Você está na página 1de 84

Revista $EIVA

Revista da Secretaria de Economia e Finanças da Aeronáutica - Ano VII N° 9- Outubro de 2016

O uso de ferramentas de tecnologia


da informação na descentralização
orçamentária

Reestruturação administrativa do
Comando da Aeronáutica

Quo Vadis Intendência da


Aeronáutica? uma análise da carreira
profissional do oficial intendente
1
Representação da Capa
Revista $EIVA de 2016
A capa da Revista $EIVA traz em destaque pelas Subsecretarias de Administração Financeira
a aeronave KC-390, produzida pela Indústria (SUFIN) no controle da execução orçamentária
Aeroespacial brasileira, representando o esforço e financeira e da Subsecretaria de Contabilidade
de modernização da Força Aérea Brasileira (FAB). (SUCONT) na apropriação dos custos e controle
A Secretaria de Economia e Finanças da patrimonial em conformidade com o modelo de
Aeronáutica (SEFA) contribui para esse esforço gestão adotado pela Secretaria desde 2009.
por meio da obtenção dos recursos necessários Modelo baseado em processos e indicadores
para o desenvolvimento desse projeto de grande preconizado pelo Tribunal de Contas da União
envergadura, na área de recursos externos (TCU), necessário para o controle adequado
(financiamento) ou de recursos internos (crédito e de todos os recursos aplicados pelo Comando
financeiro), bem como no controle do pagamento da Aeronáutica (COMAER), especialmente em
da dívida externa da Aeronáutica junto aos projetos de grande vulto como o do KC-390.
credores internacionais e ao Banco Central, cuja Portanto, a capa da Revista $EIVA destaca
coordenação e gerência é feita pela Subsecretaria a contribuição da SEFA, por meio das suas
de Contratos e Convênios. Subsecretarias, para que a FAB caminhe com passos
O gráfico e a balança representados no monitor seguros em direção à sua visão de futuro, sintonizada
de um computador realçam o trabalho executado com os interesses do Brasil no século XXI.

Expediente
COMANDANTE DA AERONÁUTICA
TEN BRIG AR NIVALDO LUIZ ROSSATO
A Revista $EIVA é produzida e distribuída pela
SECRETÁRIO DE ECONOMIA E FINANÇAS DA AERONÁUTICA Secretaria de Economia e Finanças da Aeronáutica
TEN BRIG AR JOSÉ MAGNO RESENDE DE ARAUJO
(SEFA), com o fito de divulgar e estimular ideias
VICE-SECRETÁRIO DE ECONOMIA E FINANÇAS DA AERONÁUTICA
MAJ BRIG AR HERALDO LUIZ RODRIGUES e trabalhos relativos à Execução Orçamentária,
EDITOR CHEFE Administração Financeira, Contabilidade, Controle
TEN BRIG AR JOSÉ MAGNO RESENDE DE ARAUJO
Interno e Contratos e Convênios.
EDITORES ASSISTENTES
CEL REF FLÁVIO NERI HADMMAN JASPER – SEFA/IEFA Toda matéria publicada por $EIVA constitui
TEN BIB ALINE FERRARI DE MIRANDA FREITAS – SEFA/IEFA
opinião pessoal dos seus autores, não expressando
CONSELHO EDITORIAL
ALCIR MARTINS DE ALMEIDA Cel Int – CENCIAR a posição da SEFA ou de qualquer outro escalão do
JOÃO JAIME ARAÚJO MARTINS Cel Int - EMAER Comando da Aeronáutica (COMAER). Nenhuma
MARCO AURÉLIO DE SOUZA Cel Int – SUCONV/SEFA
DIOGENES LIMA NETO Cel Int – SUCONV/SEFA
modificação em normas ou procedimentos é
ROBSON LUIZ LOPES DOS SANTOS Ten Cel Av – CCA-BR autorizada com base nos assuntos divulgados.
ROBERTO SÉRGIO DO NASCIMENTO PINHEIRO Ten Cel Int – SUCONT/SEFA
ALEXANDRE WERNECK PFALTZGRAFF - Ten Cel Int – SUCONV/SEFA A reprodução, total ou parcial, é permitida
GIOVANNI MAGLIANO JUNIOR Ten Cel Int – SEFA/SUCONT somente no âmbito do COMAER, desde que citada
NODGI GOYANA GOMES JUNIOR Ten Cel Int – SEFA/SUFIN
ANDERSON DA SILVA ALMEIDA Maj Int – SUCONT/SEFA
sua origem.
LARISSA CALDEIRA LEITE LEOCADIO Maj Int – SEFA/SUCONV As colaborações serão muito bem acolhidas,
MARCOS PANDINO PEREIRA Maj Int – EMAER
RODRIGO GORETTI PIEDADE Maj Int – SUCONV/SEFA
devendo-se enviar os originais ou mídias para o
ALEXANDRE SOURISSEAU CABRAL Maj Int – SUFIN/SEFA seguinte endereço:
RENATO BARRETO DOS SANTOS Cap Eng - DITT/SEFA
ANA CAROLINA LICNERSKI DE PAULA NOGUEIRA – Cap Int – SUFIN/SEFA
FERDINANDO ARAÚJO DE MESQUITA ARAGÃO – Cap Int – GAP-BR SECRETARIA DE ECONOMIA E FINANÇAS DA AERONÁUTICA
IVAN MUNIZ DE MESQUITA Cap Rfm – SEFA/ANAJ INSTITUTO DE ECONOMIA E FINANÇAS DA AERONÁUTICA
ROBSON ALVES DA SILVA 1º Ten SVA – SEFA/SUCONV
ESPLANADA DOS MINISTÉRIOS BLOCO M EDIFÍCIO ANEXO
REVISÃO TÉCNICA
TEN BIB ALINE FERRARI DE MIRANDA FREITAS – SEFA/IEFA
SEGUNDO ANDAR BRASÍLIA – DF CEP 70045-900
SECRETARIA TEL: 61-3962-1409 / 61-3962-1531
TEM PED ROSIMERE CARNEIRO AGUIAR – QOCON PED EMAIL – revistaseiva@sefa.aer.mil.br
3S SAD MAICON BARROZO DO NASCIMENTO – SEFA/IEFA
EQUIPE DE EDIÇÃO
TEN PUP ANDRE EDUARDO LONGO – CECOMSAER/SDPP
TEN BIB ALINE FERRARI DE MIRANDA FREITAS – SEFA/IEFA
3S SAD MARCELLA CRISTINA MENDONÇA DOS SANTOS – CECOMSAER/SDPP

TIRAGEM – 1000 EXEMPLARES


Sumário

02 Editorial

04 SEFA em flashes

09 Galeria do Graduado-Padrão, Destaque Militar e Servidor-Padrão

10 Espaço Entrevista
Senhor Paulo José dos Reis Souza

Artigos

13 Contratações públicas sustentáveis: aspectos jurídicos e de gestão.

20 A evidenciação contábil dos ativos intangíveis no setor público brasileiro:


análise no Comando da Aeronáutica, sob o enfoque normativo.

30 Reestruturação administrativa do Comando da Aeronáutica.

37 Treinamento em negociação no Comando da Aeronáutica: como aprimorar o


atual modelo?

48 Perfil de custos do COMAER: análise dos impactos decorrentes de um cenário


de restrição orçamentária.

58 Quo Vadis Intendência da Aeronáutica? uma análise da carreira profissional do


oficial intendente.

66 Avaliação do desempenho de fundos de investimento de obrigações: evidência


para o mercado brasileiro.

72 O uso de ferramentas de tecnologia da informação na descentralização


orçamentária.

02 10
Editorial Revista $EIVA

A Secretaria de Economia e Finanças da critérios e eficiente forma de gestão.


Aeronáutica (SEFA), como uma instituição Relacionados com esses objetivos
inovadora, busca, continuamente, a excelência maiores, a DCA 11-53/2016, nos itens 4.7.1,
nos processos administrativos e de gestão, estabeleceu, especificamente, para a SEFA, os
investindo em melhoria de processos, seguintes objetivos referentes à Administração:
treinamento dos recursos humanos e uso a) estabelecer e gerenciar a padronização das
adequado da tecnologia da informação (TI) de estruturas relacionadas ao Grupamento de
forma a contribuir com a Missão da Aeronáutica Apoio (GAP);
na perspectiva da Diretriz do Comandante da b) estabelecer e gerenciar a padronização
Aeronáutica (CMTAER) de que essa Missão das estruturas relacionadas à gerência das
seja cumprida “[...] com maior eficiência e prefeituras; e
efetividade”. c) definir ações para a implementação da
A Diretriz de 2015 destaca que “O Empresa Pública ALADA.
esforço de gestão, em todos os níveis, deve Contribuindo com a visão delineada na
concentrar-se na mensuração e na obtenção Diretriz do CMTAER e na DCA 11-53/2016,
de resultados concretos, fazendo com que os a Secretaria de Economia e Finanças
recursos disponíveis sejam canalizados para as da Aeronáutica participa ativamente da
ações capazes de alavancar o desempenho do reestruturação do Comando da Aeronáutica,
COMAER”. preparando-se para uma nova etapa,
Na Diretriz do CMTAER, a SEFA identificou onde, a partir de 2017, terá novas funções,
dois objetivos primordiais dentro da sua área responsabilidades e competências.
de competência: A Diretriz do CMTAER estabelece que
1) deverá ser analisada e implantada uma a “[...] reestruturação deve ter como cerne
política de otimização dos recursos a preparação para as novas capacidades,
materiais e humanos, tendo por foco melhoria dos processos e racionalização
o melhor aproveitamento dos meios das estruturas nas áreas administrativas e
e, ao mesmo tempo, a ampliação da operacionais, aperfeiçoamento dos recursos
capacidade administrativa do Comando humanos da Força Aérea Brasileira (FAB) e do
da Aeronáutica (COMAER); fortalecimento do apoio aos militares e civis do
2) deve ser observado o controle contínuo COMAER”.
dos gastos, com a rigorosa aplicação Para que isso seja possível, é necessário
dos recursos da Administração, dentro de integrar os esforços de planejamento e de

2
Revista $EIVA

execução a partir de uma gestão estratégica, para os desafios vindouros.


que possibilite o desdobramento dos objetivos Dentre as diversas atividades que estão em
da Aeronáutica até a base de sua estrutura curso, está a estruturação da nova empresa
administrativa e o consequente alinhamento de pública, ALADA, que terá por função social
todas as organizações da instituição em torno contribuir para a segurança nacional, em
das prioridades estabelecidas, com foco na especial, para a segurança do espaço aéreo
Missão e na Visão da Aeronáutica. nacional, incrementando o Sistema de Controle
Nesse sentido, a Secretaria de Economia do Espaço Aéreo.
e Finanças da Aeronáutica tem-se preparado Com a certeza de que a futura Empresa
para assumir as novas competências contribuirá para o fomento do desenvolvimento
delineadas. A reestruturação da Secretaria visa científico e tecnológico no país, bem como
à implantação de processos administrativos para o progresso e bem-estar da sociedade
de gestão mais ágeis, confiáveis, eficientes brasileira, a SEFA envida esforços para a
e, por conseguinte, mais econômicos, sem criação da ALADA, contribuindo com o
comprometer a continuidade das ações Comando da Aeronáutica na construção da
necessárias ao funcionamento pleno das Força Aérea 100.
organizações que compõem o COMAER. A Revista $EIVA é, também, o meio de
Isso porque o Comando da Aeronáutica, divulgação do conhecimento obtido pelos
conforme descrito na Diretriz de 2015, militares do seu efetivo, aplicado não só aos
observou que “O modelo organizacional está processos da própria Secretaria, como também
migrando da estrutura puramente funcional aos processos dos seus “clientes”, isto é, todas
para um modelo de valorização dos processos, as Unidades Gestoras do COMAER.
onde podem ser mais bem definidas as Dentre os artigos que enriquecem a Revista
responsabilidades, quantificados os resultados e disponibilizam o conhecimento obtido, pode-
por metas e indicadores e avaliada a se citar o que trata sobre a harmonização
produtividade”. às Normas Internacionais de Contabilidade
Para atingir esses objetivos, a Secretaria Aplicadas ao Setor Público, relativa à prática
reconheceu a importância da gestão do contábil dos ativos intangíveis, como melhoria
conhecimento, da gestão de processos e do na reformulação da gestão e controle dos Bens
trabalho de equipe, conhecimento estruturado Móveis Permanentes.
com o propósito de pesquisar, estudar e Em um tema que interessa a todos os
identificar soluções, em coordenação com os gestores, a $EIVA traz o artigo que trata sobre
demais Órgão de Direção Setorial (ODS), a as contratações públicas, abordando questões
fim de elaborar o programa de reestruturação relevantes, em especial os limites jurídicos das
de tal forma que permita o aperfeiçoamento licitações e aspectos de gestão pública.
dos processos, a adequação da gestão A Revista é, ainda, enriquecida com a
orçamentária e financeira e a otimização da contribuição de insigne entrevistado, o Sr.
estrutura administrativa da nova Secretaria. Paulo José dos Reis Souza, Subsecretário
Desde a sua criação, a SEFA tem buscado de Política Fiscal da Secretaria do Tesouro
o aprimoramento ininterrupto, consciente Nacional, que nos brinda com sua visão sobre
de que as transformações são contínuas e temas específicos ligados à Administração
que os recursos devem ser empregados de Orçamentária e Finanças, esclarecendo vários
forma eficaz, eficiente e efetiva na obtenção temas de grande relevância para a Aeronáutica
das capacidades necessárias para atingir a e para o país.
excelência nas formas de gestão, principal Nessa visão, a Revista $EIVA procura ser
característica de uma organização que deseja um canal de transmissão de conhecimentos,
ser inovadora. mantendo-se conectada ao ambiente da
Assim, no ano de 2017, ao passar à inovação e da pesquisa, além de oferecer
denominação de Secretaria de Economia, à administração da Instituição novos
Finanças e Administração da Aeronáutica, conhecimento e outras formas de gestão, a fim
um virtuoso e frutífero ciclo encerrar-se-á, de fazer cada vez melhor e com mais economia.
firmando-se, a partir de então, uma SEFA Desejamos uma agradável leitura aos que
moldada ao novo cenário, atuante e pronta nos prestigiam com suas atenções.

3
SEFA em flashes Revista $EIVA

PROJETO H-X BR

No dia 16 de junho de 2016, a SEFA, por Com a devida anuência do Ministério


intermédio da Subsecretaria de Contratos e da Defesa e, após cumprimento de todo o
Convênios (SUCONV), celebrou a extensão do rito legal de aprovação e negociação, o qual
prazo de desembolso da operação de crédito consumiu cerca de seis meses, a SEFA alcançou
externo, a qual garante suporte financeiro aos o objetivo de estender o prazo de utilização
contratos comerciais de despesa referentes do financiamento sem qualquer alteração das
ao Projeto H-X BR. Na ocasião, ocorreu o demais condições financeiras da operação.
evento de assinatura do Termo Aditivo ao pelo Dessa forma, os desembolsos poderão garantir
representante legal do Exmo. Sr. Ministro da a tranquilidade necessária para a execução do
Fazenda, com a assessoria da SUCONV e do projeto H-X BR, na medida em que viabiliza o
Adido Aeronáutico na França. suporte financeiro ao projeto até sua finalização.

PROJETO F-X2 - GRIPEN NG

Depois de longo processo negocial A operação de crédito apoia claramente


iniciado logo após a escolha do Gripen NG os compromissos contratuais firmados na
pelo governo brasileiro, o financiamento para área comercial, que permitirá à Força Aérea
compra das aeronaves de caça foi assinado Brasileira ser equipada com aeronaves de
em 25 de agosto de 2015, concretizando a defesa e superioridade aérea compatíveis com
parceria estratégica entre Brasil e Suécia. a destinação e importância geopolítica do
Desde então, a SUCONV tem Brasil, abrindo também as portas do mercado
acompanhado o andamento do projeto, da América do Sul às empresas brasileiras
garantindo os recebimentos de etapas parceiras do projeto.
comerciais com a disponibilidade de recursos
financiados, de forma a assegurar que os
desembolsos ocorram de forma adequada.

PARTICIPAÇÃO NA “OECD INTEGRITY FORUM 2016”

Após indicação da Controladoria-Geral Durante o debate, mediado pela Sra. Peggy


da União (CGU), a Organização para Hollinger, editora de “Indústria” do Financial
Cooperação e Desenvolvimento Econômico Times, o Cel Int Diógenes teve oportunidade
(OCDE) convidou o Cel Int Diógenes Lima Neto, de apresentar, conhecer e discutir, com os
Chefe da Divisão de Operações de Crédito da demais debatedores e a audiência, sobre as
Subsecretaria de Contratos e Convênios, para melhores práticas em acordos de compensação
participar como um dos debatedores do evento comercial, industrial e tecnológica.
“OECD Integrity Forum 2016”, realizado em
Paris, entre os dias 18 e 20 de abril últimos.

4
Revista $EIVA

INOVAÇÕES NO CAMPO CONTÁBIL

A crescente importância que o tema de modelo capaz de prover adequado


“Custos” adquire em nossa sociedade, aprimoramento técnico aos militares e
aliado ao atual contexto de reestruturação servidores que atuam na área de contabilidade
organizacional por que passa o Comando da do COMAER.
Aeronáutica (COMAER), levou a Subsecretaria O primeiro, totalmente à distância, versa
de Contabilidade a implementar, em 1º de sobre Noções de Execução Orçamentária,
julho de 2016, o Demonstrativo Gerencial de Financeira e Patrimonial e objetiva o
Custos (DGC). nivelamento da audiência sobre conceitos e
Em um ambiente de recursos cada vez operações afetas à contabilidade patrimonial
mais escassos, torna-se fundamental que do COMAER. A partir da homogeneização
os responsáveis gerenciem seus esforços, decorrente desse momento inicial, é possível
atingindo os objetivos institucionais da maneira o acesso a um segundo módulo, também à
mais eficiente possível. Neste cenário, o DGC distância, em que são efetivamente abordados
surge como uma importante ferramenta para os temas e procedimentos práticos dos sistemas
os Comandantes das Organizações, pois SIAFI e SIAFI-WEB.
evidencia, de forma sintética e atualizada, a Outro aspecto que permeia as ações
distribuição dos custos de sua Organização desenvolvidas pela SUCONT é a constante
Militar (OM). Dessa forma, torna-se possível a busca pela convergência às Normas
tomada de decisões tempestivas e oportunas, Internacionais de Contabilidade Aplicadas ao
de forma a racionalizar o consumo dos Setor Público. Recentemente, a Secretaria do
recursos, com foco na eficiência. Tesouro Nacional (STN) estabeleceu o prazo
Com o propósito de evitar solução de de 31/12/2018 para a preparação de sistemas
continuidade dos processos de capacitação e outras providências de implantação, no que
hoje desenvolvidos, a Subsecretaria de se refere ao reconhecimento, mensuração e
Contabilidade (SUCONT), em parceria com o evidenciação de bens intangíveis (softwares,
Instituto de Economia e Finanças da Aeronáutica marcas, patentes, licenças e congêneres), além
(IEFA), viabilizou a implantação do Curso das rotinas de amortização, reavaliação e
Básico do Sistema Integrado de Administração redução ao valor recuperável.
Financeira (CBSIAFI) a Distância (EaD). Nesse sentido, a SUCONT iniciou
Como principais benefícios decorrentes do procedimentos preparatórios ao
novo método, destacam-se o alcance de um desenvolvimento de um Sistema de Controle
maior número de alunos, outrora restrito à Analítico dos Bens Intangíveis. Como resultado
capacidade física do laboratório de informática desse processo, espera-se que o COMAER
do CCA-BR (Centro de Computação da alcance o objetivo de estabelecer uma imagem
Aeronáutica de Brasília), e a redução de fiel e verdadeira de seus intangíveis de modo
custos relativos a diárias e passagens dos antecipado, em relação ao prazo estabelecido
participantes. pela STN, mantendo sua posição de vanguarda
No que diz respeito ao aspecto didático, em relação ao tema, tal como ocorrido
importa ressaltar que houve reestruturação com a implantação dos procedimentos de
completa do curso visando à concepção depreciação de bens móveis permanentes.

5
Revista $EIVA

“MELHORIA DE GESTÃO DE PROCESSOS”- UMA BUSCA


PERMANENTE DA SEFA

Em 18 de dezembro de 2008 foi assinado web, permitindo maior agilidade, controle e


o Decreto nº 6.703, aprovando a Estratégia transparência na descentralização dos créditos
Nacional de Defesa – END, documento que aos ODGSA (Órgãos de Direção Geral,
discorre sobre as diretrizes para a adequada Setorial e de Assistência) e, por decorrência, às
preparação e capacitação das Forças Armadas, organizações executoras do COMAER.
de modo a garantir a segurança do país, tanto Ademais, dentro desse mesmo enfoque
em tempo de paz quanto em situações de crise. de “Melhoria de Processos”, abordado
Desde então, a SEFA tem buscado anteriormente no campo orçamentário, a
implementar, por intermédio de suas SUFIN tem também atuado na área financeira,
Subsecretarias, ações no sentido de aprimorar de forma a melhorar a efetividade das
seus processos, de forma a contribuir e prover, organizações executoras no trato dos processos
a tempo e a hora, os recursos necessários para de liquidação e pagamento de despesas,
garantir a atuação operacional da Força Aérea procurando fomentar gestões mais céleres e
Brasileira, disposta na END. eficientes no trato do “dinheiro público”.
Como é de conhecimento de todos, Nesse contexto, no dia 1º de julho de
nos últimos anos, o Brasil tem sido palco de 2016 foi criado o “Prêmio Destaque Execução
realizações de Grandes Eventos, no contexto Financeira”, alicerçado em indicadores
mundial, como foi o caso dos Jogos Mundiais operacionais, cujo intuito é motivar e distinguir
Militares, da Copa das Confederações e da as Unidades Gestoras Executoras do COMAER
Copa do Mundo. Além desses importantes na execução financeira, pelo período delimitado
acontecimentos, recentemente, sediou as de doze meses.
Olimpíadas e Paralimpíadas, RIO- 2016. Tal prêmio será baseado em um roteiro
Nesse escopo, o engajamento das Forças de acompanhamento tempestivo de todo o
Armadas, em especial, da Força Aérea em processo financeiro, desde o levantamento
Operações Subsidiárias, tem se tornado, cada das necessidades, passando pelas solicitações
vez mais, uma realidade, demandando ações e análises, até chegar às execuções dos
administrativas interministeriais e interagências, pagamentos realizados pelas Unidades, de
sendo necessário o aprimoramento dos forma a evitar multas, bloqueios, atrasos
processos de busca, descentralização e controle ou perdas na programação financeira do
desses recursos orçamentários específicos, COMAER.
fins atender à crescente demanda, com a Ante ao exposto, consciente de suas
celeridade e controle que o tema requer. Assim, responsabilidades dentro do atual cenário
a Subsecretaria de Administração Financeira- econômico do país, a SEFA, por ser o órgão
SUFIN tem procurado inovar os seus processos, responsável pela descentralização e controle
implementando novos sistemas, dentre esses orçamentário e financeiro do COMAER, tem
destaca-se o “SISCODEC”, (Sistemas de buscado permanentemente melhorias na
Controle de Descentralização de Créditos), uma gestão de seus processos, de forma a otimizar
ferramenta de TI (tecnologia da informação) os recursos e alocá-los em pronta resposta às
que visa dar um trâmite processual eficiente necessidades das organizações, garantindo,
às demandas orçamentárias do Comando da em terra, o aporte de recursos para que, no Ar,
Aeronáutica (COMAER). a Força Aérea possa bem cumprir sua missão
Esse instrumento engloba três módulos: constitucional de “Manter a Soberania do
O A-5 WEB, o Destaque WEB e o UGE WEB Espaço Aéreo Brasileiro com vistas à Defesa
que foram idealizados sobre uma plataforma da Pátria”.

6
Revista $EIVA

INOVAÇÃO NO ENSINO: EaD E REESTRUTURAÇÃO


O Instituto de Economia e Finanças - IEFA ampla capacidade de alcance aos militares e
tem a missão de desenvolver capacidades civis das diversas Organizações Militares – OM
relacionadas com o ensino e pesquisa nas áreas do COMAER.
de economia, finanças, gestão orçamentária e A ampliação de cursos nessa
financeira, patrimonial e de contabilidade do modalidade, comparada ao cenário dos anos
interesse do COMAER. anteriores, se dá ao fato de alinhamento às
O IEFA, como elo do Sistema de Ensino diretrizes do Comandante da Aeronáutica no
da Aeronáutica - SISTENS dentro da estrutura sentido de reduzir custos sem comprometer
organizacional da Secretaria de Economia e a qualidade da capacitação dos militares da
Finanças da Aeronáutica – SEFA, gerencia a Força Aérea Brasileira.
capacitação por meio da Educação Corporativa, Para acompanhar o extenso
mediante a aquisição da competência baseada desenvolvimento administrativo da SEFA, o IEFA
na gestão do conhecimento. também está se reestruturando, até mesmo
Em 2016, o IEFA inovou na Tabela para capacitar os militares que compõem a
de Curso Anual - TCA 37-13, uma vez que própria Secretaria, mapeando os processos, a
programou onze cursos na modalidade a fim de construir uma nova legislação normativa
distância, além de doze na modalidade sobre o processo de Capacitação Interna.
presencial. A Educação a Distância – EaD, Dessa forma, o IEFA continua
regulamentada pelo Decreto-Lei nº 2.494, trabalhando na busca da melhoria e pretende
de 10 de fevereiro de 1998, do Ministério da adequar e ampliar ainda mais os cursos no
Educação, é uma ferramenta de aprimoramento setor de Economia e Finanças da Aeronáutica,
e qualificação profissional de baixo custo e com especialmente na modalidade a distância.

GOVERNANÇA E A ANAJ NO PROCESSO DE


REESTRUTURAÇÃO DO COMANDO DA AERONÁUTICA
Já ouviu falar em Governança? Essa Neste sentido, a Assessoria de Normas
palavra é a chave para nova fase na gestão e Assuntos Jurídicos (ANAJ) da SEFA tem
da coisa pública. O conceito de governança trabalhado intensamente na nova proposta para
encontra fundamento na Administração Pública a futura SEFA, que em linhas gerais podemos
Gerencial, que trouxe ares de modernização resumir:
para o Estado. É o mais recente instrumento a) Transformar a atual Secretaria de Economia e
como meio e processo capaz de produzir Finanças da Aeronáutica (SEFA) na Secretaria
resultados eficazes. de Economia, Finanças e Administração
Dessa forma, ficam claros dois aspectos: da Aeronáutica (mantida a sigla SEFA),
a) o conceito de governança é mais amplo que que terá por finalidade superintender,
o de governabilidade, ainda que englobe administrando, por intermédio dos órgãos
aspectos desta, bem como, não se confunde da sua estrutura regimental, no âmbito
com ausência de governo ou Estado, mas do Comando da Aeronáutica (COMAER):
seu fortalecimento; 1) as atividades relativas à administração
b) governança é instrumento de governo financeira; à execução orçamentária,
que, junto com organizações não- financeira, patrimonial e contábil de
governamentais, perquire resultados todos os recursos e de qualquer natureza
eficazes. disponibilizados; aos contratos, convênios,
A ideia central é que com a nova estrutura instrumentos congêneres e afins, operações
proposta desonere as Organizações apoiadas, de crédito, acordos de compensação,
otimize os recursos humanos e materiais, financiamentos internos e externos, entre
padronize procedimentos, evitando falhas e outros; e 2) as atividades relacionadas com
onerações desnecessárias a fim de que estas se as áreas da gestão de Apoio Administrativo,
concentrem nas suas atividades-fim. por intermédio dos Grupamentos de Apoio

7
Revista $EIVA

(GAP); da gestão de moradia funcional dos Janeiro - RJ, subordinado diretamente ao


Próprios Nacionais Residenciais (PNR), por Diretor da DIRAD, com a finalidade de tratar,
intermédio das Prefeituras de Aeronáutica por intermédio dos órgãos da sua estrutura
(PA); de provisões e material de intendência; regimental, das atividades relacionadas com
de pagamento de pessoal; de subsistência; as áreas da gestão de apoio administrativo,
e de apoio assistencial e social; entre por intermédio dos Grupamentos de Apoio
outras; mantendo-se parte do acervo, do (GAP) subordinados; e da gestão de moradia
pessoal, das instalações, do patrimônio, funcional dos Próprios Nacionais Residenciais
dos encargos, dos direitos, dos deveres e (PNR), por intermédio das Prefeituras de
das obrigações, da atual SEFA; Aeronáutica (PA) subordinados, no âmbito do
b) Criar a Diretoria de Economia e Finanças COMAER. A lotação de pessoal, instalações,
da Aeronáutica (DIREF), que terá por patrimônio, encargos, demais atribuições,
finalidade supervisionar, realizando, por direitos, deveres e obrigações da nova
intermédio dos órgãos da sua estrutura Organização (CEAP) serão realocados, por
regimental, as atividades relativas: à meio da concentração e da racionalização
administração financeira; à execução de meios, de outras Organizações Militares
orçamentária, financeira, patrimonial e da atual estrutura regimental do COMAER,
contábil de todos os recursos e de qualquer tendo as demais competências e atribuições
natureza disponibilizados; aos contratos, disciplinadas em Regulamento e Regimentos
convênios, instrumentos congêneres e próprios, e
afins, operações de crédito, acordos de e) Desativar o Depósito Central de Intendência
compensação, financiamentos internos da Aeronáutica (DCI), da estrutura da antiga
e externos, entre outras, no âmbito do Diretoria de Intendência da Aeronáutica
Comando da Aeronáutica (COMAER), e (DIRINT), que tem por finalidade o trato
que absorverá, integralmente, as atribuições dos assuntos relativos ao apoio logístico
e as competências da atual Secretaria de de material, cujas classes são vinculadas à
Economia e Finanças da Aeronáutica DIRINT e, como atribuições: 1) a execução
(SEFA), incluindo-se, parte do acervo, do de missões e encargos específicos como o
pessoal, das instalações, do patrimônio, recebimento, armazenamento, expedição
dos encargos, dos direitos, dos deveres e e entrega de material; 2) o treinamento
das obrigações, da atual SEFA; de pessoal nas técnicas de recebimento,
c) Transformar a atual Diretoria de Intendência armazenamento, expedição e entrega de
da Aeronáutica (DIRINT) na Diretoria de material; 3) o apoio, com sua Unidade
Administração da Aeronáutica (DIRAD), com Celular de Intendência (UCI), à instrução e
a finalidade tratar, por intermédio dos órgãos ao emprego de unidades aéreas, quando
da sua estrutura regimental, as atividades em manobras ou operações reais; e, 4)
relacionadas com as áreas da gestão de responsabilizar-se pelo recebimento, no
apoio administrativo, por intermédio dos país, e pelo transporte dos equipamentos
Grupamentos de Apoio (GAP); da gestão de hospitalares e dos materiais adquiridos no
moradia funcional dos Próprios Nacionais exterior, pelas Comissões Aeronáuticas
Residenciais (PNR), por intermédio das Brasileiras (CAB), para atendimento às
Prefeituras de Aeronáutica (PA); de provisões diversas Organizações de Saúde da
e material de intendência; de pagamento de Aeronáutica (OSA), passando, integralmente,
pessoal; de subsistência; e de apoio assistencial todas as suas atribuições, competências,
e social; entre outras, no âmbito do Comando acervo, pessoal, instalações, patrimônio
da Aeronáutica (COMAER); estando e demais encargos, direitos, deveres e
estas duas últimas demandas acrescidas à obrigações, para a responsabilidade da
responsabilidade e competência da DIRAD; Subdiretoria de Abastecimento (SDAB), da
e que absorverá a totalidade das atribuições, estrutura regimental da DIRAD.
competências, acervo, pessoal, instalações, Finalmente, o suporte legal, regulamentar
patrimônio e demais encargos, direitos, deveres e regimental das novas OM estão sendo
e obrigações, da atual DIRINT; formulados pela ANAJ, subsidiando o EMAER
d) Criar o Centro de Apoio Administrativo e a COJAER para a obtenção do sucesso
(CEAP), com sede na cidade do Rio de pretendido.

8
Revista $EIVA

Galeria de Graduado-Padrão
Destaque Militar e
Servidor-Padrão

Na atualidade, o verdadeiro capital das instituições é representado pelas pessoas que a


integram, cujos conhecimentos e experiências compartilhados, traduzem-se em enriquecimento
para o conjunto, fortalecendo-o e preparando-o para enfrentar a dinâmica dos desafios inerentes
ao desenvolvimento das instituições.
É nesse sentido que a Secretaria de Economia e Finanças da Aeronáutica destaca para
o período compreendido entre outubro de 2015 e setembro de 2016, como reconhecimento
por suas qualidades e méritos, compondo a Galeria do Graduado-Padrão, Destaque Militar
e Servidor-Padrão da SEFA, o 3S SIN Déverson de Oliveira Conceição, o CB SAD Lourram
Pereira Sardinha e o servidor civil Fábio José de Oliveira. Parabéns a todos!

3S SIN Déverson de CV Fábio José de Oliveira


Oliveira Conceição
Natural de Brasília - DF
Natural do Rio de Janeiro - RJ Servidor – desde 01 Mar 83
Data de Praça – 01 Mar 2006 Apresentação na SEFA – 26 Abr 95
Apresentação na SEFA – 17 Dez 10

CB SAD Lourram
Pereira Sardinha
Natural de Brasília-DF
Data de Praça – 01 Mar 11
Apresentação na SEFA – 16 Mar 15

9
Espaço Entrevista Revista $EIVA

Entrevista concedida em 12/06/16


pelo então Subsecretário de Política
Fiscal da Secretária do Tesouro
Nacional.
1) O exercício de 2016 tem sido marcado
pelas restrições financeiras iniciadas ainda em
2015. Em virtude disso, os órgãos públicos
sofrem com problemas de insuficiência de
caixa para pagamento dos compromissos
assumidos. Na sua avaliação, há perspectiva
de melhora desse cenário?
Resposta: A recente alteração da meta de
resultado primário dos Orçamentos Fiscal
e da Seguridade Social da União, que
passou de superávit de R$24,0 bilhões
para déficit primário de R$170,5 bilhões
em 2016, possibilitou a publicação do
Decreto 8.784, de 07 de junho de 2016,
que já promoveu a devolução de parte dos
valores anteriormente contingenciados.
Entendemos que os novos limites
O entrevistado desta edição é o Senhor estabelecidos possibilitarão aos órgãos,
Paulo José dos Reis Souza, Analista de Finanças em especial ao Ministério da Defesa
e Controle desde 1991. Diretor de Programa realizar, os pagamentos dos compromissos
da Secretaria do Tesouro Nacional desde 11 assumidos.
de outubro de 2011. Exerceu os cargos de
2) Os gastos obrigatórios, como
Coordenador-Geral de Programação Financeira
pagamento de pessoal e despesas vinculadas,
do Tesouro Nacional no período de 2003 a
constituem um grande entrave à redução de
2011, Subsecretário de Política Fiscal da STN de
outubro de 2015 a agosto de 2016. Foi membro despesas no setor público. Tal fato, aliado à
representante titular do Tesouro Nacional queda da arrecadação da receita, dificulta o
nos conselhos fiscais das seguintes empresas: alcance de solução para a crise fiscal, além
Infraero S/A (Infraestrutura Aeroportuária); de prejudicar os investimentos. Existem ações
SERPRO (Tecnologia e Sistemas de Informação); em andamento para mitigar esta estrutura da
Eletropaulo S/A (Distribuidora de Energia); despesa pública e não prejudicar o pagamento
Petrobras Distribuidora S/A (Distribuidora de das demais despesas?
Combustíveis), e INB - Indústrias Nucleares do Resposta: O Governo Federal, anunciou
Brasil S/A (Produção de Combustível Nuclear). propostas para enfrentamento da questão
Atualmente, é representante do Tesouro Nacional do crescimento acentuado dos gastos
nos Conselhos Fiscais da Petrobras e do Banco obrigatórios da União, observado nos
do Brasil. Graduado em Administração de últimos anos. Uma providência diz respeito
Empresas e tem cursos de especialização em à proibição de concessão de novos
Políticas Públicas e Gestão Governamental subsídios e desonerações. O Governo
pela Escola Nacional de Administração Pública Federal também elaborou o Projeto de
– ENAP e em Economia do Setor Público pela Emenda Constitucional estabelecendo
Fundação Getúlio Vargas – FGV. Nesta edição teto para o crescimento do gasto total das
o Senhor Paulo José falou sobre as restrições despesas primárias do Governo Federal, o
orçamentárias que o país vem enfrentando e qual corresponderá à variação do índice
como isso impacta as ações do COMAER, de inflação do ano anterior.
confira!

