As curvas de transição são tanto mais necessárias quanto maior for o valor da força centrífuga (função da velocidade e
do raio) ao descrever a curva circular. Assim, em estradas menos importantes, com velocidades de circulação mais
reduzidas, poderá ser dispensado o uso de curva de transição. Também no caso de curvas circulares de raio muito
elevado pode ser dispensado o uso de curvas de transição.
1/R
CURVA
CIRCULAR
1/Rc
CURVA DE
TRANSIÇÃO CURVA DE
TRANSIÇÃO
R=Rc
ALINHAMENTO
RECTO
ALINHAMENTO
R=∞
R=∞ RECTO
T03 2
SITUAÇÕES GERAIS, COM UTILIZAÇÃO DE CURVAS DE TRANSIÇÃO CASOS PARTICULARES PARA AS CURVAS DE TRANSIÇÃO
T03 3
a) Curvas de transição no vértice
T03 4
TRAÇADO EM PLANTA
Aspectos gerais para a escolha do traçado
A definição da solução de traçado em planta deve ter como objectivos a obtenção de condições para uma circulação
cómoda, segura e económica, bem como propiciar condições favoráveis do ponto de vista ds custos de construção e
conservação da estrada e uma limitação dos impactos paisagísticos e ambientais, nomeadamente:
O traçado em planta deve assegurar a circulação em segurança à velocidade base estabelecida previamente
Devem ser asseguradas as condições necessárias para propiciar as distâncias de visibilidade mínimas, embora tal
dependa também do traçado em perfil. Deve ser garantida, pelo menos, a distância de visibilidade de paragem
correspondente à velocidade de tráfego
Devem ser ponderados factores condicionantes da escolha do traçado ligados a condicionantes técnico-geométricas
(características mínimas ou máximas fixadas nos documentos normativos), a condicionantes ligadas às
características da região (topografia, clima, hidrologia e hidrogeologia, geologia e geotecnia, ocupação do solo) e a
condicionantes ligadas ao paisagismo e ao impacto ambiental
Metodologia
Escolha do corredor de projecto (em geral na sequência do trabalho desenvolvido em Estudo Prévio)
Dentro de corredor de projecto, estabelecer uma directriz provisória, constituída por uma poligonal que tenha em
atenção os factores condicionantes do traçado
Seleccionar os valores para o raio das curvas circulares e para o parâmetro das curvas de transição, tendo em
atenção as condições de segurança e conforto, e propiciando uma boa percepção óptica dos alinhamentos curvos.
Devem também ser tidos em conta os aspectos de homogeneidade de traçado
Realizar o cálculo geral da directriz, com a determinação dos rumos, do comprimento dos elementos geométricos,
das coordenadas geográficas dos pontos notáveis correspondentes aos pontos de ligação dos diferentes elementos
geométricos e das coordenadas geográficas e dos rumos de pontos regularmente espaçados (frequentemente de 25
em 25 m)
T03 5
ALINHAMENTOS RECTOS
Os alinhamentos rectos permitem, em geral, uma visibilidade da estrada em maior extensão, donde pode resultar maior
segurança na condução e mais oportunidades de ultrapassagem.
