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“Não, não as nossas palavras, demasiado agradáveis, demasiado brandas, elas nunca
poderão transpor aquilo que agora se abre entre nós…um abismo imenso…” 1
“Je ne pourrais croire qu’à un Dieu qui saurait danser.” 2
“Auf der ganzen Reise hatte ich eine kleine Angst vor alle den Großartigkeiten, die wir
sehen und die uns erdrücken würden.” 3
“Faites comme le vent quand il s’élance des cavernes de la montagne: il veut danser à
sa propre manière.” 6
“Nas sociedades arcaicas, a dança – colectiva ou individual – se bem que ligada a um
simbolismo, não implica a submissão rigorosa dos gestos aos imperativos do sentido.” 7
5. Segundo Santos, na nota de rodapé 358, e em referência a estes seis Medalhões, lê‑se: “Compra documentada na remessa
de 1841, onde constam com o n.º 33, oito medalhas de biscuit de Herculano.”, Idem, 124.
6. “Fazei como o vento quando se lança nas cavernas da montanha: quer dançar à sua própria maneira” (Tradução minha).
Nietzsche 2012, 436.
7. Gil 1980, 67.
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espetáculo em si. A estruturação de tais rituais consistia num desempenho conver‑
gente, associando música, gesto e palavra. O que foi chamado por triunica choreia,
consubstanciado na mitologia, crenças e seus cultos. O termo choreia referia‑se ao
executante Aedo (cantor ou dançarino) que desempenhava a sua atuação no culto
dionisíaco.
O culto em torno a Dionísio expandiu a convicção no acesso ao segredo da imor‑
talidade, acrescendo novos tópicos e práticas. Por outro lado, o orfismo ponderava
um ideal de vida purificad[or]a, estabelecida a dualidade alma‑corpo, o que viria
a ser admitido e implicado na filosofia pitagórica e plasmado na sua estética que
requisitava um ideal purificador e virtuoso. Tal escopo enquadrava‑se nas artes
expressivas, providenciando a exteriorização de sentimentos – num comprome‑
timento atuante e não na ordem contemplativa, que estava inferida à arquitetura,
pintura e escultura, as ditas artes construtivas e/ou representativas.
A música possuiu desde sempre, em si e per se, um poder expressivo e psicológico
intenso sobre os indivíduos. Era um dom. Além da sua intimidade às palavras [poesia
enquanto canto], os gestos e movimentos [dança] acentuam essa vivência que permi‑
tia atingir tão ansiado estádio de libertação do corpo. Eis o que impulsionava o agir
dos humanos em via de transmigração, secundados pelo que o elemento órfico que
lhes acrescia. Ao constatar a embriaguez produzida pela música báquica, extraíram a
conclusão de que a alma, sob a sua influência, abandona momentaneamente o corpo.
Dançava‑se na Grécia para se erguer até ao divino, como ensinou Nietzsche.
A repetição das celebrações configurou‑se não exclusivamente em ritual, trans‑
pondo objetivos similares em contexto e nominação de artes expressivas: pela via
da triunica choreia. Ou seja, a definição consciencializada de arte inicia‑se pelas
artes expressivas e não pelas representativas. E, designadamente num primeiro
momento, o conceito de mimésis origina‑se e aplica‑se enquanto imitação que sub‑
jaz às primeiras e não à pintura e escultura. Imita‑se o que sejam as ações, os sons
e os movimentos de humanos e animais, da natureza, enfim. As expressões são
miméticas em termos de performance, do desempenho do ator, do dançarino, do
músico e do poeta. Pitágoras opôs a contemplação à ação, a atitude do espetador
induzida a uma atitude ativa. Para os antigos a atitude de contemplar, de observar
englobava tanto a beleza como a verdade; só mais tarde se estabeleceria a distinção
entre a contemplação epistemológica da verdade e a contemplação estética do belo.