10
Revista $EIVA

3) Os sucessivos contingenciamentos de dos instrumentos de programação


despesas autorizadas e a posterior liberação orçamentária e financeira (Lei de Diretrizes
ao final do exercício, associado aos baixos Orçamentária, Lei de Orçamento e
limites de pagamento atribuídos aos diversos Decreto Anual de Programação), mediante
órgãos, têm concorrido para um aumento de utilização de parâmetros realistas de
“Restos a Pagar” ao longo dos anos. Existe receitas e despesas e de meta de resultado
alguma previsão de mudança na metodologia primário compatível, que contribuirá para
de cálculo do superávit primário, a fim de que a redução das diferenças entre os valores
a execução de “Restos a Pagar” não inviabilize inicialmente previstos na LOA e aqueles
a execução do orçamento do exercício? realizados ao final de cada ano. Dessa
Resposta: Não há previsão de mudança forma, a Administração Pública estará
na metodologia de cálculo do resultado mais resguardada porque o risco de não
primário e a nova meta de déficit primário cumprimento dos compromissos assumidos
de R$170,5 bilhões em 2016, aprovada será reduzido.
pela Lei nº 13.291, de 25 de maio de 5) O valor destinado ao pagamento das
2016, não prevê o abatimento de despesas despesas do orçamento e de “Restos a Pagar,
da meta fixada. A questão dos “Restos a tanto das fontes de recursos oriundas do
Pagar” está em discussão no âmbito do Tesouro Nacional como as pertencentes ao
Congresso Nacional, onde recentemente Fundo Aeronáutico, atualmente representa
foi aprovada proposta no Senado em torno de 80% da necessidade mensal de
Federal, que se confirmada na Câmara recurso financeiro da Aeronáutica. A projeção
dos Deputados, prevê nova regra para o atual é que o cenário se agrave nos três últimos
equacionamento da questão. (PLS 229) meses do ano, anteriores. Existe perspectiva
4) A Administração Pública, face às de melhora na arrecadação, em decorrência
restrições financeiras, passou a enfrentar um da realização de receitas extraordinárias
problema que, até então, não se apresentava ou de alguma sazonalidade, por exemplo,
com tanta gravidade: a dificuldade em que possibilite uma ampliação do “Limite de
honrar compromissos junto aos fornecedores. Pagamento” na proximidade do encerramento
Tal situação poderá gerar pagamento de do exercício?
multas, encargos moratórios, paralisação de Resposta: Adotamos no decreto
atividades, rescisão de contratos, demandas nº 8.784/2016 de programação
judiciais, enfim, uma série de transtornos. Nesse orçamentária e financeira uma projeção
sentido, que alternativas o senhor vislumbra de receita realista e há perspectiva de que
para o enfrentamento dessa situação? Existe arrecadação federal melhore nos próximos
alguma recomendação especial para que a meses. Caso isso venha ocorrer será
Administração Pública esteja resguardada de possível avaliar a concessão de limite de
eventuais questionamentos, principalmente nos pagamento em montante superior ao limite
casos dos contratos internacionais e de grande de empenho, de modo a reduzir a conta de
vulto? restos a pagar.
Resposta: O fim das restrições financeiras 6) A limitação de empenho e a limitação
vividas nos últimos anos passa pela de pagamento afetam também os recursos,
recuperação da economia do País e cujas fontes de receita têm origem no esforço
do equilíbrio das contas públicas. Esse próprio de arrecadação do Comando. Assim,
equilíbrio depende em primeiro lugar da vivenciamos a situação de possuir numerário
aprovação das medidas de controle do em conta, sem termos, no entanto, autorização
gasto público, já anunciadas pelo Governo para usá-lo. Por que esse tipo de receita,
Federal. Esse controle exigirá uma revisão diretamente arrecadada pelos órgãos, também
das despesas do orçamento da União já está sujeita às mesmas restrições que as receitas
para o próximo ano. Também terá que ser arrecadadas pelo Tesouro Nacional?
adotado um maior rigor na elaboração Resposta: Como regra geral, a restrição

11
Revista $EIVA

para o uso das fontes de recursos excesso ou sobra de arrecadação das


decorrentes do esforço próprio de receitas próprias e vinculadas, restou
arrecadação é dada pelo montante da prejudicada a concessão de crédito de
previsão dessas receitas no exercício. Na adicionais.
definição dos limites de pagamento do 9) Diante do atual cenário e da exploração
primeiro decreto de programação do ano, do tema pela imprensa e redes sociais, o
a Secretaria do Tesouro Nacional busca cidadão comum está cada vez mais em
priorizar a alocação integral dessas receitas contato com as expressões como “superávit
nos limites do anexo das fontes próprias. primário”, “déficit fiscal”, “resultado nominal”,
Ocorre que diante das restrições financeiras “receitas financeiras”, dentre outras utilizadas
isso nem sempre é possível, o que faz nas Finanças Públicas. O senhor poderia, de
com que esta Secretaria remaneje limites uma maneira bem simples, esclarecer esses
do anexo dessas fontes para o anexo das conceitos.
outras fontes de receitas arrecadadas pelo Resposta: De maneira bem simples
Tesouro Nacional, sempre em atendimento podemos dizer que o “superávit primário”
aos pedidos dos ministérios. é a poupança do Governo. Ou seja, é
7) O senhor considera que a redução nos a diferença entre tudo o que o Governo
orçamentos de unidades orçamentárias que arrecadou menos o que pagou num
têm receitas próprias pode afetar o estímulo de determinado período, exclusive as receitas
arrecadação interna dos órgãos?? e despesas financeiras. O “déficit fiscal”
Resposta: Sempre deve haver estimulo para é quando as receitas do Governo são
o aumento da arrecadação interna dos inferiores às suas despesas. O “resultado
órgãos, mesmo que essa receita própria nominal” é a diferença entre tudo o que
num primeiro momento não se reverta o Governo arrecadou menos o que pagou
para o órgão diretamente arrecadador. num determinado período, inclusive as
Entendo que na medida em que ocorra receitas e despesas financeiras, tais como
a recuperação esperada das outras o pagamento de juros e serviço da dívida.
receitas do Tesouro Nacional, poderá ser As “receitas financeiras” compreendem
estudada a possibilidade de se permitir a as receitas de operações de créditos,
execução pelos órgãos de toda a despesa recebimento de juros e rendimentos de
programada com base na previsão de aplicações financeiras.
arrecadação do exercício das receitas 10) Por fim, o senhor poderia deixar uma
próprias. mensagem para os gestores e agentes da
8) De certa forma, a arrecadação de administração do Comando da Aeronáutica,
receitas próprias, realizada e não contemplada os quais, em que pesem todas as restrições
no orçamento, gera um superávit financeiro. vivenciadas, têm se empenhado arduamente
Os dispositivos legais requerem a utilização para que as unidades gestoras cumpram
desse superávit como fonte financiadora de suas missões e, consequentemente, a missão
créditos suplementares ou especiais, mas, na constitucional atribuída à Aeronáutica?
prática, observa-se que a concessão desses Resposta: Aos gestores e agentes
créditos está cada vez mais restrita.? da administração do Comando da
Resposta: A abertura de créditos Aeronáutica, todo o meu reconhecimento
orçamentários com utilização de superávit pelo trabalho profissional e qualificado
financeiro é condicionada a existência desenvolvido em favor da Força Aérea
de espaço fiscal para a realização da Brasileira. Mesmo diante das restrições
despesa correspondente na programação vivenciadas sempre houve o entendimento,
do exercício corrente. Como nos últimos compreensão e cooperação da equipe do
anos a realização da receita total da COMAER com o time do Tesouro Nacional.
União foi abaixo dos valores previstos na Muito obrigado.
Lei Orçamentária, a despeito de eventual

12
Revista $EIVA Artigo

Contratações públicas sustentáveis:


aspectos jurídicos e de gestão1
Carla Oliveira de Souza – Cap Int
Especialista em Direito da Administração Pública – UFF

INTRODUÇÃO públicas que priorizassem o desenvolvimento


do meio ambiente3.
Nos últimos anos, a sociedade vem se A maioria dos governos de países
deparando diariamente com o crescimento desenvolvidos, tais como Inglaterra e Dinamarca,
de problemas ambientais, alguns de grande já possui instrumentos sólidos voltados para
proporção, tais como, o desmatamento a implementação das Contratações Públicas
da Amazônia. Pode-se perceber também Sustentáveis (CPS), dando maior ênfase à
que tem crescido a preocupação com o questão ambiental por meio das chamadas
meio ambiente, sobretudo em virtude das compras verdes, ou seja, aquelas que levem em
mudanças climáticas – com alteração dos conta critérios de sustentabilidade, tais como
recursos hídricos; a gestão de resíduos sólidos; aquisição de materiais reciclados, produtos
a redução da biodiversidade, entre outras que consumam menos energia, dentre outros
questões ambientais que ocupam o dia-a-dia (STEVENS, 2010).
do cidadão (FERREIRA, 2012a). No contexto brasileiro, inserem-se os
Na Conferência das Nações Unidas gastos públicos do governo, pois se estima
sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, que cerca de 15% do Produto Interno Bruto
CNUMAD, Rio 92, foi assinada a Agenda 212 (PIB) anual em produtos e serviços, algo em
Global, esta possui uma área pragmática que torno de R$ 600 bilhões, esteja relacionado às
se refere ao desenvolvimento de políticas e aquisições feitas pelo Poder Público (BRASIL,
estratégias nacionais para estimular mudanças 2012). Dessa maneira, as CPS, por meio do
nos padrões insustentáveis de consumo. Assim, uso da Lei 8.666/93, se constituem importante
além do papel fundamental de preservar ferramenta para o Estado brasileiro estimular
o meio ambiente, viu-se a necessidade do padrões sustentáveis de consumo. No entanto,
Poder Público de atuar com um papel indutor o governo vem encontrando alguns obstáculos
na economia, buscando assim influenciar o para a efetivação das CPS, tais como a falta
mercado e a sociedade através de seu poder de capacidade técnica e a falta de informação
de compra e da imposição de leis e decretos. dos gestores públicos (BRASIL, 2009b).
A Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Nesse sentido, o objetivo principal do
Sustentável de Joanesburgo, em 2002, presente estudo consiste em abordar questões
teve um viés voltado para as contratações relevantes acerca das contratações públicas
públicas sustentáveis, em que os governos sustentáveis, em especial os limites jurídicos
foram incitados a buscarem alternativas das licitações sustentáveis e aspectos de gestão
para estimularem as compras e contratações pública, apresentando algumas propostas

1 - Adaptado de: SOUZA, Carla Oliveira de; GUIMARÃES, Vanessa de Almeida. Compras públicas sustentáveis:
alternativas para sua efetivação. In: Congresso de Administração, Sociedade e Inovação, 6., 2015, Volta Redonda.
Anais... Volta Redonda: UFF, 2015. Disponível em: <http://www.congressocasi.uff.br/?page_id=77>. Acesso em: 24
ago. 2016
2 - UNITED NATIONS DEPARTMENT OF ECONOMIC AND SOCIAL AFFAIRS: DIVISION FOR SUSTAINABLE
DEVELOPMENT. Agenda 21. Rio de Janeiro. 1992. Disponível em:<https://sustainabledevelopment.un.org/content/
documents/Agenda21.pdf>. Acesso em: 12 jan. 2015.
3 - UNITED NATIONS. Report of the World Summit on Sustainable Development – Johannesburg, South Africa, 26
August-4 September 2002.

13
Revista $EIVA

presentes na literatura para a implementação


das Contratações Públicas Sustentáveis no
Brasil.
Este estudo tem caráter exploratório,
em que foram realizadas pesquisas em
fontes bibliográficas, por meio de análises
nos principais livros publicados na
literatura brasileira sobre o tema e artigos
de consagrados autores, além de dados
disponíveis na internet. Quanto ao método e
a forma de abordar o problema, esta pesquisa
tem caráter qualitativo, caracterizando-se, em
princípio, pela não-utilização de instrumental
estatístico na análise de dados. Essa análise
tem por base conhecimentos teórico-empíricos FIGURA 1 - Objetivos da Compra Sustentável
Fonte: ICLEI, 2015, p. 12.
que permitem atribuir-lhe cientificidade
O arcabouço legislativo brasileiro sobre a
(RICHARDSON et al., 2007).
preservação ambiental por meio das licitações
1. CONTRATAÇÕES PÚBLICAS sustentáveis é bastante amplo e encontra-se
pulverizado tanto na Constituição Federal, art.
SUSTENTÁVEIS: CONCEITO E
170, inciso VI e caput do art. 225, quanto em
ARCABOUÇO LEGISLATIVO diversas Leis e Decretos, tais como a Política
Conforme Brammer e Walker (2011), as Nacional sobre Mudança do Clima, Lei nº
contratações públicas sustentáveis são aquelas 12.187/2009, que trouxe em seu art. 6º, inciso
que incluem critérios de sustentabilidade XII, o estabelecimento de critérios de preferência,
socioambiental nas aquisições de bens e nas licitações e concorrências públicas, para
contratações de serviços pelo poder público. as propostas que propiciem maior economia
As CPS fazem parte das principais discussões de energia, água e outros recursos naturais e
sobre inovações políticas no campo ambiental, redução da emissão de gases de efeito estufa
considerando a possibilidade do poder de e resíduos (BRASIL, 2009a).
compra do Estado servir como instrumento de No ano seguinte, a Lei nº 12.305/2010,
fomento a sustentabilidade ambiental do setor apontou como um dos objetivos da Política
privado. Nacional de Resíduos Sólidos a prioridade,
nas aquisições e contratações públicas, dos
A compra sustentável é usada tanto por
produtos reciclados e recicláveis, assim como
organizações públicas quanto privadas, de
os bens, serviços e obras que considerem
modo a assegurar que suas aquisições sejam
critérios compatíveis com padrões de consumo
também relacionadas, por exemplo, à eficiência
social e ambientalmente sustentáveis (BRASIL,
no uso de recursos, mudanças climáticas,
2010a).
responsabilidade social e economicidade.
A figura 1 apresentada ao lado sumariza os A lei geral de licitações, Lei nº 8.666/93,
objetivos da compra sustentável, conforme teve o caput4 do art. 3º alterado por meio da
ICLEI (2015). Lei nº 12.349/2010, em que foi acrescentado
outro objetivo, a saber, o da promoção do
Desta maneira, as CPS são importante
desenvolvimento nacional sustentável, além
instrumento de gestão socioambiental passível
da garantia da observância do princípio
de ser adotado pelos órgãos públicos, capaz
constitucional da isonomia e da seleção da
de demonstrar uma boa gestão governamental
proposta mais vantajosa para a Administração
e de estimular a produção industrial de bens
(BRASIL, 2010b). A Instrução Normativa
ambientalmente corretos.

4 - Art. 3º. A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais
vantajosa para a administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável (...) (grifo nosso).

14
Revista $EIVA

nº 01/2010, da Secretaria de Logística e No âmbito do Ministério do Meio Ambiente,


Tecnologia da Informação do Ministério do o Plano de Ação para Produção e Consumo
Planejamento, Orçamento e Gestão, em seus Sustentável (PPCS) lançado em 2011 propõe
art. 1º a 3º traz importante obrigação para o um esforço para sistematizar e integrar as
gestor público: iniciativas. A Instrução Normativa nº 10/20126,
Art. 1º - Nos termos do art. 3º da Lei nº 8.666, da Secretaria de Logística e Tecnologia
de 21 de junho de 1993, as especificações para da Informação (SLTI) do Ministério do
a aquisição de bens, contratação de serviços Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG),
e obras por parte dos órgãos e entidades da
administração pública federal direta, autárquica
regulamenta os Planos de Logística Sustentável
e fundacional deverão conter critérios de (PLS) que incluem as CPS como uma de suas
sustentabilidade ambiental, considerando os ferramentas. No âmbito federal, as metas
processos de extração ou fabricação, utilização ainda não foram estabelecidas, ficando assim
e descarte dos produtos e matérias primas a critério de cada instituição determiná-las em
(grifo nosso).
seu PLS (ICLEI, 2015).
Art. 2º - Para o cumprimento do disposto
nesta Instrução Normativa, o instrumento
Como se pode observar diante do
convocatório deverá formular as exigências de exposto nesta seção, uma licitação sustentável
natureza ambiental de forma a não frustrar a buscaria integrar critérios ambientais,
competitividade. sociais e econômicos no processo como
Art. 3º - Nas licitações que utilizem como um todo. Entretanto, a importância dada ao
critério de julgamento o tipo melhor técnica ou viés ambiental destaca-se dos demais, fato
técnica e preço, deverão ser estabelecidos no
percebido nas definições de alguns autores
edital critérios objetivos de sustentabilidade
ambiental para a avaliação e classificação e legislações brasileiras sobre o tema, em
das propostas (grifo nosso). (BRASIL, 2010c) especial na IN SLTI/MP nº 01/2010.
A edição da supramencionada Instrução
2. ASPECTOS JURÍDICOS E DE
Normativa trouxe avanços consideráveis, pois
de acordo com as Informações Gerenciais de GESTÃO DAS CPS
Contratações Públicas Sustentáveis de 2010 a A discussão sobre os aspectos jurídicos que
2012, as compras sustentáveis saíram de R$ permeiam as licitações sustentáveis é de vital
12,7 milhões (0,02% do total contratado/ano) importância para se obter a sua consolidação
para uma participação de R$ 39,9 milhões no âmbito da gestão pública. Nesta esteira, são
(0,06%) nas aquisições dos órgãos do Sistema abordados a seguir os limites jurídicos destas
de Serviços Gerais (SISG), o que representa licitações e, em seguida, são apresentadas
um crescimento de 214% ao longo destes três algumas propostas presentes na literatura para
anos (BRASIL, 2013). a inserção de critérios socioambientais neste
O Decreto nº 7.746/20125 veio regulamentar processo.
o art. 3o da Lei no 8.666/93, tendo por objetivo
estabelecer critérios, práticas e diretrizes para 2.1 Os limites jurídicos das licitações
a promoção do desenvolvimento nacional sustentáveis
sustentável nas contratações realizadas A implementação da licitação sustentável
pela administração pública federal. Além possui ainda algumas resistências, em
disso, instituiu a Comissão Interministerial de parte pelos supostos obstáculos jurídicos
Sustentabilidade na Administração Pública – existentes e também pela amplitude que a
CISAP. inserção de critérios ambientais nas compras
5 - BRASIL. Decreto nº 7.746, de 5 de junho de 2012. Regulamenta o art. 3o da Lei no 8.666, de 21 de junho de
1993, para estabelecer critérios, práticas e diretrizes para a promoção do desenvolvimento nacional sustentável nas
contratações realizadas pela administração pública federal, e institui a Comissão Interministerial de Sustentabilidade na
Administração Pública – CISAP. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/decreto/
d7746.htm>. Acesso em: 15 jan. 2015.
6 - BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instrução Normativa nº 10, de 12 de novembro
de 2012. Estabelece regras para elaboração dos Planos de Gestão de Logística Sustentável de que trata o art. 16,
do Decreto nº 7.746, de 5 de junho de 2012, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.mme.gov.br/
documents/10584/1154501/Instruxo-Normativa-10-2012.pdf/228ebf79-20dc-4e74-b019-8cc613338950>. Acesso
em: 15 jan. 2015.

15
Revista $EIVA

governamentais pode alcançar. Discute-se licitante fazer qualquer exigência que não
sobre os limites destas contratações, cita-se esteja relacionada com o que reza o contrato.
como exemplo, o questionamento da amplitude A Lei nº 8.666/93 prevê, em seu art. 27,
dos critérios utilizados, se são aplicáveis aos exclusivamente, cinco documentações relativas
produtos adquiridos ou também ao fabricante/ à habilitação nas licitações: habilitação jurídica,
fornecedor, entre outros (BIM, 2011). qualificação técnica, qualificação econômico-
Diante da inclusão da promoção do financeira, regularidade fiscal e trabalhista, e
desenvolvimento nacional sustentável como cumprimento do disposto no inciso XXXIII do
um dos objetivos da licitação, é necessária art. 7º da Constituição Federal (declaração
uma análise de custo e benefício, em que os que não emprega menor de dezoito anos
critérios ambientais sejam avaliados juntamente em trabalho noturno, perigoso ou insalubre
com a economicidade, competitividade e e nenhum menor de dezesseis anos), salvo na
razoabilidade (FERREIRA, 2012b). Quando condição de aprendiz (BRASIL, 1988).
o gestor público busca escolher a proposta Há que se dizer que a inclusão de
mais vantajosa para a administração está, em certificações ambientais, tais como licenças,
última instância, optando também pela melhor alvarás etc. podem ser exigidas quando da
escolha para a sociedade, pois os contratos habilitação jurídica, porém a atividade da
administrativos têm o objetivo de atender licitação deverá exigir tal documentação que
a determinada demanda da coletividade. consistirá em, como preceitua o inciso V, do
Entre uma das preocupações da sociedade artigo 28, da supramencionada lei: “ato de
brasileira está a da manutenção e preservação registro ou autorização para funcionamento
ambiental, obrigação esta imposta no art. 170, expedido pelo órgão competente, quando
inciso VI e caput do art. 225 da Carta Magna. a atividade assim o exigir” (BRASIL, 1993).
O estabelecimento de critérios sustentáveis Trata-se do caso, por exemplo, de exigir
para participação nas licitações não tem por documentação que certifique a procedência
objetivo restringir ou frustrar a concorrência, da madeira.
mas sim assegurar que as empresas competirão No entanto, tratando-se de qualificação
em igualdade de condições, de acordo com técnica, a possibilidade é remota, mais do
parâmetros mínimos previamente estipulados que isso, torna-se inconstitucional, como já
no edital de licitação. Evita-se, por exemplo, anteriormente declarado pelo Supremo Tribunal
que um licitante ofereça preços mais baixos Federal. É o caso, por exemplo, da Ação Direta
que os demais em razão do mau uso do meio de Inconstitucionalidade nº 3.670/DF, em que
ambiente. Isto sim seria anti-isonômico e foi declarada a inconstitucionalidade de uma
contra a livre concorrência, pois colocaria em lei do Distrito Federal que proibia a contratação
desvantagem a empresa que cumpre com suas de empresas cujos funcionários estivessem com
obrigações ambientais, preservando o meio os nomes incluídos no serviço de proteção ao
ambiente. Bim (2011) afirma que o uso de crédito (BRASIL, 2007).
critério ambiental nas licitações não é apenas Cumpre salientar que existe uma lista
razoável, mas obrigatório, sendo também exaustiva de documentação relativa à
pertinente e relevante, não significando, qualificação técnica no art. 30 da lei 8.666/93
todavia, o fim da competitividade. (BRASIL, 1993), desta maneira, a vedação da
Torna-se claro que é possível e lei do Distrito Federal não tem pertinência
recomendável a inserção de critérios de com a exigência de qualificação técnica
sustentabilidade na especificação do objeto da indispensável à garantia do cumprimento do
licitação, entretanto o uso de fatores sustentáveis contrato, sendo assim não pode ser admitida.
na fase de habilitação não é permitido. Justen De forma análoga, a inserção de critérios
Filho (2009) define esta fase como o momento sustentáveis nesta fase não é permitida.
em que a Administração comprova a aptidão Desta forma, é vedado aos gestores limitar
da empresa para a futura contratação. a concorrência por meio da estipulação de
Sendo assim, não compete ao órgão novos requisitos de habilitação, conforme

16
Revista $EIVA

art. 27 da Lei 8.666/93. Exemplo clássico assim o exigir, é permitido à administração


desta discussão é a exigência de certificações solicitar documentação de autorização para
de Sistemas de Gestão da Qualidade, tais funcionamento. Pode-se citar o caso de atividade
como a ISO (International Organization for envolvendo produção industrial, importação,
Standardization), ou seja, a certificação de uma comercialização ou utilização de produtos
empresa pela norma da qualidade ISO não preservativos da madeira, em que se é solicitado
deve ser solicitada pelo Poder Público na fase ato de registro ou cadastramento expedido pelo
de habilitação da licitação. Contudo, como Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
dito anteriormente, se determinada certificação Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).
tiver relação com o processo de fabricação A segunda está de acordo com o
do produto e não com o produtor em si (ou inciso II, art.30, da Lei 8.666/93, pode ser
revendedor), este pedido de certificação requisito a apresentação de atestados de
relativa ao bem pode ser exigido quando da qualificação técnica comprovando a aptidão
apresentação da proposta. para desempenho de atividade pertinente e
Conforme afirma Justen Filho (2009), uma compatível em características, quantidades e
empresa pode preencher todos os requisitos prazos com o objeto da licitação, e indicação
para obter determinada certificação, mas das instalações e do aparelhamento e do
nunca haver formalizado esse trâmite. O pessoal técnico adequados e disponíveis para
essencial não é a certificação em si, mas o a realização do objeto da licitação, bem como
preenchimento dos requisitos necessários para da qualificação de cada um dos membros da
se atender ao interesse público. equipe técnica que se responsabilizará pelos
2.2 O uso de critérios socioambientais trabalhos (BRASIL, 1993). Neste caso em
nas contratações públicas especial tem-se, por exemplo, a contratação
de serviços com grave risco de poluição
Terra, Csipai e Uchida (2011) sugerem três ambiental, tais como produtos tóxicos.
passos práticos para a implantação das CPS: O uso de critérios socioambientais nas
a inserção de critérios socioambientais na obrigações da contratada é o instrumento
especificação técnica do objeto (fase interna), conferido ao gestor para fiscalizar a execução
nos requisitos de habilitação e nas obrigações contratual, de acordo com o especificado no
da empresa contratada. edital de licitação. Citam-se como exemplos:
A fase interna é o momento mais a questão do descarte dos resíduos sólidos,
importante do procedimento licitatório, nesta quando da contratação de uma empresa para
ocorre a escolha do objeto e a preparação construção de determinada edificação, em que
do edital que acompanharão as demais se deve atentar para o correto descarte dos
fases. Para a licitação sustentável ocorrer faz- entulhos; e a aquisição de equipamentos de
se necessário que a Administração adote um tecnologia da informação com a obrigação da
nível de detalhamento compatível com as suas contratada de providenciar o correto descarte
necessidades, inserindo os critérios ambientais dos itens que vierem a se tornar obsoletos
pertinentes e desclassificando as propostas que (BRASIL, 2015).
estejam em desacordo, atentando, contudo, Diversos órgãos públicos, tais como
para que estas especificações não restrinjam a Advocacia Geral da União, Fiocruz e Comando
competitividade ou favoreça algum fornecedor da Aeronáutica, vêm inserindo critérios
(JUSTEN FILHO, 2011). socioambientais nas suas contratações. O
A inserção de critérios socioambientais MPOG disponibiliza uma planilha completa na
nos requisitos de habilitação pode ocorrer na internet7 que contém a relação das licitações
habilitação jurídica e na qualificação técnica. sustentáveis realizadas no Comprasnet, tendo
A primeira está de acordo com o inciso V, por objetivo promover e divulgar as boas
art.28, da Lei 8.666/93, quando a atividade práticas já desenvolvidas.

7 - Disponível em: <http://cpsustentaveis.planejamento.gov.br/licitacoes-sustentaveis>. Acesso em: 07 jan. 2016.

17
Revista $EIVA

BRAMMER, S.; WALKER, H. Sustainable


CONCLUSÃO procurement in the public sector: an international
Comparative study. International Journal of
Ao longo desta pesquisa, foram abordados Operations & Production Management, v. 31,
alguns temas que objetivam fomentar as n. 4, p. 452-476, abr/mai 2011. Disponível em:
<www.emeraldinsight.com/products/journals/
contratações públicas sustentáveis no Brasil. journals.htm?id=ijopm>. Acesso em: 15 jan.
No decorrer do estudo, destacou-se que ainda 2015.
subsistem diversos questionamentos devido BRASIL. Constituição (1988) Constituição da
à grande complexidade destas contratações, República Federativa do Brasil de 1988.
sobretudo no que diz respeito à juridicidade e Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso
aos limites da licitação sustentável. em: 15 jan. 2015.
Outro ponto que merece destaque é o ______. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993.
entendimento limitado do que seja Licitação Dispõe sobre normas gerais de licitações e
Sustentável, pois é comumente associada contratos administrativos no âmbito dos Poderes
da União, dos estados, do Distrito Federal e
somente a quesitos ambientais, deixando de dos municípios. Diário Oficial [da] República
lado outros aspectos. Tal desvio pode ser Federativa do Brasil, Brasília, 22 jun. 1993.
decorrente da importação deste conceito de Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/l8666cons.htm>. Acesso em: 15
países de primeiro mundo, tais como o Reino jan. 2015.
Unido, que já superaram diversos problemas
______. Lei nº 12.187, de 29 de dezembro de
sociais como a escravidão ou o trabalho 2009. Institui a Política Nacional sobre Mudança
infantil, porém esta análise carece de estudo do Clima - PNMC e dá outras providências.
mais aprofundado. Diário Oficial [da] República Federativa do
Brasil, Brasília, 30 dez. 2009a. Disponível em:
Diante do exposto neste trabalho, <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
observou-se que as Leis nº 12.187/2009 e nº 2010/2009/lei/l12187.htm>. Acesso em: 15 jan.
2015.
12.305/2010, bem como a Lei nº 12.349/2010,
que deu nova redação ao art. 3º da Lei nº ______. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de
2010a. Institui a Política Nacional de Resíduos
8.666/93, tornaram o arcabouço legislativo Sólidos; altera a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro
suficiente para a consolidação da prática de 1998; e dá outras providências. Diário Oficial
das CPS, confirmando assim, fundamentos [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 03
ago. 2010. disponível em: <http://www.planalto.
jurídicos anteriores, tais como os previstos na gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.
Constituição Federal de 1988. htm>. Acesso em: 15 jan. 2015.
É inegável que o poder de implantar ______. Lei nº 12.349, de 15 de dezembro de
as licitações sustentáveis está nas mãos do 2010b. Altera a Lei nº 8.666, de 21 de junho
de 1993, 8.958, de 20 de dezembro de 1994,
gestor público, que observando os limites de e 10.974, de 2 de dezembro de 2004; e revoga
tais contratações, poderá estimular o setor o § 1º do art. 2º da Lei nº 11.273, de 6 de
produtivo a fazer mudanças em suas matrizes, fevereiro de 2006. Diário Oficial [da] República
tornando disponível à sociedade produtos e Federativa do Brasil, Brasília, 16 dez. 2010.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
serviços socioambientalmente adequados. ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12349.htm>.
Por fim, nesta pesquisa foram apresentados Acesso em: 15 jan. 2015.
alguns passos práticos para incluir critérios ______. Ministério do Planejamento, Orçamento
socioambientais nas contratações públicas e e Gestão. Contratações Públicas Sustentáveis.
Brasília, 2009b. Disponível em: <http://a3p.jbrj.
relatadas alternativas à implementação das gov.br/pdf/Compras_publicas.pdf>. Acesso em:
CPS em um órgão público. 03 jan. 2015
______. Ministério do Planejamento, Orçamento
REFERÊNCIAS e Gestão. Compras sustentáveis na
Administração Pública ganham em eficiência
BIM, E. F. Considerações sobre a juridicidade e econômica. Brasília, 2012. Disponível em:
os limites da licitação sustentável. In: SANTOS, <http://cpsustentaveis.planejamento.gov.br/
Murillo Giordan; BARKI, Teresa Villac Pinheiro noticias/compras-sustentaveis-na-administracao-
(Coord.). Licitações e contratações públicas publica-ganham-em-eficiencia-economica>.
sustentáveis. Belo Horizonte: Fórum, 2011. p. Acesso em: 15 jan. 2015.
175-217.

18
Revista $EIVA

______. Ministério do Planejamento, ______. Licitações sustentáveis como instrumento


Orçamento e Gestão. Informações Gerenciais de defesa do meio ambiente: fundamentos
de Contratações Públicas Sustentáveis. jurídicos para sua efetividade. In: BLIACHERIS,
Brasília, 2013. Disponível em: <http:// Marcos Weiss; FERREIRA, Maria Augusta Soares
comprasgovernamentais.com.br/wp-content/ de Oliveira (Coord.). Sustentabilidade na
uploads/2014/01/01_A_06_INFORMATIVO_ Administração Pública: valores e práticas de
COMPRASNET_Compras_Sustentaveis_2013. gestão socioambiental. Belo Horizonte: Fórum,
pdf>. Acesso em: 25 jan. 2015. 2012b. p. 83-105.
______. Ministério do Planejamento, Orçamento ICLEI. Manual Procura Plus: um guia para
e Gestão. Instrução Normativa nº 01, de 19 implementação de compras públicas sustentáveis.
de janeiro de 2010c. Dispõe sobre os critérios 3. ed. São Paulo, 2015. Disponível em: <http://
de sustentabilidade ambiental na aquisição de www.procuraplus.org/fileadmin/files/Manuals/
bens, contratação de serviços ou obras pela Manual_Procura_BR_final.pdf>. Acesso em: 02
Administração Pública Federal direta, autárquica e abr. 2015.
fundacional e dá outras providências. Disponível
em: <http://www.comprasnet.gov.br/legislacao/ JUSTEN, F. M. Comentários à lei de licitações
legislacaoDetalhe.asp?ctdCod=295>. Acesso e contratos administrativos. São Paulo:
em: 23 jan. 2015. Dialética, 2009.

______. Ministério do Planejamento, Orçamento ______. Curso de direito administrativo. 7. ed.


e Gestão. Licitações Sustentáveis. Brasília, rev. e atual. Belo Horizonte: Fórum, 2011.
2015. Disponível em: <http://cpsustentaveis. RICHARDSON et al. Pesquisa social: métodos e
planejamento.gov.br/licitacoes-sustentaveis>. técnicas. 3. ed. ver. ampl. São Paulo: Atlas, 2007.
Acesso em: 22 abr. 2015.
STEVENS, C. Linking sustainable consumption
______. Supremo Tribunal Federal. ADI n. and production: the government role. Natural
3670 DF. Ação Direta de Inconstitucionalidade. Resources Fórum, v. 34, n. 1, p. 16-23, fev.
Relator Ministro Sepúlveda Pertence. Brasília, 02 2010. Disponível em: <http://onlinelibrary.wiley.
abr. 2007. Disponível em: <http://stf.jusbrasil. com/doi/10.1111/j.1477-8947.2010.01273.x/
com.br/jurisprudencia/14729135/acao-direta-de- abstract>. Acesso em: 02 abr. 2015.
inconstitucionalidade-adi-3670-df>. Acesso em:
01 abr. 2015. TERRA, L. M. J.; CSIPAI, L. P.; UCHIDA, M. T.
Formas práticas de implementação das licitações
FERREIRA, M. A. S. O. Apontamentos sobre a sustentáveis: três passos para a inserção de
gestão socioambiental na Administração Pública critérios socioambientais nas contratações
brasileira. In: BLIACHERIS, Marcos Weiss; FERREIRA, públicas. In: SANTOS, Murillo Giordan; BARKI,
Maria Augusta Soares de Oliveira (Coord.). Teresa Villac Pinheiro (Coord.). Licitações e
Sustentabilidade na Administração Pública: contratações públicas sustentáveis. Belo
valores e práticas de gestão socioambiental. Belo Horizonte: Fórum, 2011. p. 219-245.
Horizonte: Fórum, 2012a. p. 21-43.

Sgt Johnson / Força Aérea Brasileria

19
Artigo Revista $EIVA

A evidenciação contábil dos ativos


intangíveis no setor público brasileiro:
análise no Comando da Aeronáutica,
sob o enfoque normativo.
Anderson da Silva Almeida – Maj Int
Mestre em Contabilidade - UMINHO.

a oportunidade do estudo, em razão do


INTRODUÇÃO vigente processo de harmonização às Normas
No último século, a lógica dos negócios Internacionais de Contabilidade Aplicadas ao
empresariais sofreu profunda alteração, na qual Setor Público, bem como o pano de fundo
o foco na produção em massa foi transferido formado pela experiência pregressa com a
para a intensidade em conhecimento. Por sua reformulação da gestão e controle dos Bens
vez, a indústria como base da economia deu Móveis Permanentes, consubstanciada na
lugar à informação (HUSSI, 2004, p. 36). Portaria nº 5/SUCONT-2, de 26 de janeiro
Nessa nova perspectiva, ficou claro o papel de 2012, que guarda, em certa medida,
fundamental dos intangíveis na geração de semelhanças com a gestão e controle dos
valor para as organizações (BLAIR; WALLMAN, intangíveis.
2000; LEV, 2000, CAÑIBANO et al., 2002; Diante do exposto, a presente pesquisa
LEV; DAUM, 2004; WALL, 2005). pretende desenvolver análise quanto à
O impacto trazido por essas alterações evidenciação contábil dos ativos intangíveis
atingiu, inicialmente, de modo predominante o no setor público brasileiro, em específico
setor privado. Entretanto, nos auspícios da New no COMAER, no que tange ao componente
Public Management1 (NPM), o setor público normativo. Para tanto, foram estabelecidos os
também foi impulsionado a aperfeiçoar suas seguintes objetivos específicos:
práticas gerencias. a) analisar o modo que o normativo
Ademais, tendo em conta que o principal internacional sobre ativos intangíveis tem
agente do valor atribuído a uma organização é sido aplicado no setor público brasileiro,
o componente intangível (BRONZETTI; VELTRI, em específico no COMAER; e
2013) e que somente uma pequena parcela b) caracterizar de que forma a norma interna
das entidades públicas foram desafiadas a consegue acomodar as necessidades de
tentar medir, gerenciar e relatar sobre os ativos evidenciação contábil dos ativos intangíveis
intangíveis (RAMÍREZ, 2010), comprova-se a no COMAER.
importância de se desenvolver estudos que A pesquisa está estruturada em cinco
envolvam a gestão dos intangíveis na seara seções. Na primeira, é feita uma concisa revisão
pública, motivo pelo qual privilegiou-se o dos estudos anteriores. Ato contínuo, verificar-
presente tema. se-á como se desenvolveu o processo de
harmonização no setor público internacional,
Destarte, no tocante ao Comando da
na seção 2. Na terceira parte, delinear-se-á
Aeronáutica (COMAER), além das questões
a metodologia aplicada na investigação. Em
já levantadas, deve-se considerar ainda
seguida, na seção 4, desenvolver-se-á o estudo

1 - Conjunto de pensamentos difundidos a partir da década de setenta, cujos objetivos centrais foram, em síntese: incrementar
a eficiência da ação pública e melhorar a relação do Estado com seus cidadãos (AMORIM, S. N. D. Ética na esfera
pública: a busca de novas relações estado/sociedade. Revista do Serviço Público, v. 51, n. 2, p. 94–104, 2000).