Medidas a adoptar:
1) Não combinar alinhamentos rectos com trainéis extensos: variar a inclinação longitudinal
2) Se a inclinação longitudinal for constante, limitar o comprimento (L), em m, dos alinhamentos rectos, a L ≤ 20 x vB,
sendo vB a velocidade base em km/h
3) Limitar o comprimento mínimo dos alinhamentos rectos a L ≥ 6 x vB, sendo vB a velocidade base em km/h , por
razões de conforto óptico
4) Devem evitar-se as orientações a Nascente ou a Poente, e, em caso de ventos fortes, fazer coincidir o traçado com a
direcção do vento
T03 6
CIRCULAÇÃO EM CURVAS CIRCULARES
(curva à esquerda)
a) Segurança ao deslizamento
m × v2 v2
Fa ≥ Fc ∴ f × m × g ≥ ∴ R≥
2 g× f
b) Segurança ao derrubamento
d d m × v2 2 × v2 × h
P × ≥ Fc × h ∴ m × g × ≥ ×h ∴ R ≥
2 2 R d× g
As curvas circulares devem ter uma extensão tal que vB (km/h) 40 50 60 70 80 90 100 120 140
seja percorrida em mais de dois segundos. No entanto
Extensão mínima
recomenda-se que a extensão das curvas (incluindo 30 40 50 65 90 115 150 250 400
das curvas (m)
50 % da extensão das curvas de transição, se
existirem) seja superior a esse mínimo (ver Quadro):
Para ângulos de desvio (φ) inferiores a 6 Gr a extensão mínima das curvas é dada pela expressão 40 × (10 − ϕ ) , com
φ em grados. Para ângulos de desvio (φ) superiores a 6 Gr e velocidade-base superior a 70 km/h a extensão mínima
das curvas é de 150 m
Os raios de duas curvas circulares sucessivas não deve diferir muito, a fim de se obter um traçado homogéneo (ver
aula sobre homogeneidade de traçado)
T03 9
Os raios das curvas circulares devem estar relacionados com a extensão dos alinhamentos rectos que as antecedem,
pelo que a seguir a alinhamentos rectos extensos devem ser reduzidos gradualmente os raios das curvas circulares
Entre duas curvas circulares com o mesmo sentido, deve haver um alinhamento recto com uma extensão mínima igual
à distância percorrida durante 5 segundos à velocidade específica correspondente ao maior dos raios. No caso de não
ser possível assegurar essa extensão, as duas curvas circulares devem ser substituídas por uma única curva
T03 10
OBJECTIVOS DAS CURVAS DE TRANSIÇÃO
a) limitar o grau de incómodo, ou seja o valor da variação da aceleração centrífuga por unidade de tempo (j)
aC=v2/R ou 1/R
v2/RC ou 1/RC
j
0
AR CT CC CT AR
L ou t
2
v LT ou t = LT/v
RC v3
J= = < 0,5m/s 3 ( Norma de Traçado)
LT RC × L T
v
b) facilitar a manutenção do veículo dentro da via de tráfego que lhe é destinada
∆z
(SE − i0 ) × l
∆i = = 2 Considerando i0 = 0 vem:
LT LT
SE × l
∆i =
2 × LT
De acordo com a Norma de Traçado:
∆i min = 0,1 x a (aonde i < 2,5 %)
a – distância do eixo de rotação ao bordo da faixa de rodagem (m)
∆i (%)
l/2
T03 12
CURVAS DE TRANSIÇÃO
200
Nas curvas de transição usam-se curvas e raio variável, em
geral do tipo clotóide
A = 120 m
A equação intrínseca da clotóide é: R × L = A 2 em que:
150
A (m) – parâmetro da clotóide (constante)
Entre um AR e uma CC
Entre duas CC
T03 13
POSSIBILIDADE DO USO DAS CURVAS DE TRANSIÇÃO
τ < φ/2
Aconselhado:
τ 1= τ 2 = τ
1 LT 1 + LT 2 2
< <
2 LT 1 + LC + LT 2 3
τ = φ/2
τ > φ/2
T03 14
COMPRIMENTOS LIMITE PARA AS CURVAS DE TRANSIÇÃO
1) Grau de incómodo
Corresponde a limitar a variação de aceleração centrífuga por unidade de tempo (J). De acordo com a Norma de Traçado,
o valor máximo de J deve ser 0,5 m/s3, para limitar o incómodo.
2
vB
3 3 3 3
dj R C vB vB vB vB
J= = = ∴ LT = ou, com vB em km/h: L T = ∴ L T ≥ 0,0214 ×
dt LT RC × L T RC × J 3,6 3 × RC × J RC × 0,5
v
2) Comodidade óptica
Corresponde a assegurar uma variação de rumo na curva de transição (τ ) entre 1/18 e 1/2 rad.
LT RC
τ= pelo que ≤ LT ≤ RC
2 × RC 9
3) Disfarce da sobreelevação
Corresponde a limitar a variação de inclinação longitudinal ∆i, entre a inclinação longitudinal do bordo exterior da faixa de
rodagem e a inclinação longitudinal do eixo da estrada
S ×l SE × l SE × l
LT = E donde resulta: ≤ LT ≤
2 × ∆i 2 × ∆imax 2 × ∆imin
4) Critério estético
As curvas de transição com pequena extensão são desagradáveis esteticamente, pelo que se considera necessário que
a sua extensão seja tal que sejam percorridas em pelo menos 2 segundos, à velocidade de projecto.