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“On danse, le plus souvent, pour être ensemble. On se met à plusieurs.” 8
“ C’est la terre, le sol, le lieu solide, le plan sur lequel piétine la vie ordinaire, et
procède la marche, cette prose du mouvement humain. 9”
A dança – enquanto prática artística – terá surgido na Grécia cerca de 1400 A.C.,
por decorrência das civilizações de Creta, e muito provavelmente, influenciada
pelos egípcios. Apesar de, aparentemente, os gregos não terem contribuído muito
para a técnica da dança, concorreram de forma inquestionável para o estabele‑
cimento do vocabulário do teatro, em particular com o Koros, (coro), a Orkestra,
(o chão circular onde o coro dançava), a Skene, (a área coberta atrás da orkestra) e o
Proskenion, essa plataforma que se elevava entre a orkestra e a skene. Este desenho
8. Didi‑Huberman 2006, 9.
9. Valéry 1957, 1397.
10. Cf. Tipologia privilegiada por Annati 2003.
11. Valéry 1957, 1391.
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(layout) e vocabulário constituíram‑se como a base para a construção do proscénio
do teatro, onde o bailado erudito europeu ganharia forma posteriormente.
Analisando os pensamentos estéticos, implícitos na arte grega dos períodos
arcaico e clássico, antes dos normativos do helenístico, verifica‑se que a herança
grega se ramifica em indexações que determinaram os encaminhamentos da dança
na Europa. Acredita‑se que Sócrates apreciava a dança, entre outros filósofos e auto‑
res relevantes na cultura grega.
O apreço pela dança mede‑se nas inúmeras representações que lhe aludem.
As figuras dançantes foram persistindo através dos tempos, pela sua evocação nas
artes representativas, visuais e performativas – germinando em sucessos, ativações
intermédias e presentes nos entrecruzamentos artísticos que assim se percebe ante‑
cederem as práticas artísticas mais Contemporâneas.
Os gregos pensaram sobre dança na sua mitologia, quer protagonizada pelas
divindades em modo lúdico, quer sacrificial. Veja‑se: sob auspícios [provavel‑
mente] de Terpsichóre, Zeus o deus dos deuses foi mesmo representado “a mover‑se
graciosamente no meio da multidão a dançar”; o deus Pan, no Ajax de Sófocles, é
considerado como um mestre na dança; Febo é cognominado por Píndaro como “o
grande príncipe dos dançarinos”; Teseu, segundo a lenda, teria organizado danças
em que participavam os infelizes jovens – raparigas e rapazes indistintamente –
que seriam imolados pelo Minotauro. Os deuses dançavam: Hera, Athena, Apolo,
Hermes e muito em particular Dionísio.
Os romanos abordaram a dança, quer na mitologia, quer na literatura e arte, à
semelhança dos gregos, celebrando‑a. A dança foi‑se confirmando enquanto uma
arte que nitidamente mostrava quanto os códigos societários evoluíam, aferidos
pelo contexto sociopolítico e alvo objeto de registos quer viso, quer vérbico.
“As palavras são todas daquelas que ‘dizem perfeitamente aquilo que querem dizer’:
elas reproduzem fielmente aquilo que foram colher e apresentam‑no revestido da
sua forma, do trajo que o costume exige e que enverga em todas essas conversas
francas, confiantes, amigáveis…” 12
O que se entende por corpo, de modo a conceber o que seja a dança? Qual é o corpo
que dança na Grécia e em Roma, quais as suas peculiaridades destacadas? Tobin
Siebers avisou que “Não existe perceção na ausência do corpo.” 14
A abordagem ao conceito de corpo é obsessiva, e inexoravelmente redundante. A
história do corpo pretendeu durante demasiado tempo, reafirmar a dicotomia entre
essa dupla natureza do homem: humano e sagrado. Humano e sagrado, corpo e
espírito, matéria e alma. Estas dualidades, instaladas no maniqueísmo judaico‑
‑cristão, são enquadradas e apreensíveis nas movimentações que o tempo e os seus
mentores lhes quiseram infligir.