20
Revista $EIVA

empírico, cuja abordagem central versa sobre na organização e somente essa categoria de
a adoção da norma internacional sobre ativos capital intelectual é de fato propriedade da
intangíveis, no setor público brasileiro e em entidade (patentes, conceitos, modelos, práticas,
especial no COMAER. Em consequência, serão computadores, sistemas administrativos, etc)
abordados os resultados, na quinta seção. (WHITE, 2007, p. 80).
Do exposto, elucida-se que o capital
1. ESTUDOS ANTERIORES estrutural se refere, portanto, a um grupo de
Inicialmente, cumpre destacar que se ativos circunscritos ao domínio da organização
identificou a utilização indiscriminada dos e, potencialmente, propensos a serem
termos capital intelectual, intangíveis ou ativos registrados pela contabilidade, conceito do
intangíveis, no desenvolvimento da revisão qual deriva a ideia de “Ativo Intangível”2.
de literatura. Entretanto, em regra, os termos De acordo com Petty e Guthrie (2000)
foram empregados para identificar ativos não- o capital intelectual gera reflexos no
físicos capazes de gerar benefícios futuros para desenvolvimento em diversas áreas, tais
a organização. como: econômica, gerencial, tecnológica
Não obstante, embora fossem empregados, e sociológica, numa forma até então
comumente, como sinônimos, convém desconhecida e em grande parte imprevisível,
estabelecer diferença, do ponto de vista dado seu potencial.
semântico, quanto à utilização dos vocábulos Destarte, levando-se em conta o foco da
supramencionados. O termo capital intelectual pesquisa, ainda resta verificar o liame entre
está mais relacionado ao campo de estudos setor público e intangíveis. Nessa perspectiva,
sobre recursos humanos e gestão estratégica, ao se ter em conta os fundamentos das
enquanto “intangíveis” apresenta viés com a entidades públicas, verifica-se que na essência,
ciência contabil (CAÑIBANO et al., 2002). os objetivos de tais organismos podem ser
É nesse contexto que Blair e Wallman (2000) considerados “intangíveis”, por sua própria
identificam a falta de consenso no emprego natureza, porquanto muitos dos serviços
daqueles termos, bem como Hussi (2004, fornecidos aos cidadãos compõem-se de
p.116) enxerga a existência de “controvérsia”, características não-físicas, cujos recursos para
em função dessas diferentes abordagens. a geração desses serviços baseiam-se em
ativos intangíveis (RAMÍREZ, 2010).
Por seu turno, o capital intelectual,
propriamente dito, divide-se em capital humano, Nesse sentido, a literatura é cabalmente
capital de relacionamentos e capital estrutural assertiva:
(WHITE, 2007). Grosso modo, o capital [...] a essência da atividade de organismos do
setor público está longe de ser quantificável
humano se refere aos funcionários de uma em termos monetários, em razão de suas
organização, geradores de conhecimentos, mais importantes entradas e saídas terem
os quais não pertencem à empresa, incluídos características intangíveis. De fato, as
nessa categorização figuram as competências, organizações públicas não são apenas em
habilidades ou experiências individuais parte construídas sobre intangíveis, como
habilidades, competências, procedimentos e
(FLETCHER et al., 2003; BRONZETTI; VELTRI, sistemas de informação, mas também tendem
2013); o capital de relacionamentos aponta a gerar intangíveis de natureza “coletiva” com
para a rede de ligações de uma entidade com suas ações (por exemplo, bem-estar público,
o mundo externo, tais como, clientes, parceiros, qualidade de vida, a proteção do meio
fornecedores, etc (WHITE, 2007), o qual, assim ambiente, a reputação de um território). (DEL
BELLO, 2006, p. 441).
como o capital humano, não é controlado pela
organização, tampouco sua propriedade. O Outrossim, ao se considerar que a sociedade
capital estrutural engloba todo o conhecimento, e a economia passaram a ter orientação
que pode ser acumulado, organizado e transmitido voltada aos serviços e às informações (BLAIR;

2 - É um ativo não monetário, sem substância física, identificável, controlado pela entidade e gerador de benefícios econômicos
futuros ou serviços potenciais (BRASIL, 2014, p. 154).

21
Revista $EIVA

WALLMAN, 2000; WHITE, 2007), viu-se o Financas da Aeronáutica (SEFA). Eis aqui um
despontar da importância dos intangíveis na rico exemplo do capital de relacionamentos.
geração de valor para as empresas. Finalmente, os princípios difundidos pela
Desse modo, essas alterações também NPM, aliados ao relevo obtido pelos intangíveis
atingiram o setor público, mormente à Força no serviço público, culminaram num fenômeno
Aérea Brasileira (FAB), centrada na inovação que visou padronizar, em nível internacional, o
gerencial e tecnológica (BRASIL, 2016). Não regramento contábil para se gerir e controlar
à toa, Ramírez (2010) informa que, sob a ativos intangíveis, o que será exposto a seguir.
égide desse novo paradigma, conhecimentos
e valores intangíveis passaram a ser o principal 2. O PROCESSO DE
fator de vantagem competitiva para as HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL
entidades públicas. NO SETOR PÚBLICO
Ramírez (2010) afirma ainda que nesse INTERNACIONAL
contexto da “economia do conhecimento”,
as entidades públicas são impelidas a inovar, A evolução trazida pela difusão dos
objetivando dar as respostas certas aos princípios da NPM e o surgimento de um “novo
desafios gerados nesse ambiente dinâmico. setor público” culminou no aprimoramento
Nesse particular, vê-se a importância do capital de diversas práticas gerenciais (BRIGNALL;
intelectual, a saber: MODELL, 2000), inclusive na dimensão
Através da combinação, utilização, interação,
contábil.
alinhamento e balanceamento dos três tipos de Nessa perspectiva, vale lembrar que,
capital intelectual e, assim como a gestão do consoante Sutcliffe (2003) os governos
fluxo de conhecimento entre os três componentes, cresceram, aumentaram seu endividamento,
capital intelectual se torna o melhor valor
possível para organizações na economia do
desenvolveram controles, incrementaram o
conhecimento. (KONG, 2008, p. 291). consumo e a distribuição de renda, não obstante,
Cinca, Molinero e Queiroz (2003) o relato financeiro das operações governamentais
enxergam a forte presença do capital intelectual ainda continuava precário. Assim, segundo Chan
nas entidades públicas e avaliam o destaque, (2003) e, em síntese, ao disporem de menos
por exemplo, do capital de relacionamentos no recursos, os governos buscaram diferentes
âmbito do setor público, conforme afirmam: abordagens da contabilidade para melhoria da
eficiência e da economia.
Isto também é verdade para o setor público,
onde as ligações com outras instituições, Desse modo, foi exatamente nesse contexto
agentes sociais, ou os meios de comunicação que a contabilidade pública alcançou maior
podem ser de grande valor para a consecução realce, buscando emular as boas práticas
de objetivos específicos. Por exemplo, a contábeis do setor privado (CHAN, 2003;
capacidade que a instituição pode ter para
influenciar a decisão política pode até
LAPSLEY; MUSSARI; PAULSSON, 2009).
mesmo determinar seu orçamento (CINCA; Entretanto, o setor público detém
MOLINERO; QUEIROZ, 2003, p. 257). certas especificidades, pelo que as práticas
Assim, vislumbra-se a veracidade de tal contábeis também necessitavam atender
assertiva, quando se verifica as interações a essas características singulares. E nesse
desenvolvidas por determinadas organizações cenário, surgiu o International Public Sector
da FAB com órgãos externos. Em particular, Accounting Standards Board (IPSASB), cuja
com a Secretaria do Tesouro Nacional (STN), competência, em nível mundial, é atender as
com a Secretaria do Orçamento Federal (SOF) necessidades daqueles envolvidos na gestão,
que, ao longo dos anos, solidificaram estreito divulgação, contabilidade e auditoria do setor
e profícuo relacionamento com o COMAER, público (INTERNATIONAL FEDERATION
por intermédio da Secretaria de Economia e OF ACCOUNTANTS, 2015). O IPSASB é

3 - São as normas internacionais, em níveis globais, de alta qualidade para a preparação de demonstrações contábeis por
entidades do Setor Público (INTERNATIONAL FEDERATION OF ACCOUNTANTS, 2010).

22
Revista $EIVA

responsável pelo desenvolvimento e atualização Standards3 (IPSAS). As IPSAS são formadas por
das International Public Sector Accounting trinta normas, conforme QUADRO 1 a seguir:
QUADRO 1
Escopo de cada IPSAS
NUMERAÇÃO
DESCRIÇÃO
IPSAS
1 Apresentação das Demonstrações Contábeis
2 Demonstração dos Fluxos de Caixa
3 Políticas Contábeis, Mudança de Estimativa e Retificação de Erro
Efeitos das Mudanças nas Taxas de Câmbio e Conversão de Demonstrações
4
Contábeis
5 Custos de Empréstimos
6 Demonstrações Consolidadas e Separadas
7 Investimento em Coligada e em Controlada
8 Investimento em Empreendimento Controlado em Conjunto (Joint Venture)
9 Receita de Transação com Contraprestação
10 Contabilidade e Evidenciação em Economia Altamente Inflacionária
11 Contratos de Construção
12 Estoques
13 Operações de Arrendamento Mercantil
14 Evento Subsequente
15 “Suprimida” e substituída pelas IPSAS 28, 29 e 31
16 Propriedade para Investimento
17 Ativo Imobilizado
18 Informações por Segmento
19 Provisões, Passivos Contingentes e Ativos Contingentes
20 Divulgação sobre Partes Relacionadas
21 Redução ao Valor Recuperável de Ativo Não Gerador de Caixa
22 Divulgação de Informação Financeira sobre o Setor do Governo Geral
23 Receita de Transação sem Contraprestação (Tributos e Transferências)
24 Apresentação de Informação Orçamentária nas Demonstrações Contábeis
25 Benefícios a Empregados
26 Redução ao Valor Recuperável de Ativo Gerador de Caixa
27 Ativo Biológico e Produto Agrícola
28 Instrumentos Financeiros: Apresentação
29 Instrumentos Financeiros: Reconhecimento e Mensuração
30 Instrumentos Financeiros: Evidenciação
31 Ativo Intangível
Fonte: Adaptado de INTERNATIONAL FEDERATION OF ACCOUNTANTS (2010).

Ademais, apesar da variada composição se enquadrá-la como uma pesquisa social


das IPSAS, cabe ressaltar que a presente (MAJOR; VIEIRA, 2009), a qual tem a
pesquisa está restrita à análise da IPSAS 31, capacidade de obter novos conhecimentos no
norma que guarda relação direta com a campo da realidade social, utilizando-se, para
área sob exame, a qual servirá de base para tanto, o processo da metodologia científica
compração com outros normativos, conforme (GIL, 2008, p.26).
explicitado de modo mais detalhado adiante. Outrossim, porquanto se busca entender
Discorrida a análise sumária do processo um contexto social complexo (COMAER),
de harmonização às normas internacionais quanto à abordagem a pesquisa pode ser
de contabilidade, resta ainda apresentar os classificada como “qualitativa” (MAJOR;
parâmetros metodológicos seguidos. VIEIRA, 2009). A esse respeito, os citados
autores ainda textuam que:
3. METODOLOGIA A investigação qualitativa adota uma orientação
holística, permitindo compreender, interpretar e
Considerando que a investigação está explicar em profundidade as práticas sociais,
situada na alçada da contabilidade, pode-

23
Revista $EIVA

onde se incluem as práticas de contabilidade, influenciada pela Lei 4.320/1964, ainda em


atendendo a um contexto organizacional e vigor, o que para Silva (2007), constituiu-se a
social mais alargado, no qual essas práticas se
desenvolvem. (MAJOR; VIEIRA, 2009, p.133).
principal referência para a legislação das finanças
no Brasil. A referida lei versa sobre normas gerais
No tocante ao método de coleta de dados, de direito financeiro para elaboração e controle
utilizou-se a análise documental, que segundo dos orçamentos e balanços, cuja abrangência é
Lessard-Hébert, Goyette e Boutin (2012, nas três esferas de governo.
p.143), pode ser ainda considerada um tipo de
análise de conteúdo que busca material escrito O citado diploma legal mescla assuntos de
relativo a fatos, atributos, comportamentos, ordem orçamentária e contábil e, ao longo de
tendências, local ou acontecimento. cinquenta anos, isso levou a uma conformação
desarranjada, na qual conceitos e princípios
Ademais, objetivando caracterizar a contábeis se tornaram confusos ou foram
aplicação dos principais normativos referentes substituídos por princípios orçamentários.
aos ativos intangíveis, no ambiente brasileiro e
em especial no COMAER, analisou-se a IPSAS Assim, nas fases iniciais do processo
31, as NBCASP, o MCASP e o MCA 172-3, de harmonização, esse viés orçamentário
que por se tratarem de documentos oficiais se constituiu uma barreira para a mudança
escritos, constituem geralmente a fonte mais de paradigmas, até então enraizados nos
fidedigna de dados (MARCONI; LAKATOS, profissionais de contabilidade, sobretudo no
2003, p. 178). setor público.
Assentadas as perspectivas metodológicas, Nesse contexto, na tentativa de se
ainda se necessita desenvolver propriamente contrapor a essa postura dos profissionais de
o estudo empírico, cerne da investigação, contabilidade, mormente da área pública, além
conforme a seguir. de prover uma base conceitual e doutrinária,
ainda inédita para a contabilidade do setor
4. A ADOÇÃO DO NORMATIVO público brasileiro, foram editadas as Normas
INTERNACIONAL RELATIVO Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor
Público (NBCASP). Esse arcabouço normativo
AOS ATIVOS INTANGÍVEIS
foi desenvolvido mediante Resoluções do
NO COMAER E OS Conselho Federal de Contabilidade (CFC),
NORMATIVOS CONEXOS conforme QUADRO 2.
A harmonização contábil aos conceitos Por conseguinte, mediante a conjugação
difundidos na contabilidade internacional das IPSAS e das NBCASP, foi consolidado
efetivou-se, para setor público brasileiro, com o Manual de Contabilidade Aplicada ao
publicação da Portaria nº 184, de 25 de agosto Setor Público (MCASP), que passou a ser o
de 2008, que colocava a STN como órgão orientador para os procedimentos contábeis
estratégico para a convergência, a saber: no setor público brasileiro, que na sua sexta
Determinar à Secretaria do Tesouro Nacional - edição, trouxe a seguinte estrutura, conforme
STN, órgão central do Sistema de Contabilidade demonstrado no QUADRO 3.
Federal, o desenvolvimento das seguintes ações Por seu turno, o COMAER adaptou
no sentido de promover a convergência às
Normas Internacionais de Contabilidade
seu próprio normativo interno, o Manual
publicadas pela International Federation of de Execução Orçamentária, Financeira e
Accountants - IFAC e às Normas Brasileiras Patrimonial do Comando da Aeronáutica
de Contabilidade aplicadas ao Setor (MCA 172-3 digital), o qual dita, dentre outros
Público editadas pelo Conselho Federal de procedimentos, àqueles de ordem contábil, que
Contabilidade - CFC, respeitados os aspectos
formais e conceituais estabelecidos na
sejam aderentes à realidade das Organizações
legislação vigente. (BRASIL, 2008, grifo nosso) Militares do COMAER, sediadas no Brasil e no
Não obstante, antes dessa verdadeira exterior. A estrutura do MCA 172-3 pode ser
revolução para o setor público, a contabilidade verificada no QUADRO 4.
pública brasileira estava, predominantemente,

24
Revista $EIVA

QUADRO 2
Estrutura das NBCASP
NUMERAÇÃO RESOLUÇÃO/
NORMA
NBC T4 ANO
16.1 1.128/08 Conceituação, Objeto e Campo de Aplicação
16.2 1.129/08 Patrimônio e Sistemas Contábeis
16.3 1.130/08 Planejamento e seus Instrumentos sob o Enfoque Contábil
16.4 1.131/08 Transações no Setor Público
16.5 1.132/08 Registro Contábil
16.6 1.133/08 Demonstrações Contábeis
16.7 1.134/08 Consolidação das Demonstrações Contábeis
16.8 1.135/08 Controle Interno
16.9 1.136/08 Depreciação, Amortização e Exaustão
16.10 1.137/08 Avaliação e Mensuração de Ativos e Passivos em Entidades do
Setor Público
16.11 1.366/11 Sistema de Informação de Custos do Setor Público
Fonte: CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE (2012).
QUADRO 3
Estrutura do MCASP 6ª Edição
PARTE DENOMINAÇÃO
GERAL Contabilidade Aplicada ao Setor Público
I Procedimentos Contábeis Orçamentários
II Procedimentos Contábeis Patrimoniais
III Procedimentos Contábeis Específicos
IV Plano de Contas Aplicado ao Setor Público (PCASP)
V Demonstrações Contábeis Aplicadas ao Setor Público
Fonte: Adaptado da Secretaria do Tesouro Nacional (BRASIL, 2014).

QUADRO 4
Estrutura do MCA 172-3
MÓDULO TÍTULO
1 Introdução
2 Siglas e conceitos
3 Contabilização de receitas
4 Execução orçamentária
5 Programação financeira
6 Execução financeira da despesa
7 Execução patrimonial
8 Suprimento de fundos
9 Pagamento de pessoal (UG)
10 Folha de pagamento de pessoal
11 Convênios e termos de cooperação
12 Execução orçamentária, financeira e patrimonial nas Comissões
Aeronáuticas Brasileiras no exterior
13 Prestação de contas
14 Encerramento do exercício
15 Comunicação via SIAFI
16 Contratos administrativos
17 Execução do plano de ação
18 Regularidade fiscal, previdenciária, trabalhista e junto ao Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço (FGTS)
19 Acesso a sistemas corporativos do Governo Federal
20 Extração de dados do Tesouro Gerencial
Fonte: Adaptado de Comando da Aeronáutica (BRASIL, 2007).

4 - NBC T foi o termo adotado pelo CFC e significa Normas Brasileiras de Contabilidade – Técnica. As siglas NBCASP e NBC
T foram utilizadas como sinônimos.

25
Revista $EIVA

Ademais, convém destacar, de modo QUADRO 5


sucinto, que o processo de confecção do MCA Comparação entre normas
172-3 (digital) (FIG. 1), em regra, passou a ser PRINCIPAIS TEMAS IPSAS NBCASP MCASP MCA
172-3
derivado do MCASP, que por sua vez tem por Definição de ativo intangível X X
base as NBCASP, orientadas pelas IPSAS. Ou Definição de pesquisa X X
seja, a capacidade de o MCA 172-3 (digital) Definição de X X
desenvolvimento
aderir à norma internacional, estará na exata Reconhecimento X X
medida em que o MCASP já a absorveu. Mensuração X X X X
Aquisição separada X X
Gastos subsequentes X X
Aquisição por meio X X
de transações sem
contraprestação
Goodwill X X
Ativo intangível gerado X X
internamente
Fase de pesquisa X X
Fase de desenvolvimento X X
Custo do ativo intangível X X
gerado internamente
Mensuração após X X X X
reconhecimento
Vida útil definida X X
Vida útil indefinida X X
Amortização X X X X
Revisões (período, método X X
amortização e vida útil)
Perda por redução ao valor X X X X
Recuperável
Baixa X X X
Divulgação X X X
Exemplos ilustrativos X

5. RESULTADOS
O setor público brasileiro já sinalizou de
modo claro que a harmonização contábil é
importante e necessária. Nesse sentido, diversas
FIGURA 1
Processo simplificado de edição do MCA 172-3
ações já foram e ainda são desenvolvidas
com a finalidade de proporcionar completa
Por fim, da análise específica sobre o aderência às IPSAS, movimento esse já
tema “ativos intangíveis” constantes dos carreado, principalmente, pelos países
normativos até aqui verificados, depreende-se desenvolvidos.
que as IPSAS e o MCASP dedicaram seções
Isto posto, é de suma importância ressaltar
exclusivas: a IPSAS 31 – Ativos Intangíveis
que a edição de normativos, isoladamente,
e o capítulo 6 do MCASP. Por sua vez, as
não é capaz de proporcionar a adoção plena
NBCASP expuseram o tema somente de forma
das normas internacionais de contabilidade no
dispersa, enquanto o MCA 172-3 (digital)
Brasil. É nesse tipo de cenário impositivo que
inseriu o assunto em parte do Módulo 7.
Panozzo (2000) adverte para a mera “gestão
Como fruto do exame das legislações e tendo
por decreto”, ou seja, adotam-se as práticas
por base a IPSAS 31, conseguiu-se sintetizar a
simplesmente por serem mandatórias.
caracterização de cada norma, relativamente
ao que tratam sobre ativo intangível, conforme Da verificação do QUADRO 5, constata-
QUADRO 5. se que a IPSAS 31 já foi quase totalmente
vertida para o MCASP, tendo sua aplicação,
Depois de traçado um breve panorama
em sede de procedimentos, prevista, até 31 de
do desenvolvimento normativo, resta portanto,
dezembro de 2018 (BRASIL, 2015).
discutir os resultados obtidos.

26
Revista $EIVA

Esse lapso temporal poderá permitir uma Desse modo, diante desses apontamentos,
absorção paulatina dos novos procedimentos optar-se-ia pela utilização supletiva das normas
trazidos pelas IPSAS, consistente com superiores, que pudessem complementar
Christiaens, Reyniers e Rollé (2010), que os temas silentes no MCA 172-3 (digital),
alertam sobre a adoção da harmonização ao conforme previsão legal das NBCASP (§
longo do tempo e não de forma abrupta. 22, da NBC T 16.5). Ou então, poder-se-ia
Ademais, convém pontuar que nesse dotá-lo de maior robustez teórica, ainda que
cenário de alterações, a complexidade e a essa alternativa represente, em princípio, a
dispersão das normas contábeis brasileiras, das própria descaracterização de um manual
quais a presente investigação analisou somente de procedimentos. Finalmente, mesmo
algumas, podem representar para o profissional com a desvantagem de se criar mais um
da contabilidade pública desafio adicional. Por novo normativo, existiria a possibilidade de
exemplo, para o COMAER, como integrante desenvolver outra norma específica sobre
do Serviço Público Federal, é de observância ativos intangíveis.
obrigatória diversas leis, decretos, portarias,
instruções específicas, MCASP, NBCASP, RADA, CONCLUSÃO
MCA 172-3 (digital), as quais podem disciplinar A presente investigação identificou que
sobre os mesmos assuntos. as mudanças na economia, associadas às
Curiosamente, no que se refere aos ativos pressões exercidas pela NPM, impulsionaram
intangíveis, as NBCASP foram silentes em a administração pública a desenvolver nova
diversos pontos estabelecidos pela IPSAS 31 abordagem no tocante às práticas contábeis. E
(QUADRO 5), o que pode ter sua justificativa, nesse mesmo contexto, emergiu o importante
quando analisadas sob o enquadramento do papel desenvolvido pelos intangíveis.
tempo em que foram publicadas, as quais Com vistas a padronizar a linguagem
definiram somente as mínimas bases conceituais contábil no mundo, o INTERNATIONAL
no prelúdio do processo de harmonização. FEDERATION OF ACCOUNTANTS
Entretanto, essa constatação não invalida, nem desenvolveu as IPSAS, que representam a
de longe, o importante papel prestado pelas qualidade em sede de norma contábil para o
NBCASP, enquanto primeiro marco doutrinário setor público. A partir de 2008, o Brasil iniciou
da contabilidade pública brasileira. o processo de harmonização às Normas
Por outro lado, o MCASP demonstrou-se Internacionais de Contabilidade Aplicadas ao
bem mais próximo da IPSAS 31, permanecendo Setor Público.
ainda silente somente no que concerne Como fruto desse processo, foram
aos exemplos ilustrativos, existentes no desenvolvidas as NBCASP e consolidado o
diploma internacional. Tal assertiva pode ser MCASP, que passou a influenciar diretamente a
compreendida mediante a insipiência do tema confecção do MCA 172-3 (digital). Em especial,
na contabilidade pública brasileira. analisou-se o impacto na normatização
Por seu turno, o MCA 172-3 (digital) não se referente aos ativos intangíveis.
mostrou aderente, de modo pleno, aos requisitos Nesse particular, verificou-se como o
prescritos pela IPSAS 31, nomeadamente no que normativo internacional atingiu a norma
se refere aos ativos intangíveis, o que, apresenta interna do COMAER. Para tanto, buscou-se
robusta justificativa, dada que sua concepção desenvolver análise referente à evidenciação
o identifica puramente como um manual de contábil dos ativos intangíveis no setor público
procedimentos, cuja própria denominação, brasileiro, em específico no COMAER, no que
assim o define. Ademais, objetiva ainda, em tange ao componente normativo.
síntese, dar suporte às atividades dos gestores,
Dessa perspectiva, derivou-se o primeiro
não se detendo, portanto, em questões teóricas
objetivo específico, qual seja: analisar o
mais aprofundadas.

5 - Regulamento de Administração da Aeronáutica.

27
Revista $EIVA

modo que o normativo internacional sobre demonstrações contábeis, de forma a torná-los


intangíveis tem sido aplicado no setor público convergentes com as Normas Internacionais de
Contabilidade Aplicadas ao Setor Público. Diário
brasileiro, em específico no COMAER. Assim, Oficial [da] República Federativa do Brasil.
constatou-se que o MCA 172-3 (digital) deriva Brasília, 26 ago. 2008. Seção 1. p. 24. Disponível
basicamente do MCASP, no entanto da análise em: <http://www.fazenda.gov.br/institucional/
legislacao/2008/portaria184>. Acesso em: 14
do QUADRO 5, vê-se que a norma interna maio 2016.
do COMAER, por se tratar de um manual _______. Ministério da Fazenda. Portaria nº
procedimental, absorve de modo tênue os 548, de 24 de setembro de 2015. Dispõe sobre
preceitos emanados pela IPSAS 31. prazos-limite de adoção dos procedimentos
contábeis patrimoniais aplicáveis aos entes
No seguimento da investigação, buscou- da Federação, com vistas à consolidação das
se caracterizar de que forma a norma interna contas públicas da União, dos estados, do
consegue acomodar as necessidades de Distrito Federal e dos municípios, sob a mesma
base conceitual. Diário Oficial [da] República
evidenciação contábil dos ativos intangíveis Federativa do Brasil. Brasília, 29 set. 2008.
no COMAER e viu-se que como decorrência Brasília. Disponível em: <https://www.tesouro.
da sua baixa absorção da IPSAS 31, há a fazenda.gov.br/documents/10180/0/Portaria+STN
+548+2015+PIPCP/73e5e615-ccbe-4050-bfc3-
necessidade de se selecionar alternativa para a9356d35daf1>. Acesso em: 02 maio 2016.
que o MCA 172-3 (digital) ou outra norma _______. Secretaria do Tesouro Nacional.
interna venha disciplinar de modo mais detido Manual de contabilidade aplicada
sobre os ativos intangíveis. ao setor público. 6. ed. Brasília, 2014.
Disponível em: <http://www.tesouro.fazenda.
Por fim, não se pode olvidar, no entanto, que gov.br/documents/10180/456785/CPU_
toda essa abordagem relativa à harmonização MCASP+6%C2%AA%20edi%C3%A7%C3%A3o_
contábil ainda é recente no Brasil e como um Republ2/fa1ee713-2fd3-4f51-8182-
a542ce123773>. Acesso em: 07 agosto 2016.
processo, desenvolve-se ao longo do tempo,
BRIGNALL, S.; MODELL, S. An institutional
atingindo paulatinamente um enquadramento perspective on performance measurement
mais robusto. No caso do COMAER, o esforço and management in the “new public sector.”
empregado nesse desenvolvimento gradual Management Accounting Research, v. 11, n. 3,
pode ser duplicado, uma vez que, do ponto de p. 281–306, 2000.
vista do ambiente externo, permance vigilante BRONZETTI, G.; VELTRI, S. Intellectual capital
reporting in the Italian non-profit sector: analysing
às determinações da STN, além de fornecer a case study. Journal of Intellectual Capital, v.
suporte contábil aos usuários internos, em 14, n. 2, p. 246–263, 2013.
sede de normativos e procedimentos, por meio CAÑIBANO, L., SÁNCHEZ, M. P., GARCÍA-
da SEFA. AYUSO, M., e CHAMINADE, C. Proyecto
Meritum: guidelines for managing and
reporting on intangibles (Intellectual Capital
REFERÊNCIAS Report). 2002. Disponível em: < http://www.
pnbukh.com/files/pdf_filer/MERITUM_Guidelines.
BLAIR, M. M.; WALLMAN, S. M. Unseen wealth: pdf >. Acesso em: 07 agosto 2016.
report of the brookings task force on intangibles.
Washington, D.C.:Brookings Institution Press. 125 CHAN, J. L. Government accounting: an
p., 2000. assessment of theory, purposes and standards.
Public Money & Management, n. 23, v. 1, p.
BRASIL. Comando da Aeronáutica. Diretriz para a 13–20, 2003.
reestruturação da Força Aérea Brasileira: DCA 11-
53. Boletim do Comando da Aeronáutica, n. CHRISTIAENS, J.; REYNIERS, B; ROLLÉ, C.
82, 17 maio 2016, Rio de Janeiro, CENDOC. Impact of IPSAS on reforming governmental
financial information systems: a comparative
______. Comando da Aeronáutica. Manual study. International Review of Administrative
de Contabilidade da Aeronáutica: MCA 172-3 Sciences, v. 76, n. 3, p. 537–554, 2010.
(Digital). Atualizado pela Portaria SEFA 34/ANAJ,
de 14 de agosto de 2014. Boletim do Comando CINCA, C. S.; MOLINERO, C. M.; QUEIROZ,
da Aeronáutica, n. 41, 1 mar. 2009. Rio de A. B. The measurement of intangible assets in
Janeiro: CENDOC. 2014. public sector using scaling techniques. Journal of
Intellectual Capital, v. 4, n. 2, p. 249–275, 2003.
_______. Ministério da Fazenda. Portaria no
184, de 25 de agosto de 2008. Dispõe sobre as CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE
diretrizes a serem observadas no setor público (CFC). Normas Brasileiras de Contabilidade:
(pelos entes públicos) quanto aos procedimentos, contabilidade aplicada ao setor público (NBC
práticas, laboração e divulgação das T 16.1 a 16.11).Brasília: Conselho Federal de
Contabilidade, 2012. Disponível em: <http://

28
Revista $EIVA

portalcfc.org.br/wordpress/wp-content/ LESSARD-HÉBERT, M.; GOYETTE, G.; BOUTIN,


uploads/2013/01/Setor_Público.pdf>. Acesso em: G. Investigação qualitativa: fundamentos e
12 maio 2016. práticas. Lisboa: Instituto Piaget, 2012.
DEL BELLO, A. Intangibles and sustainability in LEV, B. Intangibles: Management, measurement,
local government reports: an analysis into an and reporting. Washington, D.C.: Brookings
uneasy relationship. Journal of Intellectual Institution Press. 217 p., 2000.
Capital, v. 7, n. 4, p. 440-456, 2006. LEV, B.; DAUM, J. H. The dominance of intangible
FLETCHER, A., GUTHRIE, J., STEANE, P., ROOS, assets: consequences for enterprise management
G. e PIKE, S. Mapping stakeholder perceptions and corporate reporting. Measuring Business
for a third sector organization. Journal of Excellence, v 8, n. 1, p. 6-17, 2004.
Intellectual Capital, v.4, n. 4, p. 505-527, 2003. MAJOR, M. J.; VIEIRA, R. Contabilidade e
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa controlo de gestão: teoria, metodologia e
social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008. prática. Lisboa: Escolar, 2009.
HUSSI, T. Reconfiguring knowledge management- MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M.
combining intellectual capital, intangible assets Fundamentos de metodologia científica. 5. ed.
and knowledge creation. Journal of Knowledge São Paulo: Atlas, 2003.
Management, v. 8, n. 2, p. 36-52, 2004. PANOZZO, F. Management by decree. Paradoxes
INTERNATIONAL FEDERATION OF in the reform of the Italian public sector.
ACCOUNTANTS (IFAC). Normas Internacionais Scandinavian Journal of Management, v. 16,
de Contabilidade para o Setor Público. 2010. n. 4, p. 357-373, 2000.
Disponível em: <http://portalcfc.org.br/wordpress/ PETTY, R.; GUTHRIE, J. Intellectual capital
wp-content/uploads/2013/01/ipsas2010_web. literature review: measurement, reporting and
pdf>. Acesso em: 07 ago. 2016. management. Journal of Intellectual Capital, v.
_______. Handbook of International Public 1, n. 2, 155-176, 2000.
Sector Accounting Pronouncements. v. RAMÍREZ, Y. Intellectual capital models in Spanish
1, 1029 p., 2015. Disponível em: <http:// public sector. Journal of Intellectual Capital, v.
www.ifac.org/publications-resources/2015- 11, n.2, p. 248-264, 2010.
handbook-international-public-sector-accounting-
pronouncements>. Acesso em: 07 ago. 2016. SUTCLIFFE, P. The standards programme of
IFAC’s Public Sector Committee. Public Money &
KONG, E. The development of strategic Management, v. 23, n. 1,p. 29-36, 2003.
management in the non-profit context: Intellectual
capital in social service non-profit organizations. WALL, A. The measurement and management of
International Journal of Management intellectual capital in the public sector: taking the
Reviews, v. 10 , n. 3, p. 281-299, 2008. lead or waiting for direction? Public Management
Review, v. 7, n. 2, p. 289-303, 2005.
LAPSLEY, I.; MUSSARI, R.; PAULSSON, G. On
the adoption of accrual accounting in the public WHITE, L. N. Unseen measures: the need to
sector: a self-evident and problematic reform. account for intangibles. The Bottom Line:
European Accounting Review, v. 18, n. 4, p. 719- Managing Library Finances, v. 20, n. 2, p. 77-
723, 2009. 84, 2007.

