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AULA 06 – PARTE 02

O QUE É RELIGIÃO?
Fundamentação Científica,
Sistemas Religiosos,
Fanatismo

Estamos falando sobre o homem que é aberto, relacional e simbólico, ou seja, o homem tem
uma dimensão objetiva e uma dimensão subjetiva. O homem vive ao mesmo tempo nesta realidade
material, em uma outra realidade mental e uma terceira realidade espiritual, ou seja, o homem é corpo,
mente e espírito.
E essas três realidades nos levam a busca por sentido por que o corpo material é um corpo
finito, o corpo mental nos leva a essa concepção de aberto, de inacabado, e o corpo espiritual nos dá a
sensação de imanência, de transcendência, de ir além de infinito. Nós também somos finitos na matéria
e infinitos na essência. Então em essência nós temos o nosso encontro com o transcendente, nós
somos também uma centelha de Deus, nós somos uma parte de todo e nesta parte do todo é
exatamente aonde nós nos encontramos com ele.
A nossa origem, a semente original que anima o nosso espírito é justamente a vida essencial, a
fagulha, a centelha que nos dá certeza de uma transcendência de ser mais do que apenas que aquilo
que a gente pode observar. Então buscamos nas religiões as respostas para essa transcendência,
buscamos nas religiões um sentido para a vida e definimos como religião o espaço para o sagrado. Por
que dar sentido para a vida é o que há de mais sagrado.
A religião em si é a manifestação do sagrado, Deus é a resposta, Deus enquanto transcendente,
Deus enquanto imanente, aquele que está sempre presente, Deus enquanto o sagrado, sagrado para
as nossas vidas. Então vamos buscar essas respostas na religião.
A Umbanda preenche todos os requisitos de religião. A Umbanda tem o ambiente do sagrado,
cria o ambiente do sagrado, mas bastaria dizer que aonde o homem deposita a sua fé, a sua crença, a
sua espiritualidade, a sua religiosidade, ali está a sua religião, ou seja, um xamã, um índio de qualquer
tradição que seja, quando manifesta a sua religiosidade, ele está fazendo religião. Por mais que ele
tenha em mãos uma maráca ou que ele tenha um tambor xamânico, isso é expressão de religiosidade.

MARACA
TAMBOR XAMÂNICO
A gente vê em uma tradição religiosa indígena, xamânica ou numa pajelança, a gente deve
definir o que é sagrado e o que é profano. Para o mundo profano, agende pode definir este instrumento
como um chocalho, mas para o sagrado é um instrumento de religar ao mistério, é um instrumento
sagrado, que dentro de uma tradição é chamado de maráca ou maracá. Então apenas uma única

