Você está na página 1de 14
/ Jan~ $ui/1988 31 31 ESPORTE, EDUCACAO E SOCIABILIZACAO: aLcums neFtexdes [A LUZ DA SocrovoiA no Esponte (**) + mauo BETTE RESUMO: 0 objetivo este trapsino ¢ discutir as relapses do esporte com a etucagioe a soctabtitzacio a partir de referenciats teéricos pro postos ela Sociologia do Eaporte, A partir de cinco caracterteti- cas do esporte fomal de alto rendinento (competigio, nierarquia s etal, rendinente mixino, reconpensa extrinseca e rearas), so discu- tides alounar tmpliongdnn pednaégicne ¢ eectaie » dofinsdoo alguns Pontos de ruptura com a Educasio Ffsiea Escolar © 0 conceite de Jogo exportive. Por fin, © esporte 6 propoate como un modelo de polarida ces antercependentes, que possibilite 20 edveador-profissional un di rectonamento do proceso de acciabilizagio. 1, mrRoouco Enbora o primeire eetudo sobre Sociologia do Esporte date de 1921, nuns obra publicada na Alemanha sob o tftule Soxtologte das Sports, de autoria de Heine Ri sectoiégioa do caporte ¢ das atividades Pfeivee ex geral continuan (uvscHEN & WEIS, 1979), a dimenaio Pouco estudadas. En conseqlincia, alguase importantes questies do Ponto de vista educacional eontinuan pouco claras. Por exeuplo: oes porte serve para a aprendizagen de conportamentos soctate? 0 ceporte consegue quebrar as berreiras sociais numa soctedade de cla regras esportives servem cono treinanento para as regras da vide so- cial? Mas a questio-chave, no nosso entender, 6: por que o esporte 6 educative? A maior parte das pessoss que spregoam o valor educati ve do eaporte se entarasan frente a esta sinpies questo. * Prorcason po Depanragento ur Evucxgiy Fisica Do INSTITUTO De Bto= clenctas pa UNESP ~ “campus” pe Rio CLARO. "* TexT0-BASE,DA PALESTRA "0 COMPORTANENTO SOCIAL GERADO PELAS REGRAS Esrontivas". ruureiiua NO V CONGRESO BRASILEIRO UE CIENCIAS. HO ESPORTE. OLinpa, 1987, 32 © eaporte tem sido tradictonaimente pensado como un meio para a Lingir aecermnagos rine. £ coneiderade como un mete para a solucio de problemas soctais-come 8 criminalidade, como um derivative pera o instinto agressivo, cono un alfvib para o stress dos grandes centros lurbanos, como forma de preparar a erianca para as exigéncias soctais a vida adulta, como forma de treinamonto para o trabalho industeial © até como forma de promaver a pax mundial (vide etinpiono), ou re= prinir a sexualidade, Neste sentido, alguns abusos ten eido coneti- 08 eni nome do valor utilitdric do esporte. Mao-Tef-Tung, por exer Plo, eonsiderou @ masturbago como doontie para a juventude chinesa, Porque & desviava da luta revoluetondria, © presereveu cone renédio contra 0 onamisno a prética do esporte e 4 leitura de Marx © Engels (REBOUL, 1980). No Breeit, durante ¢ perfodo conhecide como Estado Novo (1997-1945), @ Edueagio Fisica ¢ o eaporte foran extremanente va Aeeisadoe cone forma dineta do preparagie militar para a guerra (rT GUEIREDO, 1841; NUNES, 1942). Ha Poldnia dominads pelos alenBee du- ante @ Segunda Guerra Mundial, un decreto baixado pelos naztetas os 1943 tonou a seguinte medida: As disetptinas que deseavolvan 0 cept, Fito © 0 jufzo, assim coo a educasio ffsioa aio exetufaas do progra fsa escolar” (citado por REBOUL, 1980, p. 128). Tenerian of nazistas ‘que @ educagio tfsica pudesse functonar cone fator de resisténcis eoatnacio? ‘Tenbén 08 educadores tendem a atributr fungdes utilitérias "pom sitive ‘sociabiliza", ele “aisetplinat, ole