Sgt Batista / Força Aérea Brasileria

29
Artigo Revista $EIVA

Reestruturação administrativa do
Comando da Aeronáutica
Heraldo Luiz Rodrigues - Maj Brig Ar
Curso de Altos Estudos de Política e Estratégica - ESG

recursos alocados, visando à obtenção de


INTRODUÇÃO máxima eficiência, têm resultado na integração
As constantes transformações vivenciadas de atividades, com a finalidade de ampliar a
pela economia mundial nas últimas décadas capacidade administrativa e operativa das
têm levado os gestores públicos e privados a Organizações Militares diretamente envolvidas.
envidar esforços no sentido da racionalização Diante desse cenário, o Comandante
e simplificação dos processos, da promoção da Aeronáutica, Ten Brig Ar Nivaldo Luiz
de ajustes nas arquiteturas funcionais de suas Rossato, aprovou a Diretriz que dispõe sobre
organizações e do aumento da eficiência a Reestruturação da Força Aérea Brasileira
na cadeia administrativa, bem como, no - FAB, estabelecendo uma concepção mais
mapeamento dos processos produtivos e na adequada aos tempos modernos. Isso ocorrerá
prestação dos serviços. através do aperfeiçoamento dos processos,
Racionalizar é raciocinar de forma lógica, adequação das estruturas, consequentemente
analítica e resolutiva, buscando a melhor otimizando sua organização administrativa e
utilização dos recursos. De uma maneira mais operacional.
prática, pode-se entender que racionalizar Modela-se assim a FAB do futuro, capaz
processos é simplificá-los e adequá-los às de cumprir sua missão constitucional com mais
rotinas de trabalho, a fim de alcançar maior eficiência, eficácia e efetividade.
agilidade, produtividade e, consequentemente, Neste artigo, aspectos relevantes da história
menor custo. recente da Aeronáutica são relembrados como
Simplificar o trabalho é empregar ou propostas de alterações em sua estrutura
utilizar meios, instrumentos, máquinas e administrativa, a fim de demonstrar que tais
ferramentas, de modo a tornar as tarefas mais propostas foram apresentadas antes mesmo
fáceis, econômicas e proveitosas, visando a da criação do Ministério da Defesa e da
obter maior comodidade e produtividade. É, transformação do Ministério da Aeronáutica
enfim, empregar a menor quantidade possível em Comando da Aeronáutica (COMAER).
de pessoal, material e recursos de toda ordem, Seria audacioso, num breve texto, exaurir
na menor área, atendendo à maior clientela todas as modificações efetivadas. Portanto, o
no menor tempo, com eficiência e eficácia escopo deste trabalho foi restrito às iniciativas
mensuráveis. de alterações na estrutura administrativa
Nos últimos anos, muitos avanços foram propostas a partir de 1995 e a atual proposta
conquistados na padronização de ações que em estágio de estudos e de implementação.
permitiram minimizar a repetição de atividades Apenas para efeito didático, dividiremos
administrativas. O desafio atual está na essas mudanças em três fases na história
reengenharia desses processos, com o intuito recente da Aeronáutica.
de oferecer à Administração do Comando da A primeira fase diz respeito a um estudo
Aeronáutica maior agilidade e um menor custo relativo à mudança de subordinação da
administrativo. Subdiretoria de Pagamento de Pessoal (SDPP),
A implementação de políticas de da Diretoria de Intendência (DIRINT), para
otimização e de melhor aproveitamento dos a Secretaria de Economia e Finanças da

30
Revista $EIVA

Aeronáutica (SEFA). Tal estudo caracteriza o que com as atividades desenvolvidas pelas
primeiro recorte temporal, iniciando em 1991 Subsecretarias da SEFA.
até 1995. Além disso, como Órgão de Direção-
A segunda fase vai de 1996 até 2009, Geral, com status diferente de suas congêneres
quando o Estado-Maior da Aeronáutica na Marinha e no Exército, a SEFA não deveria
(EMAER) solicitou estudos aos Oficiais que incorporar em sua estrutura organizacional
realizavam o Curso de Política e Estratégia Órgão de apoio ou de execução, a menos que
Aeroespaciais (CPEA) com a finalidade de fosse modificado seu nível de gerenciamento,
subsidiar decisões do Alto-Comando da de Órgão de Direção-Geral para Órgão de
Aeronáutica. Direção Setorial.
A última fase abrange o período de 2014
até 2016, período que contempla o estudo 2. 1996 A 2009: PROPOSTAS
coordenado pela SEFA, com a finalidade DE REESTRUTURAÇÃO DOS
de avaliar a possibilidade de concentrar CURSOS DE POLÍTICA E
e estruturar, em um Órgão Setorial único, ESTRATÉGIA AEROESPACIAIS
atividades administrativas similares, realizadas
em diferentes organizações do COMAER. Ao final da década de 90, o Ministério
O período histórico analisado encerra- da Aeronáutica vivia um clima de mudanças
se com as deliberações e decisões do em consequência da proposta de criação do
Alto-Comando da Aeronáutica sobre a Ministério da Defesa no Brasil. Em 1996, o Vice-
implantação da nova estrutura administrativa Chefe do Estado-Maior da Aeronáutica, Ten. Brig.
a partir de 2017. Nelson de Souza Taveira, emitiu um documento
intitulado Estudo preliminar de alterações da
1. 1991 A 1995: PROPOSTA estrutura do Ministério da Aeronáutica, do qual
ressalta-se o seguinte trecho:
DE REESTRUTURAÇÃO NO
O mundo atual presencia uma velocidade
PAGAMENTO DE PESSOAL incrível de mudanças ocasionadas por
Em janeiro de 1995, o Ministro da crises econômicas, pela globalização, pela
progressiva turbulência ambiental e pela rápida
Aeronáutica, Ten Brig Ar Mauro José Miranda evolução de todas as áreas do conhecimento
Gandra, determinou a criação de um Grupo humano.
de Trabalho (GT) para estudar a mudança de Nesse contexto, organizações públicas e
subordinação da SDPP da DIRINT para a SEFA. privadas têm implementado transformações
Pleiteava-se que as atividades de contínuas, buscando sistemas administrativos
pagamento de pessoal, incluindo a proposta mais dinâmicos e flexíveis, com prioridade
para a atividade-fim, sem, contudo, relegar a
orçamentária, planejamento, coordenação, segundo plano as atividades de apoio, pois
controle e padronização do pagamento de aquela é totalmente dependente desta.
pessoal deveriam estar ligadas à SEFA, um
Nessa busca de maior eficiência e eficácia,
Órgão de Direção-Geral àquela época, encontram-se as Forças Armadas de diversos
em posição paralela a do Estado-Maior da países, pois aquelas que não se adaptarem à
Aeronáutica na estrutura do então Ministério nova realidade mundial estarão cada vez mais
da Aeronáutica. distanciadas da sociedade à qual pertencem
(BRASIL, 1996, p.1).
A DIRINT realizava as atividades típicas
do Serviço de Intendência, incluindo as de Tal contextualização serviu de fundamento
Pagamento de Pessoal, Orçamento, Finanças para orientar o Plano Estratégico da
e Controle. Aeronáutica, considerando que seria oportuno
Entretanto, ao final do estudo, concluiu-se iniciar estudos pelos Oficiais que realizassem
por não se efetivar a proposta de mudança o CPEA, na Escola de Comando e Estado-
de subordinação por se entender que a SDPP Maior da Aeronáutica (ECEMAR), a fim de
possuía ligações administrativas mais fortes subsidiar decisões da Alta Administração da
com as outras Subdiretorias da DIRINT do Aeronáutica.

31
Revista $EIVA

As questões formuladas naquela época da Aeronáutica, coloca a SEFA como Órgão de


parecem bastante atuais: “Estará o Ministério Direção-Setorial e, por uma emenda incluída
da Aeronáutica adequadamente estruturado pelo Decreto nº 7.8092, de 2012, também
para, com eficiência, preparar a Aeronáutica deixou de ser o órgão de controle interno
para o cumprimento de sua missão? Há institucional, por ter sido criado o Centro de
algo que possa ser melhorado em nossa Controle Interno da Aeronáutica (CENCIAR).
organização? O que ela precisa para ser Como consequência desse documento,
mais dinâmica, menos burocrática e menos uma série de propostas estudadas foram
dispendiosa? ” (BRASIL, 1996, p. 1). apresentadas ao EMAER e algumas delas
Vale destacar que, no Estudo do CPEA 2000 incorporadas no decorrer dos anos, com
houve a proposta da criação de um Órgão de especial ênfase no trabalho do CPEA 2000,
Direção Setorial, denominado Departamento que inclui modificações na parte administrativa
Geral de Serviços – DEGES, que absorveria a e operacional, em tempo de paz e de guerra.
Diretoria de Engenharia (DIRENG) com o nome
de Diretoria de Infraestrutura (DIRINFRA), 3. 2014 A 2016: CONCENTRAÇÃO
a Diretoria de Saúde (DIRSA) e a Diretoria DE ATIVIDADES
de Intendência com o nome de Diretoria ADMINISTRATIVAS SIMILARES
de Economia e Finanças (DIREFA). A SEFA
seria extinta, pois suas funções de auditoria Em 2014, o Comandante da Aeronáutica,
seriam repassadas para o EMAER, enquanto Ten Brig Ar Juniti Saito, determinou que a SEFA
a Subsecretaria de Administração Financeira coordenasse um Grupo de Trabalho - GT
(SUFIN) e a Subsecretaria de Contabilidade composto por representantes dos Órgãos de
(SUCONT) seriam transferidas para a DIRINT, Direção Setorial, visando avaliar a possibilidade
como DIREFA. de concentrar e estruturar, em um único Órgão
Nessa época, os estudos foram analisados Setorial, atividades administrativas similares,
pela SEFA, sendo contraditados pela realizadas em diferentes Organizações do
argumentação sobre a importância de a SEFA Comando da Aeronáutica (BRASIL, 2014).
permanecer como um Órgão de Direção-Geral, Destaque-se que o estudo teve seu foco
devido à necessidade de representatividade na viabilidade de concentração de atividades
do pensamento da Alta Administração da administrativas, notadamente, a execução
Aeronáutica, autoridade e independência, o orçamentária, financeira e patrimonial.
que permitia à SEFA um alcance interno irrestrito A análise do contexto institucional permitiu
e um acesso legítimo às organizações externas, identificar que as seguintes atividades seriam
no trato dos assuntos econômico-financeiros passíveis de concentração: (1) administração
de interesse do Comando da Aeronáutica. de Próprios Nacionais Residenciais; (2) serviços
Corroborava com tal argumentação, o fato de protocolo e de arquivo de documentação;
de estar na SEFA , nesse período, a Subsecretaria (3) pagamento de pessoal; (4) transporte
de Auditoria (SUAUD), responsável pelas de superfície; (5) almoxarifados; (6) hotéis
atividades de controle interno no COMAER. de trânsito; (7) alimentação de pessoal; (8)
Somente em 2009, o Decreto nº 6.8341 licitações, contratos, recebimento, liquidação
que aprovou estrutura regimental do Comando e pagamento de fornecedores; (9) Serviço de
Saúde; (10) fardamento gratuito e reembolsável;

1 - BRASIL. Decreto n. 6.834 de 30 de abril de 2009. Aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos
em Comissão do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores e das Funções Gratificadas do Comando da Aeronáutica,
do Ministério da Defesa, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 4 maio
2009. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/D6834.htm>. Acesso em:
22 jun. 2016.
2 - BRASIL. Decreto n. 7.809 de 20 de setembro de 2012. Altera os Decretos no 5.417, de 13 de abril de 2005, no 5.751, de 12
de abril de 2006, e no 6.834, de 30 de abril de 2009, que aprovam as estruturas regimentais e os quadros demonstrativos
dos cargos em comissão e das funções gratificadas dos Comandos da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, do Ministério
da Defesa. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 21 set. 2012. Disponível em: < http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Decreto/D7809.htm>. Acesso em: 22 jun. 2016.

32
Revista $EIVA

(11) Atividades administrativas relacionadas operacional. Entretanto, para não extrapolar


a recursos humanos; (12) Tecnologia da o foco deste artigo, as considerações aqui
Informação e Comunicações; (13) serviço apresentadas destacarão somente as propostas
social; (14) registro patrimonial dos imóveis; relativas à reestruturação administrativa.
(15) catalogação de material e; (16) serviços No que concerne às atividades
de engenharia. (FIA, 2015, p. 21) administrativas, a Diretriz identificou o seguinte
O GT propôs que a SEFA fosse transformada cenário:
em uma Secretaria-Geral (SGA) e, como • Algumas atividades administrativas do
Órgão de Direção Setorial, concentrasse todas COMAER são desenvolvidas de forma
atividades administrativas. redundante, refletindo um precário
As premissas para implantação da aproveitamento das ferramentas
nova estrutura administrativa deveriam ser: tecnológicas e metodológicas existentes.
considerar as experiências já adotadas • Observa-se, assim, uma sobreposição das
de concentração no COMAER; transição atividades administrativas nas Organizações
planejada, gradual e controlada; não priorizar da FAB, o que demanda um mapeamento
determinados Órgãos em detrimento de outros; dos processos organizacionais para mitigar
não aumentar as despesas; não requerer essa situação.
construções de imóveis; reduzir quantidade de • As atividades administrativas e de apoio
Unidades Gestoras Executoras e permitir que absorvem parcela significativa dos recursos
os órgãos de Direção Setorial voltassem suas orçamentários e humanos disponíveis, com
atenções à atividade-fim. tendência de crescimento, o que contribui
Em maio de 2015, o citado estudo de diretamente para a perda do foco na
viabilidade de concentração das atividades atividade fim das Organizações.
administrativas, elaborado sob coordenação da • Na área administrativa, verificou-se também
SEFA, foi encaminhado ao EMAER, o que resultou que a execução orçamentária é muito
na emissão da Diretriz 11-53 do Comando da descentralizada, ocasionando a criação de
Aeronáutica, aprovada pela Portaria nº 551/ grande quantidade de Unidades Gestoras
GC3, de 13 de maio de 2016, que versa sobre Executoras (UGExec), incrementando dessa
a Reestruturação da Força Aérea Brasileira. forma a quantidade de pessoal para gerir
Assim, coube ao EMAER coordenar os esse tipo de atividade.
trabalhos nesse sentido, onde se inclui a • As estruturas, naturalmente verticalizadas
concentração das atividades administrativas, pela demanda de hierarquia e disciplina,
a partir da criação de Grupamentos de não favorecem atividades matriciais,
Apoio (GAP), fundamentais para o alcance mesmo com uma grande quantidade de
da excelência na administração dos recursos sistemas no âmbito do COMAER.
financeiros, patrimoniais, materiais e humanos
do COMAER. • De forma simultânea, no início deste século,
o COMAER deixou de atender diversas
Em linhas gerais, esta nova concepção busca demandas relacionadas com atividades
implementar uma organização institucional civis, originárias da formação do Ministério
em plena consonância com as melhores da Aeronáutica, tais como DAC, CELMA e
políticas de governança, baseando sua gestão INFRAERO. No entanto, parte dos recursos
em processos dinâmicos, com indicadores humanos liberados dessas atividades
confiáveis em termos de desempenho. ainda necessita ser aproveitada com maior
O que se pretende é desonerar as Unidades eficácia. (BRASIL, 2016, p. 10).
apoiadas de suas atividades burocráticas e de Nesse cenário, coube à SEFA delinear
apoio, para que se dediquem essencialmente e propor a nova estrutura administrativa,
às suas atividades-fim. inicialmente por meio da criação do
Como pode se ver, essa Diretriz é um Departamento de Administração (DEPAD) e
documento de abrangência administrativa e suas Organizações Militares subordinadas.

33
Revista $EIVA

Em sua primeira proposição, e após criteriosa Nessa proposta, a Secretaria de Economia,


análise de seus efeitos, houve-se por adequado Finanças e Administração (mantida a sigla
manter a sigla SEFA, para nominar o Órgão SEFA), terá por finalidade superintender e
de Direção Setorial Administrativo, com o administrar, por intermédio dos Órgãos da sua
significado de Secretaria de Economia, estrutura regimental, as atividades relativas à:
Finanças e Administração, ao invés de 1) Execução orçamentária, financeira,
Departamento de administração (DEPAD). patrimonial e contábil, contratos, convênios
Isso se deu especialmente pela força e instrumentos congêneres, operações
que o nome SEFA projeta entre os Órgãos de crédito, acordos de compensação e
governamentais e entidades privadas, no Brasil financiamentos internos e externos.
e exterior, com imagem reconhecida de forma 2) Gestão de Apoio Administrativo, dos
positiva, além de manter a similaridade com Próprios Nacionais Residenciais, de
suas congêneres na Marinha e no Exército. provisões e material de intendência, de
Portanto, a partir deste parágrafo, o futuro pagamento de pessoal, de subsistência e
órgão de administração será tratado como de apoio assistencial e social.
SEFA e não como DEPAD. Por sua vez, a DIREF absorverá em sua
A transformação proposta, destina- estrutura as três Subsecretarias da atual
se a concentrar, racionalizar e ampliar Secretaria de Economia e Finanças (FIG. 2),
as atribuições e competências da atual alterando suas designações para: Subdiretoria
Secretaria de Economia e Finanças da de Administração Financeira (SUFIN);
Aeronáutica, de forma a torná-la um grande Subdiretoria de Contratos e Convênios
Comando de Administração e Apoio que (SUCONV) e Subdiretoria de Contabilidade
concentre, além das atividades específicas de (SUCONT). Realizará as atividades relativas à
economia, finanças e contabilidade, também execução orçamentária, financeira, patrimonial
as atividades da atual DIRINT, que mudará e contábil, aos contratos, convênios,
sua denominação e subordinação. Sairá do instrumentos congêneres e afins, operações
Comando-Geral do Pessoal (COMGEP), de crédito, acordos de compensação,
passando à estrutura da “nova” SEFA, com a financiamentos internos e externos.
denominação de Diretoria de Administração
da Aeronáutica (DIRAD).
Assim, o Órgão de Direção Setorial
Administrativo compor-se-á de forma racional
pelo: Secretário de Economia, Finanças e
Administração (SEFA), ao qual estarão ligadas
a Diretoria de Economia e Finanças (DIREF) e
a Diretoria de Administração (DIRAD), como se
segue na FIG. 1.
FIGURA 2 – Estrutura da DIREF

Nessa adequação administrativa, a DIRINT


será transformada em DIRAD com profunda
reestruturação. Ela será responsável pelos
seguintes processos de gestão: de apoio
administrativo, por intermédio dos Grupamentos
de Apoio (GAP); dos Próprios Nacionais
Residenciais (PNR), por intermédio das Prefeituras
de Aeronáutica (PA); de provisões e material
FIGURA 1 – Estrutura do novo Órgão de Direção Setorial de intendência; de pagamento de pessoal; de
Administrativo. subsistência e de apoio assistencial e social.

6 - Matrizes Swot foram construídas para identificação dos fatores de força, fraqueza, oportunidades e ameaças que poderiam
comprometer a concentração das atividades administrativas.

34
Revista $EIVA

A DIRAD terá em sua estrutura organizacional


a Subdiretoria de Encargos Especiais (SDEE), a
Subdiretoria de Pagamento de Pessoal (SDPP),
a Subdiretoria de Abastecimento (SDAB) e o
Centro de Apoio Administrativo (CEAP).
Sob sua subordinação haverá assessorias
diretas. Criar-se-á uma Assessoria Técnica com
atribuições de acompanhamento, análise e
estudos sobre assuntos salariais e de pensões,
a fim de estabelecer relacionamento com áreas
correspondentes no Ministério da Defesa, no
Exército e na Marinha.
A SDEE e a SDPP manterão, praticamente, FIGURA 4 – Estrutura da CEAP
as mesmas atribuições e estruturas atuais. A
Vista desta forma, a proposta da nova
SDAB deixará de ser um órgão de aquisição,
estrutura administrativa apresentada neste
transferindo sua sede para o atual Depósito
trabalho pode ser considerada como apta a
Central de Intendência no Rio de Janeiro,
ser implementada até o início de 2017, ficando
que será desativado. Partes da atual SDAB,
o novo Órgão de Administração do COMAER
especialmente o Laboratório e o Depósito
configurado da seguinte maneira (FIG. 5):
de Material, permanecerão em São Paulo,
mantendo a subordinação à SDAB.
A Subdiretoria de Inativos e Pensionista
(SDIP) da atual DIRINT será remanejada para a
Diretoria de Administração de Pessoal (DIRAP)
do COMGEP.
Desta forma, a estrutura da DIRAD será
conforme a FIG. 3:
FIGURA 5 – Estrutura do novo Órgão de Administração do COMAER

CONCLUSÃO
Como pode ser constatado, neste breve
relato, a reestruturação do Comando da
Aeronáutica não é uma iniciativa isolada, mas
parte de um processo histórico institucional que
vem amadurecendo ano após ano, mediante
FIGURA 3 – Estrutura da DIRAD
uma série de estudos realizados em diversas
A estrutura do CEAP (FIG. 4), na áreas da Aeronáutica e cenários pelos quais o
organização da DIRAD, ficará sob comando país atravessou.
de um Oficial-General, ao qual estarão
Observa-se que a reestruturação da
subordinados a Pagadoria de Inativos, os
Administração do Comando da Aeronáutica
Grupamentos de Apoio e as Prefeituras de
vem atender anseios e expectativas na busca
Aeronáutica.
de melhor eficácia e eficiência no processo de
A proposta apresentada atenderá os execução orçamentária, financeira, patrimonial
Princípios da Racionalidade e da Economicidade. e gestão administrativa.
Objetiva-se, sobretudo, melhorar e aperfeiçoar
Até o pleno funcionamento da nova
os aspectos relativos à governança. Visa assim
estrutura administrativa, haverá a necessidade
assegurar que as decisões e ações relativas à
de trabalho árduo e atento para não se
gestão e ao uso dos recursos alocados estejam
comprometer a operacionalidade da FAB e
em consonância com as necessidades e metas
nem o apoio necessário à família Aeronáutica.
institucionais.

35
Revista $EIVA

Com certeza, o futuro será muito gratificante. ______. Comando da Aeronáutica. Estudo
A perenidade das grandes Instituições perpassa preliminar de alterações da estrutura do
Ministério da Aeronáutica, 14 ago. 1996.
os episódios em que páginas de suas histórias,
talhadas por mãos laboriosas, registraram os ______. Comando da Aeronáutica. Curso de
Política e Estratégia Aeroespaciais [CPEA].
nomes dos que souberam superar desafios, Modelo organizacional do Comando da
colocar-se à frente dos óbices naturais, e Aeronáutica. 2000.
perfeitamente transponíveis, advindos da ______. Comando da Aeronáutica. Curso de
escassez de recursos desde sempre presente Política e Estratégia Aeroespaciais [CPEA].
Proposta de reestruturação do Ministério da
no cenário nacional. Aos que hoje entalham Aeronáutica. 1998.
seus nomes nas páginas da história da FAB
______. Comando da Aeronáutica. Portaria
cabe o dever de manter e aprimorar o legado n. 875/CG3, de 30 de maio de 2014. Institui o
dos antepassados em prol de uma Força Aérea grupo de trabalho com a finalidade de realizar
mais capacitada, mais operacional e digna da estudos visando a avaliar a possibilidade de
concentrar e estruturar, em um Órgão Setorial
pujança do Brasil. único, atividades administrativas similares.
Boletim do Comando da Aeronáutica, n. 4, 4
REFERÊNCIAS jun. 2014. Rio de Janeiro: CENDOC. 2014.
FUNDAÇÃO INSTITUTO DE ADMINISTRAÇÃO
BRASIL. Comando da Aeronáutica. Portaria - FIA. Projeto de consultoria técnica para
n. 551/GC3, de 13 de maio de 2016. Aprova elaboração de análise de viabilidade e de
a edição da diretriz que dispõe sobre a estruturação estratégica de nova concepção
reestruturação da Força Aérea Brasileira. Boletim de organização e gestão de atividades
do Comando da Aeronáutica, n. 82, 17 administrativas similares do COMAER. 2015.
maio 2016. Rio de Janeiro: CENDOC. 2016.
Disponível em: <http://www.cendoc.intraer/
sisbca/bca_pdf/2016/bca_82_17-05-2016.pdf>.
Acesso em: 21 jun. 2016.

36
Revista $EIVA
Artigo

Treinamento em negociação no
Comando da Aeronáutica: como
aprimorar o atual modelo?
Rodrigo Goretti Piedade – Maj Av
MBA em Business Adminstration - Westminster University

e financeiras, que buscaram, cada qual


INTRODUÇÃO enfrentando cenários políticos, econômicos,
O objetivo deste artigo é discutir como culturais e administrativos distintos, as melhores
as equipes do Comando da Aeronáutica condições para a consecução dos projetos.
(COMAER) que conduzem projetos de O único treinamento estruturado em
grande vulto estão adquirindo habilidades de negociação existente no âmbito do COMAER
negociação e propor a estruturação de um é o módulo de negociação inserido na grade
modelo mais adequado de capacitação nesta curricular do Curso de Negociação de Contratos
área. O interesse na realização da pesquisa se Internacionais e Acordos de Compensação
deve à percepção de que as pessoas envolvidas – CNEG, ministrado no Instituto de Logística
nas principais negociações do COMAER não da Aeronáutica, sendo seu conteúdo e carga
possuem a capacitação adequada para fazer horária os principais focos das avaliações
frente às equipes de fornecedores, governos realizadas no presente trabalho.
estrangeiros e agentes credores com os quais Além da literatura existente a respeito do
interagem. assunto, a análise baseou-se em entrevistas
A pesquisa foi conduzida nas duas principais com dois especialistas que atuam na área
Organizações que realizam negociações de de negociação e foi complementada por
grande vulto, a Secretaria de Economia e questionário direcionado a oficiais do Comando
Finanças da Aeronáutica - SEFA, responsável da Aeronáutica que participam de negociações
pela estruturação de operações de crédito em projetos de grande vulto. Desta maneira, foi
externo no âmbito do COMAER e a Comissão possível debater a relevância do treinamento
Coordenadora da Aeronave de Combate de habilidades de negociação para alcançar
– COPAC, responsável pela condução dos resultados positivos em aquisições de interesse
projetos de aquisição e modernização de do COMAER e refletir sobre possíveis melhorias
aeronaves e sistemas do COMAER. Com no modelo atual de treinamento.
relação as atividades de capacitação na O presente trabalho apresentará
área de negociação, foi analisado o Curso inicialmente o cenário organizacional e os
de Negociação de Contratos Internacionais e recentes projetos que demandaram rodadas
Acordos de Compensação - CNEG, o único de negociação complexas durante suas
treinamento existente no COMAER, ministrado estruturações.
no Instituto de Logística da Aeronáutica – ILA. Posteriormente, são apresentadas as
Durante as duas últimas décadas, a Força características dos processos de treinamento
Aérea Brasileira esteve envolvida em diversas para negociadores de acordo com os principais
operações comerciais e financeiras complexas trabalhos acadêmicos da área, analisando os
para a aquisição de equipamentos e serviços benefícios e as dificuldades para obtenção
de alto valor agregado e negociados com desta aptidão. Na sequência será exposta a
variados fornecedores ao redor do mundo. Os metodologia adotada para o levantamento de
contratos firmados foram resultado de extensas dados por meio das entrevistas semiestruturadas
negociações, envolvendo discussões técnicas e dos questionários disponibilizados aos

37
Revista $EIVA

militares envolvidos com a atividade de está inserido na programação do CNEG, um


negociação tanto na SEFA quanto na COPAC. curso de três semanas que tem por objetivo
Finalmente, são feitas considerações quanto abordar os principais processos, legislações
ao processo de implantação das sugestões e ferramentas envolvidas na estruturação de
de melhoria no processo de capacitação dos contratos internacionais, proporcionando uma
militares que atuam como negociadores no visão geral sobre licitações internacionais, ciclo
COMAER. Estes entendimentos permitem orçamentário, atividades de desembaraço
apontar algumas recomendações que alfandegário e técnicas de negociação, esta
possibilitem a melhoria do treinamento em última com cerca de dois dias para apresentação
negociação oferecido no CNEG. do seu conteúdo teórico e prático.
A fim de orientar e delimitar o 1.2 O cenário organizacional
desenvolvimento da pesquisa, foi adotada a O cenário organizacional foi determinado
questão “Que tipo de melhorias podem ser em função da grande concentração de
implementadas no treinamento de negociação atividades de negociação realizadas para
disponibilizado pelo COMAER, o módulo estruturação de projetos de grande vulto no
de negociação do CNEG, para aprimorar COMAER.
habilidades de negociação nas pessoas
envolvidas em projetos de grande vulto?”. Tal A SEFA é responsável pela estruturação
questionamento foi dirigido aos integrantes de soluções financeiras, principalmente as
de duas organizações consideradas como operações de crédito externo, para o suporte
Referências no COMAER na condução de dos diversos programas de modernização
negociações envolvendo projetos de grande e aquisição de aeronaves e sistemas do
vulto, sendo a Secretaria de Economia e COMAER. As equipes da SEFA interagem
Finanças a responsável pela negociação e intensamente com diversos agentes nacionais
estruturação de contratos de financiamento e internacionais durante os processos de
externo para custeio de contratos comerciais estruturação das operações de crédito, que
de aquisição e modernização de aeronaves são caracterizados pelos elevados valores
e sistemas, e a Comissão Coordenadora do envolvidos, extensos períodos de negociação
Programa Aeronave de Combate – COPAC de cláusulas contratuais, e complexo trâmite
a principal negociadora e gestora de tais documental no âmbito das diversas esferas do
contratos comerciais. Governo Federal, das agências de fomento à
exportação, dos bancos credores, e empresas
Com relação às expectativas iniciais deste fornecedoras internacionais.
projeto, foram consideradas as realidades
orçamentária e administrativas enfrentadas A COPAC também foi utilizada como
pelo COMAER, buscando as melhorias referência para o desenvolvimento da pesquisa
desejadas para a capacitação em negociação pela sua importância na estruturação e
em um contexto viável e que possam ser gerenciamento de contratos comerciais
efetivamente sugeridas, implantadas e envolvendo aquisições e modernizações de
executadas, adequando as propostas à aeronaves e sistemas. A sua estrutura conta
conjuntura organizacional existente. com diversos escritórios de projetos, com suas
equipes utilizando processos padronizados de
1. CONTEXTO E ANTECEDENTES seleção e gestão contratual e constantemente
envolvidas em atividades de negociação com
1.1
O atual treinamento em as empresas fornecedoras para adequação da
negociação execução contratual.
Atualmente, existe somente um treinamento Em função da experiência e conhecimento
no quadro de cursos oferecidos no âmbito acumulados ao longo dos anos, a SEFA
do COMAER que proporciona alguma participa ativamente do planejamento e
oportunidade de desenvolver habilidades execução do CNEG, disponibilizando oficiais
de negociação. O treinamento em questão coordenadores e instrutores ao longo das três

38
Revista $EIVA

semanas do curso. maior volume de investimentos, representando


Apesar da vasta experiência adquirida em cerca de metade de todo o gasto em Defesa
negociações no passado, existe a necessidade na região” (HIGUERA, 2014, p. 1)2. De acordo
de também se avaliar a gestão deste com o Instituto Internacional de Pesquisa
conhecimento ao longo dos anos. “A gestão da Paz de Estocolmo, o país ocupava a 11ᵃ
do conhecimento de uma empresa se refere ao posição mundial em gastos militares em 2012,
grau em que esta cria, compartilha, e utiliza com um aumento de 34 por cento de 2010
o conhecimento ao longo de suas estruturas a 2012. “Esta tendência iniciou-se em 2004
funcionais” (LIAO; CHUANG; TO, 2011, p. e acumulou até 2012 um crescimento de 480
729). Este importante aspecto, responsável por cento” (HIGUERA, 2014, p. 1).
por manter recursos e capacidades disponíveis Durante as duas últimas décadas a Força
na organização também será considerado no Aérea Brasileira conduziu mais de 15 relevantes
presente relatório. projetos de aquisição e modernização de
Ainda em relação ao cenário organizacional, aeronaves e sistemas, destacando o projeto
cabe destacar a característica tradicional da de desenvolvimento e aquisição da aeronave
estrutura militar. Uma organização tradicional A-29 Super Tucano, o projeto de aquisição
é “focada em interesses convencionais, e modernização das aeronaves de patrulha
do presente, tradicionais, preferindo a marítima P-3, a aquisição das aeronaves de
familiaridade à novidade. Elas tendem a ser transporte CASA-295 Amazonas, além do
conservadoras e resistentes à mudança”. projeto de aquisição dos helicópteros H-36
(GERRAS; WONG, 2013, p. 8)1. As análises e Caracal para as três Forças Armadas. O último
sugestões também levaram em consideração contrato internacional relevante foi negociado
as características apontadas acima, de forma para o desenvolvimento e aquisição de 36
manter os objetivos do trabalho dentro de aeronaves Gripen NG, atingindo o montante
um cenário viável e aceitável diante das de cerca de 5,6 bilhões de dólares.
características organizacionais do COMAER. Adicionalmente, a Estratégia Nacional
Diante destes aspectos, a ideia principal é de Defesa (END), enfatiza a necessidade de
utilizar a experiência dos oficiais destas duas estruturas para a transferência de tecnologia
organizações em diferentes cenários negociais, nos contratos internacionais para o atendimento
observar as características organizacionais das demandas das três Forças Armadas,
e a necessidade da gestão do conhecimento com o objetivo de desenvolver e capacitar a
nesta importante atividade para discutir o indústria nacional. De acordo com Patrice
atual modelo de treinamento em negociação Franko (2013), para alcançar os objetivos
e sugerir melhorias adequadas e viáveis para o estabelecidos na END, o “país adota a clássica
seu aprimoramento. dicotomia produzir-comprar em seu sistema de
defesa, elegendo e cooperando com governos
1.3 Os investimentos brasileiros em e empresas de outros países, resultando em
Defesa uma base industrial de Defesa diretamente
Ao analisar o cenário econômico no qual integrada a cadeia global e relacionando-
os programas de aquisição e modernização se com empresas em mais de vinte países ao
de aeronaves e sistemas do COMAER estão redor do mundo” (FRANKO, 2013, p. 135).
inseridos, algumas considerações sobre Como resultado natural, as negociações
os investimentos militares brasileiros são tornaram-se ainda mais complexas, uma vez
necessárias. que além dos fornecedores, os acordos passam
Em recente estudo sobre aquisições militares a contar com a participação de diferentes
na América do Sul, o “Brasil é o responsável pelo agências de pesquisa e desenvolvimento,

1 - GERRAS, S. J.; WONG, L. Changing minds in the army: why it is so difficult and what to do about it. Disponível em:
<http://www.strategicstudiesinstitute.army.mil/pubs/display.cfm?pubID=1179>. Acesso em: 10 maio 2014.
2 - HIGUERA, J., 2014. Military expenditures keep growing. DefenseNews. Disponível em: <http://www.defensenews.com/
article/20140325/DEFREG02/303250023/Military-Expenditures-Keep-Growing>. Acesso em: 10 maio 2014.

