evolução sistêmica teve profunda influência nas políticas industriais, tecnológicas e
econômicas no passado, e terá mais ainda no futuro” (GALLI, TEUBAL, 2011, p. 343).
A razão dessa crescente influência pode ser encontrada na igualmente crescente
importância da coordenação não-mercantil. Esse movimento resulta do caráter
sistêmico da inovação e do fato que as economias estão cada vez mais integradas,
sem que o mercado consiga exercer sua coordenação.
De acordo com Galli e Teubal (2011), os sistemas nacionais apresentam as seguintes
tendências fortes:
• Papel-crítico na aproximação entre organizações de todos os tipo em situações
onde o mercado ainda não existe;
• Criação de infraestruturas, voltadas para o mercado, para auxiliar as empresas
individuais, especialmente PMEs, a enfrentar os desafios do alargamento das opções
tecnológicas;
• Importância das infraestrututras para prover informação e consultorias para
áreas como saúde, educação, cultura, lazer, entre outras;
• Crescente complexidade.
O SNI face à complexidade atual se transforma. Nesse processo, a questão política é
das mais importantes. Seu tratamento separado das infraestruturas tem, pelo menos,
duas justificativas: a primeira é a crescente necessidade de coordenação não-
mercantil e a segunda é a própria complexidade da tomada de decisão, com o
envolvimento de atores de diferentes escalas. Entretanto, essa nova feição encontra
obstáculos na ação dos governos, que, como lembra Lundvall (2010), dão o ritmo de
desenvolvimento dos SNI. Se os governos centrais muitas vezes não estão
capacitados para realizar a coordenação entre os diferentes elementos do sistema de
inovação, essa situação se agudiza no caso dos governos locais.
Em pesquisa recente (LAHORGUE et al, 2012), foi possível observar o caráter
localista das incubadoras de empresas no Brasil. Essa pesquisa utilizou um survey
com 60 incubadoras respondentes e entrevistas com 24 gerentes de incubadoras,
localizadas em todas as regiões brasileiras.
De acordo com essa pesquisa, as empresas e os empreendimentos graduados
localizam-se majoritariamente no mesmo município da incubadora de origem,
confirmando o caráter local dos processos de incubação e resultados de pesquisas
anteriores.
114
Os empreendimentos das incubadoras são captados majoritariamente na microrregião
de sua localização. A cidade aparece em segundo lugar, sendo que 5% das
incubadoras captam seus projetos em algumas áreas da cidade. Configura-se assim
uma atuação claramente microrregional, o que corrobora os resultados referentes à
localização dos empreendimentos graduados.
Ainda segundo a mesma fonte, as incubadoras mantêm alianças estratégicas
prioritariamente com universidades, seguidas pelo Sebrae e outras organizações
empresariariais. É interessante notar que, mesmos que as incubadoras declarem
majoritariamente sua preocupação com o desenvolvimento local, entre os três níveis
de governo, é exatamente o local que aparece com o menor número de citações
quando se trata das alianças estratégicas. Isso pode ser efeito dos programas de
fomento nos âmbitos estadual e federal, mais ativos na busca do desenvolvimento
tecnológico.
Tendo em vista esses resultados, caberia investigar quais as capacitações e os
recursos locais para o desenvolvimento, privilegiando o ponto de vista dos gerentes
das incubadoras, que são os atores de interface entre os produtores de conhecimento,
os elaboradores de políticas públicas e o setor produtivo. O interesse nessa
abordagem tem origem no conceito de recursos territoriais e de território. Como
Courlet (2008, p.87 ) observa:
(...)o território é visto como « produtor » de memória local e, ao mesmo tempo,
como « criador » de um « código genético local », no qual se tecem recursos e
valores que se constroem no passado, mas cuja valorização permite dar
sentido às ações e aos projetos do presente e do futuro. A territorialidade que
decorre dessa concepção do território é uma territorialidade ativa (em oposição
à territorialidade passiva como estratégia de controle do espaço por separação
e exclusão), isto é, a capacidade de valorizar o mais vasto conjunto possível de
recursos e de atores, mediante estratégias de endogeneização visando à
autonomia local.
MÉTODO
Para a coleta dos dados necessários para aferir a percepção dos gerentes das
incubadoras de empresas sobre o ambiente local, foram selecionadas 14
115
incubadoras2, todas, exceto três, localizadas em capitais estaduais. Os critérios
de escolha foram os seguintes: idade da incubadora, distribuição inter-regional
e intrarregional, reputação de qualidade dos serviços prestados. A coleta foi
feita com o auxílio de formulário estruturado e realizada presencialmente, entre
os meses de maio e julho de 2013, tendo como respondentes os gerentes das
incubadoras. A coleta foi distribuída por todas as grandes regiões brasileiras,
com exceção do Centro-Oeste.
A metodologia usada neste exercício foi desenvolvida na França para apoio ao
“diagnóstico local de recursos” (LORTHIOIS, 1997), tendo sido adaptada para a
realidade latino-americana.
A metodologia aborda três dimensões locais: institucional, da sociedade local e
econômica. Procura mostrar a situação de um território em relação a essas
dimensões, utilizando para tanto diferentes condições e critérios:
•Condições são circunstâncias, situações ou fatos cuja existência é
indispensável para a viabilidade do desenvolvimento local, quaisquer
que sejam os territórios, setores ou tipos de programas.
•Cada condição é caracterizada por um conjunto de critérios.
O Quadro 1 mostra as condições e critérios por cada dimensão analisada.
2
A amostra foi de conveniência, buscando diversidade em termos de desempenho conhecido das
incubadoras, mas privilegiando aquelas com maior idade, significando um histórico possível de interações
com a sociedade local.
116
Pessoal permanente dedicado à promoção do
desenvolvimento
Capacidade coletiva de reação e de solidariedade
Estabilidade da população
Identidade local
Existência de organização para participação e
qualidade desta
Existência de soluções inovadoras desenhadas e
Grau de empreendedorismo da implementadas pela comunidade
comunidade local Independência em relação aos recursos públicos
Sociedade local Existência de cultura empreendedora
Existência de redes de interação e qualidade
destas
Potencial e organização da Existência de estruturas formais
comunidade local para o Capacidade de poupança
desenvolvimento Adequação da mão-de-obra em qualidade e
quantidade
Atividade empreendedora
Existência de articulações fortes entre as
empresas de uma mesma cadeia de valor
Crescimento acima da média do estado ou do
país
Características do setor produtivo Oferta de empregos
local Capacidade de inovação
Serviços às empresas
Quantidade de empresas com políticas de
inclusão, respeito ambiental, ação comunitária,
entre outras
Capacitação técnica
Econômica
Capacidade de C&T
Grau de preservação do ambiente natural
Importância do patrimônio cultural
Potencial turístico
Potencial existente e que pode Disponibilidade de terrenos e espaços
ser mobilizado construídos a preços adequados para a
localização das atividades econômicas
Qualidade da infraestrutura viária, de
saneamento, de comunicações
Grau de liberdade local em relação às
localizações das infraestruturas e atividades
117
As questões do questionário utilizaram uma escala de Likert, de 1 a 5 e os
resultados foram calculados de acordo com a seguinte ponderação: 1 = 0; 2 =
1; 3 = 2; 4 = 3; e 5 = 4.
118
Ainda na dimensão da Sociedade Local, coerentemente com os resultados
anteriores, a comunidade tem implementado soluções inovadoras por conta
própria. O empreendedorismo das comunidades é considerado alto pelos
pesquisados, mas sua autonomia em relação a recursos públicos é baixa,
indicando limites à implantação independente de projetos de seu interesse.
Na condição “Potencial e organização da comunidade para o
desenvolvimento”, observa-se a existência de estruturas formais, como
cooperativas e associações, que parecem funcionar bem em rede. Esses
seriam elementos a agregar em favor do aprofundamento e consolidação de
processos participativos de decisão. No pertinente à atividade empreendedora,
a opinião dos gerentes é bastante favorável, já que a média se aproxima de
4,0. Entretanto, essa característica empreendedora não é acompanhada pela
capacidade de poupança local ou pela adequação da mão-de-obra em
qualidade e quantidade, colocando uma dúvida sobre sua sustentabilidade.
O setor produtivo local tem dois pontos fortes que são a articulação entre
empresas de uma mesma cadeia ou APL e a capacidade de oferta de
empregos. Abaixo, mas bastante próximo, de 4,0, ou seja, de uma situação
considerada muito boa, aparecem o crescimento do setor produtivo, a
capacidade de inovação, a disponibilização de serviços às empresas e a
existência de empresas com praticas inclusivas ou sustentáveis. Esse
panorama mostra uma percepção positiva dos gerentes em relação ao setor
produtivo de suas localidades.
Quando se analisam os resultados sobre o “Potencial existente”, podem-se
classificar os critérios utilizados em três grupos: no primeiro, estão aqueles
melhor situados na percepção dos pesquisados. São eles: capacitação técnica,
capacidade em C&T e potencial turístico. Os dois primeiros têm evidente
interesse para o desenvolvimento das incubadoras e dos sistemas de
inovação, enquanto que o último apresenta potencial de atratividade à la
Florida . No segundo grupo, estão a preservação do ambiente natural e a
importância do patrimônio natural, que complementam o potencial turístico. O
terceiro grupo traz os pontos fracos do potencial a ser mobilizado. São três
119
pontos ligados à infraestrutura: disponibilidade de terrenos adequados para a
localização das empresas, a qualidade das infraestruturas viárias, de energia e
de comunicação e a autonomia local sobre seu próprio plano diretor.
CONCLUSÃO
120
integrá-las na consolidação dos sistemas locais e regionais de inovação,
conjuntamente com as instituições de ensino e pesquisa e os setores públicos
e privados.
Ações que fomentassem a inserção clara da inovação nas políticas de
desenvolvimento local e regional, mediante planos abrangentes e articulados
entre si, seriam promotoras do reconhecimento dos sistemas locais e regionais
de inovação e sua consolidação. Na ausência dessas ações, em face dos
resultados obtidos nessa pesquisa, os governos municipais dificilmente se
capacitarão para integrarem efetivamente o sistema nacional de inovação e
aproveitarem as oportunidades abertas pela infraestrutura científico-tecnológica
local. Em contrapartida, as incubadoras tenderão a atender demandas das
escalas estadual e federal, que continuarão responsáveis pelas diretrizes-
chave referentes à inovação e por parte substancial do financiamento do setor,
colocando em xeque os objetivos de sua transformação em plataformas de
desenvolvimento local, que estão expressos em políticas e programas
nacionais, como o CERNE, por exemplo.
121
REFERENCIAS
122
GT4- CIÊNCIA, TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO REGIONAL
RESUMO
Introdução
1
Trabalho apresentado no GT 4 – Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento
2
Mestranda do PPGDR/UEPB, email: maysaportofarias@hotmail.com
3
Professor Doutor do Curso Geografia e do PPGDR da UEPB. email: hermes_almeida@uol.com.br
123
se conseguiu acabar nem com a fome nem tão pouco com a sede.