para o esporte. Bie ensins a ganhar © perder", "faz bes A saude", ete. Mas nfs, coms © Gucadores-profissionats, texos uma coneeténeia, sem a qual nio serfe ‘0s educadores nem profissionais, © devenos assunir una postura eri ‘tea © una acituge clentfrica aiante desea ugares-comuns © axtonas ‘gue nos sio inpostos a todo momento. En prineiro lugar, podenos ques ‘ionar se 0 esporte compre tear beneffeios. “Poueo se fala e menos ainda se pesquisa sobre as conseqiéncise negativas da participasio esportiva (super-treinanento, espectalizagio precoes, violEneta, ete), (como se qualquer pratinn aapartive sempre fesse boa, on quatequer ois, consténcias © condigées. Bn segundo lugar, precisanos ser capazes e explicar por que © esporte sociabilizs, por que tle educa, ets, ou sepa, compreender os secantsnos sécio-paicalégicos que permitem ao praticante adquirir tantas aprendtzagens soctats. © por fim, pode ser Ksiroste, 6(1):51-49/ jan- gui /19 ver~sade queo esporte desenponhe todas estas fungSes, mas serd que e- Le a6 pode see connidarain ama cunpetder de fungdea Madrias" na vin a7 0 esporte nio pode ser visto simplesnente como una fonte de di versio, prazer e alegria? 0 esporte nio pode ter una finalidade om si mesmo? Um valor intrfnseco relactonade a satisfagio que o parti- cip ante obtém com a prépria realizagio da atividade? eeporte na esfera do Jogo, aqui conceituado segundo HUIZTNGA (1871), 48 que © esporte, © mesno 0 esporte profissionsl de nossos tempo: em uma oFigem 1idica, DUNNING (1979) conetderou esta una perspects va Anusitada © promissora para a Sociologia do Esporte. CSIKSZENT~ MIWALYT (1975) apontou © fate de que £1Se0f08 de Plato a Sartre ob, servaran que as pessoas sio mate humanas, integrais, livres ¢ criath, ‘vas quando jogar. Tanbén conaiderou que, a0 Jeger, 0 honem Aatdvanonte Livre da tirenta dae necessidades, pots © Jogo alo & una simples resposta a presses anbientats, mas un ato relativanente es. Pontiineo do orgentsno, além de ser agradivel. E necessdrio, portan- to, tanben investigar por que o jogo € agradivel © inteinsicanente necospensador. 2. SPORTE, EDUCAGKO CORPORTANENTO SOCIAL © esporte nio & educative a priort, © preciso tomé-lo un moto educative, Além disso 0 prépric temo Yeducagio" no € neutro, nes: te caso, Educs atguém para algo, n& sempre una finatidade, impit esta ou explicita, na acio educstiva: mats que ‘aso, hi um modelo de hone, historicanente determinsdo, que se deseJa formar. £0 que nos ensina a Filosofia da Educagio, Para compreendermoé o potenctal e. ucativo ao esporte, @ preciso conceituar mais precisanente o que s¢ fentende por esporte. costuns ido do que 0 esporte. Mas se tonammos como referincia o esporte na se dizer que no hi nada male mal deft sua mantfestagio mais formal, ao esporte de alto rendimento, reeul~ tam visfveis certas caracterfsticas distintivas do eeporte. Com bax 150 em RFLAENOTT (1076); BROHOL (2078); LUBCHEN (297e) « LYESHIEN ® wE3 (1979) roram arroladas cinco carscterfaticas, o om fungio delas alay fmas implicagdes educacionats ¢ gcoiais serio aunarianente discuttdas. A prineirs caracterfstica £ a gompetigde, No existe esporte ‘lo competitive, Mesmo nas sodalidades em que no hé confronte ates 34. te com 0 adversirio compete-se ou contra a natureza (alpinisno, por exenpio), ov contra um recorde, ou contra os dois, LUSCHEN & WEIS (2878) cerinen esporte como "una ago social que s9 desenvolve en forma 1dica