No século XXI, pensar o corpo será caso de esgotamento ou de reabilitação. É
inevitável, reconhecer a emergência do conceito, em bases fenomenológicas que
remetem às origens da humanidade, a tomada de consciência do corpo próprio
individuado. O que nem sempre se percecionou de acordo aos parâmetros em que o
pensamos sobretudo depois de Merleau‑Ponty, e com David le Breton ou Umberto
Galimberti; sublinhando as proclamações de Antonin Artaud e as sistematizações
de Gilles Deleuze e Felix Gattari – Corpo sem órgãos [CsO].
“No dia em que uma estátua é acabada, começa, de certo modo, a sua vida.
Fechou‑se a primeira fase em que, pela mão do escultor, ela passou de bloco a
forma humana; numa outra fase, ao correr dos séculos, irão alternar‑se a adoração, a
admiração, o amor, o desprezo ou a indiferença, em graus…” 17
“N’est‑ce pas une douce folie que le langage: en parlant l’homme danse sur toutes les
choses.” 18
Eis que estas figuras das ménades19 dançantes parecem ludibriar o veredito de
Marguerite Yourcenar e que não foi o Tempo que as esculpiu, antes exerceram auto‑
ridade sobre o domínio de Kronos, para se manterem quase intactas. Na mitologia
grega, as denominadas ménades eram as ninfas do monte, encarregues por Hermes
de cuidarem Dionísio:
O nome passou depois a ser atribuído àquelas devotas que participavam das festas
dionisíacas e que o seguiram no seu périplo triunfal desde a Lídia até Roma. Criaturas
tremendas e possuídas mataram Penteu de Tebas e desmembraram Orpheu. Após o
que Dionísio as puniu, transformando‑as em árvores. Talvez por isso, sejam repre‑
sentadas segurando com a mão direita um tirso, bastão com uma pinha no topo.
Na mitologia romana, são as chamadas bacantes que celebravam Dionísio/Baco, e
as suas façanhas tinham ocupado Eurípedes, que as abordou na sua grande tragé‑
dia, circa 405 no século V AC., onde se celebrava os termos mais primitivos da reli‑
gião grega. As festas bacanais proliferaram em Roma até aos derradeiros tempos
do Império. As bacantes são muito frequentemente representadas com Centauros
e Zéfiros, entre outros seres mitológicos que as acompanham nos seus desvarios,
enquanto as ménades são representadas sozinhas e em posturas e movimentos
“moderados” e quase esvanecentes… As Bacantes inspiraram pintores relevantes do
século XIX, em poses de sedução e volúpia, bem diferentes das ménades que foram
tratadas pelos artistas neoclássicos e românticos, na sequência da tradição icono‑
gráfica e iconológica que os antecedeu, persistindo numa recriação estereotipada.
As figuras representadas neste alinhamento, que originariamente compunham
a assunção iconográfica de uma evocação mitológica específica, estabeleceram‑se
numa “identidade” temática per se. Ou seja, instauraram‑se de forma sincrética
enquanto Alegorias da Dança.
As imagens das “figuras visibilizam e contêm ideias como Persistência – Repercussão
– Permanência – Residualidade – Parecença – Similitude – Réplica – Reprodutibilidade
– Propagação… Estas e tantas mais ideias ilustram quanto pode expandir a noção
de gravura, afastando‑se da convencionalidade pragmática e semântica – pro‑
gredindo de uma panóplia de técnicas até aceções que concorrem para a incor‑
poração de metodologias e procedimentos diferenciados, organizados a partir
20. Emmanuel 1896, 293 e, mais adiante: “Les Ménades sont des êtres fabuleux. Aux fêtes célébrées par les populations
helléniques en l’honneur de Dionysos elles sont représentées, dans l’accomplissement des rites traditionnels, par des femmes
qui portent le nom général de Bacchantes, et auxquelles chaque contrée donnait une appellation spéciale”, 295.
