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Essa lista discute alguns resultados importantes de Álgebra Linear que às vezes ficam de fora dos cursos
universitários (principalmente de engenharia):A forma canônica de Jordan, o polinômio minimal de uma
matriz, o teorema espectral e o teorema min-max sobre autovalores. Isso é apresentado na 2ª parte.
A primeira parte comenta conceitos menos sofisticados como multiplicação por blocos, autovalores e
autovetores, nilpotência, polinômio característico e diagonalização.
Vários resultados tradicionais não são apresentados aqui (como por exemplo as definições e principais
teoremas sobre núcleo e posto de uma transformação). Para um estudo introdutório de Álgebra Línear,consulte
qualquer livro universitário sobre o assunto.
1. CONCEITOS INICIAIS
A idéia de blocos também pode ser usada para o cálculo de determinantes, mas apenas no caso em que a
matriz C é nula. Nesse caso, tem-se:
A B
| A | | D |
0 D
Exemplo 1. (Putnam 86) Sejam A, B, C, D matrizes nxn tais que AB T e CD T são simétricas e
AD T BC T I . Mostre que AT D C T B I
Solução:
Transpondo a equação da hipótese:
DAT CB T I .
Como AB T BAT e CD T DC T , temos a seguinte identidade por blocos:
A B DT BT I 0
I 2n
C D C
T
AT 0 I
Mas se XY = I, com X e Y quadradas, então X e Y são inversas uma da outra e comutam, i.e, YX = I.
DT BT A B
I 2n
CT
AT C D
Em particular, isso dá A D C B I n como queríamos.
T T
Exercício 1. Sejam A, B, C, D matrizes quadradas tais que A inversível e AC CA . Mostre que nesse caso,
A B
| AD CB |
C D
I 0 A B A B
Sugestão: Olhe para o produto em blocos
CA
1
I C D 0 D CA B
1
Lista 03 1
Preparação Universitária – Análise
r xi max{ x k } .
1 k n
Olhando para a i-ésima coordenada de Ax x tem-se:
n n
x i a
j 1
ij x j x i aij x i 1
j 1
1.3. Nilpotência
Uma matriz quadrada A nxn é denominada nilpotente quando existe t natural tal que A t 0 .
Observe que uma matriz é nilpotente se e somente se todos os seus autovalores são nulos.
Demo: Seja x um autovetor associado ao autovalor . Então, Ax x A n x n x n 0 .
A volta pode ser provada facilmente com o teorema de Cayley-Hamilton, que será discutido adiante.
Denomina-se índice de nilpotência o menor inteiro positivo k tal que A k 0 , e não é difícil provar que nesse
caso tem-se k n (dica: prove que os vetores x, Ax, A 2 x,..., A k 1 x são LI).
O exemplo mais clássico de matriz nilpotente são as matrizes triangulares que tem zero na diagonal principal
(elas são populares por aparecerem somadas a matrizes diagonais na forma de Jordan).
0 * * * 0 0 * * 0 0 0 *
0 0 * * 0 0 0 * 0 0 0 0 4
Ex.: A . Nesse caso: A ; A ;A 0
2 3
0 0 0 * 0 0 0 0 0 0 0 0
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
(os elementos * representam números não necessariamente nulos).
Exemplo 3. (BPM) Seja A uma matriz nxn tal que tr ( A k ) 0 para k = 1, 2, ..., n. Mostre que A é nilpotente.
Sugestão: Suponha por absurdo que A tenha autovalores não-nulos 1 , 2 ,..., p com multiplicidades
m1 , m 2 ,..., m p respectivamente. Procure uma contradição no determinante da matriz associada ao sistema
p
0 tr ( A k ) m j kj , k 1,2,..., n ,
j 1
(obs: Use que a soma dos autovalores de uma matriz é igual ao seu traço. Isso será comentado em outro item)
Lista 03 2
Preparação Universitária – Álgebra Linear
Dados dois vetores complexos (possivelmente reais), podemos definir um produto escalar
como:
x, y x * y
1 i
Por exemplo, quando x , y temos x * y 1 ( i ) ( i ) 1 2i .
i 1
C , x, y x, y x, y
2
Observe que se e x, x x 0
Se A for uma matriz nxn e x um vetor do n , temos como conseqüência da definição (e da propriedade
( AB)* B* A* ) que:
Ax, x x, A* x
Obs: Uma matriz A nxn simétrica é denominada positiva definida se <Ax, x> > 0 para todo x não-nulo. Isso é
equivalente a dizer que todos os autovalores de A são positivos. Nesse caso, é possível mostrar que sempre
existe B tal que A B T B .