A precipitação pluvial é o elemento do clima com maior variabilidade espacial
e temporal, cujas características, no semiárido paraibano, associam-se à
irregularidade na quantidade e em distribuição. Mesmo na curta estação chuvosa,
que perdura por cerca dois a quatro meses, os totais de chuvas são extremamente
irregulares em quantidade e em distribuição, quando se compara um local com
outro. Essa condição tem limitado o abastecimento de água, até para fins potáveis, e
o uso da água para atividades de desenvolvimento rural local. Por isso, a
insegurança hídrica contribui não somente pela fragilidade ambiental da caatinga,
mas com o subdesenvolvimento e os elevados índices de pobreza.
O semiárido nordestino contempla uma extensa região do país, cujas
peculiaridades requerem adoções de medidas e de alternativas para manter o
homem do campo no seu habitat, sem degradar o ambiente e permitir a convivência
harmônica com o ambiente, tendo-se na captação da água da chuva a única e/ou a
principal alternativa para a vivência nessa região.
De acordo com Brito et al. (2007) a cisterna domiciliar é uma tecnologia
milenar e pode responder aos parâmetros de qualidade e quantidade da água para
beber das famílias de comunidades, onde haja limitação de recursos hídricos, desde
que sejam seguidos os critérios de dimensionamento, armazenamento e manejo da
água coletada da chuva. Neste contexto, houve a necessidade de um estudo
estatístico que permitisse estabelecer o potencial de captação de água da chuva nas
localidades mais secas do cariri da Paraíba através da cisterna como tecnologia
social e alternativa para o desenvolvimento, sendo essas determinações os objetivos
principais deste trabalho.
Metodologia
124
Utilizaram-se séries pluviais de oito localidades que compõem a microrregião
do cariri da Paraíba apenas para caracterização do regime pluvial. Os dados foram
cedidos pela Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba
(AESA), período: 1962-2012, em seguida foram escolhidas duas localidades mais
secas: Cabaceiras e Riacho de Santo Antonio da referida microrregião, para as
análises comparativas e socioeconômicas. Os dados de chuvas, nas diferentes
escalas de espaço e tempo, foram analisados mediantes critérios da estatística
climatológica e das distribuições estatísticas de frequências, de medidas de
tendência central (média e mediana) e de dispersão (desvio padrão).
Foram estabelecidos os regimes pluviais que possibilitaram estimar os VPCs
anuais e em seguida adotado seis cenários com totais anuais de chuvas, referentes
à mediana, o ano mais seco e o mais chuvoso e aos níveis de 25, 50 e 75 % de
probabilidade. Adotando-se vários tamanhos de áreas de captação (60, 80, 100 e
200m2). Para efeito deste estudo, compararam-se as principais características
hídricas das localidades mais secas, enfatizando o volume potencial de captação de
água e as suas relações socioeconômicas. Analisaram-se também os tipos de
cisternas, os dados populacionais e socioeconômicos (fecundidade, renda, setores
econômicos, escolaridade, dentre outros.) extraídos diretamente do banco de dados
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), Ministério de
125
Desenvolvimento social (MDS), do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA),Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), Articulação do
Semiárido Brasileiro (ASA) e da Organização das Nações Unidas(ONU).
Resultados e Discussões
126
mulher),consequentemente o número de residentes por domicílio diminuíram. Em
1991, 2000 e 2010 a taxa de fecundidade era de 5, 3 e 2 filhos, respectivamente,
para a localidade de Cabaceiras. Enquanto que para a localidade de R. de S.
Antônio esses valores ainda eram um pouco maiores de 7, 4 e 3, respectivamente,
para (1991, 2000 e 2010).
Considerando a renda como fonte de remuneração mensal familiar,
destacam-se na (Figura 2) uma evolução na renda per capta em ambas as
localidades registrando os maiores valores em 2010(R$ 283 e 275,00 reais). No
entanto ressalta-se que as maiorias das famílias ainda sobrevivem apenas com
auxílios e/ou políticas publicas advindas do governo, a exemplo o Programa
assistencialista Bolsa Família que transferi renda do Governo Federal as famílias
pobres (com renda per capta de até R$ 154,00 reais). Para o Ministério do
Desenvolvimento Social e Cobate á fome (MDS) o valor do auxílio recebido pode
variar a partir de R$ 35,00 a 325, 00 reais, na localidade de Cabaceiras e R. de S.
Antônio são beneficiadas 764 e 268 famílias, respectivamente.
Figura 2- Renda per capta para as localidades Cabaceiras e Riacho de Santo Antônio.
250
Renda(R$)
200
150
100
50
0
1991 2000 2010
127
Segundo os dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) para
a localidade de Cabaceiras entre 2000 e 2010, a taxa de atividade da população de
18 anos ou mais (ou seja, o percentual dessa população que era economicamente
ativa) passou de 54,75% em 2000 para 55,64% em 2010. Ao mesmo tempo, sua
taxa de desocupação (ou seja, o percentual da população economicamente ativa
que estava desocupada) passou de 9,74% em 2000 para 7,15% em 2010. Dos
55,64% referente a população ativa, 48,49% se encontrava ocupada e apenas 26,
25% com ensino médio completo.Já, para a localidade de R. de S. Antônio o quadro
é pouco melhor em 2010, dos 67,46% ativos apenas 5,28% estavam desocupados.
Em relação a atividade profissional, destaca-se na (Fígura 3) o setor
agropecuário com a principal ocorrência( 41,29 e 39, 60%) para Cabaceiras e R. de
S. Antônio, respectivamente, e, as menores frequências para ambas as localidades
ressalta-se a Indútria extrativa seguida pelos setores públicos.
20
15
10
5
0
129
Figura 4- Quantidade de cisternas construídas para armazenar água da chuva para
as Localidades de Cabaceiras e Riacho de Santo Antônio.
Cabaceiras R. De Santo Antônio
300
250
200
Nº de cisternas
150
100
50
0
2011 2012 2013 Total
100,0 100,0
90,0 90,0
80,0 80,0
70,0 70,0
60,0 60,0
50,0 50,0
40,0 40,0
30,0 30,0
20,0 20,0
10,0 10,0
0,0 0,0
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
131
para armazenar apenas 16m3 de água que neste cenário observa-se(Tabela 2),
torna-se insuficiente para atender a demanda do número médio de pessoas durante
o período de estiagem.
6 25200 25,2
8 33600 33,6
42000 42,0
10
132
Figura 6- Potenciais de captação de água de chuvas(VPC) mediante aos seis cenário
pré- estabelecidos.
60m² 80m² 100m² 200m²
140
120 Cabaceiras
100
VPC(m³)
80
60
40
20
0
mediana máximo mínimo 0,25 0,5 0,75
120 R. de S. Antônio
100
80
VPC(m³)
60
40
20
0
mediana máximo mínimo 0,25 0,5 0,75
CONCLUSÃO
133
baixo nível de escolaridade, compromete significadamente o desenvolvimento
econômico e social local.
O regime pluvial da microrregião do Cariri Oriental é extremamente irregular,
dificultando o principal setor econômico (Agropecuário). Os modelos de distribuição
de chuvas são assimétricos. A curta estação chuvosa dura cerca de três a quatro
meses, mas difere em quantidade e em distribuição.
As duas localidades Cabaceiras e Riacho de Santo Antônio, respectivamente,
possuem um potencial mediano de captação de água de chuva de 390 e 369L/m2 e
a área de captação mínima necessária, para armazenar 16 mil litros de água, varia
em função da localidade, sendo de 55 e 58 m2, respectivamente. A priori deve-se
conhecer o regime pluvial e a quantidade de água necessária para atender a
demanda hídrica específica de cada família e o tipo de cisterna correspondente
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, H. A. de. Climate, water and sustainable development in the semi-arid of
northeastern Brazil. In: Sustainable water management in the tropics and subtropics and
case studies in Brazil, Unikaseel, Alemanha, v.3, p.271-298, 2012
BRITO, L. T. L., SILVA, A. S., PORTO, E. R., AMORIM, M. C. C., LEITE, W. M. Cisternas
domiciliares: água para consumo humano. Potencial de captação de água de chuva no
semi-árido brasileiro. Petrolina, PE: Embrapa Semi-árido, 2007, Cap.4, p.81-101.
134
GT 4 – CIÊNCIA, TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO REGIONAL
Técnicas e Tecnologias no Contexto da Educação do Campo: análises
sobre os espaços e objetos técnicos na Pedagogia da Alternância1
Giovanna Pezarico2
Gilson Leandro Queluz3
Maria de Lourdes Bernartt4
Universidade Tecnológica do Paraná – Câmpus Pato Branco e Curitiba
Resumo
O presente estudo está inserido na temática Tecnologia e Sociedade. É a partir
desta temática, que de modo mais específico, buscou-se esmiuçar as relações
entre Tecnologia, Educação e Trabalho no contexto da Educação do Campo,
tendo por mediação, a Pedagogia da Alternância. O estudo tem como objetivo
principal analisar processos de apropriação técnica no contexto da Pedagogia
da Alternância, a partir das interações entre espaços técnicos e objetos,
vivenciadas em algumas Casas Familiares Rurais – CFR´s e Casa Familiar do
Mar - CFM, localizadas na região Sul do Brasil, durante os anos de 2010 a
2013.
Palavras-Chave
Técnicas; Tecnologias; Educação do Campo; Espaços e objetos; Pedagogia da
Alternância.
Introdução
O presente estudo está inserido na temática Tecnologia e Sociedade. É a
partir desta temática, que de modo mais específico, buscou-se esmiuçar as
relações entre Tecnologia, Educação e Trabalho no contexto da Educação do
Campo, tendo por mediação, a Pedagogia da Alternância. O estudo tem como
objetivo principal analisar processos de apropriação técnica no contexto da
Pedagogia da Alternância, a partir das interações entre espaços técnicos e
objetos, vivenciadas em algumas Casas Familiares Rurais – CFR´s e Casa
Familiar do Mar - CFM, localizadas na região Sul do Brasil, durante os anos de
1
Trabalho apresentado no GT 4 – Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento – II SEDRES, Campina Grande
(PB), de 13 a 15 de agosto de 2014.
2
Docente do Curso de Administração da UTFPR. Pesquisadora do CEPAD – Centro de Pesquisa e Apoio
ao Desenvolvimento Regional – Câmpus Pato Branco.
3
Docente do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia – PPGTE – UTFPR – Câmpus Curitiba.
4
Docente do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional. Pesquisadora do CEPAD-
Centro de Pesquisa e Apoio ao Desenvolvimento Regional – UTFPR – Câmpus Pato Branco.