39
Revista $EIVA

instituições de ensino, como universidades e contribuem para o desempenho financeiro da


centros tecnológicos, e outros segmentos da empresa.
indústria, no Brasil e no exterior. Ainda em relação ao processo de aquisição
de habilidades, a pesquisa realizada por Salas
2. O PROCESSO DE e Cannon-Bowers (2001), revela a importância
TREINAMENTO EM dos aspectos organizacionais para gerar valor
NEGOCIAÇÃO por meio das atividades de treinamento. A
pesquisa descreve o aperfeiçoamento em cinco
Uma das possíveis deficiências encontradas áreas ao longo da década anterior ao estudo,
na atual estrutura de treinamento do módulo incluindo os aspectos teóricos do treinamento,
de negociação do CNEG é a sua duração. a análise das necessidades de treinamento,
Com o intuito de evidenciar a relevância do as condições antecedentes ao treinamento, os
treinamento em negociação e seus impactos métodos e estratégias adotados, e as condições
na aquisição das esperadas habilidades, a pós treinamento. A investigação afirma que “o
pesquisa conduzida por Eman ElShenawy sucesso do treinamento depende não somente
(2009) analisou a duração dos treinamentos do método utilizado, mas como o treinamento
em negociação para avaliar as capacidades (e o aprendizado) é estabelecido, apoiado
adquiridas, concluindo que maiores níveis de e reforçado pela organização; a motivação
treinamento resultam em melhores resultados e foco dos aprendizes, e quais ferramentas
para a empresa. existem para assegurar a transferência do novo
Da mesma forma, Friedman (1992) conhecimento adquirido, habilidades e atitudes”
também apoia a necessidade de aumentar as (SALAS; CANNON-BOWERS, 2001, p. 490).
capacidades negociais nas organizações. O Bruce Patton (2009) desenvolveu uma
pesquisador afirma que pequenos períodos e interessante discussão sobre o que é necessário
abordagens restritas não são suficientes para para um efetivo ensino em negociação.
aumentar o desempenho em negociações reais. Baseando sua análise nas experiências de
A literatura demonstra que, por vezes, o aprendizagem do Workshop de Negociação
investimento em treinamentos de negociação da Escola de Direito de Harvard, orienta
não é suficiente para evitar falhas e insucessos. de forma precisa e estruturada cada passo
Movius Hal (2008) comenta que os consultores para se atingir a maneira eficaz de ensinar
e profissionais têm enfrentado dificuldades negociação. A hipótese formulada por Patton
para definir se o treinamento afeta as medidas de que “as teorias e habilidades disponíveis
de desempenho de negócios relevantes são adequadas e suficientes para criar valor
citando alguns exemplos de ambos os lados. significativo para os alunos,”(Patton, 2009, p.
Por um lado, há um exemplo citado por 4) é apropriada, no âmbito e objetivo deste
Susskind (2004) em que uma empresa listada trabalho para definir seus limites, auxiliando
na Fortune500 investiu 350.000 dólares em na determinação do conteúdo e duração do
um programa de treinamento de negociação treinamento em negociação. Apesar dos bons
para 150 gerentes seniores, mas estes gestores resultados da dinâmica utilizada em Harvard
não conseguiram renovar um contrato com um ao longo dos anos, Paton, Alexander e LeBaron
grande cliente causando elevados prejuízos (2010) fazem considerações relevantes sobre
financeiros (ELSHENAWY, 2009). Por outro o uso dos métodos de ensino que utilizam
lado, a pesquisa de Tesoro (1998) na fabricante técnicas de role-play (interpretação espontânea
de computadores Dell, mostrou resultados de papéis) quando não levam em conta o
significativos de desempenho para a empresa contexto e experiências passadas dos alunos.
da ordem de 1,5 milhões de dólares em sua Os quatro principais métodos para treinar
receita anual após o treinamento de negociação pessoas a serem negociadores mais efetivos:
fornecido aos funcionários da empresa. Além aprendizagem didática (ou aprendizado
disso, Tesoro (1998) enfatiza que negociadores baseado em princípios), aprendizado pela
habilidosos fazer acordos importantes e que revelação de informações, aprendizado

40
Revista $EIVA

analógico, e aprendizado baseado em entendimento em como o treinamento em


observações, foram analisados tendo como negociação funciona, ou porque algumas
base as revelações alcançadas por Nadler, formas de treinamento funcionam melhor que
Thompson e Van Boven (2003). O trabalho outras” (TYLER; CUKIER, 2005, p. 64).
realizado pelos estudiosos testou cada um As discussões e conclusões previamente
destes métodos e apresentou suas efetividades levantadas pelos pesquisadores estudados
em treinamentos de negociação. O autor estão diretamente relacionadas ao objetivo
afirma que “ao contrário da percepção popular, da presente análise e foram comparados
simplesmente vivenciar uma experiência, com a com as opiniões e sugestões dos dois
ausência de novas informações, de princípios, especialistas entrevistados. Somado a isso,
da observação, ou do estabelecimento de foram também confrontadas com as respostas
analogias é ineficaz” (NADLER; THOMPSON; dos questionários encaminhados aos oficiais
VAN BOVEN, 2003, p. 537). da SEFA e da COPAC. Como resultado,
Em linha com esses entendimentos, a foram observadas considerações pertinentes
aprendizagem de habilidades complexas sobre a duração do módulo de negociação
e cognitivamente impregnadas é melhor do CNEG e sua relação com a efetividade no
realizada em um ambiente em que os alunos desenvolvimento de habilidades negociais e a
se envolvem ativamente na exploração, criação de valor para a organização.
na resolução de problemas, em testes de Tais considerações sobre o tempo
hipóteses, cometendo erros e aprendendo a se disponibilizado para o desenvolvimento das
recuperar destes erros” (IVANCIC; HESKETH, atividades de treinamento em negociação no
1996 citado por CULLEN et al., 2013, p. 1). As CNEG, associadas aos resultados encontrados
descobertas relacionadas ao uso dos modelos foram relevantes para o estabelecimento de
“puro” e “ híbrido” e a necessidade de misturar propostas que promovam o equilíbrio entre
os quatro tipos de modelos de aprendizagem os benefícios e desvantagens de uma possível
foram considerados para o aprimoramento do reestruturação do modelo atual de treinamento.
treinamento em negociação do CNEG.
Em 2006, Michel Wheeler desenvolveu um 3. METODOLOGIA ADOTADA
estudo que discutiu os três desafios para ensinar
Uma vez que o propósito do trabalho é
técnicas de negociação. A análise afirma que,
examinar o atual nível de treinamento recebido
ao tratar da mudança comportamental, é
pelos oficiais da SEFA e COPAC para confirmar
necessário considerar a experiência prévia dos
a percepção sobre a carência nesta área,
alunos, uma vez que o modo como as pessoas
foi utilizada uma abordagem que permitisse
se comportam em uma negociação é guiado
o intercâmbio entre os métodos qualitativos
pelos seus hábitos, suposições e associações
e quantitativos de pesquisa, fomentando o
adquiridas durante a vida. O estudo atesta que
levantamento do maior número de percepções
meramente prover aos alunos oportunidades
e informações possíveis dentro do contexto
para experimentar simulações (técnicas de
em análise. A combinação de diferentes
role play) são, por si só, improváveis em serem
abordagens possibilitou a complementação das
transformadoras. (WHEELER, 2006).
fontes das informações, auxiliando o processo
Melissa Tyler e Naomi Cukier de discussão dos resultados e elaboração das
desenvolveram uma pesquisa apresentando sugestões de melhoria, uma vez que “ o uso
maneiras inovadoras para o ensino de de variados ou múltiplos métodos de pesquisa
habilidades negociais. A evolução dos métodos e a integração de diferentes perspectivas
e abordagens na condução dos treinamentos, auxiliam na interpretação dos dados obtidos
bem como as nove lições para o ensino de (SAUNDERS; LEWIS; THORNHILL, 2009).
negociação, apresentadas no estudo serviram
Uma vez que não foi possível encontrar
como base para o melhor entendimento para
na literatura existente, pesquisa conduzida em
a adequação das técnicas em cada cenário.
relação ao aprimoramento do treinamento em
“Até pouco tempo, existia relativamente pouco
negociação no âmbito do COMAER, a pesquisa

41
Revista $EIVA

adotou a abordagem exploratória para a treinamento. Os dois oficiais entrevistados


“aquisição de mais informações, identificação possuem vasta experiência em negociações
de padrões, ao invés de testar ou confirmar conduzidas pela SEFA e COPAC, além
hipóteses. A característica exploratória da de renomado conhecimento e atuação
pesquisa conduz ao melhor entendimento da acadêmica. Em função da flexibilidade do
situação e não é delineada para se chegar a formato escolhido, os especialistas expuseram
uma resposta ou decisão definitiva (BURNS; suas opiniões de maneira detalhada sobre
BUSH, 2010). Tanto a análise da literatura as principais deficiências e possibilidades de
disponível, quanto a realização de entrevistas melhoria do treinamento realizado no CNEG.
foram os tipos de abordagem exploratória Ambas as entrevistas foram coordenadas e
utilizados na elaboração do presente trabalho. realizadas durante os meses de julho e agosto
A pesquisa também adota um viés descritivo de 2014.
quando busca angariar informações acerca das Os dados quantitativos foram coletados
percepções de oficiais do COMAER que realizam por meio de questionário eletrônico elaborado
negociações relevantes em projetos de interesse e distribuído de forma eletrônica para uma
do COMAER. A pesquisa por amostragem amostragem de 99 oficiais da SEFA e COPAC
realizada permitiu a elaboração de um resumo que estão diretamente envolvidos em atividades
estatístico relacionado à percepção do seu negociais. A taxa de resposta alcançada foi de
público alvo sobre o módulo de negociação do 36,7 por cento.
CNEG e sua relação com o desempenho das
atividades diárias dos oficiais que envolvem a 4. ANÁLISE DOS DADOS
necessidade de habilidades negociais.
4.1 As entrevistas
Ao adotar a combinação de procedimentos
qualitativos e quantitativos, foram inicialmente O primeiro entrevistado, Coronel
coletadas as percepções dos dois especialistas Intendente Carlos André Marques, participou
por meio das entrevistas, permitindo a de diversas negociações para estruturação
visualização mais abrangente das características de operações de crédito externo para suporte
e opiniões sobre o tema. Tais percepções foram programas de aquisição e modernização de
posteriormente comparadas aos resultados aeronaves e sistemas do COMAER e atuou
quantitativos dos questionários dirigidos aos como coordenador e instrutor do CNEG,
oficiais que participam de atividades envolvendo presenciando sua criação e evolução ao longo
negociações em seus projetos. dos anos.
Outra importante consideração sobre A entrevista permitiu obter informações
a escolha da abordagem qualitativa é a detalhadas sobre as demandas que
intenção em promover mudanças na estrutura deram origem ao CNEG, principalmente
da organização. “O pesquisador qualitativo as relacionadas aos primeiros contratos
está comumente preocupado em entender os de compensação (Offset). Outro aspecto
interesses políticos e econômicos que orientam apresentado foi a adaptação que o curso sofreu
as ações da organização com o objetivo de ao longo dos anos, moldando seu conteúdo
aumentar as possibilidades de transformação” às necessidades presentes em determinado
(BRYMAN; BELL, 2011, p. 403). período, havendo a modificação da sua grade
A oportunidade de aplicar os procedimentos de matérias e aumento da carga horária
de coleta de dados quantitativos por meio dos para abordar assuntos relacionados a outras
questionários reforçou a relevância do tema áreas além dos acordos de compensação e
no cenário estudado e produziu argumentos desembaraço alfandegário iniciais. O CNEG
consistentes para amparar a implementação evoluiu de pequenos seminários a um curso
das sugestões de melhoria. extenso com três semanas de duração.
As entrevistas foram semiestruturadas e As primeiras edições do CNEG tinham
com questões abertas para capturar aspectos uma abordagem mais acadêmica e pouco
qualitativos a respeito do atual modelo de aderente aos problemas e aspectos práticos

42
Revista $EIVA

dos diversos cenários encontrados pelos avaliação do aprendizado dos alunos na etapa
gerentes de projetos, uma vez que a estrutura de preparação anterior a fase presencial.
do curso não contemplava a interação entre Outra possibilidade de melhoria seria
os módulos e contava com instrutores oriundo a realização de avaliações e atualizações
de instituições externas ao COMAER. Esta dos estudos de caso utilizados no módulo
situação evolui na medida em que oficiais de de negociação de forma a acompanhar
diversas organizações aprofundaram os seus as modificações realizadas no CNEG. Esta
conhecimentos e passaram a colaborar no orientação vai de encontro a opinião de Lax
planejamento e execução do curso. e Sebenius (2006) em que o modo para
A principal deficiência relacionada ao aprimorar o ensino em negociação é criando
módulo de negociação foi o pouco tempo tarefas baseadas em situações reais para os
disponibilizado para o seu desenvolvimento, participantes promovendo oportunidades para
não sendo possível cobrir todos os estágios a discussão e prática de padrões que podem
previstos para realização de uma negociação, ser utilizados em experiências futuras.
fator considerado essencial pelo entrevistado O outro entrevistado selecionado, Coronel
e em acordo aos resultados apresentados na Aviador Francisco Guirado, que além de ter
pesquisa realizada por Eman ElShenawy (2009) atuado como gerente em diversos projetos
que indica a relação direta entre o tempo da COPAC, tornou-se um pesquisador do
empregado nos treinamentos e o desempenho tema negociação. O oficial foi em diversas
apresentado nas negociações. oportunidades o instrutor do módulo de
Outro aspecto comentado foi a necessidade negociação no CNEG.
da figura do coordenador do curso, apontado Assim como anteriormente assinalado pelo
como parcela significativa para o sucesso do Coronel Carlos, o tempo disponibilizado para o
curso, uma vez que sendo um profissional módulo de negociação também foi considerado
com conhecimentos acadêmicos e experiência insuficiente pelo segundo entrevistado, o
acumulada da área, tem condições de efetuar Coronel Francisco, sendo somente possível a
ajustes e interações entre os módulos, de transmissão de algumas técnicas sem dominá-
forma a utilizar outros módulos do curso para las de maneira adequada, e não permitindo o
aumentar as oportunidades de treinamento em desenvolvimento de habilidades interpessoais
negociação. Isso já ocorre com a disciplina importantes para a obtenção de resultados
de estruturação financeira e financiamentos favoráveis. Em acordo a esta posição,
e deve ser estendida as demais disciplinas do Arthur, Bennett, Adans; Bryman; Bell (2003),
curso. Essas considerações vão de encontro ao afirmam que várias evidências apontam que
entendimento de que o campo das resoluções o treinamento em áreas do relacionamento
de conflitos está abrangendo perspectivas interpessoal e de solução de conflitos tem
interdisciplinares novas e que este foco mais efeitos positivos significativos nos resultados do
amplo é importante e bem-vindo (FOX, 2010). aprendizado em negociação. Adicionalmente,
Algumas sugestões foram apontadas para ElShenawy (2009, p. 12) também enfatiza que
auxiliar no aprimoramento do módulo de “mais tempo em cursos de treinamento significa
negociação do CNEG. mais práticas em negociações que criam
A disponibilização prévia de bibliografia experiências importantes para os alunos”.
para nivelamento e preparação para as O Coronel Francisco afirma que uma
atividades do período presencial, permitiria a vez finalizado o CNEG muitos oficiais são
redução do tempo utilizado na apresentação designados para negociações em que enfrentam
de teorias e conceitos iniciais, disponibilizando negociadores de empresas e fornecedores
mais tempo para a realização de exercícios com grande experiência acumulada. A menos
práticos e simulações. que possuam experiência prévia adquirida
Neste momento, a utilização de em situações negociais ao longo da carreira,
ferramentas de ensino à distância pode ser torna-se difícil a aquisição das habilidades no
uma das soluções para entregar conteúdo e curto período disponibilizado ao módulo de

43
Revista $EIVA

negociação no CNEG. O entrevistado pontua estudos de caso. “Ao comparar e contrastar


que existe a possibilidade de aprender um casos, as pessoas acessam os conhecimentos
pouco sobre negociação, mas continuaram adquiridos dos exemplos ao serem confrontadas
comunicando-se de maneira precária, teriam com situações novas” (LOEWENSTEIN;
dificuldade em interpretar os comportamentos THOMPSON; GENTNER, 2013, p. 1).
e a dinâmica da negociação. Em complemento aos aspectos apontados
Um interessante exemplo utilizado como durante o processo de formação de
referência para as discussões foi o modelo negociadores, abrangendo o conteúdo, o
utilizado pela Defence Aquisition University método de transmissão de conhecimento, a
nos Estados Unidos, responsável por capacitar aquisição de experiência e o tempo de duração
as equipes que conduzem relevantes projetos dos treinamentos, o papel do coordenador do
de Defesa do Governo norte-americano. A curso também foi apontado durante a segunda
graduação é realizada ao longo de três ciclos e entrevista como fator imprescindível para a
combinam atividades presenciais e à distância. estruturar e executar o CNEG. Alinhada às
O negociador é considerado pronto quando opiniões sobre a necessidade de constante
conclui os três ciclos e acumular pelo menos10 revisão dos estudos de caso, a pesquisa
anos de experiência na área de aquisição. realizada por Paton (2009) afirma que existe a
Ao utilizar o modelo norte-americano como necessidade de desenvolver cenários realísticos,
referência percebe-se a maior seletividade e o prioridades e objetivos bem definido, evitando
caráter continuado do processo de formação de que os estudos de caso sejam artificiais por
negociadores, indo de encontro às percepções causa da falta de conexão com a realidade.
de que o treinamento atual é insuficiente para o Na mesma direção Collins e Holton (2004)
desenvolvimento das habilidades demandadas. concluem que treinamentos adaptados
Outro modelo sugerido foi o adotado pela direcionados aos objetivos e estratégias
Harvard Business School que permite que os organizacionais para melhoria dos resultados
alunos exerçam diferentes funções no contexto possuem efeitos positivos.
de cada treinamento. Este tipo de metodologia Os dois especialistas apontam o modelo
“permite que os estudantes entendam de treinamento em negociação baseado
quais são seus potenciais em uma situação no estudo de casos e focado em atividades
particularmente complexa, os fazendo mais práticas, como o mais adequado para ser
confortáveis em situações desconfortáveis” utilizado no CNEG.
(BALACHANDRA et al., 2005, p. 5). 4.2 A análise dos dados coletados
Em consonância às percepções do Coronel nos questionários.
Carlos, as atividades de estudo de caso A FIG. 1 apresentada a seguir busca
para estimular a discussão entre os alunos, sintetizar os resultados obtidos na pesquisa
adicionando conhecimentos adquiridos nos quantitativa realizada.

QUESTIONÁRIO AOS OFICIAIS DA SEFA E COPAC


TOTAL DE RESPOSTAS: 36
PERÍODO: 15/07/2014 - 07/08/2014
TAMANHO DA AMOSTRA: 98 OFICIAIS

PARTE 1 -Habilidades em Negociação

Não
Eu considero o treinamento em negociação Não concordo Concordo Concordo
concordo Indiferente
Questão 1 imprescindível nas atividades desempenhadas por parcialmente parcialmente totalmente
totalmente
mim na minha organização
0 0 0 4 (11.2%) 32 (88.8%)

Não
Não concordo Concordo Concordo
Eu frequentemente dependo das habilidades em concordo Indiferente
Questão 2 parcialmente parcialmente totalmente
negociação para desenvolver minhas atividades. totalmente
0 0 0 10 (27.8%) 26 (72.2%)

44
Revista $EIVA

A parcela de contribuição das habilidades 10% a 30% 30% a 50% 50% a 70% mais que 70%
Questão 3 negociais nos resultados alcançados nos projetos
2 (5.6%) 6 (16.6%) 17 (47.2%) 11 (30.6%)
que participo é de:

Não
Não concordo Concordo Concordo
Eu tenho poucas oportunidades de aprender concordo Indiferente
Questão 4 parcialmente parcialmente totalmente
sobre negociação ao longo da minha carreira. totalmente
2 (5.6%) 1 (2.8%) 1 (2.8%) 16 (44.4%) 16 (44.4%)

Parte 2 -CNEG Módulo de Negociação

Sim Não
Questão 5 Você realizou CNEG:
18 (50%) 18 (50%)

Não
O módulo de negociação do CNEG me Não concordo Concordo Concordo
concordo Indiferente
Questão 6 ajudou em minhas posteriores experiências em parcialmente parcialmente totalmente
totalmente
negociações.
0 0 2 (11.1%) 5 (27.8%) 11 (61.1%)

Não
Eu acredito que a duração do módulo de Não concordo Concordo Concordo
concordo Indiferente
Questão 7 negociação no CNEG não é suficiente para o parcialmente parcialmente totalmente
totalmente
desenvolvimento das minhas atuais atividades.
2 (11.1%) 0 1 (5.6%) 8 (44.4%) 7 (38.9%)

Não
Não concordo Concordo Concordo
É necessário realizar aprimoramentos no módulo concordo Indiferente
Questão 8 parcialmente parcialmente totalmente
de negociação do CNEG. totalmente
0 0 0 10 (55.6%) 8 (44.4%)
FIGURA 1: Resultados obtidos na pesquisa quantitativa por meio de questionários

4.3 Os desafios para implantação instituições de ensino para a estruturação de


das sugestões de melhoria um modelo acadêmico de graduação voltado
Uma das principais dificuldades para a área de negociação. A produção
enumerada para a implantação de um modelo acadêmica e o ciclo de atividades geradas por
mais eficaz de treinamento em negociação é a esta nova estrutura promoveriam a gestão do
necessidade de mudança em alguns aspectos conhecimento sobre o assunto de forma mais
organizacionais, principalmente a sensibilização perene, oferecendo a oportunidade para que
dos níveis decisórios para a importância na professores e pesquisadores atuem no contexto
priorização e direcionamento de recursos. das negociações envolvendo aquisições na
“Uma das razões que restringe os treinamentos área de Defesa.
de alcançarem os efeitos e melhorias desejados 4.4 Recomendações
é a falta de envolvimento e comprometimento As principais sugestões baseadas nos
dos superiores (PHILLIPS, P.; PHILLIPS, J., 2002, resultados da pesquisa são:
p. 6). O pesquisador Ansoff (1990, citado por
DEL VAL; FUENTES, 2003), menciona o típico a) é necessária a revisão da carga horária
fenômeno de resistência à mudança, que do CNEG de maneira a aumentar
atrasa, desacelera o início do processo, obstrui as oportunidades de treinamento em
ou mascar sua implementação. Ao analisar o negociação;
cenário encontrado no COMAER, pode ser b) a figura do coordenador de curso precisa
desafiador o estabelecimento de um fluxo de ser consolidada, bem como os pré-
carreira, o mapeamento de capacidades, a requisitos para o desempenho desta
criação de novas estruturas e o estabelecimento importante função;
de políticas de pessoal de longo prazo capazes c) a provisão de material didático
de manter os oficiais envolvidos em atividades antecipadamente ao início do curso e
de negociação ao longo de suas carreiras. a utilização de ferramentas de ensino à
distância devem ser implementados para
Uma sugestão para promover a gestão do disponibilizar mais tempo à realização de
conhecimento sobre negociação no COMAER, simulações e atividades práticas no módulo
seria o estabelecimento de parcerias com de negociação do curso;

45
Revista $EIVA

d) a criação de um grupo permanente de isso, apresenta alguns pré-requisitos desejáveis


especialistas na área para realização de para tal função de forma que possibilite ganhos
revisões do conteúdo e dos estudos de caso por meio da sincronização das disciplinas,
aplicados no treinamento de negociação definição coerente dos objetivos e otimização
do CNEG; do tempo disponível.
e) incentivar a produção acadêmica por meio Os resultados obtidos por meio dos
de estudos científicos e relacionamento questionários encaminhados aos oficiais da
com instituições de ensino para promover SEFA e da COPAC, confirmaram algumas
a gestão do conhecimento nesta área. impressões iniciais à pesquisa sobre a
6. Conclusão importância do atual treinamento nas
O presente trabalho ressalta a importância rotinas de trabalho das equipes de ambas as
do tema negociação no COMAER, uma vez organizações.
que pode ser verificada a relação entre os Apesar do foco da pesquisa ser a
resultados obtidos nos projetos de grande avaliação do atual módulo de negociação
vulto que envolvem elevados investimentos, do CNEG, algumas ideias e sugestões
complexas interações com fornecedores para surgiram no decorrer do estudo, que podem
definição de requisitos e cláusulas contratuais, subsidiar estudos futuros nesta área. A
e o nível de capacitação dos negociadores que análise de programas de treinamento em
representam a Força Aérea Brasileira nestas negociação adotados por outras instituições
atividades. no Brasil e no exterior, sendo mencionadas
Uma vez que o principal objetivo da as metodologias na Harvard Business
pesquisa foi o aprimoramento do atual School e na Defence Aquistion University,
modelo de treinamento utilizado no módulo suscitaram questionamentos e possibilidades
de negociação do CNEG, o presente estudo de aprofundamento do assunto, além de
forneceu importantes contribuições por meio confirmarem a necessidade de aprimoramento
de ações viáveis e pautadas nas colocações no atual modelo adotado pelo COMAER.
de dois especialistas com grande experiência A pesquisa estabeleceu algumas
acumulada na condução de negociações no diretrizes de curto prazo e com baixo risco
âmbito do COMAER, além das percepções de implantação, mas pelo seu aspecto
obtidas por meio de questionários exploratório, provocaram a reflexão sobre
encaminhados aos potenciais utilizadores das outras oportunidades de melhoria no campo
habilidades em negociação. da gestão do conhecimento, na especialização
O fator tempo foi a maior restrição dos oficiais por meio de um fluxo de carreira
apresentada durante a análise dos dados melhor definido, além da utilização de novas
coletados para o desenvolvimento de atividades ferramentas de ensino para redução de custos
de treinamento em negociação. Ao confrontar e alcance de resultados mais favoráveis para
os achados com a literatura existente, ficou a organização.
evidente a necessidade em promover o aumento Em um momento em que as capacidades
da carga horária destinada ao treinamento em em negociação ganham cada vez maior
negociação para a adequada transmissão do importância em diferentes cenários, é de vital
conteúdo e realização de simulações e estudos importância entender os mecanismos pelos
de casos, apontados como sendo os métodos quais os oficiais designados para representar
mais apropriados para aplicação no CNEG. os interesses do COMAER apreendem e
Outras considerações foram feitas no desenvolvem suas habilidades negociais. Esta
sentido de valorizar a existência do coordenador pesquisa é uma singela contribuição para
de curso, que deve possuir qualificações e o aprimoramento do treinamento realizado
experiência em atividades relacionadas à no CNEG e fomentar a discussão a respeito
estruturação de programas internacionais de deste tema relevante.
aquisição de sistemas de Defesa. Somado a

46
Revista $EIVA

LOEWENSTEIN, J.; THOMPSON, L.; GENTNER,


REFERÊNCIAS D. Analogical learning in negotiation teams:
comparing cases promotes learning and transfer.
ALEXANDER, N.; LEBARON, M. Death of the Academy of Management Learning &
role- play. Hamline Journal of Public Law and Education, v. 2, n. 2, p. 119-127. 2003.
Policy, v. 31, n. 2, p. 459-482. 2010. MOVIUS, H. The effectiveness of negotiation
ARTHUR, W.; BENNETT, W.; EDENS P.S.; BELL, training. Negotiation Journal, v. 24, n. 4, p.
S.T. Effectiveness of training in organizations: a 509-531. 2008.
meta-anaylis of design and evaluation features. NADLER, J.; THOMPSON, L.; VAN BOVEN,
Journal of Applied Psychology, n. 88, p. 234- L. Learning negotiation skills: four models of
245. 2003. knowledge creation and transfer. Management
BALACHANDRA, L.; CROSSAN, M.; DEVIN, Science, v. 49, n. 4, p. 529-540. 2003.
L.; LEARY, K.; PATTON, B. Improvisation and PATTON, B. The deceptive simplicity of teaching
teaching negotiation: developing three essential negotiation: reflections on thirty years of the
skills. Negotiation Journal, v. 21, n. 4, p. 435- negotiation workshop. Negotiation Journal, v.
441. 2005. 25, n. 4, p. 481-498. 2009.
BRYMAN, A.; BELL, E. Business research PHILLIPS, P.P.; PHILLIPS, J.J. Eleven reasons why
methods. 3. ed. New York: Oxford University training and development fails…and what you can
Press. 2001. do about it. Training, v. 39, p.78-85. 2002.
BURNS, A. C.; BUSH, R. F. Marketing research. SALAS, E.; CANNON-BOWERS, J. The science of
3. ed. Indiana: Prentice Hall, 2010. training: a decade of progress. Annual Review of
COLLINS, D.B.; HOLTON, E.F. The effectiveness Psychology, v. 52, p. 471. 2001.
of managerial leadership programs: a meta- SAUNDERS, M.; LEWIS, P.; THORNHILL, A.
analysis of studies from 1982-2001. Human Research methods for business students. New
Resource Development Quarterly. v. 15, p. York: Prentice Hall. 2009.
217-248. 2004.
SUSSKIND, L.; E. Negotiation training: are
CULLEN, M.J.; MUROS, J.P.; RASCH, R.; you getting your money´s worth? Negotiation
SACKETT, P.R. Individual differences in the Newsletter 7, p. 4-6. 2004
effectiveness of error management training for
developing negotiation skills. International TESORO, F. Implementing an ROI measurement
Journal of Selection and Assessment, v. 21, n. process at Dell Computer. Performance
1, p. 1-21. 2013. Improvement Quarterly, n. 11, v. 4, p. 103-114.
1998
DEL VAL, M. P.; FUENTES, C. M. Resistance to
change: a literature review and empirical study, TYLER, M.C.; CUKIER, N. Nine lessons for
Management Decision, v. 41, n. 2, p. 148-155. teaching negotiation skills. Legal Education
2003. Review, v. 15, n. 1, p. 61-86. 2005.
ELSHENAWY, E. Does negotiation training WHEELER, M. Is teaching negotiation too easy,
improve negotiators’ performance? Journal of too hard, or both? Negotiation Journal, v. 22, n.
European Industrial Training, v. 34. N. 3, p. 2, p. 187-197. 2006.
192-210. 2010.
FRANKO, P.M. The defense acquisition trilemma:
the case of Brazil. In: CONFERENCE OF
FORTE DE COPACABANA INTERNATIONAL
SECURITY AN EUROPEAN–SOUTH AMERICAN
DIALOGUE. 10. 2013. Anais…Rio de Janeiro: [S.
n.], nov. 2013. p. 120-140
FRIEDMAN, R. From theory to practice: critical
choice for mutual gains training. Negotiation
Journal, v. 8, p. 91-8. 1992.
FOX, K.H. Negotiation as a post- modern
process. (Rethinking Negotiation Teaching Project).
Hamline Journal of Public Law and Policy, v.
31, n. 2, p. 367-384. 2010.
LAX, D.A.; SEBENIUS, J.K. 3-D negotiation:
powerful tool to change the game in your most
important deals. Boston: Harvard Business School
Press. 2006.
LIAO, C.; CHUANG, S.; TO, P. How knowledge
management mediates the relationship between
environment and organizational structure. Journal of
Business Research, v. 64, n.7, p. 728-736. 2011. Sgt Johnson / Força Aérea Brasileria

47
Artigo Revista $EIVA

Perfil de custos do COMAER: análise


dos impactos decorrentes de um
cenário de restrição orçamentária
Adriano Maia Ribeiro de Azevedo - Maj Int
Especialista em Direito Administrativo e Gestão Pública

Com o agravamento do quadro em 2016 e a


INTRODUÇÃO consequente demanda por maior esforço do
O Comando da Aeronáutica possui governo na condução da política de ajuste
longo histórico na contabilização dos custos fiscal, o cenário que se avizinha mostra-se
envolvidos nas atividades que desempenha, ainda mais restritivo.
mas somente a partir de 2013 foi desenvolvida O valor nominal dos custos do produto
sistemática para apuração de índice capaz COMAER apurado em 2015 (R$ 358,35/Km²)
de informar o custo do produto que o Órgão chegou a ser inferior àquele medido em 2013
fornece à sociedade para o cumprimento (R$ 359,08/Km²). Uma análise isolada de tais
da sua missão constitucional, qual seja, a números pode induzir o leitor menos atento
manutenção da soberania do espaço aéreo à percepção de que houve uma economia
nacional com vistas à defesa da pátria. de meios e, portanto, o cumprimento da
Segundo Magliano (2015), o produto missão institucional de forma mais eficiente.
oferecido pelo COMAER pode ser representado Já aqueles mais céticos irão indagar-se: uma
pela manutenção da soberania do espaço redução no custo, como a ocorrida em 2015,
aéreo brasileiro, acrescido do sobrejacente em necessariamente se traduz em algo positivo?
águas internacionais sob sua responsabilidade, Em aumento de eficiência? Ou implicou em
o que alcança a expressiva área de 22 milhões prejuízo operacional relativamente maior
de km². Com base nessa concepção, e no custo que a economia apresentada? Em resumo,
apurado das atividades integrantes da cadeia quais informações gerenciais podem ser
de valor do COMAER, chegou-se ao conceito depreendidas a partir de uma variação no
de “Custo unitário do produto COMAER”, o Custo unitário do produto COMAER? De
qual expressa o custo para manutenção da que modo tais informações podem auxiliar o
soberania aérea de um quilômetro quadrado, processo decisório?
ao longo de um ano. Para a solução de tais questões, o presente
Considerando o comportamento estudo buscará, por meio da análise detalhada
inflacionário brasileiro, assim como o das informações de custo disponíveis nos
histórico crescimento do Produto Interno sistemas do Governo Federal, dimensionar o
Bruto ao longo dos anos, é de se esperar impacto do cenário orçamentário restritivo
que o Custo nominal do COMAER tenha no perfil de custos do COMAER, buscando
trajetória crescente com o passar do tempo. evidenciar, sobretudo, os impactos na
Esse foi o comportamento apresentado, por atividade-fim do Órgão.
exemplo, entre os anos de 2013 (R$ 359,08/ A adequada compreensão de tais
Km²) e 2014 (R$ 393,27/Km²). impactos configura-se ainda mais relevante
Entretanto, diante da forte crise fiscal que quando considerado o cenário prospectivo
se instalou no país em 2015, que, por sua vez, de continuidade de imposição de restrições
causou reflexo negativo nos orçamentos dos orçamentárias para os órgãos do Governo
órgãos do Governo Federal, o que se constatou Federal e, consequentemente, para o
foi uma retração no índice em discussão. COMAER.

48
Revista $EIVA

Segundo Kaplan e Cooper (1998), tal


1. REFERENCIAL TEÓRICO metodologia parte da premissa de que os
Com o objetivo de melhor evidenciar recursos organizacionais são requeridos não
os custos relativos às diversas atividades para a produção de unidades do produto
desempenhadas, a apropriação de custos oferecido, mas para prover uma gama de
no Comando da Aeronáutica é, desde a sua atividades que permitem a consecução de
concepção, realizada segundo o sistema de uma variedade de produtos e serviços para
custeio baseado em atividades (Activity Based os consumidores. Dessa forma, os produtos
Costing – ABC). Mais recentemente, com o consomem atividades que, por sua vez,
fim de destacar os custos dos macroprocessos consomem recursos.
do Órgão (finalísticos, gerenciais e de apoio), O custo de cada produto é, então,
adaptou-se a estrutura de dados até então definido a partir da soma das atividades
existente ao conceito de cadeia de valor. atinentes ao respectivo processo produtivo.
As análises efetuadas ao longo do presente No caso do COMAER, o produto oferecido à
trabalho tiveram como fundamento categorias sociedade é único, representado, conforme já
delineadas a partir das acepções teóricas mencionado, pela manutenção da soberania
basilares de tais modelos. Desse modo, com do espaço aéreo brasileiro, acrescido do
o propósito de facilitar a compreensão do sobrejacente em águas internacionais sob sua
conteúdo abordado, seguem considerações responsabilidade. Entretanto, a importância
básicas acerca de cada uma delas. da adoção de tal sistema de custeio reside
na precisa visibilidade dos recursos alocados
1.1 Custeio Baseado em Atividades em cada uma das atividades desenvolvidas,
(ABC) permitindo-se a identificação, por exemplo,
O sistema de custeio baseado em atividades do esforço empregado em prol da atividade
(Activity Based Costing – ABC) foi desenvolvido fim do Órgão.
pelos professores americanos Robert Kaplan Nessa mesma esteira, pode-se elencar
e Robin Cooper em meados da década de como diferencial do sistema de custeio ABC o
1980, na Universidade de Harvard. Segundo fato de o mesmo não se restringir a mensurar
Maher (2001, p. 280), “o custeio baseado em o valor do produto oferecido, mas ser capaz,
atividades é um método de custeio em que os ainda, de proporcionar informações gerenciais
custos inicialmente são atribuídos a atividades com o fito de auxiliar o processo decisório.
e depois aos produtos”. Horngren, Datar e
1.2 Cadeia de Valor
Foster (2004, p. 127) ressaltam que “sistemas
ABC auxiliam nas decisões da gestão de O conceito de cadeia de valor foi
custos, melhorando os processos e a eficiência desenvolvido na década de 80 por Michael
dos produtos”. Porter (1990) com o fim de evidenciar as
Tal sistema surge para dar tratamento atividades que proporcionavam vantagens
mais apropriado aos custos indiretos, cuja competitivas para a organização. Segundo
participação nos custos totais das empresas ele, as empresas se constituem de uma série
passou a ter maior relevância a partir do de atividades que agregam valor ao produto
final da década de 70. Os critérios de rateio final ou serviço oferecido. O conjunto de
utilizados até então pelo sistema tradicional atividades identificadas foi dividido em 02
não apresentavam confiabilidade, de modo grupos: atividades primárias e atividades de
a afetar indevidamente os custos apurados. apoio.
Martins (2000), informa que o custeio baseado Ao definir o escopo de cada categoria
em atividades é uma metodologia que procura de atividades, percebe-se que Porter (1990)
reduzir sensivelmente as distorções provocadas atribuiu a classificação de atividades primárias
pelo rateio arbitrário dos custos indiretos. àquelas ligadas ao fim da organização1, tais

1 - Ressalta-se que o modelo de cadeia de valor foi desenvolvido inicialmente para aplicação na indústria.

49
Revista $EIVA

como: logística interna, operações, logística uma conclusão que, mantendo-se constante
externa, serviço, marketing e vendas. Já as as demais variáveis, pode ser estendida a
atividades classificadas como de apoio são períodos análogos.
as que dão suporte direto ou indireto para A pesquisa é do tipo descritiva, segundo
a consecução das atividades primárias. São a classificação proposta por Gil (2002, p.
exemplos de atividades de apoio: aquisição, 42), uma vez que, após a coleta de dados, foi
desenvolvimento de tecnologia, gerência de realizada análise da relação existente entre o
recursos humanos e infraestrutura. perfil dos custos das atividades desempenhadas
Ainda segundo Porter (1990), A cadeia pelo COMAER e os impactos decorrentes de
de valor de uma empresa e o modo como um cenário orçamentário restritivo.
ela executa atividades individuais decorrem, O presente estudo buscou, por meio
dentre outros aspectos, de sua história, de sua de análise comparativa dos dados de custo
estratégia e do método de implementação do Comando da Aeronáutica, para os anos
dessa estratégia. de 2014, 2015 e, em alguns casos, 2016,
Considerando os aspectos mencionados evidenciar a mudança ocorrida no perfil
no parágrafo anterior, assim como a complexa dos custos do COMAER, dando ênfase aos
estrutura do Comando da Aeronáutica, foi impactos na atividade-fim do Órgão.
desenvolvida cadeia de valor do COMAER 2, Para identificação dos custos incorridos, foi
de modo a “evidenciar, pela primeira vez realizada pesquisa documental, por meio de
à sociedade brasileira, a correspondência acesso ao Sistema de Informações de Custo
entre a destinação legal do COMAER, seus do Governo Federal (SIC). Ressalta-se que, a
objetivos estratégicos, a execução de suas partir de 2015, o SIC passou a ser um módulo
macroatividades e os custos envolvidos” do Sistema Tesouro Gerencial.
(MAGLIANO, 2015, p. 46). Nas comparações em que foi necessário
Fruto da adaptação realizada, as equiparar no tempo custos apurados em
atividades desempenhadas pelo Órgão foram períodos distintos, utilizou-se como fator de
agrupadas em 03 conjuntos distintos, um deles correção inflacionária o Índice de Preços ao
ligado ao conceito de atividades primárias Consumidor Amplo (IPCA), auferido pelo
proposto por Porter (1990), o qual recebeu Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
denominação de processos finalísticos, e (IBGE).
os outros dois relacionados ao conceito de Após o levantamento dos dados de custo,
atividades de apoio, denominados processos foram efetuadas análises comparativas com
gerenciais e processos de apoio. Conforme o fim de evidenciar quais atividades foram
Magliano (2015, p. 46), “os processos mais afetadas em decorrência das restrições
gerenciais e de apoio operam de forma orçamentárias dos períodos analisados. Para
harmônica com os processos finalísticos, com tanto, foram realizadas análises segundo 03
o objetivo de entregar à sociedade brasileira diferentes óticas, a saber:
um produto compatível com suas atribuições
legais”. 1.
Categorias, subdivididas em: Pessoal,
Depreciação e Bens e Serviços;
2. METODOLOGIA 2. Processos, subdivididos em: Gerenciais,
Finalísticos e de Apoio;
A presente pesquisa foi desenvolvida pelo
método indutivo, uma vez que partiu da análise 3. Macroatividades, subdivididas nos Centros
da variação no perfil de custos ocorrida em um de Custos utilizados pelo COMAER.
cenário de restrição orçamentária específico,
os anos de 2015 e 2016, para se chegar a

2 - A representação gráfica da cadeia de valor do COMAER pode ser visualizada na Figura 01.