v
L T ≥ 2 × v B ou exprimindo vB em km/h: L T ≥ B
1,8
5) Equilíbrio de arcos – a extensão das duas curvas de transição de, sempre que possível, estar compreendida entre
1/2 e 2/3 do desenvolvimento total dos alinhamentos curvos
T03 15
ESCOLHA DO VALOR DO PARÃMETRO PARA AS CURVAS DE TRANSIÇÃO
Com base na equação da clotóide pode ser estabelecido o valor de A (parâmetro da clotóide) a partir do comprimento da
curva e do raio da curva circular: A = RC × L . e utilizando as expressões deduzidas para os comprimentos limite:
Devem ser respeitados os valores mínimos previstos vB (km/h) 40 50 60 70 80 90 100 120 140
na Norma de Traçado:
Amin (m) 35 50 70 90 120 150 180 270 410
T03 16
TRAJECTÓRIAS
A definição da directriz pode ser realizada pelas coordenadas num espaço
bidimensional – coordenadas geográficas M,P. O percurso ao longo da
directriz pode também ser descrito através de coordenadas polares, utilizando
das distâncias percorridas (k) e dos rumos (ρ).
Ao longo de alinhamentos rectos o rumo mantém-se constante e igual ao rumo do ponto inicial ( ρ 0 ): ρ = ρ 0 (a1=a2=0)
Nas curvas circulares a curvatura C é constante e a variação de rumo é proporcional à distância percorrida. Sendo
Rc o raio da circunferência, e ko e ρ 0 respectivamente a quilometragem e o rumo no ponto inicial, virá para o local
com quilometragem k:
1 1 1
C= = ρ − ρ0 = × (k − k 0 ) [ρ em radianos]
R RC RC
Ao longo das curvas de transição o rumo e a curvatura variam. Para uma clotóide, definida por um parâmetro A, a
curvatura é proporcional à distância percorrida desde o ponto de tangencia com o alinhamento recto (com ko e ρ 0 ) e a
variação de rumo é proporcional ao quadrado da distância percorrida:
1 1 1
C = = 2 × (k − k 0 ) ρ − ρ0 = × (k − k 0 )
2
[ρ em radianos]
R A 2× A 2
T03 17
CÁLCULO GERAL DA DIRECTRIZ
1) Variação de rumo na curva de transição (Âng. da tangente à curva com o eixo dos xx)
A2
dL = R × dτ = × dτ ∴ L × dL = A 2 × dτ
L
Integrando vem
L2 L
= A 2 × τ ∴ L2 = 2 × L × R × τ ∴ L = 2 × R × τ ∴ τ =
2 2×R
Ou, de acordo com a equação intrínseca da clotóide:
L A2 L2
τ = = =
2 × R 2 × R2 2 × A2
Equação intrínseca da clotóide:
2) Coordenadas cartesianas
A× 2 R x L = A2
L2 = 2 × A 2 × τ ∴ L = 2 × A × τ e derivando resulta: dL = × dτ
2× τ
A× 2 τ2 τ4 τ [2×(n −1)]
− ... + (− 1) ×
n +1
dx = dL × cos τ = × cosτ dτ cosτ = 1 − +
2× τ 2! 4! [2 × (n − 1)]!
e desenvolvendo cos e sen em série:
dy = dL × sen τ = A × 2 × senτ dτ τ3 τ5 τ [2×(n −1)+1]
senτ = τ − + − ... + (− 1) ×
n +1
2× τ 3! 5! [2 × (n − 1) + 1]!
Donde resulta substituindo e integrando:
τ2 τ4 τ [2×(n−1)]
− ... + (− 1) ×
n +1
x = A × 2 × τ × 1 − +
10 216 [2 × (n − 1)]!× [4 × (n − 1 ) + 1 ]
τ τ 3 τ5 τ [2×(n−1)+1]
y = A × 2 × τ × − +
3 42 1320 − ... + (− 1 )n +1
×
[2 × (n − 1 ) + 1 ]!× [4 × (n − 1 ) + 3 ]
T03 18
3) Coordenadas do centro da circunferência
A2
τC = e tomando apenas os três primeiros termos da série:
2 × RC
τ C2 τ C4
x C = A × 2 × τ C × 1 − +
10 216 x 0 = x C − R C × sen(τ C )
, vindo
τ C τ C3 τ 5
y 0 = y C + R C × cos(τ C )
y = A × 2 × τ × − + C
C C 3 42 1320
T03 19
5) Comprimento dos elementos curvos
A 12
L T1 =
RC
A 22
L T2 =
RC
L T1 + L T2
LC = RC × ϕ −
2
Ripagem (∆R)
L L2 A2
β = 3×α = = =
2 × R 2 × A2 2 × R 2
L2 L2
X ≈L Y ≈ ∆R =
6× R 24 × R
(valores aproximados para reduzidos valores de α)
T03 20
. EXPECTATIVAS DE UM CONDUTOR
As características da estrada devem estar de acordo com as expectativas “ad hoc” do condutor, por forma a não exigir
um aumento abrupto da carga mental do condutor, nem originar mudanças bruscas de velocidade.