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de denominadores comuns21: gravuras ponta‑seca, placas de biscuit com relevo,
pequenas estatuetas em cerâmica, pinturas, todas se instituem enquanto vocabu‑
lários visuais ou quaisquer iconografias específicas e recorrentes simultaneamente.
“Gli scavi archeologici di Ercolano (1738), di Pompei (dal 1748) e di Stabia – odierna
Castellamare di Stabia (dal 1749) –portarono alla scoperta di dipinti, sculture ed altre
opere d’arte che nella seconda metà del Settecento e durante quasi tutto l’Ottocento
sarebbero stati ammirati in molte parti del mondo [2].” 22
As seis ménades da coleção Allen remetem para a iconografia de seis diferentes pin‑
turas parietais da Villa (ou Casa) de Cicerone23, próxima à Porta de Ercolano em
Pompeia. Essas pinturas parietais foram recuperadas no século XVIII, quando das
escavações realizadas e pertencem ao acervo do Museu Arqueológico de Nápoles.
Conhecem‑se outras representações – e réplicas – artísticas [originais, múltiplos
e cópias] de ménades, residindo em coleções de outros museus europeus. Transposta
a sua iconografia em estátuas e esculturas, quer do período clássico da Grécia, quer
helenísticas, quer em versões posteriores, usando técnicas e identificando‑se estilos
como nos casos de:
– Danzatrice di Tivoli, século II DC, no Palazzo Massimo, Roma; altos‑relevos
representando Dançarina no Templo de Dionísio, do século I AC., na Acrópole;
uma Ménade dançante de Skopas, século IV DC (mas também uma Ménade
adormecida, do século IV DC); um relevo em mármore com uma Ninfa a dan-
çar, século IV AC, no Museu Arqueológico de Atenas. Também uma significa‑
tiva figura feminina em terracota esboçando diferentes movimentos de dança,
datadas circa século II AC, no Palace of the Legion of Honor de São Francisco
(California);
– Cópias romanas de relevos em mármore figurando ménades, século II DC –
figura com nuca inclinada para a frente, olhando a mão que segura uma pan‑
deireta; figura com nuca inclinada para a frente, olhando para a própria mão
direita que segura o tirso. Mas também se vê um desenho modelado de Claude
Michel, representando três ménades a dançar, 1765;
25
“Così pure formati sono i puttini sulle pitture d’Ercolano, e specialmente su una di
fondo nero; e sono della stessa grandezza, come le belle figure delle danzatrici ivi
dipinte.” 28
E, ainda:
Les plus belles de ces peintures représentent des danseuses et des centaures: leur
proportion est d’environ un empan ; elles font peintes fur un fond noir, et ne peuvent
être attribuées qu’à un grand maître, car elles font suffi légères que la pensée, belles
comme fi elles avoient été tracées par la main des Grâces. Les peintures dignes
de tenir un fécond rang, et qui peuvent même marcher de pair avec celles des
danseuses, font deux morceaux qui faisaient pendant, et dont les figures font un peu
plus grandes que les précédentes.29
“…Ele [Lord Hamilton] mandou fazer para ela uma túnica grega que lhe cai muito
bem; ela solta os cabelos, vale‑se ainda de um ou dois xales e põe‑se a fazer uma tal
série de poses, gestos, caras etc. que, por fim, acreditamos de fato estar sonhando.