50
Revista $EIVA

3. CUSTOS NO COMAER
Atualmente o Custo COMAER é calculado
pelo sistema de custeio baseado em atividades
(Activity Based Costing – ABC). Os centros
de custos definidos pelo COMAER agrupam
valores, expressos em reais, referentes ao
consumo de recursos humanos, de bens e de
serviços na execução de atividades orientadas
a um mesmo objetivo. Por representar as
macroatividades desenvolvidas no Comando
da Aeronáutica, os centros de custos possuem
as seguintes características:
a) relevância – qualidade de influenciar as
decisões de seus usuários auxiliando na
avaliação de eventos passados, presentes
FIGURA 1 - Cadeia de Valor do COMAER (2015).
e futuros; Fonte: SUCONT-1, dados extraídos do Sistema Tesouro Gerencial.
b) utilidade – útil à gestão, sendo a sua Ao analisar a série histórica dos
relação custo benefício sempre positiva; custos auferidos ao longo dos últimos três
c) valor social – transparência e evidenciação anos, percebe-se que em 2015 houve
do uso dos recursos públicos; comportamento não convencional, diminuição
nos custos nominais do COMAER, não
d) especificidade – adequação à finalidade
obstante a ocorrência de reajuste salarial e
específica pretendida pelos usuários;
de elevado índice inflacionário no referido
e)
comparabilidade – consistência e exercício financeiro. Sabe-se, entretanto, que
uniformidade de modo a permitir que a em virtude da crise fiscal brasileira evidenciada
informação seja comparável pelos mesmos em 2015, ocorreram cortes orçamentários
critérios ao longo do tempo; e que impactaram diretamente os custos
f) adaptabilidade – adequação às diferentes dependentes do orçamento e, por conseguinte,
expectativas e necessidades informacionais o cumprimento de parte da missão da Força
de seus respectivos usuários. Aérea que deles dependia.
Em 2013, com o fim de evidenciar os Houve ainda, no período, iniciativas no
recursos consumidos pelo Comando da intuito de racionalizar a máquina administrativa
Aeronáutica e de identificar em quais áreas objetivando a redução dos custos dela
estão concentrados os esforços para o decorrentes. Mas a diminuição de custos
cumprimento de sua missão constitucional, observada pode ser creditada a tais medidas?
Magliano (2015) adaptou a metodologia até Qual o impacto decorrente da redução ou
então utilizada para a aferição de custos ao supressão, derivadas dos cortes orçamentários
conceito de cadeia de valor. impostos, de atividades finalísticas planejadas
para o exercício financeiro? Em suma, a redução
Tal formato, além de promover melhor
de custos significou eficiência administrativa ou
visualização dos custos incorridos, possibilitou
prejuízo operacional?
ainda o cálculo do custo individualizado do
produto oferecido pelo Órgão à sociedade Para se chegar às respostas de tais
brasileira, o Custo COMAER/Km². Segue a questões, passa-se à análise comparativa
entre os custos incorridos nos anos de 2014 e
cadeia de valor do Comando da Aeronáutica
2015 e, quando possível, dos apurados até o
com os valores auferidos para o ano de 2015:
presente momento para 2016.

3 - As despesas referentes aos militares inativos e aos pensionistas não são custos, uma vez que não agregam valor ao
produto do COMAER, ou seja, não contribuem para a manutenção da soberania do espaço aéreo brasileiro

51
Revista $EIVA

virtude de tais aspectos, esta categoria tende


4. ANÁLISE DO PERFIL DE
a sofrer os maiores impactos de um cenário
CUSTOS DO COMAER orçamentário restritivo.
Utilizando-se dos dados de custos extraídos A tabela abaixo apresenta a distribuição
dos sistemas informatizados do Governo dos custos segundo essa ótica, nos anos de
federal, neste tópico serão realizadas análises 2014, 2015 e 2016:
com o fim de mensurar os impactos no perfil TABELA 1
de custos do COMAER decorrentes do cenário Distribuição dos custos do COMAER por categoria
orçamentário restritivo. Para tanto, serão Categorias 2014 2015 20164
efetuadas análises mediante três diferentes Pessoal R$ 3.852.539.496,05 R$ 4.164.323.848,25 R$ 1.248.201.925,71
óticas: Categoria, Processos e Macroatividades. Depreciação R$ 375.163.829,31 R$ 405.617.094,43 R$ 150.895.960,54
4.1 Análise por Categorias Bens e R$ 4.424.172.835,63 R$ 3.313.689.615,47 R$ 823.162.037,68
serviços
Fonte: SUCONT-1, dados extraídos do Sistema de Informações de
Sob esta ótica, os custos serão analisados Custos e do Sistema Tesouro Gerencial.
por meio do agrupamento em três categorias
Da análise da TAB. 1, pode-se depreender
de custos, a saber:
que houve um aumento nominal nos custos
Custo com pessoal militar. Incorpora além de pessoal da ordem de 8,09% de 2014
da remuneração bruta paga aos militares para 2015, entretanto, considerando o índice
ativos3, a parcela adicional paga aos militares inflacionário de 10,67% em 2015, o valor
prestando tarefa por tempo certo. Em que atualizado do custo de pessoal de 2014 passa
pese constar do orçamento, o custo de pessoal a R$ 4.263.605.460,27. Assim, percebe-se
decorre de despesa obrigatória, não sujeita que em termos reais houve diminuição de
a cortes orçamentários. Em virtude de tal custos da ordem de 2,33%.
aspecto, mantendo-se constante o número de
Já com relação aos custos de depreciação
militares nos diversos postos e graduações,
de bens permanentes, o aumento nominal foi
possui a tendência de crescimento nominal
de 8,11% de 2014 para 2015 e, em termos
ao longo dos anos, como consequência dos
reais, ocorreu diminuição de 2,31% nesta
reajustes concedidos.
categoria, considerando-se na análise o valor
Custo com depreciação de bens móveis dos custos de 2014 de R$ 415.193.809,90,
permanentes. Tal custo decorre da utilização de encontrado mediante atualização pelo IPCA.
bens móveis permanentes no cumprimento da
Situação mais grave é a da categoria
missão institucional. Assim, não são diretamente
bens e serviços. Nominalmente já se identifica
decorrentes do orçamento corrente, uma vez que
diminuição dos custos da ordem de 25,11%. Ao
a grande maioria dos bens utilizados é proveniente
se considerar o valor atualizado dos custos de
de aquisições realizadas em exercícios financeiros
2014 (R$ 4.896.232.077,19), a queda passa a
anteriores. Vale ressaltar, entretanto, que a
32,33%. Ou seja, em termos reais, em apenas
aquisição de bens dessa natureza com recursos
um ano houve diminuição de praticamente um
do orçamento do próprio exercício gera reflexo
terço nos custos dessa categoria que, conforme
nos custos dessa categoria a partir do momento
abordado, guarda estreita relação com o
em que se inicia sua utilização.
orçamento discricionário do exercício.
Custo de bens e serviços consumidos.
Contempla os custos derivados do consumo
imediato de bens e serviços adquiridos junto
ao mercado, os quais decorrem diretamente do
orçamento, além do consumo de estoques, que
derivam parcialmente do orçamento corrente,
GRÁFICO 1 – Evolução do perfil de custos do COMAER – Ótica
já que podem ser provenientes, também, de Categorias.
Fonte: SUCONT-1, dados extraídos do Sistema de Informações de
de aquisições de exercícios anteriores. Em Custos e do Sistema Tesouro Gerencial.

4 - Dados acumulados do primeiro quadrimestre (Jan – Abr/2016).

52
Revista $EIVA

Ao se analisar a distribuição proporcional gerenciais, relacionados ao planejamento e à


dos custos nas categorias em análise, implementação da estratégia do COMAER.
evidenciada no GRAF. 1, percebe-se que Os processos finalísticos são aqueles que
comportamento análogo vem ocorrendo albergam atividades diretamente relacionadas
no ano de 2016, com continuidade da à missão do COMAER, em consonância com
deterioração dos custos de bens e serviços no a destinação constitucional do Órgão e com
presente exercício, refletida na diminuição da o constante na Lei Complementar nº 97, de
participação nos custos totais frente às demais 9 de junho de 1999, que dispõe sobre as
categorias em análise. normas gerais para a organização, o preparo
Como consequência dessa profunda e o emprego das Forças Armadas. São
desidratação dos recursos disponíveis para exemplos de atividades finalísticas: operações
aquisição de bens e serviços, não obstante de aeronaves, suprimento e manutenção de
tenham apresentando variação real negativa no aeronaves, segurança e proteção do tráfego
período em análise, tanto os custos com pessoal aéreo, dentre outras (BRASIL, 1999).
quanto os com depreciação aumentaram suas Já os processos de apoio congregam
participações relativas no custo total do Órgão. as demais atividades desenvolvidas pelo
Os primeiros passaram de 44,53% em 2014 COMAER, cujo objetivo é o de prover o
a 56,17% ao fim do primeiro quadrimestre de suporte necessário à adequada realização
2016, enquanto que os últimos, de 4,34% a das atividades finalísticas. São exemplos de
6,79% no mesmo período. atividades de apoio: administração, ensino,
Em decorrência das restrições orçamentárias saúde, apoio habitacional, dentre outras.
impostas, muitas medidas foram adotadas no Para que haja maior efetividade e eficiência
ano de 2015, e outras mais em 2016, com o fim no cumprimento da missão, a instituição deve
de promover racionalização na utilização dos, maximizar o esforço empregado nos processos
cada vez mais escassos, recursos disponíveis finalísticos e racionalizar os processos gerenciais
à manutenção das atividades do COMAER. e de apoio.
No tópico seguinte será realizada análise de A tabela abaixo apresenta a distribuição
como as restrições identificadas e as medidas dos custos segundo essa ótica, nos anos de
de racionalização afetaram os processos do 2014, 2015 e 2016:
COMAER.
TABELA 2
4.2 Custos por Processos Distribuição dos custos do COMAER por processos
Conforme abordado anteriormente, para Processos 2014 2015 20165
que houvesse melhor acompanhamento Gerenciais R$ 334.544.569,87 R$ 282.329.307,86 R$ 79.133.390,48

e controle do esforço empregado no Finalísticos R$ 4.016.867.214,26 R$ 3.522.270.705,42 R$ 959.209.053,62

cumprimento da missão institucional, a cadeia De apoio R$ 4.300.464.376,86 R$ 4.079.030.544,87 R$ 1.183.917.479,83

de valor do COMAER foi concebida de modo Fonte: SUCONT-1, dados extraídos do Sistema de Informações de
Custos e do Sistema Tesouro Gerencial.
agrupar as macroatividades (Centro de Custos)
desempenhadas pelo Órgão em três espécies Da análise dos dados da TAB. 2, percebe-
de processos: gerenciais; finalísticos; e de apoio. se que, entre 2014 e 2015, houve diminuição
Os processos gerenciais agregam nominal dos custos de todos os processos.
todo o custo empregado em atividades Proporcionalmente, os custos com redução
realizadas pelos Órgãos de Direção-Geral, mais significativa foram os referentes aos
de Direção Setorial ou de Assistência Direta processos gerenciais (15,61%), seguidos pelos
e Imediata ao Comandante da Aeronáutica processos finalísticos (12,31%) e, por fim, dos
(ODGSA). Considera-se, portanto, que processos de apoio (5,15%).
independentemente da atividade realizada, o Entretanto, ao se considerar apenas os
esforço desses órgãos está voltado a processos valores envolvidos, os processos finalísticos,

5 - Dados acumulados do primeiro quadrimestre (Jan – Abr/2016).

53
Revista $EIVA

mesmo não sendo responsáveis pelos maiores 5.8.1 Nas últimas duas décadas, com o
custos, foram os que possuíram maior redução objetivo de aprimorar as atividades de
suporte, o COMAER criou inúmeras novas
absoluta, R$ 494.596.508,84, enquanto organizações militares. No entanto, passado
que a soma da redução apresentada pelos algum tempo, foi observado que, além de não
processos gerenciais e de apoio foi de R$ se obter o efeito desejado, as atividades-meio
273.649.094,00. sofreram grande aumento em detrimento da
atividade-fim da Força Aérea, resultando
Essa acentuada retração nos custos no incorreto equilíbrio dos recursos humanos
finalísticos pode ser melhor visualizada no e materiais no suporte da “ponta da linha”
GRAF. 2, no qual ficam evidentes os impactos operacional (grifo nosso) (BRASIL,2016, p. 30).
do cenário restritivo, que se iniciou em 2015 e Para melhor visualização de quais atividades
perdura até os dias atuais, no perfil de custos do foram mais impactadas pela redução no Custo
COMAER. COMAER derivada da restrição orçamentária
de 2015, passa-se à análise das variações nas
diversas macroatividades desenvolvidas pelo
Comando para o cumprimento da missão
institucional do Órgão.
4.3 Custos por Macroatividades
GRÁFICO 2 – Evolução do perfil de custos do COMAER – Ótica
de Processos.
Na sistemática de apuração de
Fonte: SUCONT-1, dados extraídos do Sistema de Informações de custos do COMAER, as macroatividades
Custos e do Sistema Tesouro Gerencial. desenvolvidas em prol da missão institucional
Tomando-se emprestado das ciências são representadas pelos centros de custos
econômicas o conceito de elasticidade da (CC). Cada centro contempla, em sua
demanda (VARIAN, 1994, p. 296), pode-se composição, subcentros destinados a registrar
inferir que os custos com a estrutura de apoio os custos de cada atividade relacionada com
possuem comportamento inelástico em relação a macroatividade que o centro representa. Os
à variação nos custos totais do órgão, ou seja, centros que serão objetos da nossa análise são
considerando-se a estrutura organizacional de os possuidores de maior representatividade na
apoio ora instalada, caso ocorra uma redução cadeia de valor do Comando da Aeronáutica,
nos recursos disponíveis à manutenção das dispostos na TAB. 3:
atividades, e consequentemente nos custos, TABELA 3
há uma menor sensibilidade (variação Centros de Custos do COMAER
proporcionalmente menor) na demanda Centros de custos Classificação
dos processos de apoio por tais recursos
CC 01.00 - Operações de Aeronaves Finalístico
comparativamente aos processos finalísticos e
gerenciais. CC 02.00 - Suprimento e Finalístico
Manutenção de Aeronaves
Tal comportamento explica o aumento
na proporção de participação dos custos CC 03.00 - Aquisição, Revitalização Finalístico
dos processos de apoio, em relação ao custo e Modernização de Aeronaves
total do Órgão, em um cenário de restrição CC 04.00 - Segurança e Proteção Finalístico
orçamentária progressiva como o que estamos do Tráfego Aéreo
vivenciando. CC 05.00 - Desenvolvimento e Finalístico
Esse aspecto evidencia a necessidade Manutenção da Rede Aeroportuária
premente de racionalização da atual estrutura CC 06.00 - Desenvolvimento da Finalístico
de apoio do COMAER, que hoje responde Aviação Civil
por mais de 53% dos custos do Comando em
CC 07.00 - Pesquisa e Finalístico
detrimento dos recursos aplicados às atividades desenvolvimento
finalísticas. Preocupação análoga consta da
CC 08.00 - Ensino e Treinamento Apoio
DCA 11-45, Concepção Estratégica da Força
Aérea 100: CC 09.00 - Atividades de Saúde Apoio

54
Revista $EIVA

CC 10.00 - Atividades Apoio apoio.


Operacionais Complementares O centro que apresentou maior variação
CC 11.00 - Operações Especificas Apoio positiva foi o CC 33.00 – Infraestrutura, o
qual alberga, dentre outros custos, os relativos
CC 30.00 - Comando, Fiscalização Apoio à utilização de serviços públicos, um dos
e Controle
principais vilões inflacionários de 2015. A
CC 31.00 - Administração Geral Apoio energia elétrica, principal componente dos
CC 32.00 - Informações e Apoio custos com serviço público, sofreu variação
Segurança Interna média de 51%6.
CC 33.00 - Infraestrutura Apoio
CC 34.00 - Atividades Especiais Apoio
CC 36.00 - Atividades de Informática Apoio
CC 60.00 - Atividade de Apoio Apoio
Habitacional
CC 62.00 - Assistência Social Apoio
Fonte: BRASIL, 2009.
Com vistas à análise pormenorizada das GRÁFICO 4 – Centros de custos com variação negativa (R$) -
variações identificadas até o presente momento, 2014 x 2015

traz-se à baila o GRAF. 3 com os centros Fonte: SUCONT-1, dados extraídos do Sistema Tesouro Gerencial.

de custos que, quando comparados com os Da análise do GRAF. 4, percebe-se


valores registrados em 2014, apresentaram que distribuição bem diversa se verifica na
variação nominal positiva em 2015. classificação dos centros que apresentaram
variação negativa em 2015. Das 08
macroatividades enquadradas nessa situação,
06 fazem parte dos processos finalísticos
definidos na cadeia de valor do COMAER.
O único centro de custos referente a
processos de apoio que apresentou redução
expressiva nos custos nominais foi o CC 31.00
- Administração Geral, com variação negativa
GRÁFICO 3 – Centros de custos com variação positiva (R$) - de R$ 105.666.309,20, fruto parcialmente
2014 x 2015 de medidas implementadas em 2015 com o
Fonte: SUCONT-1, dados extraídos do Sistema Tesouro Gerencial. fim de racionalizar a atividade administrativa
Conforme se pode constatar, considerando no COMAER, além da supressão de algumas
a classificação atribuída pela cadeia de valor atividades relacionadas a esse centro de
do COMAER, dos 11 centros que registraram custos, em virtude da ausência de recursos
aumento nominal nos custos do período, para custeio das mesmas.
apenas 03 são considerados finalísticos, Atenção maior deve ser direcionada aos
quais sejam: CC 06.00 - Desenvolvimento possíveis prejuízos operacionais decorrentes
da Aviação Civil, CC 07.00 - Pesquisa e das restrições orçamentárias impostas ao
desenvolvimento e CC 10.00 - Atividades COMAER. A TAB. 4 que segue apresenta o
Operacionais Complementares. Ainda assim, o impacto, em termos nominais e reais, no custo
aumento apresentado por tais macroatividades das principais atividades finalísticas afetadas
foi ínfimo em relação ao verificado nos centros pelas medidas de ajuste fiscal do ano de 2015.
de custos correspondentes a atividades de

6 - BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Indicadores IBGE, sistema nacional de índices de preço ao
consumidor, IPCA e INPC, dezembro de 2015. Disponível em: <ftp://ftp.ibge.gov.br/Precos_Indices_de_Precos_ao_
Consumidor/INPC/Fasciculo_Indicadores_IBGE/> Acesso em 20 maio 2016.
7 - Considerando a variação inflacionária de 10,67% para atualização dos custos de 2014.

55
Revista $EIVA

TABELA 4 Diante dos dados trazidos e das análises


Variação negativa em custos de atividades procedidas, resta comprovado que maior
finalísticas – 2014 x 2015 parcela do impacto decorrente do cenário
Variação
Centros De
2014 (R$) 2015 (R$) nominal
Variação orçamentário restritivo vivenciado em 2015
Custos Real7 (%)
(%) recaiu sobre as atividades finalísticas do
CC 02.00 –
Suprimento e 1.668.424.660,76 1.298.734.599,57
COMAER. Ainda que a redução de custos
-22,16% -29,66%
Manutenção de verificada possa ser parcialmente creditada à
Aeronaves
CC 04.00 - racionalização de atividades desenvolvidas,
Segurança e 1.041.166.820,88 918.951.249,23 -11,74% -20,25% em verdade, a “economia” apresentada adveio
Proteção do
Tráfego Aéreo majoritariamente da supressão de atividades
CC 01.00 -
Operações de 938.656.097,57 896.988.321,95 -4,44% -13,65%
operacionais ou, pelo menos, da redução
Aeronaves na aplicação de recursos necessários ao
Fonte: SUCONT-1, dados extraídos do Sistema de Informações de adequado desempenho das mesmas.
Custos e do Sistema Tesouro Gerencial.
Tais constatações devem ser objeto de
Da análise dos dados acima, pode-se
especial atenção, uma vez que, conforme visto
inferir que houve acentuada redução nos
nas análises por categorias e por processos, a
custos das principais atividades operacionais
modificação no perfil de custos do COMAER,
do Comando da Aeronáutica no período em
em sentido aparentemente divergente do
estudo.
preconizado pela concepção estratégica da
É certo que a variação apresentada pode, Força Aérea Brasileira (BRASIL, 2016), continua
em parte, ser advinda de maior eficiência nos o seu curso em 2016.
processos envolvidos. Contudo, é provável que
no resultado encontrado haja contribuição CONCLUSÃO
significativa da supressão, ainda que parcial,
de atividades operacionais, o que pode gerar Com o fim de dimensionar o impacto
reflexos negativos no preparo e no emprego ocorrido nos custos do COMAER em função
dos meios aéreos disponíveis, assim como nas das medidas de ajuste fiscal adotadas pelo
atividades relativas à segurança e à proteção Governo Federal a partir de 2015, o presente
do tráfego aéreo. trabalho foi desenvolvido de modo a identificar,
Corroborando esse entendimento, o GRAF. segundo três óticas distintas (categorias,
5 apresenta comparativo entre os níveis de horas processos e macroatividades), os valores dos
voadas8 pela Força Aérea Brasileira em 2014 e custos registrados nos anos de 2014, 2015
em 2015, donde se constata que a conjuntura e 2016. Em um segundo momento, efetuou-
restritiva ocasionou redução de 10,87% em tal se análise comparativa dos dados coletados,
índice. Ressalta-se que o custo com tal atividade de modo a evidenciar os principais impactos
é registrado no CC 01.00 – Operações de no perfil de custos do COMAER, com ênfase
Aeronaves, o qual, conforme apresentado na no comportamento dos custos atinentes às
TAB. 4, sofreu redução real de 13,65%. atividades finalísticas do Órgão.
Da análise dos custos por categorias,
evidenciou-se que o contexto de restrição
afetou sobretudo os custos dependentes do
orçamento (bens e serviços), que passaram
por redução significativa no transcorrer do
período analisado. Entre os anos de 2014 e
2015, por exemplo, o declínio observado foi
de 25,11%, em valores nominais, e 32,33%,
quando considerada a correção pelo índice
GRÁFICO 5 – Horas voadas no COMAER - 2014 x 2015. inflacionário. Como consequência, quando
Fonte: SUCONT-1, dados fornecidos pelo COMGAP.

4 - Por se tratar de informação estratégica, o número de horas voadas não foi mencionado ou disposto no gráfico.

56
Revista $EIVA

analisada a participação proporcional de cada ______. Comando da Aeronáutica. Manual


categoria nos custos totais do COMAER, o de Contabilidade da Aeronáutica: MCA 172-3
(Digital). Atualizado pela Portaria SEFA 34/ANAJ,
custo com pessoal passou de 44,53% em 2014 de 14 de agosto de 2014. Boletim do Comando
para 56,17% ao final do primeiro quadrimestre da Aeronáutica, n. 41, 1 mar. 2009. Rio de
de 2016. Janeiro: CENDOC. 2014.
Com relação à ótica de processos, ______. Lei Complementar n. 97, de 09 de junho
de 1999. Dispõe sobre as normas gerais para a
identificou-se que, embora os custos dos organização, o preparo e o emprego das Forças
processos gerenciais tenham sofrido a Armadas. Diário Oficial [da] União, Brasília, 10
maior redução percentual (15,61%), entre jun. 1999. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp97.htm>. Acesso em:
2014 e 2015, os processos finalísticos foram 14 jun. 2016.
os mais afetados em termos de valores
______. Ministério da Fazenda. Secretaria
absolutos, apresentando decréscimo de R$ do Tesouro Nacional. Sistema de Custos do
494.596.508,84, correspondente a 12,31%. Governo Federal: O que é? Pra que serve? E
Os processos de apoio também apresentaram como isso afeta o meu dia a dia? Brasília: MF,
STN, 2013.
variação negativa nominal, correspondente
a R$ 273.649.094,00 (5,15%), impacto GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos
de pesquisa. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
decorrente, principalmente, de constrição no
HORNGREN, Charles T.; DATAR, Srikant M.;
orçamento destinado ao custeio de bens e FOSTER, George. Contabilidade de custos. 11.
serviços para aquele fim. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2004.
No que tange às macroatividades, restou KAPLAN, R. S.; COOPER, R. Custo &
claro o impacto concentrado nas principais Desempenho: Administre seus custos para ser
atividades operacionais desenvolvidas pelo mais competitivo. São Paulo: Futura, 1998.
COMAER. Dos oito centros de custos que MAGLIANO, Giovanni Júnior. O custo da
Aeronáutica para o Brasil. $EIVA: Revista
apresentaram redução nominal nos custos em da Secretaria de Economia e Finanças da
2015, seis são referentes a atividades finalísticas Aeronáutica, Brasília, ano 6, n. 8, outubro, p. 42-
e, dentre essas, Suprimento e Manutenção 48, out. 2015.
de Aeronaves (CC 02.00), Operações de MAHER, Michael. Contabilidade de custos:
Aeronaves (CC 01.00), e Segurança e Proteção criando valor para a administração. São Paulo:
Atlas, 2001.
do Tráfego Aéreo (CC 04.00) foram as mais
impactadas. MARTINS, Eliseu. Contabilidade de custos. 7.
ed. São Paulo: Atlas, 2000.
Dessa forma, diante do cenário prospectivo PORTER, Michael E. Vantagem competitiva:
de continuidade da política de implementação criando e sustentando um desempenho superior.
de medidas austeras para promoção de Tradução de Elizabeth Maria de Pinho Braga. Rio
ajuste fiscal, configura-se necessária a adoção de Janeiro: Campus, 1990.
tempestiva, por parte do COMAER, de medidas VARIAN, H.R. Microeconomia: Princípios
Básicos. 2. ed. Tradução de Luciane Melo. Rio de
capazes de ajustar o curso do perfil de custos do Janeiro: Campus, 1994.
Comando àquele preconizado pela Concepção
Estratégica da Força Aérea 100 (DCA 11-45).

REFERÊNCIAS
ATKINSON, Anthony A.; BANKER, Rajiv
D.; KAPLAN, Robert. S.; YOUNG, S. Mark.
Contabilidade gerencial. São Paulo: Atlas,
2000.
BRASIL. Comando da Aeronáutica. Concepção
Estratégica Força Aérea 100: DCA 11-45/2016.
Boletim do Comando da Aeronáutica, n. 17,
1 fev. 2016. Rio de Janeiro: CENDOC. 2016.
Disponível em: <http://www.cendoc.intraer/
sisbca/bca_pdf/2016/bca_17_01-02-2016.pdf>
Acesso em: 30 maio 2016.
Sgt Johnson / Força Aérea Brasileria

57
Artigo Revista $EIVA

Quo Vadis1 Intendência da


Aeronáutica? uma análise da carreira
profissional do oficial intendente.
Alex Magnago Nogueira – Maj Int
Mestre em Administração – IBMEC-RJ
Aline de Menezes Santos - 1º Ten Int
Mestre em Administração Pública – FGV

Garantir que os Oficiais Intendentes sejam


INTRODUÇÃO adequadamente distribuídos em todo o
Pautado nos preceitos apontados pela território nacional, proporcionando a eles uma
Estratégia Nacional de Defesa, o Comando justa progressão funcional e a capacitação
da Aeronáutica (COMAER) tem adotado necessária para exercício de suas funções,
procedimentos administrativos com o fito de torna-se uma atividade ainda mais importante
racionalizar sua estrutura organizacional. O nesse ambiente de mudanças de paradigmas
Comandante da Aeronáutica, por meio do PCA organizacionais, gerenciais, culturais e
11-110/2015 – Plano de Trabalho Plurianual doutrinários.
da Aeronáutica 2015-2019, determinou uma Nesse contexto, com o objetivo de
reestruturação organizacional e uma gestão promover a progressão funcional, a ampliação
baseada em processos, com objetivo de do conhecimento e o rodízio dos gestores,
desonerar as Unidades do COMAER no que fez-se presente na NSCA 30-6/2014: Norma
tange às atividades burocráticas e de apoio, de Sistema que dispõe sobre Elaboração de
propiciando foco nas missões-fim (BRASIL, Proposta de Plano de Movimentação, por meio
2015a). da Portaria COMGEP nº 2.965/DPM, de 11
Em linhas gerais, busca-se implementar de novembro de 2015, a obrigatoriedade de
uma organização voltada para políticas inclusão em proposta de Plano de Movimentação
de otimização, em que a capacidade (PLAMOV) dos militares pertencentes ao
administrativa do COMAER é ampliada por Quadro de Oficiais de Intendência que venham
meio da concentração de atividades afins, a completar os seguintes períodos ininterruptos
eliminando redundâncias. As atividades de permanência: a) quatro anos na mesma
administrativas comuns serão concentradas em Organização Militar; ou b) seis anos na mesma
Grupamentos de Apoio (GAP), que passarão localidade (BRASIL, 2015).
a ser responsáveis pela condução das Apesar de a NSCA 30-6/2014 ressaltar
atividades de licitações, contratos, Convênios e a importância de se garantir a progressão
instrumentos congêneres, transportes, finanças, funcional dos Oficiais Intendentes, quando a
subsistência, almoxarifado, patrimônio móvel e legislação relacionada ao tema é analisada,
imóvel, dentre outras. não se identificam definições específicas
O Quadro de Oficiais Intendentes está sobre como essa progressão na carreira será
diretamente envolvido nesse processo de realizada, especialmente frente à variedade de
transformação do COMAER, uma vez que áreas de atuação e funções que podem ser
esses profissionais, majoritariamente, são desempenhadas pelos Oficiais Intendentes.
responsáveis por exercerem as chefias das Surgem então novas oportunidades para os
funções administrativas supramencionadas. estudos sobre a carreira do Oficial Intendente,

1 - Quo Vadis é uma expressão latina que significa Para onde vais? ou Aonde vais?

58
Revista $EIVA

especialmente pela possibilidade de ampliar a entre os interesses organizacionais e pessoais,


compreensão de que as escolhas profissionais trazendo importância e complexidade à
desse grupo estão condicionadas e associadas atividade de gerenciar carreiras. Schein
ao atual cenário de profundas mudanças. (1995) aponta que as rápidas mudanças no
Além disso, a adequada gestão dos recursos trabalho demandam mais flexibilidade, e que
humanos é um caminho essencial para o futuro a gestão da carreira é mister para o sucesso
do COMAER, como descrito na Diretriz do organizacional.
Comando da Aeronáutica 11-45/20162, sendo O termo carreira pode assumir inúmeros
o fator humano a fortaleza da instituição, a qual significados: mobilidade ocupacional,
deve buscar alocar o homem certo ao lugar estabilidade profissional ou até mesmo a ideia
certo, respeitando conhecimentos, habilidades de progresso constante a partir de um percurso
e atitudes individuais. sistematizado a ser percorrido por um indivíduo
Traduzido, então, pela busca do (DUTRA, 1996; SCHEIN, 1996; TOLFO, 2002).
desenvolvimento de pessoas, aqui representado A carreira profissional, aqui compreendida como
pela tríade: progressão funcional, ampliação uma sequência de experiências de trabalho das
do conhecimento e rodízio dos gestores, este pessoas ao longo do tempo (ARTHUR; HALL;
trabalho é fruto de uma pesquisa científica LAWRENCE, 1989), envolve uma série de
inédita acerca da carreira do Oficial Intendente, estágios que refletem necessidades, motivos e
capitaneada pela Diretoria de Intendência aspirações individuais, além das expectativas e
(DIRINT), e investiga o seguinte problema de imposições da organização que pode englobar
pesquisa: Quais aspectos poderiam nortear políticas, procedimentos e decisões ligadas a
o desenvolvimento da carreira do Oficial espaços ocupacionais, níveis organizacionais,
Intendente em um cenário de profundas compensação e movimentos de pessoas
mudanças organizacionais? (DUTRA, 1996).
Além desta introdução, o trabalho subdivide- No passado, os estudos de carreira
se ainda em outras quatro partes. Inicia-se com enfocavam os cargos e ocupações do
a revisão teórica e, em seguida, descreve-se a indivíduo, enquanto na atualidade se dirigem
metodologia utilizada no desenvolvimento da a suas percepções e autoconstruções dos
pesquisa. Na quarta seção, são evidenciados fenômenos de carreira (MARTINS, 2001).
os resultados alcançados e, finalmente, são Em uma perspectiva tradicional, a carreira é
apresentadas as considerações finais. interpretada como um processo de ajustamento
da pessoa a uma ocupação escolhida no
1. CARREIRA PROFISSIONAL EM qual implica noções de hierarquia, de escada
TRANSFORMAÇÃO ou de sequência de papéis com maiores
responsabilidades dentro de uma ocupação
Expressões como “as pessoas são nosso
(BASTOS, 1997).
principal patrimônio” são frequentemente
proferidas por administradores e demonstram Em contrapartida, Evans (1996) aponta
a importância da ferramenta da gestão de para o fato de que as carreiras estão evoluindo
pessoas para o desenvolvimento de uma para uma configuração espiral, em zigue-zague,
vantagem competitiva sustentável. É necessário substituindo o tradicional formato de uma
incrementar as condições de desenvolvimento escada, com a alegação de que a trajetória de
dos funcionários de modo que, a partir da carreira em espiral se alinha e sintoniza com as
valorização do capital intelectual, eles possam necessidades atuais ao passo que possibilita o
contribuir mais significativamente para o desenvolvimento de pessoas com amplitude de
sucesso da organização (PORTER, 1990). habilidades. Dessa maneira, esses profissionais
apresentam tanto a expertise de especialistas
Maximizar o desempenho dos funcionários,
quanto a visão holística de um generalista.
no entanto, exige cada vez mais a conciliação

1 - Divulgada pelo Aviso Interno nº 4/GC3: Divulga a Diretriz de Comando do Comandante da Aeronáutica, publicado no
Boletim do Comando da Aeronáutica, n. 66 de 9 de abril. 2015

59
Revista $EIVA

Ainda sobre a importância da à Marinha do Brasil e ao Exército Brasileiro.


amplitude de habilidades e das condições Ressalta-se a amplitude dos estudos atrelados
de desenvolvimento de pessoas que devem ao campo, e que nesta pesquisa considerou,
ser oferecidas pela organização, cumpre primordialmente, a percepção dos Oficiais
destacar o que preconiza a DCA 11-45/2016 - Intendentes para traçar os aspectos norteadores
Concepção Estratégica Força Aérea 100: da carreira.
5.9.3 A gestão dos recursos humanos Um questionário para pesquisa de opinião,
aperfeiçoará os processos de recrutamento de cunho quali-quantitativo, foi elaborado
e seleção, enfocando a formação e a
especialização com vistas ao cumprimento
a fim de mensurar a percepção dos Oficiais
da missão constitucional da Aeronáutica, Intendentes sobre os aspectos levantados pelo
considerando tanto o preparo e emprego da FAB, GT: o instrumento conteve vinte e cinco perguntas
quanto o aprimoramento técnico-profissional, de escala de avaliação do tipo Likert, com 5
visando à elevação dos conhecimentos que pontos, em que o valor 1 está associado com a
contemplam os níveis intelectual, cultural e
maior discordância com a assertiva formulada,
analítico dos seus integrantes. (...) 5.9.6 O
aprendizado de outros idiomas, o constante e o valor 5 com a maior concordância.
aperfeiçoamento pós acadêmico, a interação Vieira (2009) afirma que a escala Likert é
curricular nos níveis mais elevados da carreira adequada para medir percepções, satisfação,
das Forças Armadas e a atualização por eficácia, probabilidade ou frequência de um
intermédio de intercâmbios tornam-se requisitos determinado evento. E, neste trabalho, ela foi
fundamentais. (BRASIL, 2016, p. 32)
utilizada para medir percepções, satisfação
Nesta pesquisa, tem-se como objetivo o e frequência dos comportamentos daqueles
estudo da carreira sob a premissa de que as que responderam ao questionário. Fez-se uso,
organizações devem oferecer condições de também, de uma pergunta aberta que exigiu
desenvolvimento de pessoas a fim de valorizar que o respondente digitasse sua resposta em
seu capital intelectual e de conquistar uma uma caixa de comentários.
diferenciação estratégica.
Segundo informações extraídas do
2. GRUPO DE TRABALHO - GT Sistema de Informações Gerenciais de Pessoal
(SIGPES), o universo de Oficiais Intendentes da
CARREIRA
ativa em agosto de 2015 era de 914. Dessa
Partindo da premissa que a valorização população, 614 Oficiais possuíam e-mails
do Quadro de Intendência da Aeronáutica cadastrados na base de dados do sistema,
e a consequente retenção de talentos exige caracterizando a amostra da pesquisa. Foram
a proposição de planos de carreira e os obtidas 314 respostas válidas ao questionário,
correspondentes programas de capacitação, aproximadamente 40% da população.
a fim de atender às demandas de uma Força Para a análise dos dados empregou-se
Aérea moderna, a DIRINT instituiu um Grupo o método de análise de conteúdo. A análise
de Trabalho (GT) composto por cinco Oficiais de conteúdo é um conjunto de técnicas de
Intendentes, por meio da Portaria DIRINT nº análise das comunicações. Segundo Vieira
42-T/AGIRH3, de 15 de março de 2015, para e Zouain (2004), a análise de conteúdo visa
estudar cientificamente o tema. Neste artigo, ao conhecimento de variáveis de ordem
um recorte no produto do GT foi efetuado a psicológica, sociológica, histórica, entre outras,
fim de responder o problema da pesquisa. por meio de um processo de dedução com base
Nas considerações transitórias do trabalho, em indicadores reconstruídos a partir de uma
a abordagem metodológica foi desenvolvida amostra de mensagens específicas. A análise
em duas fases: primeiramente, a análise dos de conteúdo busca entender a mensagem, o
aspectos que envolvem a carreira do oficial significado transmitido pela mensagem, e o que
intendente, mediante o estudo da legislação pode estar implícito.
em vigor no COMAER, comparativamente Na segunda instância, identificou-
se a necessidade de validar as tendências

3 - Publicada no Boletim do Comando da Aeronáutica, n. 74, de 23 de abril de 2015.

