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17/10/2018 Roubos e homicídios tiveram forte crescimento durante a ditadura militar e deram início à epidemia de violência no Brasil – Faces …

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O que está por trás dos números da segurança pública

RENATO SÉRGIO DE LIMA


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2.out.2018 às 10h22

Roubos e homicídios tiveram forte crescimento durante a ditadura


militar e deram início à epidemia de violência no Brasil

reprodução (http://arte.folha.uol.com.br/especiais/2014/03/23/o-golpe-e-a-ditadura-militar/a-ditadura.html)

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brasil/)

Renato Sérgio de Lima

Em uma semana decisiva para o Brasil, em que duas fortes forças políticas e de base social parecem confluir para
um embate traumático, é interessante analisar alguns dos mitos que estão por mover o debate eleitoral. E, entre
eles, um ganha destaque. Ou seja, o mito de que é necessário resgatar a ordem e a moralidade impostas pelo

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regime militar de 1964, que a história reconhece como um golpe civil-militar mas que, de forma preocupante,
começa a ser relativizada por várias autoridades da República (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/10/toffoli-diz-que-hoje-prefere-chamar-
ditadura-militar-de-movimento-de-1964.shtml), a começar pelo Presidente do STF, Dias Toffóli.

Para refletir sobre esta “verdade”, Alberto Liebling Kopittke Winogron, advogado, associado do Fórum Brasileiro
de Segurança Pública e Diretor-Executivo do Instituto Cidade Segura, faz uma detalhada análise do movimento da
criminalidade ao longo das últimas décadas e conclui que não, não vivíamos com menos violência durante a
ditadura.

***

Uma das ideias mais fortes que impulsionam a candidatura do Capitão Reformado do Exército, Jair Bolsonaro e do
seu Vice, General da Reserva, Hamilton Mourão, é a tentadora proposta que conseguirão trazer de volta para o
país a paz existente durante a Ditadura Militar (http://arte.folha.uol.com.br/especiais/2014/03/23/o-golpe-e-a-ditadura-militar/a-ditadura.html)(1964-
1985).

Segundo essa ideia, que chamamos de “Pax Militar” – em alusão a paz imposta a força pelo Império Romano
dentro de suas fronteiras – o Brasil teria vivido anos de paz e baixos índices de criminalidade durante a Ditadura
Militar, em razão de uma maior liberdade para as forças públicas usarem a força e da ausência de mecanismos de
controle e garantias constitucionais. Para essa visão, que amealha hoje grande apoio social, a situação de violência
do país se deteriorou a partir da saída dos militares do Poder e da promulgação da Constituição de 1988, que teria
criado um regime de excesso de liberdades e garantias, fazendo explodir a violência no país.

No entanto, entre diversos problemas de cunho ético, moral e jurídico “menores”, esse raciocínio parte de uma
premissa equivocada: a ideia que o país viveu um período de paz durante a Ditadura não passa de uma grande
fakenews, produzida pelo próprio regime autoritário brasileiro e que adentrou na democracia como uma verdade.
Porém, o que de fato ocorreu entre 1964 e 1984 foi justamente o inverso: foi durante a Ditadura Militar que teve
início a epidemia de violência no Brasil.

Algumas pesquisadoras da saúde pública, como Vilma Pinheiro Gawryszewski e Maria Helena Prado de Mello
Jorge, conseguiram resgatar os dados históricos sobre o número de homicídios e identificaram que a epidemia de
violência no Brasil teve início justamente nos dois maiores estados do país, São Paulo e Rio de Janeiro, nos anos
1960 e 1970, durante a Ditadura Militar.
Em São Paulo, a taxa de homicídios subiu 390% durante a Ditadura Militar, saltando de 7,2 homicídios por
cem mil habitantes, em 1965, para 35,6 em 1985.

Apesar da narrativa da mídia atribuir a violência no Rio de Janeiro aos dois governos de Leonel Brizola, os índices
de violência no estado dispararam durante a Ditadura. Em 1984, segundo Julio Jacobo Waiselfisz, quando teve
início o primeiro governo de Brizola, as mortes por homicídios já representavam 46% das mortes de jovens, com
uma taxa de mais de 80 jovens assassinados a cada cem mil jovens naquele estado.

Foi justamente durante a Ditadura Militar que ocorreu a chamada mudança de “padrão de mortalidade violenta”,
com a violência se espalhando pela juventude brasileira. Entre 1920 e 1960, a maior causa de morte de jovens no
Brasil se dava em razão de doenças. No entanto, a partir da segunda metade dos anos 1960, as mortes violentam
assumiram o primeiro lugar como causa da morte de jovens no Brasil. Apenas entre 1979 e 1984, o número de
jovens assassinados no país subiu 22%, chegando a representar 26,6% do total de jovens entre 15 a 24 anos que
morriam no país a cada ano, isso sem levar em consideração a alta taxa de corpos que eram sepultados sem
registros, estimada em pelo menos 20%.

