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Sobre o autor1: Hans Christian Bugge (nascido em 1942) é professor emérito de Direito
Ambiental no Departamento de Direito Público e Internacional da Universidade de Oslo
(Noruega), desde 1998. Formou-se em Direito pela Universidade de Oslo em 1968. Tornou-se
Doutor em Planejamento Regional e Economia, pela Universidade de Paris II (França), em
1972. É “Doctor juris” da Universidade de Oslo em uma tese sobre a responsabilidade pela
poluição e princípio do poluidor pagador no Direito norueguês, em 1998. Ocupou vários cargos
de alto escalão como funcionário público no Ministério do Meio Ambiente da Noruega, entre
1972-1982. Em 2005, tornou-se líder do grupo de pesquisa em Direito dos Recursos Naturais,
da Faculdade de Direito (Universidade de Oslo). Escreveu diversos livros e artigos no campo
do Direito Ambiental e desenvolvimento sustentável.
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Sobre a biografia de Hans Christian Bugge, consultar:
<https://www.jus.uio.no/ior/english/people/aca/hcbugge/index.html>. Acesso em: 26 abr. 2019.
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ser desenvolvido a fim de garantir uma proteção legal mais forte não só para os seres humanos
enquanto cidadãos, mas também para a proteção da natureza e dos valores naturais.
Segundo o autor, embora haja uma necessidade premente de mudanças éticas,
prioridades políticas, sistemas econômicos e estilos de vida, os quais influenciam, diretamente,
a crise ambiental em que se vive, há, por outro lado, uma profunda preocupação com o
funcionamento da legislação ambiental, suas limitações e fraquezas, e como isso pode ser
melhorado e fortalecido.
Inicialmente, Bugge (2013) elucida os conceitos de “Estado de Direito” e “natureza”.
O primeiro conceito engloba os mais elevados valores e funções da lei e do sistema legal na
sociedade. Para o autor, tal conceito possui um conteúdo processual e substancial. No sentido
processual, significa que as leis devem ser estabelecidas por um processo aberto e democrático.
No sentido substancial, o “Estado de Direito” implica que a lei esteja em conformidade com os
direitos humanos reconhecidos internacionalmente, assim como os direitos e normas relativos
aos direitos e liberdades fundamentais, dentre outros.
Quanto ao conceito de “Estado de Direito para a natureza”, o autor elucida que há dois
aspectos principais. O primeiro refere-se à importância do Estado de Direito como pré-requisito
para a gestão da natureza e dos recursos naturais. O segundo aspecto corresponde à extensão de
importantes elementos do Estado de Direito para além dos seres humanos, como cidadãos, à
natureza e aos valores naturais.
Bugge (2013) elenca os 12 (doze) problemas fundamentais em Direito Ambiental, que
auxiliam a compreender as dificuldades enfrentadas pela lei e política ambiental. São eles: 1)
A natureza é autorreguladora e complexa; nós não podemos influenciar as leis da natureza; 2)
Muitos problemas ambientais são invisíveis; 3) Muitos problemas ambientais são marcados por
incertezas; 4) A natureza não pode agir legalmente; natureza, o meio ambiente, não tem voz na
tomada de decisão; 5) Muitos bens e serviços ambientais são bens públicos no sentido
econômico; 6) Valores ambientais - e danos ambientais - são difíceis de precificar corretamente
na tomada de decisão; 7) O problema do “paradoxo das pequenas decisões”; 8) Muitos
problemas ambientais atravessam problemas econômicos e setores sociais, tanto nas suas
causas como nos seus efeitos; 9) Os mais sérios problemas ambientais atravessam fronteiras
administrativas; 10) Muitos efeitos ambientais são de longo prazo; 11) Corrupção; e 12)
Pluralidade de valores e complexidade na tomada de decisão.
Por fim, o autor esclarece que há um dilema, eis que a proteção da natureza passa a
exigir que cada setor econômico seja diretamente responsável e integralmente encarregado de
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proteger a natureza e garantir a sustentabilidade ecológica de suas políticas e medidas. No
entanto, o autor indaga: “Mas como isso pode ser alcançado quando a proteção vai contra o
objetivo e o valor do setor?” (BUGGE, 2013, p. 25, tradução nossa).
Para Bugge (2013), os desafios legais da responsabilidade do setor relacionam-se tanto
com regras processuais como substanciais: como garantir, através de meios e instrumentos
jurídicos que os objetivos ambientais sejam totalmente integrados nas políticas do setor e em
pé de igualdade com os objetivos deste setor, em vez de serem vistos e tratados como contrários
ao seu objetivo primário? Como pode a legislação trabalhar de tal maneira que os objetivos da
proteção ambiental sejam, naturalmente, internalizados em objetivos setoriais e na aplicação de
políticas setoriais, e não serem algo que precisa ser evitado?
Tais questões, segundo o autor, demonstram a necessidade de fortalecimento do
Estado de Direito para a natureza.