60
Revista $EIVA

identificadas com o questionário. Empregou- eficiência da organização. Nesse diapasão,


se a metodologia denominada Grupo Focal o Art. 41 do RADA (RCA 12-1) prevê que a
que promoveu o intercâmbio de experiências sequência de substituições para assunção de
para melhor entendimento das percepções e cargos deverá respeitar a precedência e a
ratificou os vieses apontados pelo questionário. qualificação exigidas (BRASIL, 2015b).
O Grupo Focal foi composto por três oficiais O questionário examinou a percepção dos
superiores, um oficial intermediário e um oficial oficiais intendentes quanto à complexidade
subalterno, os quais representaram as diversas das funções por eles exercidas ao longo de
gerações de oficiais da ativa atualmente em suas carreiras. Solicitou-se aos respondentes
Unidades Gestoras Executoras. Alguns dos atribuir uma gradação de 1 a 10 às funções
assuntos discutidos durante o encontro foram: mais rotineiras desempenhadas pelos Oficiais
gestão do conhecimento em Intendência, do Quadro. Os maiores graus de complexidade
capacitação continuada, progressão ficaram com as funções de controle interno,
funcional na carreira, acompanhamento e licitações e gestão de contratos, com médias de
aprimoramento da formação na Academia da 9.02, 8.86 e 8.07, respectivamente. As funções
Força Aérea (AFA) e no período pós-formação. de subsistência e de finanças foram consideradas
de mediana complexidade, com médias de
3. DIAGNÓSTICO SOBRE A 7.60 e 7.06, respectivamente. Já as funções de
CARREIRA DO OFICIAL administração de materiais e de registro foram
INTENDENTE avaliadas como de menor complexidade, com
médias de 6.26 e 4.93, respectivamente.
Visando a identificar quais aspectos
poderiam nortear a progressão funcional Os dados revelaram que há funções
do oficial intendente, o questionário buscou que demandam expertise e experiência dos
compreender dois macrotemas: desenvolvimento gestores para um bom desempenho. Verificou-
da carreira e capacitação profissional. se que é imperiosa a necessidade de gestões
para que as funções consideradas complexas
No que tange ao desenvolvimento da
somente sejam exercidas por profissionais mais
carreira, diagnosticou-se: gradação das
experientes e capacitados.
funções de intendência; correlação entre
postos e funções; rodízio e alinhamento de 3.2 Especialização
interesses profissionais e pessoais. Dois outros A complexidade de algumas funções
temas foram bastante citados nas contribuições desempenhadas por oficiais intendentes
abertas e serão também apresentados, a traz à tona a questão sobre a viabilidade do
saber: especialização e gestão centralizada COMAER desenvolver pessoas altamente
da carreira. Já no quesito de capacitação especializadas para seu exercício e em que
profissional, identificou-se percepções sobre os momento da carreira essa especialização
cursos técnicos realizados durante a carreira. deve ocorrer. Depoimentos dos respondentes
Destarte, os achados referentes aos abordaram indiretamente o tema ao falarem
aspectos norteadores da progressão funcional sobre o rodízio funcional, como pode ser
e da capacitação pós AFA serão descritos a observado abaixo:
seguir. Rodízio - contraproducente. Retirar um
especialista de sua função com certeza
3.1 Gradação das funções de será mais gasto para unidade treinar outro
intendência especialista [Contribuição de oficial Intendente
A colocação profissional é uma atividade com 10 a 20 anos de formado] (GUERREIRO,
básica na gestão de pessoas. Em outras 2015, p. 60).
palavras, a delegação das diferentes atividades Até capitão, o oficial assumiria vários cargos
organizacionais às pessoas mais preparadas por sistema de rodízio. A partir de Major, ele
poderia se fixar e se especializar em cargos
deve ser o ponto de partida. Isso porque
que almejasse ou em que mais se destacasse
fatores como complexidade, experiência e [Contribuição de oficial Intendente com 5 a 10
capacitação influenciam no desempenho e anos de formado] (GUERREIRO, 2015, p. 60).

61
Revista $EIVA

Tais considerações reforçam a hipótese mais tempo de aprendizado em uma única


de que há funções que, reconhecidamente, função.” (Contribuição de oficial Intendente
carecem de especialistas. Catalogá-las deve ser com 10 a 20 anos de formado) (GUERREIRO,
uma premissa para gerenciar a capacitação e a 2015, p. 58).
distribuição de profissionais para essas funções, 3.3.2 Rodízio funcional entre OM
na busca por alocar o profissional “certo” à
função “certa”, na hora “certa”. Quanto à fase O questionário buscou identificar a
da carreira ideal à especialização, os dados concordância dos oficiais intendentes com o
indicam que ela deve iniciar nos postos de sistema de rodízio entre OMs a cada quatro
capitão ou major. anos. Houve forte discordância com a adoção
dessa sistemática como forma de proporcionar
3.3 Rodízio aumento de experiência profissional e de reduzir
Uma das formas utilizadas pelo vícios. Das respostas dessa questão, depreendeu-
COMAER para proporcionar aos gestores se que 89 (24,5%) discordaram plenamente,
vivência e experiência nas diferentes áreas 77 (21,2%) discordaram parcialmente e 79
administrativas é o rodízio funcional, previsto no (21,8%) não concordaram nem discordaram.
§2º do Art. 41 do RADA, a ser promovido pela Apenas 32,5 % dos respondentes concordaram
Administração sempre que possível ou a cada parcialmente ou concordaram plenamente com
período determinado (BRASIL, 2015b). Desse a assertiva proposta, como pode ser observado
modo, investigou-se a utilização do rodízio no gráfico da FIG. 1.
como prática de gestão que proporciona o É recomendável a mudança de Organização Militar a cada 4 anos,
a fim de garantir maior experiência no exercício das funções e de
aumento de experiência profissional. ampliar os conhecimentos sobre as características FAB.

3.3.1 Rodízio funcional na mesma OM


De maneira geral, o rodízio funcional dentro
da OM, a cada dois anos, foi reconhecido
como sendo benéfico para o acúmulo de
experiência nas diferentes áreas administrativas
e para a redução de vícios comuns decorrentes
do exercício prolongado da função. A assertiva
que tratou sobre o rodízio funcional a cada dois FIGURA 1 - Gráfico de Rodízio Funcional entre OM
Fonte: GUERREIRO, 2015, p. 61
anos sinalizou que 96 (26.7%) concordaram
plenamente, 88 (24.4%) concordaram Os respondentes também apresentaram
parcialmente, 72 (20%) não concordaram nem forte discordância quanto à necessidade de se
discordaram. Apenas (28.9%) dos respondentes realizar rodízio de sede, isto é, entre cidades,
discordaram parcialmente ou discordaram a cada seis anos, como forma de criar uma
plenamente da assertiva. visão holística do COMAER: 114 oficiais
(31,55%) discordaram plenamente, 80 (22,1%)
As considerações sobre o tema rodízio
discordaram parcialmente e 79 (21,8%) não
foram ratificadas pelo Grupo Focal com
concordaram nem discordaram. Apenas 24,6
uma ressalva: apesar de haver tendência
% dos oficiais concordaram parcialmente ou
de concordância sobre a necessidade de
concordaram plenamente com a assertiva
sua realização, há fortes indicações de que
proposta.
a realização do rodízio deve considerar as
particularidades de cada organização, os tipos Alguns depoimentos para a não
de funções exercidas e a complexidade dessas concordância com essas duas últimas
funções, não devendo ser tratada de forma sistemáticas de rodízio puderam ser obtidas
ortodoxa, como observado abaixo: por meio da análise das respostas abertas
e contribuições do Grupo Focal. Ficou
Existem OMs com gestão relativamente
evidenciada a percepção de que a simples
simples e cartesiana, que permite o
troca de OM ou de sede não garante aumento
esgotamento do aprendizado em tempo
de expertise, devendo ser consideradas as
até menor. Contudo, há Organizações que
características organizacionais e as funções
possuem gestão tão complexa que pode levar

62
Revista $EIVA

envolvidas. Os respondentes deixaram claro Agentes da Administração através de cursos


que, sem uma gestão prévia da carreira, não ou estágios, capacitando-os ao exercício pleno
há como garantir o ganho de experiência. Os das atividades (BRASIL, 2015b).
trechos a seguir embasam as conclusões acima Nesse contexto, foi questionado se
descritas. os oficiais sentiam-se bem preparados ao
O exercício de uma mesma função em assumirem as funções de intendência que
OM distinta não implica, necessariamente, eles desempenharam durante a carreira.
um desafio profissional ou ampliação de Das respostas obtidas, 15 oficiais (4,1%)
conhecimentos [Contribuição de oficial concordaram plenamente, 100 (27,6%)
Intendente com 10 a 20 anos de formado] concordaram parcialmente, 137 (37,8%) não
(GUERREIRO, 2015, p. 62). concordaram nem discordaram, 85 (23.5%)
E quanto à mudança de sede, é muito discordaram parcialmente e 25 (6.9%)
variável, pois existem sedes que proporcionam discordaram plenamente da assertiva proposta.
todo um crescimento profissional, não Considerando a importância de o
sendo necessária a mudança a cada 6 anos profissional possuir as competências necessárias
[Contribuição de oficial Intendente com 10 a 20 para o exercício de suas funções, sentindo-se
anos de formado] (GUERREIRO, 2015, p. 63). seguro ao desempenhá-las, verifica-se que o
3.4 Gestão centralizada da carreira número de respondentes que concordaram
do oficial intendente plenamente ou parcialmente com a assertiva
formulada foi muito baixo, apenas 31,7%.
Os dados coletados nas contribuições Dessa forma, há indicações de que é necessário
abertas apontaram uma demanda por aperfeiçoar o desenvolvimento dos oficiais
aumento da participação da DIRINT como intendentes ao longo da carreira, especialmente
Órgão responsável pela gestão da carreira do antes de assumirem suas funções.
oficial intendente, de forma que a progressão
funcional contemple critérios técnicos e claros. A demanda pelo aperfeiçoamento da
capacitação técnica também ficou evidenciado
3.5 Alinhamento de interesses durante a análise das respostas à concordância
profissionais e pessoais da seguinte assertiva: “De modo geral, realizei
Quando questionados quanto à cursos de capacitação técnica para as funções que
possibilidade de escolha de um “caminho de exerci durante a carreira”. Das respostas obtidas,
carreira” que atrelasse aptidão e interesses 75 oficiais (20,8%) discordaram plenamente,
pessoais do oficial aos interesses do COMAER 100 (27,8%) discordaram parcialmente, 100
como fator positivo para a motivação com a (27,8%) não concordaram nem discordam, 62
carreira, verificou-se fortíssima concordância (17,2%) concordaram parcialmente e apenas 23
com a assertiva. Das respostas, 225 oficiais (6.4%) concordaram plenamente com a assertiva
(62,2%) concordaram plenamente, 97 (26,8%) proposta, conforme FIG. 2:
concordaram parcialmente e 29 (8%) não De modo geral, realizei cursos de capacitação técnica para as
funções que exerci durante a carreira.
concordaram nem discordaram. Apenas 3%
dos respondentes discordaram parcialmente
ou discordaram plenamente da assertiva
proposta.
3.6 Cursos técnicos realizados
durante a carreira
O desenvolvimento de pessoas para a
perfeita execução das atividades operacionais
é critério chave para garantir a eficiência FIGURA 2 - Gráfico de capacitação técnica
administrativa. No âmbito do COMAER, Fonte: GUERREIRO, 2015, p. 75
a capacitação é enfatizada no §3º do Art. Haja vista o importante papel dos cursos
41 do RADA, o qual prevê que a promoção de capacitação técnica para a atualização e o
de atualização profissional periódica dos desenvolvimento profissional, e que esses cursos

63
Revista $EIVA

viabilizam a redução de vícios e a disseminação Atualmente, com a atual conjectura


de boas práticas administrativas, verifica-se orçamentária, fica praticamente impossível um
Intendente efetuar a sua necessária atualização
que poucos oficiais concordaram plenamente profissional, tendo em vista que dificilmente os
ou concordaram parcialmente com a assertiva Comandantes enxergam isso como prioridade
proposta, apenas 23,6%. É preciso aumentar [Contribuição de oficial com 5 a 10 anos de
a quantidade de cursos técnicos relacionados formado] (GUERREIRO, 2015, p. 76).
às funções exercidas, realizados pelos oficiais [...]tenho observado que a capacitação do
intendentes ao longo da carreira. militar está condicionada, muitas vezes, ao
interesse individual do militar ou à oportunidade
Analisando as respostas abertas e as de servir em algumas OM que tenham o
contribuições do Grupo Focal, verifica-se que aperfeiçoamento de seus profissionais como
a falta de recursos financeiros das Unidades, objetivo [Contribuição de oficial com 5 a 10
a falta de oportunidades e a sobrecarga de anos de formado] (GUERREIRO, 2015, p. 76).
trabalho do oficial intendente estão entre as As principais conclusões sobre quais
razões mais citadas para a não realização aspectos poderiam nortear o desenvolvimento
de cursos de reciclagem, conforme pode ser da carreira do oficial intendente estão
observado nos trechos a seguir: apresentadas no QUADRO 1.
QUADRO 1
Aspectos norteadores do desenvolvimento de carreira
Tema Conclusão
Percebe-se claramente que há funções que necessitam de um maior preparo e experiência
Complexidade das profissionais dos gestores para serem bem desempenhadas. Dessa forma, são necessárias
funções gestões para que as funções consideradas complexas somente sejam exercidas por profissionais
mais experientes e capacitados.
O rodízio funcional dentro da OM, apesar de ser considerado uma boa prática pela maioria
dos respondentes, precisa respeitar as características das Unidades, assim como considerar a
curva de aprendizado para o desempenho de cada função. A simples troca de OM ou de sede
Rodízio
não garante ganho de experiência, devendo ser consideradas as características das Unidades e
das funções envolvidas. Sem uma gestão prévia da carreira, não há como garantir que haverá
ganho de experiência, e que a FAB e os oficiais sairão beneficiados com a movimentação.
Existem funções que reconhecidamente carecem de especialistas, e o COMAER deve preocupar-
se em catalogá-las, além de gerenciar a capacitação e a distribuição de profissionais para
Especialização
essas funções. Quanto à fase da carreira em que deveria ocorrer a especialização, houve
indicações de que ela deveria iniciar nos postos de capitão ou major.
Órgão Central Foi observada a demanda por uma maior participação da DIRINT como Órgão responsável
responsável por pela gestão da carreira do oficial intendente, de forma que a progressão funcional do oficial
gerenciar a carreira intendente possa contemplar critérios mais técnicos e claros.
Alinhamento de
É impreterível o registro centralizado não só das oportunidades de trabalho e de cursos existentes
interesses da FAB com
no COMAER, mas também dos interesses pessoais atrelados a carreira, pois somente assim
interesses profissionais
pode-se proporcionar igualdade de oportunidade a todos os oficiais intendentes.
pessoais
Há indicações de que é necessário melhorar a capacitação dos oficiais intendentes ao longo da
carreira, especialmente antes de assumirem suas funções. É necessário aumentar a quantidade
Cursos técnicos
de cursos técnicos relacionados às funções exercidas, realizados pelos oficiais intendentes ao
realizados durante a
longo da carreira. A falta de recursos financeiros da Unidades, a falta de oportunidade e a
carreira
sobrecarga de trabalhos do oficial intendente estão entre as razões mais citadas para a não
realização de cursos de reciclagem.
Fonte: GUERREIRO, 2015 (adaptado)

adequada progressão funcional que corrobore


CONCLUSÃO os novos desafios com o cumprimento da
A Intendência da Aeronáutica assume missão do COMAER.
relevante papel em um cenário de Todavia, quando as normas concernentes
racionalização administrativa, especialmente à progressão funcional dos Oficiais Intendentes
por conta de seu protagonismo na atuação são examinadas, constata-se a inexistência de
de um GAP. Desse modo, é imperioso garantir documentos que preconizem definições acerca
que esses profissionais exerçam com primazia do tema, indicando a atual diversidade de
suas atividades, proporcionando-lhes uma trajetórias de carreira.

64
Revista $EIVA

Mediante a análise dos dados coletados, REFERÊNCIAS


constatou-se que a teoria de Evans (1996) é
ARTHUR, M. B.; HALL, D. T; LAWRENCE, B. S.
aplicável ao passo que os Oficiais Intendentes Handbook of career theory. New York: Cambridge
apresentam tanto a expertise de especialistas University Press, 1989.
quanto a visão holística de um generalista, BASTOS, A. V. B. A escolha e o comprometimento com
favorecendo uma carreira em espiral, trazendo à a carreira: um estudo entre profissionais e estudantes de
Administração. Revista de Administração, São Paulo,
tona questões de como desenvolver pessoas com v.32, n.3, p. 28-39, jul/set, 1997.
tamanha amplitude de habilidades, por exemplo. BRASIL. Comando da Aeronáutica. Portaria COMGEP
A pesquisa revelou que há funções que, n° 2.965/DPM, de 11 de novembro de 2015. Aprova
a 2ª modificação da NSCA 30-6 Norma de Sistema
além de uma visão gerencial, demandam dos que dispõe sobre Elaboração de Proposta de Plano de
gestores uma expertise e um conhecimento de Movimentação, no âmbito do COMAER. Boletim do
Comando da Aeronáutica, n. 221, 02 dez de 2015.
causa para um desempenho excelente. Logo, Rio de Janeiro: CENDOC. 2015.
são necessárias gestões para que as funções ______. Comando da Aeronáutica. Estado-Maior
consideradas complexas somente sejam da Aeronáutica. Plano de Trabalho Plurianual da
Aeronáutica 2015-2019: PCA 11-110. Boletim do
exercidas por profissionais mais experientes Comando da Aeronáutica, n. 95, 22 abr. 2015. Rio
e, ainda que tenham sido previamente de Janeiro: CENDOC. 2015a. Disponível em: <http://
www.cendoc.intraer/sispublic/publicacoes/ostensivas/
capacitados. Aliás, diagnosticou-se a carência PCA11-110.pdf>. Acesso em: 15 maio 2015.
de uma Organização responsável pela gestão BRASIL. Comando da Aeronáutica. Concepção
centralizada e individualizada da carreira do Estratégica Força Aérea 100: DCA 11-45/2016.
Oficial Intendente, com o estabelecimento de Boletim do Comando da Aeronáutica, n. 17, 1 fev.
2016. Rio de Janeiro: CENDOC. 2016. Disponível em:
critérios técnicos e transparentes. <http://www.cendoc.intraer/sisbca/bca_pdf/2016/
A técnica de rodízio funcional foi bca_17_01-02-2016.pdf>. Acesso em: 1 fev. 2016.
amplamente discutida e precisa ser aprimorada, BRASIL. Comando da Aeronáutica. Regulamento de
Administração da Aeronáutica (RADA): RCA 12-
uma vez que muitos respondentes reportaram 1/2015. Boletim do Comando da Aeronáutica, n.
que a simples movimentação de OM ou de 64, 7 abr. 2015. Rio de Janeiro: CENDOC. 2015b.
Disponível em: <http://www.cendoc.intraer/sispublic/
localidade não garante a progressão e o publicacoes/ostensivas/RCA12-1.pdf>. Acesso em: 15
aperfeiçoamento. Há de se considerar as maio 2015.
características pessoais e organizacionais no GUERREIRO, Priscila Machado da Silva (Coord.).
Relatório do Grupo de Trabalho sobre a carreira
desempenho das atividades. Certificou-se dos oficiais intendentes. Rio de Janeiro: Diretoria de
ainda a existência de funções que carecem de Intendência, 2015, 151 p. Não publicado.
especialistas, as quais devem ser catalogadas DUTRA, J. S. Administração de carreiras: uma
pelo COMAER, visando à gerência da proposta para repensar a gestão de pessoas. São
Paulo: Atlas, 1996.
capacitação e da alocação de talentos.
EVANS, P. Carreira, sucesso e qualidade de vida.
À guisa de conclusão, este trabalho ilustra o Revista de Administração de Empresas. São Paulo,
futuro da carreira do Oficial Intendente e pode v.36, n.3, p. 14-22, jul./set. 1996.
ser profícuo no estudo das demais carreiras PORTER, M. E. The competitive advantage of
nations. London: McMillan, 1990.
do COMAER, uma vez que identifica aspectos
MARTINS, H. T. Gestão de carreiras na era do
indispensáveis para o desenvolvimento de conhecimento: abordagem conceitual e resultados de
pessoas. Pesquisas futuras podem examinar de pesquisa. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001.
que forma a gestão centralizada da carreira TOLFO, S. R. A carreira profissional e seus movimentos:
revendo conceitos e formas de gestão em tempos
poderia ser aplicada, utilizando ferramentas de mudanças. Revista Psicologia Organizações e
modernas de desenvolvimento de pessoas Trabalho, v. 2, n. 2, p. 39-63, 2002.
como o coaching ou o mentoring, além de SCHEIN, E. Career Survival: strategic job and role
aprofundar as conclusões deste trabalho, planning. San Diego: Pfeiffer & Company, 1995.
identificando outros aspectos norteadores ________. Career anchors revisited: implications for
career development in the 21st century. The Academy
com base em análise pormenorizada da of Management Executive, v. 10, n. 4, p. 80-88,
estrutura organizacional do COMAER, mais 1996.
especificamente dos cargos exercidos por VIEIRA, M M F; ZOUAIN, D. Pesquisa qualitativa em
administração. Rio de Janeiro: FGV, 2004.
Oficiais Intendentes, visando traçar planos de
carreira e identificar demandas de capacitação. VIEIRA, S. Como elaborar questionários. São Paulo:
Atlas, 2009.

65
Artigo Revista $EIVA

Avaliação do desempenho de fundos


de investimento de obrigações:
evidência para o mercado brasileiro.
Alexandre Sourisseau Cabral – Maj Int
Mestre em Finanças -UMINHO

INTRODUÇÃO 1. REVISÃO DE LITERATURA


Na segunda metade da década de 1990, o Os estudos acadêmicos sobre fundos de
Brasil implementou uma nova política monetária, investimento têm procurado aplicar metodologias
alicerçada no regime de metas de inflação. de avaliação de desempenho cada vez mais
Dessa forma, conseguiu atingir a estabilidade robustas em termos da medida de risco utilizadas,
inflacionária. Nesse cenário, surgiram novas como as condicionais e multifatoriais.
demandas para o setor financeiro, e a partir disso Estudos (Fama; French, 1989; Ferson;
houve a consolidação dos fundos de investimento, Schadt, 1996), concluíram que variáveis
particularmente os de obrigações (renda fixa), relacionadas às condições econômicas são úteis
que permitem o investimento tanto em empresas em previsões de retornos de ações e títulos, pelo
como em dívida pública. que a sua inclusão nas medidas de avaliação de
Em razão da crescente importância deste desempenho se torna relevante. Ferson e Warther
tipo de aplicação financeira no Mercado (1996) e Ferson e Schadt (1996), na proposição
Brasileiro, torna-se necessário avaliar o seu do modelo condicional, assumem que os alfas
desempenho e conhecer os fatores de mercado e betas alteram seu valor, de forma dinâmica,
que afetam os fundos de renda fixa, que são os com as alterações das condições econômicas.
mais representativos entre os fundos. Por isso, Assim, os modelos condicionais de avaliação de
avaliou-se o desempenho por meio de modelos desempenho consideram a variabilidade do risco
não-condicionais e condicionais. Ressalta- e do desempenho do gestor ao longo do tempo.
se que existem muito poucos estudos sobre o Em geral, os resultados destes estudos apontam
seu desempenho. É reconhecido na literatura que os gestores de fundos não são capazes de
(FERSON; SCHADT, 1996) que os modelos superar estratégias passivas.
condicionais são mais robustos, por permitirem No estudo de Laes (2010), foi considerada a
que o desempenho e o risco variem ao longo do dimensão dos fundos, sendo que as carteiras com
tempo, em função de variáveis econômicas. Patrimônio Líquido maior apresentam um alfa
Esse artigo científico, que apresenta e maior. Em todo o caso, nenhuma das carteiras
discute métodos e técnicas de avaliação de foi capaz de superar o mercado.
desempenho, tem como objetivo principal O estudo de de Vilella e Leal (2008)
avaliar o desempenho de fundos de investimento salienta a dificuldade de encontrar benchmarks
brasileiros de renda fixa, usando modelos não- que definam o comportamento dos fundos de
condicionais e condicionais de avaliação de renda fixa, o que corrobora a necessidade de
desempenho, no período de maio de 2004 a desenvolver modelos multifatoriais para analisar
abril de 2014. Como objetivo secundário, analisa- o desempenho destes fundos.
se a utilização de oito diferentes benchmarks, de Alguns estudos Brasileiros sugerem fatores
forma a determinar qual deles melhor explica os que são importantes na avaliação de ativos de
retornos da carteira geral dos 107 fundos. renda fixa: Fonseca, et al. (2007) pesquisam a
influência do CDI, do IBOVESPA e do câmbio

66
Revista $EIVA

Dólar/Real, concluindo que o IBOVESPA não O estudo trabalha com séries temporais que
é significativo nos modelos de desempenho e podem apresentar fenômenos estatísticos como
que os outros dois índices são significativos. a não uniformidade das variâncias das variáveis
O trabalho de Bogdanski, Tombini e Werlang (heterocedasticidade) e a influência de um
(2000) mostra que, na atual política monetária valor sobre seus vizinhos (autocorrelação), que
Brasileira, algumas variáveis macroeconômicas comprometem a confiabilidade dos resultados
são de fundamental importância no desempenho finais. Para a correção desses fenômenos, aplica-
de fundos de renda fixa: inflação, medida pelo se o procedimento de Newey-West (1994).
IPCA, o PIB, a taxa de câmbio Dólar/Real, a
taxa de juros básica (SELIC) e a transparência da 3. DADOS
política monetária.
Para obter a amostra dos fundos, as séries
2. METODOLOGIA de retorno líquidos e demais dados pertinentes é
utilizada a base de dados da ANBIMA (software
Para avaliar o desempenho dos fundos de SI-ANBIMA), a partir de suas cotações mensais.
investimento de renda fixa, são utilizados modelos São construídas três carteiras: uma contendo
não-condicionais e condicionais. todos os fundos (carteira geral), outra com
O modelo não-condicional de Jensen (1968), os fundos menores (PL menor) e outra com os
baseado no CAPM (Capital Asset Pricing Model) maiores fundos (PL maior), segundo o critério do
é dado pela seguinte equação: Patrimônio Líquido (PL). O critério definido para
rp,t - rp,t = αp + βp (rm,t - rf,t) + εp,t (1) classificar os fundos em maiores/menores é a
onde rp,t representa o retorno da carteira mediana dos Patrimônios Líquidos dos fundos
p no período t, rf,t representa a taxa isenta de coletados, que atinge o valor de R$ 372 milhões.
risco no período t, rm,t representa o retorno de Cinquenta e três fundos ficaram abaixo da
mercado durante o mesmo período, βp é o risco mediana e cinquenta e quatro igual ou acima.
sistemático da carteira p e εp,t é o termo de erro. Foram excluídos da análise os menores
O desempenho da carteira é medida pelo αp. fundos, com patrimônio líquido menor que R$
O modelo não condicional multifatorial é 5.000.000,00 bem como os que que apresentam
caracterizado pela seguinte equação: menos que 24 observações (mensais).
rp,t - rp,t = αp + βp1 (rm1,t - rf,t) + βp2 (rm2,t - rf,t) + Escolheu-se como taxa livre de risco a taxa
βp3 (rm3,t - rf,t) + βp4 (rm4,t - rf,t) + εp,t (2), onde rm1,t, do Certificado de Depósito Interbancário (CDI),
rm2,t, rm3,t e rm4,t constituem os fatores de risco. conforme escolha feita também por Securato,
Chára e Senger (1999) e Laes (2010). Seus
Segundo o modelo totalmente condicional, valores são extraídos do sítio eletrônico do Banco
não só os betas podem ser dinâmicos e mudarem Central do Brasil.
com as condições de mercado, o alfa pode
apresentar um comportamento semelhante. O benchmark escolhido é o Índice de
Assim, Christopherson, Ferson e Glassman Renda Fixa do Mercado (IRF-M), após a análise
(1998) estendem o modelo de Ferson e Schadt comparativa feita entre oito benchmarks de renda
(1996), permitindo alfas variáveis ao longo do fixa para o mercado brasileiro (IRF-M, IMA, US
tempo. Neste modelo completo condicional, alfa 10Y GOVT INDEX, CGBI EMUSDGB BRAZIL,
também é uma função linear do vetor Zt-1. Assim, BOFA ML BRADY BONDS BRAZIL, BOFA ML
substituindo o alfa variável e o beta variável no USD EMRG SOV BRAZIL, BOFA ML BRAZIL
modelo de Jensen, tem-se o seguinte modelo: GVT INDEX e JPM GBI EM BROAD BRAZIL).
Conforme explicado pelo sítio eletrônico da
rp,t - rp,t = α0p + A´p Zt-1 + β0p (rm,t - rf,t) + β´p Zt-1 ANBIMA, o IRF-M mede a evolução, a preços de
(rm,t - rf,t) + εp,t (3). mercado, de uma carteira de Letras do Tesouro
As carteiras utilizam pesos iguais para cada Nacional (LTN). Os valores desse índice foram
fundo. Essa divisão por carteiras tem como extraídos do sítio eletrônico do Banco Central do
objetivo observar o desempenho dos fundos de Brasil. Esse mesmo benchmark é utilizado para
renda fixa como um todo e por categoria de PL, analisar o desempenho de fundos nos estudos de
de forma a separar o desempenho pelo tamanho.

67
Revista $EIVA

Vilella e Leal (2008) e Varga e Wengert (2010). os resultados de Blake, Elton e Gruber (1993). A
Para construção do modelo multifatorial, maioria dos fundos que compõem esta carteira
foram utilizados quatro índices de mercado apresenta alfas negativos. O R2 da carteira
(IRF-M – Índice de Renda Fixa do Mercado; geral é de 74%. O valor do parâmetro beta da
IPCA - índice oficial de inflação; IBC-BR - mede carteira geral é baixo, positivo e estatisticamente
a atividade econômica pelo Banco Central; e significativo, evidenciando assim que o retorno
MSCI BRL - índice da taxa de câmbio Dólar/ desta carteira é pouco sensível ao retorno do
Brasil), todos eles representativos da Política índice de mercado.
Monetária Brasileira, de forma a entender como Os fundos com maior Patrimônio Líquido
estes índices afetam os retornos dos fundos de (maior dimensão) têm a tendência de gerar um
investimento de obrigações. Todos esses índices melhor desempenho, conforme mostrado por
foram extraídos da base de dados Datastream. Laes (2010). Quanto aos valores do R2, a carteira
A escolha das variáveis de informação PL menor apresenta o menor R2.
pública, para o modelo condicional, é feita de 4.2 Modelo não condicional de
modo a refletir o estado da economia: (1) taxa de desempenho multifatorial
juro de curto prazo (três meses de maturidade),
(2) term spread, (3) default spread, e (4) dividend O modelo multifatorial é baseado no
yield. Essa escolha baseou-se nas variáveis Arbitrage Pricing Theory (APT), desenvolvido por
amplamente utilizadas na literatura. Ross (1976). Essa teoria sustenta que os retornos
esperados dos ativos dependem de outros fatores
Para a verificação da existência do viés de risco, não apenas o mercado.
de sobrevivência, construiu-se uma carteira que
é resultado da subtração do retorno da carteira A escolha dos fatores e índices
formada pelos trinta fundos sobreviventes ao macroeconômicos utilizados neste trabalho
longo de todo o período analisado e do retorno baseou-se não só na literatura como também
da carteira formada pelos cento e sete fundos. nos princípios da Política Monetária Brasileira, de
modo a evidenciar quais os fatores de risco são
4. RESULTADOS EMPÍRICOS mais decisivos para os investidores.
Foram feitas regressões lineares dos 107
4.1 Modelo não condicional de fundos, da carteira geral (carteira que inclui todos
desempenho – Jensen os 107 fundos) e das duas carteiras divididas pela
A medida desenvolvida por Jensen (1968) é mediana do Patrimônio Líquido.
baseada no Capital Asset Pricing Model (CAPM). QUADRO 2
Alfa do modelo multifatorial
São feitas regressões lineares dos 107 beta
beta beta
fundos, da carteira geral (carteira que inclui todos alfa
IRF-M IPCA
beta IBC MSCI
BRL
R2 ajust.

os 107 fundos) e das duas carteiras divididas pela carteira


-0,00041*** 0,15*** 0,04** 0,008 . -0,004* 0,78
geral
mediana do Patrimônio Líquido, segundo este
carteira
modelo (Jensen). PL maior
-0,00043*** 0,12*** 0,012 0,012** -0,004* 0,79

QUADRO 1 carteira
-0,000401** 0,17*** 0,06*** 0,003 -0,005 . 0,71
PL menor
Alfa de Jensen (1968)
R2 Observa-se, nos dados mostrados no
alfa beta
ajustado QUADRO 2, que a carteira geral apresenta
carteira geral -0,0006*** 0,15*** 0,74
um alfa negativo e estatisticamente significativo,
carteira PL maior -0,0005*** 0,13*** 0,74
carteira PL menor -0,0007*** 0,17*** 0,67 indicando que os fundos de obrigações não
superam o mercado. Mais uma vez os resultados
Observa-se, nos dados mostrados no
são consistentes com os de Blake, Elton e Gruber
QUADRO 1, que todas as carteiras apresentam
(1993) e em Silva, Cortez e Armada (2003),
um alfa negativo e estatisticamente significativo.
na medida em que o desempenho dos fundos
Pode-se concluir, pois, que o desempenho
é negativo. A maioria dos fundos que compõe
dessas carteiras está abaixo do mercado. Estes
esta carteira apresenta alfas negativos. O R2
resultados indicam que os fundos de obrigações
ajustado da carteira geral apresenta um valor de
não superam o mercado e são consistentes com

68
Revista $EIVA

78%, maior que o obtido com o modelo Jensen de 5%. Com exceção deste fato, os valores dos
(1968), o que indica que o modelo multifatorial alfas nas três carteiras são muito próximos.
explica melhor o comportamento dos fundos de 4.4 Viés de sobrevivência
renda fixa.
Comparando-se os parâmetros das três Este fenômeno se refere ao viés dos
carteiras analisadas neste estudo, constata-se resultados de desempenho dos fundos de
que o alfa da carteira de menor dimensão é investimento em razão da eliminação da amostra
o maior, enquanto que a carteira com maior dos fundos que não sobrevivem a todo o período
dimensão (PL) apresenta o menor alfa. analisado, seja por retornos ruins, por fusão entre
fundos ou por qualquer outro motivo que leve a
4.3 Modelo condicional multifatorial extinção de fundos. Quando se exclui os fundos
de desempenho não sobreviventes, que teoricamente seriam os
São feitas regressões lineares dos 107 de pior desempenho, prega a literatura que o
fundos, da carteira geral (que inclui todos os desempenho da carteira de fundos seria melhor.
107 fundos) e das duas carteiras divididas pela O número de fundos sobreviventes em
mediana do patrimônio líquido, segundo este todo o período analisado, dentre os 107 fundos
modelo condicional. analisados neste estudo, é de trinta.
QUADRO 3 QUADRO 4
Alfa do modelo multifatorial condicional Viés de sobrevivência
alfa R2 Alfa (modelo não-condicional
alfa alfa JCP alfa TS alfa DS
DY
teste F ajust. de Jensen)
carteira
-3,3e-4*** -0,28*** -0,17. -0,32 0,25 2e-16 0,85 carteira diferença 0,0002
geral
carteira PL
Alfa (modelo não condicional
maior
-3,5e-4*** -0,18* -0,052 -0,4 0,43* 2e-16 0,86 multifatorial)
carteira PL
-3,2e-4*** -0,44*** -0,32* -0,28 0,1 2e-16 0,79 carteira diferença -0,00001***
menor
Alfa (modelo condicional
Observa-se, nos dados mostrados no multifatorial)
QUADRO 3, que a carteira geral apresenta carteira diferença -0,00009***
um alfa negativo e estatisticamente significativo, Observa-se nos dados mostrados no
indicando um desempenho negativo por parte QUADRO 4 que, segundo o modelo não
dos fundos de renda fixa, à semelhança do que condicional de Jensen, não existe viés, já que o alfa
foi obtido nos modelos não-condicionais. A da carteira das diferenças não é estatisticamente
diferença reside em que neste modelo o alfa da significativo. Podemos assim concluir que os
carteira geral foi maior. A maioria dos fundos que fundos sobreviventes apresentam um desempenho
compõe esta carteira apresenta alfas negativos. similar à carteira que reúne todos os fundos.
O R2 ajustado da carteira geral apresenta um Segundo o modelo não condicional multifatorial
valor de 85%, maior que o obtido com o modelo e o modelo condicional multifatorial, o viés se
não-condicional. Quanto ao Teste F, a hipótese mostra negativo, ou seja, os fundos sobreviventes
nula de que todos os parâmetros seriam zero foi apresentam pior desempenho do que a carteira
rejeitada nas três carteiras. que reúne todos os fundos. Deve ser ressaltado
Comparando-se os parâmetros obtidos nas que o alfa é estatisticamente significativo.
três carteiras analisadas neste estudo, constata- Um fator que pode explicar esse
se que o alfa da carteira com PL menor é o comportamento é que, no mercado brasileiro, os
maior, enquanto que o da carteira PL maior fundos de renda fixa (obrigações) são extintos não
apresenta o menor alfa, apresentando assim o por desempenho ruim e sim em razão da baixa
mesmo comportamento ocorrido no modelo demanda do mercado financeiro por fundos
não-condicional multifatorial. de renda fixa, da instabilidade da economia
Com relação aos alfas das variáveis brasileira e de mudanças na classificação do
de informação pública, apenas um deles é fundo, conforme relato feito pelos técnicos da
significativo ao nível de 1% e outros dois ao nível ANBIMA, por meio de contato telefônico.