O que se vê – pronto e acabado, em movimento e apresentando surpreendentes
variações – é algo que muitos milhares de artistas gostariam de ter conseguido
produzir.” 31
· Brogi,_Carlo_(1850‑1925)_‑_n._11290_‑_Napoli_‑_Museo_Nazionale_‑_Danzatrici,_o_
baccanti,_in_varie_pose_(pitture_murali_di_Pompei)
· Brogi,_Carlo_(1850‑1925)_‑_n._11291_‑_Napoli_‑_Museo_Nazionale_‑_Danzatrici,_o_
baccanti,_in_varie_pose_(pitture_murali_di_Pompei)
· Brogi,_Carlo_(1850‑1925)_‑_n._11292_‑_Napoli_‑_Museo_Nazionale_‑_Danzatrici,_o_
baccanti,_in_varie_pose_(pitture_murali_di_Pompei). 34
As seis figuras das dançarinas de Pompeia, cada uma encenando um “petit tableau”
estereotipado (já então decalcada a partir da tradição iconográfica grega) revelava
uma simbologia específica, para ser lida em concatenação. As dançarinas perso‑
nificam o espírito da natureza, investidas por Dionísio e aparentando uma fúria
domesticada e convincente.35
As pinturas foram fotografadas por Carlo Brogi36 (1850‑1925), estando catalo‑
gadas como “affresco composito da Pompei, cd. Villa di Cicerone; III stile pom‑
peiano (15‑45 d.C.) – “Danzatrici, o baccanti, in varie pose (pitture murali di
Pompei)”. Numero di catalogo Brogi: 11291.”
Pode‑se verificar, por relação aos conjuntos de figuras fotografadas, que na totali‑
dade seriam dez figuras de dançarinas. Portanto, mais quatro figuras do que as seis
que integrariam o conjunto reproduzido em seis placas (respeitando apenas cinco
poses diferentes, como antes de assinalou) na coleção de João Allen. Os registos
de cinco poses, do conjunto de seis figuras, encontram‑se disponíveis no website
oficial de Pompeia37.
“TAVOLA XVIII.
On può ammirarsi a bastanza questa pittura. O si confideri la maestria del disegno, o la
gentilezza del colorito, o la leggiadria dell’atteggiamento: tutto sa riconoscere la finezza
dell’arte, e la perfezione dell’opera. Sembra questa bella e delicate figura essere in mossa di
ballare: e le accrescono oltre alle smaniglie d’oro e al, quell’ intreccio di perle e di bianchi nasiri,
onde há legati i biondi capelli; e la leggiera e e sotti veste di color giallo orlata di una sascetta a
color turchino; la qual veste svolazzando ricuopre piccola parte dell’ ignudo corpo.” 39
“ La dissemblance des mouvements exécutes par les danseuses qui se font vis‑a‑vis
dans chacun de ces trois groupes est si évidente et si complète, qu’on pourrait attribuer
a la seule fantaisie du peintre céramiste la juxtaposition de ces figures deux à deux ”.43
A dupla figuração é ladeada – em simetria, por três figuras do lado esquerdo e três
figuras do lado direito.
Cada uma destas seis figuras de ménades tratadas a solo, correspondem portanto
às seis pinturas parietais e a cinco dos seis medalhões da coleção João Allen no
MNSR. A pintura central, fotografada neste conjunto de Brogli, é uma das ilus‑
trações alusivas aos Pas de deux no livro de Maurice Emmanuel, La danse grecque
antique d’aprés les monuments figures (1896), mais concretamente a figura 495, que
pode ver‑se na página 237 (Fig. 1).
As seis ménades constam das reproduções disponíveis na obra Antiquités d’Her-
culanum, Tome I, (Vol. 1 of 6), de Tommaso Piroli, Pietro Piranesi e Francesco
Piranesi44. Nesse volume, a apresentação iconográfica é acompanhada, sistemati‑
zada na tipologia e descrição, em cada uma das “Planches” diretamente associada
à respetiva gravura:
PLANCHE XVIII.
On ne peut assez admirer cette peinture; la sûreté du dessin, la pureté du coloris, une grâce
charmante dans l’agencement, tout fait reconnaître la finesse de l’art et la perfection de
l’exécution. Le mouvement de cette jolie figure annonce la Danse; ses charmes sont encore
relevés par les bracelets et le collier de perle; un ruban blanc lie ses cheveux blonds; son
vêtement fin et léger de couleur jaune, avec une bordure bleue, est abandonné au vent, et nous
dérobe à peine une partie de son corps.
“Les danseurs invitaient Vénus à se mêler à leurs jeux; elle conduit le choeur des Nymphes et
des Grâces; elle danse au banquet des Dieux; les perles nées dans son berceau font sa parure
chérie”.