135
2010 a 2013. É importante considerar que o estudo parte da premissa teórico-
metodológica que considera a tecnologia como uma prática social e histórica. É
no espaço da sociedade que a tecnologia surge de modo a constituir-se como
relação social, e, portanto, com a faculdade de transformar as relações sociais
no contexto histórico, refutando assim o determinismo tecnológico. Isso
permitiu compreender a tecnologia como uma linguagem que estaria a
provocar relações sociais. É a partir desta reflexão inicial, que se pode
examinar a noção de tecnologia que permeia este estudo por meio de uma
perspectiva crítica. Destaca-se, além disso, as singularidades em torno da
construção, elaboração e apropriação dos objetos e espaços, cujos significados
ou re(significações), códigos técnicos ou designs são atravessados por
interações que se dão em espaços-tempos de tensões, contradições e
resistências, e que dialogam permanentemente com as questões da técnica e
da tecnologia.
136
importante para a compreensão e análise da construção de relações sociais,
favoráveis ou não, para o processo de produção e reprodução da vida no
campo. É por meio de elementos imbricados que se torna possível
compreender assim, a Pedagogia da Alternância como um processo também
de resistência e empoderamento no mundo rural. Para além, permite-nos
visualizar a fase embrionária deste movimento, afirma Begnami (2003) como a
produção resultante de um longo e sofrido processo histórico de movimentos
sociais, particulares ao meio rural, cujas raízes possuíam matizes inspiradores
democráticos e cristãos. É a partir dos múltiplos elementos componentes desta
bricolagem, que podemos avançar sobre a primeira experiência em torno da
criação da MFR de Lauzun, na década de 1930, que desencadearia na
expansão dos movimentos de formação por alternância posteriormente e que
chegariam ao Sudoeste do Paraná no final da década de 1980.
Contudo, para estabelecermos as relações pretendidas, entre a
Pedagogia da Alternância e as construções em torno da técnica e da
tecnologia, recorremos a Dussel (1984), quando afirma que para que a
tecnologia sirva ao homem e não a um sistema de exploração do homem, se
devem contemplar muitos condicionantes estruturais concretos, históricos que
não são propriamente tecnológicos. Assim, em termos de tecnologia, Silva
(1999) ao analisá-la no âmbito da agricultura familiar admite-a como uma
relação social e não um conjunto de “coisas”, tais como máquinas, os adubos
químicos, as sementes, etc. A tecnologia é o conjunto dos conhecimentos
aplicados a um determinado processo produtivo que afeta diretamente o
funcionamento das economias camponesas, sendo muitas vezes responsável
por transformações profundas tanto em nível interno da unidade produtiva
como em nível de suas relações com a sociedade capitalista, bem como em
diálogo com os processos de formação. Assim, analisar tais especificidades
demanda resgatar os motes principais que cercam a organização produtiva
inerente ao contexto rural, especificamente da agricultura familiar e da
racionalidade camponesa: a reprodução das relações sociais e a manutenção
das condições da vida e da família, diretamente e da comunidade.
137
Logo, o desenvolvimento da técnica nessa perspectiva dialoga com as
condições de estrutura da exploração natural, que se compõem da intensidade
do cultivo e formas organizativas proporcionais à medida de extensão da terra
utilizável, do tamanho da família trabalhadora e da extensão de suas
necessidades, bem com dos laços que estabelece com o espaço, enfim, como
seu projeto. Além disso, a relação entre natureza e técnica no âmbito rural é
bastante distinta da perspectiva da indústria convencional. As relações
estabelecidas pelo espaço-tempo, terra e tempo necessário para o cultivo e a
perspectiva de consumo preciso são fundamentais para pensar um processo
de desenvolvimento técnico repleto de requisitos específicos. Logo, o
desenvolvimento do aparato técnico arranja-se de modo a responder, por um
lado, às exigências agronômicas (os potenciais cultivos em virtude das
condições climáticas e das condições do solo), mas também às necessidades
da família (vestuário, ampliação da dieta). Este contexto reforça a perspectiva
de Veira Pinto, ao enfatizar que a essência da tecnologia é a mediação
dialética entre o ser e o meio, numa correlação recíproca. Em se tratando do
trabalho no campo, parece evidenciada a hipótese de que o mundo se
apresenta ao existente humano como campo de ações possíveis, que se
revelam mediante ações específicas sobre os objetos dispostos ao redor do
homem, que podem tornar-se utensílios e que permite investigar a cultura
daqueles que tem acesso imediato à realidade (VEIRA PINTO, 2005). Diante
deste cenário, se verificam cada vez mais a pertinência e relevância de
iniciativas como os movimentos familiares de formação rural, como por
exemplo, as Casas Familiares Rurais e a Pedagogia da Alternância como
elementos de um sistema técnico voltado para reprodução de relações sociais
desta natureza. Estas circunstâncias dialogam diretamente com o sistema
técnico e suas apropriações, na medida em que o desenvolvimento técnico
auxiliou na imposição de limites efetivos produzindo o esgotamento das
possibilidades de reprodução social frente ao latifúndio e à intensificação da
produção agrícola.
138
2 Objetos e Espaços Técnicos: interações no contexto da Pedagogia da
Alternância
Ao avançar das leituras, realizações dos estágios de vivências,
observações e entrevistas junto às Casas Familiares Rurais e do Mar, nas
quais emergiram uma diversidade de objetos e discursos, práticas e
percepções, ora convergentes, ora contraditórias, por vezes fundamentadas,
outras vezes empíricas, as relações entre técnica e tecnologia no âmbito da
Pedagogia da Alternância, impuseram a responsabilidade e o
comprometimento teórico que implicou na preocupação permanente daquilo
que Álvaro Vieira Pinto (2005) definiria como concepções ingênuas sobre
tecnologia. Nestes termos, julgou-se prudente iniciar as discussões em torno
das técnicas e da tecnologia no âmbito da Pedagogia da Alternância, tendo
como ponto de partida o horizonte proposto pelo autor, a partir do seguinte
questionamento: “que papel desempenha a técnica no processo de produção
material da existência do homem por ele mesmo?” (VIEIRA PINTO, 2005, p.
155). É por meio de tal questionamento que as decisões metodológicas em
torno da materialidade e o simbólico presente nos objetos e espaços técnicos
no âmbito da Pedagogia da Alternância parecem encontrar ressonância. Tendo
em vista suas propostas e dinâmicas singulares, emerge daí a produção
material como manifestação da cultura ou da formação social no contexto do
laboratório terra e do laboratório mar. O constructo acima evidencia o apego ou
a ênfase à técnica como elemento que transcende a perspectiva de mediação,
na medida em que as noções de fabrico, de uso e ao produzir materialmente
seus bens (artefatos, objetos) extrapola a satisfação de necessidades
concretas para produzir também cultura, implicando na tecitura de relações
sociais fluídas. Assume-se assim, a perspectiva que no presente estudo, os
objetos naturais e artificiais (que em alguns momentos sequer podem ser
percebidos com tal distinção) encontram-se imbricados a processos biográficos
complexos. Neste sentido, cabe resgatar a relação entre objeto e biografia
(APPADURAI, 2008). Isso significa dizer, que apesar dos objetos e espaços
técnicos estarem no horizonte de análise do estudo, as aproximações
139
permitidas durante os estágios de vivências propiciaram outras abordagens e
ressignificações sobre os mesmos, principalmente justificadas pelas suas
riquezas, enquanto possibilidades e desafios de análise. É a partir de
concepções como estas que os objetos e espaços técnicos puderam ser
percebidos e, principalmente, permitiram o estabelecimento de relações,
tensionamentos, contradições, resistências e cooptações no âmbito da
Pedagogia da Alternância, considerando, porém, que estes não podem ser
colocados em primeiro plano, e principalmente, desvinculados dos sujeitos de
suas criações, usos e manipulações. Ou seja, assim, como a tecnologia não
pode ser compreendida como determinante da vida social, os objetos e
espaços técnicos por si só, também não tem este condão. Mas em oposição a
esta racionalidade, para o estudo presente, assumem a condição de elementos
presentes no contexto da cultura material e simbólica destas relações. Por tais
razões, e com a compreensão da incompletude permanente na análise de tais
circunstâncias, a trajetória do estudo conduziu-o de modo a estabelecer três
recortes analíticos acerca dos objetos e espaços técnicos em diálogo com as
técnicas e tecnologias, no âmbito das Casas Familiares Rurais e do Mar,
vinculadas à Pedagogia da Alternância. O primeiro recorte evidenciou as
relações estabelecidas entre os processos de construção, uso e manipulação
de objetos, compreendidos, como artefatos em diálogo com a arte, o
artesanato, o trabalho e o lazer e as relações engendradas a todas estas
dimensões. O segundo recorte, e talvez, o último ponto de análise consolidado
em termos de síntese, diz respeito à perspectiva assumida pelas próprias
Casas Familiares Rurais e do Mar como “objetos” e “espaços técnicos”
revestidos de materialidade cultural e simbólica.
140
que isso, da necessidade de ampliar a perspectiva para além dos objetos
vinculados diretamente aos processos de apropriação técnica, mas também à
diversidade dos espaços e dos tempos de formação (pilares para a formação
em alternância). Neste primeiro momento, considera-se relevante iniciar as
principais análises em torno dos objetos verificados junto às Casas Familiares,
a partir das dinâmicas percebidas e dedicados ao lazer e ao brincar e que
repercutiram para o encontro de objetos elaborados pela intencionalidade de
constituírem-se como brinquedos, por exemplo. Neste sentido, ainda que não
mencionado nas falas dos sujeitos da pesquisa, foi inevitável deparar e
perceber a Casa Familiar, inserida no laboratório terra ou mar, como um
cenário profícuo para interações mais amplas, do qual o lazer também se
consistira em perspectiva formativa de valores, princípios e convivência
comunitária. Além disso, há que se evidenciar, que as próprias dinâmicas
atinentes à alternância, principalmente, no que diz respeito à permanência dos
jovens em formação durante a alternância, terminam por estabelecer lógicas
distintas da escola tradicional, próprias desta modalidade de formação. Neste
sentido, o lazer, o brincar, compreendidos como atividades lúdicas, recreativas
e interativas fomentadas no âmbito das Casas Familiares analisadas podem
ser considerados como processos inseridos numa rede de relações que
visariam superar a tradicional triangulação entre professor-saberes-estudante,
ambientada na sala de aula, exclusivamente. Para além deste enfoque, há que
se mencionar o brinquedo como objeto efetivo de representações, e neste
caso, de imbricações com o laboratório terra ou mar. Assim, a função do
brinquedo ao introduzir e compor o espaço da brincadeira, não
necessariamente demandando de uso preciso, possibilita também o desviar os
objetos de suas funções para tornar-se brinquedo, e mesmo fabricar os
objetos-brinquedos. Trata-se de fornecer imagens e representações. No que
diz respeito às concepções em torno da elaboração de artefatos destinados a
compor o mobiliário da casa ou de objetos produzidos com a intencionalidade
de uso para o trabalho. Todavia, este a priori não pode ser analisado sem
considerar as experiências vivenciadas no âmbito da Pedagogia da Alternância
141
que dialogam com as perspectivas teóricas de recusa à neutralidade da
tecnologia. Isso significa dizer que a partir do tema gerador vinculado às
questões ambientais, presentes nos planos de formação da maior parte das
Casas Familiares Rurais e do Mar que compuseram o lócus da pesquisa,
residem também posturas políticas que conduzem os modos de elaboração e
apropriação técnica. Neste sentido, destacam-se os conteúdos voltados ao
manejo das propriedades sob a perspectiva agroecológica, a introdução de
técnicas de cultivo de produtos orgânicos, a homeopatia como forma de
tratamento dos rebanhos e as preocupações em torno da manutenção da vida.
