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Avaliação Econômica de Empreendimentos

Custos Empresariais
Professora: Julianna Carvalho
Atividade: Estudo de Caso

A barra pesou no parque

O Terra Encantada consumiu até agora mais de 240 milhões de dólares. E pode
virar um mico

Autor: Jacqueline Breitinger. Fonte: EXAME. Matéria de: 20/04/1998

Era uma vez um senhor de muitas terras, que sonhava construir nelas um castelo à beira
de um lago. E, em volta, instalar brinquedos e muitas lojas, com uma bilheteria cobrando
ingresso de milhares de pessoas por dia. O latifundiário da nossa história, Tjong Hiong
Oei, mais conhecido, no Rio de Janeiro, como "Chinês da Barra" (um erro, já que nasceu
em Cingapura), conseguiu realizar seu sonho. Mas uma nuvem parece pairar sobre seu
reino. O parque temático Terra Encantada, primeiro do gênero, no Brasil, erguido por
Oei, sofre as conseqüências de uma inauguração problemática. A abertura do parque
aconteceu em janeiro deste ano, depois de dois adiamentos. Mesmo assim, com boa dose
de improvisação: nem todos os brinquedos funcionavam, lojas estavam fechadas e o
público ficou muito abaixo do esperado. Sem ter um Mickey ou um Pato Donald para
atrair visitantes, o Terra Encantada parece ter se transformado num mico, caído
diretamente no colo do "Chinês da Barra" e de seus parceiros.
Com uma média diária de 7 000 visitantes em abril, melhor do que a do início do ano,
mas muito abaixo dos 25 000 previstos no projeto, o Terra Encantada necessita de uma
injeção de capital. O dinheiro novo será usado no pagamento de dívidas com fornecedores
e na retomada da campanha publicitária de lançamento, interrompida pela falta de fundos.
Se o entretenimento e os parques temáticos, em particular, são uma das indústrias quentes
do momento (em todo o mundo os parques temáticos movimentam 8,6 bilhões de dólares
por ano), onde foi que Oei e seus executivos falharam?
A história da abertura do parque é uma fábula repleta de erros estratégicos. Em primeiro
lugar, houve falhas no planejamento. O projeto original estava orçado em 200 milhões de
dólares. Em 1995, quando foi oficialmente anunciado, já chegava a 220 milhões,
incluindo o terreno de 80 milhões de dólares, pertencente a empresa de Oei, a Esta. Outros
60 milhões vieram dos cofres do BNDES. Foi o maior financiamento para parques
temáticos oferecido pelo banco, que já emprestara 40 milhões de dólares para o Great
Adventures, em Vinhedo, São Paulo, e 10 milhões para o Wet n Wild de Salvador. Mas,
quando o Terra Encantada abriu suas portas, os gastos já ultrapassavam os 240 milhões
de dólares. Em agosto de 1997, uma parte do empreendimento foi vendido ao
BankAmerica, que pagou 20 milhões de dólares e ganhou um assento no conselho de
administração. Mas não foi o suficiente para colocar as contas em dia.
Uma das razões para o estouro do orçamento foi o crescimento das despesas para a
instalação dos brinquedos importados. "Os gastos foram 15 milhões de dólares maiores
do que o esperado", afirma Maria Lúcia Romero, diretora de operações do Terra
Encantada. Para tapar esse rombo, Oei vendeu alguns terrenos na Barra da Tijuca, bairro
onde está montado o parque. Ele já foi dono de 10 milhões de metros quadrados na região,
o equivalente a 10% da área total da Barra. Embora seus domínios tenham diminuído ao
longo dos anos, Oei ainda possui um grande estoque de terrenos na região.
O estouro do orçamento afetou o fluxo de caixa da obra, que deveria ter sido inaugurada
no Dia da Criança de 1997. Pagamentos a fornecedores começaram a atrasar e, em março,
as dívidas chegaram a 3 milhões de reais. Segundo José Eduardo Tostes, diretor-executivo
do Terra Encantada, todas as dívidas teriam sido reescalonadas. Houve pelo menos um
pedido de falência da Parques Temáticos SA, empresa que controla o Terra Encantada na
6ª Vara da Falências e Concordatas do fórum carioca (foi indeferido). A falta de dinheiro
fez com que a empresa suspendesse toda publicidade, justamente quando precisava atrair
mais visitantes. Uma nova campanha só irá ao ar no fim de maio. Ao contrário da
primeira, considerada pouco informativa, irá mostrar o Terra Encantada, sua localização
e quais atrações existem lá dentro.
Na abertura foi cometido outro tropeço estratégico: o público não foi avisado de que o
parque estava incompleto. "Foi um erro de marketing", afirma Craig Dean, diretor de
participações do BankAmerica em Chicago. Com muitos brinquedos parados, inclusive a