Teorema: Uma matriz real simétrica tem todos os seus autovalores reais.
Demo: (o resultado vale para qualquer matriz auto-adjunta):
Seja um autovalor de A associado ao autovetor x. Então,
x, x x, x Ax, x x, A* x x, Ax x, x x, x
2
Como x, x x 0, temos .
m
Exemplo 4. Sejam A1, A2, ..., Am matrizes autoadjuntas tais que A k 1
2
k 0 . Mostre que Ak é nula para todo k.
m m m m 2
Solução: Para todo vetor x:
A x , x A x, A x A x, A x 0 A x 0
k 1
2
k
k 1
*
k k
k 1
k k
k 1
k
2. DIAGONALIZAÇÃO
Uma matriz quadrada A é dita diagonalizável quando existe uma matriz inversível P tal que
D P 1 AP é diagonal.
Nesse caso, tem-se A PDP 1 , A 2 PDP 1 PDPP 1 PD 2 P 1 , e em geral,
A k PD k P 1
Isso simplifica enormemente o cálculo de potências de A, pois é fácil ver que
D diag (1 , 2 ,..., n ) D k diag (1k , k2 ,..., kn )
Obs: Esse é um problema de extrema importância em álgebra linear, pois sabendo calcular A k fica fácil
calcular qualquer série formal envolvendo A, como por exemplo polinômios, e A, sen(A), etc.
É importante observar que nem toda matriz é diagonalizável, como ilustra o exemplo abaixo.
0 1
Se A PDP 1 , então 0 A 2 PD 2 P 1 diag(12 , 22 ) 0 D 0 A 0 .
0 0
Lista 03 3
Preparação Universitária – Análise
Uma matriz Anxn é diagonalizável se e somente se possui n autovetores linearmente independentes. Nesse
caso, forma-se P colocando como colunas esses n autovetores e a matriz D P 1 AP será diagonal com os
autovalores de A na diagonal principal.
Uma condição suficiente para que isso ocorra (mas não necessária) é que A tenha todos os seus autovalores
distintos.
(demo em http://en.wikipedia.org/wiki/Spectral_theorem)
n
Exercício 2. (OBM 01) Seja A = (aij) uma matriz real simétrica n x n tal que aii 1 , a j 1
ij 2 para todo i.
Exercício 3. (BPM) Seja A uma matriz real, simétrica e positiva definida. Seja y n um vetor não-nulo.
y T A n 1 y
Mostre que lim
n y T A n y
existe e é um autovalor de A.
3. TEOREMA MIN-MAX
Seja A uma matriz real e simétrica. Sejam 1 2 ... n seus autovalores (eles são reais pelo teorema
espectral). Então,
Ax, x
k min max
dim S nk1 xS x, x
(ou seja: Fixe um subespaço S de dimensão n – k + 1. Olhe para r(S) = máximo da expressão <Ax, x> quando x é
um vetor unitário de S. O autovalor em questão é o mínimo dentre os r quando variamos S).
Exemplo 5. (OBM 04) Seja X uma matriz real inversível de ordem n e XT sua transposta. Sejam
1 2 ... n 0 os autovalores de XTX. Definimos a norma de X por X 1 e o fator de dilatação de
1 AB
A por d ( X ) . Mostre que, para quaisquer matrizes A e B inversíveis, d ( AB ) d ( B)
2 A B
Lista 03 4
Preparação Universitária – Álgebra Linear
Ax, Ax
, e min max
Bx , Bx
1 maxn
xR x, x 2 .
dim S n1 xS
x, x
Bx, Bx
Seja S o subespaço no qual 2 é atingido, i.e, 2 max .
xS x, x
Temos então:
ABx, ABx
max 1 , e juntando tudo vem 1 2
Ax, Ax
2
xS
Exercício 4. (BPM) Seja A uma matriz real simétrica com entradas não-negativas. Mostre que A tem um
autovetor com entradas não-negativas.