69
Revista $EIVA

carteira com todos os fundos teve desempenho


CONCLUSÃO melhor do que a carteira composta pelos fundos
As conclusões obtidas por este estudo, sobreviventes, contrariando a hipótese de que os
em sua maior parte, estão de acordo com a fundos são extintos por terem um desempenho
literatura internacional no sentido em que os negativo.
fundos de obrigações brasileiros não geram um Ressalta-se que este estudo tem como intuito
desempenho superior ao mercado. a análise conceitual e empírica da performance
Investigou-se oito benchmarks de renda de carteiras de investimento, com o intuito de
fixa para se estabelecer qual seria o mais aplicação direta na administração das aplicações
adequado para aplicação nos modelos de financeiras do Fundo Aeronáutico (FAer). Dessa
desempenho e o IRF-M foi o escolhido. forma, pode-se constatar que a aplicação dos
recursos do FAer em fundos de obrigações levaria
Ao aplicar o modelo não-condicional de
a rendimentos um pouco inferiores ou iguais aos
Jensen, observa-se que os alfas das carteiras
obtidos pelos benchmarks deste setor. Com essa
com todos os fundos bem como das carteiras
informação, os gestores do FAer podem decidir
construídas com base na dimensão dos fundos
qual é a melhor aplicação para os recursos bem
são negativos e estatisticamente significativos. O
como fazer a previsão dos seus rendimentos,
R2 da carteira geral foi de 0,74 e a carteira de
fator fundamental para a elaboração da Lei
maior dimensão apresenta o maior alfa, exibindo
Orçamentária Anual.
assim o melhor desempenho.
O segundo modelo aplicado é o não- REFERÊNCIAS
condicional multifatorial, podendo assim
observar-se o quanto a amostra dos fundos BLAKE, C.R.; ELTON E.J.; GRUBER, M.J. The
reage a índices que refletem o comportamento performance of bond mutual funds. The Journal
of Business, v. 66, n. 3, p. 371-403, 1993.
de variáveis macroeconômicas. O alfa das três
carteiras é negativo e significativo, mais uma BOGDANSKI, J.,TOMBINI; A.A.; WERLANG,
S.R.C. Implementing Inflation Targeting in
vez mostrando que o desempenho dos fundos é Brazil. Banco Central do Brasil, 2000. Disponível
inferior ao mercado. em: <https://www.imf.org/external/pubs/ft/
seminar/2000/targets/Werlang.pdf.>. Acesso em:
O alfa deste modelo mostra-se maior do que 23 jun. 2015.
o alfa obtido pelo modelo de Jensen. O R2 da
CHRISTOPHERSON, J. A.; FERSON, W. E.;
carteira geral é de 0,78, maior que o obtido no GLASSMAN, D. A. Conditioning manager alphas
modelo de Jensen. A carteira de menor dimensão on economic information: another look at the
(PL) apresenta o maior alfa, exibindo assim o persistence of performance. The Review of
Financial Studies, v. 11, n. 1, p. 111-142, 1998.
melhor desempenho.
FAMA, E. F.; FRENCH, K. R. Business Conditions
O último modelo aplicado, o condicional and Expected Returns on Stocks and Bonds.
multifatorial, baseou-se no modelo não- Journal of Financial Economics, v. 25, n. 1, p.
condicional multifatorial e os resultados 23-49, 1989.
mostram que o alfa das três carteiras é negativo, FERSON, W. E.; WARTHER, V. A. Evaluating Fund
significativo e maior do que o alfa do modelo performance in a dynamic market. Financial
Analysts Journal, v. 52, n. 6, p. 20-37, 1996.
não-condicional multifatorial. O R2 da carteira
geral é de 0,85, maior que o obtido no modelo FERSON, W. E.; SCHADT, R. W. Measuring Fund
Strategy and performance in Changing Economic
não-condicional multifatorial, em conformidade Conditions. The Journal of Finance, v. 51, n. 2,
com o esperado. A carteira de menor dimensão p. 425-461, 1996.
apresenta o maior alfa, tendo assim o melhor FONSECA, N. F.; BRESSAN, A. A.; IQUIAPAZZA, R.
desempenho. Apenas o alfa da variável juros de A.; GUERRA, J. P. Análise do Desempenho Recente
de Fundos de Investimento no Brasil. Contabilidade
curto prazo é estatisticamente significativo. Vista e Revista, v. 18, n. 1, p. 95-116, 2007.
A respeito do viés de sobrevivência, o modelo JENSEN, M. C. The performance of mutual
de Jensen apresenta viés não estatisticamente funds in the period 1945-1964. The Journal of
significativo, enquanto os outros dois modelos Finance, v. 23, n. 2, p. 389-416, 1968.
apresentam viés negativo, indicando que a LAES, M. A. Análise da performance dos

70
Revista $EIVA

fundos de investimento em ações no SILVA, F. C. C. C.; CORTEZ, M. C.; ARMADA,


Brasil. 2010. 68 f. Dissertação (Mestrado em M. J. R. Conditioning information and European
Economia)– Universidade de São Paulo, São bond fund performance. European Financial
Paulo, 2010. Management, v. 9, n. 2, p. 201-230, 2003.
NEWEY, W. K.; WEST, K. D. Automatic lag selection VARGA, G.; WENGERT, M. The growth and size
in covariance matrix estimation. Review of of the Brazilian mutual fund industry. Munich
Economic Studies, v. 61, n. 4, p. 631-654, 1994. Personal RePEc Archive. Disponível em: <http://
mpra.ub.uni-muenchen.de/21581/>. Acesso em:
ROSS, S. A. The arbitrage theory of capital asset 12 nov. 2014.
pricing. Journal of Economic Theory, v. 13, p.
341-360, 1976. VILELLA, P. A.; LEAL, R. P. C. O desempenho
de fundos de renda fixa e o índice de renda de
SECURATO, J. R.; CHÁRA, A. N.; SENGER, M. mercado (IRF-M). Revista de Administração
C. M. Análise do Perfil dos Fundos de Renda Eletrônica, v. 7, n. 1, jan./jun. 2008.
Fixa do Mercado Brasileiro. IN: SEMINÁRIO DE
ADMINISTRAÇÃO, 3., 1999, São Paulo. Anais...
São Paulo: USP, 1999, p. 1-9.

Sgt Rezende / Força Aérea Brasileria

71
Artigo Revista $EIVA

O uso de ferramentas de tecnologia


da informação na descentralização
orçamentária.
Frederico de Souza Amaral - TCel Int
Especialista em Administração Pública - UFF

INTRODUÇÃO de cinco dias úteis até que a descentralização


dos créditos solicitados ocorresse. Por esse
A Secretaria de Economia e Finanças motivo, a execução do Plano de Ação havia de
da Aeronáutica (SEFA), Organização do se tornar mais organizada e eficiente.
Comando da Aeronáutica (COMAER) prevista
A Política de Economia e Finanças da
pelo Decreto nº 6.834, de 30 de abril de 2009
Aeronáutica (DCA 14-10/2011) enumera no
(BRASIL, 2009), tem por finalidade, conforme
item 4.2.7 um de seus objetivos gerais, que
o art. 1º do seu Regimento Interno (RICA 20-
é desenvolver e implementar soluções em
2/2015), superintender e realizar as atividades
Tecnologia da Informação (TI) voltadas para
de Execução Orçamentária, Administração
as atividades de Administração Financeira,
Financeira e Contabilidade, relativas aos
Contabilidade e Controle Interno, de forma
recursos de qualquer natureza do COMAER
a promover a otimização de meios, o melhor
(BRASIL, 2015, p. 11).
aproveitamento do tempo, bem como permitir o
A atividade de execução orçamentária na tratamento de dados e a criação de informações
SEFA trata especificamente da descentralização gerenciais para o processo decisório (BRASIL,
de créditos às diversas unidades do COMAER, 2011). Em 2014, apoiando-se nessa diretriz,
de acordo o estabelecido no Plano de Ação (PA), começaram a ser introduzidas ferramentas
elaborado pelo Estado-Maior da Aeronáutica de TI que pudessem organizar os pedidos
(EMAER). A maior parte desse orçamento é de descentralização de créditos, de forma a
destinada a atender despesas de natureza mitigar os erros recorrentes e, principalmente,
obrigatória ou de vida vegetativa das unidades diminuir o tempo de atendimento.
do COMAER, as quais são descentralizadas
Foram introduzidas planilhas eletrônicas,
automaticamente pela Divisão de Créditos
software de banco de dados, comunicação
(SUFIN-2) da SEFA. A parte restante precisa
por e-mail, até que em 2015 chegou-se a
ser solicitada pelos Órgãos de Direção-Geral,
uma solução com uma ferramenta on-line
Setorial e de Assistência Direta ao Comandante
que pudesse reunir todas as informações em
(ODGSA), para suas unidades subordinadas
um único local. Nascia o A5-WEB. Foi um
ou para eles próprios, de acordo com as suas
ano em que se pôde verificar estatisticamente
necessidades.
a grande mudança de procedimentos em
Até 2013, esses pedidos chegavam à comparação com exercícios anteriores. Mas
SUFIN-2 por meio de mensagens do Sistema de que maneira a implantação de ferramentas
Integrado de Administração Financeira (SIAFI). de TI influenciaram na eficiência das
Havia dificuldade de filtrar essas mensagens descentralizações orçamentárias em favor dos
por assunto e depois de imprimi-las, separá- ODGSA em 2015?
las e digitar as células orçamentárias no SIAFI
Esse trabalho reveste-se de fundamental
para descentralização. Esse trabalho, que era
importância, porque visa demonstrar a
realizado manualmente, resultava em acúmulo
influência da implantação na SEFA/SUFIN-2 de
e perda de mensagens, além de ocasionar
ferramentas de Tecnologia da Informação na
erros de digitação por parte dos operadores
eficiência das descentralizações orçamentárias
do SIAFI. Assim, os ODGSA aguardavam mais

72
Revista $EIVA

execução orçamentária[...]” (BRASIL, 2009). E ao


em favor dos ODGSA, no período de 2013 Estado-Maior da Aeronáutica (EMAER) compete,
a 2015. O resultado dessa pesquisa poderá de acordo o art. 5º do mesmo instrumento legal,
contribuir sobremaneira com a melhoria de “[...]orientar, coordenar e controlar as atividades
procedimentos na execução do Plano de Ação de planejamento, de orçamento e gestão e de
do Comando da Aeronáutica. modernização administrativa[...]” (BRASIL, 2009).
Em suma, o EMAER planeja e a SEFA executa o
1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA orçamento.
Como fundamento da pesquisa, foram Para realizar a execução orçamentária, o
utilizados diversos regulamentos e legislações Regimento Interno da SEFA (RICA 20-2/2015)
sobre o Orçamento Federal, a fim de posicionar organizou a Divisão de Créditos da seguinte
a SEFA nessa estrutura do governo. O trabalho maneira:
também foi ancorado na visão de Idalberto Art. 31. A Divisão de Créditos (SUFIN-2) tem a
Chiavenato (2004) sobre a Tecnologia da seguinte constituição:
Informação na Administração Geral. I- Chefe;
II- Secretaria (SUFIN-2 SEC);
1.1 A SEFA e o Orçamento Federal
III- Seção de Descentralização de Destaques e
A Secretaria de Economia e Finanças Planos de Obras (SUFIN-2.1);
da Aeronáutica tem sua missão definida na IV- Seção de Descentralização de Créditos para
Diretriz do Comando da Aeronáutica (DCA os ODGSA (SUFIN-2.2);
19-3/2013): V- Seção de Descentralização de Crédito para
Gerenciar as atividades Financeiras, Contábeis as UG (SUFIN-2.3); e
e Patrimoniais, com vistas à aplicação eficiente, VI- Seção de Acompanhamento da Execução
eficaz, legal e econômica dos recursos Orçamentária (SUFIN-2.4) (BRASIL, 2015, p.
alocados ao COMAER, contribuindo para 16)
o cumprimento da missão da Aeronáutica. A SUFIN 2.1 descentraliza os créditos
(BRASIL, 2013, p. 16).
advindos de outros ministérios, estranhos ao
Dentro da estrutura organizacional do Ministério da Defesa, os chamados destaques.
COMAER, a Secretaria é um Órgão de Esses recursos possuem um gerente no
Direção Setorial atípico, pois não possui COMAER (geralmente um ODGSA), que
organizações subordinadas atuando no Setor acompanha sua utilização e presta contas ao
de Economia e Finanças da Aeronáutica de Ministério de origem.
forma sistêmica. É órgão central do Sistema
A SUFIN-2.2 descentraliza os créditos do
de Administração Financeira (SISFINAER), do
Plano de Ação do Comando da Aeronáutica,
Sistema de Contabilidade (SISCONTAER) e do
incluindo os de resultado primário (RP)
Sistema de Comércio Exterior (SISCOMAER)
obrigatório e os de RP discricionário. As despesas
da Aeronáutica. Está ligada aos respectivos
obrigatórias são aquelas discriminadas na Lei de
sistemas do Executivo, previstos na Lei nº
Orçamento Anual – LOA (BRASIL, 2016) que já
10.180/2001 (BRASIL, 2001), e também
possuem destinação certa para pagamento de
ao Sistema de Administração de Serviços
pessoal, benefícios, seguridade social, auxílios
Gerais (SIASG), ligado ao Ministério do
etc. Por essa razão, a SUFIN-2.2 descentraliza
Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG).
automaticamente a totalidade desses recursos
Paralelamente, a SEFA, por meio de sua
no início do exercício financeiro, pois, uma vez
estrutura, exerce a gestão dos recursos afetos
aprovado o orçamento, essas despesas não
ao Fundo Aeronáutico (FAER), uma Unidade
podem sofrer cortes.
Orçamentária específica, regida por legislação
própria. As despesas discricionárias são aquelas
contidas na LOA e utilizadas pelo COMAER
De acordo com o art. 22 do Decreto nº
em programas e ações de seu interesse, para
6.834, de 30 de abril de 2009, “à Secretaria
cumprir sua atividade fim. Como são dotações
de Economia e Finanças da Aeronáutica
mais flexíveis em sua aplicação, tornam-se a
compete superintender e realizar as atividades de
“cereja do bolo” do orçamento de qualquer

73
Revista $EIVA

órgão. Por esse motivo, são descentralizadas volumes. Estas, por si, ocupavam muitos
mediante critério e autorização dos Órgãos armários na Divisão de Créditos. O segundo
de Direção-Geral, Setorial e de Assistência grupo de impacto é a compressão do tempo:
Direta ao Comandante (ODGSA). A fim de (...) A instantaneidade passa a ser a nova dimensão
utilizarem os créditos de despesa discricionária temporal fornecida pela TI. O ]ust-in-Time (jIT) foi
e os destaques, os ODGSA precisam solicitar à o resultado da convergência de tempos reduzidos
no processo produtivo. A informação em tempo
Divisão de Créditos da SEFA que descentralize real e on-line permite a integração de vários
os recursos para suas unidades subordinadas, processos diferentes nas organizações e passou
à medida que as necessidades ocorram, a ser a nova dimensão temporal fornecida pela TI
conforme o planejamento de cada ação. (CHIAVENATO, 2004, p. 428).
Esse procedimento de solicitação e A SUFIN-2 precisava melhorar a qualidade
descentralização dos recursos precisa ser e a velocidade de comunicação com as
realizado de forma eficiente. A eficiência é um unidades do COMAER. Os ODGSA, por
princípio básico da Administração Pública e exemplo, não tinham informações instantâneas
sobre o qual Hely Lopes (1997) trata como um sobre os seus pedidos de descentralização.
dever do agente público: Entre a solicitação de uma nota de crédito e a
Dever de eficiência é o que se impõe a todo resposta do atendimento havia um intervalo de
agente público de realizar suas atribuições com vários dias, tal era o retardo na comunicação. A
presteza, perfeição e rendimento funcional. É o ponto de, às vezes, o pedido ser cancelado pelo
mais moderno princípio da função administrativa, ODGSA e a informação não chegar a tempo
que já não se contenta em ser desempenhada
apenas com legalidade, exigindo resultados ao executor, e o crédito ser descentralizado
positivos para o serviço público e satisfatório desnecessariamente.
atendimento das necessidades da comunidade Como terceiro grupo de impacto
e de seus membros (MEIRELLES, 1997, p. 90).
nas mudanças do ambiente corporativo,
Como as solicitações são muitas e o CHIAVENATO (2004) classificou a
volume de informações cresce constantemente, conectividade:
surgiu a necessidade de se criar ferramentas Com o microcomputador portátil, multimídia,
de informática para tentar organizar essas trabalho em grupo (workgroup), estações de
atividades. trabalho (workstation), surgiu o teletrabalho
em que as pessoas trabalham juntas, embora
1.2 A Tecnologia da Informação no distantes fisicamente. A teleconferência e a
ambiente corporativo tele-reunião permitem maior contato entre as
pessoas sem necessidade de deslocamento
Segundo Idalberto Chiavenato (2004), físico ou viagens para reuniões ou contatos
a Tecnologia da Informação está invadindo pessoais (CHIAVENATO, 2004, p. 428).
e permeando a vida das organizações Havia muita dificuldade em se reunir um
e das pessoas, provocando profundas grupo homogêneo para discutir assuntos de
transformações. interesse comum. A maioria dos ODGSA ficava
Chiavenato (2004) divide essas mudanças em Brasília, mas as cidades do Rio de Janeiro e de
em três grupos de impacto no ambiente São José dos Campos também sediavam outros
corporativo. O primeiro deles é a compressão grupos. Sem mencionar também as unidades
do espaço: subordinadas, espalhadas por todo o Brasil.
(...) A compactação fez com que arquivos Com todas essas restrições, a informática
eletrônicos acabassem com o papelório e com
pareceu ser o instrumento que melhor solucionasse
a necessidade de móveis, liberando espaço
para outras finalidades. (...) A miniaturização, os problemas administrativos da SUFIN-2, pois
a portabilidade e a virtualidade passaram a os recursos humanos e as máquinas estariam
ser a nova dimensão espacial fornecida pela TI interagindo de forma mais racional. Sobre o
(Chiavenato, 2004, p. 428). tema, ensina CHIAVENATO (1998):
As atividades de descentralização Assim, a eficiência está voltada para a melhor
orçamentária dependiam de muito papel. maneira (the best way) pela qual as coisas
Havia diversas pastas para organizar os devem ser feitas ou executadas (métodos), a
fim de que os recursos (pessoas, máquinas,

74
Revista $EIVA

matérias-primas) sejam aplicados da forma pedidos dos ODGSA. Esses arquivos (chamados
mais racional possível. A eficiência preocupa-se de Planilhas A5) eram enviados por e-mail e o
com os meios, com os métodos e procedimentos
mais indicados que precisam ser devidamente
Chefe da SUFIN-2.2 fazia seu upload num banco
planejados e organizados a fim de assegurar de dados do Access para organização e controle.
a otimização da utilização dos recursos Mas, somente em 2015, foi introduzida uma meta
disponíveis. A eficiência não se preocupa com de eficiência que pudesse dar informações sobre
os fins, mas simplesmente com os meios [...] os avanços conquistados com essas ferramentas.
(CHIAVENATO, 1998, p. 47).
E, para finalizar aquele ano, foi criada uma
Por isso, essa pesquisa partiu da hipótese plataforma web tanto para envio das Planilhas
de que a implantação de ferramentas de A5, quanto para sua organização, controle e
Tecnologia da Informação aumentaria a comunicação com os ODGSA.
eficiência das descentralizações de crédito
A demonstração de todo esse
para os ODGSA. Esse processo iniciou-se
desenvolvimento de forma mais detalhada
em 2013 e foi concluído em 2015, quando se
torna-se importante para se verificar como foi
pôde obter dados suficientes para verificar a
a mudança da eficiência no atendimento das
hipótese levantada. Faz-se necessário, portanto,
solicitações de crédito.
demonstrar como esse trabalho foi realizado.
2.1 As Mensagens SIAFI
2. METODOLOGIA As mensagens SIAFI são uma forma muito
Essa pesquisa documental foi realizada eficiente de comunicação entre as Unidades
com base na triagem de informações coletadas Gestoras Executoras (UGExec) da FAB. Por
em documentos emitidos antes, durante e serem instantâneas e por não necessitarem de
depois da implantação das soluções de TI no tramitação via cadeia de comando, chegam
processo de descentralização orçamentária da imediatamente aos destinatários. Por esse
SUFIN-2. motivo, foi adotada preferencialmente às
mensagens fac-símile. Entretanto, ao mesmo
Até 2013, todos os pedidos de
tempo em que seu mecanismo de envio e
descentralização eram realizados por meio de
recebimento era simples, sua forma de gerência
mensagem SIAFI ou fac-símile. A partir de 2014, foi
e controle era trabalhosa. E isso se tornou um
criada uma planilha eletrônica no formato Excel,
problema quando o fluxo de mensagens era
um aplicativo da Microsoft, que padronizou os
muito grande.

FIGURA 1 - Tela de mensagens recebidas do SIAFI


Fonte: SUFIN - 2, dados extraídos do Sistema Tesouro Gerencial.

75
Revista $EIVA

Como se pode ver na Fig. 1, as mensagens uma ferramenta introduzida entre 2013 e 2014
são organizadas pelo sistema por ordem de na SUFIN-2 para padronizar as solicitações
chegada, da mais recente para a mais antiga. orçamentárias e diminuir os erros de digitação.
Não é possível inverter essa ordem ou filtrá- Inicialmente denominada Planilha Tarzan, a
las por outro critério, o assunto, por exemplo. Planilha A5 foi uma mudança exponencial
Como a SEFA recebe diariamente dezenas de no atendimento às necessidades dos ODGSA
mensagens SIAFI, ficava difícil selecionar uma (FIG. 2).
a uma as mensagens cujo assunto fosse a Elaborada no formato Excel, a Planilha
movimentação orçamentária. A5 foi formatada com células específicas
O procedimento adotado até 2013 era da linha orçamentária utilizada no SIAFI. A
a impressão dessas mensagens para que planilha possui proteção contra edição em
fossem organizadas em pastas separadas por algumas células, de forma que os responsáveis
ODGSA. Cada pasta continha uma lista com A5 dos ODGSA fiquem com liberdade de
os assuntos e datas de envio, assim como preencherem apenas os campos editáveis.
as datas de atendimento das solicitações. As informações digitadas são transferidas
Quando as movimentações de crédito eram para as abas no rodapé da planilha já com a
realizadas, uma mensagem SIAFI da SUFIN-2 formatação do SIAFI, de forma que o operador
era enviada à UGExec solicitante, informando só precisa copiar a informação, colar na tela
sobre a descentralização. do sistema e confirmar a transação. Esse
Todo esse procedimento durava em média controle foi fundamental para padronizar as
cinco dias úteis. Em muitos casos precisavam ser informações dos pedidos e diminuir os erros de
corrigidos, por causa de erros nas informações preenchimento por parte dos ODGSA e os erros
contidas nas mensagens ou erros de digitação de digitação no SIAFI, por parte do efetivo da
na Nota de Crédito. Às vezes, principalmente SUFIN-2. O que estava digitado na planilha era
nos últimos meses do ano, algumas mensagens exatamente o que seria realizado no SIAFI, não
passavam despercebidas, quando o fluxo havia necessidade de maiores interpretações.
acumulado era muito grande. Estava claro que o Essa foi uma das maiores mudanças, a Planilha
processo necessitava de melhorias. A5 eliminou a subjetividade dos pedidos.
2.2 As Planilhas A5 Essas planilhas eram encaminhadas para o
Chefe da SUFIN-2.2, por um e-mail específico
O cargo de A5 no âmbito do Comando criado para essa finalidade. O gerenciador
da Aeronáutica tem como uma de suas de e-mail tem mais opções de filtro que as
atribuições a gerência e o controle de recursos mensagens SIAFI. À medida que as solicitações
orçamentários. Essa designação deu nome a chegavam, as planilhas eram baixadas e

FIGURA 2 - Modelo de planilha A5

76
Revista $EIVA

organizadas em pastas no computador, divididas Qualquer um do efetivo da SUFIN-2,


por ODGSA. Após a conclusão do atendimento, quando necessário, poderia consultar as
ou seja, depois que a descentralização informações disponíveis no Access, porque era
orçamentária fosse realizada, os e-mails eram compartilhado em rede. Todo esse conjunto de
respondidos com os números das notas de ferramentas para a execução orçamentária dos
crédito emitidas. Com esse procedimento, houve ODGSA foi denominado Sistema A5.
uma melhor organização no fluxo de solicitação O banco de dados também inovou
e de atendimento, pois as mensagens de e-mail com a funcionalidade de medir o tempo de
eram trocadas entre as pessoas diretamente atendimento, em dias úteis, de cada planilha.
envolvidas, e tratavam de planilhas específicas, Essa informação, que também podia ser
o que não era possível com as mensagens SIAFI. consolidada por períodos mensais, abriu o
Entretanto, ainda persistia um problema caminho para que a SUFIN-2 pudesse criar um
interno de organização para se saber quando novo indicador de desempenho.
e quem havia atendido qual pedido, já que 2.3 Do indicador ao A5-WEB
a execução no SIAFI era realizada por várias
pessoas da SUFIN-2. Foi notório o ganho de velocidade
Para resolver esse problema, foi criado, no processo de descentralização após a
em meados de 2014, um banco de dados implantação das ferramentas de TI. Graças
no Access, um aplicativo da Microsoft, onde à medição do tempo de atendimento, foi
se pôde registrar todas as informações de possível comparar a diferença entre o antes
atendimento das Planilhas A5 (FIG. 3). e o depois. Um procedimento que demorava
cerca de cinco dias úteis reduziu para cerca
O Chefe da SUFIN-2.2 recebia o e-mail, de dois dias úteis. Como o Sistema A5 estava
fazia o upload da planilha no banco, inseria totalmente operante ao final de 2014, decidiu-
a data, algumas informações orçamentárias se implantar no ano seguinte um indicador que
e, caso o documento estivesse corretamente mostrasse o resultado dos serviços prestados
preenchido, selecionava no Access um pela SUFIN-2.2. A propósito, Rodrigues (2006)
operador do SIAFI designado para realizar o traz a seguinte afirmação:
atendimento. O operador, após emitir a nota
A eficiência da administração representa
de crédito, inseria o número e a data no banco. a aplicação de procedimentos a partir da
Automaticamente, a informação do resultado lei, que possam ter o máximo de resultados
era publicada na página intraer da SEFA e encontra íntima relação com o princípio
para que o ODGSA tomasse conhecimento. da proporcionalidade, representando um

FIGURA 3 - Banco de dados do Access


Fonte: Sistema A5-Web

77
Revista $EIVA

instrumento de controle e adequação dos acima de 80% - grau “excelente”, entre 70 e


meios aos fins. A eficiência, assim, revela-se 79,99% - grau “muito bom” e abaixo de 70%
pela razoabilidade do método, pela proibição
do excesso e pela proporcionalidade no agir da
- grau “regular”. A meta seria atingir o grau
administração (RODRIGUES, 2006, p. 105). “excelente” em todos os meses de 2015.
Foi estipulada uma meta de prazo máximo Com base na TAB. 1 foi possível observar
no atendimento às solicitações, com base que em todos os meses de 2015 mais de 80%
inicial no histórico dos últimos meses. Do das planilhas foram atendidas em até dois dias
momento em que as Planilhas A5 fossem úteis. A grande maioria foi atendida no mesmo
enviadas pelos ODGSA até o dia em que as dia (zero). No mês de maio foi registrado o maior
solicitações fossem atendidas, deveria haver grau de eficiência, com 97,74% das planilhas
um período de apenas dois dias úteis. E esse atendidas em até dois dias úteis. Mesmo o
resultado deveria abranger, pelo menos, 80% menor grau (83,36%), obtido no mês de março,
das planilhas. No início de 2015 esse indicador ainda permaneceu dentro da meta estipulada.
foi implantado e, pela primeira vez, foi possível Embora houvesse todo esse avanço, duas
obter um histórico que fosse possível analisar questões ainda incomodavam no processo
a eficiência do trabalho da SUFIN-2.2 durante de descentralização. A forma de envio das
todo um exercício. planilhas, por e-mail, sofria solução de
O critério estabelecido para se medir esse continuidade quando o Expresso Livre, o
grau de eficiência foi o seguinte: igual ou sistema de e-mails do COMAER, apresentava
TABELA 1
Porcentagem de planilhas atendidas em dias úteis

Fonte: Sistema A5

78
Revista $EIVA

instabilidades. Algumas unidades ficavam sistema pelo usuário instantaneamente. Com


até dois dias sem conseguir enviar planilhas. o A5-WEB (SIC. 4), o Chefe da SUFIN-2.2
A pluralidade de plataformas para executar assume o papel de gerente do sistema e
e acompanhar todo o processo também visualiza as solicitações já organizadas por data
incomodava os usuários: planilha do Excel, de envio e por ODGSA. Com a ferramenta,
Expresso Livre, Access e página intraer da o gerente encaminha os pedidos diretamente
SEFA. Havia a necessidade de se unir todo o aos operadores SIAFI para atendimento. Esses
processo em uma única ferramenta. No início operadores lançam o número da nota de
do primeiro semestre de 2015 começou a ser crédito e, caso não seja possível o atendimento,
desenvolvido um sistema em plataforma web e inserem a justificativa em campo próprio do
linguagem de script PHP. sistema. Tudo isso pode ser acompanhado
A plataforma web destaca-se devido à sua on-line por todos os usuários cadastrados,
facilidade de uso, sem haver a necessidade de em uma única plataforma, denominada A5-
instalar qualquer programa. Fica hospedada WEB, que garante, a custo zero, o controle,
num servidor central que pode ser acessado a comunicação, a transparência, agilidade e
de forma segura com login e senha, por meio segurança do processo de descentralização de
do browser de qualquer computador com créditos no COMAER.
acesso à rede. Esse desenvolvimento contava
com a participação exclusiva de militares CONCLUSÃO
da Aeronáutica, o que reduziu o custo de Essa pesquisa visou demonstrar a
investimento a zero. influência da implantação na SEFA/SUFIN-2 de
Como o sistema evoluiu para um ambiente ferramentas de Tecnologia da Informação na
web, a partir dos procedimentos do Sistema A5, eficiência das descentralizações orçamentárias
manteve-se a origem do nome e foi intitulado em favor dos ODGSA, no período de 2013 a
A5-WEB. 2015.
Todos os representantes de ODGSA foram Para atingir esse objetivo, primeiramente
cadastrados e treinados para a utilização da buscou-se um embasamento ancorado na
ferramenta. As planilhas em Excel continuavam legislação brasileira sobre o Orçamento
a ser utilizadas, mas, ao invés de serem enviadas Federal e a posição da SEFA nessa estrutura do
por e-mail, eram carregadas e transmitidas no governo. Também foi apresentada a visão de

Figura 4 – Página inicial do Sistema A5-WEB


Fonte: Sistema A5-Web.

79
Revista $EIVA

Idalberto Chiavenato (2004) sobre a Tecnologia


da Informação no ambiente corporativo e a REFERÊNCIAS
eficiência que dela poderia resultar. BRASIL. Decreto nº 6.834, de 30 de abril de
2009. Aprova a Estrutura Regimental e o Quadro
Posteriormente, foi apresentada a Demonstrativo dos Cargos em Comissão do
metodologia documental, cuja coleta de Grupo-Direção e Assessoramento Superiores
dados fora realizada por meio de documentos e das Funções Gratificadas do Comando da
verificados entre 2013 e 2015. Levantou-se Aeronáutica, do Ministério da Defesa, e dá outras
providências. Diário Oficial [da] República
o histórico de como era o atendimento das Federativa do Brasil, Brasília, DF, 04 maio
solicitações de descentralização de crédito até 2009. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
2013 e as evoluções dos procedimentos após a br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/
D6834.htm>. Acesso em: 28 abr. 2016.
implantação das ferramentas de TI.
______. Lei nº 10.180, de 06 de fevereiro de 2001.
Foi demonstrada inicialmente a metodologia Organiza e disciplina os Sistemas de Planejamento
de atendimento por meio de mensagens SIAFI e e de Orçamento Federal, de Administração
Financeira Federal, de Contabilidade Federal e de
a dificuldade de se organizar os pedidos. Com Controle Interno do Poder Executivo Federal, e dá
a implantação das Planilhas A5, estabeleceu- outras providências. Diário Oficial [da] República
se uma padronização e a mitigação dos Federativa do Brasil, Brasília, DF, 07 fev. 2001.
erros. Depois, corrigiu-se o problema de Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10180.htm>. Acesso em:
organização, por meio do banco de dados do 28 abr. 2016.
Access, que também abriu o caminho para a ______. Lei nº 13.255, de 14 de janeiro de 2016.
criação de um novo indicador de desempenho, Estima a receita e fixa a despesa da União para
com a funcionalidade de medir o tempo o exercício financeiro de 2016. Diário Oficial
[da] República Federativa do Brasil, Brasília,
de atendimento de cada planilha. A meta DF, 15 jan. 2016. Disponível em: < http://www.
estabelecida no indicador era de que 80% das planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/
planilhas fossem atendidas em um período de Lei/L13255.htm>. Acesso em: 28 abr. 2016.
até dois dias úteis. ______. Comando da Aeronáutica. Regimento
Interno da Secretaria de Economia e Finanças da
Com base nesse indicador de eficiência, Aeronáutica: RICA 20-2. Boletim do Comando da
verificou-se que a meta estabelecida em 2015 Aeronáutica, n. 84, 7 maio 2015. Rio de Janeiro:
CENDOC. 2015. Disponível em: <http://www.
foi, não só atingida, mas ultrapassada, pois mais cendoc.intraer/sispublic/publicacoes/ostensivas/
de 80% das Planilhas A5 foram atendidas em RICA20-2.pdf>. Acesso em: 28 abr. 2016.
até dois dias úteis durante o ano. Em 2013, esse ______. Comando da Aeronáutica. Política de
tempo era de cinco dias úteis. Nesse sentido, Economia e Finanças da Aeronáutica: DCA 19-3.
pode-se dizer que a hipótese da pesquisa foi Boletim do Comando da Aeronáutica, n. 70,
12 abr. 2011. Rio de Janeiro: CENDOC. 2014.
confirmada. A eficiência nas descentralizações Disponível em: <http://www.cendoc.intraer/
orçamentárias em favor dos ODGSA aumentou sispublic/publicacoes/ostensivas/DCA14-10.pdf>.
substancialmente no período de 2013 a 2015 Acesso em: 28 abr. 2016.
com a implantação de ferramentas de TI. ______. Comando da Aeronáutica. Missão
da Secretaria de Economia e Finanças da
Finalmente, foi desenvolvido o A5-WEB, Aeronáutica: DCA 19-3. Boletim do Comando
um sistema que uniu várias plataformas num da Aeronáutica, n. 92, 15 maio 2013. Rio
de Janeiro: CENDOC. 2013. Disponível em:
ambiente on-line, elevando ainda mais a <http://www.cendoc.intraer/sispublic/publicacoes/
eficiência do processo de descentralização ostensivas/DCA19-3.pdf>. Acesso em: 28 abr.
orçamentária do COMAER. 2016.
O trabalho apresentado demonstrou que CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da
Administração. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
um processo sempre pode ser melhorado. Há,
CHIAVENATO, I. Recursos humanos. 5. ed. São
muitas ideias sobre o A5-WEB que ainda serão Paulo: Atlas, 1998.
implementadas. A busca contínua de melhorias MEIRELLES, H. L. Direito administrativo
resulta em crescimento profissional e torna o brasileiro. 22. ed. São Paulo: Malheiros, 1997.
ambiente de trabalho mais produtivo. E as RODRIGUES, M. T. M. Princípio da eficiência em
ferramentas de TI com certeza são um caminho matéria tributária. In: MARTINS, Ives Gandrada
Silva (Coord.). 1. ed. São Paulo: Revista dos
para se atingir esse objetivo. Tribunais e Centro de Extensão Universitária,
2006, p. 105.

80

Você também pode gostar