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Antropologia 2018

"É a grande glória e a honra de nossos reis e dos espanhóis,


escreve Gomara em sua História geral dos índios, ter feito aceitar aos
índios um único Deus, uma única fé e um único batismo e ter tirado deles
a idolatria, os sacrifícios humanos, o canibalismo, a sodomia; e ainda
outros grandes e maus pecados, que nosso bom Deus detesta e que
pune. Da mesma forma, tiramos deles a poligamia, velho costume e
prazer de todos esses homens sensuais; mostramo-lhes o alfabeto sem
o qual os homens são como animais e o uso do ferro que é tão
necessário ao homem. Também lhes mostramos vários bons hábitos,
artes, costumes policiados para poder melhor viver. Tudo isso – e até
cada uma dessas coisas – vale mais que as penas, as pérolas, o ouro que
tomamos deles, ainda mais porque não utilizavam esses metais como
moeda."

Comente a citação acima, relacionando-a à dupla resposta


formulada sobre a diferença pelos viajantes europeus do Século XVI.

Tudo é sempre uma questão de ponto de vista, de olhar com os estes ou


com aqueles olhos, ou seja, para os europeus, era motivo de honra ter
“massacrado” a cultura, os costumes indígenas, pois tinham (e muitos ainda
têm) uma visão de mundo muito eurocêntrica, ou seja, tudo o que não estiver
dentro dos padrões “brancos, loiros, de olhos azuis”, será ou rejeitado e
abolido, com uma violenta repressão (como exemplo, podemos citar o
assassinato de indígenas que se rebelaram contra a “ditadura” européia que
lhes foi imposta), ou moldado, para que se encaixe dentro desses padrões.

A começar pela religião, os europeus tentaram converter os índios à fé


católica, através de missões jesuíticas, inclusive, apesar do excerto do texto
fazer referência apenas à América espanhola, também tivemos isso aqui no
Brasil. Com os padres jesuítas que tinham a missão de catequizar os índios.
Relacionando com a música, os padres costumavam se utilizar de cantos
indígenas com letras religiosas adaptadas para tentar “consertar” a fé dos
nativos.

Como não houvesse lei que proibisse poligamia, sodomia, dentre outros
costumes indígenas, era impensável para os nativos que estivessem
cometendo algum mal, pois como diz a canção de Chico Buarque: “Não existe
pecado ao sul do Equador”, ou seja, somente com as leis impostas pelos
europeus é que os indígenas passaram a pecar.

Claramente toda esse “esforço” para moldar os nativos à sua cultura foi
um mero pano de fundo para a extrema exploração realizada pelos europeus,
tanto no colonialismo, com ameríndios no século XVI, como no
neocolonialismo, com os africanos, no século XIX, onde os europeus dividiram
o continente em “países” conforme sua cultura, sem levar em conta questões
culturais, divisão das tribos nativas, por exemplo.

Um exemplo de que os europeus pouco se importavam com converter


ou não os nativos, mudar ou não seus costumes, pode ser encontrado no
seguinte trecho: “Tudo isso – e até cada uma dessas coisas – vale mais que as
penas, as pérolas, o ouro que tomamos deles, ainda mais porque não
utilizavam esses metais como moeda”, ou seja, a principal razão pela qual os
europeus massacraram os indígenas foi, desde o início das grandes
navegações, sempre a busca pelos três “M”: Mercadorias (especiarias, pedras
preciosas), Mercado consumidor (pois com a crise do feudalismo e a
emergência de um novo sistema – o capitalismo – os europeus precisavam de
gente para consumir o excedente produzido) e Mão de obra barata (pois a
maioria dos europeus não queria trabalhar nos serviços braçais).

Concluo dizendo que tanto no colonialismo, quanto no neocolonialismo e


até mesmo no imperialismo norteamericano, o desejo de “ajudar” não é mais
do que uma “maquiagem” para as reais intenções, que são sempre favorecer
aos próprios dominadores.

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