como competigdo entre duse ou mais partes oponentes (ou contra a natureza) ¢ cujo resultado vex determinado pela habi2idade [ps 9), € este Fesultado eatabelece una nierar- tdtica o eatratéas quia de status, Con base om AUSUBEL, NOVAK & KAVESTAN (1080) «SHE RIF (1976), competigie pode ser definida como una fores de notivacio intensificada do ego, que envelve una stividade auto-enal tecedora, di igida ao aloance de us padrio ou meta na qual o desempenno do indt- ‘viauo ou do seu grupo é conparado © avaliado com relagio ao de outro Andivfduo ou grupo selectonado, que leva a formagiio de una hierarquia entre of indivfaies ou grupos. Existe, portanto, sempre un referencial sootal na canpeticio ex portiva, Meste sentido, mesno numa prova de 100 metros dtsputada por lum nico atlets, existe o contronto com un conpetidor que, enbora no eateje fisicanente, esta socialmente presente: o recorde, Ficou in- pifeita, entdo, a segunda caracterfetica do esporte formal: © Lecinento de una hierarquta social, clara ¢ objetiva, entre os compe A competisio no esporte formal exige rendimento aéxteo (sorcei- ra caracterfatica). As capacidades © habilidades do eaportista aio oxigidas om seu lintar mixino, en busca do objetive da atividade: a vitéria ou 0 recone. cone a competicio eeportiva mittas vezea leva s alguns excessos (aopagem, violéneia, suborno, ete.), alguns educadores idealizan um eeporte som competicio. 0 que £ usa contradic, note 0 esporte ext, Be luta, esforgo, procura da performance, afirnucio de st, ¢ para 1s, to € necessério um terme de conparagio ou defrontagio com un adversi, Flo, Contudo, este adversério pode ser visto, ao mesmo tempo, como tum pareeiro, pole ale #6 Joga spenas contra alguén, nas tanbén com al, guén (nko © possivel Jogar por exenplo, t2nis de mesa, sozinho). & competigie esportiva prestupde, portanto, » cooperagia. £ uma obri- gacio do educsdor-profissional enfatizar eate aspecto. [As virtudes © os vicios desta competigde Ji eatio presentes nes, ta origen, que 6 exatanente 0 desejo de fazer melhor, de obter a me: 35 (4) :31-49/ Jan gun/ tho F performance, para si mesno © para testemunhas, ou 96 aperecen a partir de ents intensidade? Pare BELRENOIT (1976), oxisten duae ms nei TAs erradas ée ver a questo. A primeira é ver apenas as deturpa, (Bes Ga compotisée esportiva, sem considerar o que ela tras de bom a0 atlets, Sod este aspecto, LENK (1978) considera que no rendinen, to eesportivo, como no rendinento artfetico, nf a identitteagio da pré pris cristividade, propictando prazer, ¢ que enquante Srea de expers Gnods da constituicde ativa do ew, aubstitutivo da natureza e campo ‘e rmanitestagio piblica do indivfauo, © esporte proporciona una érea de Vivineta vital, em que & possivel v rwulimente espontéines © ese Jado, ou seja, una experténoia ativa primiria ¢ de autocosprovacio. A segunda incorregio & stribuir todos o desvios a corrupcdes vindes de fora ~ 05 intereeses econdmicos, a sdeologia capitalist 2 nactg hnalasmo polftico, ete, A ideologia capitalists ten aide atributd muttes oi plo, BRACHT (1986) © LAGUILLAUHE (1978), Eatas infiuéneias no po- dem ser negadas, ¢ este mesno en crescinento no esporte moderna, mis Imazelas do esporte de alto rendinento: vesa-ee, por exen- precises ser consigeragas na sua interagio com as earacter‘sticas € 8 dinfintca do ur fendmeno especttico que & a atividade portiva, Se ré que 0 que elas fazen néo & axpliticar tendineias J& presentes no espLrito da conpetigie esportiva? 