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ferramenta como essa justifica a presença do sagrado. Há um autor chamado Mircea Eliade, que
escreveu um livro chamado “História das Religiões” da Editora Vozes, ele criou uma palavra chamada
hierofania. Ele diz que tudo que pertence a religião faz parte de uma hierofania. Ou seja, para o mundo
profano este instrumento é um chocalho, para o mundo sagrado isso é uma maráca, então uma maráca
faz parte da hierofania de uma religião. Hierofania é aquilo que foi consagrado, que faz parte do
sagrado. Então mesmo que eu não tenha um templo, mesmo que eu não tenha um altar, mesmo
que eu esteja na natureza mas eu estou manifestando o sagrado por meio da minha fé, ali eu coloco a
minha fé, mas simplesmente com um instrumento deste já é um ritual. Um pajé com um instrumento
deste na mão sabe como fazer limpeza astral, purificação, desobsessão, cura, é um ritual se ele
procede, se ele realiza um ritual apenas com isso na mão, sem templo, sem formulação ideológica ou
construção teológica do seu saber, no entanto esta é a sua religião. A gente costuma chamar de
Xamanismo, que é uma religião muito da terra, às vezes sem muita formulação do homem, do índio,
mas é a sua religião. Então a gente vê por exemplo os aborígenes australianos que tem um
procedimento religioso espiritual de dança e canto que algumas pessoas diriam que é primitivo, mas
não é primitivo, é o jeito deles expressarem a religiosidade, ali está a sua religião, não carece de templo
não carece de altar, a natureza é o seu templo, o altar está em mim, o nosso corpo é templo do
sagrado.
Inclusive na Umbanda - é muito importante que a gente compreenda isso - na Umbanda o
sagrado vem até mim, eu incorporo o sagrado. Há um espaço físico no qual o sagrado se manifesta que
é o templo, o terreiro, a tenda, o centro, mas em mim o sagrado também se manifesta, há uma
peculiaridade na religião de Umbanda. No Candomblé, que a gente pode estender também para o
Kardecismo que é a manifestação mediúnica do sagrado, no caso da Umbanda e do Candomblé a
divindade vem até mim. Nós incorporamos espíritos e entidades, há manifestação de mamãe Iemanjá,
mamãe Oxum, há terreiros de Umbanda que não se incorpora Orixá mas há terreiros de Umbanda que
se incorpora. Eu vou explicar sobre incorporação em outras aulas.
É o orixá que incorpora ? Não, não é o orixá mas é um dos milhares, dos milhões de Orixás no
plural que incorporam que são seres da natureza, seres naturais, serem que manifestam. Então a
Umbanda, além de ser uma religião, tem uma dimensão mística com o mistério, é religião, magia e
mística, é uma religião mística.

O que é mística ?

Vamos dar um exemplo. No judaísmo, a mística é praticada na Cabala Hebraica, ou seja, na


Cabala Hebraica vamos encontrar magia e mistério, manifestação no mistério, o encontro com o
mistério, a abertura para o mistério maior, prática de mantra, de oração, de uso de símbolos e signos
para evocar, para chamar o mistério, para que ele se manifeste em mim. Por que o meu corpo é templo,
eu sou o templo do sagrado e quando eu incorporo um Caboclo eu sou o templo do sagrado. Se eu não
estiver no templo, se eu estiver na minha casa e houver a necessidade de um Caboclo, de um Preto-
Velho, de um Baiano, um Boiadeiro, uma Criança, de uma Entidade, de um Guia de Umbanda, se
houver necessidade de incorporar na minha casa, naquele momento eu sou o templo do sagrado,
automaticamente todo o ambiente se torna um ambiente sagrado com a presença do sagrado em mim.

Então isso traz uma peculiaridade para a Umbanda,. No Islã, a mística está no Sufismo. E a
Umbanda ? A Umbanda é uma religião que ao mesmo tempo é mística, é mágica, é uma religião de
mistério. Rubens Saraceni fala que a “Umbanda é a religião dos mistérios”. Na Umbanda nós temos
muitos recursos, por isso há uma grande dificuldade de entender a Umbanda, de entender essas