Ante o exposto, é possível considerar que os objetos naturais ou artificiais
inseridos no contexto da Pedagogia da Alternância são também atravessados
por relações atreladas a designs e códigos técnicos que lhe imprimem
singularidades, principalmente, no que diz respeito ao processo de construções
relacionais engendradas não apenas ao trabalho, mas à vida social e
principalmente familiar.
142
Casa Familiar é também espaço que se “confunde com a própria ordem social
de modo que, sem entender a sociedade com suas redes de relações sociais
ou valores, não se pode interpretar como o espaço é concebido” (DAMATTA,
1997, p. 30). A partir das manifestações, é possível perceber as singularidades
assumidas pela relação tempo-espaço, distinta do ambiente escolar tradicional,
mas que é estabelecida entre a Casa Familiar Rural ou do Mar e seus sujeitos
a partir das peculiaridades de suas dinâmicas formativas, das concepções de
diversidades de espaços e tempos, e de outras gramáticas e construções
sociais. As dinâmicas verificadas e explicitadas nos depoimentos dos sujeitos
de pesquisa estão também relacionadas ao quotidiano da Casa Familiar Rural
ou do Mar, por meio da realização coletiva das atividades domésticas, tais
como a limpeza e arrumação da casa, preparação das refeições, pequenos
consertos elétricos e serviços de manutenção, por exemplo. É importante
reforçar neste cenário a abordagem também do trabalho como princípio
educativo, mas também como construção de relações que perpassam as
questões de gênero e construção de papeis familiares, muito enfatizados no
âmbito da Pedagogia da Alternância.
Outro aspecto que merece análise é a relação decorrente dos processos
de aprendizagem que ocorrem no espaço da Casa Familiar Rural e o modo
como são apropriados no contexto familiar, que contemplam desde saberes
sobre alimentos e receitas a medicamentos fitoterápicos e cuidados com a
saúde. Apesar das intenções iniciais deste estudo estabelecer como foco
aspectos biográficos em torno das interações e objetos no âmbito das Casas
Familiares Rurais e do Mar, na medida em que os estágios de vivência foram
sendo realizados, uma categoria analítica tornou-se cada vez evidente: os
espaços técnicos. Neste sentido, é importante salientar que em se tratando da
temática, ora em discussão, não se pode estabelecer hierarquias entre objetos
e espaços técnicos, tendo em vista que as interrelações construídas pelos
sujeitos da Pedagogia da Alternância não apenas demandam de ambos, mas
integram um complexo processo de imbricação, no qual tempo-espaço, sujeito-
objeto, espaço-objeto podem ser interpretados como um continuum.
143
Logo, se resgata a concepção de laboratório, representado principalmente
pela terra e pelo mar, como os espaços privilegiados para a discussão
intencionada, principalmente pela sua diversidade em termos de
heterogeneidade não apenas de suas características naturais, mas também
pelos modos pelos quais os objetos – naturais ou artificiais – deles se ocupam
e das interações estabelecidas entre os sujeitos para além de processos de
mediação, mas de permanente construção da cultura, material e simbólica,
permeados pela técnica e pela tecnologia. Primeiramente, há que se considerar
que os espaços técnicos no âmbito da Pedagogia da Alternância, apesar de
muitas vezes em termos de localização estarem vinculados ao objeto-espaço
Casa Familiar, produzem ações concretas e simbólicas com implicações,
principalmente de reprodução e apropriação técnica no âmbito da propriedade
familiar ou da comunidade pesqueira. Ademais, é salutar evidenciar a
importância assumida pelos espaços destinados à experimentação num
caminho de dupla via entre os aprimoramentos realizados nas Casas
Familiares Rurais, assim como do Mar, que terminam por serem inseridas nas
propriedades e vice-versa. Análise fundamental neste contexto, se refere aos
espaços técnicos como dimensões de difusão e construção de técnicas e
códigos técnicos elaborados em condições singulares, estabelecidas em
diálogo com o local e com os sujeitos que dele participam. Destaca-se neste
sentido, o espaço técnico composto pelo pinheiral existente em uma das Casas
Familiares Rurais visitadas, utilizado para difusão de saberes e elaboração de
técnicas destinadas à formação de jovens e famílias que possuem no
extrativismo do pinhão suas principais atuações junto às propriedades,
juntamente como a erva-mate. Mais do que isso, significa interpretar o espaço
técnico da horta ou do pinheiral numa conjuntura mais ampla relacionada às
racionalidades dos sujeitos que neles desenvolvem atos poiéticos que
dialogam com códigos técnicos amparados em tradições, concepções e modos
de divisão do trabalho, papeis de gênero, construídos socialmente, relações de
poder estabelecidos entre pais e jovens, mas também pelas opções pelo uso
de técnicas específicas, que perpassam também pelas opções políticas
144
orientadoras das tecnologias selecionadas. Além disso, se as dinâmicas que se
desenvolvem a partir da Pedagogia da Alternância no contexto das Casas
Familiares Rurais possuem laços estreitos junto aos espaços técnicos, em se
tratando da Casa Familiar do Mar analisada, as perspectivas assumidas para
os mesmos possuem igual relevância, contudo com as suas singularidades.
Considerações Finais
Como consideração tem-se como ponto de partida a perspectiva
assumida pela Casa Familiar como um objeto técnico em diálogo com os
instrumentos e diretrizes pedagógicas inerentes à Pedagogia da Alternância.
Compreender a Casa Familiar como objeto-espaço significa tomá-la como
construção biográfica concreta, material que efetivamente se ressignifica em
espaço, mas também como objeto simbólico de um sistema pedagógico
atravessado por relações de afeto, de poderes, de interações que se
estabelecem entre seus sujeitos e pelo trabalho como princípio pedagógico. Há
que se considerar ainda, a relevância da Casa Familiar como objeto que está
dialogando permanentemente com a técnica e com a tecnologia, na medida em
que suas dinâmicas, seus funcionamentos, seu projeto e seu design terminam
por incorporar ou estabelecer códigos técnicos engendrados ao seu contexto.
Daí novamente a necessidade de reforçar a Casa Familiar como objeto-espaço
no âmbito da Pedagogia da Alternância, tendo em vista a diversidade de
projetos e designs verificados nas casas visitadas, bem como das dinâmicas de
ensino-aprendizagem (imagens, materiais, ambientes) que buscam construir a
partir da Casas Familiar sentido para os conteúdos em discussão. Neste
sentido, destacam-se as percepções em torno dos espaços técnicos
primeiramente assumidos como dimensões de difusão e construção de
técnicas e códigos que possuem vinculações com os aspectos locais, seja da
propriedade familiar, das configurações da comunidade pesqueira. No entanto,
mais do que ambiente de difusão, o espaço técnico pode ser considerado como
um tempo singular no âmbito da Pedagogia da Alternância por significar
também espaço para a construção de relações sociais, da construção, reforço
145
ou desconstrução de tradições e de saberes. Destaca-se neste enfoque a
importância assumida durante o estudo, pelas hortas, como espaço de
construção de autonomias, apropriação de técnicas, construção de papeis,
inclusive para além da dimensão tecnológica. Do mesmo modo, os pinheirais
nas comunidades no qual o extrativismo ainda carrega importância
considerável no que diz respeito às possibilidades do campo. E em se tratando
de espaço técnico, o mar para a comunidade pesquisa, laboratório por
excelência, somente pôde ser analisado a partir da premissa de se constituir
como lócus privilegiado para a interação não apenas de seus sujeitos, nas
relações com a natureza, mas nestas por meio dos objetos naturais e artificiais
que o compõem.
Referências Bibliográficas
APPADURAI, A. Mercadorias e a política de valor. In: A vida social das
coisas. Niterói: EDUFF, 2008.
146
GT4- CIÊNCIA, TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO REGIONAL
Resumo
Desenvolvimento sustentável deve ser pensado em ações conjuntas entre
pesquisadores e atores, transmitidas e divulgadas, para que cada localidade
possa aplicar os conhecimentos de forma contextualizada. Sendo assim, a
apropriação pelas comunidades de tecnologias que visem o DS é essencial,
nesse processo de evolução conjunta. As Tecnologias Socioambientais são
transdisciplinares e multidimensionais, promovendo uma interação entre as
ciências sociais e naturais e entre o conhecimento científico e os outros
diversos saberes. Este trabalho visou levar a diferentes comunidades da
Paraíba, conhecimentos que lhes proporcionassem melhor qualidade de vida,
através do desenvolvimento de TSA, baseadas em técnicas de Permacultura,
com atividades de hortas agroecológicas, de reuso de resíduos sólidos e da
gestão de efluentes residenciais com a implementação de fossas ecológicas,
todas as ações realizadas e apreendidas pelos moradores locais.
1. Introdução
As comunidades humanas estão distanciando-se da relação e dos
conhecimentos que os antepassados tinham com o ambiente, em nome da
“civilização e progresso”. Nos grupos étnicos ou tradicionais, conhecimentos
milenares vão sendo substituídos por atitudes de desperdício, baseadas no
consumo exacerbado, cada vez mais divulgados por uma mídia alienante
subsidiada pelo capitalismo inescrupuloso.
147
O desenvolvimento sustentável busca criar condições de associar o
crescimento econômico com a manutenção da qualidade ambiental, de forma a
proporcionar uma melhor qualidade da vida. Quando se pensa em
desenvolvimento sustentável, tem-se de pensar em ações conjuntas entre
pesquisadores e atores, que possam ser transmitidas e divulgadas, para que
cada localidade, urbana ou rural, aplique tais conhecimentos de forma
contextualizada e as divulgue dentro das suas relações pessoais.
De acordo com Novaes e Dias (2009), as Tecnologias Sociais (TS)
surgem como uma crítica aos métodos da tecnologia convencional (TC) e um
dos seus objetivos é justamente transformar a tendência excludente imposta
pela tecnologia capitalista, apontando para uma produção coletiva e não
mercadológica.
Furtado (2003, p.31), ressaltou que é imprescindível desenvolver
tecnologias que desempenhem um papel direto ou indireto no aprimoramento
da qualidade ambiental, portanto, que sejam ecoeficientes “com especial
destaque para o uso de recursos (matérias primas, água e energia)” além da
minimização da geração de resíduos e efluentes, sendo denominadas de
Tecnologias Ambientais (TA).