0 problema educativo do eeporte re. side justanente em ender Lidar com estas tendénet es fazer com que 0 que as "positives, © honem procura na competigio © prazer de se sentir ffaica smo ralmente forte, de se ultrapasear, de superar 08 obstdeulos ¢ veneer © sdversirio. Minguée entra num Jogo (mesmo considerado em seu aspec, to Lites mate puro) para perder; ae alguém finer corps mole" © Jor go perde a graps. Mas em consoqtGncia 4a quantidade de esforge dis~ Pendido, do gosto crescente pela vitéria © das reconpensas que dela advém, pode-se fectimente pender para a busca da vitéria @ qualquer prego, para s desonestidade, a vicldncia, a dopagen, ete. 0 uso des « fee maxina ¢ a busca da vitéria tenden sempre a tomnarse fins on et resmo. A existincia de una recompensa extrfnseca ao espace da disp ta coportiva proprianente Jim # vulrw caracterfetica ao esporte ror, recursos esti na 16gica da atividade esportiva, onde a performan Iasi do alto rendimento. Para LUSCHEN (1972) ¢ 0 nfvel desta recor ge pense exteln 8 que determina @ posigio de une atividade - esportive entro de us contfnue decinide por guas polarieades: o trabalho ¢ o Jomo. Quanto mais nos aproximanos do esporte formal, maior é 0 nf- vel de reconpensa extefnseca (prinios, dinhetro, fans, etc.). 0 os- porte profesional esté localizado numa das extreatdades deste cont! ‘luo, confundindo-se con © trabalho. Usa "pelada" we futebol na praia, Anformalmente Jogada entre amigos. extaria praxina 3 polaridads opos Por £4 4 Gitina caracterfstica do esporte sio as regri No esperte formal as regras io pré-detersinadas, precisas © convencio- hnadas internsctonaimente. Una vex estabelecidas (do ponto de viata educacional a forma de antahelecimente desta rogras £ que pode ser Asscutido), precisan ser incondictonalmente cumpridas por todos of Jo Betores, para que a atividade seja possfvel. © que acontecerta ae um resolvesse jogar con suse prépriss regrs As regres cunpren dots papéis bésicos: caracterizan una dada atividade esportiva e iL ten os meios posstveis para © alcance do objetivo do jogo (por exem plo, a negra dos tréi segundos no basquetebol ou a lei do inpedimen- Yo no futebol). As regras, portanto, tim que eer suficientenente rf aide para carecteriaar une dada modaiidade © no permitir que 0 Jo- + MAS 20 nesno teapo autictentemente Mlextvets para diferenciar as vériae modalidades «© permitir vartagdes nas estratégias dos jogadoree. Un equilforie mito especttice prect abelecido entre a rigide: © a flexibinidade d regras; se fs relagies entre aqueles que Jegan sio muito rigidanente ou frouxae ente atadas as regras, © Jogo terd a aus dinnica abalada (ELIAS & bumurnG, 1966). ‘Ao mesmo tenpo que dificuitam © aleance do objetivo, ae regres tornan s vitéria mais saberosa. Por ige0, pode-se questionar se al- gues resinente se satisfar con una vitéris abertanente fraudulenta. © Jogador é a todo momento tentado a infringir as regras do Jogo pe: Fa mats facilnente atingir seu ebjetive, A todo momento o jogador (fairplay), ou desrespeité-loe para vencer, Para BELBENOIT (1976) exatanente neste terreno perigoso, onde os limites entre o certo © errado sio bastante tinues que reside o pontencial educative do es porte, A mesma paixio que leva & busca da vitéria a qualquer prego Kinesis, 6(2):31-49/ Jan-gul/2988, 3 Pode fer canalizada para a leaidade, a generosidade, 6 espfrite de ¢ quipe © 0 respeito para com o adverairio; as regres poden ser vistas ‘como vn elenento 4 respette do qual todos deven estar de acordo para que © jogo sega posefvel. ‘hs nesso 08 beneficios educativos do esporte sic ao mesmo tom po carregaios de perigo. 