Sugestão: Olhe para o maior autovalor de A.
4. POLINÔMIO CARACTERÍSTICO
Dada uma matriz A, o polinômio
p A ( x ) det( A xI ) a 0 x n a1 x n 1 ... a n
é denominado polinômio característico de A. Suas raízes 1 , 2 ,..., n são exatamente os autovalores de A.
Observando o polinômio característico, é fácil provar que
Lista 03 5
Preparação Universitária – Análise
tr ( A) 1 2 ... n
det( A) 1 2 ... n
n 1
(basta observar que só a diagonal principal afeta a0 e a1,dando a 0 ( 1) , a1 (1) tr ( A), a n det A
n
)
Um outro resultado interessante é que p AB ( x ) p BA ( x) , ou seja, AB e BA sempre têm o mesmo polinômio
característico.
An
Exemplo 6. (IMC 00) Para toda matriz A real, defina e
A
. Prove ou disprove que para todo
n 0 n!
k 0
f (V )
Demo: Existe v tal que V x x . Segue que V k x k x para todo k e, como conseqüência,
k V k x k k x . Ou seja, se f (t ) k t k , então f (V ) x f ( ) x .
k 0 k 0 k 0
Mais geralmente, podemos provar (olhando as derivadas) que a multiplicidade desse autovalor em V é a mesma
que em f(V).
Sabemos que AB e BA tem o mesmo polinômio característico (e portanto os mesmos autovalores). Aplicando
o lema na série de potência de f (t ) e t , concluímos que e AB e e BA tem o mesmo polinômio característico
(e portanto os mesmos autovalores). Aplicando agora o lema em no polinômio p, concluímos que p (e AB ) e
p (e BA ) também têm o mesmo polinômio característico. Como uma matriz N é nilpotente se e somente se
p N ( x) x n , o resultado está demonstrado.
4.1. Cayley-Hamilton
Toda matriz é anulada pelo seu polinômio característico. Na notação acima, isso significa dizer que
a 0 A n a1 A n 1 ... a n I 0 , onde I é a identidade.
Esse teorema fornece uma outra maneira de se calcular potências de A.
3 2
Exemplo 7. Seja A . Calcule A100.
3 4
Solução: O polinômio característico de A é p A ( x) x 2 7 x 6 . Fazendo a divisão euclidiana de polinômios:
6100 1 6 6100
x100 ( x 2 7 x 6) q( x) x , sendo ; .
5 5
Como potências de uma mesma matriz sempre comutam, podemos escrever
A100 ( A 2 7 A 6 I ) q ( A) A , onde q é um polinômio.
Pelo teorema, A 2 7 A 6 I 0 e portanto A100 A .
Lista 03 6
Preparação Universitária – Álgebra Linear
Exemplo 8. (BPM) Seja A uma matriz real simétrica tal que A 5 A 3 A 3I . Mostre que A = I.
Solução: Vamos encontrar o polinômio minimal de A.
Como A é real e simétrica, todos os seus autovalores são reais e portanto as raízes de (x ) são reais.
Como o polinômio p( x) x 5 x 3 x 3 anula a matriz, ele é múltiplo de (x ) .
Mas a única raiz real de p é x = 1 ( p (1) 0 e p ' ( x) 5 x 2 3 x 2 1 0 x ), logo ( x ) x 1 e como
anula a matriz, deve-se ter A I 0 A I
Exercício 5. (IMC 03) Seja A uma matriz real tal que 3 A 3 A 2 A I . Mostre que A k converge para uma
matriz idempotente (i.e, uma matriz B tal que B2 = B).
Não é fácil determinar os tamanhos dos blocos de Jordan da sua matriz (e na maioria das vezes você não vai
precisar disso). A dimensão do maior bloco de Jordan associado a é a multiplicidade dessa raiz no
polinômio minimal da matriz.