As Tecnologias Socioambientais (TSA), estão na interface que labuta e
abrange as TS e TA, dessa forma, são transdisciplinares e multidimensionais,
promovendo uma interação entre as ciências sociais e naturais, assim como,
entre o conhecimento científico com outras diversas formas de sabedoria,
como a tradicional e popular, a filosófica, a artística, a espiritual, entre outras
(ANDRADE, et al., 2012). Podem ser compreendidas como um conjunto de
técnicas ou metodologias transformadoras, desenvolvidas em interação com as
pessoas e comunidades e apropriadas por elas, voltados para as resoluções de
problemas das populações mais carentes em aspectos fundamentais, que
promovam a melhoria das condições de vida, bem como propiciem melhor
qualidade ambiental (RODRIGUES; BARBIERI, 2008).
Nesse sentido, “um passo importante e muito comum é aliar a pesquisa
e a extensão universitária com as práticas populares. Várias tecnologias, ao
148
serem analisadas nesse âmbito, passam a ter status de solução recomendada
pela academia” (LASSANCE JR.; PEDREIRA, 2004, p.74).
Técnicas permaculturais são alternativas que vêm sendo desenvolvidas
no intuito de produzir uma cultura permanente, que reintegra o ser humano ao
ambiente, levando em consideração diversos fatores que estão auxiliando a
degradar a vida e a natureza, com métodos para o melhor aproveitamento da
energia disponível, minimização dos desperdícios, manutenção da fertilidade
do solo, saneamento ecológico, entre outros (MOLLISON; SLAY, 1994).
Este trabalho, visou aproximar a Universidade de comunidades rurais e
periurbanas, com o desenvolvimento de algumas TSA, baseadas em técnicas
de Permacultura, proporcionando aos moradores locais conhecimentos e
métodos para alavancar melhor qualidade de vida, através da Ecopedagogia e
atividades de hortas agroecológicas, da reutilização de resíduos sólidos e
produção artística e da gestão dos efluentes domésticos com implantação de
fossas ecológicas. Os projetos foram desenvolvidos em diferentes
comunidades da região metropolitana de João Pessoa, na Paraíba.
2. Ecopedagogia e horta agroecológica
De acordo com Leff (2007), é na construção da racionalidade ambiental,
desconstrutora da racionalidade capitalista, que se forma o saber ambiental.
Nesse sentido, busca-se uma cultura emancipatória à hegemônica deturpação
natural, formalizando, o que Capra (2005) chama de Ecoalfabetização, um
sistema de educação voltado para a vida sustentável, que utiliza os princípios
básicos da ecologia, propondo uma pedagogia centrada na compreensão da
vida, com uma experiência no mundo real, empregando o espírito de
participação e integração à natureza. Segundo o autor, a horta é um ambiente
de aprendizagem rico e multissensorial, perfeito para experimentar o
pensamento sistêmico e os princípios da ecologia em atuação. Pois, há nos
vegetais a doação celestial à evolução universal dos organismos vivos no
planeta e isso inclui a espécie humana.
O projeto de Permacultura na Escola, realizou-se no primeiro semestre
de 2011, com dois grupos de alunos da Escola Municipal de Ensino
149
Fundamental de Nova Vida – EMEFNV, no Viveiro de mudas do Assentamento
de Nova Vida, que é um assentamento de reforma agrária do MST, pertencente
ao município de Pitimbu, na Região Metropolitana de João Pessoa na Paraíba.
Os encontros aconteceram uma vez por semana no período matutino, em
horários distintos. Uma das turmas, com cerca de vinte alunos que estudavam
no 1°ano no período matutino, a maioria com 06 anos idade, foram
acompanhados pela professora durante as atividades. O outro grupo foi de
alunos que frequentavam a escola no período vespertino, do 2° ao 5° ano, com
idades entre 07 e 13 anos, com uma média de quinze alunos por aula.
Na perspectiva de “plantar a semente” no coração dessas crianças e
jovens, para a preservação de seus ambientes, fomentando o desenvolvimento
de uma sustentabilidade socioambiental e instituindo o cuidado com a mãe
Terra e suas vidas, desenvolveu-se um trabalho cooperativo entre os
participantes. Para isso foram empregadas técnicas permaculturais, as quais
visam à criação de sistemas ecologicamente corretos e economicamente
viáveis, que supram suas próprias necessidades e sejam sustentáveis no longo
prazo (MOLLISON; SLAY, 1994).
O trabalho em todos os encontros dividiu-se em duas etapas, uma
expositiva de sensibilização e aprendizagem no interior de uma das salas no
Viveiro de mudas, valendo-se de dinâmicas interativas e jogos pedagógicos. A
segunda parte de atividades práticas, relacionadas com o cultivo e manejo de
espécimes vegetais, utilizadas como alimento humano, e desenvolvidas na
área externa do Viveiro de mudas.
Durante as atividades práticas, foram elaborados e construídos dois
canteiros circulares no formato de “buraco de fechadura” pelas crianças em
Nova Vida. Depois de demarcados os canteiros, um deles foi delimitado com
cerca de 130 garrafas plásticas do tipo Pet de 2 litros, recolhidas pelos alunos,
expostos na Figura 01a,b. A Figura 01c, apresenta o canteiro buraco de
fechadura finalizado, com a cobertura vegetal e o desenvolvimento de alguns
espécimes vegetais transplantadas pelas crianças de Nova Vida dentro das
atividades permaculturais desenvolvidas no local.
150
Figura 01. a) Demarcação do canteiro pelas crianças da escola; b) Trabalho cooperativo dos
alunos no canteiro; c) O canteiro buraco de fechadura confeccionado com garrafas plásticas
pelos alunos da EMEFNV no Viveiro de mudas do Assentamento Nova Vida em Pitimbu, PB.
151
3. Reuso de materiais para a produção artística
A Comunidade Quilombola de Ipiranga situa-se no distrito de Gurugi,
município do Conde na Paraíba. O município do Conde está localizado na Mata
Paraibana, 13 km ao sul da capital e junto à Bayeux, Santa Rita e Cabedelo
forma a Grande João Pessoa. O projeto em Ipiranga ocorreu no segundo
semestre de 2012, com cerca de sete pessoas de três famílias na comunidade
quilombola. Os encontros ocorreram uma vez por semana, geralmente no
período noturno, turno mais conveniente para as participantes devido às suas
atividades diárias. Devido à ineficiência do serviço de coleta de lixo municipal
no distrito de Gurugi, onde localiza-se a comunidade de Ipiranga, moradores
locais costumam incinerar os resíduos sólidos domésticos.
A incineração dos resíduos sólidos é uma prática tradicional e comum
em comunidades rurais modernas e em toda essa região da Paraíba. Porém,
ao reunir os resíduos naturais dos quintais com o lixo doméstico, que não mais
é composto apenas por resíduos orgânicos, como no início das civilizações,
contendo diversos tipos de materiais agregados e que quando cremados
liberam substâncias nocivas à saúde ambiental e humana. Como exemplo
temos a dioxina, que é uma das substâncias mais tóxicas produzidas pela ação
humana, sendo liberada para atmosfera com a combustão de todos os tipos de
plásticos, entre outros materiais componentes do lixo doméstico4.
Deste modo, apresentaram-se alternativas às pessoas da comunidade
de Ipiranga para que elas solucionassem essa questão dentro da comunidade,
transformando problemas em soluções. Com a reutilização dos materiais,
promove-se o desenvolvimento criativo, artístico e cognitivo, diminui a
disposição dos resíduos no ambiente quilombola e, ainda, pode-se incrementar
a renda familiar com a minimização do consumo e a venda dos produtos. Neste
trabalho, visou-se a reutilização de alguns resíduos, no sentido de discutir e
experimentar as infinitas possibilidades artísticas para a transformação dos
materiais, proporcionando nova utilidade para os descartados e seu retorno ao
4
A HISTÓRIA DAS COISAS. Produção de Anne Leopard. 2007. Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=7qFiGMSnNjw> Acesso em: 15 ago. 2013.
152
ciclo produtivo.
Nesse sentido, foram promovidas rodas de conversa com as pessoas da
comunidade que participaram da ação, enfatizando o Repensar atitudes e
valores, em que os cidadãos passam a assumir efetivamente o seu papel na
coletividade e na preservação de seu ambiente, com a Redução na geração de
resíduos, a Reciclagem e a Reutilização dos materiais descartados, como
medidas de minimizar os impactos ambientais, buscando a formação de
multiplicadores numa perspectiva da prática desses 4R’s.
Desenvolveram-se algumas oficinas para a reutilização dos resíduos
sólidos da comunidade e produção artística com essas pessoas, como a
confecção de vassouras, pufes e borboletas de garrafas plásticas descartadas
e a produção de mandalas de fios Olho de Deus, com reuso de palitos de
madeira e outros resíduos, apresentados na Figura 02.
Figura 02. a) Uma das vassouras de garrafas Pet confeccionadas nas oficinas de arte com
reuso de resíduos sólidos; b) O pufe construído e encapado por uma das participantes dos
trabalhos; c) A produção de borboletas de Pet das oficinas; d) As Mandalas de Fios “Olho de
Deus” produzidas nas oficinas de reuso de materiais realizadas na comunidade quilombola de
Ipiranga no municipio do Conde, Paraíba.
153
A reutilização dos materiais é uma forma de redução de consumo e de
descarte de resíduos, pois consiste em utilizar o mesmo produto de outras
maneiras, ao invés de descartá-lo no ambiente, prolongando a sua vida útil e
isto depende da criatividade do gerador, podendo-se confeccionar diversos
artigos numa perspectiva de economia criativa. A Economia Criativa é uma
abordagem holística e multidisciplinar, que labuta com as interfaces entre a
economia, a cultura e a tecnologia, resultantes de uma mudança gradual de
paradigma na promoção do desenvolvimento sustentável (DUISENBERG apud
LIMA, 2012).
4. Saneamento ecológico em comunidades
O saneamento ecológico é uma abordagem sistêmica, que representa
uma mudança na forma de pensamento e de atuação das pessoas em relação
aos esgotos domésticos, reconhecendo a necessidade e os benefícios da
promoção da saúde e o bem-estar humano e ambiental. O saneamento
proporciona a proteção e conservação das águas e solos, ao mesmo tempo em
que promove o fluxo circular, com a recuperação e reciclagem de nutrientes
para a produção de alimentos e ornamentação local (ESREY; ANDERSSON,
2001).
Segundo Alsén e Jensen (2004), o saneamento ecológico é
fundamentado na separação dos esgotos domésticos na fonte, divididos em
águas cinzas (águas de pias, chuveiros, lavanderia e limpezas em geral) e
águas negras (águas com fezes e urina dos banheiros), o que facilita soluções
mais sustentáveis para os efluentes residenciais do que os sistemas
convencionais. A admissão do conceito de separação na fonte, permite o
tratamento adequado dos distintos tipos de esgotos domésticos, que
necessitam de tratamentos diferenciados de acordo com suas características,
“esta é a chave de soluções técnicas para o reuso eficiente da água, energia e
nutriente” dos efluentes (GALBIATI, 2009, p. 02).