0 espirito de equtpe, por exemplo, manifes terse tanto na quadrtina de assaltantes cono numa equipe médica que salva vides, 0 esporte destrét, ainda que tesporarianente,as barre as sostais; com a mesma canisa atusn lado a lade o natrin # 0 ope: rio, © que pode dar una flea impress fe justice social, 0 carater segracto das regras pode levar a una atitude de submissio a autora dee Wegltinas. Meany o aeplay usa virtude suprema, Sera que e2¢ ae transfere autonaticanente para a vide? Muito provavelnen te no, sinplesmente porque as rear: ¢ 08 valores do Jogo eaportive nfo slo os mosnos da vida social. A conpetigio esportiva caractert- 28-80 por dar-se en condigées de igualdade (todos os corredores par ‘tem do sesno ponto): exietr comportanentas moralmente acettévete (nie oso agredir 0 sdversério pare tonar-Ihe a bola); gerar una hierar qwiia Flexfver (hoje sou prineiro, aman segundo); ser Justa © impar ctat (an regras ¢ os Grbitros estio 18 para garantir isto). Serio es tas tambén as caracterfeticas da "competicio" da vide? Alguns argu- mentos seriam suficientes para responder negativanente a esta questi Aditi 0 contrério seria acreditar, por exenplo, que 9 filho de un operirio nio-especializado compete, dentro do stetena educacional yen Sgualdade com © fiiho de un midtoo ou grande empreséric. ou entioy Sulear como morainente aceitaver © justa a competiclo econémica min 801, que scumula riqueza e opuléneta en um hentetério do globo ¢ mi séria © fone do outro. 0 que 0 esporte faz tomar una prética con ereta o que na sociedsde capitalista $ uma ideclogia: acompeticio ho nesta © imparcial en condigdes de igusidade (WEBB, 1969). Outre ponto relacionado as regras ¢ 0 que tem sido demoninado ne Sociologia do Esporte de resolugio de conflites (REES 2 MTRACLE (1984), ‘A todo momento surgen ns atividade esportiva conflitos entre os par- Hoeipantes que précisam ser resolvides para que a atividade prosetga (por exemplo: foi falta ou nio?). rate nndn ner feite mediante um controle externa, por internéaio de jufzes, professores, ete., que ae encarrogan de interpretar © aplicar as regras, ou internamente, con 8 08 préprios participantes exercendo este papel. No esporte format né lun predom{nto absolute do controle externo. Hf aqui uma inpltcagdo pedagégica importante, que significa um dos pontos de ruptura entre gio Fisica, pots st esta deve evar & aquisigio do nabsto consciente a pritica de atividades ffeteas (ineluinde 0 esperte), a crianca e © Joven deven ser estimulados a elaborar, interpreter © splicar as re ras para que ndo soja compre nece: rio a presenga de un elemento ex terno, € para que aprendan a gorenciar una atividade grupal (4sto no 2). & sootabs 14209 Contude, diante do concesta erténeo de que sociabilizar € ape- ras ensinar alguén a coguir normas pré-estabelecidae, existe uma ten Gincia entre os profissionaie da rea, is vezes com 0 apoie do discur so oficial, a supervalorizar © papel das regras esportivas. Por exen plo, mesmo tentando dar una nova diregdo & polftica de esportes © a0 esporte escolar no pafs, 0 relatoric da Contasio de Reformulagio do aucagio portiva, que "o respeite aos outros ¢ ie