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1.2.1.4.

Consumo
A finalidade da Economia é o estudo da satisfação das necessidades humanas através de bens.
Ao ato de satisfação das necessidades, chamamos consumo. Assim, o consumo é a utilização
de bens para a satisfação das necessidades. Tal como antes, o que determina este conceito é o
ser humano e a sua atividade.

Repare-se que o consumo não tem de ser material. Um soneto, uma sinfonia, são bens
económicos e o ato de os utilizar, contemplando-os ou escutando-os, é consumo. O problema
do eremita ou o problema do empresário com duas casas e três carros é, economicamente, do
mesmo tipo: um problema de consumo. A nós parece-nos diferente porque ele é social, moral,
culturalmente diferente. Mas economicamente, o problema é o mesmo: necessidades
(diferentes) satisfeitas por consumos (diferentes) de bens (diferentes).

Por outro lado, o consumo é a única finalidade do comportamento económico: a satisfação


das suas necessidades.

1.3.1. Escassez e escolha


A escassez é um elemento fundamental para o aparecimento de um problema económico. A
escassez consiste na impossibilidade de os bens disponíveis satisfazerem as necessidades
presentes. Assim, o conceito de escassez, como todos os outros conceitos económicos,
depende centralmente das necessidades humanas. São estas que definem se um bem é ou não
escasso. Assim, a situação de escassez de um bem pode ser alterada radicalmente devido
apenas à alteração de gostos das pessoas.

O petróleo ou o urânio não eram escassos antes de se ter descoberto a tecnologia que
permitiu aproveitá-los como fonte de energia. Um programa de televisão pode tornar escasso
um produto que até então nem sequer era um bem económico (se um cantor da moda
convencer os seus fãs a usarem ossos de frango ou cascas de melão na lapela, por exemplo).

Não há escassez de ar para respirar (embora ar puro seja muito escasso nas nossas cidades),
ou de lugares num cinema vazio. Mas cuidado, a escassez nem sempre é o que parece e varia
com as circunstâncias. Por exemplo, existem muitas pedras pelo mundo, e por isso elas
parecem não ser excassas, mas algumas delas são escassas, porque é preciso apanhá-las,
cortá-las, para fazer calçadas. O que é escasso é a pedra tratada e colocada no sítio em que é
necessária.

Mas a principal razão que causa a escassez é a existência de necessidades humanas ilimitadas.
Por isso, não é fácil imaginar uma sociedade sem escassez.

É importante notar que a escassez e a escolha estão ligadas. É a escassez que gera
alternativas. Se não houvesse escassez era possível ter todas as alternativas e, se se pudesse
ter todas as alternativas, não teria de haver uma escolha. Daí a razão de haver escolha reside
na escassez, ou seja, o facto de não ser possível produzir tudo o que se deseja. Se é preciso
escolher, isso significa que para satisfazer uma necessidade é preciso sacrificar uma outra, ou
seja, existe um custo. Chamamos ao conceito económico de custo (o único conceito
económico de custo) custo de oportunidade. O custo de algo é o valor do que de melhor
deixámos de fazer para fazer o que fizemos. O custo de um livro não são os 25 € que uma
pessoa pagou por ele, mas o valor do que ela deixou de fazer com esses 25 €, para poder
comprar esse livro. É a satisfação que deixou de ter com o que poderia ter comprado em vez
de comprar o que comprou. Claro que poderia escolher fazer muitas outras coisas, mas o que
nos interessa para definir o custo é o que de melhor deixou de fazer.

Na verdade, como é racional, se não tivesse comprado o livro, teria gasto o dinheiro noutra
coisa, a que lhe daria mais satisfação a seguir ao livro. Por exemplo, se uma cassete fosse o
que, na ausência do livro, mais gostaria de ter comprado, então o valor da cassete seria o
custo de oportunidade do livro. O custo do livro é pois a satisfação que a cassete (que não se
comprou) daria.

Repare-se que em Economia, na verdade, não há custos. O que existe são benefícios das
alternativas. Se o que interessa são as necessidades humanas, o custo de uma satisfação é a
satisfação que se deixou de ter, por ter a que se teve.

A forma mais simples de expressar o fenómeno da escassez é através de uma velha frase da
Economia: «não há almoços grátis». Esta frase é a expressão simples da ideia de que não é
possível ter uma coisa escassa de borla.

Se alguma coisa, sendo escassa, é, em certo caso, grátis, então ou alguma outra pessoa pagou
ou pagou-se sem dar por isso. Uma coisa escassa nunca é de graça, embora possa parecer.
Muitos querem fazer-nos crer que alguma coisa nos é oferecida (remédios da Caixa,
autocolantes das campanhas eleitorais, etc.). Mas, na realidade, o que aconteceu é que o
custo foi disfarçado, foi já pago por nós anteriormente, ou virá depois. Uma coisa grátis só o é
porque não há escassez dela: água do rio, luz do Sol, areia da praia. Mas a maior parte das
coisas da vida não são grátis.

Mas então que pensar da frase popular: «As melhores coisas da vida são grátis?» O sentido
económico dessa frase seria que a amizade, um sorriso, uma paisagem, não são bens escassos.
Se é esse o sentido, então devemos deduzir que a Economia tem pouco interesse para as
melhores coisas na vida. Mas o facto de apenas interessar a coisas menos importantes (como
os almoços) não quer dizer que a Economia deixe de ser importante.