Neste sentido, de acordo com Diniz (2012), as alternativas tecnológicas
da Permacultura têm muito a contribuir, pois além da simplificação e eficiência
no tratamento dos efluentes domiciliares segregados, em seus princípios
154
agregam-se os valores ambientais e humanos, dessa forma, as águas são
reutilizadas, os dejetos viram adubo e os ambientes tornam-se mais belos e
agradáveis com a produção de alimentos saudáveis e nutritivos, como bananas
e mamões, entre outros, além de evitar o aumento da eutrofização, impedindo
que esses nutrientes alcancem os corpos d’águas. Por outro lado, os sistemas
de saneamento ecológicos podem ser construídos em locais em que o
saneamento básico municipal não está presente, auxiliando na contenção da
poluição difusa, grande responsável pela contaminação de solos e águas.
De fácil construção e manejo, o Círculo de Bananeiras (CB) é um
elemento fundamental na habitação urbana ou rural, por cumprir mais de uma
função importante: tratar a água residual localmente; compostar os resíduos
orgânicos dos quintais e os materiais lenhosos, evitando a queimada desses; e
a produção de alimentos, podendo ser associado a várias outras espécies
vegetais, tudo num círculo de dois metros de diâmetro (CASTAGNA, s/d.).
O Tanque de Evapotranspiração (TEvap) é um sistema de tratamento de
esgoto e reaproveitamento dos nutrientes de águas negras, provenientes do
vaso sanitário, para a produção de flores e frutas. Consiste em um sistema de
filtros e com plantas na superfície, em seu interior ocorre decomposição
anaeróbia da matéria orgânica, a mineralização e absorção das águas e dos
nutrientes pelas raízes, estes incorporando-se à biomassa das plantas e a
água sendo eliminada por evapotranspiração (PAULO; BERNARDES, 2009).
Este trabalho foi desenvolvido com os moradores nas comunidades do
Vale do Gramame e do Condomínio Amizade em João Pessoa na Paraíba, no
decorrer do ano de 2013. Os trabalhos foram realizados em forma de mutirão,
com o auxílio de voluntários, jovens e crianças. Nessas localidades,
desenvolveram-se oficinas práticas de técnicas permaculturais de saneamento
ambiental ecológico, com a construção de cinco CB experimentais em três
residências da região do Vale do Gramame, para o tratamento e
aproveitamento das águas residuárias das residências e dos resíduos
orgânicos de lenta decomposição dos quintais, para a produção de alimentos e
composição paisagística local (Figura 03a,b). Essas, também, são as finalidades
155
do TEvap, construído no Condomínio Amizade para o tratamento e
aproveitamento de efluentes domiciliares, no qual, ainda, promoveu-se a
reutilização de resíduos sólidos humanos dispersos no ambiente, como pneus
e entulhos da construção civil, apresentados na Figura 03c,d,e,f.
Figura 03. A eficiência das Tecnologias Socioambientais implementadas em João Pessoa,
Paraíba: a) Destino dos efluentes do banheiro em uma das residências trabalhadas no Vale do
Gramame antes da implementação da TSA, as águas cinzas seguiam no buraco com balde;
b) O Círculo de Bananeiras implantado, com o plantio das mudas ao redor da fossa repleta de
matéria orgânica de lenta decomposição e a cobertura do canteiro, para o aproveitamento das
águas cinzas deste local na propriedade; c) A situação do local no Condomínio Amizade antes
da implantação do Tanque de Evapotranspiração com os esgotos correndo a céu aberto;
b) O local após a implantação do TEvap; c) Produção de melões com a água tratada do
sistema ecológico; d) Melhorias na composição da paisagem no Condomínio Amizade.
156
Com esses sistemas, os esgotos domiciliares, que na maioria do país
contaminam águas e solos, são tratados localmente e aproveitados para a
produção de alimentos e paisagismo, diminuindo o escoamento de esgotos
para os rios. Assim, com a implantação das TSA de saneamento ecológico
nessas comunidades, minimizaram-se a contaminação humana e ambiental
cessando com a exposição de esgotos a céu aberto nesses ambientes, dessa
forma, contribuindo com a melhoria na qualidade de vida das pessoas na
periferia da capital paraibana. Outro resultado importante foi a reaplicação das
técnicas apreendidas pelos moradores locais em três das quatro localidades
trabalhadas, com a construção de mais dois CB no Vale do Gramame e um
TEvap no Condomínio Amizade.
Todas essas tecnologias foram bem aceitas pelas comunidades e
devem ser divulgadas para outras, para que possam gerenciar melhor o
saneamento básico, tanto os resíduos sólidos, quanto os líquidos.
Para finalizar, pode-se considerar que com as ações desenvolvidas
neste trabalho, viu-se a possibilidade de melhorias socioambientais de
comunidades a partir da efetivação de atividades práticas conjuntas entre
pesquisadores e sociedade, no intuito da capacitação das pessoas para a
promoção da qualidade da vida e salubridade ambiental. Isso foi possível com
a implementação de técnicas simples e eficazes de saneamento ambiental
ecológico, reuso de materiais e hortas agroecológicas, para a minimização da
degradação e contaminação do ambiente por atividades humanas, contribuindo
para o desenvolvimento sustentável regional.
Referências
ALSÉN, K.W.; JENSSEN, P. (Eds.). Ecological Sanitation: for Mankind and Nature.
Aas: Norwegian University of Life Sciences, 2004.
157
sustentável. São Paulo: Pensamento e Cultrix, 2005.
158
GT4 - CIÊNCIA, TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO
REGIONAL
Inovação em empresas catarinenses: uma exceção no cenário nacional1
Resumo
Este artigo abarca a temática da inovação em empresas catarinenses. Parte-se
da hipótese de que Santa Catarina aparenta ser uma exceção dentro do
cenário nacional pouco propício à inovação. Diante do exposto, a problemática
da pesquisa pode ser expressa através da seguinte pergunta: Qual a situação
das empresas catarinenses em termos de inovação? Com base na
problemática proposta, o objetivo geral é analisar a inovação em empresas
catarinenses. Apoia-se, para tal, em dados oficiais oriundos das cinco edições
da Pesquisa de Inovação - PINTEC, realizada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística. A análise de dados comparativa com médias nacionais
revela que a suposta condição diferenciada em termos de inovação não se
confirma, sendo que as empresas catarinenses apresentam, inclusive, várias
desvantagens, o que acaba por desmistificar o caráter inovador de Santa
Catarina. Neste sentido, sugere-se que a Política Catarinense de Ciência,
Tecnologia e Inovação seja reorientada, tirando foco da inovação empresarial e
voltando mais atenção às necessidades sociais e ao desenvolvimento regional.
Introdução
1
Trabalho apresentado no GT4 – Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Regional – II SEDRES,
Campina Grande (PB), de 13 a 15 de agosto de 2014.
2
Estudante de Graduação em Ciências Econômicas da FURB e integrante do Núcleo de Pesquisas em
Desenvolvimento Regional. Email: franklinzummach@gmail.com
3
Economista, doutor em Geografia pela Universität Tübingen, professor e pesquisador da FURB, e
coordenador do Núcleo de Pesquisas em Desenvolvimento Regional. Email: theis@furb.br
159
importância da inovação nem sempre foi tão grande como é atualmente
(FAGERBERG, 2005). Neste sentido, no Brasil, falar em inovação tornou-se
algo comum apenas recentemente. De fato, o debate sobre inovação vem
ganhando corpo não somente nas esferas governamental e acadêmica, mas
também, no meio empresarial. Todavia, enquanto no cenário internacional,
sobretudo nos países desenvolvidos, a inovação é, há muitos anos,
preocupação perceptível das empresas, observa-se um consenso de que a
realidade brasileira está bem distante da ideal. Diversos autores vêm
chamando a atenção para o fato das empresas situadas no território brasileiro
pouco inovarem. De fato, análises comparativas internacionais com base em
indicadores de inovação revelam que o desempenho do Brasil deixa muito a
desejar. Dentro desse contexto, o estado de Santa Catarina aparenta, num
primeiro momento, ser uma exceção. Situado na macrorregião Sul do Brasil,
Santa Catarina é tida, por muitos, como uma experiência socioeconômica
diferenciada. Algumas evidências corroboram com tal inferência: o dinamismo
e a diversificação de sua indústria, a presença de vários polos tecnológicos e o
suposto perfil empreendedor de sua população.
Diante do exposto, a problemática de pesquisa deste trabalho pode ser
expressa através pergunta: Qual a situação das empresas catarinenses em
termos de inovação? Com base na problemática proposta, o objetivo geral é
analisar a inovação em empresas catarinenses. Apoia-se, para tal, em dados
oficiais oriundos da Pesquisa de Inovação – PINTEC, realizada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.
Como em toda pesquisa científica, este estudo faz uso de métodos científicos.
A seguir, estão descritos os componentes metodológicos empregados. Quando
ao método de abordagem, o método dialético mostra-se como ideal para
permitir o alcance dos objetivos propostos, pois, pressupõe-se que o estudo da
inovação em empresas catarinenses deve ser compreendido em meio a um
contexto social, político e econômico. No que diz respeito ao método de
procedimento, são utilizados vários métodos concomitantemente, no entanto,
um deles merece especial atenção, o método estatístico. Considerando-se à
160
técnica de pesquisa, esta é caracterizada por dois tipos: a pesquisa
bibliográfica e a pesquisa documental. Apesar de estar apoiada em dados
estatísticos, a pesquisa é classificada, além de quantitativa, como qualitativa.
Temporalmente, os dados coletados e posteriormente analisados concentram-
se no período de 1998 a 2011, contemplando, assim, o universo temporal dos
cinco triênios (1998-2000; 2001-2003; 2003-2005; 2006-2008 e 2009-2011)
analisados nas cinco edições da PINTEC/IBGE. Espacialmente, a pesquisa
está delimitada ao território catarinense e, com o propósito de comparar o seu
desempenho, é considerado também o território brasileiro. Os dados abrangem
a totalidade de empresas industriais com dez ou mais pessoas ocupadas,
localizadas nestes dois recortes espaciais.
Taxa de inovação
161
Tabela 1 - Empresas que implementaram inovações de produto e/ou processo,
1998-2011
Que
implementaram
Quantidade Taxa de inovação
Indústrias Período inovações de
Total (%)
produto e/ou
processo
1998-2000 72.005 22.698 31,52%
2001-2003 84.262 28.036 33,27%
Brasil
2003-2005 91.055 30.377 33,36%
2006-2008 100.496 38.299 38,11%
2009-2011 116.632 41.470 35,56%
1998-2000 5.268 2.046 38,84%
2001-2003 6.915 2.480 35,86%
Santa Catarina 2003-2005 7.585 2.648 34,91%
2006-2008 8.472 3.209 37,88%
2009-2011 10.275 3.555 34,60%
Fonte: Elaboração própria com base em IBGE (2002; 2005; 2007; 2010; 2013).