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práticas. Já a dificuldade de entender o uso de uma maráca ou o uso de um tambor xamânico, por
exemplo, e a manifestação do sagrado. As batidas desse tambor lembram as batidas do coração. Este
tambor sozinho induz à um estado de transe. Apenas o uso de um tambor na mão de um xamã, de um
pajé, de alguém que saiba como tocá-lo, permite uma limpeza espiritual, ritual, um estado alterado de
consciência e em estado alterado de consciência, a pessoa busca e encontra respostas para a sua
transcendência. Buscar respostas é encontrar um sentido ou dar um sentido para a vida.
Então a religião tem esse objetivo de dar um sentido para a vida, a Umbanda preenche mais
esse requisito. A Umbanda preenche todos os requisitos que se busca em religião, além de preencher
todos os requisitos, a Umbanda é extremamente cristã, extremamente ritualizada, ritmada, musicada, a
Umbanda tem liturgia própria, a única coisa que a Umbanda não tem e não deve ter são dogmas,
dogmas enquanto verdades que não podem ser questionadas, tem verdades que podem e devem ser
questionadas, tem verdades que devem ser explicadas e a questão de dar um sentido para vida é
fundamental nestes dias por que o mundo moderno procurou acabar com a religião (o Cientificismo, o
Positivismo).
O Positivismo procurou dizer que a religião seria substituída pela ciência, no entanto a ciência
pode dizer como as coisas funcionam mas não tem condições de dizer por que as coisas funcionam. A
ciência não dá um sentido para a vida. É papel da religião dar um sentido para a vida. Na Umbanda, por
meio de Deus, dos Orixás e Guias, nós também procuramos dar um sentido para vida e mais do que
isso, a Umbanda é uma religião monoteísta: nós acreditamos em um Deus e muitas Divindades. Os
Orixás não são Deuses, Orixás são Divindades de Deus, são criados por Deus.
O nosso Deus é o mesmo Deus de todas as outras religiões, é o mesmo Deus que se manifesta
por meio das Divindades de Umbanda que nós chamamos de Orixás. E esses Orixás vão estar
presentes a partir de sete sentidos da vida. Então a gente vai se familiarizando com a forma da
Umbanda de explicar esse universo, essa realidade que a gente vive, a partir dos sete sentidos da vida,

Deus e os Orixás, Deus e as Divindades nos sentidos da Fé, do Amor, do Conhecimento, da Justiça,
da Lei, da Evolução e da Geração.

DEUS

Fé Amor Conhecimento Justiça Lei Evolução Geração

É assim que a gente vai começar a entender e a compreender Deus e as suas Divindades.
Então é papel da religião dar uma explicação cosmológica, uma explicação do por que de ser e existir

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do homem perante o universo, do homem dentro dessa realidade; delimitar o que é o espaço do
sagrado, promover ou criar ambiente para que a gente possa ir ao encontro de nossa própria
transcendência ou ao encontro do transcendente.
A religião deve permitir ao homem um crescimento e evolução constantes, no entanto, hoje em
dia é fundamental que as religiões e os religiosos bebam nos conhecimentos de outros religiosos e
também de outras filosofias para buscar o aprendizado e uma forma mais universalista de compreender
o homem no mundo em que ele vive; e não ficar como os quatro cegos apegados a perna do elefante
ou a tromba do elefante. A Umbanda, além de ser uma religião e para muito além de uma única
religião, é por demais universalista.
A minha religião é Umbanda mas era Umbanda a religião do Caboclo quando ele foi encarnado
? Era Umbanda a religião do Preto-Velho quando ele era encarnado ? Era Umbanda a religião do meu
Exu ? Provavelmente não. Era Umbanda a religião desses Mestres do Oriente que vem na Linha do
Oriente ? Também não.
Então Umbanda é uma religião aberta a muitas formas de pensar Deus e religiosidade;
Umbanda é extremamente universalista por que no mesmo chão onde pisa um índio que fala de Tupã,
pisa um Preto-Velho que fala de Zambi, um Baiano que fala de Nosso Senhor do Bonfim, um Oriental
falando do Ser Supremo...Ou ainda uma sereia, uma encantada, um encantado que não falam, se
expressam apenas por meio de um canto e aquele canto que não tem palavras, por meio dos sentidos,
da emoção, do nosso coração, também nos faz refletir sobre a vida.
Muitas vezes, um canto inexprimível por palavras pode e tem condições de nos confortar, de
aquecer o nosso coração e de fazer com que a gente sinta e perceba que tudo tem uma razão de ser;
que há um sentido de ser nas coisas e um sentido de ser de cada um de nós na vida, para a nossa vida
e para a vida do semelhante.

Que Deus nos


Abençoe,
Abençoe,
Abençoe.
Que Oxalá nos ampare e guie.

Muito obrigado a todos pela oportunidade.


Na próxima aula vamos falar sobre “História da Umbanda”
Muito obrigado e até a próxima aula.

Digitação: Danaíra S. M.
Aluna do Curso de Teologia de Umbanda Sagrada

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