C’est donc Vénus qui nous charme dans cette figure, ou c’est une jeune Danseuse ou
Bacchante qui la représente; nous la voyons exécuter dans un banquet l’une de ces trois parties
PLANCHE XIX.
Cette figure rivalise de beauté avec la précédente. Ses cheveux sont blonds; le tissu jaune et
transparent qui se joue en plis gracieux paraît plutôt voiler que couvrir une partie de son corps;
son front est ceint d’un ruban bleu‑céleste; de la main gauche elle soutient un disque couleur
d’argent, qui paraît avoir quelque rapport à sa danse et lui servir de caractère distinctif.
“Telle se montrait Vénus, vierge encore, exposant aux regards la beauté de ce corps parfait, et
laissant deviner ses charmes les plus secrets sous un léger tissu de lin, que soulève doucement
le zéphir; la blancheur de son corps s’unit à la lumière du ciel, et l’azur de son voile se confond
avec celui des flots”. Cette description voluptueuse d’Apulée (Métam. X) a beaucoup de rapport
avec notre Danseuse. Les Grâces, les Nymphes et les Heures étaient également représentées
dans les danses avec les attributs que leur donnaient l’imagination des peintres et des poètes;
et les danseuses ont pu servir à leur tour de modèles pour ces Divinités.
Les jolies frises à la suite de cette peinture et des cinq suivantes, n’ont aucune relation avec le
sujet.
Hauteur, 11 p°.—Largeur, 1 P. 3 p°. 6 lig.
PLANCHE XX.
Voici une autre Danseuse dans le caractère d’une Bacchante. À demi‑nue, les cheveux épars,
de la main gauche elle élève un tambour garni de grelots (tympanum) qu’elle est prête à
frapper de l’autre main pour marquer la mesure de sa danse; elle est parée d’un collier et de
bracelets à double rang, qui paraissent formés de perles; sa robe blanche et d’une grande
finesse est bordée de rouge, couleur consacrée Bacchus; les plis en sont élégans et bien
entendus; ses sandales sont attachées avec des rubans également rouges.
Parmi les personnages que les anciens aimaient à voir représenter par leurs danseuses au
milieu du festin, les Bacchantes offraient sans doute un attrait piquant à leur goût pour le
plaisir. Les poètes donnaient leur caractère. “Presque nues, à peine couvertes d’une peau de
tigre ou d’un vêtement léger, prêtes à se livrer aux orgies de Bacchus, on les voit détacher les
bandelettes de leur chevelure et l’abandonner aux vents, s’agiter vivement, et accompagner
leurs mouvemens du bruit du tambour; elles ne donnent pas moins l’image de l’ivresse de
Vénus que de Bacchus”.
Le mouvement de notre Danseuse est plus composé; ses cheveux dénoués ne sont pas
encore en désordre; elle vient de commencer la danse.
Hauteur, 11 p°.—Largeur, 1 P. 3 p°. 6 lig.
268
PLANCHE XXI.
Cette Danseuse se fait encore admirer par sa grâce et sa légèreté; ses cheveux ne sont point
épars, mais le lierre dont ils sont couronnés, la peau de tigre ou de panthère qui de l’épaule
gauche s’envole sous son bras, nous font reconnaître une Bacchante. Elle fait résonner
dans ses mains les cymbales, dont le bruit harmonieux doit accompagner les clameurs des
Prétresses de Bacchus; les bracelets à double rang sont de couleur d’or; son vêtement est
de cette couleur d’azur que le galant Ovide distingue parmi celles qui plaisaient le plus aux
femmes.
Les Bacchantes ne sont pas toujours caractérisées par le désordre de leur chevelure; on en
trouve souvent, dans les monumens antiques, dont les cheveux sont soigneusement arrangés.