162
No comparativo entre Brasil e Santa Catarina, os dados revelam que o número
de empresas catarinenses que implementaram inovações de produto e/ou
processo é superior, em valores relativos, ao Brasil nas três primeiras edições
da PINTEC. Portanto, entre 1998-2000 e 2003-2005, a taxa de inovação das
empresas catarinenses estava acima da nacional. Contudo, nas duas últimas
edições da PINTEC (2006-2008 e 2009-2011) Santa Catarina fica abaixo da
média nacional, pois a taxa de inovação das empresas catarinenses é inferior à
taxa das empresas brasileiras: 37,88% contra 38,11% em 2006-2008 e 34,60%
contra 35,56% em 2009-2011.
Dispêndios
163
similares: 77,03% para atividades inovativas e 17,16% para atividades internas
de P&D.
Os dados mostram variações no que diz respeito a quem mais investiu, em
termos relativos, em atividades inovativas. As mesmas variações ocorrem em
relação aos dispêndios em atividades internas de P&D. Verifica-se em cada
triênio que a indústria que mais investiu em atividades inovativas também teve
o maior percentual em dispêndios em atividades inovativas.
Ademais, nota-se, conforme a Tabela 2, que em ambas as indústrias há
redução do percentual de empresas que investiram em atividades inovativas.
No Brasil, o percentual de 84,43% em 1998-2000 passou para 78,65% em
2009-2011, enquanto que em Santa Catarina, o valor de 83,68% em 1998-2000
passou para 76,85% em 2009-2011. Já nos dispêndios em atividades internas
de P&D, há redução não apenas relativa, mas também absoluta de empresas
que realizaram dispêndios em atividades de P&D. No Brasil, o número de
empresas que investiram em P&D passou de 7.412 em 1998-2000 para apenas
5.876 em 2009-2011 e o percentual sobre o montante de empresas de 32,65%
em 1998-2000 passou para 14,17% em 2009-2011. Em Santa Catarina, as 654
empresas em 1998-2000 diminuíram para 497 em 2009-2011, à medida que o
percentual de 31,96% em 1998-2000 passou para apenas 13,98% em 2009-
2011. A redução do número de empresas que realizaram dispêndios em P&D
indica uma concentração cada vez maior de P&D em menos empresas.
Aquisição externa
1.668 1.202 1.227 1.422 1.834 194 117 54 86 181
de P&D
Aquisição de
outros
2.914 2.053 2.300 3.681 3.699 347 332 137 245 235
conhecimentos
externos
164
Aquisição de Não Não Não Não
3.565 8.307 10.336 255 645 1.194
software dispon. dispon. dispon. dispon.
Aquisição de
máquinas e 15.540 16.250 15.680 24.252 26.379 1404 1.500 1.435 2.128 2.301
equipamentos
Treinamento 6.855 5.657 5.217 11.825 9.328 713 527 482 793 652
Introdução das
inovações
5.723 5.181 5.889 9.672 8.242 441 622 464 910 754
tecnológicas no
mercado
Projeto industrial
e outras
8.145 8.590 6.842 10.080 8.360 670 881 460 844 640
preparações
técnicas
Total 19.165 20.599 19.951 30.645 32.616 1.712 1.917 1.666 2.710 2.732
Fonte: Elaboração própria com base em IBGE (2002; 2005; 2007; 2010; 2013).
165
Recursos humanos
166
14,32% em 2003; 15,69% em 2005; 15,03% em 2008; e 12,00% em 2011, do
total de pessoal ocupado de nível superior. O que, por sua vez, representa
7,12% em 2000; 8,10% em 2003; 9,09% em 2005; 9,14% em 2008; e 8,03%
em 2011, do montante total de pessoas ocupadas em atividades internas de
P&D nas empresas brasileiras que implementaram inovações. Em Santa
Catarina, a realidade não é diferente. O pessoal ocupado nas atividades
internas de P&D das empresas catarinenses inovadoras desde os dados da
primeira PINTEC tem, predominantemente, nível superior: 46,06% em 2000;
44,89% em 2003; 51,86% em 2005; 50,98% em 2008; e 50,43% em 2011,
Dentre o pessoal de nível superior, os pós-graduados correspondem a 11,32%
em 2000; 14,30% em 2003; 17,66% em 2005; 11,45% em 2008; e 13,33% em
2011. Em relação ao montante total, os pós-graduados são 5,22% em 2000;
6,42% em 2003; 9,16% em 2005; 5,84% em 2008; e 7,25% em 2011 – valores,
em geral, inferiores às empresas brasileiras.
Através desses dados, é possível concluir que, apesar do crescimento do
número de pessoas ocupadas em atividades internas de P&D e do pessoal de
nível superior corresponder a mais da metade do pessoal ocupado, as
empresas brasileiras e catarinenses vem investindo pouco em recursos
humanos com maiores qualificações, ou seja, pós-graduados.
4
A PINTEC dá uma explicação bastante vaga do que vem a ser as condições de mercado: “[...] uma
deficiência de demanda (agregada e/ou setorial) ou uma estrutura de oferta (concorrencial ou capacidade
instalada) que desestimulou a inovação” (IBGE, 2013, p. 25).
5
Diz respeito ao conjunto das seguintes razões para não implementação de inovações: riscos
econômicos excessivos; elevados custos de inovação; escassez de fontes apropriadas de financiamento;
rigidez organizacional; falta de pessoal qualificado; falta de informação sobre tecnologia; falta de
informação sobre mercados; escassas possibilidades de cooperação com outras empresas/instituições;
167
Tabela 5 – Empresas que não implementaram inovações e sem projetos, com
indicação das razões porque não desenvolveram nem implementaram
inovações, 1998-2011
Empresas que não implementaram inovações e sem projetos
Razões da não implementação
Indústrias Período Inovações Condições de Outros fatores
Total
prévias mercado impeditivos
Nº % Nº % Nº %
1998-2000 46.182 5.365 11,62% 25.698 55,65% 15.119 32,74%
2001-2003 53.911 5.984 11,10% 35.253 65,39% 12.674 23,51%
Brasil 2003-2005 58.621 6.619 11,29% 41.080 70,08% 10.923 18,63%
2006-2008 59.586 9.329 15,66% 33.127 55,60% 17.130 28,75%
2009-2011 72.419 9.799 13,53% 47.905 66,15% 14.714 20,32%
1998-2000 2.953 412 13,95% 1.370 46,39% 1.172 39,69%
2001-2003 4.279 472 11,03% 2.625 61,35% 1.182 27,62%
Santa
2003-2005 4.724 672 14,23% 3.253 68,86% 799 16,91%
Catarina
2006-2008 5.056 878 17,37% 2.914 57,63% 1.263 24,98%
2009-2011 6.594 963 14,61% 4.287 65,02% 1.343 20,37%
Fonte: Elaboração própria com base em IBGE (2002; 2005; 2007; 2010; 2013).
Considerações finais
dificuldade para se adequar a padrões, normas e regulamentações; fraca resposta dos consumidores
quanto a novos produtos; escassez de serviços técnicos externos adequados; e centralização da
atividade inovativa em outra empresa do grupo.
168
Embora parcialmente, o trabalho atingiu o objetivo proposto. Considera-se que
os indicadores apoiados na análise histórica (1998-2011) são suficientes para
terem permitido uma série de considerações a fim de explicar a dinâmica da
inovação nas empresas situadas no território catarinense. Os principais
resultados obtidos e as principais inferências a partir deles seguem abaixo.
Em relação à taxa de inovação catarinense, os dados não se mostraram
animadores. As empresas catarinenses eram mais inovadoras no primeiro
triênio contemplado pela PINTEC (1998-2000) do que no triênio mais recente
(2008-2011), além de a análise comparativa ter evidenciado que as empresas
catarinenses se tornaram menos inovadoras do que as brasileiras nos dois
últimos triênios.
No que tange aos dispêndios efetuados pelas empresas catarinenses em
atividades inovativas, os dados possibilitaram constatar que a maior parte delas
investiu na compra de máquinas e equipamentos. Viu-se, ademais, que o
número de empresas que investiram em atividades internas de P&D foi
decrescendo.
Quanto aos recursos humanos, detectou-se que as empresas catarinenses
apresentaram investimentos baixos em profissionais de maior qualificação,
aqueles com pós-graduação, para realizar atividades internas de P&D.
As comparações das empresas de Santa Catarina com as do Brasil dão
suporte para afirmar que a indústria catarinense não representa uma exceção
em termos de inovação no cenário nacional. Pelo contrário, alguns indicadores
aqui apresentados revelam uma desvantagem catarinense.
Afinal, então, o que explica a baixa propensão a inovar das empresas
catarinenses? É pertinente resgatar que os dados da PINTEC tornaram nítido
que a aversão à inovação está associada fundamentalmente às condições de
mercado. Logo, ao que tudo indica, o que acontece, assim como nas empresas
brasileiras, é uma opção racional e puramente mercadológica para as
empresas catarinenses não inovarem. Portanto, inovação aparenta ficar
unicamente no discurso. Obviamente não se pode desconsiderar que existem
169
várias empresas inovadoras atuando em Santa Catarina. No entanto, elas
coexistem simultaneamente com uma imensa maioria de não inovadoras.
As considerações e inferências feitas acima desmistificam o caráter
supostamente inovador das empresas localizadas em solo catarinense. Assim,
a hipótese de que se partiu na realização da pesquisa não se confirmou como
verdadeira. Os resultados aqui obtidos negam a situação privilegiada das
empresas dentro do cenário nacional e colocam em xeque a, até então,
inegável importância da inovação para a competitividade empresarial
catarinense. Neste sentido, sugere-se que a Política Catarinense de Ciência,
Tecnologia e Inovação seja reorientada, tirando foco da inovação empresarial e
voltando mais atenção às necessidades sociais e ao desenvolvimento regional.
Referências
170
AS DETERMINAÇÕES E DESAFIOS DA PESQUISA: REGISTRO DAS IES
DA REGIÃO DO VALE MÉDIO IGUAÇU E O DESENVOLVIMENTO
REGIONAL
GUMBOWSKY, ARGOS1
SIQUEIRA, EDITE2
RESUMO
6.INTRODUÇÃO
7.MATERIAIS E MÉTODOS
172
(IES): Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras (FAFI), Centro Univer-
sitário de União da Vitória (UNIUV) e Universidade do Contestado (UnC) – Nú-
cleo Universitário de Porto União
O universo da investigação constitui-se de 37 professores com titulação
de mestrado ou doutorado e 6 gestores de IES. Buscou-se conhecer o posicio-
namento dos empresários e representantes de entidades de classe sobre a in-
serção das IES, situadas na região do Vale Médio Iguaçu, na sociedade regional
através da pesquisa. Foram entrevistados gestores de 7 empresas e 9 represen-
tantes de entidades de classe, totalizando 16 entrevistados. Para a coleta dos
dados optou-se por questionário semiestruturado, constituído por perguntas fe-
chadas, utilizando-se a escala de Likert.