1. Expectativas de longo prazo – adquiridas ao longo da vida do condutor e comuns a muitos locais
2. Expectativas de curto prazo – adquiridas durante a viagem
3. Expectativas relativas a certos acontecimentos – “o que nunca aconteceu, nunca vai acontecer”
T03 21
PREVISIBILIDADE
Cada tipo de estrada deve ser imediatamente identificável, mediante um conjunto exclusivo de
características do ambiente rodoviário, facilitando e induzindo expectativas correctas quanto ao tipo
de situações de tráfego habituais.
HOMOGENEIDADE
Um percurso homogéneo é aquele onde não se verificam variações bruscas das suas
características, variações que podem determinar, por inesperadas, surpresa no condutor e,
eventualmente, levar a manobras erradas.
T03 22
HOMOGENEIDADE DE TRAÇADO
Um traçado homogéneo é aquele onde não se verificam variações bruscas das suas características. Estes aspectos
devem ser considerados ao estabelecer as características geométricas, tanto em planta como em perfil.
R1 R2
(m) (m)
80 60 – 105
100 75 – 140
150 110 – 210
200 140 – 300
300 200 – 500 1 – Relação muito boa
400 250 – 750 2 – Relação boa
3 – Relação aceitável
500 300 – 1500
T03 23
2 – relações entre parâmetros das clotóides e os raios das curvas circulares adjacentes
T03 24
3 – a seguir a alinhamentos rectos extensos devem ser reduzidos gradualmente os raios das curvas circulares,
a fim de os condutores poderem reduzir a velocidade com comodidade e segurança. Deve ser dada
preferência a curvas com grande desenvolvimento relativamente a extensos alinhamentos rectos com
curvas de reduzida extensão
Estrada L R
(m) (m)
4 – os alinhamentos rectos entre curvas circulares consecutivas do mesmo sentido devem ter um
comprimento que marque a sua presença, ou seja que corresponda a um tempo de percurso de pelo
menos 5 segundos. No caso de tal não ser possível é preferível substituir as duas curvas e o alinhamento
recto por uma única curva
T03 25
5 – as curvas circulares entre dois alinhamentos rectos quase colineares devem garantir uma extensaõ
mínima. Para tal devem ser utilizadas curvas com raio suficientemente elevado, podendo inclusive serem
utilizadas curvas circulares com raios que não exigem sobreelevação nem a utilização de curvas de
transição
6 – devem evitar-se mudanças bruscas de direcção do traçado. Quando duas curvas de sentido contrário são
próximas é difícil introduzir a sobreelevação conveniente, originando ma condução difícil e perigosa. Um
bom traçado deve permitir introduzir as curvas de transição com a extensão necessária entre duas
curvas circulares
T03 26
b) Aspectos de homogeneidade no traçado em perfil
1 – deve garantir-se a extensão mínima nas curvas de concordância vertical, situação mais crítica entre dois
trainéis quase colineares. Para tal devem ser utilizadas curvas com raio suficientemente elevado
2– deve evitar-se um pequeno trainel entre duas curvas de concordância vertical próximas. No caso de tal
não ser possível é preferível substituir as duas curvas e o trainel por uma única curva
T03 27
COORDENAÇÃO DO TRAÇADO EM PLANTA E EM PERFIL
Os traçados em planta e em perfil devem estar coordenados para que o condutor possa:
1 – os pontos singulares não devem estar em concordâncias convexas, em curvas em planta com raio
reduzido ou em zonas onde haja descontinuidade de visibilidade do traçado
T03 28
Má coordenação planta-perfil, com início da curva
circular após concordância convexa, provocando
deficiente visibilidade
T03 29
4 – no caso de as curvas em planta e em perfil estarem sobrepostas:
a) devem analisar-se as consequências desta sobreposição quanto à segurança e à operação do tráfego
b) não se devem fazer coincidir curvas verticais de pequeno desenvolvimento com curvas horizontais; sempre que
possível as curvas verticais devem ter grande desenvolvimento
c) devem fazer-se coincidir as bissectrizes das curvas em planta e em perfil
RV ≥ 6 R
T03 30