regras é 0 que ai sentido ao jogo © faz com que proporeione maior satiefagio" (BRASTL, wawrsréRI0 DA EDUCAGAO, 1985, p. 150). Quer dizer, cunpra.as regras © tistagio garantida! Na verdade, & 0 equiifvrio entre 0 desatio da atividade © 2 capacidade do jogadar que praparetona a aaneagiin Ae py ter e satistagio so praticante, a experiéneia pessoal que CSIKSZENT- MiHALYT (1975) denomtnou *fluxo", para denotar a sensagio holfstica presente quando aginas con um envolvinento total. ‘concLUSKO: 0 JOGO ESPORTIVO COMO UM COKJUNTO DE POLARIDADES As relagdes do esporte com a educagio, tomadas do ponte de vis~ tts soctoiégico, tenden sempre a levar a discuesio para acstera do Jo fg. la escassa literatura brasileira sobre o assunte, por exemple, BRACHT (1956), CARWO (1985) © CUNHA (1084) vaiorizan as relagdes so cials no contexte do jogo, porém restringindo-se a0 proceseo de ela- Dboragio de regras @ & nopio do adversirio-parceire, Concordanos com 4 Lleida atineagio de BRACHT (1986) de que, 20 atuarnos sobre 0 ae do sobre as dimensBes afetiva © social, ¢ que é preciso levar em con siderapio, na ago pedagégica, © "estabelecinento de estratégias que Kinessts, 6(1):81~43/ jan-Jul/1088. 39 objetdven consctentenente o desenvolvimento, mum determinado sentido, desces outros aspectos/asmensiee" (p. 66). Neste sentido, una ruptura, ainda que parcial com omodelo do ea, porte formal de alto rendizente, cone $4 apontivanos na seco antert oF, parece easencial se quisemos, en prineiro lugar, un directonanen to consctente do processo de soctabilizasio através do eaporte; en s undo lugar, 0 esporte integrade cono us conteido e melo da Bducasio Fisica Escolar; ©, em terceiro lugar, 0 esporte acess{vel um gran 2e mfimero de pessoas. A ruptura é colacada como parcial poraue via menos denearir © esporte formal enquanto una forma de espetécuto ar tstice (como © cinena ou o teatro) © patrindnio culture! da humant- © conceite de Jogo-esportive, terno jé utilisade pela Federa~ gio Internsetonal de Eaueagio Fisica (1977), ou saja, una modal tdade de Joge com tipiticasie esportiv parece mais edequado, valoriza o aspecto lidieo presente no esporte © traz importantes impticagies pe dagégicas para a Educagiio Fisica Escolar, Algunse destas impitcacdez foram discutidas en BETTI (1983) © SEYBOLD (1974, 1976). Com base em quatro elementos constitutivos comune @ todas as a Uvidades esportivas (Jogo, enpenhanento ffeice, luta pela vitsria 08 performance © rogras), BELSENOIT (1976) define esporte de una etre que julge permitir ao educador eaminhar em meio formas que assume hoje o fendneno esportivo © pressentir suas conds ees de utitizagio pedagégica: Yuna luta, coportando us enpenhanen= ts fetco, desinteressada ¢ submetida a regras intangfveis" (p. 103). Isto porque 28 quatro elementos podem combiner-se de modos dife- Fentes, © con Isso 0 esporte passa por una série de graduagSes, sen corte definio, desde o esporte protiesionsl e de alta conmpeti¢ae eo Porte de lazer, passando pelo esporte adsptado a projetos edueati- Assim, proponos um modelo que 0 esporte seJa visto eco um conjunto de interpolaridades, ov polaridades interdependentes. & pri. eira polaridade & entre o Jogo eo trabalho. 