173
O desenvolvimento do ensino superior está intimamente ligado ao desen-
volvimento regional, porém, para vincular a relevância do ensino superior para o
desenvolvimento regional, faz-se necessário, inicialmente, a compreensão do
que é desenvolvimento regional e como ele acontece.
De acordo com Boisier (1999), o conceito de desenvolvimento regional tem
suas raízes na economia neoclássica, fundamentada no pós-guerra, inicial-
mente, associado ao crescimento, mensurado pelo PIB, como pode ser obser-
vado na afirmação de Echevérnia, espanhol, considerado o pai da Sociologia
latino-americana do desenvolvimento:
El desarrollo económico es un proceso continuado cuyo mecanismo
esencial consiste en la aplicación reiterada del excedente en nuevas
inversiones, y que tiene, como resultado la expansión asimismo ince-
sante de la unidad productiva de que se trate. Esta unidad puede ser
desde luego una sociedade entera...3(citado por BOISIER, 1999, p.2).
3
"O desenvolvimento econômico é um processo contínuo, cujo mecanismo é essencial a aplicação repetida
do excedente em novos investimentos, o que também resultou na expansão incessante da unidade de
produção em questão. Esta unidade pode ser, naturalmente, uma Sociedade inteira [...] " (tradução nossa)
174
que uma região desenvolva-se, não basta agregar capital social, na mesma pro-
porção existe a necessidade do capital humano e intelectual.
Nesse sentido, pode-se encontrar na educação um forte argumento de
favorecimento ao desenvolvimento regional, não apenas para a formação de
mão de obra e geração de emprego, mas também na criação de processos que
conduzam à inovação e à busca de alternativas de diversificação de produtos e
processos. Dessa maneira, os sistemas produtivos dinâmicos introduzidos nas
regiões podem criar em seu entorno relações formais e informações entre atores
públicos e privados, com objetivo de gerar e disseminar conhecimento tecnoló-
gico. Partindo desse pressuposto, as Instituições de Ensino Superior figuram
como elemento chave no processo de desenvolvimento das regiões.
Na década de 1950, União da Vitória estava entre as maiores e mais prós- peras
cidades do Estado; era o mais importante município do sul e do sudoeste do
Paraná, exercendo influência social e cultural sobre toda a região. Nessa con-
juntura, começou a ser pensada a possibilidade de criação de curso superior na
cidade. Em 22 de dezembro de 1956, foi criada a Faculdade Estadual de Filoso-
fia, Ciências e Letras (Fafi), no entanto, a primeira aula inaugural deu-se três
anos depois (28/03/1960), sendo pioneira no ensino superior, fora da capital,
oferecendo ensino público e gratuito. Iniciou suas atividades com os cursos de
História e Pedagogia. Os cursos de Geografia e Letras foram criados em 1967
e, mais tarde, em 2003, foram criados os cursos de Ciências Biológicas e Quí-
mica. Desde 1986, a Fafi promove cursos de pós-graduação lato sensu em suas
áreas de conhecimento.
Com objetivo de avançar na criação de cursos para União da Vitória, além de
aperfeiçoamento de docentes e expansão física da instituição, no ano de
2013, ocorreu a fusão da Fafi com a Universidade Estadual do Paraná (Unespar),
175
criada por meio da Lei Estadual nº17.590, de 12 de junho de 2013, com sede no
município de Paranavaí.
176
Decreto Estadual nº1.106, de 6 de agosto de 2012, a UnC teve a renovação do
credenciamento por meio de avaliação institucional externa. Portanto, a Univer-
sidade do Contestado (UnC) é uma instituição de Educação Superior vinculada
ao Sistema Estadual de Santa Catarina, mantida por uma Fundação de origem
pública e de natureza do direito privado (PDI, UnC, 2010). Desde 2006, a UnC
oferece pós-graduação stricto sensu, em Desenvolvimento Regional.
9.RESULTADOS E DISSCUSSÃO
177
está relacionada às parcerias e associações possíveis de se realizarem na soci-
edade em que a IES está inserida, como uma troca, em que as organizações
apresentam seus problemas e as IES, por meio dos grupos de pesquisas, bus-
cam soluções. Essas parcerias geram subsídios para novas pesquisas, for-
mando um ciclo.
Constatou-se que a pesquisa existente nas IES da região é pouco expres- siva,
senão inexistente, e está limitada ao tipo da instituição à qual o professor está
vinculado. Isto é, na Uniuv, em que a pesquisa não é obrigatória, essa te-
mática é tratada de forma superficial, embora a proposta apresentada no PDI
seja consistente; na Fafi, que passa por um momento de transição, de Faculdade
Isolada para Universidade, observa-se certa discrepância entre gestores e pro-
fessores e mesmo entre professores, em que gestores acreditam no ótimo de-
senvolvimento da pesquisa, enquanto professores acreditam na necessidade de
estruturação; na UnC, até então única IES que efetivamente necessita do desen-
volvimento da pesquisa, por exigência legal, apresenta um quadro mais avan-
çado, com professores mais satisfeitos com o desenvolvimento da pesquisa que
seus gestores.
Dessa forma, retoma-se uma afirmativa lançada anteriormente, de que as IES
precisam ter vocação para a pesquisa, não basta que os professores finali-
zem seus cursos de pós-graduação, desenvolvam as pesquisas para finalização
de suas dissertações ou teses, se, ao retornarem às suas instituições de origem,
essa prática não se efetive, e seja pouco motivada. Em todas as IES existem
professores com dedicação exclusiva, os quais, teoricamente, deveriam dedicar
percentual de seu tempo à sala de aula e outra para o desenvolvimento de pes-
quisas. Verificou-se que, muitas vezes, esse tempo é utilizado com atividades
administrativas, além da docência.
Quanto à qualidade do desenvolvimento da pesquisa na IES a maioria
acredita ser regular, porém, apareceram respostas como excelente e péssima,
o que leva a crer que, se existente, o desenvolvimento e os resultados das pes-
quisas não estão sendo bem divulgados em seu meio. A pouca comunicação
interna foi sentida em todas as IES da Região. Pode-se citar como exemplo a
178
questão levantada sobre a existência de intercâmbios e convênios para pesquisa
(transferência de tecnologia) com instituições nacionais/internacionais. A res-
posta esperada seria sim, para a existência e não, para a não existência, porém
as respostas foram variadas dentro da mesma IES.
Pode-se afirmar que não existe uma política institucionalizada no que diz
respeito ao desenvolvimento da pesquisa e, dessa forma, observa-se preocupa-
ção em relação à qualidade e à continuidade das pesquisas desenvolvidas.
Quanto a articulação entre ensino, pesquisa e extensão, as respostas mais en-
contradas foram ‘frequentemente’ e ‘poucas vezes’, o que denota que o princípio
da indissociabilidade na tríade (ensino, pesquisa e extensão) não tem ocorrido
de forma articulada. Isso compromete a formação acadêmica completa, efeti-
vando conhecimentos de forma prática e interagindo com a sociedade.
Constatou-se que a pesquisa desenvolve-se na modalidade de iniciação
científica na Região do Vale Médio Iguaçu, com exceção daquelas realizadas no
programa de pós-graduação stricto sensu da UnC, cujo locus está sediado no
município de Canoinhas, pouco impactando na sua extensão no Núcleo Univer-
sitário de Porto União.
No que se refere ao incentivo e motivação das IES, por meio de bolsas de
fomento à pesquisa, notou-se a falta de comunicação nas IES, principalmente
na Uniuv, que não apresenta uma política consolidada. Na Fafi, as bolsas de
pesquisa são oferecidas por meio de concessão de tempo integral e dedicação
exclusiva (TIDE), em que o professor precisa aprovar projeto para ser benefici-
ado e também com bolsas de iniciação científica para discentes vinculados a
projetos de pesquisa docente ou próprios. A UnC é beneficiada pelo governo do
estado de Santa Catarina que concede bolsas de estudo e de pesquisa para
alunos economicamente carentes.
Observa-se que, em termos gerais, as IES costumam investir na qualifica-
ção dos docentes, algumas com mais frequência, como a Uniuv e a UnC; já na
Fafi, pelo relato, tanto dos gestores quanto dos professores, esse investimento
é menos acentuado, porém, é preciso considerar que na Fafi o ingresso na car-
reira docente é condicionado à titulação de mestre ou doutor, dessa forma os
179
incentivos para a qualificação são menos expressivos.
Foi constatada falta de incentivo para a formação de grupos de pesquisa.
Observou-se que a maioria dos entrevistados participa de grupos em outras IES.
Somente a UnC possui grupos registrados no CNPq.
Quanto ao posicionamento dos empresários e representantes de entida-
des de classe sobre a inserção das IES na sociedade regional por meio da pes-
quisa, os mesmos mostraram-se mais satisfeitos que os representantes das en-
tidades de classe, embora as IES não participem efetivamente na resolução de
problemas nas empresas. Elas preparam profissionais para o mercado de traba-
lho, qualificam mão de obra, que nem sempre é absorvida ou valorizada por esse
mercado.
Tanto empresários quanto representantes de entidades de classe esperam
maior participação das IES, que estas encontrem soluções para os seus proble-
mas, embora tenham relatado que poucas vezes procuraram as IES propondo
parcerias.
Verificou-se que os entrevistados acreditam que as IES da região contri-
buem de forma positiva ao crescimento social e cultural dos indivíduos e também
para o desenvolvimento da sustentabilidade ambiental, atendendo a uma neces-
sidade mundial.
Quando questionados sobre a importância das IES para o desenvolvi-
mento regional, acreditam que sim, elas colaboram, porém, poderia existir um
melhor relacionamento entre as IES, empresas e entidades de classe, pois acre-
dita-se que a cooperação entre esses segmentos pode ser importante para o
desenvolvimento da região, possibilitando um estreitamento com a sociedade.
Pode, ainda, fazer com que as IES captem as necessidades reais, e possibilitem
que seus professores e alunos compreendam a dimensão do compromisso com
o desenvolvimento do país.
180
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS
181
5 REFERÊNCIAS
DEMO, P. Pesquisa: princípio científico e educativo. 5.ed. São Paulo: Cortez, 1997.
MARCONI, M.A.; LAKATOS, E.M. Técnicas de pesquisa. 5.ed. São Paulo: Atlas,
2002.
UNESCO. Relatório UNESCO sobre ciência 2010: o atual status da ciência em torno
do mundo. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/ima-
ges/0018/001898/189883por.pdf> Acesso em: 28 out. 2011.
182