Un poète latin (Corn. Gallus, l. IV) nous peint ainsi l›une de ces femmes voluptueuses: “Sa
beauté ingénue lui faisait donner le nom de Candide; les tresses de ses cheveux étaient
divisées avec art; les cymbales retentissaient entre ses mains agiles, et leur éclat se
réfléchissait sur tout son corps; je la vis danser et fus épris d›amour”.
Hauteur, 11 p°.—Largeur, 1 P. 3p°. 6 lig.
PLANCHE XXII.
Cette figure svelte et gracieuse est vêtue d’une robe violette longue et transparente; l’épaule
et le bras nus, elle semble avoir suivi le conseil du précepteur des amours, qui apprend à ses
écolières que la partie qui attire le plus les regards des amans est celle où ces belles formes
se confondent. (OVID. de art. III, v. 307.) Un voile léger jeté sur l›autre épaule passe sur son
sein, vient former un tour à son bras droit, et voltige agréablement par derrière; son poignet
est paré d›un bracelet d›or; de légères semelles forment sa chaussure; les feuilles de roseau
dont ses cheveux blonds sont couronnés, le vase qu›elle porte d›une main, le disque qu›elle
soutient de l›autre, et où l›on distingue trois figues, paraissent faire allusion à son caractère.
C›est une Naïade, suivante de Bacchus, ou une femme qui, sous ce personnage, fait au
Dieu l›offrande des prémices d›un fruit qui lui est consacré, ou l’une de celles qu’on appelait
pour servir dans les festins somptueux. La couleur violette qui distingue son vêtement était
très‑recherchée des femmes dans leur parure, et une profession en prenait à Rome le nom
de violarii.
Hauteur, 11 p°.—Largeur, 1 P. 3 p°.6 lig.
PLANCHE XXIII.
Cette jolie figure a beaucoup de rapport avec la précédente par l’expression, quoique ses
attributs lui donnent un caractère différent. Sa couronne formée de tiges de blé, et sa robe
blanche, ont quelque rapport aux fêtes de Cérès, célébrées très‑souvent par les anciens avec
celles de Bacchus. C’est encore une Danseuse appelée dans un festin; elle porte un panier
de la main droite, et de l’autre un disque; comme sa compagne, elle est sans ceinture, et son
vêtement flottant laisse découvert le sein et le bras droit; au‑lieu de sandales, elle porte des
chaussons. Cette figure rappelle la danse religieuse des Cernophores; l›imitation des usages
religieux embellit souvent les fêtes consacrées aux plaisirs. La tunique flottante était une
recherche des femmes voluptueuses et des hommes qui s›en rapprochaient par leur goût;
elle prêtait à la grâce des mouvemens, et les ondulations produites par le zéphir donnaient un
attrait plus piquant aux formes que décélait la transparence du vêtement.
Hauteur, 11 p°.—Largeur, 1 P. 3 p°. 6 lig.45
45. Transcrição de Title: Antiquités d’Herculanum, Tome I., (Vol. 1 of 6) Author: Tommaso Piroli, Pietro Piranesi, and Francesco
Piranesi in https://www.gutenberg.org/files/17231/17231‑h/17231‑h.htm.
269
XXI –
Cabeça a ¾ para a direita;
Torsão do corpo a partir do tronco – [corps presque en cambré]
com os braços elevados na lateral ao nível da cabeça; Mãos
seguram címbalos em atitude de desempenho; Túnica lançada
em sentido oposto ao sentido da torsão do tronco; Pés com
sandálias: pé esquerdo avançado e pé direito quase a tocar o solo
– [pés cruzados em ½ ponta, 4.ª posição aberta].
XVIII –
Cabeça a ¾ para a direita; Tronco ligeiramente voltado para a
esquerda; braço esquerdo levanta o tecido permitindo fluidez e
suspensão ondulante; mão direita prende levemente o tecido ao
nível da anca – [gesto da mão túnica é recorrente; braços em 4.ª
posição, parecem assumir a posição que acompanha atittude];
Pés descalços: pé esquerdo avançado; pé direito a tocar solo –
[pés cruzados em ½ ponta, 4.ª posição, croisé devant].
