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Aula 2
História da Coreografia no Ballet
Em 1455, Antonio Cornazano escreveu o Libro sull’arte del dansare (Livro sobre a
arte de dançar), fazendo distinção entre dança popular e dança aristocrática ou arte,
explicando que a última era construída a partir de variantes em torno de uma fábula ou
enredo, denominando-a ballet.
Assim, o primeiro trabalho coreográfico levado com este nome combinava música,
mímica e dança: o Ballet Comique de la Reine1, organizado e coreografado por Balthasar
de Beaujoyeulx, levado na França, em 1581, e interpretado pelos próprios nobres da
corte, com a participação da rainha Catarina de Medicis.
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Cabe ressaltar que, neste caso, comique não possui nenhum sentido de comicidade.
Orchesographie
Embora possa parecer hermético ou impositivo à primeira vista, não creio que o
seja: esta preocupação pedagógica enfatiza a importância da musicalidade em um
dançarino e mostra a dependência estabelecida entre dança e música no ballet.
Tratado de Feuillet
Tanto a Itália, onde o ballet começou, assim como a França, onde inicialmente se
desenvolveu, continuaram, até o final do século XIX, a fornecer grandes maestros de
dança, exercendo notável influência em todas as demais escolas que as seguiram:
dinamarquesa, russa, inglesa, norte-americana e cubana, esta última, uma síntese das
escolas russa e norte-americana.
Definições de coreografia
Então, creio que podemos definir coreografia como a estrutura dada aos
movimentos de dança para expressar uma determinada idéia, entendendo-a como um
fenômeno que emerge da necessidade de comunicação do corpo. Podemos ainda dizer
que é o “desenho” da dança no palco, criado para comunicar – uma história, um tema,
uma intenção.
Tipos de coreografia
Para Sara Acquarone (1991), existem dois tipos de coreografia: uma criativa e
outra, funcional. A autora faz essa distinção, por não julgar possível, por exemplo, usar-
se de total liberdade coreográfica nos ballets inseridos nas óperas ou em espetáculos de
fim de ano letivo de uma escola.
A coreografia criativa não se prende a nada: o coreógrafo é livre para fazer suas
escolhas; não tem limitações quanto ao tema, tempo de duração do trabalho ou qualquer
outro fator.
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Ballet de repertório: do latim repertoriu, ‘inventário’, segundo o dicionário Aurélio, entre outras definições,
significa “conjunto das obras interpretadas por uma companhia teatral, por um ator, por uma orquestra, por
um solista etc”. Em relação à dança, repertório é o conjunto de obras que, reunidas a partir de determinados
critérios, continuam a ser encenadas, remontadas por diversas companhias ao redor do mundo e, mesmo
décadas ou séculos após a morte de seus autores, continuam a gerar interesse do público que as assiste.
Essas obras formam o acervo de uma companhia. Assim, repertório está ligado à permanência e à
universalidade.
fazem parte do acervo das grandes companhias por muitas décadas, obviamente não são
dançados hoje como o foram em 1800.
Aula 3
O Coreógrafo
Competências de um coreógrafo
Conhecimento:
• Formação musical básica – distinguir minimamente os tempos musicais e saber
dividir os compassos adequadamente
• Conhecimento de estilos de dança e de arte em geral.
• Cultura geral
Habilidade:
• Facilidade de desenvolver idéias
• Imaginação fluente
• Capacidade de convencimento
Atitude:
• Motivação pela idéia central do trabalho
• Objetividade
• Bom senso para adequar a coreografia à capacidade dos bailarinos
• Visão crítica
Apesar de Paris ser o centro da dança em meados do século XIX , aquele que se
tornou talvez o mais famoso coreógrafo da época, era italiano: Filippo Taglioni, criador de
“La Sylphide”, em 1832, para sua filha Marie Taglioni.
Outro muito famoso coreógrafo, Auguste Bournonville, em 1836 criou sua própria
versão de “La Sylphide” para Lucile Graham, sua aluna favorita.