0 conceito de jogones Portivo Jd pressupde una tendncta & polaridade do Jogo. As demais po Laridades so: compotisie/eocperagios recompense extefneccn/iniefime ca; regess rigidas/fiextveis; controte extemo/interno ehonestidade/ vitéeia, As diferentes combinasSes destae polaridades trdo determi- 0. nar 0 carter petco-soctal de usa atividade esportiva. A opsiio por una das polaridades tende a afetar as denats inter Polaridades. Por exemplo, num jogo esportive hé necessidade de co- eperagio entre as equipes pare que b jogo ss posstvel, © 8 parti- etpantes tén que concordar no conceito de honestidade ¢ resistin & tentagio de quedrar as regras. Para RES & MIRACLE (1984) esta coope. ragio é mais faciimente atingida em jogos © esportes informais, onde 08 Jogadores tin que realizar eua prépria arbitragen, do que nos es portes Tormalmente organizados. onde @ Julganenta das regras depends dos Srbitros. MANTEL & VANDER VELEN (1974) encontraran a énfase ne busca da vitéria @ no desempenho habilideso como naiores preccupagses wu participantes ae esportes organtzaces formalmente, © énft tidade nos nio participantes daqueles esportes. POLCAR (1975) des ereveu 0 comportanento de escolares nun Jogo informal, onde a busce fa vitéria cedeu lugar & necessidade de restaurar as condigdes de {= ualdade entre as equipes: dots garotos altos Jogavam basquetebol con Gols garotos baixos. ¢ para tomar © jogo maa juste © d garotos matores Jogivan de Joelhos e arrenessavam de longa distncia, Eate autor presenciou une eftuagio nun Joga de futebol infantil, num contexto informal, cuja descrigia serd eeclarecedora: P. (8 anos) pisou no pé de 8. (6 anes), que parou o jogo, ale Prvatimmou que "piear no dedo no é faite! ‘AL (7 anos) sustentou que sim, que era falta, Etabeleceu-se um ispasse © 0 Joxo parou Li (@ anos) tonou a bein, solessuce ne acto © sugeriut sar no dedo é falta, mas ndo € falta grande, entio a barreira fica pertinho” (colocou dois garotes s cerca de 40 em da bola! Todoe soncordaran © & Jose pro quer dizer, © conflite fo resalvido mediante controle interno, © que fot favorecido pala flexibilidade com que regres foram enca radas polas crtancas. sbinidas Ao educsdor-profissional compete optar pela varias po es dentro do continue fommado por cada variével ¢ definido por duas polaridades. Tato send feito de scordo com suas conviagies ftloséfi, e45 sobre 0 honem, © papel da educacéio, ete.. de acordo com os obse- tives do sistema institucional ex que ele atue, as caracterfattoas de Kane sts, 4(1):91-43/ Jan-Ju1/1908. 4 fom vissta das opgies feitas escolher as eatratégias adequadss ao de- wenvodrinente dus avivigades. Por exemplo, & comum entre os protie- stona:ts da dren justificar a Sofase na conpetisio © na busca da vit ria porque "a vida & una competigio". Se una opgio £ eethor do que outrass, passa a ser um probie: de Ldeoiogias e valores, que foge a0 Propisto deste trabalho discutir, Contudo, este modelo ten a venta ‘bom de conceber © educadar-profieetona? como um agente consciente ao proceso, libertando-o de esquemas ideolégicos pré-fabricados, Cencluindo, fazemos nossss as palavras de Pariebas (apud SELAE- worn, 1976) "0 desporto néo possut nenhuns virtude méaten. rie E contorme: ele & aquilo que se firer dele. A prew Hica do judd ou do raguebs pode formar tanto patt~ fee como honens perfeites preocupsdcs com © *fair= play" (p. 114). REFERENCIAS BIBLIOGHAFICAS 1 AUSUBEL, D.P.; NOVAK, J.D. & HANESIAN, H, Peteotogia educacio- nal. Rio de Janeiro, Interanericana, 1980. 2 BELBEIOIT, G. 0 desporto na escola, Lisboa, Estenpa, 1975. 9 BETTI, M, Educasio Ffeiea: Dessemelhanca © tdentidade como es Porte © © Jogo. Informative Apef, (6):10-12 © (7):3-10, 198. 