XX –
Cabeça a ¾ para a esquerda;
Tronco ligeiramente voltado para a esquerda – [corpo ligeira‑
mente épaulé]; o braço esquerdo segura, elevando, o tamboril;
braço direito quase em paralelo, semi‑fletido no cotovelo. Pés
descalços: pé direito, muito ligeiramente avançado, “em 2.ª”; pé
esquerdo a tocar o solo em ½ ponta, ligeiramente recuado – [pés
quase paralelos, em 2.ª posição aberta]; movimento descendente,
quase acusando receção no solo.
XXII –
Cabeça a ¾ para a direita;
Corpo a ¾ em ação de caminhar para a direita – [corps épaulé];
Mão esquerda segura uma phiale com frutos, levantado à altura
da cinta; mão direita segura pela asa a ânfora/vasilha num movi‑
mento de ligeireza; Pé direito levantado, em passo, pé direito toca
o solo quase eem ponta‑ [4.ª posição em ½ ponta].
XIX –
Cabeça a ¾ para a esquerda – [c
tête penchée en avant]; Colocação de corpo quase frontal
ligeiramente para a esquerda; Mão direita levantada acima da
cabeça em 5.ª posição, segura o tecido suspenso sobre a cabeça,
descendo em concha, sendo agarrado pela mão esquerda que,
por sua vez, segura uma phiale; Pés em paralelo, frontais a tocar
o solo em ½ ponta; Movimento descendente, quase acusando
receção no solo.
Cf. fig. 259 in Maurice Emmanuel, La danse grecque antique d’aprés
les monuments figurés, Paris, Librairie Hachette, 1896, p. 210.
XXIII –
Cabeça a ¾ para a direita;
Colocação de corpo quase frontal – [corps épaulé] ligeiramente
para a direita;
Tecido esvoaçante do lado direito, sobrepondo‑se‑lhe o braço que
segura uma sítula; braço esquerdo ocultado pelo tecido, aperce‑
bendo‑se a mão que segura uma phiale;
Pé direito avançado, semi‑ tapado pela base da túnica, pé
esquerdo recuado – [4.ª posição em ½ ponta] vislumbrando‑se
apenas em sombreado.
270
“Ne cessez pas vos danses, charmantes jeunes filles ! Ce n’est point un trouble‑fête au
mauvais oeil qui est venu parmi vous, ce n’est point un ennemi des jeunes filles! (…)
Mais lorsque la danse fut finie, les jeunes filles s’étant éloignées, il devint triste.” 46
“Les Ménades sont des êtres fabuleux. Aux fêtes célébrées par les populations
helléniques en l’honneur de Dionysos elles sont représentées, dans l’accomplissement
des rites traditionnels, par des femmes qui portent le nom général de Bacchantes,
et auxquelles chaque contrée donnait une appellation spéciale. (…)Tandis que les
Ménades sont toujours mêlées aux Satyres, les Bacchantes n’admettent aucun
danseur masculin parmi elles : la célébration des fêtes orgiaques était exclusivement
confiée à des femmes. Mais il n’est pas douteux que les artistes n’aient emprunté à
des modèles vivants tous les types de danseurs bachiques qu’ils ont fixés. ” 47
“Une des premières, on le sait, dans cette ‘féerie’ à laquelle s’apparente le ballet, est
la danseuse, et sa ‘beauté physique’ (p. 105), et voilà Gautier campant les portraits
et assurant le ‘suivi critique’ de la carrière (p. 139) des principales ballerines du
siècle, de Taglioni et Elssler à Carlotta Grisi, objet de prédilection, de Fanny Cerrito à
Amalia Ferraris ou Emma Livry, sans oublier Dolorès Serral ou les autres danseuses
exotiques.” 49
“People do not improve, singly, by travelling, but by the observations they make, and by
keeping good company where they do travel.” 51
“Nada melhora tanto o carácter como o estudo das belezas, quer se trate da poesia,
da eloquência, da música, ou da pintura…” 52