Apenas durante o Governo do General João Figueiredo, entre 1979 e 1985, os homicídios subiram 28% em todo o
país, perdendo apenas para o Governo Sarney, como o Governo com o maior aumento de violência desde o início
dos registros nacionais (diferença nas taxas de homicídios durante os governos: Collor, -9; Itamar, + 17,8; FHC,
+22,3; Lula, -5,8; Dilma, 10,6). Se juntarmos o último governo militar e o primeiro governo civil, ainda antes da
Constituição de 1988, o aumento dos homicídios chega a 76%.

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Em razão de problemas na qualidade dos registros das mortes violentas no país, existem algumas diferenças na
forma de mensurar os homicídios no Brasil especialmente entre 1981 e 1996, quando o Ministério da Saúde
modificou e melhorou a forma de registro. Estimativas mais realistas, que consideraram que 50% de todos os
crimes registrados como de intencionalidade desconhecida pelo SIM sejam considerados como intencionais e que
se assuma que 96% dos intencionais sejam tomados como homicídios, de acordo com Leandro Piquet Carneiro,
aponta que os Governos Militares entregaram o país em 1984 com uma taxa de 22 homicídios a cada cem mil
habitante.

Se considerarmos a taxa de 2017 de 30,8 mortes violentas intencionais, apontada pelo Anuário Brasileiro de
Segurança Pública, teremos que durante o período democrático entre 1985 e 2018 (33 anos), os homicídios
subiram 40% (lembrando que o Anuário computa as Mortes Decorrentes de Intervenção Policial que à época da
Ditadura não eram registradas). Porém, se levarmos em conta as taxas de São Paulo e Rio de Janeiro em 1964,
como referência, é possível estimar que o número de homicídios durante a Ditadura Militar possivelmente tenha
aumentado mais do que 100%, ao longo dos seus 21 anos de duração, demonstrando a falácia da Pax Militar.

Em relação aos crimes contra o patrimônio, novamente ocorre a mesma ilusão. Um estudo mostrou que a taxa de
roubos em São Paulo, em 1984, já era de elevados 270 roubos por cem mil habitantes. Se considerarmos os
dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, veremos que essa taxa foi de 303 roubos por cem mil
habitantes, em 2017, ou seja apenas 12% maior do que ao final da Ditadura Militar.

Não há dúvida que os governos democráticos até o momento não enfrentaram o tema da violência no país com a
prioridade necessária e a situação atual é muito grave, exigindo ações fortes e determinadas por parte da União.
Vários governos estaduais, inclusive os de “esquerda”, pegam carona entusiasmada no bordão “Bandido Bom é
bandido Morto” e liberam suas polícias para agirem com “rigor e em legítima defesa”. No entanto, a ideia de que o
Regime Militar foi eficiente para manter o país sem violência se trata apenas de uma falácia repetida ao longo dos
anos e que se transformou numa falsa e perigosa memória coletiva, muito em razão da falta de implementação de
mecanismos transicionais efetivos.

Enquanto nos iludimos com a tentação autoritária, deixamos de debater diversas experiências de sucesso de
países que conseguiram vencer a violência e ao mesmo tempo fortalecer suas democracias. Esses países
modernizaram e valorizaram suas polícias, aumentaram a transparência, o controle de armas e do uso da
força e passaram a implementar estratégias de Segurança Pública Baseadas em Evidências, exatamente o
inverso do que os regimes autoritários de esquerda ou de direita fazem e do que a Pax Militar fez no Brasil.

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comentários

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=CURINTIA= 3 dias atrás


O Brasil tem 27 UFs. Fale sobre as estatísticas da BA, CE e RN. Aí vc verá que na ditadura o país era um paraíso em relação a
segurança.

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E-HOMICIDIOS-TIVERAM-FORTE-CRESCIMENTO-DURANTE-A-DITADURA-MILITAR-E-DERAM-INICIO-A-EPIDEMIA-DE-VIOLENCIA-NO-BRASIL/)

JORGE HAMMER 2 semanas atrás


Boa tentativa, porém, e tudo na vida tem um porém, não vai adiantar, o cidadão ou melhor o contribuinte, aquele que sustenta e
sustentou num passado recente uma quadrilha multimídia, não irá se abater com esse tipo de publicidade. Estamos de olho,
certamente, vocês esquerdeopatas petralhistas, devem cumprir vossas promessas e irem embora deste País.

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HOMICIDIOS-TIVERAM-FORTE-CRESCIMENTO-DURANTE-A-DITADURA-MILITAR-E-DERAM-INICIO-A-EPIDEMIA-DE-VIOLENCIA-NO-BRASIL/)

MILTON GONÇALVES DOS SANTOS FILHO 3 semanas atrás


Faltou dizer que os roubos, assaltos e sequestros eram efetuados pelos integrantes da esquerda, assim com Dilma Rousseff, Miriam
Leitão, Aloísio Nunes entre outras figuras

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