Por exemplo, se p A ( x) ( x 2) 5 ( x 3) 2 , temos que para 1 ( x) ( x 2) 3 ( x 3) uma J possível é
2 1 0 0 0 0 0 2 1 0 0 0 0 0
0 2 1 0 0 0 0 0 2 1 0 0 0 0
0 0 2 0 0 0 0 0 0 2 0 0 0 0
J 1 0 0 0 2 0 0 0 . Outra é J 2 0 0 0 2 1 0 0 .
0 0 0 0 2 0 0 0 0 0 0 2 0 0
0 0 0 0 0 3 0 0 0 0 0 0 3 0
0 0 0 0 0 0 3 0 0 0 0 0 0 3
Obs: Na maior parte dos problemas você não vai precisar calcular a forma de Jordan explicitamente. Mas para alguns
exemplos e uma explicação mais detalhada você pode consultar http://www.maths.gla.ac.uk/~tl/minimal.pdf
Exemplo 9. (IMC 00) Sejam A e B matrizes quadradas de mesma dimensão tais que rank ( AB BA) 1 .
Mostre que ( AB BA) 2 0 .
(Solução oficial): Como o posto (rank) de X = AB – BA é um, no máximo um autovalor da matriz pode ser não-
nulo. Como Tr ( X ) Tr ( AB ) Tr ( BA) 0 é a soma dos autovalores de X, todos eles precisam ser nulos.
Colocando X na sua forma de Jordan (os autovalores entram na diagonal) temos X PDP 1 .
Lista 03 7
Preparação Universitária – Análise
D não pode ter um bloco de tamanho maior que 2 (porque isso significaria 2 colunas independentes,
contradizendo a hipótese posto(X) = 1).
0 1 2
Como J 2 (0) J 2 0 , temos que D2 = 0, logo X 2 PD 2 P 1 0 .
0 0
Exercício 6. Seja A uma matriz quadrada complexa inversível. Mostre que existe B tal que B 2 A
Exercício 7. (Vietnam 03) Seja A uma matriz quadrada tal que A 2003 0 . Mostre que
rank ( A) rank ( A A 2 A 3 ... A n ) para todo n.
6. LISTA DE PROBLEMAS
1. (IMC 97) Seja M uma matriz inversível 2n x 2n, cuja representação por blocos é
A B E F
M , M 1 . Mostre que detM.detH = detA.
C D G H
2. (Putnam 85) Seja G um grupo finito de matrizes reais nxn {Mi}, 1 i r com o produto de matrizes
r r
tradicional. Suponha que tr ( M
i 1
i ) 0 para todo i. Mostre que M
i 1
i é a matriz nula.
3. (COM 04) Sejam A, B duas matrizes n x n com entradas reais tais que para qualquer matriz X nxn se tem
det(A+X) = det(B+X). Mostre que A = B.
4. Seja A uma matriz complexa satisfazendo a equação Ar = I, r natural não-nulo. Mostre que trA n
6. (BPM) Seja A 2x2 com coordenadas inteiras e suponha que exista n tal que A n I . Mostre que A12 I .
8. (Putnam 96) Dada uma matriz quadrada A, definimos senA pela série de potências
(1) n
senA A 2 n 1 .
n0 ( 2 n 1)!
1 1996
Prove ou disprove: Existe matriz real A tal que senA .
0 1
9. (Vojtech 03) Duas matrizes quadradas reais A e B são tais que A 2002 B 2003 I e AB = BA.
Mostre que A + B + I é inversível.
10. (VJ03) Sejam A e B matrizes hermitianas 2x2 com autovalores (a1, a2) e (b1,b2) respectivamente. Determine
todos os possíveis pares (c1, c2) de autovalores da matriz A+B.
7. REFERÊNCIAS
1. Linear Algebra Problem Book, Paul Halmos (leitura recomendada para os iniciantes).
2. Berkley Problems in Mathematics, Paulo Ney e Jorge Nuno Silva.
Lista 03 8
Preparação Universitária – Álgebra Linear
Lista 03 9