O primeiro sucessor de Perrot foi Saint Leon, que criou “Coppelia” (1870), com
música de Delibes.
Na Rússia, o sucessor de Petipa foi Mikhail Fokine que quebrou a estrutura formal
dos ballets anteriores. Fokine compôs obras de apenas 1 ato, e deu tanto destaque à
figura masculina quanto à da bailarina. Em 1905 criou o mais famoso solo que temos até
hoje: “A Morte do Cisne”, coreografado para Anna Pavlova. Em 1911, junto com o
compositor Stravinsky e o designer Benois, criou “Petrouschka”.
Este novo estilo certamente abriu espaço para o crescimento da dança moderna e
contemporânea.
Uma outra estrela, Serge Lifar (1905-1986), tornou-se diretor da Ópera de Paris;
Leonide Massine (1896-1979) coreografou para filmes como “Os sapatinhos vermelhos”.
Na Inglaterra, Marie Rambert (1888-1982) fundou uma companhia, enquanto Ninette de
Valois (1898-2001) fundava o Sadler’s Wells Theatre Ballet, apoiando jovens coreógrafos
como Kenneth MacMillan e John Cranko, que, por sua vez, revitalizou o Ballet de
Stuttgard, nos anos 60.
Aula 4
O Remontador
É preciso que exista alguém que conheça o estilo desejado pelo coreógrafo, ou
que tenha dançado consideravelmente determinado ballet, ensaiado com vários
coreógrafos ou remontadores distintos, em diferentes versões da obra, para poder dar sua
contribuição à continuidade da obra. O vídeo é um recurso a mais para auxiliar àqueles
que já conhecem o que vão montar ou remontar.
Fui bailarina durante muitos anos. É óbvio que não conheci pessoalmente Petipa
e não fui ensaiada por ele! Mas fui ensaiada por alguém de notório saber que, por sua
vez, foi ensaiado por alguém com a mesma capacidade e assim por diante, até
chegarmos a quem conheceu Petipa. Tradição. É isto que devemos ter em mente na
ocasião de uma remontagem: a continuidade da obra como desejaria seu criador.
A imortalidade da dança
Pessoalmente, sou a favor de festivais, mostras competitivas etc. – mas isto é uma
outra história que não cabe aqui. Entretanto, é preciso manter-se a tradição e não
descaracterizar a obra, adaptando-a à técnica do estudante que irá apresentar-se – tanto
“facilitando” alguns movimentos quanto incluindo outros de mais difícil execução, quando
o bailarino dispõe de determinada habilidade, como hiperextensão ou facilidade para
girar.
Variações nunca devem ser modificadas para caber nas possibilidades do aluno ou
dissimular seus defeitos. Os mesmos passos executados por bailarinas como Lyubov
Egorova, Olga Prcobrajenska ou Anna Pavlova, estrelas que fizeram a mágica do ex-
teatro Mariinsky, esses mesmos passos devem ser trilhados pelas gerações que as
sucederam. Eis a imortalidade da dança.
Está claro que boa parte do trabalho de grandes maestros de dança e bailarinos do
passado inevitavelmente perdeu-se no tempo, mas é fundamental não permitirmos que as
coreografias originais se percam por falhas de memória (ou falta de pesquisa) ou ainda
por modificações desta ou de outra natureza.
Competência e ética
É fácil identificar por quê: segundo ela diz “não tem pirueta, não tem grand jeté,
não tem developpés”!
Citei apenas esses detalhes observados por Caminada, para mostrar que o
remontador não pode ignorar as peculiaridades dos ballets, a observação à época, o
estilo e demais componentes que já mencionamos como as características psicológicas
dos personagens – nos ballets que têm enredo – por serem determinantes ao
entendimento da obra. Deixar isto de lado seria torná-los mero conjunto de passos e
gestos aleatórios – mesmo que bem executados.