montanha-russa festejada como uma das grandes atrações, foi criado um anticlímax entre
os freqüentadores.
IBOPE BAIXO - O preço dos ingressos só piorou a situação. À época do lançamento do
Terra Encantada, a previsão era de que a entrada média custaria no máximo 13 reais em
dinheiro de hoje. Muito menos do que os 25 reais cobrados para crianças de até 10 anos
e dos 30 pagos pelos demais freqüentadores."O parque acabou ficando mais sofisticado
do que no projeto inicial e isso se refletiu no preço do ingresso", diz Maria Lúcia.
O ibope reduzido fez com que os administradores do parque apelassem para promoções.
Em abril, quem comprasse um ingresso levava outro de graça. Para estimular a demanda,
o preço da entrada baixou durante algumas semanas para 5 reais, a partir das 21 horas,
duas horas antes do encerramento das atividades nos brinquedos. Foi preciso interromper
a oferta. O parque chegou a receber 12 mil pessoas naquele horário. "Ficou inviável",
afirma Maria Lúcia. A entrada noturna de 5 reais vale agora apenas para quem visita os
bares e restaurantes, abertos até a madrugada. Mesmo que a freqüência aumente, os
ingressos não voltarão ao preço da inauguração. Até dezembro, segundo Maria Lúcia, o
ingresso médio deve estabilizar-se em 22 reais.
Inicialmente, os executivos do Terra Encantada acreditavam que o parque poderia
subsistir com a bilheteria, renda dos aluguéis das 130 lojas e quiosques e com a cotas de
patrocínio vendidas para empresas como a Coca-Cola, Chocolates Garoto, Kodak, BR,
Kaiser e Heineken. (A última dessas cotas está sendo negociada com o Bradesco, que terá
o direito de abrir uma agência no parque). Não foi o suficiente. Para aumentar as receitas,
novos patrocínios estão sendo oferecidos a fabricantes de biscoitos, leite, brinquedos,
produtos esportivos e de informática. Outra frente de arrecadação de recursos é um fundo
imobiliário, lançado em 1997 e cujo único cotista, até agora, é o fundo de pensão dos
funcionários do Serpro, que pagou 22 milhões de dólares. O fundo pode negociar até 43%
do capital da Parques Temáticos SA. Existem ainda negociações com a Previ, dos
empregados do Banco do Brasil. Estão emperradas há meses. A Previ estaria exigindo
uma série de mudanças para colocar 60 milhões de dólares no negócio, incluindo a troca
dos administradores por executivos com experiência em parques temáticos.
O fato de um parque temático passar por problemas graves em seus primeiros tempos não
é inédito. A EuroDisney, inaugurada em 1992, também patinou no começo. O parque,
distante 30 quilômetros de Paris, foi planejado para ser uma cópia fiel dos mantidos pela
Disney nos Estados Unidos. Mas a reação francesa à invasão da cultura americana não
foi levada em conta. Durante três anos, o parque deu prejuízo, até que parte de seu capital
foi vendido a um magnata árabe. Uma reestruturação foi iniciada - o nome mudou para
Disneyland Paris - e os lucros começaram a aparecer. No caso do Terra Encantada, resta
ao velho "Chinês da Barra" torcer para que as dificuldades atuais sejam apenas um preço
a pagar pelo noviciado. Ou, então, como aconteceu com a Disney européia, torcer para
que um xeique das 1001 noites se encante pelo seu parque.
Disponível em: http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/0662/noticias/a-barra-
pesou-no-parque-m0051227
Acessado em: 20 de julho de 2014.

1. Segundo a reportagem, “Uma das razões para o estouro do orçamento foi o


crescimento das despesas para a instalação dos brinquedos importados.”
Considerando o custo histórico como base de valor, comente os gastos de
instalação dos brinquedos importados. Ao nomeá-los ‘despesas’, o texto está
correto?

2. Como são apropriados os gastos referentes à manutenção dos brinquedos em


funcionamento? Por quê?

3. A reportagem afirma que o parque iniciou suas atividades com os preços de


ingressos acima do esperado. Qual você acredita que seria a intenção da gestão ao
adotar esta estratégia? Discorra sobre o impacto desta decisão para o
empreendimento.

4. A restrição de orçamento influenciou outros setores da gestão do parque, como


por exemplo, a publicidade. Comente, sob o ponto de vista do negócio, as
desvantagens de tais circunstâncias.

5. Suponha que você e sua equipe representem um grupo de consultores financeiros.


Quais conselhos dariam ao empresário Oei?

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