4 BRAGHT, V.A, A erianga que pratica esporte respeita as regras do Jess. capitaiista, Revista Brasileira de Ciéneta do Espor- te, 2(2):62-68, 1986, 5 BRASIL, MINTSTERIO DA EDUCACKO. tae nova pelfttes para © Scoporto brasiteiro: Esporte brasileiro, queatiio de Estado (relatério Conclusive ds Comissiio de Reformulagio do Desporto). Bresitia, Secretaria de Educagio Fisica ¢ Desporto, 1966. © ROHN, JN. Sotiotogia politica del deporte. IN: Beperte, cul- 7 CARMO, A. Professor de educagio ffsica: susetto ou objeto de seu cothecinento. Corpo e Movimento, (5):20-31, 1985, ae © GSIKSENEINDIALYE, X. Play and intrinsee rewards. Jumal of tt sciatic rayenoey,15(3):41-60, 1975, 9 CIA, H.1. Educagio Feten, un ato pedagéaico. Revista Brasi- Letra de Educagio Fisica ¢ Desporte, $2:0-12, 1984. 10 DUNNING, E, ET diene de los planfeanentos teoricos en 1a soto Logia del deporte. IN: LUSCHEN, G & WEIS, K. (Org), Soetole ‘gia del deporte. Valladolia, Kifon, 1979. 431 ELIAS, N. & DUMNTHG, E, Dynamics group with special reference to football. Te British Jounal of Soctology, 17(4):388-402 . 22, FeoeRagho INTERNACTONAL DE EDUCAGKO PLEICA. Mantfoate Mundtal 44e educagio F{eica. IN: UNIVERSIDADE DE SKo PAULO, Escola de Eaucagio Fisica. Mmantfeatos. So Paulo, Autor, 1977. 18 FIOUEIREDO, J.L. A educapio tfsica eo exéreito. Revista de E ‘ucagio Fiaiea do Exéreite, 50:9-5, 1941. 14 HUTZINOA, J, Wome Iudens: 0 jogo cose elemento da cultura. Sto Paulo, Perspective, 1971. 15 EAGUILIAIMIE, P. Para une erfeien fundamental del deporte. IN: Deporte, cultura y represién. Sarcelona, Gustave Gilt, 1978. 16 LEK, H, Sobre 1a critica al principio dei rendimtente en el de porte, IN: LUSCHEN, G. & WEIS, K. (Ong.). Sectologia dex de- porte, Valladolid, Xifon, 1979. 17 UNSCHEN, ¢. On sociology of sport: General orientation and its trends in the Literature. IN: GRUPE, 0.; KURZ, D. & TEIPEL, SoM. (Ed.). ™e solentific view of sport: Perspectives, aspeg ‘5, issues. Berlin e New York, Springer-Verlag « Heidelberg, 18 LUSCHEN, G, & WEIS, K. Deporte en 1a scctedade: Posicién y cong Sociologia del tides de una scctotogia dei deporte. 2 deporte. Valladolid, Mien, 1979. 29 MANTEL, R.C. & VANDER VELDEN, L, The relationsnip between the profissionalization of attitude tovard play of preadolescente boys and participation in organized sport. IN: SAGE,G.H. (Ore) a. -48/ Jan—gu/1986. 43 Sport and american society: Selected readings. Reading, Addi, son-Weeley, 1974 20 MNES, D.C. A educagio fisfea © guerra, Revie ae Eavcagio Fisica do Exéretto, $3:24-26, 1942. 21 WUIGAE, S.K. The social context of games: OF when is play not play. Soetology of Education, 49:265-271, 1976. 22 UBOUL, ©, A doutrinagdo. Sio Paulo, Editora Nacional, EDUSP, 1980. sports. International Review for the Soctology of Sport, 19(2) 2144-155, 1984. 24 SEYBO1D, A. Prinetpios pedagogicos en 1a edueaciéa fistea, Sue nos Aires, Kapeluss, 1974 Principtos didacticos en 1a educscién Fisica, Buenos + Kapelusz, 1976, 20 sienir, c.w. tne eoctar context of competition. IN: LANDERS, D. M. (E4.). Social problems in athletics, Urbana, Univeretty of T1linots Press, 1976. 27 WEBB, H. Professionalization of a tudes toward play anong a dotescents. IN: KENYON, 6.5. (ed.). Aspects of contemporary ‘sport sociology. Chicago, The Athletic Institute, 1969. Recebido para publicacio em: 6/20/87 Ly CWT ele eel)

Você também pode gostar