Mas será esse o sentido? Será que a amizade é grátis? Uma coisa é grátis quando não tem
custo. Mas o custo não está apenas definido em dinheiro. Como vimos atrás, o custo de algo é
aquilo que tivemos de sacrificar para satisfazer essa necessidade. E todos sabemos como a
amizade, um sorriso, uma paisagem exigem sacrifícios para serem mantidos. Talvez que a frase
«as melhores coisas na vida são grátis» queira apenas dizer que não custam dinheiro, e não
que não têm custo. Em termos económicos seria mais correcto dizer «as melhores coisas da
vida não passam pelo mercado», mas bem sabemos que têm custo. Deste modo, sabemos que
nem tudo o que desejamos pode ser satisfeito. As necessidades são de mais para os bens
disponíveis ou produzíveis. É preciso escolher, decidir. A questão que se levanta é a da escolha.
A seleção das necessidades que vão ser satisfeitas em relação às que vão ser preteridas.
Na visão popular, os problemas económicos são apenas problemas materiais, de produtos
comprados e vendidos no mercado, pagando impostos e recebendo subsídios.

Mas sabemos já que o que é determinante para a existência de um problema económico não é
a presença do mercado, de fábricas ou do dinheiro. O que é determinante é a presença de
necessidades humanas e a escassez de bens. Assim, o problema de ir hoje ao cinema ou ficar
em casa a ver televisão, a questão de escolher entre Shakespeare ou Gil Vicente para
representar são problemas económicos igualmente, pois neles está presente a escassez e a
escolha.

Várias formas foram utilizadas, por vários autores, para exprimirem as características
essenciais desta escolha, do problema económico. Qualquer problema económico se resume a
uma destas perguntas:

➢ O que produzir? O que é que as pessoas querem consumir?

➢ Como produzir?

➢ Para quem produzir?

Outros preferem resumir o problema económico em várias atividades: produção, consumo e


distribuição. Segundo esses, o problema económico pode ser de aplicação dos recursos
escassos na produção de bens, de distribuição dos bens produzidos pelos vários agentes da
economia ou de satisfação das necessidades dos agentes, através do consumo.

Nos termos do n.º 1 do artigo 2.º da Lei de Defesa do Consumidor11, “considera-se


consumidor todo aquele a quem sejam fornecidos bens, prestados serviços ou transmitidos
quaisquer direitos, destinados a uso não profissional, por pessoa que exerça com carácter
profissional uma atividade económica que vise a obtenção de benefícios”, importando referir
que o âmbito da Lei em referência se estende, também, aos bens, serviços e direitos
fornecidos, prestados e transmitidos pelos organismos da Administração Pública, por pessoas
coletivas públicas, por empresas de capitais públicos ou detidos maioritariamente pelo Estado,
pelas Regiões Autónomas ou pelas autarquias locais e por empresas concessionárias de
serviços públicos, tal como dispõe o n.º 2 do normativo citado.

Continuando a seguir a mesma Lei, verifica-se que o consumidor tem os direitos consagrados
no respetivo artigo 3.º, ou seja:

– Direito à qualidade dos bens e serviços (cfr., também, artigo 4.º);

– Direito à proteção da saúde e da segurança física (cfr., também, artigo 5.º);

– Direito à formação e educação para o consumo (cfr., também artigo 6.º);

– Direito à informação para o consumo (cfr., também, artigos 7.º e 8.º);


– Direito à proteção dos direitos económicos (cfr., também, artigo 9.º);

– Direito à prevenção e reparação dos danos patrimoniais ou não patrimoniais que resultem da
ofensa de interesses ou direitos individuais homogéneos, coletivos ou difusos (cfr. artigos 10.º
a 13.º);

– Direito à proteção jurídica e a uma justiça acessível e pronta (cfr. artigo 14.º);

– Direito à participação, por via representativa, na definição legal ou administrativa dos seus
direitos e interesses (cfr. artigo 15.º).

Designamos por consumo a despesa em bens e serviços com vista à satisfação de necessidades
e desejos. Estas podem ser necessidades básicas, como alimentação, vestuário e habitação; ou
desejos associados ao consumo de bens de luxo, como férias num país exótico.

Conhecer as necessidades das pessoas ajuda-nos a compreender o seu comportamento em


termos do consumo de bens e serviços. Abraham Maslow (1943) propôs uma teoria
hierárquica com cinco níveis de necessidades: fisiológicas, de segurança, sociais, de
autoestima, e de realização pessoal. Quando uma pessoa satisfaz as suas necessidades de um
nível básico, passa a procurar satisfazer as suas necessidades do nível imediatamente superior.
O consumo permite satisfazer necessidades básicas, influencia as relações sociais, e chega a
definir, em certa medida, a imagem e a própria identidade da pessoa.

Em consequência do crescimento económico, o rendimento disponível e o consumo das


famílias portuguesas tem crescido ao longo dos anos. Comparando o consumo actual com o
que se observava em 1960, verificamos que a quantidade de bens materiais à disposição das
pessoas é hoje mais do que cinco vezes maior.

Naturalmente, a evolução do consumo privado é semelhante à do rendimento disponível das


famílias (que, por sua vez, tem uma forte associação com a evolução do produto).

Nestes últimos 50 anos, a estrutura da despesa em bens de consumo alterou-se


significativamente. Aumentou a fração dedicada à habitação, transportes, comunicações e
serviços em geral, tendo diminuído a importância relativa da despesa em bens alimentares, e,
em menor medida, em vestuário e calçado.
O consumo privado é a maior componente da despesa, representando cerca de 2/3 do
produto da economia.

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